Identificação Museu da Pessoa - Emy, para começar gostaria que você dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento. Emy - Meu nome é Emy Ayako Ogawa, nasci em Jacarepaguá no dia 12 de maio de 1949. Origem da família MP - Uma família de muitos irmãos, Emy? Emy - Somos ao todo, ...Continuar leitura
Identificação Museu da Pessoa - Emy, para começar gostaria que você dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.
Emy - Meu nome é Emy Ayako Ogawa, nasci em Jacarepaguá no dia 12 de maio de 1949.
Origem da família MP - Uma família de muitos irmãos, Emy?
Emy - Somos ao todo, seis irmãs.
MP - Você poderia dizer o nome delas?
Emy - Meri, Amélia, Conceição, Helena e Elizabeth.
MP - E o nome dos seus pais?
Emy - Meu pai chama-se Schinichi Ogawa e minha mãe chama-se Emiko Sasaoka Ogawa.
MP - O teu pai nasceu aonde?
Emy - Nasceu no Japão.
MP - E veio para o Brasil quando?
Emy - Ele veio com 14 anos de idade.
MP - Você sabe um pouquinho dessa história da vinda deles para o Brasil?
R - Segundo meu pai, a família dele era muito rica, só que meu avô gostava de dar tudo que tinha na casa para as outras pessoas. E com isso empobreceram. Daí decidiram vir para o Brasil, com toda a família, com quatro irmãos e quatro irmãs.
MP - E eles chegaram de navio?
Emy - Chegaram de navio em Santos.
MP - Ele conta alguma coisa dessa travessia de navio, você sabe?
Emy - Não, ele não conta muita coisa. Ele conta que a viagem foi boa, ficou maravilhado quando chegou no Porto de Santos, gostou da terra do Brasil, achou que era uma terra promissora.
MP - Por que eles vieram para o Brasil? Como é que eles escolheram o Brasil, você sabe disso?
Emy - Segundo ele, comentava-se no Japão, através de pessoas que já estavam aqui, que o Brasil era imenso, que tinha muita terra, o que não acontece no Japão. Foi por causa disso.
MP - Lá no Japão eles faziam o quê?
Emy - Eles lá tinham comércio. Eles enriqueceram através do comércio.
MP - Que tipo de comércio, você sabe?
Emy - Vendiam comida, coisas assim.
Mudança para o Brasil MP - E chegaram em Santos e foram para onde?
Emy - Foram para Bastos, compraram uma terra e plantaram algodão.
MP - Algodão?
Emy - Daí como perderam tudo, foram morar em Louveira e lá compraram outra terra.
MP - Para plantar o quê?
Emy - Plantar uvas.
MP - Perderam tudo por quê? Você sabe o que aconteceu?
Emy - É que não conseguiu produzir o que eles tinham projetado. E o preço não compensou.
MP - E toda a família participava do trabalho?
Emy - Participava. Os quatro irmãos, as quatro irmãs, mais meus avós.
MP - Era
uma colônia japonesa?
Emy - Em Bastos tinha uma colônia japonesa, assim como em Louveira.
MP - E eles falavam japonês em casa?
Emy - Fluentemente. Somente japonês, mal conheciam a língua portuguesa. Foram aprendendo aos pouquinhos, com a vivência, para comprar as coisas, aí foram obrigados a aprender.
MP - E depois lá em Louveira eles foram plantar uva?
Emy - Exatamente.
MP - Você sabe se era uma fazenda lá, um sítio?
Emy - Era um sítio, eles compraram um sítio.
MP - E era uma colônia japonesa?
Emy - Também.
MP - Você sabe mais algum detalhe dessa época de Louveira?
Emy - Não, aí depois meu pai disse que ele tinha problema durante o frio, as pernas dele doíam, porque caiu uma árvore em cima dele, ele ficou um mês acamado, em coma. Com a persistência, com a força de vontade dele, ele conseguiu sobreviver e caminhar, mesmo com um pouco de dificuldade, mas conseguiu caminhar. Aí ele decidiu morar no Rio de Janeiro, porque ficou sabendo que o clima era quente.
MP - Como foi esse acidente com a árvore?
Emy - Ele estava cortando o eucalipto, aí caiu em cima dele. Aí mutilou.
MP - E ele se muda para o Rio com quem, Emy?
Emy - Ele muda com a minha mãe, meu tio, minha tia e com a minha avó materna e um primo meu.
MP - Quer dizer que ele já estava casado?
Emy - Sim.
Casamento dos pais MP - Como é que foi esse casamento?
Emy - O casamento foi feito através de miai. Essa coisa é o seguinte: quer dizer casamento por encomenda de família. Família e família.
MP - Uma combinação das duas famílias?
Emy - Exatamente.
MP - O que a tua mãe conta do casamento? Ela conhecia o teu pai?
Emy - Minha mãe falou que não conhecia quem seria o marido dela, só conheceu uma semana antes do casamento. Aí se casaram e foram morar em Louveira
MP - E a tua mãe era de lá mesmo?
Emy - Minha mãe é de Campinas.
MP - De Campinas. Conta um pouquinho da história da família da tua mãe.
Avós maternos Emy - Os meus avós vieram do Japão também, para o Brasil. E chegaram em Campinas, começaram com a plantação de uvas e figo. E até hoje existe, só que minha avó e meu avô já faleceram.
MP - E essa casa de Campinas você conheceu?
Emy - Sim, mas só em 1976.
MP - Como é que era essa casa dos teus avós?
Emy
- A casa é enorme, como a casa de todo japonês, com seis quartos, cozinha enorme, dois banheiros, sala enorme, varanda... e mais o quintal.
MP - O que tinha nesse quintal de bom?
Emy - Plantas. Japonês gosta de planta. Samambaia, flores...
MP - E a tua mãe morava lá com muitos irmãos?
Emy - Sim, são quatro irmãos e quatro irmãs, total oito, igual do meu pai.
MP - E os pais da tua mãe você chegou a conhecer?
Emy - Os pais da minha mãe?
MP - É.
Emy - Eu não conheci meu avô, só conheci minha avó.
MP - O que você lembra dela?
Emy - Ah, ela era uma pessoa muito lutadora, batalhadora. Ela tinha um jeitinho, assim, de cativar os filhos, cuidava dos filhos muito bem, tinha preocupação constante com os filhos, com o estudo deles também. Eu lembro assim.
MP - Apesar da tua mãe ter nascido no Brasil ela aprendeu o japonês?
Emy - Aprendeu japonês, aprendeu português, aprendeu a escrever japonês também com o meu avô. Ela fala muito disso.
MP - Que o pai dela ensinou?
Emy - Ensinava.
MP - E a comida era japonesa também?
Emy - Também.
MP - Ela conheceu o teu pai e casou nova?
Emy - Segundo minha mãe, ela se casou com 24 anos.
MP -
E o teu pai devia ter...
Emy - O meu pai é quase dez anos mais velho.
Lembranças do pai MP - E o teu pai, como ele era, Emy?
Emy - Meu pai, segundo ele, sempre foi um atleta, nadava lá em Bastos, ganhava prêmios em natação. E também foi grande orador nas colônias japonesas.
MP - Como era essa atividade de orador?
Emy - Quando iam fazer algum pronunciamento, colocavam ele como orador.
MP - Que tipo de pronunciamento?
Emy - Por exemplo, quando acontecia uma festa de japoneses, era ele que falava. Ou uma visita a alguma casa de beneficiência. Era assim. Porque ele tinha uma cultura mais aprimorada do que os outros japoneses. Ele sabia escrever muito bem japonês. Aliás, sabe até hoje.
MP - Como ele adquiriu essa educação?
Emy - No Japão. Ele fez até o que seria o ginásio. O que, segundo ele, corresponde ao nível universitário no Brasil.
Avó paterna MP - E os pais do teu pai, você chegou a conviver com eles?
Emy - Não, só com a minha avó.
MP - Como era o nome dela?
Emy - Minha avó... Eu acho que esqueci o nome dela. Não, Tie Sasaoka é da minha avó materna. Eu não me lembro...
MP - Como ela era fisicamente?
Emy - Magrinha, baixinha, tinha um metro e 50, cabelo comprido, branco, rosto lisinho, a pele bem saudável, e muito exigente, pegava no meu pé. (risos)
MP - Ah, é? Em que sentido?
Emy - Corria com vassoura (risos) quando eu fazia uma bagunça
MP - E o que ela gostava de fazer? Você lembra da sua avó fazendo o que?
Emy - Ela gostava muito de cozinhar, muito mesmo. Então ela fazia almoço, fazia jantar para a gente. E ela ensinava, lavava roupa muito bem, e me ensinou como que lava uma roupa.
MP - Ah, é? Como é?
Emy - Para você não gastar muito sabão, ela ensinava que você tem que começar a lavar sempre, assim, nos cantinhos primeiro, esfregar bem, depois deixar secando no sol. Quando estiver morninho você pega, esfrega novamente, enxágua e fica branquinho, limpinho. É assim que ela me ensinou, sem gastar muito sabão.
MP - Você conviveu com ela lá em Jacarepaguá?
Emy - Em Jacarepaguá e também no sítio, no Núcleo Colonial Santa Alice.
MP - Em Jacarepaguá você morou até quando?
Emy - Eu morei até os quatro anos de idade.
MP - Você tem alguma recordação dessa casa de Jacarepaguá?
Emy - Ah, eu lembro, eu fazia muita bagunça. (risos)
Brincadeiras da infância MP - Que tipo de bagunça?
