Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé Ouvir o Outro, Compartilhando Valores - PRONAC 128976
Depoimento de Paulo Gabricho Simões
Entrevistado por Tereza Ruiz
Iacri, 05 de Julho de 2014
NCV_HV034_ Paulo Gabricho Simões
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Então primeiro, Paulo, vou pedir pra você dizer pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Paulo Gabricho Simões. Nascido em Tupã, São Paulo, 23 do três de 1980.
P/1 – Agora o nome completo da sua mãe e do seu pai, e data e local de nascimento também, se você se lembrar.
R – É Paulo Roberto Bernal Simões, Neide Aparecida Gabricho Simões. Eu não lembro a data (risos).
P/1 – Não tem problema. Onde eles nasceram, você sabe?
R – Não lembro também.
P/1 – Conta um pouco pra gente o que seus pais faziam ou fazem profissionalmente.
R – Hoje? Hoje meu pai está trabalhando no sítio com a gente, ajuda no gerenciamento. Minha mãe é do lar, cuida bastante do neto, e meu pai mais no sítio mesmo.
P/1 – E teu pai teve outras profissões também, antes de trabalhar no sítio?
R – Teve. Meu pai foi psicólogo, formado em Psicologia. Trabalhou com produção de leite já, nós tivemos sítio anos atrás. Trabalhou com uma empresa de leite, uma indústria de leite também; com vendas de moto, em empresa de vendas de moto, e hoje estamos aqui no sítio.
P/1 – E tua mãe sempre teve mais ligada à casa?
R – Minha mãe foi costureira. Foi costureira, não acabou a faculdade de Psicologia e sempre trabalhou com costura, a vida toda. Hoje é do lar.
P/1 – Conta um pouco como é que eles são de personalidade, temperamento, seu pai e sua mãe.
R – Muito tranquilos. Acho que hoje são liberais até demais. Hoje todo mundo é amigo, acho que antigamente era um pouco diferente. O pessoal era um pouco mais arredio. Hoje são muito tranquilos, a gente conversa muito, muito liberais. Acho que o mundo moderno mudou um pouco a personalidade das pessoas hoje,...
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Projeto Nestlé Ouvir o Outro, Compartilhando Valores - PRONAC 128976
Depoimento de Paulo Gabricho Simões
Entrevistado por Tereza Ruiz
Iacri, 05 de Julho de 2014
NCV_HV034_ Paulo Gabricho Simões
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Então primeiro, Paulo, vou pedir pra você dizer pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Paulo Gabricho Simões. Nascido em Tupã, São Paulo, 23 do três de 1980.
P/1 – Agora o nome completo da sua mãe e do seu pai, e data e local de nascimento também, se você se lembrar.
R – É Paulo Roberto Bernal Simões, Neide Aparecida Gabricho Simões. Eu não lembro a data (risos).
P/1 – Não tem problema. Onde eles nasceram, você sabe?
R – Não lembro também.
P/1 – Conta um pouco pra gente o que seus pais faziam ou fazem profissionalmente.
R – Hoje? Hoje meu pai está trabalhando no sítio com a gente, ajuda no gerenciamento. Minha mãe é do lar, cuida bastante do neto, e meu pai mais no sítio mesmo.
P/1 – E teu pai teve outras profissões também, antes de trabalhar no sítio?
R – Teve. Meu pai foi psicólogo, formado em Psicologia. Trabalhou com produção de leite já, nós tivemos sítio anos atrás. Trabalhou com uma empresa de leite, uma indústria de leite também; com vendas de moto, em empresa de vendas de moto, e hoje estamos aqui no sítio.
P/1 – E tua mãe sempre teve mais ligada à casa?
R – Minha mãe foi costureira. Foi costureira, não acabou a faculdade de Psicologia e sempre trabalhou com costura, a vida toda. Hoje é do lar.
P/1 – Conta um pouco como é que eles são de personalidade, temperamento, seu pai e sua mãe.
R – Muito tranquilos. Acho que hoje são liberais até demais. Hoje todo mundo é amigo, acho que antigamente era um pouco diferente. O pessoal era um pouco mais arredio. Hoje são muito tranquilos, a gente conversa muito, muito liberais. Acho que o mundo moderno mudou um pouco a personalidade das pessoas hoje, né?
P/1 – Desde a infância eles são tranquilos, os dois?
R – Sim, desde a infância, sempre foram muito tranquilos, sem muito... Bem tranquilos.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho dois irmãos.
P/1 – Qual que é o nome deles e o que eles fazem?
R – Marcelo Gabricho Simões. Meu irmão hoje é piloto de Freestyle, de moto. Não lembro se ele foi três ou quatro vezes vice-campeão brasileiro. Esteve na Alemanha agora esses dias, foi campeão numa modalidade de manobras. E minha irmã é esteticista, chama Renata Gabricho Simões.
P/1 – E a casa em que você nasceu e passou a infância, Paulo? Como é que era? Conta um pouco pra gente como que era a casa, como que era o bairro, a cidade.
R – Casa bem simples. Cidade Herculândia, uma cidade pequena, sete, oito mil habitantes. E como a gente sempre, voltando na infância, a brincadeira antigamente era diferente. Era tudo na rua, não tinha computador, não tinha celular, não tinha essa modernidade. Brincadeiras sadias, como cidade pequena não tinha essa violência de hoje. Tudo muito tranquilo, a gente quando criança ficava na rua até dez, 11 da noite, hoje coisa que não consegue mais fazer.
