Capítulo 7 - RESPONSABILIDADE
As festas natalinas eu passara longe da minha família pela primeira vez. Não foi nada fácil. A saudade dos pais e irmãos falam mais alto, e a solidão do quarto isolado me faz passar mais uma vez a vida a limpo. Prós e contras e, felizmente, o positivo permanece...Continuar leitura
Capítulo 7 - RESPONSABILIDADE
As festas natalinas eu passara longe da minha família pela primeira vez. Não foi nada fácil. A saudade dos pais e irmãos falam mais alto, e a solidão do quarto isolado me faz passar mais uma vez a vida a limpo. Prós e contras e, felizmente, o positivo permanece com grande força sobre o negativo. Nesta noite fiquei no meu quartinho sozinho, de garagem, isolado de tudo, não fiz nada, só rememorar dos pais, irmãos, não tinha ninguém comigo.
Lá naquela cassa onde estava só tinha uma noite que parece que eu convivi com a família um pouco. Lá, a família do quarto. Eles fizeram um jantarzinho na garagem mesmo, porque era um jantar mais para os homens, e vieram alguns convidados deles lá, mas isso acabou logo, e por isso foi feito na garagem. Era ali porque tinha dona Maria. E as duas filhas delas não participaram porque não era comum no interior de primeiro (a ceia). Era mais o almoço que todo mundo levantava cedo, começava a fazer comida, era só gozação, depois pega eu violão, cantava um pouco e, meia noite, uma hora, estava encerrada a festa.
Mais alguns meses vou comemorar, não sei de que maneira ou com quem, meu 19º natalício. A juventude vai ficando para trás. Recordando, vejo que até aqui, o meu viver foi povoado intensamente com fatos e resultados sempre prazeirosos e de vitória, apesar de algumas derrotas. Também serviram de estímulo para sempre me levantar e seguir a caminhada rumo às vitórias. Uma infância gostosa, adolescência melhor ainda, as pessoas com quem convivi quando fora de casa dos meus pais e uma juventude altamente povoada de momentos deliciosos, que sempre marcaram os meus dias.
O futebol era sempre a tarde. Às 5 horas quando saía, ainda passava em casa, pegava o material pra ir e ficava, às vezes, até 6h30 / 7h. Era uma prática quase que diária. Não tinha televisão, não tinha nada. Ou era jogar snooker ou ir pro campo de futebol. Eu era bom no snooker, porque quando meu pai foi pra cidade, no bar que ele tinha, haviam 3 mesas de snooker.
Os passeios de bicicleta, era de tardezinha quem podia, pegava a bicicleta e começava a rodar pela cidade, vendo quem estava no jardim, se tinha alguma menina, algum colega, ou mesmo tomar um sorvete. Era o footing, o passeio a pé. A gente não tinha nada naquela época, você saía do emprego, ia pra casa e fazia o que? Existiam uma porção de coisas. Cinema: tinha gente que ia no cinema todo dia, sempre para ver filmes diferentes, acho que só não tinha sessão de segunda-feira. Era essa a diversão que existia na época. Cidade pequena, ia pro jardim pra reencontrar algum colega, em três já se formava um grupinho de conversa, era um negócio interessante, porque era muito tempo pra pouca vida. Terça e quinta era treino que tinha. Eu treinava com o time da cidade. Nos outros dias ia no clube dos alfaiates, bancários. Eu cheguei a ser do time da cidade, quando fui para o exército. Os piqueniques com a turma, as namoradas, os bailes, o trabalho, a responsabilidade precoce de assumir o sustento da casa.
Meu pai tinha vindo pra São Paulo e eu aluguei uma casinha, enquanto meu pai tinha vindo pra São Paulo abrir o bar. Eu pagava o aluguel, a comida, tudo era do meu ganho, da minha responsabilidade, até que meu pai se estabilizou em São Paulo com o mínimo de ganho e, meus irmãos e minha mãe, vieram pra cá. Com 16, 17 anos eu já cuidava da casa. Nunca mais dependi de um tostão de ninguém pra tocar minha vida. Ao contrário, eu sustentava a minha família, o emprego e os estudos.
