P/1 – Senhor Mario, em nome do Museu da Pessoa e da White Martins, queria agradecer a sua participação nesse projeto. E para começar gostaria que o senhor me dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Bom, o prazer é meu. Tanto em relação ao Museu como à White Martins, que é uma parceira de longa data. Quero dizer que minha história profissional acaba se misturando um pouco com a marca White Martins. Meu nome é Mario Antonio Veronesi, tenho 56 anos, nasci no ano de 1955.
P/1 – Em que local o senhor nasceu?
R – Na cidade de Vera Cruz Paulista, no interior de São Paulo, a 450 quilômetros aqui da capital.
P/1 – E qual o nome dos seus pais?
R – O meu pai, Luiz Veronezi. Minha mãe, Ana de Almeida Veronezi.
P/1 – Certo. O senhor pode falar um pouco da origem da sua família?
R – A origem básica da minha família é italiana. Meus bisavós são pioneiros italianos que migraram aqui para o nosso país.
P/1 – Como é que foi a vinda deles? O senhor sabe, ouviu histórias?
R – Não, eu acho que aqui é mais histórico. A gente sabe que foram para o interior de São Paulo, ali na região de Jaú. Pouco sei, é mais de ouvir falar, meu pai foi criado na fazenda dos avós e depois conheceu a minha (avó?) e se casaram. Aí se constituiu a família na pequena cidade. Foi onde eu nasci, onde eu vivi e me criei. Passei boa parte da infância nessa pequena cidade de Vera Cruz.
P/1 – E o senhor sabe a história de como os seus pais se conheceram?
R – Olha, pouco sei. Eu acho que eles moravam num sítio. Eu acho que ele tinha um sítio. Meu avô por parte de minha mãe tinha outro sítio. E acabaram se conhecendo e se casaram. Acho que minha mãe se casou aos 18 anos. Meu pai na faixa dos 26 anos. E aí, constituíram uma família sólida, com critério, filosofia excepcional de educação, dentro de um conceito muito forte de simplicidade, honestidade e trabalho. Eu...
Continuar leituraP/1 – Senhor Mario, em nome do Museu da Pessoa e da White Martins, queria agradecer a sua participação nesse projeto. E para começar gostaria que o senhor me dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Bom, o prazer é meu. Tanto em relação ao Museu como à White Martins, que é uma parceira de longa data. Quero dizer que minha história profissional acaba se misturando um pouco com a marca White Martins. Meu nome é Mario Antonio Veronesi, tenho 56 anos, nasci no ano de 1955.
P/1 – Em que local o senhor nasceu?
R – Na cidade de Vera Cruz Paulista, no interior de São Paulo, a 450 quilômetros aqui da capital.
P/1 – E qual o nome dos seus pais?
R – O meu pai, Luiz Veronezi. Minha mãe, Ana de Almeida Veronezi.
P/1 – Certo. O senhor pode falar um pouco da origem da sua família?
R – A origem básica da minha família é italiana. Meus bisavós são pioneiros italianos que migraram aqui para o nosso país.
P/1 – Como é que foi a vinda deles? O senhor sabe, ouviu histórias?
R – Não, eu acho que aqui é mais histórico. A gente sabe que foram para o interior de São Paulo, ali na região de Jaú. Pouco sei, é mais de ouvir falar, meu pai foi criado na fazenda dos avós e depois conheceu a minha (avó?) e se casaram. Aí se constituiu a família na pequena cidade. Foi onde eu nasci, onde eu vivi e me criei. Passei boa parte da infância nessa pequena cidade de Vera Cruz.
P/1 – E o senhor sabe a história de como os seus pais se conheceram?
R – Olha, pouco sei. Eu acho que eles moravam num sítio. Eu acho que ele tinha um sítio. Meu avô por parte de minha mãe tinha outro sítio. E acabaram se conhecendo e se casaram. Acho que minha mãe se casou aos 18 anos. Meu pai na faixa dos 26 anos. E aí, constituíram uma família sólida, com critério, filosofia excepcional de educação, dentro de um conceito muito forte de simplicidade, honestidade e trabalho. Eu acho que é nesse universo, nesse mundo que eu fui criado.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Tenho. Também se formou, é médico.
P/1 – E o senhor pode falar um pouco de como era a sua infância em Vera Cruz, que lembranças o senhor tem…
R – … Muito na linha de uma classe média brasileira bem integrada. Vivia numa cidade pequena com bastante liberdade. Ali aprendi a pescar, a jogar futebol. Uma infância muito feliz. Estudei em colégios públicos até o meu segundo grau.
P/1 – Como era a cidade de Vera Cruz. O senhor lembra as brincadeiras de infância?
R – Não muita coisa. Na verdade era muito livre. Tive uma infância livre, dentro de uma disciplina, óbvio, porque existia uma disciplina. Minha mãe foi muito na linha da disciplina. Mas sempre com bastante liberdade. Na hora de brincar, brincar. Na hora de jogar futebol, jogar futebol. Tive certo destaque na habilidade com o futebol. Pescava, nadava e frequentava um clube. Lembro muito da igreja, que era um ponto muito forte dentro da cidade. Um jardim muito bem cuidado. É uma cidade pequena que ficou na memória, na saudade. A igreja era um destaque. Muito bem construída, muito bonita. Então, na memória sempre vem essa imagem. Tenho a felicidade de meus pais continuarem vivos. Moram nessa cidade. Então, eu tenho o privilégio de estar junto com eles de vez em quando, e conviver um pouco, e relembrar essa vida de infância muito livre. Tive uma infância muito gostosa.
P/1 – E os seus pais, o que eles faziam?
R – Meu pai é muito habilidoso. Teve uma linha de atuação muito forte em funilaria, com carros. Depois ele aperfeiçoou e hoje trabalha na recuperação de pequenas aeronaves. Ele ficou uma pessoa muito reconhecida nesse mercado de reconstrução de pequenos aviões. Fui criado ali. Às vezes, nas férias, ajudava. Comecei a gostar desse segmento de arrumar, de mexer, de solda. Aí começa até vir um pouquinho a história de solda, de conhecer um pouco a marca de quem nos convidou aqui, que é a própria White Martins. Meu pai é um profissional muito bom, muito habilidoso com soldas. Recupera avião até hoje aos 82 anos. Levanta cedo, vai para o trabalho, almoça, volta a trabalhar. Tem motivação para o trabalho é incrível, algo a ser seguido. E faz com muito prazer, muito amor, e muita competência profissional. Minha mãe sempre foi do lar, uma educadora muito forte, uma disciplinadora, mas com muito critério, com muito amor com os filhos. Uma paixão nossa, minha e do meu irmão, até hoje.
P/2 – Seu pai chegou a voar?
R – Meu pai nunca foi piloto, nunca teve um brevê embora desse os vôos dele. A alegria dele era ver aquilo sair. Consertar. Ele fazia aquilo, faz até hoje, como se fosse dele, exige mais do que o próprio dono do equipamento. Ele testava os aviões pequenos voando junto com os proprietários.
P/2 – Você não?
R – Não, eu nunca segui essa paixão. Gostava muito de ver o conceito, a parte construtiva, isso acabou talvez influenciando um pouco a carreira a ser seguida. Mais tarde fui para universidade e segui o segmento de Engenharia.
P/1 – Eu queria que o senhor me falasse um pouco sobre a experiência na escola, se o senhor se lembra, por exemplo, da primeira vez que foi à escola, como foi?
R – Lembro. Tenho uma lembrança muito boa da minha primeira professora. Lembro que ela ficou muito contente quando eu me formei no curso superior. Dei um convite para ela, acho que ela ainda é viva. Esses tempos eu me encontrei com ela, ficou muito contente. Lembro dos primeiros ensinamentos de alfabetização. Lembro da dona Maria Teresa ficou na minha memória muito forte. Tenho a lembrança clara de todos os passos dentro da escola. Na época o ginásio era um colégio estadual. Eu tenho isso muito claro, o convívio com as pessoas, os amigos. Se a gente começar a citar é uma coisa abrangente. Mas lembro como se fosse agora de várias situações que passam na mente. Principalmente quando a gente está lá na cidade, ou quando está refletindo, sempre vêm à mente os bons momentos vividos na infância.
P/1 – E o senhor citou uma professora. Quais foram os professores marcantes dessa época?
R – Acho difícil você citar professores, mas essa pelo fato de ser a primeira, a Maria Teresa. Tivemos a Dona Zoraide, depois tivemos a professora Antoninha, e Dona Leonor, na parte de alfabetização. Depois, no ginásio, nos colégios, teve vários professores de cada matéria. O mais marcante eu acho que foram esses primeiros momentos de alfabetização no que gente chamava de grupo. Eu acho que esses foram os que eu gostaria de citar. Lembro de uma professora de Matemática muito interessante, muito competente, me influenciou. A professora Tamir, da cidade de Marília, eu gostava muito dela. Gostava da forma dela ensinar, dura, mas bastante competente. Lembro bastante dela. E outros. A gente comenta o tempo todo sobre nomes.
