P/1 – Bom dia, Liomar. Agradeço a sua disponibilidade a dar a entrevista pelo Instituto Camargo Corrêa e pelo Museu da Pessoa. Então pra começar vou pedir pra você falar o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Meu nome é Liomar Sabino de Souza. Eu nasci em Jaru que é uma cidade aqui a uns 300 quilômetros de Porto Velho, da capital. Eu nasci em 4 de outubro de 1977.
P/1 – Você tem um apelido, né?
R – Isso. Eu tenho um apelido. Liah, porque o meu nome é um nome assim, tanto pra homem como pra mulher, às vezes, confundem, às vezes, as pessoas também chamam Liah, Leonora, Guiomar, Riomar. Então pra ficar mais fácil: Liah.
P/1 – Quem te deu esse apelido?
R – Foram pessoas assim do meio, do trabalho que acharam uma forma mais fácil de chamar o meu nome, aí, me deram esse apelido carinhoso: Liah.
P/1 – Legal. Liah, qual o nome dos seus pais e o que eles faziam ou fazem?
R – Meu pai é José Sabino Neto, minha mãe, Erundina Sabina de Souza. Eles trabalham com produção agrícola.
P/1 – E você cresceu em Jaru? Conta um pouquinho pra gente assim sua infância, como é que...
R – É. Eu nasci em Jaru, né? Meu pai trabalhava com produção de cacau na época e aí até os meus 7 anos eu morei em propriedade rural. Meu pai buscando estudo, a carreira de estudo, aí nós mudamos na cidade.
P/1 – Pra vocês estudarem ou pra ele?
R – Pra nós estudarmos.
P/1 – Pra vocês estudarem.
R – Preocupado já com o ingresso na escola. Aí, fomos pra cidade pra estudar em Ji-Paraná.
P/1 – Em Ji-Paraná?
R – Em Ji-Paraná.
P/1 – E esse período assim que vocês passaram na propriedade agrícola, o que você se recorda das brincadeiras, do trabalho, do cotidiano?
R – Ah, no sítio nós não temos muita opção, porque não tinha escola. Então, a gente teve que sair do sítio pra ir pra cidade pra estudar....
Continuar leituraP/1 – Bom dia, Liomar. Agradeço a sua disponibilidade a dar a entrevista pelo Instituto Camargo Corrêa e pelo Museu da Pessoa. Então pra começar vou pedir pra você falar o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Meu nome é Liomar Sabino de Souza. Eu nasci em Jaru que é uma cidade aqui a uns 300 quilômetros de Porto Velho, da capital. Eu nasci em 4 de outubro de 1977.
P/1 – Você tem um apelido, né?
R – Isso. Eu tenho um apelido. Liah, porque o meu nome é um nome assim, tanto pra homem como pra mulher, às vezes, confundem, às vezes, as pessoas também chamam Liah, Leonora, Guiomar, Riomar. Então pra ficar mais fácil: Liah.
P/1 – Quem te deu esse apelido?
R – Foram pessoas assim do meio, do trabalho que acharam uma forma mais fácil de chamar o meu nome, aí, me deram esse apelido carinhoso: Liah.
P/1 – Legal. Liah, qual o nome dos seus pais e o que eles faziam ou fazem?
R – Meu pai é José Sabino Neto, minha mãe, Erundina Sabina de Souza. Eles trabalham com produção agrícola.
P/1 – E você cresceu em Jaru? Conta um pouquinho pra gente assim sua infância, como é que...
R – É. Eu nasci em Jaru, né? Meu pai trabalhava com produção de cacau na época e aí até os meus 7 anos eu morei em propriedade rural. Meu pai buscando estudo, a carreira de estudo, aí nós mudamos na cidade.
P/1 – Pra vocês estudarem ou pra ele?
R – Pra nós estudarmos.
P/1 – Pra vocês estudarem.
R – Preocupado já com o ingresso na escola. Aí, fomos pra cidade pra estudar em Ji-Paraná.
P/1 – Em Ji-Paraná?
R – Em Ji-Paraná.
P/1 – E esse período assim que vocês passaram na propriedade agrícola, o que você se recorda das brincadeiras, do trabalho, do cotidiano?
R – Ah, no sítio nós não temos muita opção, porque não tinha escola. Então, a gente teve que sair do sítio pra ir pra cidade pra estudar. Naquela época a gente não tinha muita condição financeira, então, minhas bonecas eram bonecas de milho. A gente pegava uma espiga de milho... A gente brincava, na verdade, com os recursos que tinha na propriedade. Mas, apesar das dificuldades... Porque geralmente quem mora em propriedade rural tem um pouco mais de dificuldade, não tem muito acesso como as famílias que moram na cidade. Mesmo assim eu tive uma infância feliz, por ter pai, mãe e irmãs. Cinco irmãs.
P/1 – Cinco irmãs? Fala um pouquinho desse cotidiano assim, dessas meninas todas.
R – Ah, de muita alegria. Apesar das dificuldades, porque morar no campo realmente é um desafio, você vive de uma produção que é uma produção sazonal. Você tem um momento de safra, de entressafra e você convive com isso, tá? Até por isso eu me identifico muito com o projeto que eu gerencio. Porque eu convivi, nasci na realidade das famílias que hoje eu trabalho. São produtores rurais.
P/1 – Como é que é a produção de cacau? Que época, como é que ela se dá?
R – Olha, como eu saí muito cedo de lá, eu não tenho muita experiência, hoje, na área do cacau. Mas tem o período da safra, aí você quebra esse cacau, você coloca pra secar e aí depois você vende para o processamento, né?
P/1 – Liah, esse cotidiano das meninas assim, que horas vocês... Esse período da propriedade ainda, que horas vocês acordavam? Como é que era assim essa dinâmica da casa?
R – Nós acordávamos muito cedo. Quatro horas da manhã todo mundo já acordava. No sítio você tem a marmita que você faz pra levar pra roça, faz o café, leva água e, aí, você aproveita o momento que o sol está menos quente pra fazer o plantio e cuidar da lavoura, depois você retorna, tem o momento de descanso e quando baixa o sol novamente a tarde você retorna para o campo.
P/1 – Você chegava a fazer sesta ou não? Dormir depois do almoço...
R – Não. Porque quando não estava na atividade rural a gente tinha atividade rotina da administração da casa.
P/1 – O que vocês faziam?
R – Lavar roupa, lavar vasilhas, organizar a casa.
P/1 – Essas cinco irmãs, como elas chamam e qual é o seu número assim?
R – Eu sou a última. A caçula. Somos seis irmãs. A irmã mais velha mora em Porto Velho, é mãe de dois filhos. Eu tenho uma irmã que mora em Londres hoje. Tenho outra que mora na Espanha, uma em Cuiabá e uma em Ji-Paraná. E uma em... É. Cuiabá e Ji-Paraná.
P/1 – E seus avós? Você conheceu?
R – Conheci as avós, né? Meus avozinhos faleceram logo quando eu nasci, não cheguei a conhecer.
P/1 – E como que elas chamam? O que você se recorda delas?
R – Eu só tenho uma vó, né? Marcionila, que ela é viva, teve um papel muito importante na minha vida de mãe em face da minha mãe ter um problema de saúde. Então, é uma pessoa muito especial na minha vida. Mora em Jaru. Até hoje ela mora em Jaru.
P/1 – Mora lá.
R – Teve um papel importante na minha formação enquanto pessoa.
P/1 – O que ela falava que você se recorda?
R – Não, ela fez todos os papeis possíveis de mãe, de educar, de ensinar o que é correto, caráter, formação do caráter mesmo de um ser humano.
P/1 – Que legal. E aí, com quantos anos você foi pra Ji-Paraná?
R – Tinha 4 anos.
P/1 – Você tinha 4, e as mais velhas já estavam em idade escolar, né?
R – Isso.
P/1 – E o que você se recorda dessa transição?
