Projeto Votorantim
Depoimento de Andreia Ferreira de Aguiar
Entrevistada por Márcia Trezza e Tereza Ferreira
Fercal, 12 de junho de 2015
VOF_HV019_Andreia Ferreira de Aguiar
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
P/1 – Andreia, nós vamos começar a entrevista, fala o seu n...Continuar leitura
Projeto Votorantim
Depoimento de Andreia Ferreira de Aguiar
Entrevistada por Márcia Trezza e Tereza Ferreira
Fercal, 12 de junho de 2015
VOF_HV019_Andreia Ferreira de Aguiar
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
P/1 – Andreia, nós vamos começar a entrevista, fala o seu nome completo.
R – Andreia Ferreira de Aguiar, nascida em 30 de abril de 1977.
P/1 – Onde você nasceu?
R – Aqui no Hospital de Sobradinho, próximo a Fercal.
P/1 – Você, quando nasceu, seus pais, o nome deles.
R – O nome do meu pai é Francisco Gerônimo de Aguiar e da minha mãe Francisca Ferreira da Silva. O meu pai é conhecido na região como Chico Ceará, e minha mãe como Dona Chaguinha.
P/1 – Quando nasceu, eles já eram moradores antigos aqui.
R – Sim. Eu lembro, desde 1983, foi quando eu já tinha seis anos, eu comecei a ir pra escola. Na verdade, não era na escola, era numa capela que tinha dentro da comunidade onde morávamos, que era no Queima Lençol, foi a filha de uns moradores que dava aula, começava a lecionar e eu fiz o pré. Lembro que, quando foi pra fazer sete anos, eu fui pra primeira série, e aí os meus pais já moravam nessa comunidade. Minha mãe falou que, porque eles são do Ceará, casaram, vieram pra Brasília, com meu avô, que meu avô morava em Planaltina. Quando ela chegou em Brasília, ela morou em Sobradinho e meu pai depois descobriu que tinha essas empresas aqui, porque ele era servente, não tinha escolaridade nenhuma, foi ajudante na construção de Brasília e logo o rapaz, conversando na obra que tinha essas empresas aqui e que na época era Fercal Velha, que é ali na Fercal Um, mas eu acredito que já era Tocantins. Então quando esse povo morou ali, tinha essa empresa de calcário, que a Fercal tinha essa empresa, Fercal mesmo. Depois o meu pai, terminaram um serviço, que foi empreita que ele pegou, aí ele conheceu a Pedreira Planalto, que ficou no Queima Lençol, foi quando foi trabalhar lá, o dono de lá era o Seu Rafael e o Seu Rafael, ele ofereceu acampamento para os moradores, porque muitos eram de fora, então eles não tinham parentes, não tinham onde morar, então foi criada a Vila da Pedreira Planalto. Na época, eu lembro, assim, umas 30 casas numa rua, onde eu passei toda a minha infância, minha infância muito sofrida, porque o meu pai era servente, minha mãe é lavadora, porém, foi muito feliz, porque meu pai, ele era muito alegre, mesmo com as dificuldades. Ele era aquele pai que não dava presente, a gente só ganhava roupa no final de ano, eu lembro que a minha primeira boneca eu tive com oito anos, foi o Seu Rafael que dava nas cestas de Natal, e os vestidos a gente ganhava, ele costumava dar essa gratificação para os moradores. Meu pai muito querido, muito servidor, então ele tinha, assim, ele conseguia muitas coisas pra nós. Eu lembro na Dona Odília, que é uma senhora que faleceu, sempre mandava coalhada pra gente, que eu sou apaixonada. Então o meu pai foi aquela pessoa que tudo que ele fez foi buscar pra dentro de casa e para os filhos, às vezes não tinha presente, mas ele trazia uma goiaba, ele trazia uma fruta, ele caçava no final de semana, trazia aqueles cachos de coco, quebrava pra nós, descascava cana. Minha mãe já foi mais dura, de cobrar o estudo, de cobrar uma postura, até mesmo pela experiência de vida dela, por não ter estudado. Só que o meu pai tinha um defeito, que ele não queria que a gente estudasse, ele era criado que nós tínhamos que estudar, crescer, casar e moça a partir dos 20 anos não era moça pra casar, já era moça velha. Minha mãe não, minha mãe foi mais dura, então eu estudei mesmo e meus irmãos, que somos nove irmãos, cinco mulheres e quatro homens, eu sou a penúltima das mulheres, que tem uma mais nova do que eu, então nós estudamos, graças a Deus, e pelo esforço da minha mãe, lavando roupa, fazendo faxina.
P/1 – Andreia, seu pai veio do Ceará pra trabalhar na construção de Brasília?
R – Foi. Ele veio na construção de Brasília.
P/1 – Com o seu avô?
R – Com meu vô.
P/1 – Com o pai dele?
R – Não, com o meu vô, sogro, porque o meu pai foi criado sem os pais dele, só com o tio e uma madrasta, uma mulher, que chamava de mãe, e meu vô gostava muito do meu pai por ele ser um homem trabalhador, porque o homem tinha valor, aquele que quebrava o roçado todo na enxada. E aí minha mãe foi e casou com ele, não foi por amor, eu lembro que ela falou que casou porque o meu vô achou que ela já tava na idade de casar e eles casaram e minha mãe casou muito nova, com 13 anos.
P/1 – Sua mãe nasceu onde?
R – No Ceará, em Tianguá também. Meu pai é Frecheirinha, minha mãe é de Tianguá, no Ceará.
P/1 – Então ela veio na mesma ocasião que o seu pai.
R – Veio na mesma época.
P/1 – Já casada.
R – Sim.
P/1 – Seu pai falava alguma coisa, ou fala, da construção de Brasília?
R – Ele fala que quando veio era muito bom, foi quando eles ficavam lá em Brasília, tinha um alojamento. Ele uma vez ele falou que arrependeu de não ter pego, ter ficado com um dos alojamentos, assim, acampamentos. Porque lá em Brasília eles fizeram o acampamento Vila Planalto, né, onde ficaram muitos moradores da época da construção, porque eles viraram posseiros, cediam a área pra eles ficar, tanto lá como no Núcleo Bandeirante. Mas meu pai, por ter sido criado na roça, ele diz que sempre teve medo de cidade e falavam que quando Brasília crescesse ia ficar violenta, ia mudar, ele disse que preferiu procurar o entorno, no caso a Fercal. Poderia ter sido outra cidade satélite mais distante de Brasília, pra criar os filhos, que ele queria mexer com roça. Ele não gostava desse serviço de pedreiro, ele trabalhou por necessidade de sobrevivência, mas ele gostava mesmo de lavoura.
P/1 – Quando ele veio para cá com vocês, ele não foi para o campo, ele acabou indo direto trabalhar na empresa?