Emy - Gostava de sair escondido para pescar com o meu tio na lagoa que tinha perto lá de Jacarepaguá. Gostava de ir na casa do vizinho comer manga. Aí quando eu voltava me prendiam dentro do galinheiro de castigo. (risos)
MP - Na casa tinha galinheiro?
Emy - Porque meu pai criava galinhas. Aí me colocava de castigo, só ficava aprontando.
MP - Você não é filha única?
Emy - Não, somos seis ao todo.
MP - Seis? É verdade, você já falou o nome das suas irmãs. Elas todas nasceram nessa época de Jacarepaguá?
Emy - Não. Só a minha segunda irmã Meri que nasceu em Jacarepaguá. MP - Então nessa época era só você e a Meri
Emy - Isso.
MP - Como é que era a casa de Jacarepaguá? Como era a convivência com tua mãe, tua avó?
Emy - A gente convivia harmoniosamente, morava tudo na mesma casa e convivia harmoniosamente.
MP - Como era um domingo típico em família?
Emy - Domingo nós ficávamos em casa, porque meu pai era colono, não podia sair. Tinha que cuidar das obrigações dele para com o patrão dele. Então a gente não saía, ficava brincando. E a família ficava em casa.
MP - Quais eram as brincadeiras dessa época?
Emy - Aquelas que eu contei. Ficar comendo manga do vizinho, pescar escondido da minha mãe (risos) com o meu tio, ficar correndo atrás das galinhas. (risos)
Passeios da infância MP - Você tinha uma ligação forte com teu tio?
Emy - Tinha.
MP - Como é que ele chamava?
Emy - José Ogawa.
MP - O que vocês faziam juntos além de pescar?
Emy - Ah, depois quando ele podia ele me levar para passear no Jardim Zoológico. Nós íamos de ônibus, ele me levava para passear em alguns lugares, assim, que ele achava interessante. É isso.
MP - Que lembranças você tem do Rio daquela época?
Emy - Quando estava em Jacarepaguá?
MP - Sim...
Emy - Ah, eu adorava. Adorava mais, assim, pela minha bagunça que eu fazia com a turma, mais por isso.
MP - Que turma era essa? A vizinhança?
Emy - A vizinhança, os meninos. Corria atrás dos meninos, batia nos meninos. (risos)
MP - Era colônia japonesa?
Emy - Não, era brasileira só. Só a gente estava lá. Era gostoso nesse sentido.
MP - Como é que você se sentia sendo uma menina de família japonesa no meio dos brasileiros? Teve choque de cultura?
Emy - Não, porque o doutor Brandão era muito amigo da dona Anita Gentil e do Luís Gentil, que depois foram ser meus padrinhos de batismo. Então a gente convivia com todo mundo numa boa, sem problema nenhum.
MP - Você falou do batismo. A educação religiosa que você teve foi católica, foi budista?
Emy - Não, eu no caso foi sempre católica apostólica romana.
MP - Os seus pais também?
Emy - Meus pais atualmente são xintoístas, toda a família.
MP - E você lembra das cerimônias xintoístas na sua casa?
Emy - Eles oram pelos antepassados. Eles acreditam em Deus, somente em Deus. Eles acham que nós devemos cultuar os que morreram para que eles tenham muita luz e fiquem perto de Deus. Então a gente pensa sempre cultua os antepassados.
Mudança para Núcleo Colonial Santa Alice MP - E a mudança de Jacarepaguá para o núcleo colonial, você lembra dessa mudança?
Emy - Lembro. Inclusive nós fomos até de caminhão com lona amarela. Nossa, a gente atrás... Eu lembro perfeitamente bem. Chegamos lá, fizemos casa de tábua, aí meu pai fez dois quartos, um deles e outro nosso. Tinha uma sala e uma cozinha, e um banheiro.
MP - E foi uma viagem longa essa?
Emy - Foi. Eu me lembro que levou umas quatro horas.
MP - E vocês foram atrás com os móveis?
Emy - Com tudo junto.
MP - As galinhas também?
Emy - Não, galinha meu pai não levou. (risos)
MP - E quem é que se mudou para lá?
Emy - Só meu pai, minha mãe, eu e a minha irmã Meri, e minha avó, só.
MP - E como é que era núcleo, a colônia?
Emy - Era colônia de japoneses também, tinha outras famílias. E meu pai comprou o sítio de 10 mil metros quadrados. E ele começou a plantar hortaliças, citros e criação de galinhas. Só que não deu certo.
MP - E a sua vida mudou muito?
Emy - Não, porque eu só aprontava, gostava de brincadeira, subia nas árvores, (risos) brincava com os colegas. Eu brincava muito, acho que eu tive uma infância muito feliz. Eu acho que é inesquecível. Foi uma infância pobre, porém de muitas alegrias, de muito conhecimento de criança. Eu vivi como criança. Conheci brincadeiras de criança, como muitos não conhecem atualmente. Então acho que eu tive uma infância muito feliz.
MP - E teve brincadeiras novas lá no núcleo, comparado com Jacarepaguá?
Emy - É, amarelinha, pega-pega, esconder as coisas. (risos)
MP - E seus pais não eram rígidos, assim, não te controlavam muito?
Emy - Não, meu pai controlava, só que a gente brincava, brincava escondido, mas a gente depois apanhava, né? (risos) Uma vez até... tinha um galo que tinha um bico desse tamanho. Aí eu ficava atiçando. Nossa, correu atrás de mim, ele me picou. Quase que eu caio dentro do poço (risos)
MP - Tinha um poço em casa?
Emy - Não era, assim, que nem a água de hoje em dia. A gente tinha poço mesmo, de cinco metros, dez metros.
Primeira escola MP - E além das brincadeiras tinha a parte de escola também? Como é que era?
Emy - Tinha. Eu fiz curso primário na Escola Santa Alice até o terceiro ano. O quarto ano, eu concluí na Escola Presidente Dutra, lá na antiga Rio-São Paulo. Depois eu fiz o ginásio no Colégio Fernando Costa e... Você quer que conte o resto?
MP - Eu queria te perguntar da primeira escola. Foi lá no núcleo?
Emy - No núcleo mesmo.
MP - Você lembra como é que era essa escola?
Emy - Eu lembro. Era uma escola pequenininha, deste tamanho mais ou menos. Tinha só uns 20 alunos. A primeira professora chamava Terezinha, muito rígida. Ela ensinava mesmo. A gente aprendeu a colocar letra já naquela época, tudo certinho, na linha. Foi ótimo. E a tabuada era no lápis. A gente tinha que aprender a tabuada no lápis. Todo dia ela perguntava para a gente. E eu sempre fui a primeira aluna. Ganhava prêmio por causa disso. Aprontava, mas ganhava prêmio. (risos)
MP - E você ia a pé para a escola?
Emy - Ah, sim. A gente era pobre, não tinha dinheiro.
MP - E era perto?
Emy - Era perto, não era muito longe não, levava uma meia hora. Mas a gente passava no sítio de todo mundo e ia com o grupo.
MP - Era uma sala só?
Emy - Era uma sala só. Estudava todo mundo junto.
MP - Crianças de diferentes níveis?
Emy - É, por causa do horário. Por exemplo, vamos supor, primeiro ano é num horário, segundo ano no outro horário, era assim. Era tudo misturado, menino e menina.
MP - E o japonês você aprendeu aonde?
Emy - O japonês eu aprendi no clube, no Clube Colonial Santa Alice.
Diversão na adolescência MP - Como é que era esse clube?
Emy - Nós chamávamos de Kaikan. Então todo domingo, os japoneses se reuniam para fazer festa, para encontros... ou para ter aula de japonês, fazia carnaval. E a gente criava, porque a gente não tinha dinheiro par comprar aquelas vestimentas...
MP - Você lembra de alguma fantasia?
Emy - Ah, eu me lembro. Peguei aquele coqueiro, folha de coqueiro, cortei no meio, aí amarrei aqui, fiz uma saiona. Como se fosse uma baiana. E comecei a dançar.
Também gostava muito de esporte, jogava vôlei, pingue-pongue...
MP - Tudo lá no clube?
Emy - Tudo no clube. Todo dia primeiro de janeiro a gente ia com o caminhão a uma praia, com todos os japoneses.
MP - Que praia que era?
Emy - Era lá na Estrada Rio-Santos. A gente ia numa daquelas praias.
MP - As suas irmãs já tinham nascido nessa época?
Emy - Não, nasceu só a terceira, depois nasceu a quarta, a quinta e a sexta.
MP - Tudo lá no núcleo?
Emy - Tudo no núcleo.
MP - E as seis irmãs se davam bem?
Emy - Sim. Brigavam, mas se davam bem, sem problema nenhum. Só que eu sempre aprontava, né? Aprendi a andar de bicicleta com o empregado do meu pai, pegava escondido a bicicleta dele. E a bicicleta de homem tem um negócio no meio, né? Aí levava tombo, entortava todo o guidão do homem, o homem ficava louquinho de raiva, perguntava: "Quem fez isso?" Era eu. (risos)
Pai pesquisador MP - E o teu pai, Emy? Nessa época ele trabalhava com o quê?
Emy - Meu pai, como eu disse para você, começou com citros, com hortaliças e com criação de galinha. Não deu certo, o que ele fez? Ele estava sentado um dia e viu, dentro da água, uma planta, goiaba. Aí ele viu que a planta era resistente à doença. Resistente que eu digo, ele viu que ela se mantinha viva dentro da água. Aí ele começou a pensar: "Puxa vida, é uma saída para nós. Acho que eu vou desenvolver geneticamente, melhorar essa fruta". Foi o que ele fez. Pediu apoio das universidades, dos órgãos oficiais, só que eles não acreditaram, acharam que era uma coisa que não ia ter sentido nenhum, que não ia resultar em nada, que não valia a pena. Então ele, por si só, resolveu fazer a pesquisa e desenvolveu as seis variedades de goiaba. A partir de 1958, surgiu a primeira goiaba de mesa no Brasil.