R – De prosperidade. Mesmo não tendo essa conscientização de uma criança de 4 anos: “Ah, eu estou em busca...”, mas que haveria um novo. Acho que quando você sai de um lugar em busca de algo melhor você tem uma expectativa do novo.
P/1 – Mas seu pai continuou com a propriedade agrícola?
R – Continuou. Hoje ainda ele mora em Ji-Paraná. Ele mora em uma chácara e tem uma produção de cupuaçu e acerola. Jabuticaba, aliás.
P/1 – Ah, que legal. E em Ji-Paraná, como que a vida se organizou?
R – Bom, eu iniciei a minha vida estudando, né? Estudo até a oitava série, depois me formei em um curso técnico contábil e, aí, já ingressei no ramo profissional. Partindo daí, a vida acadêmica... Conheci o Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas]. Tenho 17 anos de Sebrae, iniciei minha atividade como estagiária e depois consegui uma contratação. Teve um concurso, eu almejava muito trabalhar numa empresa como o Sebrae, que é uma empresa que te dá muita oportunidade de crescimento profissional. Sou apaixonada por essa empresa.
P/1 – Mas assim, o que você lembra – vamos voltar um pouquinho – do seu tempo de escola? Tinha uniforme, tinha algumas professoras que você gostava mais? Como é que era esse tempo de escola?
R – Ah, foi muito bom. Eu tenho boas lembranças, meus professores sempre excelentes. É lógico que a gente sempre tem aquele professor um pouco mais exigente, uns mais toleráveis, né? E eu tenho boas lembranças deles. Eu acho assim que cada vez que você exige, você quer o melhor das pessoas. Então, esses professores que exigiram mais, marcaram mais. Eu tenho uma professora, o nome dela eu me recordo, professora Cenira. Ela sempre exigiu um pouquinho mais, mas tinha uma colônia de férias, tinha que eleger alguém, então, pela minha disciplina, ela sempre me dava oportunidade.
P/1 – Pra você ir pra colônia de férias?
R – Pra eu ir para a colônia de férias.
P/1 – E ela era de alguma disciplina específica?
R – De Português.
P/1 – E você gostava de Português?
R – Gosto de Português.
P/1 – E você lia nesta época? Ela incentivava a leitura? Como é que era?
R – Incentivava, mas devido a formação a gente não tinha muito o hábito da leitura. Eu acho que a leitura... Hoje, eu tenho uma consciência, quando eu tiver os meus filhos já vou orientá-los para leitura. Mas ela incentivava bastante.
P/1 – Tem alguma história pitoresca dessa época de escola? Cabular aula, alguma coisa engraçada que você se recorde, marcante?
R – Eu tive uma infância e uma adolescência tranquila. Sempre procurei ter muita disciplina e não fiz nenhuma extravagância.
P/1 – Liah, você falou que você é espírita, né?
R – Isso.
P/1 – Como que isso veio da sua vida? Seus pais já eram espíritas? Como é que veio a prática?
R – Não. Eu me formei numa religião bastante criteriosa, Adventista do Sétimo Dia. Então assim, muito tradicional, guardar o sábado. Mas eu, enquanto ser humano sempre estive em busca de muitas respostas... Eu frequentei a adventista, a Assembleia de Deus. Eu caminhei por várias religiões. Eu buscava algumas respostas que essas religiões não me trouxeram. E aí, através de uma amiga conheci o espiritismo, que me trouxe as respostas que eu precisava pra sobreviver nesse mundo de tantos desafios. Muitas vezes a gente acha que algo está sendo injusto para nossa vida e, na verdade, são aprendizados. Então a religião espírita, na verdade, me trouxe aprendizados. Saber que eu estou naquele momento porque ali tem um aprendizado e eu preciso fazer desse momento o melhor momento possível.
P/1 – E isso você não encontrava nas outras.
R – Não encontrava. Porque as outras sempre tinham uma doutrina de punição. Você não pode isso, você não pode aquilo, mas não explicava o porquê. Na verdade, o espiritismo é muito mais uma religião de educar. Você pode, mas se você fizer tem uma consequência. Você quer essa consequência? Se você optar por esse outro caminho, você vai ter uma vitória. É melhor. É um caminho melhor.
P/1 – Tem o livre arbítrio, né?
R – Agora, se você for por esse, você pode. Não é que é proibido, mas tem uma consequência. Aí, você vai escolher o melhor caminho ou pagar por aquela consequência.
P/1 – E você frequenta o centro espírita? Tem um trabalho junto?
R – Frequento, mas assim, tem um período...
P/1 – Coordenar tudo é difícil.
R – É. Coordenar... Devido a minha vida profissional eu ainda não consegui ter um trabalho junto ao centro. Na verdade, eu ainda estou num processo de estudo.
P/1 – Ah, tá. Tem bastante estudo, né? Leitura, compreensão...
R – Tem bastante leitura. Evangelho, né? Então tem vários livros básicos que você estuda na doutrina espírita pra você conhecer, verificar se é o que você quer mesmo pra sua vida. Se é essa escolha que você vai fazer, conviver e viver a doutrina espírita, ou se você ainda não está no momento certo.
P/1 – Maravilha. Esse período da aproximação com o espiritismo foi em que época, mais ou menos? Já foi mais adulta?
R – É. Na época mais adulta. Tem pouco tempo. Tem quatro anos que eu estou convivendo com a doutrina espírita.
P/1 – Então, vamos voltar mais um pouquinho. Essa época sua de adolescência, né? Vocês saíam em Ji-Paraná? Saía à noite? As irmãs saíam juntas? Como é que era isso?
R – Sempre juntas, né? Tenho boas recordações, porque como são cinco irmãs, então a gente estava sempre muito unida. As condições também favoreciam que a gente estivesse muito unida. Era um quarto pra seis irmãs, então eram três beliches. Dormiam, né, em beliches. Mas era uma fase muito feliz.
P/1 – Mas assim, vocês saíam, iam a lanchonete? Qual que era assim...
R – Não. Nessa fase nós ainda não tínhamos muito convívio assim...
P/1 – Mais social.
R – Mais social. Na verdade, a gente passou a ter o convívio mais social quando cada uma desvinculou e foi procurar o seu caminho. Então umas optaram por ir pra São Paulo pra buscar outras oportunidades. Uma foi pra Cuiabá, outra foi pra Londres e eu decidi ficar em Rondônia.
P/1 – Por que elas optaram por ir tão longe? Elas tinham sonho de conhecer?
R – É. Eu acho que é muito mais uma expectativa individual delas. Eu sou feliz morando em Rondônia. Eu encontrei as minhas oportunidades em Rondônia. Talvez Rondônia pra elas não fosse a alternativa do que elas buscavam, né?
P/1 – Quais são os nomes delas? A gente fica falando as irmãs, qual é o nome delas?
R – A mais velha, Ivanilda, Iderli, Aseli, Iranilda e Lucimar. Só uns nomes assim bem...
P/1 – Time de vôlei, né? É o time de vôlei.
R – Time de vôlei.
P/1 – Liah, seu primeiro trabalho já foi aqui no Sebrae?
R – Não. Eu na verdade iniciei como babá. Eu era uma criança cuidando de uma criança.
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Doze anos de idade. Trabalhei de babá, depois eu trabalhei de doméstica. Eu fazia algumas faxinas.
P/1 – Por que você começou a trabalhar tão cedo? Como que você arrumou esse trabalho de babá?
R – Quando eu fui pra cidade buscar a alternativa pra estudar... Aliás, meu pai proporcionou isso, tirando a gente da propriedade e levando pra cidade. Ele entendeu que dando o estudo seria o melhor caminho, né? Nós teríamos um melhor futuro. E, aí, ele abriu mão um pouco da vida dele rural e possibilitou que a gente tivesse estudo. A gente foi buscando alternativas.
P/1 – Esse período que você trabalhava como babá, o que você gostava de fazer?