R – Sim, nas empresas que contratavam. Meu vô logo veio, porque meu vô era viajante, ele tirava terra, vivia em Brasília, quando ele passou por Brasília, descobriu Planaltina e meu vô comprou um terreno lá. Aí ele vendeu o sítio no Ceará, que o meu vô tinha, que moravam todos juntos, e aí vieram pra Brasília. Minha mãe falou que foi a pior experiência dela, porque eles sofreram muito, porque no Ceará, minha mãe falava que ela trabalhava com balaio, muito nova torrava café, socava arroz, mas eram felizes porque não tinham fome, né? E quando ela veio, sem estrutura, porque minha mãe veio do Ceará com quatro filhos, os quatro mais velho, ela tem aquele apego pelo sofrimento, meu irmão mais velho... Eu tive uma irmã que ficou sem andar, a Marli, ela ficou sem andar por passar fome, né, por não ter uma alimentação boa. Então quando vieram, foram pra casa do meu vô em Planaltina, aí teve um tio da minha mãe que cedeu o espaço pra eles aí no Sobradinho, mas o povo, eles eram muito rudes com eles, mas nem por isso eles fraquejaram. Eu lembro que o meu pai falou que ajudou a construir Brasília e uma das vezes ele saiu de lá, quando tava em Sobradinho trabalhando, ele teve que comer tomate, porque passou no verdureiro e pediu ao moço um tomate pra ele não desmaiar de fome. Muitas vezes guardava a enxada no buraco, porque às vezes o cansaço e o peso da enxada, com a fraqueza, eles disseram que ficaram pouco tempo de sofrimento, mas foi quase um ano de muita dureza.
P/1 – Nessa época que a sua irmã ficou com esse problema?
R – Ficou sem andar por falta de alimentação.
P/1 – Depois ela voltou a andar?
R – Voltou a andar, porque o meu pai, quando ele veio pra Fercal, pra essa justa Vila Planalto, que era a primeira empresa de calcário, aí começou a trabalhar. E a Fercal, ela tem, é assim, ela é muito acolhedora, né?
P/1 – A cidade, né?
R – A cidade Fercal é muito acolhedora e meu pai disse que foi muito bem recebido, já tinha os moradores, aí depois foi trabalhar na Pedreira Planalto em 89.
P/1 – Antes, essa Fercal era aquela empresa Fercal, a primeira?
R – Sim, a primeira Fercal, a de calcário, que é na Fercal Um, que acredito que seja Tocantins hoje.
P/1 – Vamos primeiro falar da Fercal Um, da Fercal antiga, você morou no Queima Lençol?
R – Aí o meu pai pegou, falou que ficou pouco tempo aqui nessa Fercal na Vila Planalto, né, na Fercal Um, ele chamava a Fercal Um de Fercal Velha, foi quando eles foram morar no Queima Lençol, mas aí eu já nasci na comunidade do Queima Lençol.
P/1 – Então vamos falar dessa comunidade um pouquinho.
R – Do Queima Lençol?
P/1 – Por que tem esse nome?
R – Queima Lençol, eles dizem que foi porque na época, né, teve uma peste, uma doença, e que as pessoas arrancavam os coros da pele e pelo fato de transmitir, aí eles queimavam os lençóis, mas só foi uma fase, não foram todas as pessoas. Quando os meus pais chegaram lá, já tinha passado essa epidemia.
P/1 – Quando os seus pais foram morar lá, seu pai trabalhava em qual empresa?
R – Na Pedreira Planalto.
P/1 – Pedreira Planalto hoje ainda existe?
R – Não, aí em 89 ela foi vendida pra Engesp, aí o meu pai até melhorou de cargo, que o antigo dono ajudou ele, ele fez o curso de vigilante. Ele passou a ser vigilante, porque antes ele era servente, né, cuidava das pedras, usava os britadores, era serviço pesado, mas aí depois ele foi vigilante e aposentou como vigilante.
P/1 – Você lembra, Andreia, do seu pai nesse serviço pesado?
R – Lembro, eu lembro sim.
P/1 – O que ele fazia exatamente?
R – Tinha os britadores, porque na época não tinha esse cercamento de segurança, e nós tínhamos o hábito das três horas levar o lanche pra ele, quem levava eram os meus irmãos. A minha mãe sempre foi muito batalhadora, mas pensava grande de formar os filhos, então logo ela fez uma pensão. Tinha a Ciplan, ela vendia almoço e meus irmãos, o Claudemir e o Claudionor, eles iam vender bolo na porta da firma de manhã e à tarde eles iam estudar. Então, assim, sempre tinha lanche, todo dia esse horário, três, quatro horas tinham que levar o lanche para o meu pai, e aí uma das vezes eu fui, que foram poucas as vezes, porque eles não deixavam a gente ir, porque é mulher e eu era muito menina e danada. E aí eu vi, o meu pai trabalhava debaixo de um britador, porque as pedras caíam no britador e não podia cair fora, porque seria prejuízo, então eles tinham que tá limpando aquela área, aí eles faziam tudo, limpava toda área, porque não podia deixar brita.
P/1 – Para devolver?
R – Pro britador. Eles pegavam num carrinho, eu lembro que o britador era um tipo um coador, num barranco, aí o caminhão vinha e jogava as pedras, e aquelas que caíam fora um ou dois pegavam no carrinho, davam a volta, pra depois jogar, pra não perder. E ele também trabalhava com explosivos, que era cavar o chão, colocar os explosivos na terra pra implodir, pra tirar a brita.
P/1 – Esse trabalho era um trabalho seguro?
R – Na época dele eles faziam o que tinha que fazer, não tinha essa preocupação toda de segurança, não. Eles preparavam toda a rocha, eu lembro que quando ia explodir, eles iam fazer as explosões, nós que morávamos na vila, porque quando eu já comecei a estudar, já tinha a escola do Queima Lençol, então a gente tinha que ir pro lugar mais distante, a gente costumava ir pra escola. Toda vez que ia ter explosão eles avisavam, aí a comunidade toda já sabia que naquele horário, sempre costumava avisar na hora do almoço, que sempre os serventes iam almoçar em casa e aí eles avisavam em casa, aí as pessoas já sabiam, trancava as casas e subia para o Colégio do Queima Lençol, se esconder, por causa das explosões, porque às vezes caiu pedra nas casas. Minha mãe mesmo já perdeu uma máquina de costura, que nas explosões a pedra caía, mas nem por isso tinham medo, depois voltava à vida normal.
P/1 – Se estragava alguma coisa na casa, a empresa devolvia?
R – Não, não tinha isso, não, porque nós já sabíamos e morávamos de favor, né, então sabíamos que eles precisavam daquilo ali, nunca fomos indenizados com nada, não.
P/1 – A máquina estragou, não teve de volta?
R – Estragou, a pedra caiu, foi um acidente, pronto, não podia matar gente, não acontecia, então...
P/1 – Vocês moravam de favor em que sentido?
R – Porque como o meu pai trabalhava na empresa, era cedido o barraco, então criou a rua, a vila do Queima Lençol, que chamava Rua de Cima e tem a Rua de Baixo, algumas pessoas até hoje lá, então a gente morava na Rua de Cima, mas foi uma época muito boa.
P/1 – Quando você diz que vocês moravam de favor e que não indenizavam, como é que você hoje vê isso olhando praquela época?