P/1 – Nessa primeira escola, como é que o senhor ia para essa escola, como era esse trajeto?
R – Sempre a pé, a cidade era pequena. A minha casa, na primeira série ficava muito próxima. E na segunda série, no ginásio, ficava no meio do caminho. Então, era tudo a pé. Levantava cedo e ia para o colégio de uma forma tranquila, com os amigos, e era uma forma muito boa de viver. A violência, nesse momento, a gente nem pensava. Era uma infância diferente do mundo que a gente vive hoje, está acostumado a ver, ler. Então, são momentos que a gente lembra com bastante mais tranquilidade, mais serenidade. Os tempos mudaram. Éramos amigos, íamos e voltávamos todos para escola conversando.
P/1 – O senhor falou muito de colegas e muito da questão de sala de aula, do que o senhor aprendeu. Mas que coisas o senhor gostava de fazer, por exemplo, com os seus colegas? Quais que eram as atividades?
R – Praticava muito esporte. Contava muitas histórias. Quando a gente entrou na adolescência fazíamos churrascos. Era o grupo de convivência do churrasco, outro do futebol, outro do voleibol. Eu circulava muito bem por vários grupos. Tem vários amigos daquela época. A gente mantém contato até hoje. A gente se encontra. Seja aqui em São Paulo, seja no Rio, a gente relembra, a gente comemora. Manteve-se uma turma com um grau de amizade muito forte.
P/1 – O senhor falou que gostava de jogar futebol, que até teve uma situação destacada na cidade, como foi isso?
R – Pelo menos até hoje o pessoal comenta muito da minha habilidade pelo futebol. Realmente, me saía bem dentro do clube da cidade. Acabei testando um pouco a experiência de querer me profissionalizar, porque em Marília, uma cidade ao lado, tinha um time profissionalizado. Não havia, me lembro, uma motivação muito forte para o lado de meu pai. Era mais no sentido: “Olha, era bom estudar.” Então, a gente acabou indo mais para o lado de educação, de estudar, do que pelo lado do esporte. Eu acho que no esporte eu me saía muito bem. Tanto em futebol, como em vôlei, também. Fui um bom levantador. Tinha um bom destaque, lembro. Acho que no esporte sempre conseguia me destacar.
P/1 – E no futebol, em qual posição o senhor jogava?
R – Jogava mais para o meio de campo. Eu lembro que na universidade, também, acabei me destacando bastante. Cheguei a ser campeão universitário, sempre jogando mais ali na armação do jogo, no meio-de-campo. Sempre gostei mais de preparar as jogadas, não era um grande fazedor de gol (risos), era mais um armador, um preparador, para as pessoas fazerem os gols.
P/2 – Teve alguma leitura de infância que o senhor lembra de ter ficado assombrado, encantado? O senhor falou em histórias. Ou alguma história que o senhor lembra até hoje, interessante?
R – Olha, as histórias são incríveis, porque no fundo, no fundo, quando você se reúne, elas começam a criar uma interpretação diferente. Ano a ano, elas vão se diferenciando, não é? Eu me lembro de histórias que você tem que ouvir e dar risada, se sustentar ali firme, porque tiram muito, gozam muito de algumas situações vividas. Lembro da história da primeira vez que viemos para São Paulo num grupo de excursão ao Playcenter. Era muito comum aqui em São Paulo escola do interior vir visitar o Playcenter. O medo de andar nos brinquedos… Tinha vários tipos de gozação. Não lembro assim de imediato uma história especial, mas eu garanto que cada vez que a gente se reúne, são três a quatro horas dando muita risada, um contando a história do outro, e gozando muito com o outro. E a gente tem que se sujeitar a essa situação.
P/1 – E isso foi excursão pela própria escola?
R – Ah, pela própria escola. Era muito comum. Afinal, era a capital.
P/1 – A primeira vinda a São Paulo, o senhor lembra como foi?
R – Lembro que foi num desses acontecimentos. Era alguma coisa de final de ano e comemoração. Viemos conhecer o Playcenter em São Paulo. Confesso que eu não tinha muita coragem de andar nos brinquedos. Então, não curti muito a questão do brinquedo. Curti mais a questão da festa, de estar viajando junto. Mas foi a primeira viagem, a primeira vez que estive aqui em São Paulo, assim, num grupo de pessoas. Estive em outras ocasiões quando era garoto, com a minha mãe, para visitar a mãe dela que por um período morou em aqui em São Paulo. A gente tinha o hábito de vir de trem. Muito legal. A gente pegava um trem, chegava aqui de noite, depois saía daqui à noite, chegava lá de manhã. Ficava dois, três dias. Era um momento muito interessante.
P/1 – O senhor fala muito que retorna à Santa Cruz. Como é voltar à Santa Cruz? Como são esses retornos?
R – É uma cidade típica do interior, onde você resgata lembranças. E como eu disse, são boas lembranças. Então, é muito gostoso você poder relembrar momentos felizes. Você tem lembranças também de momentos da vida. Ela é cheia de momentos felizes e de momentos tristes. Lembro também quando eu perdi pessoas queridas, o meu avô, a minha avó. Que a gente convivia junto. Então, tem esses momentos convivendo naquela cidade. Mas faz parte da vida. A gente tem boas lembranças, saudades. Não posso reclamar em nada da minha infância, da minha educação e do meu sucesso profissional. Até onde estou neste momento, não tenho nenhuma reclamação. Sou uma pessoa de sorte.
P/1 – A gente está falando um pouco da fase de infância e da adolescência. O senhor tinha algum sonho do que queria ser quando crescer?
R – Pois é. Essa é uma coisa que eu nunca sonhei grande. Eu acho que queria ser, sim, um bom engenheiro. Queria ser um profissional. Queria ter a mesma vontade de trabalhar que tinham os meus pais, meus avôs. Sempre captei deles o exemplo. Mas nunca almejei algum traçado dentro da minha vida. As coisas foram acontecendo gradativamente. Elas vieram naturalmente. Não teve nada planejado. Queria ser um bom engenheiro, queria trabalhar numa boa empresa. Estudei e sempre segui um pouco esse princípio.
P/1 – Conte um pouco de como foi a sequência dos seus estudos até que o senhor ingressasse na faculdade.
R – Concluí o segundo grau na própria cidade. Depois acabei fazendo o que se chamava na época de cursinho, na cidade de Marília. Estudei na Universidade de Mogi das Cruzes. Entrei e fiz a Engenharia Mecânica. Aí eu convivi praticamente cinco anos fora de casa. Foi a primeira vez que saí de casa. Saí daquele universo de histórias, de vivências. E comecei a enfrentar um pouco o lado real, lutar dentro de uma realidade de mercado, de cidade, que eu não conhecia. Então, esse foi um pouco o meu histórico dentro da universidade. Conhecer pessoas novas, vida nova, hábitos novos, aprender a se virar, até começar a cozinhar, a lavar roupa, esse tipo de atividade que nunca me passou pela cabeça que eu teria que fazer (risos). Mas me adaptei bem, acabei me formando engenheiro. Aí tive a oportunidade de trabalhar na cidade de Curitiba. Porque nessa época minha avó morava lá, eu tinha acabado de me formar e fui visitá-la. Comecei a olhar um pouco o mercado em Curitiba. Tive a felicidade de me chamarem para uma entrevista. Tinha feito os meus testes de admissão dentro de uma empresa tradicional fabricante de Coca-Cola chamada Paraná Refrigerantes. Passei por uma bateria de entrevistas e acabei sendo contratado. Então, acabei tendo que ficar em Curitiba (risos). Uma cidade fria, diferente da que eu convivia no interior aqui de São Paulo. Eu vinha muito para São Paulo. Eu fazia estágio aqui em São Paulo. Foi uma mudança radical. Isso foi para você ter uma ideia, em 1980. E de lá até hoje continuo em Curitiba. Acabei de chegar de Curitiba para estar aqui batendo esse papo com vocês.
