Desde criança, sempre quis ser professora. Queria ser, inicialmente, professora de balé, sem nunca ter feito uma aula sequer. Depois, queria ser professora de inglês, não sabendo falar nenhuma palavra em inglês. Mas, realmente me tornei professora.
Sou a filha mais nova numa família de três m...Continuar leitura
Desde criança, sempre quis ser professora. Queria ser, inicialmente, professora de balé, sem nunca ter feito uma aula sequer. Depois, queria ser professora de inglês, não sabendo falar nenhuma palavra em inglês. Mas, realmente me tornei professora.
Sou a filha mais nova numa família de três meninas. E nós três somos professoras.
Lembro que quando minha irmã mais velha se formou e começou a dar aula na Ilha de Guaratiba, em Campo Grande, no Rio de Janeiro (onde nascemos), eu ia, às vezes, com ela assistir as suas aulas. Em alguns sábados, íamos lá só para jogar vôlei e queimada com os seus alunos.
Essa experiência reforçou o meu desejo de ser professora, o que sou até hoje, pois já tenho 31 anos de magistério.
Quando me formei, não fui para uma escola tão longe como a da minha irmã mais velha. Fui dar aulas na Vila Kennedy, no subúrbio do Rio de Janeiro. Cheguei lá cheia de sonhos, aos dezoito anos de idade. Ganhei uma turma de 1ª série com dezesseis alunos, todos repetentes. O mais novo tinha quatro anos de 1ª série e nove anos de idade. E tinha também três alunos com quinze anos, que faziam pela nona vez a 1ª série. Foi um grande desafio para mim. Penso que esta experiência que me levou para a Educação Especial, onde estou até hoje.
Na minha ingenuidade de professora inexperiente, no primeiro dia de aula, quando bateu o sinal para a merenda eu falei que eles podiam ir merendar. Imaginei que iriam caminhando até o refeitório, pois para mim, não havia a necessidade de fazer fila, eles já eram bem grandinhos. Qual não foi a minha surpresa ao ver todos os dezesseis alunos saírem correndo, se empurrando, se chutando uns aos outros. Ao chegarem no refeitório, já havia uma turma na fila da merenda. Eles arrancavam os alunos da fila e entravam em seus lugares. Foi uma loucura
Na sala de aula, pouco me ouviam. Brigavam, jogavam bolinhas de papel uns nos outros, pulavam a janela, entravam novamente pela porta... Sabia que tinha que fazer algo, mas não sabia exatamente o quê. Acho que acabei ganhando eles pelo carinho. Brincava com meus alunos no recreio, enquanto todos os meus colegas de trabalho ficavam na sala dos professores. Lembro que uma delas me falou que eu estava entusiasmada porque era minha primeira experiência.
E assim foi, numa relação de afeto e respeito, consegui ir até o final do ano (assumi a turma em agosto de 1979), só que todos foram mais uma vez reprovados...
Já estava cursando Pedagogia na UFRJ e optei pela Educação Especial. Nesta mesma escola em que comecei, EMEF Marechal Alcides Etchgoyen, havia uma classe especial destinada a alunos com deficiência mental moderada, que naquela época era clientela exclusiva das APAEs e Pestalozzis. Foi um projeto piloto do Instituto Helena Antipoff em parceria com a
Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Sempre que possível, eu ia assistir as aulas da minha colega, professora Magali. Eu lecionava pela manhã e fazia faculdade das 14h às 20 h na Urca.
A professora Magali se formou em Psicologia e me perguntou se eu não gostaria de assumir esta turma, pois ela havia sido convidada para trabalhar no DEC (Departamento de Educação e Cultura). Eu, prontamente, aceitei. Foi uma experiência maravilhosa e muito gratificante. Havia uma parceria muito grande com os pais destes alunos. Nossa turma sempre ia fazer passeios aos sábados, ondes os pais e os irmãos também iam juntos. Fomos ao Pão de Açúcar, na praia do Flamengo, no Circo de Moscou, entre outros lugares. O pai de uma das alunas trabalhava na CEDAE, era motorista, e nossa escola sempre solicitava a cedência da Kombi. Todos os finais de ano, a CEDAE convidava nossa turma para a sua festa de Natal, onde os alunos ganhavam presentinhos do Papai Noel.
Fiquei três anos como professora dessa turma. Só saí desta escola porque ia me casar e mudar para a cidade de Sapiranga, no estado do Rio Grande do Sul, onde moro até hoje,
Nos primeiros anos que estava em Sapiranga, recebia cartinhas das mães dos meus ex-alunos, onde elas me contavam sobre os seus progressos e me mandavam fotos atualizadas deles. Sempre que ia ao Rio de Janeiro, passar férias na casa dos meus pais, toda a turma se encontrava na casa de um dos alunos. Penso que isso aconteceu por mais ou menos uns três anos. Depois, fomos nos distanciando e nunca mais tive notícias de ninguém.
Sempre bate uma saudade desta época, onde aprendi muito com meus alunos, todos especiais.
(História enviada em setembro de 2010)Recolher