P/1 – Boa tarde, Arthur Carlos, eu queria primeiro agradecer sua presença aqui na entrevista pro nosso projeto Memória Aracruz. Quero que você diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Arthur Carlos Gerhardt Santos, nascido dia 6 de outubro de 1928 em Vitória, por necessidade, porque eu sou de Domingos Martins, mas como não tinha médico lá, na época que minha mãe estava para dar a luz, eu vim nascer em Vitória.
P/1 – E o nome de seus pais e de seus avós ?
R – Otaviano Santos e Elsa Gerhardt Santos e por parte de pai era Ernesto Santos e Deolinda de Almeida Santos. Por parte de mãe Germano Gerhardt e Maria (kil?) Gerhardt.
P/1 – Qual era a atividade profissional de seus pais e seus avós ?
R – Meu pai era tabelião, tinha um cartório lá em Domingos Martins e também era agricultor, meu pai quem introduziu a avicultura industrial aqui no estado. Meu avô paterno era administrador de fazendas, trabalho no estado do Rio, nas fazendas de açúcar; meu avô materno era descendente de alemão, a família veio para colônia alemã de Domingos Martins para exercer atividades comerciais, ele era comerciante.
P/1– Então a origem de um lado da família é alemã?
R – É alemã.
P/1– Vieram quando?
R – Vieram no final do século XIX, já estava estabelecida uma colônia alemã aqui que veio em meados do século XIX em 1830, 1840 foi quando os primeiros colonos chegaram e eles vieram mais tarde, para atender na colônia. Vieram os pais do meu avô e vários parentes para poder exercer atividades ligadas ao comércio, a certas profissões como dentista, farmacêutico etc.
P/1– O senhor tem irmãos?
R – Tenho duas irmãs vivas e uma já faleceu.
P/1– O senhor pode falar um pouco sobre estas irmãs?
R – Há uma diferença muito grande de idade entre nós. De Maria Helena, essa que faleceu, eu era quatro anos mais velho que ela,...
Continuar leituraP/1 – Boa tarde, Arthur Carlos, eu queria primeiro agradecer sua presença aqui na entrevista pro nosso projeto Memória Aracruz. Quero que você diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Arthur Carlos Gerhardt Santos, nascido dia 6 de outubro de 1928 em Vitória, por necessidade, porque eu sou de Domingos Martins, mas como não tinha médico lá, na época que minha mãe estava para dar a luz, eu vim nascer em Vitória.
P/1 – E o nome de seus pais e de seus avós ?
R – Otaviano Santos e Elsa Gerhardt Santos e por parte de pai era Ernesto Santos e Deolinda de Almeida Santos. Por parte de mãe Germano Gerhardt e Maria (kil?) Gerhardt.
P/1 – Qual era a atividade profissional de seus pais e seus avós ?
R – Meu pai era tabelião, tinha um cartório lá em Domingos Martins e também era agricultor, meu pai quem introduziu a avicultura industrial aqui no estado. Meu avô paterno era administrador de fazendas, trabalho no estado do Rio, nas fazendas de açúcar; meu avô materno era descendente de alemão, a família veio para colônia alemã de Domingos Martins para exercer atividades comerciais, ele era comerciante.
P/1– Então a origem de um lado da família é alemã?
R – É alemã.
P/1– Vieram quando?
R – Vieram no final do século XIX, já estava estabelecida uma colônia alemã aqui que veio em meados do século XIX em 1830, 1840 foi quando os primeiros colonos chegaram e eles vieram mais tarde, para atender na colônia. Vieram os pais do meu avô e vários parentes para poder exercer atividades ligadas ao comércio, a certas profissões como dentista, farmacêutico etc.
P/1– O senhor tem irmãos?
R – Tenho duas irmãs vivas e uma já faleceu.
P/1– O senhor pode falar um pouco sobre estas irmãs?
R – Há uma diferença muito grande de idade entre nós. De Maria Helena, essa que faleceu, eu era quatro anos mais velho que ela, de Maria Elisa que é a terceira a diferença de idade minha para ela são dez anos. E para Elsa Maria que é a mais moça são vinte.
P/1– E moram aqui em Vitória?
R – As duas moram.
P/1– Nós queremos que o senhor fale um pouco sobre a sua infância. Primeiro descrevendo a sua e o bairro onde o senhor morava.