MP - Como se chamava?
Emy - É goiaba Ogawa número um.
MP - Ogawa é o nome do teu pai?
Emy - Isso.
MP - E eram pesquisas, que ele fazia aonde exatamente?
Emy - Ele fazia no próprio sítio?
MP - Era um lugar específico para isso?
Emy - Não, é no sítio mesmo.
MP - Na terra?
Emy - Na terra. Ele começou a desenvolver, começou a plantar muda, aí essa planta crescia, aí ele podava, via como era a melhor maneira de podar. Porque existe o conceito de que a fruta só dá uma vez por ano, só que ele modificou também geneticamente para que desse a fruta o ano inteiro.
MP - Ele ia fazendo uma seleção?
Emy - Isso, ele selecionava os genes. Como ele diz, cruzava os pólens.
MP - E você lembra do seu pai trabalhando?
Emy - Lembro.
MP - Como era? Ele acordava cedinho e ficava lá com as plantas?
Emy - Sim, ele acordava cedo, pesquisava, ia lá. Então às vezes ele pesquisava e não conseguia ter resultado. Ele ficava pensando. De noite ele fazia assim, ele pedia para Deus dar uma luz. Aí vinha a resposta para ele, aí de manhã cedinho ia lá, resolvia o problema, num estalo. Então assim ele foi desenvolvendo.
MP - Mas era uma pesquisa prática ou ele também consultava livros?
Emy - Ele consultava. Consultava livros, consultava professores das universidades, e na prática também.
MP - E depois do Ogawa um, quais foram as próximas?
Emy - Ogawa dois, Ogawa três, Ogawa quatro, até chegar no Ogawa cinco. A Ogawa quatro é branca, o resto são todas vermelhas, só que a melhor é a Ogawa cinco. Ela pesa de 500 gramas até um quilo E inclusive está servindo de estudo para a Universidade de Okinawa e na Universidade do Japão.
MP - Okinawa
Emy - Okinawa, no Japão. É o número um... eu falei número cinco, né? Desculpe, é número um e número três.
MP - E são pesquisas que levaram anos da vida dele?
Emy - Não, acho que levou três anos.
MP - Três anos?
Emy - Exatamente. E fez também com que tornasse resistente às doenças, à traquinose. Tornou a fruta mais saborosa, com menos semente, com a polpa mais vermelha, com a pele e o umbigo liso.
MP - E qual era o objetivo do teu pai com essas pesquisas?
Emy - Seu objetivo principal era que os japoneses de pequena terra, os sitiantes, pudessem sobreviver através dessas plantações. Pudessem criar os filhos, a família, e dar também o estudo para as crianças. Esse era o objetivo principal.
MP - E essas espécies acabaram se espalhando pelas colônias então?
Emy - Sim, pelo Brasil inteiro.
MP - E vocês sobreviviam nesse meio tempo do que? Das pesquisas?
Emy - Não, dessas plantações.
MP - Então plantava também?
Emy - Isso. Aí depois, paralelamente, ele desenvolveu outras frutas tropicais, como a carambola, abio...
MP - Você falou da fruta do conde...?
Emy - Fruta do conde sem semente...
MP - E a carambola como era? Era grande?
Emy - É enorme. Meu pai diz que é a maior do Brasil. Nem São Paulo supera a dele. E ele tentou desenvolver caju, mas caju não dá certo no Rio de Janeiro, porque não é arenosa. Caju gosta de areia.
MP - Que lembrança mais forte você tem do seu pai, Emy?
Emy - A lembrança mais forte que eu tenho do meu pai é que ele é muito persistente, positivo, tudo que ele quer ele consegue. Ele não esmoreceu em momento nenhum, com toda a dificuldade que ele teve nas pernas. Ele disse que ele pode. Ele mostrou que ele não precisa ir trabalhar no Japão para ganhar dinheiro. O Brasil tem condições suficientes para te dar dinheiro, saúde, paz, harmonia na família, união na família. O que ele mais conseguiu foi unir a família. A minha família está toda junta. Eu sou a única que está fora do Rio de Janeiro. Então esse é o foco principal.
Lembranças da mãe MP - E a sua mãe, como ela participava desse dia-a-dia?
Emy - Minha mãe participava da pesquisa junto com o meu pai.
MP - Fazendo o que exatamente?
Emy - Ajudando ele a tirar semente, selecionar, plantar, fazer viveiro. E o meu pai enxertava.
MP - E quem cuidava da casa?
Emy - Da casa, a minha mãe também cuidava. Ela que cuidava da gente, cuidava da casa. Só que eu era encarregada de cuidar das minhas irmãs, dar banho, levar para a escola, essa era a minha tarefa.
MP - Você ficou lá até que época, Emy?
Emy - Eu fiquei até ingressar na universidade.
MP - Mas você passou a sua adolescência lá?
Emy - Até 1968 mais ou menos.
Diversão na adolescência MP - E a vida de adolescente lá na colônia como é que era?
Emy - Muito boa, porque nós jogávamos, praticávamos esporte, íamos para a praia, mas tudo em grupo.
MP - E tinha os bailinhos também?
Emy - Sim. Aos sábados tinha o bailinho, e domingo era praticar esporte.
MP - E tinha os namoricos também?
Emy - Tinha. (risos) E por que não?
MP - Você pode contar um pouquinho do primeiro namorado, Emy?
Emy - Ah, eu prefiro pular.
MP - Mas não era mais época dos miais?
Emy - Não, aí você conhecia e casava. Não tinha essa rigidez. O miai era na época dos japoneses da primeira geração. Com o resto, não. Tanto é que temos brasileiros na família.
MP - E da tua vida de adolescente o que mais você lembra? Você também continua arteira na adolescência?
Emy - E como (risos)
MP - Era outro tipo de arte...
Emy - A gente ia nas fazendas, catava coquinho, ficava comendo coquinho, minha mãe procurando a gente. Cadê? E a gente nas fazendas, andando aquele sítio todinho. Eu acho que eu andava o dia inteiro. Sete horas assim, andando, não sentia cansaço, eu tinha disposição. E eu sempre era a líder, para variar (risos), conduzia as crianças.
MP - E o teu pai, tua mãe brincavam com vocês?
Emy - Não, eles não. Mas só que eles eram exigentes, rígidos na educação. Minha mãe nunca gostou da gente ficar agarrado chorando, sempre falou que a gente nunca deve chorar, que a gente deve ser forte, que nós temos que acreditar em nós mesmos. E meu pai sempre falou isso para mim: "Emy, você não precisa estudar todas as coisas. Faça uma coisa, sempre o melhor. Conheça além daquilo que todo mundo conhece, seja um pouco a mais. Esse é o diferencial que todo profissional tem que ter". Ele sempre colocava isso na cabeça da gente. Falava também para a gente nunca esmorecer diante de qualquer situação, porque isso faz com que a gente cresça. Ele sempre dizia para a gente que nós devíamos ser fortes, não esmorecer em qualquer situação, por pior que fosse, que a gente não deve chorar à toa e que nós nunca devemos mostrar as nossas fraquezas para os outros. Devíamos sempre manter aquele espírito vivo, forte. É o que ele é, e o que minha mãe é.
Curso de Farmácia MP - E como é que foi a tua saída de lá? Foi difícil?
Emy - Não. Porque eu precisava fazer universidade. Eu não queria fazer Agronomia, não queria fazer Medicina Veterinária. Se eu quisesse, era lá perto da minha casa, porque a Universidade Federal do Rio de Janeiro era próxima à minha casa. Eu queria fazer Engenharia Química, porque na época era uma novidade no mercado. A Petrobrás todo mundo falava que era o hit da época, era o local onde você podia trabalhar e ganhar. Então o que eu fiz? Fui para Campo Grande fazer o científico, terminei e prestei vestibular para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Praia Vermelha. Só que eram muitos candidatos, eu não consegui passar, fiquei no excedente. E o meu sonho foi para o espaço. Aí o que eu fui fazer? Em 1969, prestei vestibular para Farmácia na Universidade Federal Fluminense, em Niterói. E eu passei direto, sem estudar, sem nada. Por quê? Eu estava direcionando para área de Engenharia. Então eu não tinha Biologia, não tinha Inglês, e eu passei assim, direto, sem depender de nada.
MP - E você foi morar aonde?
Emy - Fui morar na casa da minha madrinha e do meu padrinho em Niterói, na Vila Pereira Carneiro. E comecei a estudar, fazer a faculdade lá. E para poder ficar na casa deles, o que eu tinha que fazer? Eu era como uma doméstica, ajudava nos afazeres domésticos deles. E também ajudava nos pagamentos, nos compromissos que eles tinham. Eu que fazia todinho.
Por isso que eu sou perita para limpar carne.
MP - Limpar carne? Tem segredo para limpar carne?
Emy - Eu sou perita em limpar carne, não perco uma. Aprendi a fazer muitas comidas. Fazia pastel, colocava um pouquinho de álcool para ficar bem estufadinho.
MP - Como é que é?