P/1 – O nosso curitibano…
R – … Sou curitibano. Tenho muita saudade do que eu vivi na minha cidade de Vera Cruz, do que eu vivi na cidade de Mogi, onde estudei, e de São Paulo, onde trabalhei, onde fiz estágio. Mas acabei virando um cidadão curitibano. Fui fazer carreira e começar uma vida nova na cidade de Curitiba trabalhando numa fábrica da Coca-Cola. Nessa época, a Paraná Refrigerantes tinha duas fábricas e mais uma terceira sendo construída. A quarta no ano seguinte, eu ajudei a construir, na cidade de Ponta Grossa. Começou aí a criação de uma nova vida profissional. E se mistura, porque não é só na vida profissional. Acho que aí, tem uma história de vida profissional com vida pessoal. Porque junto também começou a acontecer a minha família. E por coincidência casei com uma pessoa também da cidade de Vera Cruz. A minha esposa era do interior de São Paulo. E tivemos que começar vida nova em Curitiba. Então, o meu profissional se mistura com a vida pessoal, graças a Deus. Hoje, acho que consegui com sucesso fazer uma boa carreira dentro da vida profissional e excepcionalmente uma bela família. Tenho a minha esposa e um casal de filhos. São pessoas espetaculares. Estou aqui depois de 30 anos e o meu casamento também já vai chegar a 30 anos, graças a Deus, mais uma vez abençoado.
P/1 – Eu vou, então, voltar um pouc para gente poder ir detalhando um pouco essas fases. Eu queria saber por que o senhor optou pela Engenharia Mecânica. O que o levou a essa área?
R – Sempre gostei de fazer coisas diferentes. Foi através da Engenharia que imaginei a oportunidade de criar coisas novas. Parece que te dá uma forma de habilidade manual, coisa assim. Não me parece que seja tão bitolada, ela é um pouco mais abrangente. Me dava essa impressão, um espaço para inovação. Hoje tenho a minha formação de engenheiro, mas não exerço mais esse papel. Hoje exerço o papel de direcionador de pessoas. Nesse ínterim acho que também fui aprendendo com elas. Eu gosto de pessoas. Então, fui misturando conhecimento técnico com trabalhos em equipe, adoro isso. Me apaixonei. Exerci minha função profissional com base na Engenharia, mas muito também na gestão. Sucesso você não consegue sozinho, é com equipe. Justamente com essa habilidade, ou essa sinceridade de mexer com pessoas e fazê-las acreditar que é possível. Essa é minha profissão. Um misto de engenharia, gestão, conhecimento de vida, aprendizado, dentro desse universo da Coca-Cola.
P/1 – O senhor falou da faculdade, das experiências de estágio. Como foi esse período da faculdade e os estágios que o senhor fez?
R – Tive muita sorte de encontrar bons companheiros, bons amigos, nessa fase de universidade. Convivemos juntos, aprendemos juntos, vivenciamos as várias dificuldades, e felicidades junto. Acabei conseguindo um estágio na Lapa, acho que foi no terceiro ano, em São Paulo, na Rede Ferroviária Federal. Mexia com locomotiva, vagões. Muito interessante. Fiquei praticamente três anos estagiando na Lapa. Vinha de trem de Mogi.
P/1 – Metropolitano. Acho que hoje é conhecido como…
R – … Metropolitano. Era uma viagem cansativa, você levantava muito cedo para chegar de manhã, fazia o estágio, voltava no final da tarde. Mais de uma hora de trem novamente para voltar para universidade. Mas era um momento que não tinha nenhum problema, pegar trem, voltar de trem, conviver, andar, frequentar a Lapa. Fiz esse trabalho por três anos. E já ajudava porque era um estágio remunerado. Comecei a ter o sentimento de trabalhar com pessoas. Senti o que era ser um operário, a vida difícil deles, o estágio contribuiu muito nessa fase. Confesso para vocês que era um universo um pouco maior do mundo onde eu vivi minha infância. Tudo isso foi uma adaptação, um aprendizado muito grande sair daquele mundo dos sonhos e de repente enfrentar tudo isso. É muito bacana, a gente aprende a mexer com pessoas, a se virar nessa selva de pedras, porque aqui o mundo era muito grande. E cada vez mais complicado, difícil de se locomover. Mas isso é São Paulo, um mundo. Eu aprendi muito aqui. Gosto muito da cidade de São Paulo. Gosto das pessoas de São Paulo. Não teria nenhum problema em viver em São Paulo. Lógico que sou um apaixonado pela cidade de Curitiba, porque lá acho que aprendi a ser curitibano. A gostar do clima fechado, frio.
P/1 – Foi sua primeira experiência de trabalho?
R – Bom, a primeira experiência de trabalho, eu tenho que confessar, foi ajudar meu pai. Ali sentia que tinha que fazer alguma coisa acontecer. Transformar algo em realidade. Via meu pai e comecei a conviver um pouco com ele. Acho que aí sobrou para mim e para o meu irmão. As férias eram um pouco divididas, porque a gente ia ajudá-lo no trabalho dele. Então, o sentido de trabalho foi ali que aprendemos muito bem. Mas trabalhar registrado, como um profissional, como estagiário, foi em São Paulo. De fato foi a primeira experiência. Comecei a entender o que era almoçar na empresa, os procedimentos da empresa, o primeiro aprendizado.
P/1 – O senhor lembra o que o senhor chegou a fazer com o primeiro salário ou remuneração de estágio?
R – Foi a primeira oportunidade que tive de contribuir, aliviar a mesada que meu pai mandava para mim. O que eu ganhava pagava completamente a minha universidade. Então, acho que ali eu comecei a ficar um pouco rico. Mas só por algum tempo porque depois a consciência pediu que não precisava mais mandar, porque já dava para contribuir um pouco com a mensalidade. Vivi um pouco melhor aquela vida de estudante, porque tinha uma remuneração, mas já contribuía para pagar minha educação. Mas isso nunca foi um problema de aperto financeiro. Eu digo que era de classe média simples, mas sempre tive um suporte muito bom dos pais nesse sentido. Era bastante conservador na questão, sabia usar muito bem o dinheiro que era mandado. E pude contribuir bastante para aliviar um pouco o orçamento do meu pai e de minha mãe, porque meu irmão estava começando a se preparar para se formar em Medicina.
P/1 – E esse estágio na Rede Ferroviária Federal foi…
R – … Na antiga Rede Ferroviária Federal, foi o primeiro e único.
P/1 – Ah, foi o único estágio durante a…
R – … Foi o primeiro e único. Na sequência eu me formei e já comecei a trabalhar.
P/2 – Em Mogi o senhor morava em república?
R – Morava em república. Acabei constituindo uma república. Morei um período muito curto em pensão.
P/2 – Pensão?
R – Pensão. Encontrei dois amigos, um de Minas, outro do interior de São Paulo. Acabamos ficando em um quarto. Tipo pensão. Vivemos ali uns quatro, cinco meses. Depois nós constituímos uma república de seis pessoas. Morávamos numa casa e ali começamos a aprender a viver em comunidade, e a ver diferentes formas de pensar. República é um bom aprendizado de como viver e respeitar a forma de cada um pensar seu espaço. Foi um bom aprendizado de vida.
P/1 – Na república que o senhor vivia só tinha alunos do curso de Engenharia?
R – Não. Ali tinha uma mescla. Éramos quatro engenheiros e dois arquitetos. Alguns seguiam Engenharia Química, outro fazia Engenharia Elétrica, eu era Mecânica, tinha mais um que fazia Mecânica. Então, era uma mescla aí de cursos.
P/2 – E menina, tinha, por ali?
R – Na república, morando junto, não (risos).
P/2 – Não, não, nem podia.
R – Não, eu acho que não era muito comum, mas estamos falando de 30 anos atrás. O mundo deu um salto. Hoje acho que é bastante comum você ter repúblicas mistas. Mas o máximo que se fazia era uma festa mista. Ou você era convidado para ir à república das meninas ou as meninas eram convidadas para a república dos rapazes.
P/2 – E nas salas de aula?
R – Engenharia era muito direcionado para homem. Isso é fato. Na minha sala provavelmente tinha duas meninas quando eu fiz o meu curso. Quando você ia para sala de Engenharia Civil, você via um pouco mais de mulher, mas muito pouco. Hoje acho que as coisas estão mais como deve ser, misturadas. Não é mais um curso específico de homem.
P/1 – Gostaria que o senhor falasse qual é a sensação que o senhor experimentou ao se formar. O senhor fez formatura, como é que foi?
R – Foi, foi feito uma formatura, toda oficializada, muito bonita. Você coloca o smoking… Acho que era fraque. Foi aqui no Anhembi. Os pais, a namorada. Foi ótimo. Na época eu já tinha namorada, minha atual esposa. Muito pomposo. Você se forma, se diverte, mas ao mesmo tempo tinha um frio na barriga. Tinha que começar a segunda parte, que era a busca de um trabalho. Foi um momento muito agradável, muito interessante, a sensação de despedida dos amigos não só desses, que você conviveu na república, mas os do quinto ano. Teve uma relação muito forte da equipe da Engenharia. Houve um campeonato universitário e o time foi campeão. Como eu jogava bem todo mundo me conhecia muito dentro desse contexto, era uma amizade grande. Lembro de quando a gente recebeu o diploma, deu uma sensação de mudança, de se afastar. Que a realidade estava chegando de outra forma. Alguns já trabalhando, falando para você da experiência de começar um trabalho. Outro: “Poxa, ainda não consegui o meu.” É aquela sensação da alegria de se formar, de estar se separando dos amigos, e também de estar começando um desafio enorme que é o seu sucesso profissional, a sua continuidade. E ali é uma segunda fase da vida, essa foi especialmente a sensação que eu tive.