R – A minha infância… Até eu começar o ginásio, eu morava em Domingos Martins. É uma cidade muito bonita. Logo no início quando nasci, eu morava na cidade mesmo, depois quando papai comprou propriedade, nós morávamos lá, cerca de um quilômetro da cidade. E foi lá que passei minha infância, frequentando o Grupo Escolar em Campinho.
P/1– Domingos Martins fica a quantos quilômetros de Vitória?
R – 42 mais ou menos.
P/1– E como é que era a casa onde o senhor morava?
R – Era uma casa típica daquela região. Era feita de madeira. Depois bem mais tarde quando já estava estudando engenharia, no Rio, meu pai, numa reforma da casa, modificou fez paredes de tijolo, tinha dois andares essa casa de madeira, muita vidraça; era um ambiente bastante bom e agradável.
P/1– Como era o dia-a-dia da família nesta casa?
R – Meu pai exercia atividade de tabelião, ele passava uma parte do dia lá e outra parte orientando a granja que era dele. Foi nessa época mais ou menos que (eu tinha mais ou menos cinco ou seis anos) meu pai começou a fazer a criação de galinhas para postura e para corte.
P/1– E tinha amiguinhos? E brincavam de quê?
R – Brincadeira normal de criança: futebol, pia (sabe o que é isso, né?), tinha jogos. A comunidade alemã naquela região, a de Domingos Martins era luterana e a de Santa Isabel, uma vila próxima, era católica. As duas igrejas, mais a luterana, fazia muitas atividades para jovens, pras crianças, representações... Era isso.
P/1– A sua família era de qual das duas religiões?
R – Meu avô era luterano, minha avó era católica. Mas como ele era líder da comunidade luterana, minha avó se converteu, mudou de religião, mas a família dela era toda católica.
P/1– E o senhor?
R – Eu fui batizado, na Igreja Luterana, mas depois quando fui estudar em Vitória, morei com uma tia aqui que era tia de minha mãe, eu morei na casa dela e aí eu passei para Igreja Católica. Meu pai era católico.
P/1– Agora a gente queria que o senhor falasse sobre os seus estudos. Primeiro sobre a escola fundamental, quando foi e como era.
R – Foi em Campinho, este é o nome que a cidade tem mas que foi obrigado pela IBGE a ser chamado de Domingos Martins, nós não temos culpa nenhuma.
P/1– Desculpe, esta história eu queria saber.
R – A cidade quando foi criada por imigrantes alemães que chegaram lá, se chamava Campinho. Foi desmembrado do município de Viana, município da Grande Vitória que se estendia até lá. Na época do Getúlio, houve necessidade, aquela democracia do Getúlio, impôs de que não podia ter dois lugares com o mesmo nome, e se chamava Campinho e já existia algum Campinho pelo Brasil afora, teve que mudar e votaram o nome de Domingos Martins, um herói da revolução de 1917, lá de Pernambuco, capixaba, nasceu em Itapemirim, não tinha nada com Domingos Martins, nunca teve lá, coisa nenhuma. Mas foi o nome que nos foi dado.
P/1– Então vamos falar dos estudos.
R – Eu estudei lá no colégio até a quarta série. Primeiro era uma escola mista, todas as classes ficavam no mesmo lugar. Depois quando meu pai foi prefeito, construíram um grupo escolar, aí se dividia as turmas pelo grau que cada uma estava frequentando. Meu pai incentivou os colonos a mandarem os filhos para estudar, aí tinha uma frequência maior. Eu estudei lá até o quarto ano primário, o quinto ano eu vim fazer no Colégio Americano aqui em Vitória; eu ficava na casa dessa tia de minha mãe, eles moravam aqui, era o único parente que morava aqui. Tem uma história interessante, aconteceu uma coisa importante: meu avô quando minha mãe era jovem ele morava em Vitória, por isso é que tinha essa casa onde eu nasci e ele era um comerciante próspero aqui, mas minha mãe ficou tuberculosa, antes de casar, aí eles foram para Domingos Martins, por ter um clima bom, 600 metros de altitude. Eles mudaram para lá para tratar dela. A família ficou lá, a única que ficou aqui em Vitória foi Maquil que era casada com um funcionário do estado e morava aqui, então eu vim morar na casa dela e estudei no Colégio Americano.
P/1– O senhor teria alguma lembrança bem marcante desse período da escola?