Emy - Fazia pastel, a massa do pastel, aí colocava um pouquinho de álcool para ele ficar crocante, estufadinho, ficava uma delícia. Aí fazia aquele bolo de coco, ralava o coco e fazia o bolo. Nossa, fazia, depois daqui a pouco você não via mais o bolo, acabou. E cuidava das crianças dela, dos netos também dela. Eu que cuidava.
MP - Onde era essa casa?
Emy - Em Niterói, na Vila Pereira Carneiro
MP - Qual foi a sua primeira impressão da cidade, Emy?
Emy - Adorei. Gosto de praia e era perto da praia, então adorei, fantástico.
MP - E, sem ser a faculdade, o que mais você agitava lá em Niterói?
Emy - A gente costumava ir muito na casa dos amigos. A gente tinha muitos amigos, eu não sei, eu sempre tive convívio com muita gente. Então a gente se dava muito bem. Até hoje eu tenho uma amiga que eu conheci em Campo Grande, que fez o curso científico comigo. Só que cada uma tomou o seu caminho diferente. Mas até hoje somos amigas, amigas mesmo. Então em Niterói também, a gente tinha muitos amigos, a gente convivia muito bem.
MP - Qual a lembrança mais marcante da faculdade?
Emy - Da faculdade? Na faculdade tem tanta coisa, meu Deus...
MP - O dia a dia de estudante, como é que era?
Emy - Eu me lembro que uma vez eu quase coloquei fogo no laboratório. Fui fazer uma pesquisa de sódio, a matéria chamava-se Química Analítica. Ninguém tinha me ensinado que ia provocar combustão. Aí eu pego, eu faço, daqui a pouco pega fogo, sai fumaça, e todo mundo sai correndo. A professora sabe como determinar, como fazer essas coisas, então para ela era tranqüilo. Só que nós ficamos apavorados, saímos na rua. (risos)
MP - Todo mundo saiu correndo.
Emy - É... Outro coisa marcante foi que fiquei na Análise Instrumental. Eu não gostava da matéria. Aí o que aconteceu? Eu não consegui fazer a mesma matéria em Bioquímica, que ficava na outra área. Aí uma pessoa chamada Salomé, ela copiava a matéria todinha. E ela dava a cópia para mim. E eram 75 alunos, olha só. Eu não freqüentava. Chegou na prova final, o professor falou assim: "Mas você nunca compareceu na minha aula." Eu falei assim: "Não". "Então você vai sentar aqui na frente." E me deixou na frente. Então eu não podia colar de ninguém. Só que eu consegui tirar a maior nota e passei. E ela que me emprestou o caderno não passou. E ela perguntou: "O que você fez para passar? E eu, que emprestei tudo, dei tudo para você, assisti aula, eu não consegui e você conseguiu?". Eu falei: "Não sei, achei a matéria fácil." (risos) Passei direto. Passaram cinco alunos só, o resto, ficaram todos.
MP - E a formatura, foi importante para você?
Emy - Para mim, foi muito emocionante. Porque o compromisso da gente com a sociedade, com a saúde, você falar com o pessoal, com a família, demonstrar que chegou graças ao esforço da gente, mesmo não tendo condição de pagar, para nós foi muito importante.
MP - Os teus pais foram na formatura?
Emy - Não, porque eles moravam longe, não tiveram condição de ir.
Outra coisa marcante era que, quando a gente conseguia promover visita para os laboratórios, para as indústrias farmacêuticas, a gente juntava dinheiro e conseguia fazer. Eu consegui ir para Bahia, em Salvador, participar de um curso. Só que tinha um vizinho que me adorava. Aí ele falou se eu queria ir lá que eu ficava no apartamento novo que ele tinha comprado. Lá em Amaralina. Eu falei assim: "Ah, está bom. Vamos todos os colegas e vamos lá". Aí fomos seis no apartamento dele e ficamos todo mundo lá. Porque a universidade só pagou o ônibus para a gente, alimentação e o local ficou por nossa conta. Aí ele nos ajudou, na verdade. Aí fizemos o curso e voltamos de lá todo mundo feliz, tocava violão na volta, não deixava ninguém dormir, aprontava bagunça. (risos)
Entrada no Aché MP - E o primeiro emprego, Emy, quando surgiu?
Emy - Quando eu estava na faculdade, fiz Farmácia, depois eu me especializei em Farmácia Industrial. Quando fui me especializar em Farmácia Industrial, só ficamos cinco pessoas, sendo duas mulheres e três homens. E eu fiz a matéria Cosmetologia e ia muito bem nessa matéria. Estava fazendo a pesquisa de urucum nos produtos cosméticos. A gente coletava material, tentando ver qual era o melhor urucum no Brasil que pudesse fixar a cor nos produtos cosméticos.
Então surgiu a vaga de professor adjunto em Cosmetologia. Me candidatei e passei, obtive êxito. Só que a universidade, ela não tinha verba para pagar, então ela não me contratou. Então eu tive que fazer o quê? Fiz estágio com o professor Maurício Hurovich, numa indústria cosmética de pequeno porte. Ele me ensinou muita coisa, aprendi muita coisa com ele, mas só fiquei um mês. Porque ele me falou: "Emy, essa empresa não tem condições de te pagar, não tem condições de contratar funcionário. Então você não quer começar a procurar um emprego?". Aí mandei algumas cartas somente para as indústrias farmacêuticas do eixo Rio-São Paulo. Eu não esperava, mas em 15 dias o Aché me responde.
MP - E você já tinha ouvido falar do Aché antes?
Emy - Nunca. Eu nunca tinha ouvido falar do Aché. Eu juntei alguns cartuchos que tinham lá, escrevi uma carta mais ou menos de dez linhas, pedindo estágio só por três meses.
MP - E por que no eixo Rio-São Paulo?
Emy - Porque eu não gostava de São Paulo. Eu não tinha intenção de vir para São Paulo. A minha intenção era ficar no Rio de Janeiro. É minha terra natal. Eu pretendia ficar para o resto da vida lá no Rio de Janeiro. Então eu só escrevi para o eixo Rio-São Paulo. E o seu Victor ligou.
Eu estava estagiando, e ele ligou para a casa dos meus padrinhos. Falou que gostou da carta. que queria conversar comigo e pediu para que eu viesse para São Paulo para conversar com eles. No outro dia, eu vim. Quem me entrevistou foi o Antonio Aluízio Russo, que era chefe do controle de qualidade e de produção. Depois conversei com o seu Victor Siaulys e também com o senhor Antonio Gilberto Depieri. Fui contratada imediatamente. Mas eu falei para eles que eu não ia vir, que eu ia ficar no Rio, que me dessem um tempo e que no dia 23 iniciaria o trabalho. E fui contratada como farmacêutica. Era meu primeiro emprego. Cheguei, conheci o laboratório, e o primeiro contato que tive com o mundo farmacêutico foi com o produto Somalium.
Nessa época, quem me orientou e me deu, assim, todas as dicas, foi a Fátima Parra, que trabalhava no Aché antes da gente. Ela foi o braço direito do Sossumu Nakamura, que desenvolvia produtos como Somalium, Dextrovitase, Sensiclase, Iodepol, Combiron, Cepulmin. Então eu aprendi com ela muitas coisas.
Eu me lembro que nessa época quem trabalhou também com a gente foi a Marli Vono, a Eliete e a Bete. Então era um corpo pequenininho, né? Mas que a gente se deu bem. Eu até me lembro que no primeiro dia que eu cheguei eu vi a Marli correndo para cima, para baixo, pesando o Colpistatin creme, que na época era 28 gramas, hoje é 40 gramas. E ela coletava blisters e fazia teste de vácuo. E eu achava aquilo interessante, eu ficava olhando o que ela estava fazendo. Eu só ficava, assim, prestando atenção em tudo que ela estava fazendo. Eu era muito curiosa. Em 15 dias eu consegui, assim, assimilar coisas que eles estavam fazendo.
Controle de Qualidade MP - Você foi contratada para exercer qual função?
Emy - Só como farmacêutica do Aché, do controle de qualidade.
MP - Farmacêutica do controle de qualidade. Já era o cargo de farmacêutica responsável?
Emy - Não, ainda não.
MP - O que fazia a farmacêutica do controle de qualidade?
Emy - A gente analisava os produtos. Eu tinha um chefe, que era o Antonio Aluízio Russo, e e eu estava subordinada a ele. Então eu só analisava os produtos.
MP - Antes de ele ir para o mercado?
Emy - Isso. Antes de liberar para a comercialização.
Primeira impressão MP - E como foi a tua primeira impressão do Aché?
Emy - Fiquei encantada. Sabe, o Aché tem um encanto, que não dá para explicar. Eu acho que só você sentindo. Ele consegue cativar. Ele tem uma coisa, que eu diria assim: é como se fosse a tua primeira paixão, é como se você tivesse encontrado a tua outra metade. É algo que toca no fundo do teu coração e que você sente vibração positiva. É impressionante, não dá para explicar.
MP - Como é que era o Aché naquela época?
Emy - Era pequeno. Eu me lembro que o Controle de Qualidade era um pouquinho maior do que essa sala. Eu me lembro que tinha o Almoxarifado, a Embalagem, a expedição, a produção de sólidos, a produção de injetáveis, a produção de cremes... Me lembro bem. Ele não era muito grande.
MP - E o refeitório, o grêmio... já existiam?
Emy - Não, o grêmio não existia, mas existia o refeitório, que era terceirizado. Eu me lembro. A comida vinha de fora, a gente não fazia comida lá.
MP - E você chegou a conhecer a Lúcia Aché nessa época?
Emy - Não, eu não conhecia. Eu só conhecia pelas assinaturas que ela fazia.