P/1 – E como foi essa viagem para o Paraná? Uma visita à avó que acabou lhe rendendo esse emprego.
R – É verdade. Eu confesso que assim que eu me formei apareceu até uma oportunidade de trabalhar aqui em São Paulo. Eu não lembro exatamente… Ah, era um bairro muito longe. Não que eu tenha fugido do trabalho porque era longe. Eu até cheguei a trabalhar em um pequeno projeto, era em Diadema, na região da grande São Paulo, ia de metrô. Fiquei ali um período de 30 dias, tentando entender um pouco o objetivo do projeto da empresa. Mas sentia que não era muito ali que eu deveria começar a trabalhar. Pelo porte da empresa. Senti o mesmo que todo mundo quando se forma. Olhar bem as oportunidades. Ver que não precisa sair começando de qualquer forma. Tinha a opção de pegar esse trabalho. E aí, sim, voltando à história, eu fui visitar minha avó, meus tios, até no sentido de: “Vem para cá, faz tempo que a gente não se vê, quem sabe tem algum trabalho.” Curitiba não era um mercado igual a São Paulo. Mas encaixou. Acabei ficando quinze ou vinte dias, não sei, porque tinha todo esse processo de seleção, participei disso normalmente. Ficaram eu e mais um rapaz na final. Acabei levando sorte e fui contratado.
P/2 – Soube do trabalho pelo jornal?
R – Soube pelo jornal. Foi um anúncio no jornal: “Necessita-se de Engenheiro”.
P/2 – E o senhor ficava observando, então…
R – … Na verdade relembrando agora, trinta anos atrás… Foi por indicação de um primo que me deu a dica: “Olha, você viu o jornal? Estão necessitando de um engenheiro na Coca-Cola na Paraná Refrigerantes.” Ou qualquer coisa assim. E estou lá até hoje, no mesmo local, na mesma região. Faz 30 anos que a gente sai de casa, vai para o trabalho. Pode parecer maçante, mas não é, é muito gostoso. A vida toda fazendo esse percurso, fazendo extremamente aquilo que eu gosto.
P/1 – O senhor, então, praticamente ficou em definitivo.
R – Definitivo. Eu acabei ficando em definitivo em Curitiba. E aí, conhecendo um pouco o mundo da Coca-cola, que não se restringe só à Curitiba. Restringe-se ao Brasil, e ao mundo. Então, graças a Deus, tive a oportunidade de conhecer o Brasil, conhecer amigos, é uma família. Você conhece gente do Brasil e o mundo vai ficando um pouquinho maior. Sai do mundo de Vera Cruz, de São Paulo, faz muito mais amigos do que inimigos. A cadeia é enorme. Existem os fornecedores, os clientes, um aprendizado muito grande nesse mundo de negócios da Coca-Cola.
P/1 – O senhor falou da seleção. Que trabalho o senhor começou a fazer no Paraná? Tinha a ver com algum aprendizado da faculdade? Para que cargo, exatamente, o senhor foi contratado?
R – Interessante, tinha sim. Era tudo um pouco que eu sonhava. Na verdade, quando eu entrei lá, me falaram: “Olha, você vai ser o engenheiro de manutenção (acho que era isso), vai cuidar de toda a manutenção da indústria e vai conhecer toda a manutenção dos caminhões.” Então, já não ficou bitolado numa coisa. Era mais abrangente.
P/2 – Avião, depois locomotiva, agora caminhão.
R – Você vê a tecnologia. Uma fábrica de caminhões também. Ali foi onde comecei a trabalhar. Então, fazia todo um plano de trabalho de manutenção para caminhões e para indústria. E confesso que adorei. Porque você perguntou se o que aprendi na faculdade me serviu depois. Serviu sim. Adorava, por exemplo, trabalhar com pessoas abrindo um motor de veículos: “Ah, agora entendi. Taxa de compressão.” A Coca-Cola tinha que refrigerar, você ia ver na termodinâmica como é que se calculavam as posições de baixa, de alta, de amônia. Tudo que vinha da faculdade eu pude ver na prática. Era um mundo que eu nadava de braçada, porque, realmente, acho que na época o técnico mais qualificado ali era eu. Tinha o chefe que me contratou, mas ele foi promovido e abriu espaço para mim. Eu inventava muito com os mecânicos. Calculava drenagem de dentes: “Vamos fazer isso aqui, não agora nós vamos fazer… ” Tive muita sorte, sempre me deram liberdade de criar. Fiz máquinas de encaixotar Coca-Cola. Conheci um grupo de inventores lá dentro da fábrica. Tínhamos ideias muito interessantes, que a própria Coca-Cola tremia quando eu falava (risos). O Brasil teve uma crise energética, nos anos 1980, não sei exatamente. O petróleo ficou muito escasso e o governo incentivou a energia elétrica. O aquecimento de máquinas de lavar garrafa era feito à vapor. A gente entrou com um projeto de colocar resistência dentro da lavadora para utilizar energia elétrica que o governo incentivava. Foi um grande projeto. Me deixaram furar as lavadoras. Todo mundo com um medo tremendo. Todo mundo olhando isso com um receio muito grande, porque mexe diretamente com qualidade. E foi um processo sensacional, porque eliminamos o vapor da fábrica, foi tudo energia elétrica, e tinha o financeiro que calculou o payback em um ano. Economia enorme, porque a energia era garantida por tempo de serviço, alguma coisa assim. E tinha um preço muito baixo. Aquilo foi uma vibração. Grande motivação para a equipe criar coisas novas. E um primeiro aprendizado. Na crise você consegue inovar e fazer coisas fantásticas. Ninguém imaginava fazer máquina de lavar garrafa com resistência elétrica. Não sei se em algum lugar do mundo já foi criado isso, foi a primeira grande inovação dentro da nossa fábrica. E dali para frente acho que não parou mais.
P/2 – O que é payback?
R – Payback é o retorno do investimento. Um jargão. Uma técnica de você fazer um investimento e ver em quantos anos se paga aquele investimento. Então, você investiu x milhões, espera que em cinco anos esse dinheiro retorne. Acabou retornando em menos de um ano, porque era muito mais interessante você aplicar o seu dinheiro naquele projeto do que botar em banco ou qualquer outro investimento. Esse termo não é muito da Engenharia, mais do financeiro. O que eu fiz foi o projeto, mas tinha um diretor financeiro na época que adorou, porque, realmente, dava um retorno muito grande de dinheiro. Esse era o fato. Em todos os projetos que a gente faz, não tenha dúvida, uma das bases é sempre o retorno financeiro.
P/1 – Queria que o senhor falasse um pouco da história da Paraná Refrigerantes que depois veio a se tornar Spaipa.
R – Verdade. A Paraná Refrigerantes foi fundada, se não me falha a memória, em 1946. Quando entrei em 1980, já era uma empresa de longa data. Já tinha sua história dentro do contexto nacional de refrigerantes. Eram três fábricas, depois acabou tendo uma quarta, em Ponta Grossa. Um grupo muito respeitado. Muito conceituada no estado do Paraná. Já tinha uma filosofia de investimento e bons serviços prestados ao mercado. Foi nesse universo que comecei a trabalhar. Porque a Coca-cola tem franquias. A Paraná Refrigerantes só não atendia a parte norte do estado. Londrina, Maringá, ela não atendia. Atendia a parte sul e oeste. Fabricava e distribuía os produtos Coca-Cola. Estava começando a distribuir cerveja na época em que eu entrei.
P/1 – E quais são os produtos desenvolvidos?
R – Em 1995 a Paraná Refrigerantes juntou-se à José do Rio Preto Refrigerantes e Bauru Refrigerantes para atender todo o estado do Paraná e parte oeste do interior de São Paulo. Da fusão desses três fabricantes, Rio Preto Refrigerantes, Bauru Refrigerantes e Paraná Refrigerantes mais o aporte de capital da Refrigerantes de Santos, se criou a Spaipa. Peguei todo esse movimento por ser funcionário da Paraná Refrigerantes. E tive muita sorte de continuar atuando nesse processo. Daí surgiu essa grande empresa que é a Spaipa. Então, a Paraná Refrigerantes foi o começo de uma nova era e de uma nova empresa dentro do mundo de bebidas.