R – Olha, eu vejo que era questão mesmo de sobrevivência para os moradores. Primeiro a empresa tinha interesse, na mão de obra, e os moradores não tinham pra onde ir, então seria um retorno que eles davam pela moradia, né? Apesar que, mesmo morando de favor, quando a empresa foi vendida pra Engesp, a Dona Marilene fez um cadastro e ofereceu pra nós outra área, porque foi uma exigência do Seu Rafael, já que ela comprou, o objetivo dela era aumentar a produção e crescer, então tinha que desocupar aquela vila. Como já tinha, de 86 pra 88, já tinha um bom tempo, que já existia antes, eu lembro da minha época. E aí foi quando eles viram uma área ali no Engenho Velho, que era do Seu Pedro Cego, negociaram e foram algumas famílias na época pra lá. Uma das famílias foi a da minha mãe, então foi um favor muito bom, porque hoje se temos essa casa que é da minha mãe, que sabemos que em Brasília não tem escritura, mas não temos aquele problema de mudar e vir alguém pra tomar. Então foi a Engesp que doou, mudou as famílias e nós ganhamos uma casa, foi de madeira, mas ganhamos.
P/1 – Todas as pessoas que moravam foram transferidas?
R – Foram transferidas.
P/1 – Todas?
R – Principalmente da Rua de Cima, que as meninas falavam que era Rua de Cima, foram mudadas. Umas demoraram mais, tiveram resistência, mas tiveram que ser mudadas por questão de segurança mesmo.
P/1 – Quantas vez, em que períodos, de quanto em quanto tempo explodia a pedreira?
R – Olha, eu lembro que às vezes demorava uma semana, 15 dias, porque era muito manual, era muito bem antigo, os equipamentos. Mas tinha o dia do fogo e eu adorava, porque nós subíamos correndo, felizes, porque menino, eu sempre gostei de festa, acho tudo que é legal, então minha mãe preocupava, as pessoas preocupavam, mas tinha isso. Era festa, que a gente ia subir para o colégio de novo correndo, aí na volta fazia bagunça e aí tudo era motivo de festa.
P/1 – Andreia, você disse que gostava muito dessa época do Queima Lençol, fala o que vocês, crianças, faziam ali.
R – Eu aproveitei muito a minha infância, eu brinquei muito, eu brinquei de boneca até 15 anos, andei de calcinha até 12, apanhei pra ter que colocar roupa, porque veio a mudança no corpo e eu não queria, brinquei muito de cozinhadinho, trabalhei. Com 12 anos eu comecei a ajudar da filha de uma colega minha, porque a gente tem a necessidade das coisas, mas eu brinquei muito. A gente brincava de roda, de derrubar latinha, que era futebol que eu brincava, de queimada, de boneca, eu brinquei bastante, eu brinquei de boneca muito. Fazia muito cozinhadinho, ia na casa dos vizinhos pedir óleo pra acender fogo de mentira, dizendo que era a minha mãe, pra gente acender nosso fogão de lenha, pra gente fazer nosso cozinhadinho, comi muito arroz com gosto de fumaça, mas era feliz, batia muito batizado nas minhas bonecas (riso).
P/1 – Tinha uma boneca especial, Andreia?
R – Tem uma que eu ganhei numa festa que teve da igreja. Nós tínhamos que participar pra uma gincana, eu lembro que nós ganhamos até uma camiseta azul, colônia de férias, e o pessoal da igreja levaram e eu participei de tudo, era aquela Meu Bebê, né, eu tenho uma hoje que eu comprei pra mim, que eu era apaixonada. Eu vi, a minha prima ganhou uma em Planaltina e eu era encantada com aquele Meu Bebê e eu ganhei uma parecida, então eu nunca esqueço e tenho ela até hoje.
P/1 – Você deu nome?
R – Ela era Judite, porque eu dei esse nome eu não sei, mas eu acho bonito esse nome, Judite.
P/1 – Andreia, você passou a infância em Queima Lençol, até que idade?
R – Até 13 anos, foi quando eu já tava terminando a sétima pra oitava série. A gente mudou pro Engenho Velho, mas a gente continuou estudando no Colégio do Queima Lençol. Eu chorei muito, eu sou apaixonada pelo Queima Lençol até hoje, mas logo quando eu terminei a oitava série fui estudar em Sobradinho.
P/1 – Andreia, você disse que começou a trabalhar com 13 anos tomando conta das crianças ou só de uma criança?
R – Só de uma menina, porque a mãe dela foi mãe nova. Na época eu lembro que foi um absurdo a filha de fulana grávida, porque tinha esse povo, lugar pequeno, não tinha essa mente, e os costumes. Ela precisava estudar e à tarde ela me dava uma quantia, mas também seria só pra minha necessidade pessoal, como eu já tava ficando mocinha, comprar meu perfume, meu absorvente, e eu cuidava dessa menina de duas às seis da tarde.
P/1 – Você disse que a sua mãe sempre quis que vocês estudassem, você e todos os seus irmãos?
R – Sim, a gente costuma dizer lá em casa que quem não tem nível superior e não estudou foi por culpa e decisão própria de querer parar de estudar. Minha mãe trabalhou muito fora, fez muita faxina, muita roupa. Eu lembro dela, eu tinha oito, nove anos, eu acordava oito e meia, nove horas da manhã, ela já tava no jirau lavando roupa e eu ajudei ela muito cedo. Eu ajudava ela, porque ela também me dava muita coisa, eu sou muito amiga dela e ela me ajudava muito também.
P/1 – O que é o jirau?
R – Jirau são os tambores que ficam ao lado de água, porque não tem caixa, são quatro madeiras em pé, com o madeirite em cima pra apoiar e esfregar roupa, como se fosse um tanque, mas a gente chamava de jirau.
P/1 – Você diz que chorou muito, mas aí mudou para o Planalto.
R – Mudamos pro Engenho Velho. Aí já tava com 13 anos, ficando mocinha. A vizinha, que trabalhava lá no Plano, chegou um dia e falou assim: “Olha... Nesse período que a gente mudou pro Engenho Velho, que chamavam Dezoito, minha mãe teve que viajar a São Paulo, porque quando eu tinha sete anos, meu irmão mais velho foi pra São Paulo, foi um monte de rapazes e ele ficou lá. Quando foi em 88, minha irmã mais velha foi pra São Paulo, a Marlene, e logo foi o meu irmão Claudionor fazer companhia pra Marlene, porque ela teve problema com o Angenor, coisa de cunhada e aí a minha mãe falou: “Claudionor, você vai pra São Paulo pra fazer companhia pra sua irmã”. E aí depois foi a minha outra irmã, Lucilene, aí ficou em casa eu, a Fátima, mais nova, o Claudemir, meu pai e minha mãe, a minha irmã Marli já era casada, morava aqui próximo, e o Elias também. Quando nós mudamos pro Engenho Velho, no meio de 90, meu irmão, quando era novo aqui na Fercal, jogando bola, ele levou uma bolada no seio e o seio dele ficou grande e passou, não fez tratamento, e em São Paulo ele fez uma cirurgia, só que ele é muito fraco, anêmico, não se cuidou, fez um pré-tratamento, né? E aí eu sei que eu lembro que chegou uma carta e que ela tinha que ir pra São Paulo e minha mãe foi nessa época. A gente não tinha telefone, tinha orelhão na cidade, mas na Fercal não tinha. Aí mãe foi pra São Paulo e justamente nessa época a Dona Avanir, que é a minha vizinha, falou: “Olha, tá tendo cadastro pra Menor Aprendiz lá em Brasília, na Telebrasília” – que hoje é a Oi, “e aí eu queria que você fosse pra fazer o cadastro. Você vai?”, eu falei: “Vou, Dona Avanir”, ia eu e a filha dela, que é minha amiga até hoje, isso foi em 91, 92.