R – Para mim foi um período muito agradável, tinha meus colegas, até hoje de vez em quando a gente se reúne, os vivos evidentemente, é sempre muito agradável. Este foi um período muito gratificante para mim. Eu era um garoto do interior de família relativamente pobre, nós distinguíamos lá no colégio aqueles que chegavam de carro e nós não. Hoje eu acho que todo mundo via de carro. Foi muito bom, fiz boas amizades, algumas delas eu mantenho até hoje. Naquelas fotografias que lhe dei, tem uma fotografia da minha turma lá, do Colégio Americano.
P/1– E havia da sua família algum incentivo pro senhor seguir determinada profissão?
R – Não, minha mãe mexia muito comigo quando eu resolvi estudar engenharia, porque quando eu era menor eu queria ser bombeiro de apagar fogo. Eu sempre tive uma vocação para fogo, não para incendiar, mas para apagar fogo. Não teve incentivo nenhum, mas aconteceu uma coisa que me marcou muito obviamente: eu tinha 14 anos quando eu tive uma osteomielite gerada por um micróbio violento que é o stafilococcus Aureus, então dos 14 anos até eu já na escola de engenharia com 21 anos eu fui operado todo ano. Todo fim de ano tinha uma operação para fazer, era um negócio muito doloroso e que me obrigava a ficar parado. Os períodos que eu estava operado eu ficava lendo, estudando. Este é um componente que eu não posso largar da minha formação. Isso me obrigava, naquele tempo não tinha televisão, você não podia ir ao cinema, nem nada, tinha que ficar lendo mesmo. Foi um período que eu li muito. Depois no Rio estudando muito também. Foi isso.
P/1– No período do ginásio o senhor teve essa doença?
R – Foi no ginásio sim. Inclusive até meus amigos do colégio viviam lá no hospital comigo. Eu passei três meses no hospital na primeira vez que eu fui operado. Eles estavam sempre lá. Depois eu fui pro Rio e fiz o último ano do científico no Colégio Andrews, no Rio. Esse problema das operações continuou, todo fim de ano eu tinha que fazer uma raspagem, uma operação qualquer.
P/1– A família se mudou para o Rio?
R – Não, eu morava em pensão lá, um grupo do Colégio Americano resolveu estudar, três fomos estudar engenharia, outros medicina. Naquela época não tinha Universidade aqui no Estado. O único curso superior que tinha era o de Direito e nós fomos estudar no Rio. Um grupo nosso, um primo meu que estudou odontologia, nós todos fomos para uma pensão lá no Rio, ficava na rua Benjamin Constant quase vizinha do templo Positivista (você conhece?). Este grupo estudou lá, nesta época estávamos no último ano do científico, preparando pro vestibular. Eu fiquei nessa pensão e alguns amigos também até nos formar em engenharia.
P/1– Queria que o senhor falasse um pouco mais sobre isso. Por que isso é uma mudança, o senhor mudou de Vitória para lá, como é que foi isso?
R – Eu já tinha sofrido um choque quando vim de Domingos Martins para Vitória. Daqui pro Rio também foi, com um agravante que naquela época tinha muito pouca gente que a gente conhecia no Rio, talvez umas duas ou três pessoas só. Família só uma, isto era bastante marcante porque nós frequentávamos essa família, moravam em Copacabana, nós íamos lá conversar, comer um pouco melhor. Isso era um programa que a gente fazia no final de semana. Depois foi indo mais gente daqui para lá, para postos federais, por exemplo deputado federal, gente do ministério da Agricultura que daqui foi para lá, e aí criou um ambiente melhor para nós capixabas que estudávamos lá no Rio.
P/1– Morava perto do Palácio do Catete?
R – Relativamente perto.
P/1– Teve oportunidade de ver alguma movimentação política?
R – Várias. Aquela época era bastante agitada.
P/1– Lembra de alguma mais marcante?
R – Quando veio a Democratização, quando Getúlio caiu, teve candidaturas à Presidência da República muito marcantes: Dutra, o Brigadeiro, o candidato que o Partido comunista apoiava, que era um engenheiro, Fiuza. Isso tudo foi dessa época, eu me lembro muito que uma vez tinha um comício do Fiuza, no Lago do Carioca, e nós fomos assistir o comício, lá pras tantas nós começamos a perceber que a polícia especial estava chegando, e chegava violenta, nós saímos correndo para Rua Senador Dantas para ir para Glória, para nossa pensão e foi um tiroteio, um beleza. A gente ia correndo, acabava de passar um cruzamento a polícia entrava e fechava.