P/1 – Do que que vocês brincaram? Quais que eram as brincadeiras na infância?
R – Era Queima, Mãe da Rua, bolinha de gude. Era tudo muito saudável, né? E meu pai tinha um sítio também, a gente ia muito pro sítio, desde criança correndo na terra, em pasto, andando a cavalo. Era bem por aí.
P/1 – Como é que era o nome do sítio?
R – Você me apertou (risos)
P/1 – Não tem problema, se não lembrar não tem problema não.
R – Faz tempo já.
P/1 – E com quem que você brincava quando era criança?
R – Tinha muitos amigos. Cidade pequena, morava tudo junto. A família, os primos moravam tudo na mesma quadra. Então eram primos e bastante amigos, porque cidade pequena todo mundo, é tudo muito próximo, né?
P/1 – E você tinha uma brincadeira favorita?
R – Não... Bola, bola. Moleque gosta de bola. Gostava de jogar bola e jogava no meio da rua, nos campinhos. Era bem jogo de moleque, brincadeira de moleque.
P/1 – Futebol?
R – Futebol.
P/1 – Pra que time você torce?
R – São Paulo. Sou são-paulino.
P/1 – E você tem um ídolo no futebol?
R – Não, não tenho. Hoje eu não sou mais, assim, tão fã do futebol. A gente assiste, gosta, mas não tem tanto... O foco muda muito depois, né?
P/1 – E as refeições na sua casa, como que eram nessa fase de infância, Paulo? O que que vocês comiam? Quem cozinhava? Como é que era o momento da refeição?
R – Na época na infância acho que era a minha mãe mesmo. É o arroz e feijão, muita salada, carne, comida normal.
P/1 – E a hora da refeição era um momento em que todo mundo sentava junto, se reunia?
R – Sim, sempre foi bastante assim. Sempre reunia, todo mundo reunido, a hora sagrada. A hora da alimentação é.....
P/1 – E vocês conversavam também, na mesa? Contava história, contava como que foi o dia?
R – Sim, contava, sim.
P/1 – Vocês tinham o hábito de consumir leite na sua casa?
R – Já tinha, sempre. E eu lembro quando eu era criança, meu pai fazia muita vitamina. Então era leite com abacate, leite com tudo que é tipo de fruta. Então eu tomava muito.
P/1 – E vinha da onde o leite que vocês bebiam?
R – Nessa época a gente já tinha propriedade de leite. Então vinha muito do sítio. Acho que antigamente era mais assim, vinha bastante, a gente trazia do sítio, como já produzia leite.
P/1 – E você lembra como é que o leite chegava na sua casa? Como que estava envasado esse leite?
R – Ah, vinha em garrafa (risos). Em “latõezinhos”, era assim que vinha.
P/1 – E era direto do sítio?
R – Direto do sítio.
P/1 – E tinha um sabor diferente em relação a esse leite que você bebe hoje? Você se lembra?
R – Não, acho que não. Chegava, fervia. Tem diferença hoje do desnatado. Era um leite integral, mas do integral não tem tanta diferença, não.
P/1 – E quantos anos você tinha quando você entrou na escola, Paulo?
R – Na escola eu tinha sete anos, primeira série.
P/1 – E quais que são as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Muita amizade, eu fazia muita amizade. E horário de recreio era correria atrás de bola, 15 minutos, 20 minutos e muita amizade. Como eu falei, cidade pequena, então era todo mundo muito unido, se encontrava bastante.
P/1 – O nome dessa escola, você lembra?
R – Eu não lembro.
P/1 – E como é que era o espaço da escola? Escola grande, pequena?
R – Era escola pequena, bastante salas, pouco jardim, e a quadra de futebol, que era onde a gente passava o maior tempo.
P/1 – E como é que você ia e voltava da escola?
R – A pé. Eram três quarteirões de casa, então era bem tranquilo.
P/1 – Bem perto?
R – É, perto.
P/1 – Teve algum professor marcante no começo da sua vida escolar?
R – Não, no começo acho que não. Todos marcam alguma coisa, né, então em geral todos foram importantes.
P/1 – Mas você lembra de algum em especial? Não somente nesse começo, ou mais pra frente, depois? Pode ser no fundamental, no ensino médio.
R – Não. Mais na parte do colégio mesmo. Professores de biologia, né? Já era a área que a gente queria seguir, então, já tinha algum interesse maior e marca mais, né?
P/1 – Teve algum em especial?
R – Não, por nome assim, não.
P/1 – E você fala mais assim do colegial, mais dessa fase, você tá dizendo?
R – Isso, mais do colégio.
P/1 – Você ficou nessa primeira escola que você tá me descrevendo, você ficou até que idade, mais ou menos?
R – Eu fiquei quatro anos. Até os dez anos.
P/1 – Você se lembra nessa fase de infância, se você tinha algum sonho assim o que você queria ser quando você crescesse?
R – Eu queria ser veterinário (risos). Já nessa época já vinha decidido, desde pequeno. Com quatro, cinco anos eu já decidi que eu queria ser veterinário.
P/1 – E você lembra como que veio isso na sua cabeça a primeira vez?
R – Sim. Como a gente já tinha propriedade, com quatro anos de idade eu já estava no sítio. Ainda não ia pra escola, então ia todos os dias pro sítio e acompanhava o veterinário que ia, e então daí já despertou já o gosto por animais, despertou daí.
P/1 – E desde pequeno você queria então ser veterinário?
R – Desde pequeno.