MP - E alguém comentava algo sobre a Lúcia Aché ou a família Aché?
Emy - Sim, quem comentava comigo era seu Waldemar, que hoje está falecido. Ele trabalhava há muitos anos na empresa. Então ele falava a respeito dela.
MP - O que se sabia?
Emy - Eu sei que o Phillipe Aché foi o dono da empresa Aché, antes dos sócios, do seu Victor, o seu Depieri, seu Adalmiro comprarem essa empresa. Ele era dono dessa empresa, lá em Ribeirão Preto. Eles trabalham com hormoterapia, com vacina. Eu lembro que eles falavam isso. E a Lúcia Aché era filha do Phillipe Aché.
Farmacêutica responsável MP - Ela trabalhou lá até quando?
Emy - Como farmacêutica responsável, até 1975, no final de 75. Em janeiro de 76 ela morreu. Eu não conheci mesmo, mas eu soube que ela morreu. Aí o que aconteceu com a empresa? Precisava de uma farmacêutica responsável. Não tinha nenhum farmacêutico naquela empresa, eu era a única. Aí chegaram em um consenso de que eu seria a farmacêutica. E no mês de 26 de junho de 76 me contrataram como farmacêutica responsável, que eu ocupo até hoje.
MP - Você lembra do convite?
Emy - Lembro. Foi o seu Adalmiro que falou. Eu me lembro que o seu Victor comentou com o seu Waldemar - o seu Waldemar já tinha me dito - e o seu Miro falou que eu ia ser a farmacêutica responsável, juntamente com o seu Victor também, claro, e o Toninho químico.
MP - E o que você achou desse convite?
Emy - Eu, no começo, eu fiquei meio assim, porque eu tinha recebido outro convite para trabalhar na Argentina, numa indústria cosmética. E eu fiquei meio assim, eu falei: "Puxa vida, a Argentina está no auge. Que tal se eu for para a Argentina?". Mas aí os meus amigos falaram que era uma loucura minha fazer isso, que era preferível ficar no Aché. Inclusive o Toninho também, achou que devia ficar no Aché. Eu acabei optando. E foi bom, eu não me arrependo jamais.
MP - Você assume então quando, Emy?
Emy - 26 de junho de 1976.
MP - Você se torna...
Emy - Farmacêutica responsável.
MP - Qual é a função da farmacêutica responsável?
Emy - A função dela é assim: ela é responsável pela qualidade dos produtos da empresa. Ela representa a empresa perante os órgãos fiscalizadores, seja estadual, seja municipal, seja federal. Ela mantém a empresa alinhada à legislação pertinente. A função basicamente é essa. Então, na verdade, a gente conhece a empresa como um todo, seja no controle de qualidade, seja na produção.
MP - Naquela época, qual era o processo todo?
Emy - No início, eu só fazia análise de produtos acabados e de matéria-prima também. Eu só fui para a área de registro, depois, mais ou menos, há nove, dez anos. Eu fiquei chefe do controle de qualidade por um bom tempo, uns 12 anos mais ou menos.
MP - Como farmacêutica responsável você tinha duas funções?
Emy - A minha função principal era farmacêutica responsável, mas eu fiquei chefiandoo controle de qualidade chefiando por uns 12 anos mais ou menos. Depois, eu passei para a área de registros, para trabalhar com registro de produtos, manter a legislação alinhada, informando para todo mundo.
Dia típico de trabalho MP - Quando você se tornou farmacêutica responsável como é que era um dia típico de trabalho naquela época, Emy?
Emy - Eu morava numa travessa da Brigadeiro Luís Antonio. Hoje chama-se Adoniran Barbosa.
MP - Você saía de casa cedo? Como era?
Emy - Nós íamos de ônibus. Eu me lembro que eu pegava ônibus até a Estação da Luz, tinha que atravessar aquele Jardim inteirinho para pegar o ônibus para Guarulhos. Até me lembro da cor. Era verde claro com branco.
MP - O ônibus?
Emy - É. Vila Galvão.
MP - E chegava no Aché que horas mais ou menos?
Emy - Ah, chegava seis e pouco. mais ou menos. Meu cabelo ficava sempre molhadinho, porque era frio de manhã e úmido. Então você ficava com o cabelo tudo meio molhado.
MP - E como era o trabalho na parte da manhã?
Emy - Ah, gostoso, porque você estava motivado, empolgado. Você tinha propósito firme, estava com toda a garra, com todo gás.
MP - Mas era um trabalho com papelada, como era?
Emy - Não, tinha papelada, mas também você fazia a análise, na prática ali, dosar o teor da matéria-prima, do produto acabado, fazer todos os teste pertinentes à matéria-prima e ao produto acabado. Era a rotina do controle de qualidade.
Processo de lançamento de um medicamento MP - E como é o processo de um remédio dentro de uma indústria farmacêutica? Qual o caminho que ele percorre até ele ir para o mercado?
Emy - A primeira coisa que tem que ser feita é o teste, que o Miro me disse. O Marketing vai te dizer o que ele pretende lançar no mercado, o que é viável no mercado, se isso vai dar rentabilidade ou não. Então ele vai fazer uma pesquisa.
Daí ele passa isso para Desenvolvimento de Produtos. Ele vai desenvolver, comprar matéria-prima, decidir onde vai comprar matéria-prima, quais recipientes vão entrar, quais estágios têm que ser realizados, quais as coisas que têm que ser feitas, as condições. Depois de feito o esboço todinho, ele vai fazer um plano piloto. Depois ele faz o teste de estabilidade, vê que o produto é viável, em que condições tem que ser armazenado, tem que se acondicionado, seja em blister, seja em frasco, e se for líquido se é vidro, se é frasco, âmbar ou incolor. Então isso, o Desenvolvimento vai ter que ver tudo isso.
Passa depois para a área de Registros. O teste de estabilidade, as especificações... e você monta o dossiê que vai de dados gerais até a bula. Então o que é? Você segue toda instrução normativa número um, de 1976, que vai ser atualizada agora. Então são todos procedimentos, é processo normal. Você manda para o Ministério da Saúde, o Ministério da Saúde analisa tecnicamente, vê se ele pode ser deferido ou não, ele publica no Diário Oficial da União.
A partir do momento que for deferido e o Marketing se interessar, aí faz todo o preparativo para lançamento do produto. Você prepara a arte final do cartucho, a bula, se for na forma sólida você vai fazer o alumínio, se for na forma líquida você vai fazer o rótulo. E o texto legal normalmente é a área de Registro é que determina. É isso basicamente.
MP - E depois começa a produção?
emy - Depois que o Marketing dá ok, acende o farol, o que você faz? Você vai acionar a produção. Vão ver quanto que ser produzido. E você faz a escala industrial. O controle de qualidade entra para quê? Para verificar se as explicações correspondem àquilo que foi elaborado, àquilo que foi solicitado. Se for aprovado, ele libera para a comercialização do produto.
MP - E esse processo todo mudou muito no decorrer dos anos, Emy? Ou desde que você entrou na empresa é a mesma coisa?
Emy - É a mesma coisa. Ele não mudou, só aumentou a burocracia, a verdade é essa. Eu vejo assim: aumentou burocracia só. Mas, de outro ponto de vista, com o advento do Código do Consumidor, a preocupação do consumidor aumentou muito mais do que antigamente. Então o consumidor exige muito mais dos produtores. Desde que eu entrei até os dias de hoje, eu vejo que o consumidor tornou-se exigente. Ele cobra por aquilo que ele paga. Ele exige a qualidade do produto. Então, eu vejo que o consumidor se preocupa com o que está comprando. Ele exige qualidade do produto.
MP - Quando surge o serviço de atendimento ao cliente?
Emy - Ele já tem uns oito anos mais ou menos.
O Código do Consumidor deve ter uns dez anos já.
MP - Sem ser o Código do Consumidor, houve outras mudanças normativas nesses anos?
Emy - Sim, porque cada vez que entra um dirigente ou presidente novo, seja qual for, muda toda equipe muda do Ministério da Saúde, como dos outros órgãos governamentais. E quando muda toda a equipe o que acontece? Cada um que chega quer mostrar o seu serviço. E criam novas portarias, novas resoluções, novos decretos, e assim sucessivamente. Se você olhar toda a legislação brasileira pertinente a medicamento, você vai ver que tem muita coisa que está incoerente. Não é uma coisa lógica, uma coisa que está aqui desdiz daquilo que está num outro decreto. Quer dizer, não existe uma coerência.
MP - E há uma tendência em aumentar o rigor?
Emy - Eu creio que sim. Porque o consumidor exige, e principalmente no momento que estamos passando, com essa dengue. Uma coisa que você pensava que não existia está voltando.
MP - E o Aché foi se adequando a esse aumento de exigências?
Emy - Sempre.
MP - Em que sentido?
Emy - Criando Boas Normas de Fabricação.
Compra da Bracco-Novoterápica e parceria com Parke-Davis MP - Mudou alguma coisa, por exemplo, com a compra da Bracco-Novoterápica?
Emy - Antes era Bracco-Novoterápica, que depois passou a denominar-se Novoterápica.
MP - Você lembra dessa época?
Emy - Lembro. Eu me lembro que eu precisava analisar produtos como Digeplus, Vertix, Stricnaneurin, que depois foi proibido porque a estrecnina estava proscrita no Brasil. Tinha o Novofer, o Apetisan.
MP - Algum deles representou um desafio maior para você?