R – Ah, de brincar. Imagina, eu era uma criança praticamente, cuidando de uma criança. Eu brincava com a outra criança menor que eu.
P/1 – Era uma menina ou menino?
R – Era uma menina.
P/1 – Ai que delícia.
R – Hoje já ela está uma moça, eu encontro assim: “Ah, cuidei de você Larissa.” Linda.
P/1 – E você lembra assim do seu primeiro salário o que você fez? Você lembra?
R – Ah, eu sempre ajudava em casa. Então toda a... Como nós saímos da vida rural, sempre quando a gente... As irmãs, a gente contribuía com as despesas da casa.
P/1 – Que legal.
R – E tinha as nossas também, né? As outras despesas. Aí, você já começa moça, você tem as vaidades, começa a comprar suas coisas.
P/1 – Já tem o seu dinheirinho.
R – Isso.
P/1 – O que você queria assim comprar, adquirir na época?
R – Na época? Ah, geralmente a vaidade vai pra roupa. Aí, a menina já fica um pouco mais vaidosa, começam os cremes, as maquiagens.
P/1 – Maravilha. E, aí, você comentou que foi fazer Direito, né?
R – Isso.
P/1 – Você falou que é apaixonada até hoje.
R – Sou apaixonada pelo curso de Direito.
P/1 – O que você gosta do Direito? O que te...
R – Ah, na verdade, eu acredito assim que todas as pessoas deveriam conhecer os seus direitos e suas obrigações. Se nós tivéssemos a compreensão dos nossos direitos e deveres, nós seríamos cidadãos melhores.
P/1 – E você cursou quanto tempo?
R – Dois anos e meio.
P/1 – E nessa época você já trabalhava aqui no Sebrae?
R – Já, trabalhava no Sebrae.
P/1 – Então vamos lá, junto com a faculdade... Como é que começou o processo aqui do Sebrae?
R – Eu iniciei em 1996 como estagiária. O Sebrae em Ji-Paraná ainda era um balcão, não era um escritório. Eu já tinha terminado o curso técnico em Contabilidade e tive a oportunidade de fazer um estágio no Sebrae.
P/1 – Na área de contabilidade?
R – Não. Na área administrativa, né? Porque geralmente os estagiários trabalham em todas as áreas do Sebrae, pra você conhecer o que é o Sebrae, o que o Sebrae pode fazer pelo micro e pequeno empresário. Aí, eu tive essa oportunidade. Desde então me apaixonei por essa empresa e estou há 17 anos.
P/1 – Que ano que era mais ou menos isso?
R – Como?
P/1 – Que ano era quando você começou como estagiária?
R – Era 1996.
P/1 – 1996.
R – Isso.
P/1 – E como que a sua carreira então foi desenvolvendo? Você começou como estagiária lá em Ji-Paraná.
R – Isso. Comecei como estagiária, depois em 1997 fui contratada como assistente. Eu ainda continuo como assistente, mas a gente tem os níveis de carreira. Hoje, eu sou assistente três. Nós temos três níveis, o um, o dois e o três. Sou três, aí, já terminando a faculdade pra me tornar uma analista.
P/1 – Aí você foi fazer Administração?
R – Administração.
P/1 – Como é que veio Administração assim?
R – Devido a atividade, né? O Sebrae exige muito que tenha os conhecimentos, até porque nós trabalhamos a questão da gestão. Então, a Administração te dá muita informação pra você orientar as micro e pequenas empresas, os produtores, que é a área que eu trabalho hoje, em relação aos controles gerenciais e o que você deve fazer de planejamento pra que uma empresa tenha sucesso.
P/1 – E dentro assim do seu trabalho, desde estagiária até hoje, quais foram sendo os desafios assim? O que você foi se responsabilizando, os projetos que você foi tocando?
R – Trabalhar no Sebrae, todos os dias a gente tem um desafio, porque é muito dinâmico. Então hoje... Apesar você ter uma agenda, sempre surgem algumas alternativas, principalmente gerenciar projeto, que você gerencia risco, conflitos, você gerencia tempo. Tem que buscar as parcerias pra que a aula aconteça. Então é muito dinâmico. Então, baseado nesse dinamismo você precisa estar inteirada de todas as situações.
P/1 – Liah, e assim, quando você começou você passou pelas várias áreas e depois você foi aproximando mais dos projetos? Como é que foi isso?
R – Na verdade, eu iniciei num escritório regional. É diferente, você trabalhar num regional pra você trabalhar na sede aqui no Sebrae Rondônia, aqui em Porto Velho. O regional é um escritório onde, ao mesmo tempo em que você atende um telefone, tem um cliente ali aguardando pra você atender. Daqui a pouco você precisa pegar uma pasta, colocar debaixo do braço, sair e visitar as empresas pra vender um treinamento, um curso, fechar uma palestra. Você precisa ir até outro município pra fechar uma parceria com aquele município. Então é muito dinâmico você trabalhar em escritório regional.
P/1 – E atende várias áreas?
R – Atende todas as áreas. Você precisa ter um conhecimento de todas as áreas do Sebrae, quem trabalha no regional. Quando você trabalha aqui na sede, aí, você já tem uma área mais específica. Então, se você é gerente de projeto você vai focar no gerenciamento de projetos. E quando eu cheguei aqui, em 2010, ganhei um grande presente que é gerenciar o Tempo de Empreender.
P/1 – Como é que se deu assim essa vinda pra cá? Você foi promovida? Você queria vir pra Porto Velho? Como é que isso aconteceu?
R – Então, eu já estava há 13 anos em Ji-Paraná. Então, vida de regional não te dá muitas possibilidades de crescimento profissional devido às atividades não serem específicas. Ou seja, você é dinâmica, você tem várias informações, mas você não é específico em um conhecimento. E, aí, chega aquele momento que você precisa fazer escolhas. Então você para: “O que me impede de mudar?”. Foi nesse momento que eu me perguntei o que estava me impedindo de buscar outras oportunidades para o meu crescimento profissional. Aí, foi quando eu solicitei à nossa diretoria a oportunidade de vir trabalhar em Porto Velho. De ter mais oportunidades aqui. Em 2010, aí, houve a minha transferência e chegando aqui eu ganhei a gestão do projeto Tempo de Empreender.
P/1 – Liah, e sair de Ji-Paraná e vir pra Porto Velho? São cidades assim de diferentes tamanhos.
R – Diferentes.
P/1 – Como é que foi morar sozinha?
R – Morar sozinha... Na verdade eu já morava só em Ji-Paraná, né? Porque meu pai morando numa chácara próxima, então pra eu morar em Ji-Paraná eu tive também que optar por já sair da casa dos meus pais e ter a minha independência. Então eu já morava sozinha. Isso não foi diferente em Porto Velho. O que diferencia é que uma vida no interior é uma vida mais tranquila em relação a trânsito, em relação a alguns acessos que você tem em Porto Velho e lá você não tem. Então a vida aqui é muito mais dinâmica. Começando pelo trânsito.
P/1 – O que você mais gosta de Porto Velho?
R – Das oportunidades. Tipo assim, tem uma oportunidade de ir a um shopping, de você ir a um museu, a um teatro. Você tem muito mais oportunidade morando numa capital. O crescimento profissional. Você tem mais oportunidade de ampliar a sua rede de relacionamento. Então isso é mais positivo.
P/1 – Então, quando você chegou aqui veio o Tempo de Empreender. Ele estava começando também?