P/1 – E como foi esse processo de fusão dessas empresas que resultou na Spaipa? Qual que era o sentimento na época?
R – É, puro sentimento mesmo, de participação. Você imagina juntar três empresas muito respeitadas numa só. Pelo volume que isso gerar, pelo tamanho no mercado, era muito motivador, produziu uma grande sinergia. Uma área administrativa única, fábricas, a logística daria para se rever. O processo de integração foi um desafio para a gente por serem três culturas e modelos de gestão diferentes. E eu tive o prazer e a confiança dos acionistas e participei disso. Foi muito bonito. Para vocês terem uma ideia do que foi, em 1996, quando toda a Spaipa se consolidou, a empresa distribuía 124 milhões de caixas de bebida. O faturamento da empresa foi de, aproximadamente, 520 milhões de reais. Hoje, em 2011 somos uma empresa com 240 milhões de caixas unitárias. Um faturamento de dois bilhões e oitocentos milhões de reais. Então, dá para ver todo o movimento. Lógico que em cima disso você tem um grupo por trás, que são os acionistas da empresa. Investiram de 2005 até 2011 708 milhões na indústria e na logística. Os acionistas são as pessoas que estavam nessas empresas, estão integradas até hoje, e acreditam nesse mercado. Então, você imagina o potencial que é isso. Eu te falei em números financeiros, números de volume. Agora vocês imaginam a capacidade dessa empresa, as pessoas que estão nesse meio, porque isso não acontece por acaso. É bastante gratificante participar desse time foi um trabalho fantástico, uma experiência fabulosa. Falar é muito simples. Mas, meu Deus! Imagina o que teve de treinamento, de equipe envolvida. A Spaipa tem um faturamento altíssimo. Uma das grandes empresas de refrigerantes do país. Muito respeitada no mercado.
P/1 – Sim. E além da produção da bebida, seja refrigerante, seja cerveja, suco, também é produzido o que seria o invólucro, a garrafa. E é feita a distribuição?
R – A Spaipa produz toda a linha de carbonatados. E distribui os produtos da CBD [?], que é uma joint venture da própria Coca-Cola e dos fabricantes que fazem os não-carbonatados, que são os sucos. E distribui também a cerveja da Heineken Brasil.
P/2 – Como é a cadeia de produção desses produtos, desde o começo?
R – A cadeia é complexa. Para o suco, começa no processo de açúcar. Daí transforma em concentrado. Com refrigerante, você entra com açúcar, e com o alumínio para as latas. Para a garrafa a cadeia começa no petroquímico, na resina que vira pré-forma, e que acaba virando garrafa. Dentro dela você coloca o melhor líquido do mundo, a Coca-Cola, nosso carro-chefe, que a gente produz com muito carinho e distribui. Tem o estoque também. Depois a distribuição através dos caminhões até os clientes. E para chegar ao cliente você desenvolve um relacionamento enorme com ele, porque você tem um batalhão de vendedores no dia a dia ali, conquistando, tentando convencê-lo a comprar uma caixa a mais, tentando levar o serviço. Você tem o gás da própria White Martins, que faz parte da cadeia, o gás que acaba dando toda a refrescância da Coca-Cola e outros gases envolvidos em toda essa cadeia. Uma cadeia complexa muito interessante. E no mundo de hoje de sustentabilidade, a Coca-Cola Company toma muito cuidado na escolha dos seus fornecedores, a forma que eles usam mão de obra. Essa é uma preocupação constante neste mercado. A gente atua fortemente em cada tópico, em cada fornecedor. E nós como também somos fornecedores, também somos medidos por isso. Como a gente lida com os nossos funcionários. Acho que hoje o mundo está olhando essa cadeia de uma forma muito detalhada, porque você mexe com todos os pontos. Se começo a falar de petróleo, chega no meu produto. Começo a falar de agricultura, chega no produto. E o mais importante, alimentar as pessoas, que são os nossos consumidores. Então, você tem que ter uma cautela, um cuidado enorme com essa cadeia.
P/2 – Eu estava pensando que algumas coisas vêm de fora.
R – Ah, tem. Quando você fala da cadeia, o mundo está muito globalizado. A resina, por exemplo, grande parte dela vem importada. Partes da garrafa são processadas até fora do Brasil. A pré-forma da garrafa vem do Uruguai e da Argentina, através do Mercosul. Resina hoje você traz da China, você traz dos Estados Unidos. Então, ela transcende as fronteiras do Brasil. Não tenha dúvida nenhuma.
P/2 – A resina vai para onde?
R – A resina vem do petróleo e basicamente é o que você vê constituindo a garrafa PET. A Coca-Cola hoje está dando um passo muito grande na linha da sustentabilidade. Estamos falando da garrafa plant bottle feita do etanol. Uma resina verde, renovável. A Spaipa e o sistema Coca-Cola, já estão usando 30% dessa resina verde, que vem da cana-de-açúcar. É fantástico o que se tem pela frente da visão da Coca-Cola na linha de sustentabilidade, e o Brasil é um grande produtor de cana.
P/2 – Mas e a China também?
R – Não, eu acho que essa tecnologia da China é muito focada na tecnologia de extração do petróleo. A Coca-Cola tem essa visão, está muito nessa linha de ter uma resina através de fonte renovável para substituir a do petróleo.
P/2 – Isso no que diz respeito à embalagem. E no que diz respeito ao… Bom, a gente sabe que a Coca-Cola tem lá o segredo dela. A água, por exemplo, de onde vem?
R – A água é algo extremamente importante para o nosso negócio de refrigerantes. Uma das matérias primas onde tem um grau de utilização muito forte. Geralmente ela vem da municipalidade, e vem de poços que você usa. Dentro da Spaipa a gente tem uma cultura que é da própria chuva. Nós estamos captando parte dela, usando em algumas unidades 1% do volume. Mas geralmente ela vem do município, vem de poços e de rios, você captura e transforma. A otimização da água vai muito além da linha da plataforma de sustentabilidade do programa Viva Positivamente da Coca-Cola. Só para você ter uma ideia, para fazer um litro de bebida, a Spaipa usava em 1995, 2,4 litros de água. E 2011 usamos 1,64. Reduzimos mais de 33% o volume de água utilizada para fazer um litro de bebida. Qual é o foco? O foco é chegar em 2020 utilizando um litro de água para fazer um litro de bebida. E a Spaipa vai muito bem nessa linha da otimização da água. Temos investido muita tecnologia, máquinas diferenciadas, onde o consumo de água é bastante otimizado. A Spaipa junto com a Coca-Cola foi a primeira empresa no país a utilizar a resina reciclada. Lançamos uma garrafa usando 25% de resina reciclada através de um processo de bottle to bottle, tecnicamente comprovado, aprovada pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância sanitária]. Se limpa toda essa resina e a transforma em garrafa.
P/2 – Como é que é o nome do processo?
R – Bottle to bottle. Garrafa à garrafa.
P/2 – Ah, bottle to bottle.
R – Então, você tem uma logística reversa: trazer, recolher, reciclar. Seja ela com resina de petróleo, seja ela com resina feita do etanol. Entra num processo aprovado pela Anvisa, onde você daí aciona a resina verde. O ano passado nós lançamos a primeira garrafa aqui no Brasil, aprovada pela Anvisa, muito importante dizer isso, a Spaipa foi a pioneira em conseguir essa aprovação. Estamos no mercado usando garrafas com 20% de resina reciclada, que para mim é sensacional. São tecnologias fantásticas, inovadoras, a gente adora. Acho que tem o espírito um pouco da Spaipa, esse pioneirismo, essa inovação. Junto com a Coca-Cola também trabalhamos forte e lançamos uma tampa de garrafa mais baixa, isso economiza o finishing da garrafa, onde está a rosca, é menor. Então, você tira 1,6 gramas de PET da garrafa. Você faz uma garrafa com menos resina e gasta menos material. Vamos muito na linha da pegada de carbono eliminando toneladas de carbono para atuar de forma inteligente em cima desses processos aprovados junto à Anvisa. Faço questão de comentar isso. Pelo espírito inovador da Spaipa. Está inserido no DNA da empresa, das equipes, correr atrás dessas inovações. E quando você fala em sustentabilidade é apaixonante ver isso dentro da nossa cultura. Acho que a sustentabilidade dentro do que eu falei da plataforma da própria Coca-Cola é na linha do ambiental, do social e econômico. As ações de sustentabilidade têm que estar muito dentro dessas considerações.
P/1 – Pelo que o senhor está falando, o padrão Coca-Cola vai muito além do que é a bebida em si. Queria que o senhor falasse um pouco mais como é o padrão que a Coca-Cola estabelece para as empresas que são franqueadas.