Nesse ano estaria concluindo o curso técnico de contabilidade, que na época era equivalente ao colegial, que também, para algumas profissões, concedia o direito profissional pleno. Tenho um CRC : 30438. Seria também nesse ano que provavelmente iria ser chamado para prestar o serviço militar. Eu até fui operado no ano anterior de uma hérnia inguinal, que poderia me atrapalhar no exame médico final para ser incorporado ao exército brasileiro. Vamos aguardar a convocação. A operação foi feita pra eu conseguir pegar o exército. Eu queria, gostava daquilo, mas se eu não fosse chamado seria uma frustração. O motivo da operação foi pra isso, caso eu não fosse chamado.
Lá tinha o hospital e dois médicos. No interior era desse jeito, não tinha muita especificação. Tinha um anestesista, e foi anestesia local. Eu fiquei só ouvindo os dois conversando e puxando minha barriga. O que seria hoje uma operação de 15 minutos, durou uma hora, e eu tive que ficar 3 dias imóvel, sem mexer nada. Em um domingo foi lá me visitar dois colegas, e nós até ouvimos um jogo de futebol pelo rádio. Em função disso, teve uma jogada lá e eu tava comendo, e afoguei e dei uma tossida, parece que ia sair a operação afora. Que dor que eu passei aquilo lá, o medo de ter rasgado e estourado aqueles pontos.
Capítulo 8 – A VIDA PÓS-EXÉRCITO
Final de abril de 1955.
Finalmente cheguei à minha cidade: Cafelândia. Era início do mês de junho e tempo de voltar a rotina de um ano atrás. Voltei ao meu emprego no banco, assumindo as mesmas funções de antes do serviço militar. A ideia era de conseguir uma transferência para São Paulo, mas não foi possível. Pensei em deixar o emprego de imediato, mas o meu gerente, Sr. Valter, me sugeriu que ficasse até o final do mês para fazer jus a gratificação semestral que também eu queria direito. Achei excelente a ideia e assim voltei à vida profissional normal.
O namoro que eu havia deixado quando da ida para Mato Grosso fora reatado, mas não era a pessoa com quem eu queria alimentar um compromisso mais sério e, por isso, colocamos um ponto final no relacionamento.
Na cidade já era tradicional no mês de junho acontecer as festas juninas, e no clube social, o baile à caipira, com quadrilha e tudo mais, não poderia faltar. Uma garota amiga me convidou para ser seu par, para dançarmos a quadrilha. Tudo isso me fizera voltar à vida normal e prazeirosa que sempre eu vivera.
Tradicional as festas juninas que aconteciam em fazendas ou no clube da cidade. Todo ano tinha quadrilha, e foi numa dessas festas que eu comecei a pegar na mão da sua avó. Acontece que, durante os ensaios para o festejo, que eram feitos no clube, e para a quadrilha, algumas vezes se troca de par, e a convivência acontece com todos que participam. Comecei a me deliciar cada vez que tocava nas mãos de uma linda jovem loira, que também mostrava-se gostar dos galanteios que eu lhe dirigia. Noites após noites, aquilo foi me subindo à cabeça e eu já estava caído por aquela princesa. Na noite do baile, cumprida todas as etapas ensaiadas, eu consegui tirá-la para dançar, e começamos a alimentar uma conversa mais animada. E terminamos lá pelas tantas: eu a levando para sua casa. Ela estava com uma das irmãs que, educadamente, ia alguns passos a frente. Isso foi bom, porque pudemos conversar a sós, e proporcionou a oportunidade de lhe dar um gostoso e apaixonado beijo. Ela também gostou, tenho certeza. Isso era em um sábado, e no dia seguinte, um domingo, evidentemente, à noite, fomos ao cinema e começamos a namorar, pois no dia 11 de junho de 1955.
Passamos a conversar praticamente todos os dias, os dias seguintes. Eu trabalhava durante o dia e a noite namorava. O tempo passava rápido demais e a felicidade era total, mas no início de julho eu deveria ir embora para São Paulo, e assim aconteceu.
Leia o próximo capítulo dessa história aquiRecolher