R – Ainda estava num processo de estudo. Ou seja, em 2009, o Instituto Camargo Corrêa solicitou ao Sebrae que fosse elaborado um termo de referência pra verificar quais eram as potencialidades da agricultura familiar que tinha em torno da construção de Jirau. A partir desse termo foi elaborado um estudo de viabilidade socioeconômica e, aí, identificou que nesse estudo nós tínhamos a possibilidade de trabalhar com produtores de bananas em União Bandeirantes. Porque ali já tinha uma cultura mais avançada na cultura da banana. E, em Abunã, a cultura do abacaxi, ou seja, nós temos o melhor abacaxi do mundo. Saboroso e você vai ter a oportunidade de saborear. Baseado nessas informações... Eram dois grupos já organizados, porém em associação e não cooperativismo, mas nós poderíamos auxiliá-los na formação das cooperativas. Aí, fechamos as parcerias com o Instituto Camargo Corrêa, Camargo Corrêa, o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], o Governo do Estado, Prefeitura, a Eletrobrás, Distribuição Rondônia, Emater [Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural], Prefeitura Municipal de Porto Velho, Sescoop [Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo] que é um...
P/1 – São todos os parceiros...
R – São todos esses parceiros envolvidos nesse processo do desenvolvimento da cadeia produtiva de Rondônia. E, aí, iniciamos o trabalho, a execução do projeto Tempo de Empreender em julho de 2010.
P/1 – Deixa eu te perguntar uma coisa, você falou que já tinha a associação, né?
R – Isso.
P/1 – Da associação pra cooperativa qual que é o diferencial e por que transformar em cooperativa?
R – Na associação tudo que você faz, as comunidades, é em prol do grupo, ou seja, eu tenho ali, eu consigo via a associação um trator pra mecanizar a minha terra.
P/1 – A minha terra, né?
R – Isso.
P/1 – De uma pessoa?
R – De uma pessoa. Então a benfeitoria é ali naquele coletivo. Mas, na associação, o que eu produzir, eu não tenho como comercializar via associação, porque juridicamente a associação não tem essa possibilidade de comercializar. Para isso, eu preciso de uma cooperativa, porque pela cooperativa eu posso emitir uma nota fiscal. Aí, eu vou ter vários cooperados que são vários empresários donos daquela empresa, aí, eu tenho essa possiblidade de acessar mercado.
P/1 – A cooperativa então é vista como uma empresa...
R – Ela é uma empresa coletiva.
P/1 – Os cooperados são os donos.
R – São os donos.
P/1 – E como é que se deu esse processo? Você estava falando que é muito bacana você ver assim a transformação das pessoas, né? Então, você começou a ir a campo? Como é que...
R – É. Iniciando o projeto em 2010... Então, começou todo aquele processo de mobilização, ou seja, preciso apresentar às comunidades quais são as propostas do projeto Tempo de Empreender, ou seja, estou ofertando a esta comunidade um projeto que eles vão receber informação sobre assistência técnica, ou seja, eu vou produzir da melhor forma pra agregar valor ao meu produto. Trabalhamos com ele a consultoria do cooperativismo, a região Norte nós não temos ainda essa cultura do cooperativismo, diferente da região do Sul. Lá não se vive sem cooperativismo e aqui a gente ainda está num processo de trabalhar essa cultura, de dizer pra eles que se eles trabalharem em cooperativismo, eles serão muito mais fortes, muito mais competitivos. Partindo daí, eles tiveram informação sobre colheita, pós-colheita, ou seja, se eu souber plantar, colher, eu tenho como armazenar de forma adequada, eu vou ter possibilidade de ter uma embalagem adequada, uma marca que vai agregar valor. Tudo isso vai proporcionar que eu acesse o mercado pra, de fato, atingir o objetivo do projeto que é geração de renda para essas famílias.
P/1 – Porque antes esses agricultores... a produção ia...
R – Vivia na mão de atravessador. Ou seja, eu tinha todo um investimento para aquela cultura, para o plantio daquela cultura e na hora de ter o lucro, o meu lucro ficava na mão do atravessador. Quando recebia, porque muitos também compravam a produção e não pagavam. Aí, imagina uma família que depende daquela cultura, ele vai sobreviver daquela renda durante um ano e na hora que ela vendeu, ela não recebeu. Ou seja, tem um ano aí sem renda. Como é que eu vou sobreviver sem renda?
P/1 – Liah, essas culturas já existiam aqui? O abacaxi e a banana que é uma banana específica da região, pelo que eu li assim. Banana comprida, né?
R – Banana-comprida que também a gente chama de banana de fritar. Então, hoje, é uma variedade de banana que eles mais produzem. E, aí, com o projeto chegou-se à conclusão de que eles precisavam cultivar outras variedades de banana. A exemplo da banana prata que vem de Minas Gerais, ou seja, por semana chegam quatro carretas aqui de banana de Minas Gerais.
P/1 – Super cara também.
R – Ou seja, o que o estado poderia estar produzindo, eu estou buscando de fora. Então, eles tiveram essa consciência de que eles precisavam cultivar outras variedades. Banana prata, banana nanicão e outras variedades que o mercado, que o estudo de mercado apontou.
P/1 – Apontou. E agora é produzido, fica aqui, é consumido aqui?
R – É consumido em Porto Velho.
P/1 – Que legal. E assim, do ponto de vista dos cooperados, como é que foi esse processo de empoderamento que você estava falando?
R – Então, é muito gratificante. Eu me identifico com eles por ter vindo também da atividade rural. E é muito interessante trabalhar com essas famílias porque é um projeto de inclusão social. Você vê um produtor que ele não sorria, ele sorria de lado porque ele não tinha todos os dentes. De repente, o projeto mudou a vida dessa pessoa. Ele passou a ter a renda, passou a ter o conhecimento, fazer seus controles gerenciais e ele viu que se ele fizer o controle gerencial, produzir da forma correta, ele vai ter uma renda, vai sobrar um dinheiro a mais. Com esse dinheiro ele arrumou, ele colocou os dentes, então hoje ele já sorri alegre, de uma forma mais espontânea que ficava muitas vezes travado pela sua autoestima. E também comprou uma moto, uma pessoa que andava 40 quilômetros da sua propriedade pra ir a uma reunião do projeto...
P/1 – A pé?
R – De bicicleta.
P/1 – Bicicleta?
R – Bicicleta. E agora ele tem a moto dele. Ele era conhecido como Baiano do Facão, porque ele roçava com o facão. Hoje, ele tem uma roçadeira elétrica. Então, tudo isso faz a diferença na vida dessas pessoas. E é um projeto como Tempo de Empreender que empodera essas comunidades, que trabalha a autoestima das pessoas, que traz o processo inclusivo dessas pessoas na sociedade.
P/1 – Você estava falando de uma senhora, das pessoas que são mais tímidas, passam a participar das reuniões e...
R – Então, no Sebrae nós temos um prêmio. Todos os anos o Sebrae elege, seleciona histórias de mulheres empreendedoras e esse ano eu tive a oportunidade de escrever a história de uma produtora, dona Madalena. Ela buscou através do projeto outras alternativas, ou seja, eu não vou só produzir o abacaxi. Eu tenho a possibilidade de produzir o abacaxi e fazer o doce de abacaxi. Então, hoje, além da produção, de vender o produto in natura, ela desenvolveu uma receita caseira e comercializa o produto também, o doce caseiro que é muito demandado na região.
P/1 – Ah é?
R – Ela vende muito bem esse produto. Conversando com ela sobre a história dela de mulher empreendedora, ela deu o seu depoimento de que o projeto fez com que ela trabalhasse a sua autoestima. Era uma pessoa muito tímida, e hoje ela não tem vergonha de conversar com as pessoas. Então, esse é o processo inclusivo.
P/1 – E ela que desenvolveu a receita?
R – Ela que desenvolveu a receita.
P/1 – Ai que interessante. Vou falar uma coisa assim talvez... Vou perguntar talvez meio espinhosa se você quiser você responde ou não.
R – Certo.
P/1 – Quando começaram as obras das hidrelétricas teve muita resistência de alguns grupos, né? E, por outro lado, os cooperados, esses agricultores estão sendo favorecidos com a obra. Como é que é essa dinâmica assim de coisas tão antagônicas assim? Como é que você vê isso? Para o bem e para o mal, né?