Emy - Não, não achei não. Eu acho que Parke-Davis foi pior, porque o Parke-Davis eu não estava preparada, eu não conhecia os produtos e não sabia quais as análises que tinham que ser feitas nos produtos.
Quando o Aché adquiriu a Parke-Davis nós entramos de férias coletivas. Quando voltamos, encontramos todos aqueles arquivos da Parke-Davis, e a gente nem tinha noção do que era, não tinha noção de quantos eram os produtos da Parke-Davis. Não tinha noção de quais as análises que íamos fazer nos produtos, não conhecíamos as especificações, a metodologia. Então para mim, foi um desafio analisar os produtos do Aché, mais o Novoterápica, mais do Parke-Davis.
MP - Quais os produtos vieram com essas mudanças?
Emy - O Bracco tinha mais ou menos 12, e o Parke-Davis tinha bastante . Muitos continuaram. Eu me lembro do Peritrate AP, que dava um trabalho para comprimir aquilo lá. O Elomir deve ter falado que o Peritrate AP tinha duas camadas, um verde claro e um verde mais escurinho. Eu me lembro do Gelusil M, do Takazima pó, do Mylanta Plus, seja na forma comprimida, seja na forma de suspensão oral. Tinha supositório de glicerina, Benadryl, tinha o Zarontin, Sinutab, Ponstan...
MP - Mas eram produtos que já estavam sendo comercializados?
Emy - Sim. E nós continuamos fabricando, analisando e comercializando.
MP - Tinha que revisar todos os processos?
Emy - Não, não é revisar os processos, eu não tinha conhecimento dos processos, então eu não sabia de nada. Você tinha que aprender. Verificar, treinar o pessoal. Então para mim foi muito... , como vou dizer? Em pouco tempo, você tinha que assimilar tudo.
MP - Mas se eram produtos que já estavam aprovados e sendo comercializados...
Emy - Quando o Aché comprou, ficou um tempo no Rio de Janeiro. Quando passou para Guarulhos, é que veio para nós. Então você tinha que produzir e analisar. Só que como você ia analisar se você nunca tinha tido contato com a metodologia deles, se você não conhecia nada deles? Como eu ia, de uma hora para outra, analisar as coisas sem saber o que era, o que fazer e não fazer? Então eu tinha que assimilar em pouco tempo todos aqueles produtos. A gente nem sabia quais eram os produtos. Então para nós foi muito difícil. Foi muito trabalhoso. Ainda por cima depois das férias... Mas conseguimos.
MP - Quando tempo você ficou no controle de qualidade?
Emy - Fiquei por 12 anos.
Moderex MP - Nesse tempo todo, algum produto te marcou mais?
Emy - Produto marcante? Me lembro, o Moderex, Somalium, Energisan 2 ml, que o Aché produzia 1 milhão e 200 unidades/mês. E tinha o Combiron drágeas, Sorine adulto, Colpistatin creme. São produtos que realmente me marcaram. Você se orgulhava dos produtos Aché. Porque o produto era bom, tinha todas as características inerentes, ele estava dentro das especificações e você estava comercializando um produto de qualidade. Então o consumidor estava sendo beneficiado com um produto ético, então aquilo me deixava orgulhosa. Saber que uma empresa nacional começou pequena, crescendo. E eu me lembro perfeitamente até o dia de hoje: ele começou a crescer com o Moderex. O Moderex vendia como se fosse água. Me lembro até da propaganda, um prato branco cortado no meio, com o comprimido branco do Moderex, e um prato, assim, de alimentos, fazendo a comparação. Era o auge. E o Energisan também vendendo que nem água.
MP - Você acompanhava a produção, Emy?
Emy - Eu não acompanhava a produção, mas quando dava problema eu ia lá na produção ver o que estava acontecendo. Com conhecimento farmacêutico, é mais fácil. Você assimila muito mais fácil do que aqueles que não estão na área. Então para mim foi fácil. Você acompanha a dureza, a espessura, vê a desintegração... Então eu ia na produção e questionava. Não era computador, era datilografia.
MP - Como é era essa ordem de produção?
Emy - Você colocava o número do lote, o nome do produto, a quantidade fabricada, quais as matérias-primas que iam entrar, o código das matérias-primas, a quantidade, a unidade.
MP - Era tudo datilografado nas fichinhas?
Emy - Isso, umas fichinhas mesmo.
MP - E hoje em dia como é que é isso?
Emy - Agora é computarizado.
MP - Depois do controle de qualidade você passou para qual área?
Emy - Aí depois fui para a área de registro, fui trabalhar com o seu Victor Siaulys, e na época estava a Marta Cressoni, a Roberta, só que a Marta Cressoni saiu, só ficou a Roberta. Então eu não tive orientação de como fazer o registro, eu fui aprendendo, porque o seu Victor é um homem carismático, é um homem superinteligente, então eu morria de vergonha de perguntar para ele. Eu preferia mil vezes ler, aprender na marra do que ficar perguntando para ele. Foi assim que eu comecei.
Cefalium MP - Mas você acompanhou de alguma forma o nascimento de um produto junto com o seu Victor?
Emy - Acompanhei. Eu nunca me esqueço do Cefalium. Eu sempre falo do Cefalium, porque o Cefalium tinha uma fórmula cuja composição continha Diazepan. E Diazepan é controlado, é psicotrópico, é tarja preta, então ele quis mudar essa fórmula, e conseguiu. Eu acho o seu Victor um homem supercriativo, um homem que tem uma visão do futuro de no mínimo de dez anos. Ele sempre projetou os produtos nesse sentido, ele sabia que ia dar certo, sabia que ia conseguir conquistar o mercado. Eu tenho uma grande admiração por sua capacidade, inteligência, cultura, esse senso que ele tem.
Eu me lembro que ele falava assim: "Emy, eu conversei com o doutor Rafael e ele disse que toda pessoa que sente dor de cabeça e toma um remédio, o remédio causa náusea. E nada melhor do que você colocar um cloridrato de metoclopramida, um antiemético". E ele pegou o Remingtons dele, eu me lembro que tinha uma capa marrom, e pediu para eu levar para a sala dele. Levei, em questão de minutos, ele falou assim: "Você coloca dez miligramas no comprimido". E nós fizemos o relatório, mandamos para Brasília, ele foi deferido.
MP - E como ficou no final? Ele não tinha aquele produto inicial?
Emy - Não, ele melhorou o produto, inovou o produto original, e ficou esse produto que existe até hoje no mercado.
MP - Como é que ele chegou à conclusão das dez miligramas?
Emy - Porque ele olhou no Remingtonss dele. Ele ficou aqui no Remingtonss dele e falava a dosagem ideal.
MP - O que é Remingtonss?
Emy - Remingtonss é livro, é especificação, aprovado, conhecido a nível internacional.
MP - O que você acha que causou o sucesso dos produtos do Aché, Emy? Porque não eram pesquisas próprias...
Emy - Eu acho que os produtos do Aché fazem sucesso pela inovação. Ele podia copiar, mas que inovava alguma coisa, inovava sim. Essa inovação, essa criatividade que existe nas pessoas da empresa é que fez o produto tornar-se diferente no mercado. O Aché tem um potencial que se chama criatividade. Existem talentos na empresa que você nem imagina. E esses talentos a empresa soube buscar, soube projetar. E esse sucesso da empresa deve-se exatamente ao comportamento dessas pessoas todas. Porque eles têm garra, eles não têm o que a multinacional tem. Ele não tem todo aquele recurso da multinacional. Mas ele tem uma coisa que se chama garra, persistência, acreditar naquilo que está fazendo. Superar as dificuldades, ter criatividade, gostar daquilo que está fazendo. Isso faz com que todas as coisas caminhem para um único objetivo: fazer do produto o melhor.
Notuss MP - Sem ser o exemplo do Cefalium você lembra de algum outro, que foi uma inovação interessante?
Emy -
Acho que o Notuss. O Notuss tinha uma fórmula chamada Nyquill, dos Estados Unidos. Só que continha uma substância, agora não me lembro qual, que era controlada no Brasil. Então, puxa vida, um produto de tosse controlado aqui no Brasil não tem mercado. O que vamos fazer? O seu Victor falou assim: "Vamos mudar essa formulação, Emy". Ele mesmo mudou toda a formulação. Na verdade ele inovou o produto Nyquill e transformou em Notuss. E ele deu essa marca Notuss exatamente "tosse da noite". Porque você toma esse medicamento, causa certa sonolência, então é melhor tomar durante a noite. Foi isso que ele fez. Então eu acho que é um produto inovador que também deu certo. Que também foi um sucesso para a empresa e é até hoje.
Registro de Produtos MP - Depois você mudou para a área de registros. Como era especificamente esse trabalho?
Emy - Eu fazia os relatórios, todos os relatórios, todo aquele processo, todo dossiê do produto. Eu fazia todo relatório técnico, reunindo materiais bibliográficos.
MP - Era um trabalho junto com o Departamento Médico-Científico?
Emy - Não, separado. Quando eu entrei na área do seu Victor, a área de registro não estava subordinada a nenhum departamento. Era diretamente ligada a ele.
Até nessa época que eu estava lá ele começou a se interessar pelas plantas fitoterápicas. Foi quando nós fizemos um contrato com a USP e depois com a Unicamp. Com a Unicamp foi com relação a Triticum vulgare, que nós importávamos da Itália. Aí o que acontece? Ele quis que tornasse um produto nato do Brasil, e foi a Unicamp que conseguiu desenvolver. E, com a USP, começamos a fazer pesquisa com a erva baleeira.
MP - Que época mais ou menos?
Emy - Eu não me lembro não, só olhando.