P/1 – Sua mãe estava lá em São Paulo?
R – E minha mãe em São Paulo esse tempo todo, tratando do meu irmão.
P/1 – E seu pai?
R – Meu pai em casa cuidando da gente, nós na vida normal, cozinhava, passava, cuidava de casa, eu já tava moça, já queria namorar, então tinha que ser nos trinques. E quando mãe tava viajando, eu lembro que eu fiz o cadastro e em 92 Dona Avanir falou: “Dri, a Maria José avisou hoje que vocês podem fazer a entrevista”. Eu lembro que o meu pai não quis, que eu fiz o cadastro e fui pra escola, mas aí eu fui. Meu pai não queria que eu trabalhasse, primeiro ele já foi contra que eu fui estudar em Sobradinho, que eu terminei a oitava série aqui na Fercal e fui estudar no ginásio, fazendo o segundo grau técnico em Contabilidade e meu pai não queria.
P/1 – Você ia todo dia e voltava de Sobradinho?
R – Todo dia eu ia de ônibus e voltava, eu e meus amigos, uma época muito boa também, o ônibus, a gente saía 11h20, eu só entrava no colégio uma e meia, então a gente ficava esse período lá na pracinha perto da escola conversando, brincando, e voltar também no mesmo. Eu era muito feliz, porque tinha muita bagunça, muita conversação e aquela coisa de moça, eu muito conversadeira e dançarina, eu adorava. Foi quando Dona Avanir falou e falou que a Maria José mandou eu ir, aí eu fui, né, que eu preenchi a ficha, tinha preenchido quase um ano atrás. Meu pai não queria deixar eu trabalhar, mas eu fui escondido, fui, conversei com a Maria José. Ela falou: “Olha, você foi selecionada, porque você tem boas notas no colégio, então você quer mesmo?”, eu falei: “Quero”. Eu pedi pra dona Avanir, eu falei: “Dona Avanir, me ajuda”, ela falou: “Ajudo”, “Faça de conta que a senhora é minha mãe”, ela falou: “Não posso”. Aí a dona Maria José encaminhou tudo, a documentação e eu fui fazer a primeira entrevista, fiz, fui aprovada, fui selecionada entre todos, ganhei, eram oito vagas, das oito eu fiquei em primeiro lugar, a primeira contratação seria a minha, só que eu não tinha ninguém pra assinar. Quem que ia assinar pra mim? Meu pai não queria porque, se eu fosse trabalhar na cidade, eu ia me prostituir, ia beber, e eu muito danada, que sempre falou assim: “Ah, ela é muito danada, custosa”, aí eu peguei e falei com o meu cunhado, o Haroldo. E o padrinho Haroldo foi e assinou por mim, ele me levou e falou: “Se você quer, você vai, mas você tem que ter juízo”. Eu falei: “Não, padrinho, eu prometo que eu vou ser ajuizada.
P/1 – E seu pai não sabia?
R – Meu pai não sabia, aí logo em seguida, eu lembro que eu comecei a trabalhar em junho de 94 e lá começou meu emprego, foi muito bom.
P/1 – O que você comprou com o seu primeiro salário?
R – Com meu primeiro salário, eu fiz uma compra de comida pra nós e pra minha irmã, biscoito recheado, iogurte, meu desejo era comer rocambole que tinha nas vitrines lá na Oito, eu comi. Aí foi quando eu decidi estudar à noite, porque na época eu ganhava meio salário, que é o vale. Como eu morava na Fercal, eu pegava quatro conduções pra ir pra Asa Norte, que era na W3, eles me davam 88 vales transportes, eu vendia 44, porque na época nós tínhamos participado e foi questionado e conseguimos que aluno da zona rural não pagava passagem, né, então não precisava mais comprar ticket, eu vendia pra lanchar na escola e os tickets que eu ganhava eu dava para o meu pai fazer a despesa. Aí foi quando foi melhorando lá em casa, pudemos comprar um sofá, fui eu que comprei a primeira parabólica lá da rua, dei pra minha mãe; comprei sofá, estante, arrumei a casa, porque quando a gente tá moça a gente tem muita preocupação com aparência.
P/1 – E sua mãe aí já estava voltando?
R – Não. Nesse período, quando eu comecei a trabalhar, minha mãe ficou quase um ano em São Paulo, e minha mãe veio embora. Ela chegou, ela já sabia, aí eu contei pra ela, ela me apoiou em tudo, ela sempre apoiou: “É isso mesmo?”, eu falei: “É”, aí ela falou: “O que você fez com o primeiro pagamento?”, eu contei pra ela, dei um pouco, eu tinha guardado um dinheiro pra ela, porque a gente tinha a nossa conta e assim foi. Aí o que que eu fazia? Eu decidi no ano seguinte estudar à noite, que eu terminei o segundo grau à noite, os dois últimos anos, e aí eu vendia a metade dos vales transporte pra comer na escola, que eu ia trabalhar à tarde e estudar à noite, e os tickets eu dava pro meu pai na despesa de casa e aí tudo ficou em festa, porque começou a melhorar, as coisas chegar, né?
P/1 – Andreia, você diz que era muito danada e era mesmo, como assim?
R – É porque, assim, eu, se deixasse fazer uma coisa, eu fazia; se não deixasse, eu fazia do mesmo jeito, tá? Igual quando foi pra trabalhar, eu falei: “Eu vou trabalhar, eu quero”, eu sempre quis muito cedo mudar de vida, né? Amo a Fercal, sou apaixonada, mas aqui seria aquela vida, eu não queria mais aquela vida da minha irmã, que já era casada, eu não queria a vida das outras meninas que casaram cedo. E por eles falarem que eu era muito danada, muito ousada, atrevida, eles achavam que eu ia namorar muito cedo, minha mãe tinha muito medo que eu engravidasse muito cedo, então ela pegava muito no meu pé. Pra eu ir em uma festa, tinha que trabalhar que nem uma escrava, a Nazira, que eu falo, fazer tudo e fazer promessa, mas foi tranquilo.
P/1 – Trabalhar na casa?
R – Em casa, arrumar a casa, varrer terreiro, que a gente tinha isso, lavar banheiro, né?
P/1 – Isso mesmo depois de trabalhar fora?
R – Isso mesmo depois de trabalhar fora, pra eu poder, aí eu já tava com 14 anos, aí mãe foi melhorando mais, mas quando ela não deixava eu ir pras festas, eu dava um jeito e fugia, mas eu tinha o meu pai como aliado, que ele gosta de forró, então ele costumava me levar. Eu participei muito de festa junina nas escolas, festa na rua.
P/1 – Onde eram os forrós?
R – Forró, nós tínhamos o Barracão da Tereza, que foi um point maravilhoso, saiu casamentos e tudo lá.
P/1 – O Barracão da Tereza fica aonde?
R – Lá na Fercal Leste, na Fercal Dois, que falam. Eu lembro que a Tereza veio na Fercal, logo minha mãe começou a participar de uns movimentos pra melhoria da Fercal, minha mãe chegou a dar curso na LBA também.
P/1 – Curso do que ela dava?
R – De crochê, de tricô, de artesanato, mas isso já foi antes, eu ainda era menina, isso foi em 80.
P/1 – Sua mãe teve pensão?
R – Minha mãe teve uma pensão.
