P - Elaine, a gente começa sempre perguntando o nome completo, o local e data de nascimento.
R - Eu sou Elaine da Silva Tozzi, eu nasci em Campinas, no interior de São Paulo, em 12 de agosto de 1969.
P - Queria que você contasse a sua atividade atual, que faz você estar aqui hoje. Conta um...Continuar leitura
P - Elaine, a gente começa sempre perguntando o nome completo, o local e data de nascimento.
R - Eu sou Elaine da Silva Tozzi, eu nasci em Campinas, no interior de São Paulo, em 12 de agosto de 1969.
P - Queria que você contasse a sua atividade atual, que faz você estar aqui hoje. Conta um pouco do teu trabalho.
R - Atualmente eu estou coordenadora de Cultura e Cidadania, na Secretaria de Cidadania Cultural, muito recentemente, faz apenas quatro meses que eu assumi esta coordenação. É uma coordenação que tem várias ações, como por exemplo, a Cultura Digital, a Saúde Cidade, Pontinhos de Cultura, o Programa Cultura Viva, dentro da Escola Viva, Agentes de Cultura. Estou esquecendo de alguma? Cultura e Saúde, Economia da Cultura. Eu diria que é uma das coordenações também centrais, que conversa com toda a rede de Pontos de Cultura.
P - Se puder contar um pouquinho mais para a gente entender a ação de vocês no dia a dia, como funciona o trabalho de vocês.
R - O nosso trabalho é articular estas redes. A partir do momento que nós soltamos os editais para apresentação de projetos a gente vai montando as redes. Por exemplo, a rede mais nova é a dos Pontinhos de Cultura, que é uma ação voltada à política de cultura para a infância, para a criança e infância. Assim como as demais, no Cultura e Saúde também, soltamos os editais e estamos articulando esta conversa da saúde com a cultura, da cultura com a saúde. É um trabalho mesmo de articulação de pessoas, de projetos, de encontros, de seminários, de formular estas experiências pensando em tornar isto uma política pública, de fato. Eu gosto de pegar como exemplo o SUS, para tudo isto acontecer. O modelo de gestão do SUS. Em que pese que tenha muita coisa ainda para melhorar no SUS, mas o modelo é muito bacana, onde tem os entes federados: o governo federal, estadual, municipal e a sociedade civil. As ações são assim também. Nós estamos presentes, através do Governo Federal, estamos descentralizando com estados e municípios, e os Pontos que estão sendo reconhecidos neste governo que faz, que fomentem e que é o cerne do Programa Cultura Viva. Essa é a intenção. Junto com esta rede estabelecida, a gente qualificar e melhorar a nossa gestão em rede, “desescondendo” o Brasil cultural a partir destas iniciativas.
P - O teu conhecimento do Programa Cultura Viva é bem anterior aos quatro meses, claro, né? Conta um pouco este processo de você entrar?
R - Embora, como eu disse, estou apenas há quatro meses, mas a minha vivência com o Cultura Viva se deu através do Ponto de Cultura Tainã, eu sou de Campinas, e a Casa de Cultura Tainã é um referencial do Programa. Foi uma das experiências em que, o Célio foi secretário em Campinas e também em São Paulo, e ele pode conceituar este modelo de programa. Então eu venho deste ativismo da Casa de Cultura Tainã, da rede Mocambos. Já passei por vários outros ministérios, como o das Comunicações, na implementação do Programa Gesac, fui uma das primeiras coordenadoras, a gente levou a política de inclusão digital para várias comunidades. E a gente já fazia interface com o Programa Cultura Viva. Depois, caminhando nesta vida de gestora, fui para o Ministério da Saúde, também tinha esta interface. Então a cultura esteve sempre passando pelo meu processo de trabalho, então foi lá que a gente iniciou a Cultura e Saúde. Então, já venho desta intersetorialidade que o Programa Cultura Viva tem. Não só contando a diversidade do programa em si com a imensidão do Brasil, mas a intersetorialidade que se dá com os demais ministérios, com os demais programas de governo. Então eu venho desta vivência anterior.
P - O que o Cultura Viva trouxe, o que mudou na maneira de trabalhar depois que o Cultura Viva entra no cenário?
R - O que o Programa Cultura Viva trouxe de inovador é o reconhecimento do estado destas iniciativas culturais. E o que os Pontos, o que estas experiências culturais trouxeram para o Estado, em especial para a nossa secretaria, do Ministério da Cultura, foi esta nova maneira de articular as políticas públicas. Então isto é o essencial, é a troca, é a gente reconhecer e ir fazendo e aprendendo conjuntamente. Porque tanto nos Pontos de Cultura como na Secretaria, nós somos protagonistas, nós somos gestores. Só muda a esfera, a autonomia, o protagonismo, a prática, é a mesma. É claro que com responsabilidades diferenciadas, mas na essência o conceito é o mesmo. Isto é muito bacana, este encontro do Estado com a sociedade civil, qualificando, diria mais que, reconhecendo toda esta diversidade cultural. E mudando este modelo de gestão. É uma troca mútua.
