EU E MINHA NAMORADA - Surrealista -
*** ***
Eu tive uma namorada, destas metidas à riquinha, dondoca da sociedade, adorava comigo passear de carro pela cidade, sempre pelos mesmos lugares, pelas mesmas ruas e fazia sempre o mesmo trajeto pelas avenidas, parecia até que não conheci...Continuar leitura
EU E MINHA NAMORADA
- Surrealista -
*** ***
Eu tive uma namorada, destas metidas à riquinha, dondoca da sociedade, adorava comigo passear de carro pela cidade, sempre pelos mesmos lugares, pelas mesmas ruas e fazia sempre o mesmo trajeto pelas avenidas, parecia até que não conhecia outro caminho, e aqui para nós, acho que não conhecia mesmo, aprendeu a seguir nestes rumos e se desviasse, se perderia e para casa não saberia voltar. Duas ou três vezes por dia lá estava ela a me convidar. - benzinho vamos passear, esta casa é muito abafada e eu preciso de ar, vamos dar uma volta, eu dirijo e você só tem que me acompanhar, vá olhando a paisagem e as pessoas pelas ruas a caminhar, depois voltamos e vamos tomar um geladinho guaraná.
Eu com isto já estava meio louco, por vezes não queria ir, pois para mim era perder tempo e eu precisava ficar em casa para trabalhar, precisava de tempo para pensar e escrever finalizando mais um livro que de imediato enviaria para a Editora publicar e todos os dias vinha ela me atormentar para de carro desfilar, muitas vezes sentei pé e não fui pois eu sabia que agia assim para satisfazer o seu ego e foram incontáveis as vezes que estacionou o carro chamando passantes para me apresentar. Eu não sou como se diz na gíria, de se jogar fora, sou um cara bonitão bem apessoado, um metro e oitenta bem alinhado e possuidor de um bom humor que deixa a todos admirados e ela gostava de isto salientar, dizia que me amava, que iríamos nos casar e juntos morar, eu ficava “buzina” quando das coisas que fazíamos na intimidade, entusiasmada não parava mais de falar e o assunto por horas se espichava e ela até mesmo com gesto queria coisas demonstrar alguns destes parantes desistia de escutar e davam um jeito de se escapar, não sem antes de me indagar como eu podia aquentar.
Também seguido alguém vinha a mim perguntar como podia estar sempre em alto astral vivendo ao lado de uma vitrola ambulante que possuía um só disco e este disco não cansava de rodar, claro que isto me deixava meio constrangido, mas eu já tinha preparado uma tirada para quando viessem sobre estes trololós enjoativos me interpelar, para não deixá-la embaraçada respondia -
me sinto realizado, moro neste paraíso abençoado, nesta cidade paixão, em meio a paisagens deslumbrantes que meche em minhas emoções e sou feliz porque faço justamente o que gosto, ou seja escrever e escrever. Vivo entre estas belezas que fazem a minha imaginação fulgurar e foi aqui que me tornei naturalmente produtivo e prova está nos livros que eu aqui já publiquei, sendo que, vários deles em homenagens agradecidas especificamente a cidade de Torres RS eu dediquei.
Bem, mas voltando a minha namorada, como escrevi lá em cima, namorada que um dia eu tive. Ela um belo dia me veio com uma conversa fiada que não sei quem colocou em sua cachola, que nos dias atuais, como não tinha filhos, para ter um melhor status perante os demais precisava criar um bicho de estimação, qualquer um servia, era só para os outros se encantarem e achar que ela, boa pessoa adorava animais e tinha um bom coração.
Isto foi à gota d’água que me fez debandar em disparada, deixando
o já realizado e em esquecimentos não mais voltar. Você que está lendo este livro “humorizado”,
pode estar intimamente a se perguntar,
mas porquê aloucou, só por querer criar um inofensivo bichinho
de estimação, que mal grave pode haver nisto para levar a uma separação? Realmente, a criação por si só não seria suficiente, mas atente para o que vou agora
relatar e verão se tenho ou não razão.
Como estava dizendo, este modo estapafúrdio para se promover e para conseguir uma melhor visão perante as companhia amigáveis, alguém implantou em sua cabeça e ela tolamente convencida se prestou a sair a procura de algum animal que mais se adequasse a seu modo de vida. Por dias andou sem descanso pelas agropecuárias da cidade em busca do tal bicho, até que um espertinho lhe vendeu uma cadelinha, assegurando que era uma das setes maravilhas, que ela fazia e acontecia, a raça, neste caso não importa, mas a cadela era na real uma das raças mais vagabundas que podia existir, que
a única utilidade era a de dormir dentro de casa, eu até que tentei, aquentei por dias, mesmo assim somente porque ficava a maior
parte do tempo isolado a escrever, a principio não me importei,
pois a porta da sala em que eu escrevia se encontrava sempre fechada e a bichinha não tinha acesso, me livrando assim de ser
por ela infernizado, passaram-se os dias e em algumas coisas passei
a reparar, sabia que a namorada era por natureza adondocada,
mas nunca esperei o que passei a presenciar, banho na cadela agraciada nem pensar e o bicho fedia que perto dela não se podia direito respirar, e ela, calculo eu, acostumou como cheiro, e com a bela fedorenta acarinhada no colo pelas peças da casa vivia a andar, quando não estava no colo, em cima de um sofá ou da cama ia se aninhar, a maior parte do tempo mordiscava o que por ali havia e a tudo passou a rascar. Passei a dormir em minha própria casa, no quarto em que juntos dormíamos me abstive de entrar e da cama onde antes trocávamos caricias eu nunca mais quis me aproximar, passando uma duas semanas a seco dos carinhos conjugais, ela também sentia falta e por vezes vinha me envolver querendo me abraçar, mas era difícil de aceitar e eu mandava que fosse se lavar, - ensaboe bem os braços e estas mãos. Voltava correndo, mas o cheiro estava impregnado e eu tornava-me indiferente as suas agarrações
e minhas vontades de transa carnal se perdiam no penetrante e ardido aroma sentido pelas narinas que
pareciam iriam estourar
pelo fedido que a elas estavam a se encostar.