P/1 – Mas as pessoas dormiam na pensão?
R – Não, não. Essa pensão só era pra dar almoço, dava o almoço e janta para os caminhoneiros. Aí mãe participou muito dessas épocas da Tereza e eu aprendia muito com elas, quando elas iam lá na comunidade, em 88, 89, então foi a época que a LBA veio pra região e ela ajudou muito dando aqueles alimentos, eles davam alimento pra nós, davam material pra plantar, então minha mãe começou a participar, minha mãe começou a ter um salário melhor, começou a ser vista de outra forma. Então eu falava: “Puxa, que legal, eu queria ser igual ela”, tem a Tereza, tinha a Nelmaura, assim, como pessoas que eu podia seguir. Eu parei quando eu fui estudar no ginásio, né, em Sobradinho, e comecei a trabalhar e de lá pra cá sempre eu trabalhando em empresas privadas, em contratos.
P/1 – Você disse que morou em São Paulo?
R – Morei. Em 95 meus pais separaram, eu trabalhei até final de 95, em 96 minha mãe teve que ir pra São Paulo. Não, quando eles separaram em 95, minha mãe foi pra São Paulo com meus dois irmãos e eu fiquei morando com a minha irmã e meu cunhado, Haroldo. Quando foi em fevereiro, em 96, eu tive que ir pra São Paulo, eu sofri muito, porque eu não queria morar em São Paulo, eu tinha encerrado meu estágio na Telebrasília, de menor bolsista. Eu tinha guardado dinheiro pra começar a faculdade, que meu sonho era fazer faculdade de Jornalismo, eu sou apaixonada, eu acho lindo, eu sempre achei muito bonito aquelas mulheres nos jornais, eu falava: “Vou ser igual a ela”. E aí foi quando eu tive que morar em São Paulo, fui em 96, cheguei lá muito ruim, chorei muito, mas não desisti. A economia que eu tinha, eu tive que gastar com as minhas irmãs, porque, quando eu cheguei em São Paulo, tinha três irmãos meus desempregados, e minha mãe. Eu morei com meu cunhado até dezembro de 95, fevereiro de 96 eu fui pra São Paulo, mas em São Paulo logo eu comecei o trabalho... Não, nós estávamos em crise e fomos vender cachorro-quente, eu, minha irmã casada e as outras duas solteiras. Porque em São Paulo a diferença da Fercal, de Brasília é isso, a cidade não dorme, então você trabalha 24 horas e o custo, as coisas são mais baratas do que aqui, os impostos, então as coisas costumam ser baratas, mas eu morei só três anos, eu fiquei em São Paulo só até 99.
P/1 – Quantos anos você tinha quando você voltou?
R – Eu tinha 23.
P/1 – Quando você voltou?
R – Quando eu voltei de São Paulo, eu fui quando eu tava fazendo quase 21, voltei com 23, já ia fazer 24.
P/1 – Deu certo vender cachorro-quente?
R – Deu certo, que nós compramos a casa que é da minha irmã hoje, nós vendemos cachorro-quente, nós vendíamos três turnos, aí eu comecei a fazer vestibular que, como eu tinha o sonho de estudar, meu irmão falou que ia me ajudar, mas como vendemos cachorro-quente, aí minha irmã começou a trabalhar numa empresa, na área dela, administrativa, a outra também, aí eu falei: “Ah, não vou mais mexer em cachorro-quente sozinha”, mas nós já tínhamos comprado a nossa casa.
P/1 – Lá em São Paulo?
R – Com um ano e oito meses nós compramos uma casa em São Paulo, lá no Ipiranga, então, assim, foi uma graça de Deus. Como eu não tinha amizade, eu sentia muita falta da Fercal, era dessa amizade, você conhecer, conversar com todo mundo. Em cidade grande não costuma ter, é Deus por todos e cada um por si, um “bom dia”, um “boa tarde”, mal, mal. Mas logo a família foi pra igreja católica, a Paróquia Nossa Senhora Aparecida e lá eu fiz um grupo de amigos, então a minha diversão era aos domingos na igreja. A gente trabalhou e logo comecei a trabalhar numa empresa de aço, de elevadores, que era a Aço Villares, e depois fui trabalhar numa doceria, a Vai de Gosto, que era na Robertson, lá no Cambuci, e depois eles tinham montado uma filial lá na Rua Augusta, que é na Avenida Paulista. Só que em 99, as primeiras férias que eu tirei depois que eu fui, de 96, eu vim à Brasília, minha mãe já estava com a mãe dela aqui, doente. Em 98 a minha avó teve um AVC e minha mãe veio pra Brasília e já ficou morando com ela, todo mundo adulto, encaminhado, mas eu não consegui fazer faculdade lá. Aí quando eu vim, em 99, eu vi mãe naquela vida, sofrendo com a minha avó em Planaltina, e eu pensei, eu falei: “O que eu tou fazendo em São Paulo? Eu não gosto de lá, a outra irmã minha solteira vai casar”, só ia ficar nós duas mais novas solteiras. Aí eu vim com ela de férias, quando eu voltei, eu falei: “Vamos voltar pra Brasília?”, ela falou: “Vamos”, aí nós voltamos, eu voltei de férias em fevereiro, em junho eu já tava em Brasília, que eu sou muito assim, se é pra acontecer tem que ser logo. Viemos, não tinha nada que prendia, a casa ficou pra minha irmã mesmo. Graças a Deus, eu agradeço muito a Deus, os meus irmãos, a gente tem as nossas diferenças, mas é um pelo outro, não tem esse, né, a casa não fui eu, a Andreia que comprou, foi nós que compramos, como não moramos lá, não tem porque, né, então a casa ficou pra ela, ela casou e vive bem hoje com o marido dela. Aí nós viemos, foi quando eu comecei a trabalhar, eu trabalhei numa clínica de criança especial na Asa Norte, eu ganhava pouco, 233 reais na época, e logo eu recebi uma proposta numa escola pra trabalhar como crecheira e ganhava mais, aí o meu chefe me cobriu a proposta, eu trabalhei três anos. Quando foi em 2000, eu conheci meu ex-marido. Além de trabalhar na clínica, e como eu vim de São Paulo pra ficar com a minha mãe, em 99 eu fui morar direto em Planaltina, porque meu objetivo era ficar com a minha mãe, por causa do sofrimento, eu via ela muito sozinha. E minha avó, mãe de 16 filhos, e aquele sofrimento dela, porque ela perdeu o juízo com o AVC, só dois filhos cuidavam, eu achava isso fora de padrão, você criar 16 filhos, quatro de criação e só a minha mãe e meu tio cuidavam, aí eu fui morar com minha mãe. Eu fui morar em Planaltina, aí aos domingos eu ia pra feira vender bugiganga, eu ia em São Paulo aos domingos, comprava muamba, brinquedos e vendia na feira de Planaltina, e foi lá que eu conheci meu marido, que ele era fiscal de feira.
P/1 – Você ia aonde comprar as coisas?
