Tenho certeza absoluta que o ideal de todos os pais será em acertar na educação dos filhos; por mais desligado que seja, por mais compromissos que possa desenvolver, a preocupação principal vai ser a felicidade dos filhos. Muitas vezes os pais desdobram-se em atividades com o intuito de suprir ...Continuar leitura
Tenho certeza absoluta que o ideal de todos os pais será em acertar na educação dos filhos; por mais desligado que seja, por mais compromissos que possa desenvolver, a preocupação principal vai ser a felicidade dos filhos. Muitas vezes os pais desdobram-se em atividades com o intuito de suprir melhor às necessidades da família.
Eu já contei de minha preocupação desde que minha esposa estava esperando o primeiro filho, procurei me cercar de toda a literatura que consegui, conversava com pessoas mais experientes com o objetivo de conduzir melhor os meus deveres de pai e de cabeça da família. Lembro-me, ainda de um dos livros que comprei: "Dr. Witroke", era um manual de conselhos sobre a saúde do bebê e sobre todo o desenvolvimento da criança. Li vários livros sobre psicologia, cheguei a formar uma pequena biblioteca dos livros da "Agir" que tratavam desse assunto. O meu objetivo era, enfim, acertar. Mas a educação de filhos, como me dizia aquele querido amigo, Sr. Izalino de Oliveira, de saudosa memória, "É pedir a Deus" De fato só Deus poderá nos orientar para que acertemos na maioria das vezes; e eu creio que acertei em muitas coisas e errei em outras; afinal, sou humano, graças a Deus
Dos vários erros que cometi, gostaria de citar apenas três, relacionados com cada um de meus filhos e o farei na ordem inversa, começando do mais novo para o mais velho:
- Minha esposa foi chamada na escola do José Carlos e a professora reclamou que ele a desobedeceu, e quando chamado atenção teria lhe proferido um palavrão. Quando cheguei, fui colocado à par da situação, bati-lhe na boca para que ele nunca mais agisse dessa maneira, quando havia sido ensinado a respeitar as pessoas e obriguei-o a pedir desculpas à professora. Só que diante disso a professora não demonstrou convicção e fiquei na dúvida se por força de expressão, ela não teria inventado a acusação que havia feito a meu filho. Essa dúvida sempre me acompanhou, em razão de o aproveitamento do garoto ter caído e ter sido preciso colocá-lo em uma escola particular para que voltasse a ganhar confiança.
Agindo assim, intempestivamente, provocado por uma ação pouco clara, talvez haja provocado um trauma em meu filho causando-lhe um descontrole emocional. Assim tentando acertar devo ter errado vergonhosamente e me arrependo de tê-lo feito.
- Com minha filha, Maria Teresa, talvez não soubesse captar a sua necessidade de carinho, quando ela, pequenina, achegava-se a mim. Geralmente chegava tarde em casa depois de um dia de trabalho e meus filhos já haviam tomado as refeições, e geralmente encontravam-se brincando na rua (coisa que àquele tempo era possível nesta São Paulo, hoje tenebrosa). Tomava meu banho e aí é que ia jantar; minha filha abandonava o brinquedo que a entretinha com as outras crianças para vir me fazer companhia. Sentava-se à mesa comigo em uma demonstração de carinho e eu impensadamente, em vez de lhe dar carinho, muitas vezes premiava-a com alimento, que talvez ela recebesse como se fosse uma demonstração de carinho que ela necessitasse, acostumando-se a substituir erroneamente carinho por alimento, o que posteriormente talvez tenha lhe provocado um vazio psicológico que lhe acarreta uma compulsão para comer. Não sei se esse meu raciocínio seja correto, mas essa avaliação prende-se à minha própria situação que por sentir falta de carinho acostumei-me a substituí-lo por alimento provocando-me excesso de peso. Na realidade talvez não nos haja faltado carinho e sim o que ocorreu foi um sentimento de falta de carinho. Não importa o quanto recebamos de atenção, importa o que sentimos em um determinado momento. Existem pessoas que não recebem nada e sempre estão satisfeitas, outras recebem tudo e sempre sentem um enorme vazio em suas vidas.
- Com o mais velho, Antônio Paulo, o meu erro maior foi ter permitido que ele saísse de casa. Todos os jovens em sua fase de impor a personalidade sentem-se injustiçados e entram em conflito com a geração dos pais, isso é normal e se soubermos administrar esse período, depois as coisas irão se acomodando e a paz volta, propiciando-nos uma vivência de paz e felicidade, servindo esses acontecimentos para consolidar a estrutura familiar.
A família é um instituição complexa, para iniciá-la juntam-se duas pessoas de personalidades completamente diferentes, oriundas de famílias cujos costumes, geralmente são dissociados, e tem o dever de viver uma vida homogênea, quando são criaturas heterogêneas. Existe uma dificuldade enorme para que as coisas se acomodem mas quando existe amor tudo vai encaixando-se nos devidos lugares e os cônjuges aprendem a respeitarem-se e construir um relacionamento harmonioso. Nesse momento chega um filho, que em princípio é uma alegria sem precedentes, mas que irá aumentar o grau de complexidade do grupo; agora não são mais dois e sim três para requererem a atenção uns dos outros. A evolução não para ai e chegam outros personagens e tudo vai ficando difícil de contornar. Os pais desdobram-se , tentam fazer o melhor que podem para felicidade de todos, porém alguns sentem-se roubados do afeto que julgam terem direito, mais do que os outros membros do grupo.
Meu filho queria sair de casa, para viver a sua vida, fazer coisas que lhe agradassem, seguir uma carreira de acordo com a sua vocação e, principalmente , para não enfrentar conflitos gerados no convívio coletivo.
Se eu houvesse dito não, o assunto estaria encerrado, (inclusive falei isso a ele, certa vez, e ele me disse: se o senhor tivesse feito isso teria me castrado) mas achei que ele teria direito a uma oportunidade e dei todo o apoio para que ele alugasse um apartamento e fosse morar sozinho. Isso, de certa forma foi bastante útil para ele no sentido de realização profissional, construindo a carreira que ele aspirava, embora tivesse de enfrentar muitas dificuldades. O que infelizmente, também, aconteceu é que ele distanciou-se muito de nós e sentimos que isso não lhe trouxe um sentimento de felicidade, nem a nós.
Pena que apenas depois de muitos anos de vivência, adquirimos a capacidade de raciocínio para que possamos tomar decisões mais acertadas, pois se esses acontecimentos ocorressem hoje, com um censo mais apurado talvez pudesse agir de uma maneira mais acertada e que pudesse contribuir para que os envolvidos pudessem sentirem-se amados e amassem, também, participando de um grupo onde uns vivessem pelos outros.
Gostaria que as pessoas pensassem muito nisso, mais vale o equilíbrio emocional dos participantes de um grupo do que a riqueza que possa proporcionar bem estar físico. Ganhemos bens para o conforto da família mas antes conquistemos a saúde emocional que fundamentará um amor verdadeiro e duradouro.
Chega o momento em que o jovem deverá deixar o ninho. Essa hora é só quando for formar a sua família. Ai sim, como vemos a orientação que Deus deu a Abraão: "Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei." Nessa hora o homem deverá juntar-se à sua mulher e transformarem-se em uma só carne e construírem um novo lar para a orientação dos filhos, nos caminhos do Senhor.
(José Wladimir Klein enviou seu depoimento para o Museu da Pessoa em 06 de julho de 1998 pela página na internet, atualizada em 29 de janeiro de 1999.)Recolher