O ano de 1997 quando do início da graduação em história no curso da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória, foi marcante para o primeiro ano daquela turma. Tradicionalmente era realizada pela direção da instituição uma noite de integração em que os variad...Continuar leitura
O ano de 1997 quando do início da graduação em história no curso da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória, foi marcante para o primeiro ano daquela turma. Tradicionalmente era realizada pela direção da instituição uma noite de integração em que os variados cursos apresentavam números musicais, teatrais ou culturais
organizados por salas. Estando entre os alunos que resolveram desempenhar um ato crítico baseado nos abusos policiais na Favela Naval em Diadema/SP sugeri a queima de uma bandeira nacional, no que fui apoiado vivamente por mais dois colegas da turma e que levariam a proposta até o final. Parte da turma discordou e a criação de um ato representativo entre o teatro e a denúncia foi tenso e repleto de situações complicadas. Como exemplo um dos alunos era militar do exército á época e se posicionou vivamente contra esta forma de protesto. Assim formou-se uma ala que defendia a ideia e a ala oposicionista que desejava impedir a peça. Embora o clima de tensão fosse grande parte da turma preparou um texto, crítico de desagravo sobre o fato de sermos patriotas, enquanto eram perpetrados atos de violência policial em nome do Estado de ordem, que seria enunciado após a queima ritual da bandeira.
No dia das apresentações no Cine teatro Luz, já na noite de integração, foi tocada a música "Perfeição" do grupo Legião Urbana enquanto entravam duplas de alunos vestidos com elementos de vestuário militar e espancavam e perseguiam outros alunos vestidos simplesmente como cidadãos comuns, ao final da canção se apagavam a luzes e surgia iluminado pelo facho de luz de um holofote quatro bandeiras do Brasil, apresentadas na ordem: bandeira com o rosto do presidente no lugar do globo estrelado, bandeira com o símbolo da rede globo no lugar do globo estrelado, bandeira cubista com triângulos retângulos e globos em suas cores originais da bandeira mas como um quebra cabeças e por fim uma bandeira do Brasil em sua composição original que era queimada por um maçarico de chamas. Após as exibições todas as bandeiras receberam entusiásticos aplausos até que a última foi incendiada, quando o humor da plateia mudou drasticamente e começaram vaias por parte de boa parte da plateia, e outra metade apoiava e entendia o teor do protesto. Coube a mim proferir o discurso final sob os aplausos e vaias do público. Após o que se conclamava a plateia a entoar o hino nacional, aposto sobre outra bandeira hasteada no palco para este fim, mas o clima de alvoroço com que se solicitou isto levou a um congelamento do público que não sabia como reagir a tal proposta.
O resultado foi que a noite de integração naquele momento, foi interrompida para as declarações do Diretor alegando discordância do ato e enfatizando que aquelas ideias não expressavam a posição da direção, depoimentos das autoridades militares expresso por um capitão da policia militar, (maior patente naquela situação) alegando que apesar do "crime" contra o símbolo nacional que havia sido cometido naquela noite, haveria uma tolerância para que não ocorressem as prisões que se entendiam como necessárias pelos militares presentes no recinto.
Esta pequena história que tenho como memória de minha graduação, me faz pensar hoje, após os vários reclames das ruas, se a mesma peça fosse representada ela seria melhor compreendida. Teríamos efeitos diferentes, pois afinal naquele momento histórico isso contribui sobremaneira para a resolução da direção para o encerramento da atividade de integração, o que de maneira nenhuma foi a intencionalidade daqueles alunos. Mas isso fica para as reflexões do presente...Recolher