R – Olha, todo o processo de mudança, ou seja, uma mudança que, de certa forma, tem um impacto ambiental. Mas, nós estamos lidando com empresas sérias como a Camargo Corrêa. Foi feito todo um estudo, ou seja, eu vou construir um empreendimento na região que vai, de certa forma, trazer impacto ambiental. Mas a empresa tem uma consciência de tratar esses impactos ambientais. Nós também acompanhamos. As comunidades convivem com o Grupo Camargo Corrêa e elas conhecem a preocupação socioambiental do Grupo Camargo Corrêa. Então, isso é muito transparente com o projeto. A Construtora Camargo Corrêa junto ao Instituto Camargo Corrêa trouxe a noção pra essas comunidades do entorno de que não está aqui só para construir um empreendimento que vai gerar energia para o Brasil...
P/1 – Uma energia que é necessária, né?
R – É. Uma energia limpa que é necessária pra sobrevivência, né? Eu estou aqui também para deixar um legado pra essas comunidades. De que forma a gente vai trabalhar esse legado? Eu vou fazer um projeto, executar um projeto em parceria com o Sebrae para que essas famílias sejam contempladas e sejam incluídas, aí, no processo social. Então, nós estamos trabalhando com um grupo que tem essa preocupação. Eles têm essa consciência. E as famílias que são atendidas pelo projeto Tempo de Empreender compreendem e disseminam essa informação da preocupação social e ambiental do Grupo Camargo Corrêa.
P/1 – Qual é a importância desses parceiros todos que você tinha falado? BNDES, Emater, Sebrae, são todas instituições muito fortes, né? Esse pool de empresas.
R – Então, o projeto tem uma dinâmica que, mediante a execução das ações, é necessário você incluir a parceria. Quando você vai tratar, por exemplo, da instalação de uma câmara fria, é necessário que haja energia de qualidade e bem administrada. Então, pra que eu tenha essa energia de qualidade de uma forma bem gerenciada, administrada, eu preciso de uma subestação. Nesse momento eu devo buscar o parceiro. Então, Eletrobrás Distribuição Rondônia é uma grande parceira. Ou seja, ela poderia sim atender o projeto, mas no tempo dela. Então, conhecendo a necessidade daquela comunidade eles atendem em tempo recorde. É no tempo que a gente precisa pra que as coisas realmente funcionem. Porque o projeto tem o seu marco cronológico. Se eu não tiver, no momento da instalação da câmara fria, se eu não tiver a subestação, eu atraso uma etapa do projeto. Eu preciso fazer a mecanização das propriedades pra orientar os produtores sobre a correção do solo. Se ele tiver um solo de forma corrigida por mecanização, ou seja, com adubação, calcário, eu vou ter uma melhor produtividade, eu vou agregar valor ao meu produto. Então, nesse momento a gente conta com a parceria das empresas, da Prefeitura Municipal de Porto Velho, da Emater que soma com essa parceria da mecanização. Vou trabalhar cooperativismo, então o Sescoop é a empresa, né? A instituição que trabalha o cooperativismo. Então, nesse momento a gente precisa conversar com quem entende do cooperativismo.
P/1 – Eles desenvolvem essa parte do...
R – Isso. É o trabalho, né? A sua missão é trabalhar o cooperativismo e o associativismo junto com a OCB.
P/1 – O que é a OCB?
R – É a Organização das Cooperativas do Brasil.
P/1 – Ah tá.
R – Então o Sescoop junto com a OCB possibilita que esses produtores tenham a formação do cooperativismo, do associativismo.
P/1 – Tinha produtor que não acreditava assim no projeto, era um pouco “ver para crer”, sabe assim?
R – Sempre tem. Porque nós estamos trabalhando com comunidades, famílias em que houve muitas promessas. Então eles pensaram: “É mais um projeto de promessa.” Então, foi um grande desafio pra gestão do projeto, pra equipe, pra linha gerencial do projeto. Nós temos uma atuação desde o Sebrae nacional, que tem uma coordenação nacional e depois a gente tem uma linha gerencial aqui em Porto Velho que tem uma coordenação estadual, regional até chegar a mim que sou a gestora. E, aí, eles: “Ah, é mais um projeto.” E como projeto trouxe assim muitas possibilidades de melhorias da vida dessas pessoas, ou seja, nós vamos orientar vocês a plantarem da forma correta. Nós vamos auxiliá-los na criação de uma marca, da identidade de vocês, tanto da cooperativa como dos seus produtos. O projeto vai contemplar vocês com as caixas adequadas para o transporte das frutas. Vocês serão contemplados com uma câmara fria pra armazenagem correta dessas frutas. Ou seja, quando você se depara com tantas coisas boas pra mudar a vida dessas famílias, eles: “Não. É muita coisa. Será que isso vai acontecer mesmo ou é um sonho? Ou é mais uma promessa?”. Então, eles passaram por esse momento de reflexão. No dia a dia fomos construindo a confiança que é a... Pra gestão de um projeto, a confiança do grupo é o tijolinho da construção, do alicerce dessa construção.
P/1 – Hoje as cooperativas têm mais ou menos quantos membros? Você tem ideia assim?
R – Eu tenho. A União Bandeirantes com uma fundação de 87 cooperados e a... A União Bandeirantes é a Unicoop, a Cooperativa Agrossustentável de União Bandeirantes. Foi fundada com 87 cooperados. Eu tenho também a Coopertap que é a Cooperativa de Produtores Rurais de Taquara, Pau d’Arco, Penha e Abunã. Ela foi fundada com 57 cooperados.
P/1 – São distritos de Porto Velho?
R – São distritos. A produção de abacaxi é no Distrito de Abunã, propriamente ali na Vila da Penha, que é uma vila ali de Abunã. E a União Bandeirantes com a produção de banana.
P/1 – E tudo é decidido por assembleia dentro da cooperativa? Como é que é isso, Liah?
R – Sim. A cooperativa tem um estatuto que tem lá os direitos e obrigações dos cooperados. Através do estatuto você tem toda a participação nessa cooperativa. Ou seja, você vendeu, tem lá a porcentagem que você retém para os custos fixos da cooperativa. Enquanto cooperado qual é a minha obrigação de manter limpa a minha propriedade pra que o meu produto tenha agregação de valor. Então, todo o funcionamento está contemplado nesse estatuto. Eles receberam uma consultoria. Eles têm acompanhamento de uma consultoria de cooperativismo que eles têm as portarias, ou seja, pra eu usar a câmara fria eu tenho as regras, nessa portaria. Pra eu utilizar o caminhão, que eles vão receber agora, que é o marco tão esperado do projeto, ou seja, é o que complementa, é o que vai fechar, aí, de fato...
P/1 – A cadeia produtiva.
R – A cadeia produtiva. O recebimento dos caminhões que está marcado, aí, pra dia 16 de agosto. Toda uma expectativa e felicidade dessas famílias em receber o sistema logístico.
P/1 – Quantos caminhões são?
R – São dois caminhões para cada cooperativa.
P/1 – Nossa.
R – Então nós temos no sistema logístico um caminhão toco, que é um caminhão mais rústico que tira a produção da propriedade até a câmara fria. E nós temos um caminhão truck que faz a retirada da câmara fria até os clientes das cooperativas.
P/1 – Quem são esses clientes hoje? Supermercados...
R – Nós temos hoje a rede Carrefour. Hoje em Porto Velho está instalado o Atacadão. Temos uma rede de Rio Branco, que é o Supermercado Araújo.
P/1 – Mas aqui em Porto Velho?
R – Aqui em Porto Velho. Estamos prospectando uma rede que é o DB Supermercados também, que tem uma extensão em Manaus. Então, por que buscar as redes? Porque através das redes nós vamos ampliar o canal de comercialização. Sem contar que eles têm outros clientes como churrascarias, bancas de frutas. E na medida em que aumenta a produção, o Sebrae, através da consultoria de acesso ao mercado, os auxilia na contemplação de novos clientes.