P/1 – Você tinha animais de estimação, além dos bichos do sítio?
R – Sempre cachorro, né? Cachorro a gente sempre tem. Eu gostava muito de animal.
P/1 – Teve algum desses cachorros que tenha sido um presente, um cachorro, um bichinho mais marcante, que você tivesse uma relação especial, afetiva?
R – Não. É até engraçado. A gente tinha um quintal no fundo de casa, e eu queria ter um bezerro dentro de casa. Então, o pessoal tira sarro até hoje, queria criar um bezerro no fundo de casa e não tem como, cresce. Mas gostava desde moleque, gostava de bovinos.
P/1 – E no sítio você ajudava a cuidar dos bezerros?
R – Ajudava. Já desde quatro anos. Hoje se falar que trabalha no sítio é perigoso, o pai ir preso. Mas a gente ajudava, tava em tudo que o pessoal tava trabalhando, estava em cima.
P/1 – Quais que eram as atividades assim, que você acompanhava?
R – Ah, de tirar o leite mesmo, de tratar as bezerras, de dar leite pros bezerros, de dar ração pro gado, acompanhava tudo.
P/1 – Desde pequenininho?
R – Desde pequeno.
P/1 – E depois você sai desse colégio que você fez até o quarto ano, né, você falou...
R – Até dez anos.
P/1 – Até dez anos e depois você vai pra que escola?
R – Aí eu fui pro Objetivo em Tupã. No Objetivo fiz até o terceiro colegial.
P/1 – Aí você mudou pra Tupã?
R – Não. Tinha um ônibus escolar que levava, da prefeitura. Era um ônibus próprio pra levar os estudantes pra lá.
P/1 – E como é que foi essa mudança de colégio?
R – No começo é sempre difícil, ainda era novo, tinha que acordar cedo. Chegava em casa uma, uma e meia da tarde. Mas depois vai acostumando, vai fazendo amizade e vai indo e foi bom, foi legal.
P/1 – Você ficou quanto tempo no Objetivo?
R – Até o terceiro Colegial.
P/1 – Terminou os estudos básicos lá?
R – Isso, lá.
P/1 – E aí conta um pouco pra mim essa fase quando entra na fase da adolescência, o que que mudou na sua vida? Em termos de amigos, de lazer? O que você fazia pra se divertir?
R – Muda. Como estava em cidade fora, conhecendo mais amigos e sempre já ficava em Tupã. Às vezes ia em aniversário, dormia na casa do amigo, e o futebol pelo meio! Aí já começamos a participar de campeonato de futebol de salão e por aí foi. Então foi futebol e amizade mesmo, estudo.
P/1 – Futebol você fazia parte de algum time? Como é que era isso?
R – A gente tinha um time por classe, eu fiz parte três anos de um time.
P/1 – Jogava futebol. E quando saía pra se divertir, tinha festa? Como é que era?
R – Tinha, era sempre aniversário dos amigos, então, sempre estava indo, ia toda a turma, sempre na casa de um.
P/1 – Você gostava de ouvir música, tinha um grupo preferido?
R – Eu sempre gostei de sertanejo, desde pequeno também. Então é bastante sertanejo que a gente ouve.
P/1 – E tem uma dupla, um cantor favorito?
R – Não. Eu gosto de todos e um pouco de todos. Um pouco eclético dentro do sertanejo.
P/1 – Cita alguns pra gente.
R – Se pegar no passado, Tião Carreiro e Pardinho, que é o que marca a viola nossa. E hoje mais universitário, então a gente pega um pouco de cada um.
P/1 – E canção? Tem alguma canção nessa fase de adolescência que tenha marcado um momento, uma situação?
R – Não, não tem, não.
P/1 – Não? Na fase de infância ou nesse começo de adolescência, tem alguma história que tenha sido marcante, alguma coisa que você se lembre até hoje? Que tenha ficado na memória? Conte pra família? Ou a família, de repente, lembra. Como esse caso, por exemplo, do bezerro, que você contou pra gente, que você queria ter (risos).
R – É, isso.
P/1 – Que é uma coisa que ficou na cabeça? Tem alguma outra história assim que tenha sido significativa, marcante?
R – Que eu me lembre de momento... Acho que o que marca são as formaturas, né? Não gostava muito de estudar na infância e conseguir formar foi uma alegria. Eu gostava de jogar bola e sítio, então quando formava era aquela festa (riso).
P/1 – E nesses períodos que você passava no sítio, tem alguma história ligada à vida no sítio, na infância e na adolescência?
R – Tem. Com oito, nove anos, a gente ia pro sítio cedo, passava o dia inteiro. O sítio dava uns oito quilômetros da cidade. Chegava a tardezinha, tomava um banho e ia pra cidade a cavalo. Isso já de noite, em cinco, seis pessoas. Ia, comia lanche, andava na cidade e voltava de madrugada pro sítio, então era bem marcante, umas coisas bem legais.
P/1 – A cavalo, vocês iam?
R – A cavalo, sete quilômetros pra ir e pra voltar. Novinho, oito, nove anos, eu gostava muito disso aí.
P/1 – Bem criança, né?
R – Bem criança.
P/1 – E na parte afetiva nesse período da adolescência? Teve alguma primeira paixão? Alguém que tenha sido marcante?
R – Ah, sempre tem né, sempre. Teve umas duas, três namoradinhas que sempre aparece. Mas tudo coisa passageira, tudo coisa de criança mesmo.
P/1 – Nada que tenha sido tão forte?
R – Não.