R – A franquia tem um padrão estabelecido a nível de contrato. Existem as análises de qualidade dos produtos. As medições de gás, de proporção de água, açúcar, para ver se, realmente, está dentro do padrão. Tem nota. Existem segmentos que acompanham a gestão das pessoas. O modo de você aplicar gestão dentro da sua empresa, dentro dos conceitos de práticas aceitáveis pelo mercado. A Spaipa, por exemplo, é certificada tanto na ISO 9000, como nas 14000, 22000 e 18000. Todo um padrão de gestão de produtos, de pessoas, para cobrir com muita segurança aquilo que afeta a qualidade do produto. Em 16 anos de existência teve o privilégio de ganhar oito vezes o primeiro lugar do prêmio Qualidade Brasil. A cada ano, se você for analisar, nós estamos ali entre o primeiro e o segundo lugar. Já obtivemos 20 conquistas. Falo com bastante tranquilidade. O DNA de qualidade, da sustentabilidade, da responsabilidade social está realmente inserido na cultura da empresa. Está na ação de cada colaborador.
P/1 – O senhor estava falando um pouco de como se dá essa padronização que a Coca-Cola estabelece para as empresas que são franqueadas. Mas isso também não impede que haja margem para novidades que a empresa implementa e vão sendo adotadas. O senhor pode falar um pouco?
R – Quando você fala de imagem e qualidade, você não tem como mexer. Eu acho que são as coisas que a Coca-Cola defende. Toda a parte de marketing, toda a parte de produto e qualidade é extremamente responsabilidade dela e certíssima. Eu também não deixaria mexer numa preciosidade de tantos anos de trabalho. Você não tem como inovar aí, não. Agora o que você inova dentro das suas unidades são os modelos de gestão. Onde fazer de uma forma ou de outra dá um resultado melhor em termos do entendimento dos colaboradores. A inovação ou a facilidade em fazer com bastante rapidez, depende de cada fabricante, de cada gestor. O modo de cada um fazer a sua gestão. Então, aí tem a grande inovação, senão os resultados seriam todos iguais. Cada empresa tem os seus objetivos, financeiros, culturais. Cada uma tem seu DNA, sua cultura. A Spaipa tem a dela. É a própria Coca-Cola que dá o prêmio de qualidade. Existe uma pontuação, tem uma forma que ela segue, de avaliação, e aquele que mais ponto fizer, ganha o título de produto de melhor qualidade dentro de um conceito bastante disputado e difícil. Então, como eu disse, a Spaipa, por oito vezes teve o primeiro lugar, e acho que por nove vezes o segundo. A cultura da empresa é muito focada nos conceitos da sustentabilidade, nos conceitos de gestão para a qualidade. Não que as demais não sejam. Nos outros anos, algum outro fabricante também ganhou o primeiro lugar. O trabalho é árduo e é para se fazer bem feito. Mas eu só queria relatar, porque é um mérito de toda a equipe da Spaipa. Acho que a gente tem orgulho de ter esse tipo de reconhecimento, acho que é um reconhecimento público que a gente valoriza muito.
P/2 – Uma coisa que eu fiquei curiosa. Vocês inventam alguma coisa, e isso vira uma regulamentação que a Anvisa obriga todo mundo a fazer? A questão da tampinha. Digamos que vocês inventaram um jeito para economizar, para não ter desperdício, que se torna melhor no quesito sustentabilidade. Isso vira uma ação que tem que ser feita para o bem comum do planeta, porque sustentabilidade é para o planeta.
R – Sem dúvida.
P/2 – Vira patente? Como é essa relação entre uma invenção que foi feita para o bem comum, que é o planeta, e essa relação com o lucro?
R – Eu acho que a Anvisa, ela regulamenta. Acho que tem a Anvisa e tem outros órgãos no país que regulamentam. Tudo o que diz respeito à qualidade, à embalagem, à segurança, você tem que ter aprovação para saúde do consumidor. Agora, quando você fala de uma grande ideia, eu acho que a empresa líder tem que ser referência, estar sempre na busca de ser um exemplo. Existem várias ações como essa da plant bottle, a Coca-Cola saiu na frente aqui no Brasil e colocou no mercado. Não tenho dúvida nenhuma que é tão sustentável que as demais vão seguir. Acho que o exemplo tem que ser seguido. Como a criação da tampa, projeto totalmente aprovado para Coca-Cola especificamente. Porque tem produtos com características diferentes e a ideia pode não dar certo. Mas a mini-tampa foi um projeto muito bem trabalhado do ponto de vista técnico pela Coca-Cola. Mexer em Coca-Cola imagina a responsabilidade! Todo aspecto técnico é muito delicado. Existe uma aprovação que vem de Atlanta, que a gente segue. A própria regional do país segue e os conceitos aprovados dentro dos órgãos competentes. Mas à Spaipa cabe implantar. O exemplo da tampa. Fizemos isso com muita rapidez, porque a gente acredita que além de contribuir financeiramente, que isso não se pode perder de vista, é sustentável. Quem é líder de mercado tem que dar o exemplo, tem que fazer acontecer. Tem que adaptar as fábricas, os modelos, tomar todos os cuidados possíveis em relação à saúde e a Anvisa tem o papel dela super importante. Credenciar, aprovar, aplaudir quem faz. Seja a Spaipa, seja Coca-Cola, seja um concorrente. Uma ação bem feita no nosso planeta tem que aplaudir. Acho que todo mundo gosta de aplausos. E para a marca faz muito bem. Para a empresa faz muito bem receber aplausos.
P/1 – Eu queria que o senhor comentasse um pouco, agora voltando para sua trajetória profissional, a transição. O senhor inicialmente começou a trabalhar como técnico, fazendo mais a sua atividade de engenheiro e agora o senhor trabalha muito mais na área de gestão de pessoas. Como é que se deu essa transição?
R – Eu acho que isso é uma transição natural dentro da carreira de uma pessoa. Quando ela se encaixa dentro do contexto, porque tem gente que gosta de ser engenheiro, gosta daquilo, e eu respeito, é um técnico, nasce para aquilo e gosta. Quando você fala de gestão, você tem que estar aperfeiçoando, estudando. E o mais importante é gostar de pessoas, de obter resultados integrados às pessoas, às equipes. Porque dificilmente você ganha o jogo sozinho. O resultado tem que ser positivo para que o feedback seja dado. Importante também é ter um pouco de sorte. Acho que isso também é importante, faz parte. E eu tenho dito para você, na minha vida eu não posso reclamar da sorte.
P/1 – E foi mais ou menos em que época essa transição?
R – É difícil lembrar a data. Minha memória é interessante. Tenho excelentes lembranças de quando eu era mecânico, de quando fui gerente de produção, gerente industrial. Depois virei superintendente industrial e de logística. Essa foi minha carreira. Gosto de conversar com quem opera com os que fazem, mas também, sem dúvida nenhuma, posso dizer que adoro conversar com meus gerentes e gestores. Não sei bem as datas, aconteceu tudo sem muito planejamento. E esse foi um pouco meu histórico profissional, que se mistura com a vida da empresa, a vida pessoal, a profissional. Gosto dos dois, da minha vida pessoal e da minha vida profissional. Sinto-me muito feliz fazendo o que eu faço.
P/1 – Eu queria que o senhor falasse um pouco quais são os principais clientes e fornecedores da Spaipa.
R – Clientes é um negócio bem complexo. Nós temos, acho que já mencionei, no nosso cadastro, no nosso mercado de atuação, quase seis mil. Estamos praticamente em todo o mercado de bebidas. De maior volume acredito que um dos clientes fortes é o Walmart. Quando você fala de fornecedores, aí tem uma cadeia ampla. Temos a Raízen, que é um grupo novo que fornece o açúcar. Temos a Crown Cork e a Hexion que fornecem as latas. A Cristal Pet a pré-forma. A Engepack também é muito importante. E não poderia deixar de dizer, a White Martins fornecedora de destaque dentro da nossa cadeia.
P/1 – Queria que o senhor comentasse um pouco como aconteceu essa parceria entre a Spaipa e a White Martins.
R – A White Martins é uma parceria de longa data. Além de ser uma marca muito forte, ela vivencia a indústria, ela está junto com a indústria há muito tempo. Teve uma participação muito forte, maior, quando começou a fortalecer muito a área de gás. Quando entrou, nos anos 1990, com o dióxido de carbono, ela passou a ser uma fornecedora muito importante. Porque ela está abraçada ao produto que nós fornecemos aos nossos consumidores. Então, aí tem um laço muito mais forte. Além do dióxido de carbono, tem o nitrogênio, oxigênio, que nós usamos dentro do processo de tratamento de efluentes. É uma parceria inserida dentro da nossa cadeia e dentro do nosso produto propriamente dito. Parceria que nasceu desde o início da história da Spaipa e perdura até hoje trabalhando e crescendo juntos.