P/1 – Tá. Tem algum efeito dominó assim? Você falou da parte pessoal, adquiriu uma moto, desenvolveu uma autoconfiança tudo e assim... Essas ações todas em termos de cooperativa, você percebe se existe alguma coisa assim nesses distritos, nas propriedades, nas escolas? Assim, você tem algum efeito dominó assim? De melhoria, de...
R – Tem. Tem um impacto. Ou seja, o projeto inclusive tem uma filosofia, nós temos as famílias atendidas diretamente que são os cooperados da Unicoop e da Coopertap inscritos no projeto Tempo de Empreender. Em União Bandeirante, o Tempo de Empreender Bananicultor e em Abunã, o Tempo de Empreender Abacaxicultor. Então, diretamente nós temos essas famílias que o projeto atende. Mas nós temos as famílias que são atendidas indiretamente, ou seja, se você não é cooperada, se você não está inscrita no projeto, mas vai ter um dia de campo, você pode participar. Nós chamamos você de um cliente em lista de espera. Você pode se preparar, receber toda a capacitação. A partir do momento em que você tem interesse, você está apto a ser um cooperado, porque você também está recebendo conhecimento. Além disso, tem melhorado também as parcerias. Nós temos já uma parceria com a distribuidora... Aí, veio trabalhar a Distribuição Rondônia que está implantando um telecentro em União Bandeirantes em parceria com o projeto. Não só para o envolvimento, o processo inclusivo digital, né, das famílias atendidas pelo projeto, mas da comunidade de União Bandeirantes. Então o projeto tem esse impacto também, ou seja, eu estou construindo...
P/1 – Vai atender os estudantes...
R – É. Vai atender os estudantes. Inclusive, ele está sendo instalado em uma escola estadual.
P/1 – O telecentro?
R – O telecentro. Na Escola Três de Dezembro lá em União Bandeirantes.
P/1 – Falando desse lado digital, os cooperados recebem essa, vamos dizer assim, esse mundo digital como uma ferramenta?
R – Recebem. E eles já reconhecem que precisam se capacitar pra que sejam empresas com gestão profissional. Também, a partir do próximo mês, os diretores das cooperativas vão receber, através do projeto, uma capacitação do pacote Office aí, Windows, Excel, principalmente porque eles já estão convivendo com as planilhas necessárias para os controles gerenciais.
P/1 – É tudo um aprendizado, né?
R – Isso. E o projeto também proporcionou a eles receberem todos os móveis e equipamentos pra que eles tivessem um escritório. Então, eles já receberam pelo projeto e agora eles veem a necessidade... Ou seja, eu tenho um computador, eu preciso usar da melhor forma. Eles irão receber essas capacitações.
P/1 – Quando eu te falo assim os cooperados, qual que é... Lá em Minas Gerais, a gente via assim que tinha a turma mais jovem, os filhos dos cooperados com uma visão nova e a gente via que tinha os pais, que são mais racionais, mas que aderiram as cooperativas, né? Como é que é aqui a faixa etária? Como é que é o perfil desses cooperados?
R – Então, nós temos até um ponto de atenção no projeto que nós chamamos da emancipação e também da transição. Ou seja, nós estamos com os cooperados na sua faixa etária, aí, de 40 anos. Eu tive um cooperado que aos 70 anos recebeu a sua primeira assistência técnica.
P/1 – Que graça.
R – Através do projeto, aos 70 anos, ele recebeu um técnico na sua propriedade que o orientou da forma correta de se cultivar banana.
P/1 – Por que até então o cultivo era de forma o quê? Tradicional?
R – Empírica. Tradicional, ou seja, eu aprendi com o meu avô, com o meu pai, que passou para o meu pai, e aí vem nesse processo de aprendizado, mas de uma forma tradicional. E, através do projeto, eles estão tendo um conhecimento da forma como que o mercado dita as regras, ou seja, eu preciso produzir dessa forma porque é dessa forma que o mercado vai comprar. E, aí, eu preciso mudar alguns hábitos, né? Porque tem a consultoria, tem um estudo apontando a forma que eu devo comercializar e vender, eu não posso mais focar numa forma tradicional. E também informá-los que se eles trabalharem na forma profissional eles terão muito mais geração de renda e de empregos também.
P/1 – E, aí, você estava falando que tem essa geração, esses mais velhos que tiveram as primeiras consultorias e tem um grupo...
R – Isso. E aí agora nós estamos num processo de...
P/1 – Emancipação.
R – Emancipação. E inserindo jovens nesse contexto. Preparando essa juventude toda porque uma hora essa diretoria, aí, dos seus 50 anos, dos seus 40 anos e gente com idade mais que 50 anos, que precisam passar o bastão para o seu filho. Eu preciso preparar essa geração, que é uma geração que hoje já tem muito mais conhecimento, mais acesso à tecnologia, mas que eles precisam também ser trabalhados na questão da maturidade. Eu preciso acompanhar, respeitar esses sócios, esses cooperados fundadores, trabalhar com o conhecimento que essas pessoas tinham já, ou seja, da forma tradicional que através do projeto foi se profissionalizando, mas respeitando essa hierarquia. Então, a gente tem esse cuidado na transformação, ou seja, na emancipação e nessa transição do conhecimento.
P/1 – E são jovens que querem ficar com as lavouras ou eles desejam outras coisas? O que você percebe?
R – São jovens que... Nós temos o depoimento de uma jovem, da Sabrina, que ela diz: “Eu quero estar ao lado da minha família.” Aconteceu comigo também. Eu saí de perto dos meus pais porque eu tive que buscar outras alternativas que não tinham no campo. E o projeto está mostrando que se você proporcionar ao jovem as possiblidades no campo, ele quer estar perto da sua família. Ou seja, ele pode até sair pra sua formação acadêmica, “vou buscar um conhecimento, mas eu volto pra trazer esse conhecimento para a comunidade a qual é a minha identidade”. Então, esse também é um processo do projeto. Fixação do jovem no campo. Nem sempre na cidade essas pessoas têm a oportunidade e, muitas vezes, saem do contexto, do seu convívio ali da sua família e se envolvem em outras questões sociais que impactam, aí, na nossa sociedade.
P/1 – Deixa-me te perguntar uma coisa, das coisas que eu já li, Rondônia... Vem muita gente do Paraná pra cá, né?
R – Sim.
P/1 – Tem uma época acho que do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] que...
R – Começaram a demarcar as terras e dar mais oportunidade pra que essas pessoas...
P/1 – É esse perfil, não?
R – É esse perfil.
P/1 – Tem muita gente do Paraná aqui?
R – Tem. De vários estados. Rondônia inclusive...
P/1 – É cosmopolita. Tem do Brasil todo.
R – É. É do Brasil todo. Então, tem muitas pessoas que tiveram a oportunidade de ter uma propriedade em Rondônia e vieram em busca dessa oportunidade. É um dos grandes desafios também gerenciar a questão dos títulos dessas terras. Nós temos esse desafio a nível Brasil. Ou seja, em algum momento do projeto nós ficamos um ano sem avançar o marco cronológico do projeto porque a área em que será construído o galpão industrial precisava de um licenciamento ambiental. O licenciamento ambiental no Brasil é uma atividade que a gente demora um ano pra receber uma licença. Ou seja, eu estou com uma etapa do projeto atrasada um ano, porque só agora nós recebemos o licenciamento ambiental.
P/1 – Mas tem essa coisa das terras...
R – E tem essas coisas dos títulos.
P/1 – Dos títulos.
R – Porque se você não estiver com a sua terra regular, eu não tenho acesso ao licenciamento. Uma coisa amarra a outra.
P/1 – Entendi.
R – Então, chega algum momento em que você trava um pouco a execução, o marco cronológico do projeto, porque precisa que uma situação seja resolvida pra você avançar a outra.