P/1– Tiveram medo?
R – Bastante. Você nem imagina o que era a ditadura do Getúlio. Vocês que não vieram, são mais moços, era uma coisa impressionante, porque nós vivemos e assistimos o regime autoritário, esse de 1964 que censura as coisas. Getúlio era muito mais grave que isso porque eles não censuravam, eles obrigavam a escrever aquilo que endeusasse o regime e o Getúlio. Tinha o D.I.P., que inclusive atraíram intelectuais da melhor qualidade para trabalhar no D.I.P., isso também marcou muito a formação da gente. Essa tentativa de ver as coisas mudarem no Brasil, que quanto mais muda, mais fica a mesma coisa. Isto é triste… (risos)
P/1– E a escola de Engenharia foi difícil entrar?
R – Foi. A vida da gente tem sempre umas coisas assim, mais ou menos pitorescas quando não, trágicas. Eu estava bastante bem preparado. Naquela época, uma parte do exame era oral. Eu fui fazer prova de física, eu tive um curso muito bom, chamado um cursinho preparatório para Vestibular, muito bom. Por exemplo nós aprendemos cálculo integral, no cursinho, coisa que não era exigida para o Vestibular. Eu fui arguido por dois professores, um era um coronel do exército, que me arguiu sobre cinemática, eu fiz todas as demonstrações com cálculo diferencial e cálculo integral, ele ficou muito admirado deu estar sabendo, fez dez mil elogios para mim, eu fiquei satisfeito. Aí o outro que eu fiz o exame, me perguntou mais sobre a parte de termodinâmica, eu não fui bem. Ele virou para mim e disse: “Eu vou lhe dar sete, porque você vai ter dez lá e vai passar de qualquer maneira.” E esse cara era o terror, o pessoal chamava ele de “capa preta”, era o terror do vestibular. Aí, eu disse tá bem. Tirar dez com um e sete com outro, tá bem. Passou. Eu fui para pensão. Chegou lá, no final da tarde. O pessoal chegou lá, e disse: “Arthur você foi reprovado”. Eu digo: “Como?” – “Aquele primeiro que te arguiu te deu zero”. Aí, nós todos saímos, eu mais uns três companheiros e fomos na casa do Coronel, ele morava na Tijuca. Quando ele me viu: “Não você foi muito bem!” “Tudo bem mas o senhor deu zero.” “Não pode ser, é um engano.” Chegou lá tava escrito no livro que ele anotava: Zero. Ele disse “eu realmente me enganei, você tirou zero”. Eu digo: “e agora, fiquei reprovado!” Eu até vim embora para casa, já tinha terminado as provas todas. Aí lá pras tantas, os colegas que ficaram lá no Rio, que ainda estavam batalhando lá, esperando resultado. “Arthur, vem pro Rio porque nós fizemos um pedido na Congregação da Universidade para baixar a nota para três, para você poder passar”. E aí baixaram. Eu tinha três e meio, passei. Entrei na Escola de Engenharia. Vê como as coisas são complicadas. Eu devo a minha entrada lá, nesse ano aos meus colegas, que batalharam para baixar a nota. É lógico que deram testemunho, e muita gente foi beneficiada.
P/2 – Arthur, além de estudar para passar, no vestibular, o que você fazia com seus amigos no Rio de Janeiro?
R – Eu sempre tive uma dificuldade grande com meus amigos, eu nunca fui muito fã das coisas que eles gostavam. Por exemplo eles gostavam muito de futebol. Eu só passei a gosta de futebol quando eu vejo na televisão. Não ia a Estádio, não me amarrava nisso. Eu gostava muito de ler e de cinema. No meu período de escola de Engenharia eu fazia crítica de cinema, lá no Rio, num jornal. Nós tínhamos um amigo, eu tinha um colega de Universidade, ele estava um ano na minha frente, ele tinha um tio que escrevia no “O Jornal”, que era o Jornal do Diário, associados, e nós ajudávamos a ele. Tanto eu como o Tinoco, de fazer notas, chamar atenção para certas coisas. E às vezes até escrevia. Eu frequentava muito cinema, eu era fanático. Infelizmente hoje eu não posso ir tanto quanto eu ia naquela época. Para mim era a diversão mais… Ainda mais porque pelo fato deu estar sendo operado sempre, eu não tinha saúde para praticar esporte. Eu só vim praticar depois dos 25 anos, por aí.