P/1 – E aí nessa fase de colegial, Paulo, queria que você me dissesse como é que é essa aproximação com o vestibular, quando você decidiu o que você ia prestar de faculdade, como que foi esse período da sua vida?
R – É, no colégio a gente já começa a conversar sobre o vestibular, né? E como eu disse, eu já sabia o que eu queria, era que tinha que ser veterinário e pronto. Então estava estudando, focando pra passar mesmo na Veterinária.
P/1 – Aí você prestou mais de um vestibular?
R – Prestei vários. Acabei entrando em Marília, na Unimar, e com dois anos transferi pra Presidente Prudente, na Unoeste, onde eu me formei.
P/1 – E essa vida universitária, como é que foi pra você? O que mudou na sua vida quando você entra na faculdade?
R – Aí aparecem duas coisas, né? Uma você tem que crescer, tem que ter responsabilidade porque é uma faculdade; e a outra porque vem as festas. Então é bem marcante, mas a gente tem que saber dividir. Teve festas muito boas e estudamos muito também pra conseguir formar, porque não é uma faculdade fácil. São cinco anos bem puxados, mas muito bom. Faz o que gosta e tem as festas, que é muito legal.
P/1 – A faculdade era o que você esperava?
R – Era, foi como eu esperava.
P/1 – E teve uma disciplina ou um professor nessa fase de faculdade, que tenha sido mais significativo pra você?
R – O que significou foi mais formando mesmo, a parte prática, que é onde a gente entrou em clínica mesmo, a parte de bovinos, onde você começa e ter mais contato com a realidade. Foi onde marcou mais, foi o hospital veterinário. A gente fazia dieta para os animais, atendia, fazia clínica, cirurgia, então, foi o que mais marcou mesmo. Você começa e ter mais contato com a realidade, com o que vai ver lá fora..
P/1 – Isso você já estava formado.
R – Não, antes de formar.
P/1 – Essas festas que você mencionou na faculdade, como é que eram essas festas? Onde que eram, como é que eram?
R – Tinha de tudo: festas em clube, festas em república, festas em barzinhos. Tudo que é tipo de festa, pra tudo que é tipo de gente, então dava pra escolher, selecionar os amigos e curtir.
P/1 – E durante a faculdade você fez estágio, Paulo?
R – Fiz, fiz estágio a faculdade inteira.
P/1 – Me conta um pouco, como que foram esses estágios então. Que que você fazia, onde foram os estágios?
R – Fim de semana, quando vinha, que voltava pra casa, fazia estágio com veterinário particular, amigos da família, amigos da gente. Férias praticamente não tive, foi fazendo estágio. Fiz muito estágio na faculdade mesmo. E sempre na faculdade, ou colegas já formados, e sempre andando junto.
P/1 – Mas em que áreas assim?
R – Sempre em bovinos.
P/1 – Todos os estágios que você fez foi em bovinos?
R – Todos os estágios.
P/1 – E como que é o estágio em veterinária com bovinos? Conta um pouco qual que é a função?
R – Eu acompanhava tanto a parte de gado de leite como de gado de corte. Então com o gado de corte, a gente trabalhava muito com reprodução animal, diagnóstico de gestação, exame ginecológico. E na parte de leite em geral, tanto clínica, cirúrgico, nutricional, sanidade, então é bem completo. Peguei vários colegas, abranger bem e seguir também o caminho que você quer, saber... Então foi muito aproveitável.
P/1 – E nesses estágios, que quando você começou a ter um contato mais prático, né, com a profissão?
R – Foi, o estágio ensina muita prática pra gente.
P/1 – Queria saber se tem algum momento durante esses estágios, no lidar com a prática, que tenha sido um momento significativo pra você, uma coisa que você também, que tenha sido forte, você se lembre sempre.
R – Ah, acompanhando cirurgias, casos de salvar animais. Trabalhando muito com pessoas carentes que eu tinha colega que fazia serviço pra esse público, né, focado. Então ajudava muito as pessoas. O foco da gente é ajudar animal, trabalhar em cima do animal, então o estágio foi mais em cima disso.
P/1 – Você se lembra a primeira vez que você acompanhou um animal que você ajudou a salvar a vida?
R – O primeiro eu não lembro, mas foram várias já.
P/1 – Mas uma que tenha sido mais significativo, não precisa ser a primeira.
R – Sim, teve cesáreas, casos engraçados de você abrir a vaca e de repente a vaca escapa, toda aberta, sai correndo no pasto, no meio da chuva, e volta e fecha essa vaca, e a vaca sobrevive. Então teve casos legais.
P/1 – Conta mais um pra gente, além desse da vaca que escapou.
R – Deixa eu me lembrar. Acontece muitos casos de vaca parir, acontece, a gente chama de hipocalcemia. E o pessoal apavora, o produtor apavora, porque ela deita e se não levantar morre, né? Então um caso simples, a gente chega e entra com cálcio na veia do animal, diluído em soro, e esse animal de repente levanta e tá tudo certo. O pessoal fica muito agradecido, muito abismado. Então vários casos, assim, que o pessoal fica contente, né?
P/1 – E de perder um animal, de não conseguir salvar? Teve algum momento?
R – Perde.
P/1 – É mais difícil pra você?
R – Perde e a gente tem que acostumar com isso porque não tem como. A gente trabalha com a natureza e acontece. Tem hora que não tem como salvar, não tem como ajudar, e é a vida, é assim. Mas a gente tem que se acostumar, né?