P/1 – E você tem essa percepção assim, são pessoas que veem de culturas diferentes? Dá pra perceber isso?
R – Dá pra perceber. Inclusive se tratando de cooperativismo isso facilita, porque essas pessoas que vêm da região Sul que já têm um convívio. Elas são pessoas enriquecem o grupo, porque elas já conhecem a forma... Que se você viver no coletivo você tem muitas possiblidades, você tem outras alternativas do que você se viver no individual. Então, na verdade essas famílias fortalecem o grupo.
P/1 – Nesse processo todo, o que o Instituto Camargo Corrêa propiciou assim? Foi aproximação desses atores sociais todos?
R – Sim. Principalmente o Instituto proporciona ao Sebrae atuar em ações que o Sebrae por sua caracterização, por sua missão, a gestão em si dos recursos públicos, nós não teríamos como proporcionar. Por exemplo, com os recursos que são gerenciados pelo Sebrae eu não poderia comprar uma câmara fria, porque não é uma atividade do Sebrae.
P/1 – Do Sebrae, né?
R – E os recursos repassados pelo Instituto Camargo Correa possibilitaram que a gente completasse um elo da cadeia. Nós podemos atuar nas consultorias. Consultoria, gestão da propriedade, do proprietário, da produção. Então, é o foco do Sebrae: trabalhar a gestão. Nós existimos pra trabalhar a gestão das micro e pequenas empresas da empresa rural. Mas a partir do momento que eu preciso avançar um elo da cadeia que seja com investimento em equipamentos, eu não teria essa possibilidade. É onde entra o parceiro como o Instituto Camargo Corrêa que soma esse elo da cadeia.
P/1 – Que, aí, também viabiliza com BNDES.
R – Viabiliza via BNDES. Nessa fase dois do projeto, a implantação do sistema logístico está contemplando Instituto Camargo Corrêa e BNDES.
P/1 – Liah, e como é que foi, assim... Eu vi muito em Minas Gerais, a questão de ter um CNPJ [Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica], não perder uma oportunidade. Como é que foi isso para os agricultores? Eu vi muito depoimento assim: “A gente não podia perder essa oportunidade mesmo desconfiando!”
R – É porque a partir do momento que as instituições que poderiam comprar essa produção, eles identificam que você é uma comunidade organizada. E, aí, organizada pelo CNPJ, você tem uma identidade jurídica e você está em dia com a sua atividade jurídica. Isso te abre muitas portas. Hoje, a Coopertap fornece mil abacaxis por semana pra rede Carrefour, que é o Atacadão, aqui em Rondônia porque ela tem o CNPJ, porque as suas certidões negativas estão todas em dia. Então, a identidade desse grupo é o CNPJ. Então, se viver na informalidade, você não tem as alternativas de uma formalização.
P/1 – Aí você fica sujeito ao atravessador.
R – Aí fica sujeito ao atravessador, porque nem sempre o atravessador vai retornar o que ele comprou.
P/1 – Quais objetivos já foram atingidos e qual é o futuro daqui pra frente, depois de sexta-feira?
R – Então, os objetivos... Atingir a primeira fase do projeto, que contemplou, aí, toda a parte da gestão da produção, da propriedade, gestão dos proprietários, o investimento em câmaras frias pra armazenagem, trabalho de marcas, embalagem adequada. E, aí, essa conquista possibilitou ao Sebrae, Instituto Camargo Corrêa, BNDES contemplar a segunda fase, né? Nessa segunda fase, nós vamos trabalhar a implantação do sistema logístico, ou seja, a compra dos caminhões que eles receberão agora no evento do dia 16, a construção de um galpão industrial, que daí você vai dar a identidade da cooperativa. Ela vai ter lá o seu escritório no terreno que foi doado para a cooperativa.
P/1 – Vai ser construído?
R – Vai ser construído. O escritório, a cozinha para o processamento mínimo das frutas... É uma estrutura em que eles não vão só comercializar banana, só processar banana. O que essa comunidade produzir, eles estão prontos pra vender, pra comercializar, pra processar. E tudo isso tem atingido o objetivo do projeto que é a geração de emprego e renda dessas famílias. Temos, aí, as pesquisas de mensuração dessa execução do projeto. Eles já tiveram mais de 200% de aumento na sua renda, só trabalhando a questão de agregação de valor ao seu produto. Isso nós estamos falando de uma fase da venda in natura, que daí vai ser medida agora num processamento mínimo através da construção do galpão industrial.
P/1 – Processamento mínimo é o quê?
R – O processamento mínimo. Porque nós precisamos ter uma cautela, uma atenção de transitar o conhecimento. Ou seja, tem uma produção, pra que seja feita a venda in natura, tem uma perda de 30%, segundo os estudos, que a gente deixa de vender in natura, porque, às vezes, tem lá um queimadinho do sol, uma pintinha... Mas se você descascar a banana ali, ela está pronta pra um processamento, esse fruto vem pra cozinha industrial. Aí, na cozinha industrial eu vou poder, mediante ao estudo que já está sendo elaborado, dizer o que eu vou fazer com esse produto. Eu vou fazer uma geleia, um doce de banana, uma bala de banana ou fazer a polpa do abacaxi ou eu vou...
P/1 – Isso daí é o processo que ainda vai vir?
R – Ou eu vou processar o abacaxi já pra oferecer para o cliente ele prontinho pra consumo. Então é toda essa transição, ou seja, a fase dois requer muito ponto de atenção em gestão.
P/1 – Esse processo ainda vai ser implantado?
R – Já está sendo implantado.
P/1 – Está sendo implantada a cozinha industrial pra esse processamento.
R – Isso. Já esse ano inicia a construção com todas as licenças que eles vão precisar pra comercialização mediante a legislação da vigilância sanitária. Então, a construção vai estar padronizada às questões da vigilância sanitária. Eles terão as licenças de comercialização, seja municipal, seja federal. Então já é um trabalho que já está sendo construído.
P/1 – E próximos passos assim? Ao finalizar a cozinha industrial, implantar esse processo assim qual que é o...
R – É profissionalização da gestão das duas cooperativas. É o processo em que...
P/1 – A parte administrativa?
R – É o processo em que os parceiros irão emancipar essas comunidades pra elas andarem... Não que a gente vá sair de cena.
P/1 – Abandonar.
R – Nós não vamos sair de cena, mas nós precisamos emancipá-los para que eles estejam prontos por mercado. Ou seja, não somos parceiros mais, mas agora a gente tem condição de andar por conta. Esse é o processo. Ou seja, fase dois, gestão, gestão, gestão.
P/1 – Isso vai até quando assim?
R – Vai até dezembro de 2014 a fase.
P/1 – Como que você acha que eles vão receber? Eles sabem disso já?
R – Eles sabem. Sabem e muitos ainda ficam assim...
P/1 – Você não vai mais vir aqui, né?
R – Já tem alguns sofrendo antes do tempo. Tipo: “Liah, você vai ficar com a gente até o final?” Eles são muito queridos.
P/1 – É. Liah, o evento que vai acontecer sexta-feira, né? Qual é a importância assim para o Sebrae, pra você, pra eles?
R – Pra mim, enquanto técnica do Sebrae, 17 anos de casa, é um marco de gerenciamento de projeto no sistema Sebrae. É um projeto que cumpriu todos os elos que uma cadeia produtiva requer. Ou seja, eu cumpri o elo da produção, eu estou cumprindo o elo de gestão, o elo de acesso ao mercado. E pra que tudo isso aconteça de forma profissional o sistema logístico é fundamental. Porque se eu trabalhar todas as etapas de produção, de gestão, se eu não tiver como escoar essa produção, essas etapas todas ficam prejudicadas. Então, eles têm a compreensão disso. Eles estão numa grande expectativa pra receber esses caminhões porque eles sabem que a partir do recebimento do sistema logístico o cenário vai mudar para aquelas famílias. Ou seja, o que ainda estava sendo vendido via atravessador... Eles terão uma estrutura até pra escoar outras produções de uma forma legal, de uma forma ética e de uma gestão profissional. Então, esse é o marco dos meus 17 anos de Sebrae, de um projeto que cumpre e está cumprindo todos os elos de uma cadeia. E exatamente por ter parceiros como Instituto Camargo Corrêa, o BNDES, a Camargo Corrêa, o Governo do Estado que na hora de transportar um calcário foi o grande parceiro aí com os bitrens transportando esses calcários. A Prefeitura Municipal, o Eletrobrás, Emater e Sescoop. São gestores de extrema importância no elo dessa cadeia produtiva.