MP - Década de 80?
Emy - Não. Foi depois da Parke-Davis, foi em 1986, por aí. Não faz tanto tempo assim.
MP - E você ficou quanto tempo no registro?
Emy - Fiquei até o ano passado. Só que, nesses anos, foi mudando a diretoria... eu tive muitos diretores.
MP - E teve alguma mudança grande no trabalho na área de registros?
Emy- Não, é a mesma coisa. Aumentou o trabalho por causa da burocracia que eu já falei para você. Mas, se você olhar a legislação, desde que existe é daquele jeito. Só que, dependendo do governo, você pode apresentar determinada documentação, no outro governo você precisa apresentar outra documentação. Cada época, cada gestão governamental você tinha um procedimento. Mas, no fundo, a documentação exigida é a mesma desde a época quando existia o Serviço Nacional de Fiscalização de Medicina e Farmácia, que é no Rio de Janeiro, quando a capital brasileira era no Rio de Janeiro. Então, não mudou muita coisa. O que eu vejo é uma divergência de certas coisas. Existe uma incompatibilidade. Você não entende essa falta de senso.
MP - Ao mesmo tempo a empresa foi crescendo, não é Emy?
Emy - Barbaramente. Explodiu. Não passou aquela fase de pequena, média, grande empresa. Acho que de pequena ela deu um salto muito alto, principalmente, por ser uma empresa nova. Por ser uma empresa familiar. Então o salto foi muito grande. Então você viu todo esse sucesso deles. É nesse ponto que a gente admira: você vê as cabeças, as pessoas que trabalharam nessa empresa e fizeram dessa empresa a melhor, a maior da América do Sul.
Amizades no Aché MP - Queria que você contasse um pouquinho do ambiente além da sala de trabalho, o ambiente dos corredores, do refeitório. Como era esse dia-a-dia do Aché?
Emy - Você acabou de ver agora, que nós somos unidos, é uma amizade muito sincera, muito profunda. Não sei se você sentiu isso com a gente agora. Nosso papo não é de trabalho, durante o almoço, na saída, nos corredores. Nós gostamos de conversar da pessoa, da família ou as coisas do dia-a-dia, que passa na televisão, o que acontece.
MP - Tem um ponto de encontro da mulherada lá no Aché?
Emy - No começo era nos jardins da empresa e também nos toaletes. Depois, a gente foi se distanciando um pouquinho, porque foi expandindo demais, então você não tem tempo de encontrar com a turma. E também porque o horário das refeições é diferente.
MP - Na hora do almoço dá uma volta no jardim?
Emy - Damos, damos volta no jardim.
MP - Sempre foi assim?
Emy - Antes, o jardim era pequeno. A gente se encontrava, principalmente nos toaletes. A gente gostava de contar novela. Adorava falar da novela
MP - Do capítulo do dia anterior...
Emy - Exatamente. Era uma delícia. E até hoje continua, só que a gente não tem muito contato, é um pouco distante.
MP - E tinha umas festinhas boas, Emy?
Emy - Tinha.
MP - Tinha algum lugar que vocês se encontravam, um barzinho, um restaurante?
Emy - Eu ia com a Marli e outras colegas, lá na Estação da Luz. A gente adorava ir lá comer
brotinho, pastel. Eu não sei se a Marli vai lembrar, mas a gente comia brotinho e pastel.
MP - Brotinho era pizza?
Emy - É uma pizza pequenininha, a gente chamava de brotinho.
MP - Depois do expediente?
Emy - Sim, depois do expediente. E, muitas e muitas vezes, eu ia na casa da Marli para gente andar na casa de todo mundo, visitando. Conversar com todo mundo. A gente ia na casa do Roberto, a gente ia na casa do Carlão, a gente ia na casa da Cida.
MP - E o pessoal morava perto?
Emy - Próximo um do outro. Quer dizer, não próximo, mas quase no mesmo bairro. A gente pegava o ônibus ou ia a pé... MP - Que bairro era esse?
Emy - Imirim. Que eu me lembro era Imirim. A gente começava a passear por aí, pegava o ônibus e ia, numa boa, achava uma maravilha.
Eu me lembro que a gente foi para Campos do Jordão. A gente organizava excursões, organizava passeios pequenos, era muito unido. Dentro do ônibus todo mundo sentava, conversava, era uma bagunça só.
MP - Ônibus do dia-a-dia?
Emy - É, depois o Aché colocou um ônibus para a gente.
MP - Que ia da onde até aonde?
Emy - Do Aché até o Imirim. Então passava a Dutra... A Dutra não era essa avenidona que você está vendo agora. Era só uma pista daqui, uma pista do outro lado.
MP - No fim de semana um, ia para a casa do outro?
Emy - Exatamente. Só não ia na a minha casa porque eu morava com a família, que é a irmã da minha falecida madrinha. Então eu evitava. Eu preferia mil vezes ir na casa dos outros do que trazer confusão para o meu lado. Mas foi uma convivência gostosa.
MP - Em relação aos produtos você queria completar? Algum outro caso, algum outro exemplo?
Emy - Eu me lembro... Para você ver como o seu Victor era arrojado, me lembro que uma vez ele me pediu para fazer 25 relatórios de produtos diferentes, em 15 dias. E conseguimos, com a colaboração dos departamentos, marketing, treinamento... Nós conseguimos montar em 15 dias e protocolar no Ministério da Saúde. E a outra vez, isso já foi na gestão de outro diretor, me pediram para montar 44 relatórios. E também conseguimos em pouco tempo. Acho que não levou nem um mês. Nós conseguimos também protocolar.
Inovações nas embalagens MP - Você ficou no registro até quando? Até recentemente?
Emy - Até maio de 2001.
MP - E aí você assumiu que cargo?
Emy - Agora só estou como farmacêutica responsável e eu cuido também de toda parte de fiscalização. Quando vai fazer certificação, renovação de certificação e Boas Práticas de Fabricação também eu cuido. Cuido também de importação de produtos controlados, da constatação dos produtos controlados, a cota anual dos produtos controlados, autorização de importação. E também de todos aqueles que têm laudo analítico, que tenha minha assinatura, que o farmacêutico responsável tem que assinar, aí eu checo, vejo, depois assino para poder enviar. Quando se trata da Vigilância Sanitária propriamente dita, eu cuido de tudo.
Ah, eu queria lembrar uma coisa também que é muito importante: o Aché é o primeiro laboratório farmacêutico da Amércia Latina que introduziu o braile nos cartuchos, e o primeiro produto foi com o Candicort. Foi a primeira que se preocupou com os portadores de deficiência visual. Então o Ministério da Saúde elogiou a nossa atitude e pediu que as outras empresas também acompanhassem o que nós fizemos. Eu nunca me esqueço dessa história.
E o código de barras também. Em 1996 nós introduzimos o código de barra, nos produtos de venda livre, o Cefaliv, Capel, Caladryl loção, Menaret
pastilha e Agarol.
MP - E o código de barras é importante por quê?
Emy - Para identificar o produto e o laboratório. T]em o dígito verificador e isso facilita o quê? Na cadeia de produtos farmacêuticos, quando você envia para a distribuidora, a distribuidora, com esse código de barra, ela pode identificar o produto, a concentração, a apresentação do produto, e ele pode ter um preço que chega lá no balcão... ou mesmo quando for mandar para a farmácia, não precisa checar um por um. Pelo código de barras, você sabe qual é o produto, quanto você tem no estoque, qual o preço desse produto...É um facilitador.
MP - E com relação ao código braile você lembra qual foi a reação do mercado, teve alguma reação?
Emy - Teve. Nós tivemos elogios por nos preocuparmos com os portadores deficientes visuais, nós recebemos elogios. Eu achei fundamental, importante para a empresa, você se preocupar com o lado humanitário.
Dia-a-dia atual MP - E hoje, Emy? Conta como é um dia típico de trabalho teu atualmente?
Emy - Continuo morando em São Paulo mesmo, na Vila Mariana, no mesmo lugar.
MP - Você sai de casa que horas?
Emy - No mesmo horário de sempre, antes da sete, para chegar às sete e meia. Só no dia de rodízio que eu saio mais cedo, que é segunda-feira. Então chego, vejo os e-mails, faço aquela parte que me cabe, leio os diários oficiais, se tiver alguma coisa na Internet eu vejo, contato com as Vigilâncias Sanitárias. E a gente tem um bom relacionamento, graças a Deus, com as Vigilâncias Sanitárias locais. Eles nos orientam muito. Nunca vêm com espírito fiscalizador, mas sim com espírito de orientação. Então a gente conseguiu criar um bom clima. A relação da gente é muito boa.
MP - Depois vem o almoço?
Emy - Eu almoço no Aché, por sinal a comida é muito boa. Acho que há muitos lugares que não tem o que nós temos. O que o Aché trouxe de benefício: restaurante, CDI... Mais o quê? Escola, educação, assistência médica, assistência odontológica, as pessoas de baixa renda podem fazer na empresa, carro para a gente, ajuda de custo, livros, para você comprar material escolar também, você tem 10% de desconto. Então o Aché, ele olha muito para o lado social, para o bem-estar dos funcionários. E isso você melhora o quê? A qualidade de vida dos funcionários. E se você tem uma qualidade de vida boa, o que você espera da pessoa? A pessoa vai produzir muito mais, vai se interessar muito mais, vai estudar, vai fazer o melhor para a empresa, não é verdade? Não é assim que a gente encara? É isso que eu vejo na empresa. Eu acho que são poucas empresas que têm o que o Aché faz pelos funcionários.