R – Em São Paulo, como eu já sabia que tinha o Brás, eu ia nas excursões, então morar em São Paulo, eu aprendi muito, cresci muito, fiz um curso de Teatro lá na Avenida São João, que eu amo teatro também, então foi uma aprendizagem. Mas quando eu cheguei aqui, em 99, eu comecei a trabalhar nessa clínica, tive a oportunidade de ter uma banca lá na Feira de Planaltina, eu fui vender e aí eu conheci meu marido. Mas também eu não voltei por causa do meu marido, eu voltei mesmo também por causa da minha mãe. Porque em 93 eu me apaixonei, muito nova, com 13, 14 anos, eu me apaixonei pelo meu primeiro namorado e quando eu fui embora em 96, ele pediu para eu não ir, que ele queria casar. Eu falei pra ele que eu não podia ficar, que eu não queria casar e ele ia prender minha vida, que eu tinha medo de ter filho cedo, e aí eu fui embora. Então em 99, quando eu vim, nós nos encontramos. Eu voltei de São Paulo também, além de ficar com a minha mãe, foi pra ficar com ele, né, eu já tava mais adulta, só que não aconteceu isso.
P/1 – Por quê?
R – Porque tudo o que você pede pra Deus com fé, ele te mostra. Eu lembro que eu já tinha criado um círculo de amizades em São Paulo e todo mundo: “Não vai, vai”, aí você vem com aquela dúvida. Eu lembro que eu fui num domingo à tarde na igreja e pedi a que Deus me guiasse aqui, que minha vontade era voltar pra Brasília, ir pra Fercal, mas que se fosse pra ele não me fazer feliz, que ele fizesse, mas se não fosse, ele podia tirar. E realmente aconteceu. Quando eu vim de férias, nós namoramos os 28 dias que eu fiquei em Brasília, quando eu voltei, em junho, quando eu vim, eu procurei ele, ele falou: “Não, Andreia, eu não gosto de você, não quero namorar você”, eu falei: “Tá bom”. Eu chorei, quis morrer, falei: “Mas obrigada, Deus”. Eu falei: “Ai, Deus, pega leve, às vezes você é tão sincero”, ele atendeu o que eu pedi. Mas nem por isso eu baixei a cabeça, que meu objetivo não era casar, era trabalhar e estudar. Foi quando eu morei em Planaltina, eu conheci meu marido e em 2000 eu conheci meu marido. Em dezembro de 2000 eu conheci meu marido e em junho de 2001 nós casamos.
P/1 – Também foi um romance essa história?
R – Foi rápido, foi uma coisa engraçada, ele falava que eu era muito marrenta, que ele tinha que fiscalizar, eu falava: “Ah, lá vem esse homem chato, encher o saco!” “Mas que você é uma menina marrenta, a única que me dá problema é você” “Não, porque você quer mandar na feira”, que ele era fiscal. Aí eu invoquei, e ele me convidou um dia pra sair. Aí começamos a namorar, também tava meio sofrida, eu falei: “Ah, vamos namorar”, aí acabamos.
P/1 – Sofrendo ainda?
R – Pelo ex, né? Eu falei: “Ah, também não quero saber mais, não”, aí começamos a namorar. Ele é uma pessoa muito boa, humilde, estudioso, esforçado, eu falei: “Ah”, e deu certo, só que eu fui inventar de fazer coisa que não devia antes do casamento, aí engravidei do meu filho. Então aí nós acabamos casando, quando eu me deparei, eu tava grávida já no mês de abril, aí conversei com a mãe dele, não falei pra minha mãe que eu tava grávida. Nós decidimos casar, aí casamos em junho de 2001, casei na catedral, em Brasília, casei de noiva, não de branco, eu casei de creme, não coloquei grinalda, né?
P/1 – Aí a sua mãe já sabia?
R – Não, eu não contei pra minha mãe que eu tava grávida. Por que? Eu ensaiava pra contar a ela que eu tava grávida, porque foi um surto lá em casa de casamento nesse ano de 2001, minha irmã tinha o namorado dela que já tinha deixado. No dia, que eu lembro, que eu saí da clínica que eu trabalhava, eu passava mal, sentia enjoo, quando eu cheguei em casa pra contar pra minha mãe, minha mãe tava no quarto, sentada e minha irmã chorando, eu falei: “O que é que esse povo tá chorando?”, aí minha mãe falou assim: “Essa safada, essa bicha, cachorra, tá é buchuda, essa bicha ruim”. E meu pai morava aqui mesmo na Fercal, então ficou bravo, eu falei: “Imagina, mãe, todo mundo faz isso”, eu estando grávida, então eu não pude falar da minha gravidez, mas eu falei pra ela, eu falei: “Ah, mãe, então eu vou casar também”, ela falou: “Eu acho que tu tá aprontando”, eu falei: “Tou não, mas tou querendo”. Mas na mente dela, ela já achava que eu já tinha uma vida conjugal com meu ex-marido, que eu não tava grávida. Quando eu me deparei com essa situação, eu fui com o Giovane, nós conversamos e realmente a gente casou rápido, coloquei as papeladas, fui na igreja, casei na catedral.
P/1 – E o dia do seu casamento?
R – Ah, fiquei podre de chique, maravilhosa, foi um dia muito bom pra mim, porém não era com o homem da minha vida, que eu amava, aquele príncipe encantado, mas a gente tem que gostar de quem gosta da gente e as pessoas não entram por acaso na sua vida. O Giovane me passou muita confiança, muito respeito e foi muito bom, a ponto que eu casei na catedral, não fiz festa, só recebi os cumprimentos lá
P/1 – Por que você escolheu casar lá?
R – Porque, primeiro, eu acho aquela igreja linda, né, a catedral de Brasília. E, graças a Deus, eu muito cedo fiz amizades, trabalhei muito, trabalhei na catedral uma época como voluntária, que tava a reforma, eu fui lá lavar os castiçais, nunca esqueço, que eu lavava tanta taça, tanta coisa, e fiz amizade com o Padre Marconi, com a filha da minha madrinha, que trabalhava lá. Então eu consegui, nem paguei a igreja, a catedral hoje é um valor absurdo pra casar e eu fui abençoada, foi o Padre Marconi, que hoje é bispo em Brasília, ele foi pároco aqui. Eu era catequista e, quando eu falei que eu ia casar, ele me cedeu a catedral, então eu só preocupei com a decoração e também não precisa tanto, porque é um patrimônio histórico, não precisa de tanta decoração. Mas eu fiquei muito feliz no dia do meu casamento, porque primeiro eu tava casando e eu queria, o meu sonho era casar na igreja e dar esse gosto pra minha mãe, que ninguém lá em casa casou na igreja, só eu; e segundo, casar na igreja, você tem a certeza das pessoas que gostam de você. Então as pessoas da comunidade que eu convidei não foram muito, eu coloquei até ônibus, mas não foram pela distância, mas foi muita gente da clínica que eu trabalhei, eu lembro que eu recebi um cumprimento, eu vi a Dona Neide lá, ela falou: “Andreia, eu vim aqui, eu não podia deixar de vir, te desejar toda a sorte, porque você é uma menina muito boa, que ajudou muito a minha mãe quando fez tratamento na clínica, então eu vim aqui”, levou o meu presente e falou “eu vim aqui te desejar tudo isso”. Então, assim, eu recebi cumprimento de pessoas que eu não esperava e foi bom, foi maravilhoso, bem que a gente percebe que tanta a mãe do noivo quanto a mãe da noiva ficam tensos, né, eu acho que nenhuma mãe quer entregar, porque tem aquela preocupação. Logo nós viajamos, ficamos uma semana e fomos morar na chácara da minha sogra e eu já estava grávida do Matheus.