P/1 – Quais são os produtos que a White Martins oferece à Spaipa?
R – Você tem o dióxido do carbono para carbonatar os produtos. Você tem o nitrogênio, que usamos para os envases especiais de lata. Você usa o nitrogênio como atmosfera. E você tem o próprio CO2, que nós adquirimos, injetamos para fazer aeração e tratamento de efluentes. Então, esses três produtos de gases é muito forte. Além do gás, você tem o serviço da própria White Martins que é muito importante. As ideias, as inovações. A White Martins trabalha muito com essa linha, eu gosto muito disso. Quando se fala em soluções diferenciadas para o tratamento de efluentes ela fornece opções, é uma empresa interessante. É inovadora e cai muito bem no nosso modelo também de atuação. Então, você tem produtos e você tem serviços. E o mais importante também é o cliente, o respeito que tem com o cliente. Se eu estou aqui sendo convidado é provavelmente porque eu respeito eles também como fornecedores, e vice-versa. Porque se estamos fazendo um projeto, se estamos participando, não é por acaso. Na verdade é porque você tem uma relação comercial muito sadia.
P/1 – O senhor falou da parte de serviços. Como é que se dá essa assistência no que diz respeito aos serviços prestados?
R – De várias formas. O nível é muito bom, foi uma alavancagem muito grande que a White Martins deu nos últimos anos. Uma preocupação no sentido de qualidade de atendimento. Quero dizer, o pós-venda. Eu vendo, mas na sequência acompanho como está o atendimento, a entrega, as chamadas de manutenção. Fazer essa informação chegar até o comando da própria empresa. As chamadas, o atendimento, o ponto que satisfez, o ponto que não satisfez. Então, você vê uma preocupação muito do que eu chamo nível de serviço. Se você quiser uma solução inovadora, é um bom parceiro para você chamar para mesa, para juntos discutir e ver qual é a melhor solução. Tem técnicos habilitados que te ajudam a criar. É um serviço diferenciado. Você sabe a dificuldade de você dar um nível de serviço e o cliente entender isso dentro de um custo aceitável. Sempre é um trade off. Mas eu acho que o relacionamento Spaipa e White Martins é muito saudável e duradouro.
P/1 – O senhor já falou em algum momento como é o processo de produção do refrigerante. Eu queria que o senhor falasse de forma um pouco mais detalhada como é a produção do refrigerante, e qual é o papel dos gases nesse processo.
R – Falar de processo do refrigerante é muito complexo, muito difícil. Eu tenho que fazer, assim, um resumo. Porque a gente vive nisso, a gente faz isso, quando você vai falar é muito detalhado. Mas focando um pouco até naquilo que você falou, onde se utiliza o gás você tem um ponto muito importante, que é a água. Nós já comentamos sobre a importância dela em nosso universo. É preciso fazer um pré-tratamento de filtração e clarificação quando a recebemos, mesmo que venha da municipalidade. É um processo muito sofisticado para se obter a água sem odor e muito clarificada. Utiliza-se filtro de areia e de carvão para a descontaminação. Isso vai ser usado na bebida, mas também será usado num processo muito importante, que é o tratamento do açúcar. Você mistura essa água com o açúcar e vai fazer a diluição. Então, você dilui esse açúcar, eleva a temperatura a 82 graus, e faz uma filtração para que esse açúcar também seja clarificado e esterilizado. Na sequência você baixa essa temperatura, por volta de 25 graus, que é o que a gente chama de xarope. Você fez um xarope de água e açúcar. Um processo importante é o que nós chamamos de blending. O blending, o que é? Você pega esse xarope, manda para esse equipamento, ele proporciona direitinho a quantidade de açúcar, a quantidade de água, e a quantidade de concentrado, suco, dependendo do produto que você faz. Então, você fez uma mistura dentro dos padrões. Então, você tem uma bebida preparada com a mistura de açúcar, água, e o concentrado ou suco, ou só o suco. Isso feito, você manda para um processo que chama carbonatador. É o que vai dar a refrescância no refrigerante. É aquela sensação do carbonatado. E ali você injeta o CO2, que é um produto que a gente adquire da White Martins. Isso é inserido dentro do produto, depende do volume que você quer. Uns são mais carbonatados outros menos. Depende do volume de gás. O produto é colocado dentro de garrafas totalmente vedadas e tampado com rolhas chamadas crown ou encapsuladores de rosca. É preciso que fique num acondicionamento adequado para que o gás não saia. A retenção do gás é muito importante. A qualidade e a quantidade do gás também. Resumidamente, eu cheguei ali no gás.
P/2 – O senhor mencionou ter uma relação de gás com embalagem.
R – Nas latas de alumínio, você aplica uma injeção de nitrogênio antes de fechar a lata, para eliminar qualquer composição que possa oxidar a bebida. Você cria um ambiente inerte, injeta nitrogênio e na sequência fecha a lata. Em alguns casos usamos nitrogênio para fazer a contrapressão na cabeça da enchedora na hora do envase. Temos um nível líquido, e um nível gasoso que é a atmosfera de nitrogênio.
P/1 – O senhor falou um pouco da atuação da empresa nas áreas de sustentabilidade ambiental. Eu gostaria que o senhor comentasse um pouco da atuação da Spaipa no segmento de responsabilidade social. Como é, por exemplo, a relação da Spaipa com as comunidades…
R – … Pelo fato de estarmos em três cidades temos um potencial muito grande de relacionamento com a comunidade. Existem os convites de visitação à fábrica. Convidamos para uma a visita à fábrica os estudantes universitários. Uma forma de mostrar como se faz o produto. A abrangência de nosso trabalho. Uma forma de estar mais junto desta comunidade. Temos ações como a Campanha do Agasalho, o Programa de Combate à Evasão Escolar e os projetos de profissionalização dentro das comunidades com o objetivo de oferecer ferramentas de geração de renda e capacitação.
P/1 – O que talvez fosse interessante seria o senhor dizer, então, de forma geral, como que é o relacionamento da empresa em três comunidades distintas. Como é esse relacionamento da empresa com essas comunidades que são mais diretamente impactadas.
P/2 – É, porque houve um impacto, no momento em que se estabelece uma empresa grande. O senhor pode falar sobre a sua percepção.
R – Em termos de relação com a comunidade, sem dúvida a hora que você monta uma estrutura industrial você impacta a cidade toda. Dentro da própria prefeitura você tem um relacionamento muito forte, existe, sim, uma integração forte de fábrica, de funcionários, de comunidade, campanhas que afetam a base da pirâmide, como o projeto Coletivo da Coca-Cola, que atua na formação de profissionais para se colocar dentro do varejo. E também a criação de modelos de gestão para empreendedorismo. São 14 milhões de consumidores, várias classes sociais. Acho que a gente cumpre o papel nosso dentro especialmente das comunidades mais carentes.
P/2 – Agora fiquei curiosa. Quando o senhor fala “diretor industrial e de logística”, o que significa logística?
R – A nossa empresa, ela não tem a figura do presidente, é administrada por um colegiado de três superintendentes. O superintendente financeiro e de recursos humanos, uma diretora superintendente da área comercial, essa é a Neuri. O superintendente do financeiro é o Avelino. E o superintendente de logística industrial, é o que vos fala aqui, que é o Mario Veronezi. Nós nos reportamos diretamente ao conselho de administração, que tem um presidente de nome Daniel Herbert. Então, é um modelo de gestão de um colegiado. Eu cuido da cadeia de suprimentos, de produção e da distribuição. Eu coloco o produto no mercado. O setor de vendas cuida da parte comercial, que é vender esse produto e fazer todo o marketing do produto. E o financeiro cuida de todas as finanças da empresa e também do suporte de recursos humanos. As decisões estratégicas da companhia, o conselho toma junto com os três colegiados. É uma organização um pouco diferente do que a gente conhece de empresa que tem presidente. A gente tem basicamente três superintendentes que participam da gestão da empresa e se reportam diretamente ao conselho de administração.
P/2 – Então, o seu caso é suprimentos, produção e distribuição?
R – O meu caso é a compra, a transformação, que é a produção, a estocagem desses produtos e a entrega dele ao cliente. Essa é um pouco a minha cadeia.
P/2 – Então, quanto à estocagem: não tem uns gargalos? Como é que você calcula o estoque?