P/1– E qual jornal que publicava seus escritos?
R – “O Jornal”. Quase nunca com o nome da gente. A gente fazia os esboços da crônica e o Pedro Lima escrevia a crônica. Nós éramos auxiliares dele, voluntários. A gente gostava muito de cinema. Naquela época foi fundado no Rio um Clube de Cinema, não me lembro o nome dele, quando fundou foi o Alex Vianna e o Rui Bacelar, que escrevia no “Correio da Manhã”. E este clube era muito bom, tinha exibição de filmes, tinha debates, discussão, me ajudou muito a entender um pouco de cinema.
P/1– E que gêneros o senhor gostava mais?
R – Filme bom, independente do gênero.
P/1– Me diga um.
R – O faroeste, comédia, tudo...
P/1– No tempo da Faculdade de Engenharia, o senhor se formou...
R – Nós fizemos um clube de cinema na Faculdade de Engenharia.
P/1– E como é que era?
R – Os filmes que a gente não conseguia ver no outro, passava lá. Tinha episódios gozadíssimos com isso. Uma vez, quando eu já tava na CST como presidente da empresa eu fui para Itália para discutir com os sócios depois do expediente: “Arthur, o que você vai fazer?”, “Eu vou ao cinema”, eu tinha visto no jornal que ia passar um filme do _________, em filme mudo do ____________ no cineclube da Escola de Engenharia de Roma. Eu falei: “eu vou assistir esse filme”, “Você tá maluco?” Naquela época o Aldo Moura tava raptado, então todo mundo tinha segurança, era um negócio terrível em Roma. Até quando eu cheguei lá eu falei para um amigo: “Vocês estão aí, tranquilos, e o negócio do Aldo Moura, ele tá sumido aí, e tal?” Ele disse: “Arthur, essa cidade já viu Nero, já viu Tibério, não se comove com essas coisas”, “Está certo!”. Mas eu resolvi ir ao cinema lá no Clube de Engenharia. O motorista me pegou lá e me levou. Quando eu entro, era um cineminha, não era maior que este estúdio aqui. E tinha uma escada muito íngreme. Não tinha outro lugar a não ser sentar na escada. Quando eu sento e olho, tinha uns dez gorilas atrás de mim para me dar proteção. Lá, a universidade era o foco da Brigada Vermelha. Eles estavam todos preocupados, deles me raptarem, eles não iam me raptar. Estavam raptando as pessoas importantes da Itália, não a mim.
P/1– E no tempo da Faculdade de Engenharia, além do cinema, dessa crítica do cinema e além das leituras, tinha tempo para namoro?
R – Sempre tem. Não tinha problema não, se achava tempo para isso. Na minha rua, tinha uma senhora que fazia muito relações públicas de homens. E a gente frequentava muito a casa deles. Lá era o ponto de encontro com as moças da região. Na minha rua tinha uma vantagem muito grande sobre o ponto de vista de namora, porque nós morávamos numa pensão que só tinha homem, mas quase em frente tinha um pensionato de freiras que só tinha mulher, o que ficava relativamente fácil o intercâmbio.
P/1– Iam a bailes?
R – Sim. Eu nunca fui muito de bailes, mas para namorar a gente ia. A minha esposa reclama muito que no período de namoro eu ia muito a baile com ela, depois que casei ia pouco.
P/1– O senhor conheceu-a nesse período?
R – Não, eu conheci quando voltei para Vitória.
P/1– E depois de formado, o senhor já teve logo uma atividade profissional?