P - Eu sei que você passa por dez milhões de histórias todos os dias. Se você conseguisse pegar como exemplo uma história que mostre este empoderamento, esta mudança de percepção, só para exemplificar um pouco pra gente. Uma história que você viu, presenciou.
R - Nestas andanças, a gente percebe, poxa, eu corro o risco de ser injusta, porque são tantas as ações e vou pegar um exemplo só... Eu vejo a Ação Griô. Ela é uma ação, não desmerecendo as demais, mas o reconhecimento do saber tradicional, sabe? Da oralidade, como ela é presente e está no nosso cotidiano, isto é fantástico. Então, você encontrar os mestres e mestras e eles tendo este depoimento de falar do reconhecimento: “Nunca imaginei que o Estado fosse reconhecer o nosso trabalho, que a gente pudesse ir para as escolas, pudesse ir para outros encontros compartilhar a nossa tradição”. Isto é muito importante, é muito significativo, alimenta a gente que está no dia a dia tocando esta ação. A outra também é o encontro da Cultura com a Saúde, você identificar estas iniciativas, que existem, e você disponibilizar um prêmio para eles qualificarem esta ação. Você vê de fato um usuário de saúde melhorar sua qualidade de vida porque está encontrando... ser um elemento, uma ferramenta mais para melhorar a sua qualidade de vida nesse encontro com a saúde. Essa é uma outra coisa. Uma outra experiência é na questão indígena, quando a gente trabalha a cultura digital, começa a colocar os índios a apropriar do uso das tecnologias, e esta apropriação ser consciente, e eles... chegar no Estado para controlar, entendeu? Por exemplo, na saúde indígena, quando a gente trabalhou com inclusão digital, na saúde indígena, você vê os índios acessando o site do Governo para ver se a verba pública de saúde chegou na aldeia dele, isso é fantástico Aí ele vai com o gestor municipal e o gestor fala: “Não, isso não chegou aqui”, e ele mostra, sabe? “Está lá, está descentralizada e chegou a coisa”. Isso é muito bacana. Você apropria tecnologicamente, você dá instrumento para a pessoa exercer a sua cidadania. E eles também divulgarem a sua cultura, fazerem as suas reivindicações, as suas produções. Isto é muito bacana.
P - Qual a expectativa de desdobramentos futuros do Cultura Viva para você?
R - Olha, a expectativa é que a gente consiga que o Programa Cultura Viva se consolide como uma política pública de Estado. Independente de qualquer governo que passe isto se consolide. Tem tudo para acontecer porque a gente está envolvendo vários gestores, naquele modelo do SUS e a sociedade civil. Que independente do cenário que venha pela frente, que esta prática, que esta política, siga. É esta a minha expectativa. E agora, com o olhar de gestora, espero que a gente consiga cada vez mais, neste tempo que a gente ainda está nesta condição – já que estamos de passagem nesta gestão e temos que dar o melhor de nós – que a gente qualifique mais este programa, junto com os atores envolvidos, que se melhore a gestão em rede, isso é importante, que a gente trabalhe a transversalidade das ações, dentro das coordenações, dentro da secretaria, dentro do Ministério da Cultura, isto é muito importante. Eu acho que este seminário está um pouco fazendo isto. Na medida em que a gente traz este universo de atores aqui, os Pontos de Cultura, os acadêmicos, os parceiros, para estar fazendo esta discussão, esta troca, este compartilhamento, a gente consegue passos para essa consolidação. Então, assim, é muito bacana isto.
P - Se você pudesse dar um diagnóstico mesmo um pouco mais profundo sobre o que é o Cultura Viva para o Brasil, o que ele vai representar e o que ele já representa.
R - O Cultura Viva para o Brasil eu diria que ele é a cara cultural do Brasil. Ele representa muito: trazer a cultura popular e colocá-la em pauta na esfera nacional, internacional. É mostrar toda esta, mostrar, demonstrar, esta potencialidade, esta diversidade cultural que é este Programa. É um a experiência inédita, acho, inclusive que mundial. Ele quebra com o erudito e o popular no sentido clássico. É o encontro das culturas, é o encontro de quem faz cultura. Este para mim é o sentido do Programa Cultura Viva. Ele é vivo. Ele é feito por pessoas, ele pulsa, ele tem cheiro, tem cor, tem perfume e tem arte.
P - Obrigada, Elaine.Recolher