P/1 – Teve alguma situação mais difícil, nesse sentido, de perder um animal?
R – Sim, tem. O proprietário, dependendo do animal, ele gosta muito desse animal! Acaba virando gente da família, praticamente. Eu me lembro na faculdade, cachorro, principalmente cachorro morrendo, e homem grande desesperado e rolando no chão de chorar, de tristeza. Então já vi muita coisa assim. E acontece, não tem como.
P/1 – Você falou que o curso de veterinária foram cinco anos. É isso?
R – Cinco anos.
P/1 – E você se formou em que ano?
R – Dois mil e cinco.
P/1 – Dois mil e cinco. E assim que você se formou, o que você foi fazer profissionalmente, Paulo?
R – Eu saí e fui trabalhar na empresa que o meu pai estava tocando, empresa de leite. Nós montamos um departamento técnico e eu trabalhava com qualidade de leite, atendimento clínico e cirúrgico, e sanidade animal. Eu passei quatro anos trabalhando em cima disso nessa indústria, fazendo esses atendimentos pros produtores ligados à empresa.
P/1 – Pras pessoas que forneciam pra vocês?
R – Isso, para os produtores que forneciam pra empresa.
P/1 – E como que era o cotidiano desse trabalho?
R – Era bem corrido, sempre atendendo o animal, sempre dando... Aí comecei a fazer palestras pra entrar um pouco no preventivo e não ficar só no curativo. Palestras de qualidade de leite, palestras sobre reprodução, sobre manejo de pastagem, sobre nutrição. E sempre seguindo a campo, acompanhando, ensinando o produtor a ter menos problemas, a seguir um caminho melhor.
P/1 – Nessa época você já estava casado?
R – Ainda não.
P/1 – Mas já conhecia a sua esposa?
R – Dois anos depois que eu comecei trabalhar.
P/1 – Dois anos depois de se formar, você conseguiu. Conta pra gente como é que vocês se conheceram? Como é que ela chama e como é que vocês se conheceram.
R – Foi em Herculândia mesmo, ela chama Camila. E tudo na mesma cidade e vai numa festa de um, vai na festa de outro amigo, conhece e acabou rolando. Começamos a namorar, casamos depois de dois anos.
P/1 – E como é que foi o casamento de vocês?
R – Foi muito bom. Casamento é um momento muito especial pra gente. É um amadurecimento a mais. E começa a mudar focos, você já quer ter uma família, então, já um outro caminho da vida aí, né?
P/1 – E vocês casaram, teve uma cerimônia religiosa, teve festa? Como é que foi?
R – Sim, religiosa, teve festa em Tupã.
P/1 – Onde que foi o casamento?
R – Foi na Matriz de Herculândia e depois a festa em Tupã.
P/1 – E você lembra bem assim como que ela estava vestida, o que que tocou nela?
R – Lembro, a noiva, de branco. Só que a gente sempre muito nervoso, então, não grava muito. Mas foi muito legal, muito emocionante.
P/1 – E a festa, como é que foi?
R – Foi muito boa.
P/1 – Eram muitos convidados? Foi num salão? Conta um pouco.
R – Foi num salão, num buffet, uns 250 convidados, amigos de várias épocas, foi muito bom.
P/1 – Nessa época que você se casou você estava trabalhando na empresa com seu pai, na indústria?
R – Quando eu casei eu já tinha saído.
P/1 – Já tinha saído?
R – Já tinha saído.
P/1 – Então me conta como foi essa transição que você saiu da indústria e o quê você foi fazer profissionalmente?
R – Eu saí em 2008 da indústria e fui trabalhar em Penápolis, em outra indústria e no Sindicato Rural também, juntos.
P/1 – Qual que era essa indústria em Penápolis?
R – Campesina. E no Sindicato Rural de Penápolis. Eu trabalhei por volta de um ano lá, e nesse um ano eu ia e voltava, eu estava namorando ainda.
P/1 – E aí, depois que você saiu?
R – De lá eu saí e entrei no Estado, fui trabalhar em Casa de Agricultura. Porque daí eu já mudei um pouco meu foco. Dentro da indústria ainda, o que que eu comecei a enxergar? Que o produtor precisava um pouco mais do que eu fazia, não simplesmente ir lá e salvar um animal pra ele. Eu comecei a enxergar que precisava de mais.
P/1 – Mais o que, assim?
R – Ele precisava de dinheiro, ele precisava de recurso, de lucro. Então eu comecei mudar meu foco. Eu comecei pesquisar sobre consultoria em propriedade de leite. Isso já em 2006, 2007. Então comecei a ir em cursos na Embrapa, comecei acompanhar alguns colegas que fazem esse tipo de trabalho, são poucos, né? E aí eu enxerguei e falei: “Não, é isso que eu quero pra minha vida. Eu não quero ir lá salvar o animal, eu quero ir lá e dar uma sustentabilidade pra aquele produtor”.
P/1 – Explica pra gente um pouco o que que significa dar essa sustentabilidade? O que que é dar consultoria de leite? Qual que é o trabalho do consultor de leite?
R – Ele trabalha em todas as áreas dentro do leite. Desde a parte nutricional, sanitária, qualidade de leite, reprodutiva, criação de bezerros e novilhas. Hoje a gente faz um gerenciamento de custo da propriedade. A gente consegue mostrar pro produtor quanto que ele custa pra produzir um litro de leite. Nós temos que controlar isso e saber onde investir pra ter um maior retorno. Então é bem geral, é bem complexo.