R – Eu dei muita sorte na vida, no último ano da escola de engenharia, eu trabalhei como estagiário no DNER, Departamento Nacional de Estradas e Rodagens e fui diretamente subordinado a um engenheiro muito bom, muito competente, muito boa pessoa, que depois foi Secretário da Câmara durante muitos anos, depois foi Presidente do Tribunal de Contas da União, Luciano, um camarada muito bom e eu aprendi muito com ele. E nós dois éramos subordinados a um chefe que era esquisitíssimo. Para você ter uma idéia, ele costumava dar despacho de duas páginas em latim, ele era engenheiro. O Luciano me chamava: “Arthur, vamos procurar entender isso aqui, que o Dr. Clodomiro fez.” A gente tinha que destrinchar aquele latim para poder saber o que ele queria. Foi um período para mim muito gratificante, eu fiz uma porção de coisas, que me ajudaram muito na vida, em termos de estudo, de contato. Eu sempre gostei muito de matemática, por isso eu fui estudar engenharia e me deram desafios muito grandes na área de matemática, nesse período e eu tive a oportunidade de trabalhar nisso. Quando eu me formei, primeiro eu morava mal no Rio, morava em pensão; é um negócio horrível, são três quartos, nem todo mundo é organizado. É um negócio muito complicado, vocês não conhecem isso porque a geração nova nunca morou em pensão. Mais uma coisa: o D.E.R. daqui estava se estruturando, tinha um diretor geral, que era um camarada muito competente, avançado, com boas idéias, ele tava criando uma estrutura aqui que o salário era melhor que o do D.N.E.R.; eu me senti atraído e vim trabalhar aqui. Só para dar uma idéia do que era Vitória no Espírito Santo naquela época: quando eu tava para ir estudar engenharia no Rio, eu tinha um tio afetivo, que não era parente nosso, mas eu chamava ele de tio, ele e a mulher, é que eu gostava muito dele. Quando eu vim morar em Vitória eles me deram muito suporte; ela foi professora e morou na casa da minha avó lá em Domingos Martins; ele é advogado das grandes empresas daqui do estado, uma pessoa muito boa. Quando eu tava para ir embora ele disse: “Arthur, você conhece os engenheiros daqui?” eu digo: “Eu conheço dois que davam aula no Colégio Americano, dois engenheiros da Vale do Rio Doce: Dr. (Dereza?), Dr. Quintino.” Ele disse: “Tem mais três, eram cinco engenheiros, mas tem um em Cachoeira do Itapemirim que é meu amigo, eu vou trazer ele para almoçar aqui, você vai almoçar com ele e vê se…” É um negócio doido, né? Você tem um estado desse tamanho tinha cinco ou seis engenheiros, sete, sei lá, mas um número assim muito reduzido. Quando (Dereza?) esse diretor do D.E.R. reformulou o D.E.R., no governo do _________ Santos Neves, ele trouxe muitos engenheiros para cá, capixaba só veio eu; meus colegas capixabas nenhum deles voltou, todos ficaram no Rio. Eles trouxeram engenheiros de Minas, da Bahia, tinha um Grupo muito seleto aqui, muito bom. Essa foi a razão de eu vir trabalhar em Vitória. Fiquei aqui, muito interessante é: o tio que eu tinha morado na casa dele, tinha morrido, mas a viúva tava viva e fez questão que eu morasse com ela. Eu vim morar com ela aqui, no começo da minha vida profissional.
P/1– Então assim que o senhor se formou, veio para cá trabalhar no D.E.R., e como é que o senhor resolveu em algum momento ir pros Estados Unidos?
R – Logo depois, em 1954 ou 1955, eu vim para cá em 1953, a Escola de Engenharia estava sendo criada, aí eles me chamaram porque eu tinha estudado bastante mecânica dos fluídos e me chamaram para dar aula de mecânica fluídos. Eu fiquei dando aula durante vários anos e trabalhando no D.E.R.. Quando o Dr. Carlos Lindemberg foi eleito governador sucedendo um governo desastrado que a gente teve aqui, do Francisco Lacerda de Aguiar, ele me chamou para ser assessor dele, eu larguei o D.E.R. e fui trabalhar com ele no gabinete. Aí comecei a sentir que precisava de evoluir. Fui melhorar meu inglês, meu francês e estudar mais, principalmente economia que a gente teve um curso... Apesar de ter tido dois professores espetaculares de economia no curso de Engenharia, mas era um ano só que a gente estudava lá. Eu fui aluno do Dias Leite, que foi ministro, com quem eu fiz uma muito boa amizade e teve uma influência muito grande na Aracruz, depois eu vou chegar lá. Eu fiquei neste período do