P/1 – A chácara era aonde?
R – No Núcleo Rural Tabatinga, lá perto do Padé. Aí casei, a minha sogra uma pessoa muito boa, até hoje tenho um respeito grande por ela, um carinho, ela me ajudou muito.
P/1 – Você continuou trabalhando, Andreia?
R – Continuei trabalhando, talvez foi meu erro, viu, de continuar trabalhando. Porque, assim, eles não preocuparam quem era a Andreia, de onde que a Andreia veio, eles quiseram me proporcionar uma vida tranquila, só que meu marido queria que eu parasse de trabalhar pra cuidar do meu filho, eu não quis, eu quis continuar trabalhando e continuei trabalhando na clínica até 2005, nunca parei de trabalhar.
P/1 – Por que você acha que pode ter sido o seu erro?
R – Porque às vezes, talvez pela minha formação, pela essa minha personalidade, não que seja ruim, mas às vezes você ocupar o cargo, ocupar no casamento ser a parte masculina, você não pode, você tem que ser uma dama sempre, e eu nunca tinha plantado um pé de alface, meu ex-marido também mexia com lavoura. Chegou uma época que, quando eu saí da clínica, eu tomava conta de mais de 50, 60 peões, trabalhando na roça, trabalhei com lavoura, em seguida nós montamos um mercado em Planaltina, no Arapoanga, inclusive o mercado, o nome dele é São Matheus. Então eu assumi isso e meu marido, ele é muito calmo, muito bom, porém muito calmo, ele já era funcionário público e professor, então essa parte eu assumi tudo, só que você vai se desgastando, se desgastando, e quando foi em 2000, ficamos casados até 2005.
P/1 – Você parou de trabalhar fora e investiu?
R – E investi no nosso negócio, tivemos lucros.
P/1 – Mesmo assim você acha que não deveria ter feito dessa forma?
R – Eu não deveria ter assumido a parte que era dele, de mexer com lavoura, eu não deveria ter assumido da maneira que eu assumi. Eu busco muito a independência, mas nós mulheres temos que saber o nosso, até onde a gente pode ir e quando volta e nós sempre queremos, eu falo por experiência da Andreia, né? Então, assim, quando a gente começou, eu trabalhava muito, eu trabalhava de domingo a domingo no mercado, segunda-feira à tarde, porque eu deixei de trabalhar na clínica pra trabalhar por conta pra ter mais tempo pro Matheus, chegou um momento que eu não tinha tempo pro Matheus, porque eu trabalhava a semana toda, que eu não trabalhava só no mercado, eu tinha a lavoura, eu tinha a minha casa, né, e foi passando. Mas também não reclamo, foram cinco anos de aprendizado, hoje o que eu sei também comercializar foi nessa vida. Fui casada cinco anos, vivi muito bem com meu ex-marido, nós nunca tínhamos brigado, ele nunca tinha falado alto comigo. Em 2006 foi o ano que eu separei, eu tive problema com a família dele, não foi com meu ex-marido.
P/1 – Que problema?
R – Meu cunhado saiu candidato a deputado distrital em Brasília e meu sogro queria que eu apoiasse. Se o meu sogro tivesse vindo pra Brasília, pra Fercal, eu viria apoiar, mas como era meu cunhado, ele não me passava confiança nenhuma, porque, mesmo morando longe da Fercal, tenho uma casa em Taquari, eu sempre apaixonei pela Fercal e eu me sentia na obrigação de defender a minha região. Tudo o que eu ganhava fora, eu trazia para os meus vizinhos, da minha mãe, então eu tinha medo de vir na Fercal pedir voto pro meu cunhado e depois ele não atender e aí, como eu sou nascida e criada na Fercal e gosto, gosto dessa comunidade, gosto das pessoas, eu tinha muito medo de dar algum problema e eu não conseguir entrar na casa delas, porque eu sou muito feliz hoje, a liberdade que eu tenho de andar nas comunidades, tá? E aí foi quando eu separei em 2006, vim morar na Fercal, graças a Deus, eu ocupei cargo comissionado no Governo Arruda, aí começamos a trabalhar, foi quando eu mais engajei trabalhando aqui na região. Quando eu separei e comecei a trabalhar, a primeira coisa que eu pensei: “Eu vou estudar”, foi quando eu comecei a fazer minha faculdade de Serviço Social, que hoje eu sou assistente social e comprei meu carro no dia dos namorados, dia 12 de junho de 2008. Eu não tinha ninguém, também não queria casar mais, eu falei: “Agora eu vou estudar” e estudei, terminei minha faculdade. Não tive sorte de passar num concurso ainda, mas eu trabalho muito. Foi quando eu me envolvi muito, aí fui até a Tereza pedir ajuda, em 2006, ela abriu as portas dela, me apoiou, me ensinou muito, aprendi muito com ela, tivemos oportunidade de trabalhar juntas, aprendi muito com a comunidade da Fercal.
P/1 – O que você aprendeu?
R – Assim, o respeito com o próximo, defender, porque nós temos aqui na região pessoas que ainda obedecem ao marido; pessoas que se vem uma pessoa de fora ela confia e às vezes abaixa a cabeça; mostrar pra elas os direitos delas, que todo mundo é igual, independente de classe, de raça, né, não é porque você é doutor e você é um pedreiro que você tem menos valor. Eu aprendi muito com elas a humildade, as casas que eu vou, as pessoas abrem a porta, você entra, você toma um café. E a Fercal tem isso, ela tem esse calor, essa união e elas acreditam, elas acreditam na melhoria, elas acreditam no progresso. Fala: “Ah, a Fercal já teve conquista e precisa de muito”, precisa, mas às vezes você vê lá, mas o pessoal tá falando mal, tá falando que a Fercal tá ruim, não, se você for até elas, as pessoas certas, elas acreditam e abraçam a causa com você. Então com essa experiência que eu tive trabalhando no GDF de 2006 a 2010, foi muito bom, e foi quando eu fiz o curso de Serviço Social.
P/1 – O que é o GDF?
R – É o Governo do Distrito Federal, eu ocupei cargo comissionado, né?
P/1 – O que você fazia lá?
R – Eu fazia a parte administrativa, então, assim, trabalhar na administração, você envolve e eu gostei de trabalhar na Fercal por isso, porque eu pude ajudar as pessoas estando lá. Eu trabalhei na SEDEST, na Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda, onde as pessoas recebem aquele cartão do Bolsa Social. Ouve-se dizer: “Ah, fulano que não precisa ganha, fulana que precisa ganha”, eu tive a oportunidade de fazer um bom trabalho aqui na região que eu amo de coração, que é a Fercal, e também em outras cidades, como Ceilândia, Samambaia, Recanto da Ema, que são as cidades mais...
P/1 – Você disse que as pessoas falam que a pessoa não merece ganhar e ganha, eu não entendi essa parte.