P/1 – E qual que seria, nessa atividade, a sustentabilidade? O quê que significa?
R – Não só ganhar dinheiro ou tá empatado, ganhar em épocas ou... É ser estável, é ter lucro estável o ano todo, a vida toda. E sempre estar melhorando pro futuro pra parar de pessoas ir pra cidade, então manter o produtor na atividade, na fazenda.
P/1 – Aí você começou a fazer esses cursos, né?
R – Comecei a fazer esses cursos, fui pra Embrapa. Andei muito tempo com Arthur Chinelato, que hoje a gente considera um dos melhores em parte de pastagem, de rotacionado. E aí comecei a andar com uns colegas da região, com o Arthur. E fui aprendendo, fui estudando cada vez mais, aperfeiçoando, e hoje eu faço essa consultoria e a gente vê que é o caminho. Como eu falei, não simplesmente salvar o animal, isso não resolve a vida dele. Com a consultoria sim, consegue dar sustentabilidade ao produtor.
P/1 – Você trabalha para uma empresa? Deixa só eu entender como funciona essa consultoria. Você é contratado de uma empresa ou tem uma própria empresa?
R – Isso, hoje eu tenho uma empresa e sou contratado, terceirizado pela Nestlé, pela DPA
P/1 – Qual que é a empresa?
R – É PGS Consultoria.
P/1 – Que é sua mesmo?
R – Isso, essa é minha mesmo.
P/1 – E aí quando é que você monta a PGS Consultoria? Em que momento, que ano?
R – Eu montei em 2010, fim de 2010. Foi onde eu entrei pra Nestlé, que eu comecei a dar consultoria pra Nestlé.
P/1 – Foi junto com a criação da empresa?
R – Junto, foi junto.
P/1 – Me conta como é que foi essa aproximação com a Nestlé. Como a Nestlé chegou até você ou como você chegou até a Nestlé?
R – A partir do momento que eu vi que eu queria trabalhar com consultoria, depois que eu me aperfeiçoei, a gente tá sempre se aperfeiçoando, né? Mas eu comecei a dar consultoria particular em algumas fazendas. E foi indo, foi dando certo, foi aumento, foi aumentando, até que eu conheci um supervisor da Nestlé, que me conheceu numa fazenda. E começamos a conversar, ele começou a ver meus trabalhos e achou muito interessante. Ele já tinha esse projeto dentro da Nestlé e tinha vários técnicos. E me convidou numa dessas pra ser técnico do ‘Nata’ também, pra tá participando. Aquilo foi um sonho, né, era até um foco meu entrar na Nestlé. Então deu certo, eu comecei a apostar antes, fui fazendo, fui trabalhando em algumas fazendas e acabou que o pessoal da Nestlé me descobriu e acabou me convidando pra entrar no ‘Nata’.
P/1 – Explica pra gente um pouco o que é o ‘Nata’.
R – O Nata significa Núcleo de Assistência Técnica Autorizada. Ela trabalha com técnicos selecionados que são agrônomos, veterinários ou zootecnistas e são técnicos que têm uma grande experiência na área de leite. O Nata tem alguns objetivos. Quais são? É aumentar a produtividade da fazenda, reduzir custos de produção de leite, aumentar o retorno financeiro e como eu falei, dar sustentabilidade. Porque não pode ganhar dinheiro dois, três meses, e cai e volta; tem que se sustentável e cada ano melhor, então ele tem que melhorar ano a ano. Com isso a gente consegue profissionalizar o produtor e ensina bastante pra ele, ele aprende a tomar seus caminhos, e dar uma vida melhor pra ele, que é o que ele precisa. Ele tem que ter um caminho, tem que ter um rumo e tem que ter alguém mostrando pra ele, levando informações pra ele.
P/1 – Como é teu cotidiano de trabalho como técnico do Nata, Paulo? Conta um pouco pra gente como é o cotidiano.
R – Hoje atendo 22 fazendas. Esse trabalho é mensal, uma visita por mês, a gente passa o dia todo na fazenda. Quando a gente inicia com um produtor novo, a gente chega e sempre tem bate papo. Pra gente se conhecer, conhecer a família, o produtor, ver o que ele espera do leite, como que está a vida dele hoje. Então faz um bate papo mais de aproximação, né? Depois disso, a gente faz um, a gente chama de diagnóstico da propriedade. Então a gente levanta todos os dados possíveis, o que a gente consegue levantar dentro de uma fazenda em termos de rebanho, de nutrição, de tudo. A partir desse diagnóstico a gente senta com o produtor e monta um planejamento, então nós vamos planejar a curto, médio e longo prazo. Até dez anos pra frente a gente planeja a fazenda.
P/1 – Só pra gente retomar, Paulo, queria que você retomasse a partir do diagnóstico.