Como eu não queria mais acompanhá-la em seus passeios, muito menos agora com esta mal cheirosa cadelinha de estimação, a namorada me deixava em casa e saia com ela a passear, no inicio saia de carro e a bicha no banco da frente fazendo aquele alarido,
acuava e pulava sem parar e suas unhas no banco a cravar, quando notado alguns furos já não davam mais para remendar. Por sorte
uma amiga pessoal a convenceu que seria chique com ela caminhar, podia levar no colo e de preferência que fosse para a praia que
lá ela poderia correr e na areia fartamente rolar.
De tanto ela insistir e não cansar de me aporrinhar, fiz a besteira
de, em um destes passeio lhe acompanhar.
Deus meu, que arrependimento, foi uma das maiores
vergonhas que a cuja namorada me fez passar.
A orla de Torres além da incomparável boniteza natural,
existe um complexo de seis belas praias que dependendo do horário pode ser consideradas como particular e ali se pode fazer o que quiser, mas
em plena temporada de veraneio e nesta estória de meu imaginário que para vocês estou a grafar não seria o caso.
O sol em pleno janeiro, quente por demais, eu reclamava sem parar pelo caminho, pois a lindinha, mesmo no colo não parava de latir
e para todos que vinham de nós a se aproximar arreganhava os dentes parecendo que em mordidas iria a todos destroçar!
Finalmente chegamos à praia escolhida, arma a cadeira estende a toalha na grama ( uma das seis praias que antesfalei, denominada Prainha tem esta opção, grama ou areia) cadela livre na areia como uma desvairada saltitava e corria,
a namorada se desesperava perseguindo-a e com gritos estridentes a chamar:- vem cá filhinha,
a mamãe vai comprar um picolé e nós vamos juntas chupar.
Dito e feito, em praias sempre existe um picolezeiro que passa na hora certa.
Me de um e depois por aqui não demore a retornar.
Picolé na mão, cadela no colo, uma lambida para cada uma, mas não morda porque assim a filhinha vai a mamãe lograr e lambendo será melhor o aproveitar.
Parecia coisa de outro mundo, as duas juntas a lamber aquele picolé que no dia
calorento depressa começou a derreter, na ânsia de chupar pingava nos braços, seios, escorria pelo corpo sujando o fio dental, - me alcance o papel higiênico que está ali, estou precisando me limpar.
Além de ser uma coisa totalmente fora de propósito à pele começa
a repuxar, meia aflita, pois o sol começa a queimar, esfrega o pelo da filhinha que nesta altura transpirava, puxa para si a cadela e com ela começa beijos a trocar, língua com língua, beiço com beiço - agora vamos para a água nos refrescar até o homem do picolé retornar,
mas a Prainha tem uma grande extensão e o cujo deve ter ficado de conversa fiada em uma sombra qualquer e não
lembra do pedido
que
fiz, volte que eu outro quero comprar.
Mas deixa estar que neste meio tempo, muitas pessoas que naquele momento também da Prainha estavam a desfrutar, começaram a levantar se retirando revoltados com tais atos repugnantes e eu escutei um deles falar, deveríamos a língua desta asquerosa
arrancar para que aprenda a se comportar e em público aos semelhantes respeitar.
Eu que me fiz pasmo com a namorada beijoqueira, até aquele instante nada conseguia falar, mas ao ouvir os indignados comentários não pude me controlar, tirei o motivo da irritação
de seu colo e sem gritar, mas com firmeza na voz a interpelei
- criatura abominável, o que esta fazendo? Será que antes de sair
de casa tomaste um chá de casca de “nojeira”?
Não é possível, de onde tiraste este proceder, acredite no que vou
lhe dizer, eu nem mais um minuto quero ao seu lado estar, estou horrorizado e bastante envergonhado e se quiser fique, mas eu estou a voltar para a casa. - espere que vou junto, mas eu não fiz nada demais, minhas amigas me disseram que é preciso os bichinhos beijar para que eles sintam o carinho que estamos a lhe dispensar! Não disse nada e rápido me fiz em pernas, em passos largos demonstrando minha chateação e enojamento comecei a voltar, ela quase corria para me alcançar, puxava conversa e eu quieto, cenho mais franzido que um caubói que tinha acabado de levar um tiro no abdome, lembram-se daqueles filmes fajuto de faroeste que faziam os
nortes-americanos e vendiam caro para brasileiros ver?
Ainda carrancudo e parecendo um surdo mudo em casa chequei, entrei para a até então minha salabde trabalho e minhas coisas comecei a juntar, canetas e folhas já preenchidas, meu pequeno computador, alguns livros, e dela fui me despedir, um adeus, que ela disse não acreditar, desejei-lhe felicidades em conjunto com a belinha de estimação e que não lamentasse minha despedida, pois breve um xodó condizente ela poderia encontrar, existem vários homens que apreciaria repartir com ela os beijos cadelar e estes andam pela cidade, corda na mão e um bicho na ponta, sem a mínima noção vivem atrapalhando, os passantes pois estes bichos que eles não controlam seguidamente nas pernas dos desavisados vão se enredar.
Hestória publicada no livro humorizado
- Elio Moreira Misturando as \\\"cosas\\\"
Recolher