P/1 – Você fala em transportar calcário pras plantações, pra tratamento da terra?
R – Isso. Tem uma mina de calcário em Espigão d’Oeste, que fica quase 500 quilômetros aqui de Porto Velho, e o transporte desse calcário foi feito em parceria com o governo do estado. Ou seja, os bitrens, nós tivemos a parceria de duas carretas, aí, que elas faziam a retirada desse calcário e levavam até as regiões.
P/1 – O que é o bitrem? Pra gente que é de São Paulo.
R – É uma carreta...
P/1 – Enorme?
R – É.
P/1 – Mas ela é conjugada ou não?
R – Ela é conjugada. A conjugação é chamada bitrem.
P/1 – Quais foram os seus aprendizados com esse projeto, pessoais? O que você acha que mudou assim no seu modo de ver, de trabalhar?
R – Ah, o meu aprendizado é que fazer gestão requer muita responsabilidade, principalmente de dois projetos desafiantes como Tempo de Empreender bananicultor e o abacaxicultor. Então, requer muito conhecimento, buscar sempre informações, ter as parcerias necessárias pra fazer o gerenciamento. A equipe, porque nós no Sebrae, não é a Liah que faz gestão do projeto, eu tenho todas as equipes, nós temos todas as unidades que fazem com que eu consiga fazer a gestão dos projetos. Ou seja, na abertura de um processo pra uma contratação, ou seja, na hora de contratar um consultor, transportar o caminhão, conduzir o caminhão até a comunidade que vai ser doada. A diferença é o trabalho em equipe, é o técnico que está lá no campo da Emater que faz o trabalho diariamente com esses produtores. Eu digo que são os meus olhos da gestão no campo. Então eu tenho a parceria desses dois técnicos, em União Bandeirantes...
P/1 – Quem que são?
R – Em União Bandeirantes, tem o Diomar, que você vai conhecer e ter a oportunidade de ver que ele também é um apaixonado pelo projeto. E em Abunã, o senhor Cícero. Nós temos dois técnicos, um em cada região que é a extensão da gestão do projeto no campo. Isso é muito gratificante. Trabalhar com um projeto que contempla todos os elos e esses parceiros totalmente comprometidos com o resultado. A comunidade empoderada e também assim, muito confiante das mudanças que já vieram e que vão vir.
P/1 – Cada vez mais, né?
R – Pra essas famílias que acreditaram na oportunidade.
P/1 – E a equipe aqui do Sebrae? Você falou assim que tem esse respaldo das áreas, mas como que elas se envolvem no processo?
R – São todos comprometidos. Eles sabem da complexidade de fazer gestão. Hoje o Tempo de Empreender são os dois maiores projetos aqui dentro do Sebrae. É um projeto dinâmico, muito dinâmico, desafiante e todos estão envolvidos com o resultado. Todos. Eu posso dizer que desde a portaria, do faxineiro, todos envolvidos.
P/1 – Torcendo, né?
R – Todos torcendo.
P/1 – Maravilha. Liah, assim pessoalmente, voltando pra um lado pessoal, você está cursando Administração...
R – Isso. Formando esse ano.
P/1 – Como é que você consegue conciliar tudo isso? Vida pessoal, estudos...
R – Tem sido desafiante. Inclusive assim, conversava com os meus colegas e fizemos projetos ao longo desses três anos de execução do Tempo de Empreender. Meu projeto está sendo concluído agora, terminar a faculdade e é dinâmico. Ao mesmo tempo, tem vezes que a gente tem que viajar e precisa se ausentar na universidade. É bem dinâmico.
P/1 – Tem o respaldo dos colegas...
R – Tem os respaldos, colegas de sala ajudam, compreendem: “Vamos lá, tem a matéria aqui eu vou te repassar.”
P/1 – E seu pai assim como agricultor, como que ele vê essa sua atual opção assim?
R – Ele fica orgulhoso. Eu sempre compartilho com ele. Quando eu vou a Ji-Paraná, sempre uma vez por mês eu vou a Ji-Paraná e a gente conversa e ele fica muito feliz de saber que eu correspondi a uma educação a qual ele me passou, de ética, de compromisso com a vida profissional, com a vida pessoal. E é um grande parceiro. Meus pais são os meus parceiros nesse processo.
P/1 – E daqui pra frente quais são os seus sonhos? O que você quer realizar depois de acabar a faculdade?
R – Depois de acabar a faculdade eu pretendo fazer uma pós em gestão de projetos, porque me apaixonei por projeto. Não sei mais viver sem fazer gestão de projetos. Então o próximo passo é uma pós em gestão de projetos.
P/1 – Você fez algum curso específico de gestão assim?
R – O Sebrae... Fiz. Não como uma pós, mas o Sebrae possibilitou...
P/1 – Você recebia as suas ferramentas do Sebrae.
R – É. Sempre. O Sebrae investe muito na formação profissional. Então, se você tem uma dificuldade em alguma atuação, nós temos aqui uma unidade de qualidade de equipe, eu posso requisitar a essa unidade que eu... Nós temos também um processo de avaliação, então, no que realmente tem deficiência, é trabalhado.
P/1 – Ah tá.
R – Nós temos aqui um plano de carreira, cargos e salário, onde você pode caminhar aí de acordo com a sua expectativa de crescimento profissional. E trabalhar no Sebrae é apaixonante por isso. Porque você tem as oportunidades e as possibilidades de crescimento profissional.
P/1 – Liah, pra gente acabar, você acha que ficou faltando falar de alguma coisa que eu não perguntei?
R – Eu acredito que a gente contemplou todos os elos.
P/1 – Então assim, agora dessa experiência de olhar sua história, sua trajetória, contar, não é uma entrevista assim, ela é mais de profundidade, né?
R – Nunca tinha passado por essa experiência.
P/1 – Como é que você viu esse processo assim de olhar um pouco para o seu passado, pra sua história e até hoje?
R – Eu achei bem rico, né? Porque nós caminhamos, percorremos todos os caminhos os quais me fizeram chegar à gestão do projeto. Eu acho que essa identidade com a gestão de projeto está na origem da minha formação educacional, da minha infância, da minha identidade com o produtor rural. Então, esse é o diferencial da gestão, que se eu não tivesse nascido nesse contexto eu teria mais dificuldades de atuar dentro de um contexto tão dinâmico que é a cultura regional de todas essas comunidades. Então achei muito interessante. Gostei muito.
P/1 – Tá joia, Liah. Então em nome do Instituto Camargo Corrêa e do museu eu agradeço.
R – Eu que agradeço também pela oportunidade. E agradecer ao Instituto por essa entrevista, pelo cuidado, pelo zelo dele em estar fazendo todo esse documentário, não só do projeto em si, mas assim, o que a gente conversou hoje, né? Quais foram as etapas, porque eu estou na gestão, os parceiros. Eu sou assim, muito grata pela oportunidade que eu tive tanto da nossa diretoria aqui, de ter me escolhido como gestora desses projetos e o Instituto Camargo Corrêa pela credibilidade de me confiar a gestão desses projetos. Porque mesmo que eu estivesse aqui no Sebrae e não tivesse credibilidade com o Instituto, ele poderia interferir. Eu fico feliz com esse zelo.
P/1 – Tá joia então. Obrigada.
R – Obrigada.
Recolher