R – Isso, após o levantamento de dados, mais pra gente ter uma noção, se inteirar da fazenda. A gente senta e decide qual o tipo de produção que ele vai querer trabalhar. Então, se é confinamento total, se é a pasto, como que vai ser. Após decidido, a gente faz um planejamento da propriedade. Então, como eu falei, a curto, médio e longo prazo e traça metas. Às vezes é até interessante o produtor, a primeira pergunta que eu faço: “Quanto você quer ganhar por mês?”. Então, a partir daí a gente traça uma meta e é sempre surpreendente, eles querem ganhar mil, dois, três. A gente mostra, consegue chegar a oito, dez, doze. Então, a partir daí a gente mostra o potencial da fazenda, traça metas, e com as possibilidades do produtor, da fazenda, a gente começa a tomar os caminhos. Aí nós vamos entrar em várias áreas: começa a entrar em controle zootécnico, do rebanho e da fazenda, todo animal tem uma ficha individual que é controlada; a gente entra em parte nutricional, então vamos planejar pasto irrigado, rotacionado, adubação de pastagem, produção de volumoso pra inverno, pra normalmente o animal ter alimento o ano inteiro, disponível, né? Melhorar a qualidade desse alimento; aí a gente entra em reprodução: diagnóstico de gestação, acasalamento, vamos inseminar, quais touros vamos usar, qual genética, pra sempre tá melhorando o rebanho do produtor. Nós vamos ensinar como criar bezerros e novilhas, como fazer toda a sanidade dos animais, então tem calendário sanitário de vacinas, tudo preventivo. E que mais? E o mais importante, controle de custos da fazenda, que hoje muito pouco produtor faz. Então mensalmente nós vamos mostrar quanto tá custando um litro de leite. Na fazenda são várias torneiras abertas, então a gente vai mostrando: “Essa fecha um pouco, essa fecha, essa abre”, e aí ele consegue ter um rumo pra onde ir.
P/1 – Como é que são selecionadas essas propriedades? Você sabe?
R – Não, quem tiver interesse vai ter acesso.
P/1 – A pessoa procura vocês?
R – A pessoa procura. Procura a Nestlé, né? Aí a Nestlé repassa pra gente.
P/1 – E você falou que hoje você atende 20 propriedades?
R – Hoje são 22 propriedades.
P/1 – Vinte e duas. Que região que é?
R – Região de Tupã, Araçatuba e Pereira Barreto. Engloba toda essa região.
P/1 – E qual que você acha, assim, do seu ponto de vista, que são os benefícios ou o que traz de bom essa parceria do NATA com o proprietário rural?
R – Resumindo, o produtor vai ter lucro. E isso, independente do tempo, ele vai ter lucro. A gente tem casos muito legais de produtor, gente que trabalha tirando leite há dez anos, nunca passou de 40, 50 litros. Em quatro, cinco, a gente leva ele pra trezentos, pra quinhentos. Então é um salto muito grande que o produtor dá. Produtor de quinhentos, vai pra mil, mil e quinhentos, tem bastante casos assim.
P/1 – É bem significativo.
R – Muito significativo, muito. Tem produtores marcantes, a gente chega na propriedade, tá com uma renda de oitocentos reais pra sustentar uma família. Daí dois, três, quatro, cinco anos ele vai pra três mil reais, quatro mil reais livre. É bem significativo, muito grande mesmo.
P/1 – E durante esse trabalho, essas visitas, vocês dão orientações, imagino, de técnica, ou tem orientações concretas pra modificar a prática cotidiana do produtor rural?
R – Tudo que a gente passa, isso já é comprovado, nós temos que passar coisas que funcionam e não fazer teste dentro da propriedade com o produtor. Então funciona. O que a gente vai passando, o produtor vai adquirindo, vai fazendo, ele vai tendo resultado.
P/1 – Você lembra de algum exemplo que você tenha acompanhado de uma orientação que você tenha dado numa propriedade e isso tenha mudado, tenha melhorado a produção?
R – Sim, a parte nutricional é rápido. É você melhorando a alimentação do rebanho é... Eu tenho um produtor em Bastos, ele tirava média de cinco litros por vaca dia, e com um ano esses mesmos animais passaram a produzir 20, de média. Então ele falava no começo: “Não, eu preciso trocar esses animais, os animais não são bons”. E a gente: “Calma, vamos dar o conforto, vamos dar o alimento”, e a vaca de cinco foi pra 20, então, é surpreendente. Foi até engraçado, nós fizemos ele ajoelhar na frente de uma vaca e pedir perdão, né, porque ele que não tratava a vaca direito (risos). Então são casos muito interessantes.
P/1 – Quando você entrou, quando você passou a trabalhar dando essa consultoria pra Nestlé, teve algum tipo de treinamento pra vocês?
R – Sim. Todo ano a gente tem uma reciclagem, um treinamento. Então, às vezes, a gente mesmo passa: “Ó, vamos focar em tal área”, e eles trazem técnicos muito bons e a gente está sempre reciclando, sempre. Todo ano, pelo menos duas reciclagens por ano tem.
P/1 – Como é que funciona essas reciclagens? Conta um pouco.
R – Depende. Tem palestras, tem cursos, palestras de um dia, cursos de três dias, principalmente em cima da parte nutricional, que é onde a gente foca mais. Então todo ano a gente tem esse treinamento.
P/1 – Há quanto tempo você tá? Você falou 2010, é isso?
R – Dois mil e dez.
P/1 – Está fazendo quatro anos?
R – Isso, quatro anos.
P/1 – E nesses quatro anos, Paulo, você acha que essa experiência sua no NATA e esses treinamentos, isso mudou alguma coisa na sua perspectiva profissional? Isso trouxe algum aprendizado?
R – Mudou muito isso. Concluiu o que eu queria fazer da minha vida. É como eu falei, quando eu enxerguei que eu precisava de algo a mais pro produtor, isso me fortaleceu e foi concluído, realmente é o que eu gosto de fazer, é o que eu quero fazer e dá certo, funciona. Então mudou muito. A visão que eu tinha como veterinário era uma, e acho que todos têm a visão de veterinário hoje como um clínico. E a gente não faz hoje só a parte clínica, faz um contexto geral e acaba entrando no social também, acaba entrando, atingindo o homem. Tem hora que você é psicólogo dentro da fazenda, conversa de tudo, anima. A gente que tem que motivar o produtor. Você chega, o produtor está totalmente desmotivado, né, alguns. A gente tem que entrar também motivando e mostrando que dá certo, que tem que ir atrás, que funciona. Então isso melhorou muito a minha profissão.