R – Assim, porque quando você faz parte de um processo pra ser beneficiado do governo, tem todo um cadastro a ser preenchido e aí às vezes as pessoas omitem informação e eles baseiam no salário. Quem vem de fora fazer o cadastro, eles são obrigados a acreditar na informação que pega, mas quando você mora, tem casos que você não precisava nem passar, você ia direto nas famílias realmente que estão ali naquela situação de vulnerabilidade e que merecem. Então nós conseguimos fazer um bom trabalho, graças a Deus, com outras pessoas aqui da comunidade, com a participação da administração, com a Tereza, que sempre teve ao lado da gente aqui, acreditando no progresso, no trabalho e num bom resultado. Aí trabalhei, logo que saí do GDF, fui trabalhar na distribuidora de mármores em Brasília, morando na Fercal, e aí eu comecei a participar das reuniões, né, visitar.
P/1 – Você disse que a sua mãe, você vendo o exemplo da sua mãe junto com a Tereza, na época, você aprendeu alguma coisa, repete o que era.
R – Na época, a minha mãe era aquela dona de casa sonhadora, que queria que os filhos crescessem e trabalhassem. Quando a Tereza procurou ela, a gente fala Tereza, porque realmente foi ela, que se a gente for analisar, ela é uma mãe da Fercal, porque ela que juntou, ela acreditou, por não ser nascida aqui, ela acreditou no progresso, acreditou nas pessoas e na melhoria e foi em busca das pessoas que já moravam aqui pra melhorar. Então vendo esse trabalho da minha mãe, participando de cursos, minha mãe foi professora de crochê e de tricô, de tear, então com essa oportunidade eu falava: “Puxa, a gente pode crescer também”. Eu sempre tive sempre o apoio da minha mãe pra trabalhar. E hoje, graças a Deus, participo de um Projeto Rural Sustentável, que é projeto do Grupo Votorantim, que dá esse apoio, faço parte de uma cooperativa de mulheres artesãs do Queima Lençol, a Cooperativa Calliandra. Por que participar da Cooperativa Calliandra? Já ouvi falar: “Andreia, você não precisa, você tá além”. Eu participo porque tem que ter alguém que acredite e muitas mulheres do meu grupo são mulheres que casaram e são donas de casa, elas não fazem mais nada a não ser cuidar dos filhos e do marido e eu falo pra elas: “Não, eu gosto da vida de vocês, eu gosto da experiência de vida de vocês e mesmo nessa rotina vocês podem conseguir algo melhor”. Graças a Deus, nós já estamos há quase um ano, a cooperativa existente, já participamos de dois eventos e eu gosto de apoiar assim, além desse projeto, ajudar a comunidade, tudo que for pra ajudar.
P/1 – Como atividade para você se manter você trabalha nesses dois projetos?
R – Não. Quando eu trabalhei, eu já tenho dois anos que to desempregada, por isso que eu quis participar do projeto em 2013 na comunidade do Queima Lençol, primeiro porque eu tenho amizade em todas as comunidades, mas lá eu tenho um público maior, porque eu fui criada lá, tem as pessoas, tenho amigas lá. E aí, quando foi oferecido esse projeto na FEMUBE, que é Federação das Mulheres de Brasília e Entorno, onde a Tereza já foi presidente, participou há anos atrás, aí eu quis participar e, como eu tava desempregada, eu falei: “Ocupação por meio período”. Eu me envolvi e também tenho procurado emprego, eu não consegui, mas eu costumo fazer outras atividades, né? Eu fiz muito trabalho de faculdade, portfólio, agora, graças a Deus, no mês de março eu conheci o Projeto Rural Sustentável, o Rogério, que é o presidente da ASTRAF, que é associação que foi contemplada, ele me convidou pra coordenar e agora eu já tenho uma renda, né, eu já tenho.
P/1 – Uma remuneração com esse trabalho.
R – Uma remuneração com esse trabalho, já é um contrato de um ano, então já é alguma coisa, pra quem não tinha nada tá ótimo, agora, na cooperativa nós não temos renda ainda, nós estamos tentando conseguir, mas eu busco trabalho, eu procuro outras coisas, que eu não arrumei ainda.
P/1 – Andreia, eu achei que você tivesse no comércio também, por isso que eu perguntei.
R – Não, não.
P/1 – Que tivesse continuado alguma coisa do comércio, por isso que eu perguntei.
R – Não, do comércio eu parei, nunca mais eu quis mexer com essas coisas.
P/1 – E a sua filhinha?
R – Aí quando foi, eu fiquei separada quatro anos e meio e eu sempre tive vontade, desde os meus 15 anos, de ter uma filha. Em 2001, quando eu engravidei, eu fiz minha primeira ecografia, foi um menino, eu chorei, depois pedi perdão a Deus, porque eu queria a minha filha, a Ana Beatriz. E eu separei em 2006, fiquei quatro anos separada e voltei com meu ex-marido em 2011. Eu só voltei para engravidar, que eu fiquei casada só dois meses, e veio a Sara Beatriz, que é o meu sonho realizado, ela hoje tem três anos, e eu tenho o Matheus, de 13 anos. A experiência de ser mãe é maravilhosa, agradeço a Deus, eu vivo pra eles, o Matheus, ele é a minha força, ele é meu apoio, ele é meu amigo. E tenho hoje a minha filha, que eu acredito que ela é do jeito que eu planejava e Deus me deu, então é somente agradecer a Deus.
P/1 – Você disse que ser mãe?
R – É uma dádiva de Deus.
P/1 – Você é uma pessoa tão participativa em tantos projetos, em tantas iniciativas, como que você faz pra conciliar isso?
R – Olha, eu sou bem sincera com eles. Às vezes eu largo eles, mas eu não sou de sair. Como a gente tem uma agenda, graças a Deus, eu tenho hoje, o pai deles pega eles de 15 em 15 dias, então eu procuro me programar. Quando eles estão comigo, só quando eu tou trabalhando mesmo, eu falo: “Eu tenho compromisso, é um trabalho”. Mesmo voluntário pra mim eu considero como um trabalho, porque acho que você não é obrigada a nada, você tem o livre arbítrio de escolher o que você quer fazer, mas acho que, quando você se compromete e acredita, eu acho que você tem que fazer um esforço, porque é válido. Então quando tem essas atividades eu me programo, sou muito abençoada porque eu tenho a minha mãe, eu tenho a minha irmã que me ajuda e tenho os amigos que me apoiam, né, então eu sempre me programo, converso muito com o Matheus. A Sara Beatriz é mais aquela atenção de colo de mãe, mas o Matheus, por estar adolescente, eu converso com ele e procuro suprir quando eu tou tranquila, quando eu não tenho nada, quando tá tranquilo, feriado longo, a gente consegue tentar.
P/1 – Andreia, para fechar, o que você gostaria de deixar registrado?
R – Que, é agradecer, primeiro é agradecer a Deus por essa oportunidade maravilhosa de morar na Fercal, e dizer que é com humildade, é com trabalho, é com transparência, é com compromisso que nós conseguimos fazer a mudança. Participar desse projeto tá sendo uma coisa muito rica na minha vida, e também envolver com as comunidades daqui, eu queria passar que a gente tem que acreditar. Os problemas, eles vêm, mas eles vêm pra ser superados, não tem graça do preto se não existisse o branco, do alto se não existisse o baixo, mas é com muita fé em Deus e humildade que a gente consegue, que os erros, eles sirvam de acertos e não repetir, né? Então a mensagem que eu deixo é que a gente tem que tentar unido, tem que tentar estar feliz, disposto a superar o que vem pela frente.
P/1 – Então muito obrigada, viu, Andreia, parabéns pela sua história.
R – Obrigada vocês.
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