R – Quando você fala da complexidade logística dentro do nosso negócio temos essa vantagem competitiva. A gente trabalha muito bem isso. Atendemos um varejo de quase 100 mil clientes e geralmente tudo em 24 horas. A gente compara num dia e no outro dia a gente entrega. Você tem que estar realmente com essa cadeia de abastecimento muito bem estruturada e o estoque mantido no nível de serviço. Tudo é gerenciado através de sistemas computadorizados, softwares que facilitam a manutenção do nível de estoque. Em média são três dias e meio. Tem produtos que são de 20 dias, tem produtos que são de 15. Existe todo um apoio tecnológico para te ajudar a definir como operar. Mas é uma complexidade, sim. Temos de estar preparados para responder ao mercado lembrando que o nosso negócio é extremamente sazonal. No verão ele dá um pico muito grande de venda, porque você tem as festividades de final de ano, e o consumo é maior. A cadeia de suprimentos, principalmente. Ela deve estar bem elencada com o fornecedor em termos de capacidade industrial, e muito bem estruturada em capacidade de estocagem. Tem que ter caminhão na quantidade certa para poder chegar ao cliente. Atuo dentro dessa complexidade toda.
P/1 – Senhor Mario, a gente já está se encaminhando para a fase final da entrevista. Eu gostaria que o senhor falasse um pouco quais são os desafios para Spaipa, pensando no futuro.
R – O desafio para Spaipa é aquilo que a gente pensa e trabalha. Fornecer para os 14 milhões de consumidores e para esses 100 mil clientes um serviço de alta qualidade e que seja o melhor produto do mercado. Por aí que a gente acredita que vamos conquistando cada vez mais espaço nesse mercado de bebidas.
P/1 – Eu queria que o senhor falasse um pouco de qual que é a sua expectativa em relação à parceria com a White Martins.
R – A White Martins é uma empresa empreendedora, bastante inovadora, e a expectativa é que continue muito na linha do foco no cliente. Que é a forma que eu acabei de dizer que a Spaipa também pensa. A qualidade de serviços e de produto tem sido muito boa. A White Martins, ela tem que caminhar muito nessa linha de inovação, foco no cliente, como ela tem feito nas últimas décadas.
P/1 – O senhor diria que qual seria o diferencial da White Martins nesse segmento de gases?
R – Eu acho que é a qualidade do produto. E muito focada no cliente. Eu acho que é um diferencial bastante interessante. Muito preocupada em estar próximo ao cliente, um nível de transparência de informação muito boa.
P/1 – Bem, então, retomando uma pergunta que surgiu, novamente com a questão de estocagem, mas mais especificamente no que diz respeito ao gás que se utiliza. Como se dá essa reposição do gás que é utilizado no sistema de produção da Spaipa? Queria que o senhor comentasse um pouco.
R – Um dos pontos que já foi dito é o nível de serviço do fornecedor, que a gente preza por isso. A White Martins instala tanques dentro da unidade que dependendo do consumo te dá uma capacidade de até uma semana. Toda a logística de reabastecimento desse gás é feita pela própria White que controla o volume do gás e quando está baixando automaticamente vem e repõe. Fator extremamente importante, porque você imagina uma fábrica com uma produção de trezentas mil caixas de refrigerante por dia. Se acontecer uma falha você fica sem condições de produzir refrigerante. Para tudo. Não se faz a carbonatação. A mesma coisa se não tem água. Para tudo, porque você necessita da água para ter o refrigerante. Essa logística é de extrema importância e ela é conduzida pelo próprio fornecedor, no caso a White Martins. O condutor do veículo vem abastecer, conecta, faz todo o processo de recarga desse tanque. O controle se faz sistematicamente à distância.
P/1 – Agora a gente vai para a fase final da entrevista. Queria saber quais são suas principais atividades em horas de lazer?
R – Boa pergunta. Ultimamente as horas de lazer são complicadas (risos). Mas eu tenho um hobby muito interessante. Você sabe que eu gosto muito de curtir a família, então, sempre que possível meu hobby é estar junto com família. Você sabe que os filhos vão crescendo, vai ficando difícil você praticar esse hobby, não é? Mas gosto muito de praticar esporte, gosto de correr. Quando possível gosto de correr na praia, curto, acho que recarrega a energia. Sempre gostei também de uma pescaria, faz tempo que não faço isso, é muito gostoso. Às vezes, jogar um futebol, jogar um tênis e curtir a família. Também gosto muito de viagens, mas não é muito fácil você ficar viajando. Nas viagens de negócio você acaba não aproveitando muito, mas viagem de férias eu gosto muito também, é um hobby que eu gosto muito de praticar.
P/1 – E o senhor disse que é casado e conheceu a sua esposa na cidade de Vera Cruz. Então, fala um pouco do casamento, o senhor tem filhos…
R – … Eu disse para você que tive uma grande sorte na vida. Consegui junto com toda essa história de vida profissional encontrar a minha esposa, que é da mesma cidade, da pequena cidade que eu nasci, e constituímos família. Já temos quase 30 anos casados. É uma excelente pessoa, e graças a Deus, me deu um casal de filhos. A Joana e o Marcelo. Minha esposa é a Júlia. Ela é ótima! Uma família excepcional. É o que motiva a gente a continuar trabalhando e até a praticar os nossos hobbies.
P/2 – Ela trabalha?
R – Trabalhou. Hoje já não trabalha mais. É fisioterapeuta, professora de educação física. Hoje está trabalhando mais para cuidar de casa, dos condomínios, da nossa vida. Já não exerce mais a profissão.
P/1 – E os seus filhos têm que idade?
R – O Marcelo está com 28 e a Joana 23. São ótimos filhos e estão começando a vida profissional, estão na luta. Estão trabalhando. São o orgulho aí da nossa família.
P/1 – Certo.
P/2 – Moram com vocês?
R – Moram conosco, ainda (risos).
P/1 – O senhor cogitou voltar a estudar em algum período da sua trajetória profissional?
R – Quando eu me formei, depois de alguns anos fiz pós-graduação em Gestão de Negócios na Universidade Federal do Paraná. Depois de mais três anos me atualizei, fiz outro curso de pós-graduação na Fundação Dom Cabral. Gosto de estudar, sim. Gosto de conhecer coisas novas. Ler, eu gosto de ler. Gostava muito de ler coisas técnicas, hoje comecei a diversificar, partir um pouco para romances, histórias diferentes do mundo técnico.
P/1 – Eu queria que o senhor fizesse um comentário sobre o que achou da proposta de contar um pouco sobre o desenvolvimento industrial e da sua participação e a da Spaipa, nesses 100 anos da White Martins.
R – Muito interessante. Tem que ser muito comemorado esses 100 anos. Uma marca que é muito forte, sem dúvida nenhuma. A história está aí viva, forte, e cheia de energia. Ter a idéia de contar essa história através de um cliente, no caso, eu, tentar criar um trabalho mostrando a contribuição de todos nesse universo brasileiro, o crescimento, os investimentos, a geração de postos de trabalho, os impostos arrecadados. Além disso, mexer um pouco com a emoção, colocando as pessoas no contexto. Acho a idéia muito válida, muito interessante.
P/1 – E como foi a experiência de lembrar e contar a história?
R – Confesso que nunca parei para fazer uma reflexão. Até vocês virem aqui resgatar… Caramba! Eu já trabalhei bastante! Porque a gente contou uma história rápida, mas acho que esqueci alguns detalhes. Penso em outras coisas que aconteceram. Mas lembrar 30 anos em algumas horas é muito difícil. Não sou especialista em contar história, não. Tenho algumas dificuldades, mas gostei. Pelo menos em algum momento foi muito legal relembrar. Me senti descalço, de calção, foi muito gostoso. Achei que foi uma boa viagem.
P/1 – Eu vou só fazer uma última pergunta. Hoje, nessa sua fase da vida, o senhor tem algum sonho?
R – Ah, sempre. Ah, nossa. Planejar a minha vida nunca foi muito um objetivo. Eu nunca planejei. Mas sonhar, eu sonho. Sonho o tempo todo em inovar, criar coisas novas. E acho que tenho uma função também que é sempre fazer o bem para as pessoas. Eu acho isso legal. Nunca tive nenhum interesse em prejudicar esse ou aquele. Tendo oportunidade, e tenho, eu ajudo as pessoas. Devo fazer isso. Meu sonho ainda é contribuir mais para que as pessoas se desenvolvam, e contribuir em algum ponto para melhorar alguma coisa nesse mundo, e na vida das pessoas. Criar um mundo melhor. Não sei como, mas vou chegar lá.
P/1 – Então, é isso, senhor Mario. Muito obrigada aqui pela entrevista, pela participação.
P/2 – Foi um prazer.
R – Não, obrigada vocês. Foi muito bom mesmo.
--- FIM DA ENTREVISTA ---
Dúvidas
Avó
Recolher