P/1 – Você estava falando dessa parte de relação humana. Você pode falar um pouquinho mais disso? Tem algum produtor que você tenha se aproximado. Como é que é essa relação cotidiana?
R – Vira uma amizade total. Acaba virando mais amigo do que os amigos de infância. Porque a relação é mensal, é uma relação de companheiro, de ajudar, porque tá um ajudando o outro. Então a gente ajuda muito, mexe com a parte financeira deles, então acaba entrando no emocional também e a gente vira muito amigo. Isso que é o bom, e o produtor reconhece, isso que é o legal, que satisfaz a gente.
P/1 – Você teve alguma situação marcante nesse sentido? De encontrar um produtor que estava numa situação ruim e que você precisou conversar e trabalhar um pouco essa parte emocional?
R – Sim, tem vários. Já tive produtor querendo largar tudo e ir pro Japão, um produtor japonês. Não, que vai embora pro Japão, que vai parar. E a gente vai conversando, vai ajudando, vai mostrando em quanto tempo, acaba ficando. Hoje está muito bem, diz que não quer ir pro Japão de jeito nenhum e quer continuar na atividade. É isso que satisfaz a gente.
P/1 – E o quê que você acha que você teve de aprendizado durante essa atividade profissional?
R – Você acaba aprendendo de tudo, porque você aprende com o produtor também, você vê a situação de muita gente. Boas, ruins, boas melhorando, ruins ficando boas. E com essa conversa você vai aprendendo de tudo, vê de tudo por aí. Existem produtores... São muito diferentes um do outro, são pessoas. A gente vê muita história de vida, muita coisa ruim que ficou pra trás e tudo. Então aprende muito, é uma convivência mesmo.
P/1 – Você consegue lembrar de um exemplo de um aprendizado? Pode ser na esfera profissional, mas pode ser também dessa relação humana, afetiva.
R – Posso falar depois? Agora eu não lembro.
P/1 – Não tem problema. Não te ocorre nada?
R – Deu branco agora.
P/1 – Não tem problema, só se você lembrar mesmo. Na verdade eu vou começar encaminhar agora pras perguntas finais, Paulo. Mas antes eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha te perguntado e que você gostaria de falar. Na verdade, antes eu queria que você falasse um pouco dessa parceria, dessa sua assistência técnica na propriedade que é a propriedade do seu pai. Como é que é isso? Porque junta essa coisa profissional e familiar, né, como é que é isso?
R – Bom, aqui pra mim conseguir pôr o leite aqui foi um pouco difícil. Difícil não, porque a gente tem que provar que tudo funciona. Pra mim começar aqui foi a mesma coisa que eu tivesse entrado em outra propriedade. Eu peguei meu pai, eu expliquei muito pra ele e rodei fazendas que eu já atendi há tempos, mostrando pra ele. Eu acho que tem que ser assim, tem que mostrar, tem que ver pra crer. E a partir de rodar muito, dele ver muito, ele viu que funcionava, e era uma atividade que ele já gostava, já trabalhou. Aí começamos a trabalhar. Mas hoje a parte técnica sou eu mesmo que faço, ele não entra em discussão nenhuma. Eu que faço a parte de gerenciamento total da fazenda. Ele só compra e recebe (risos). Ele entra e gasta, então, hoje eu consigo fazer esse trabalho sem interferência de família, porque às vezes acontece. Hoje não tem, eu que falo e a gente faz o que tem que ser feito. É uma relação muito boa. Às vezes ele até ajuda, olha, mostra alguma coisa que a gente esquece, mas não interfere em nada do que a gente faz.
P/1 – Tá certo.
R – Por isso que dá certo.
P/1 – Então eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado, agora sim, que você gostaria de acrescentar. Você não tem filhos, né?
R – Não, não tenho.
P/1 – Seu pai tinha comentado.
R – Não, acho que não.
P/1 – Pode ser da área pessoal ou profissional, se tem alguma coisa que você queira dizer.
R – Não, acho que tranquilo.
P/1 – Sobre o trabalho, você acha que faltou falar sobre algum aspecto importante?
R – Não, tá bom.
P/1 – Tudo bem? É isso mesmo? Então vou fazer as duas perguntas de fechamento. A primeira é quais são os seus sonhos hoje?
R – Meu sonho hoje é acabar de concluir essa fazenda aqui, deixar estruturada, sustentável, como eu falei, e continuar atendendo meus clientes por aí, porque isso fortalece muito a gente. Acho que você ouvir, a gente tá sempre ouvindo, tá indo mostrar, mas tá ouvindo também. Isso é muito importante pra vida da gente e ouvir um pouco de tudo, a gente aprende muito. Então continuar atendendo meus clientes.
P/1 – E por fim, como é que foi contar sua história? Como é que foi dar o depoimento aqui pra gente?
R – Foi bom, foi legal, nunca tinha feito algo parecido. Mas é bom, hoje estou falando e posso tá ouvindo milhares de histórias por aí também. Acho que é importante isso.
P/1 – Tá certo. Muito obrigada.
R – Eu que agradeço.
FINAL DA ENTREVISTA
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