Sonho para o Aché MP - Qual o teu sonho para o Aché, Emy?
Emy - Nesse processo de reestruturação, de profissionalização, eu espero que a empresa não esqueça dos talentos que existem lá, que eles consigam conciliar os talentos da casa com as novas idéias, com os novos profissionais. E dessa conjunção, dessa somatória, formar uma força que possa extravasar para o mercado externo, para que a empresa, genuinamente nacional, seja conhecida pela política de bem estar do funcionário, que preserva a vida humana, e que se preocupa também com a qualidade do produto, dando o melhor, comprando os melhores equipamentos, construindo uma nova empresa. Uma nova fábrica, se preocupar com que esse produto saia com a melhor qualidade possível.
Quer dizer, ele querer extravasar dentro do mercado interno, mais o mercado externo, mostrar que no Brasil existem empresas que merecem confiança, que merecem crédito, que merecem respeito. É isso que eu quero que aconteça na empresa. Porque nesse mundo globalizado pode acontecer o que quiser, mas se você tiver essa postura de acreditar, de confiar, de fazer o melhor, de você gostar daquilo que você faz, não há nada na Terra que possa destruir uma empresa. Você consegue reerguer a empresa, você consegue superar as dificuldades, você consegue mostrar ao mundo que no Brasil existe empresa capacitada, uma empresa respeitada, uma empresa que concorre a qualquer nível internacional. Mesmo aqueles que têm condições, mesmo aqueles que têm pesquisas, nós conseguimos superar, eu acredito nisso, eu confio muito nisso.
Trabalho voluntário MP - E como é que isso se cruza com a sua vida pessoal, Emy?
Emy - Eu gosto muito de ajudar as pessoas. Eu gosto, por exemplo, de transmitir sempre às pessoas pensamentos positivos. As pessoas que estão com problemas eu nunca encaro como problema, eu sempre achei que não existe ninguém infeliz, quem faz a infelicidade somos nós mesmos. Devemos acreditar naquilo que a gente é capaz. A gente tem que confiar na gente, tem que acreditar, tem que entender que todos nós somos felizes, basta acreditar, basta confiar, basta crer, basta ter fé, basta ter garra. Porque a única coisa que eu acho que não podemos resolver é a morte, mas o resto eu não vejo dificuldade. Então você tem que confiar, tem que passar essa energia positiva
para as pessoas. Você não pode instigar para as pessoas irem mais para baixo. Pelo contrário, tem que levantar as pessoas, fazer acreditar que você é capaz, que você é importante, em todos os sentidos. Importante para mim não quer dizer que você seja um profissional importante, não é isso, você é importante como ser humano, como pessoa. É isso que eu gosto de passar. Uma pessoa fala: "Eu estou doente." Eu falo assim: "Você não está doente, você vai ficar bom. Nós vamos dar uma força para você, você vai recuperar, você acredita que você vai ficar bem". Sabe, eu gosto dessas coisas, eu gosto de fazer esse trabalho.
MP - Você faz algum tipo de trabalho social?
Emy - Eu ajudo as pessoas que estão drogadas, a tirar dessas drogas, sair dessas drogas, mostrar que essas drogas não vão levar a lugar nenhum...
MP - Aonde você faz esse trabalho, Emy?
Emy - Existe uma comunidade, e a gente vai nessas comunidades e tenta passar essa mensagem positiva. São pessoas que entram em depressão, que é horrível. Eu nunca passei por isso, mas também não sabia que era assim, tão triste. Então você levanta o astral da pessoa, você faz a pessoa acreditar em você. Porque se você não acreditar em você, não adianta nada. Você tem que acreditar em você. Então eu gosto desses negócios. Além disso eu também gosto de cuidar de plantas, eu gosto de ajudar a minha família, de cuidar das minhas irmãs. Porque a filosofia japonesa é assim: a filha ou o filho mais velho tem que cuidar daqueles outros menores.
MP - Todos eles moram aonde?
Emy - No Rio de Janeiro.
Sonho de vida MP - E você vai lá muito?
Emy - Eu vou sempre que posso. A gente procura ajudar o máximo possível. E meu sonho é fazer com que a minha mãe viaje para o Japão. Porque ela deseja. Meu pai já não quer. Mas a minha mãe deseja. Isso eu quero fazer, e eu vou conseguir fazer, porque eu acredito nisso.
MP - E você vai com ela?
Emy - Não, ela vai com outras pessoas. Esse desejo eu quero fazer. Então, por exemplo, todo ano eu dou viagem para meu pai, para minha família. Meu pai conhece o Brasil inteiro. E a minha mãe também está conhecendo o Brasil inteiro, minhas irmãs também, meus cunhados. Então eu fico feliz de ver a família feliz, satisfeita. Porque se você não unir a família, se houver desagregação na família você não é nada. Você depende dessa união, dessa força, porque com essa energia positiva você consegue passar isso para as pessoas. Isso que contagia. É o que está acontecendo no Aché. Porque o Aché é isso, uma contagia a outra. Essa energia positiva que existe você vai contagiando as outras pessoas. Isso é fundamental na vida da gente. A gente consegue superar qualquer coisa. Não tem obstáculo para a gente.
MP - E como é que você imagina a sua aposentadoria, Emy? Vai voltar para o Rio?
Emy - Não, todo mundo tem uma coisa que eu acho errado. O pessoal fala em aposentadoria, pensa logo em pendurar a chuteira. Eu acho isso errado. Eu acho que as pessoas têm que ter sempre um sonho, um objetivo. Porque se você não tiver um sonho, um objetivo, você morre. O ser humano morre por causa disso, então o ser humano não pode pensar assim. Se você terminou a sua carreira de farmacêutica, você vai fazer outras coisas que te agradam, te satisfaçam. A sociedade exige isso, a sociedade pede isso. Quantas coisas você tem que fazer? Quantas coisas você pode oferecer? Então a gente tem que procurar isso, mas quem vai procurar não é os outros, nós é que temos que buscar. Assim que eu penso.
MP - E seu sonho é fazer o que depois?
Emy - Ah, eu tenho tanta coisa, se você soubesse... eu ainda tenho tanto sonho, tantos projetos, que eu ainda estou assim pensando para ver qual deles eu vou tomar.
MP - Dá um exemplo...
Emy - Mas eu não posso falar ainda porque está tudo em projeto. A hora que configurar, aí eu posso dar um toque. Mas uma coisa é certa. Eu acho que a gente não pode pensar a aposentadoria como um fim de tudo, o trabalho tem que continuar. O que mantém vivo as pessoas são os sonhos. O trabalho, ele faz com que você mantenha a mente ativa. Se você não mantiver a mente ativa, as células morrem.
MP - Você herdou isso do seu pai?
Emy - Eu acho que sim. Eu gosto de passar pensamentos sempre positivos, eu nunca penso no lado negativo. Então eu acho importante no ser humano é isso. Quando for abrir a boca por qualquer coisa pensa primeiro. Ninguém é mau, ninguém nasceu mau. O que pode talvez estar errado são as atitudes das pessoas, mas você pode ajudá-las a mudar, mostrar onde está o erro. Custa ajudar? Não. Isso é grátis, é a coisa mais banal do mundo. Transmitir uma coisa positiva para as pessoas faz bem, você levanta qualquer astral. E a sociedade precisa pensar nisso, porque evita esses drogados. Essas as coisas que estão acontecendo hoje o que é? É falta de entendimento, falta de diálogo dos pais, dos irmãos, das irmãs, dos filhos, é isso que está faltando. É a coisa mais simples do mundo.
Contar sua história MP - A gente já está chegando no fim, Emy, eu queria fazer uma última pergunta. Eu queria saber o que você achou dessa experiência de ter contado um pouco da sua história?
Emy - Eu fiquei bastante honrada e muito feliz por fazer parte da história da empresa, porque jamais isso passou pela minha cabeça. E, por outro lado, eu me sinto um pouco constrangida porque eu nunca fui de contar vida pessoal. Isso é parte da cultura japonesa. Então a gente às vezes se sente constrangida e eu no final eu até me empolguei, (risos) passei umas mensagens... Eu não sei se isso vai de interesse ou não. Não sei se isso é importante. Mas é que eu não gostaria que todo mundo tivesse pensamento positivo, acreditar e gostar da gente mesmo, e passar sempre mensagem positiva para todo mundo. Porque aí você cresce.
Fazer parte da história da empresa, isso é bom, não resta a menor dúvida. Para mim foi muito importante. Fiquei feliz por isso, por ter sido convidada, porque eu não esperava isso, eu nunca esperaria isso. Poder contar do meu pai, que por exemplo ele faz parte da história da agricultura, tanto é que ele já deu depoimento no Globo Rural, na Manchete Rural, na TV Manchete, na TV Cultura, nos jornais. Quer dizer, é importante, as universidades respeitam ele. Ele conseguiu isso, eu também consegui. Isso é uma satisfação que a gente tem dentro da gente, de você saber que você pode. Não é porque meu pai tem uma perna que não é normal que ele não consiga fazer. Ele mostrou a força que pode existir dentro da gente. Por que todo mundo não pode ter? Claro que todo mundo pode ter.
Então você conseguir passar isso para todo mundo, e falar para essas pessoas novas do Aché, que continuem lutando, acreditando que um obstáculo não significa o fim de tudo. Que você consegue transpor, você consegue se tornar um profissional e principalmente um profissional competente, com algo mais, o mundo vai bem. Eu penso assim. Não é verdade?
MP - Muito obrigada pela participação.Recolher