Dr. Carlos, como assessor dele. No final o diretor do D.E.R. que teve uma desavença com os políticas, e no último ano de governo eu assumi a direção geral do D.E.R.. O Chiquinho que tinha feito um péssimo governo, e o Dr. Carlos tinha consertado a casa, se elegeu novamente governador. Aí, eu me afastei do governo porque as vinculações eram com outro pessoal que tinha tentado consertar o Estado. Nessa época foi fundada a Federação das Indústrias, aqui em Vitória. O Américo Buaiz, que foi o primeiro presidente, me chamou para organizar a parte técnica da Federação. Ele pediu ao governador, que me botou à disposição da Federação e fiquei trabalhando lá. Aí tem uma coisa tragicômica: um dia tô lá na Federação das Indústrias, me telefonou o Secretário de Governo do Francisco Lacerda de Aguiar, que era um homem muito bom, seu Benjamim me ligou e disse assim: “Seu Arthur, chegou aqui um telegrama da embaixada Americana, e ninguém sabe inglês aqui, dá um pulinho aqui e traduz este telegrama para a gente.” Aí fui lá no Palácio e li o telegrama e disse: “Eles estão ofertando aqui, a ONU (estava em inglês eles acharam que era da Embaixada, não era) ofertando uma bolsa de estudo pros EUA, um curso de Administração de Projetos e Desenvolvimento que era uma coisa que não tinha formação no Brasil.” “O quê que eu faço” Dr. Benjamim falou. Eu digo: “Eu acho que o Estado não pode perder essa chance.” Ele falou: “Eu vou falar com o governador, vamos ver o quê acontece.” Passado uns dias, ele me liga novamente e me disse: “Arthur, não tem ninguém para ir, porque ninguém sabe inglês. Dá um pulinho aqui.” Eu fui lá ele me disse: “Vamos fazer o seguinte, a gente tem um prazo para fazer a inscrição, você se inscreve e a gente reserva a vaga e depois…” eu não queria ir porque a minha esposa estava grávida, eu não queria sair daqui, passa uns dias ele me chama e disse assim: “Tem uma prova para ser feita.” “O senhor não arranjou ninguém ainda?” “Não, mas eu tô vendo aí. Tem um rapaz na Secretaria da Agricultura que talvez possa ir. Até um primo meu, que trabalhava na Secretaria e tinha estudado nos EUA....” eu falei: “Manda o Jorge aí.” “Ah! Mas o Jorge já foi, e tal, não pode.” “Tá bom!” Depois o tipo de formação eles pediram que fosse engenheiro ou economista. Aí eu falei: “Tá bem, e a prova?” “Vem aí um técnico fazer a prova. Você faz a prova, depois você desiste.” Eu fiz a prova. Resultado da prova foi que eu passei em primeiro lugar, do Brasil inteiro. “Você tem que ir.” Meus amigos todos foram lá, falaram com minha mulher, eu acabei indo. Foi assim que eu fui tirar esse curso nos EUA....
P/1– Conta um pouco sobre isso, foi muito diferente além do choque de morar... A diferença entre Pittsburgh e Vitória?
R – A diferença maior... Primeiro que Vitória é muito melhor, segunda coisa, a grande diferença que senti foi nos hábitos. Assim coisas simples: aqui você para conseguir um telefone você levava no máximo dois anos. E tinha que pagar caro, recebia ação da telefônica e tudo. E tava estudando lá e o grupo de brasileiros que chegou lá junto comigo, e um americano que estava no meu curso falou: “Arthur, vamos alugar um apartamento.” “Vamos.” Nós três era mais barato que morar em pensão, lá era muito mais chique mas era uma pensão. Aí nós alugamos um apartamento. Quando nós alugamos ele disse: “Vamos botar um telefone aqui?” “Você tá maluco. Vai levar dois anos pro telefone chegar.” “Não, senhor.” Lá da Universidade ele foi pro telefone público, ligou, no dia seguinte o telefone estava instalado. Isto para mim foi um choque. Outra coisa foi o seguinte: nós alugamos o apartamento de um médico _____ aquele que só mede óculos, não é oftalmologista. Alugamos o apartamento dele, quando chegou no final do primeiro mês, eu falei assim: “Como é que nós vamos pagar, temos que ir lá pagar ele?” O (Glenners?) o americano que morava com a gente: “Não, nós vamos encher um cheque e a gente manda, ele vai.” “Não tem recibo, não?” “Não, recibo é o cheque que você deu.” Eu digo: “Como?” “O Banco vai te devolver o cheque descontado.” “Esse negócio tá estranho!”. E realmente foi assim, no final do mês a gente recebia o envelopinho com os cheques dentro. Essas coisas que mostravam a praticidade, que não é da nossa tradição ibérica foi a coisa que mais me chocou lá. Mas não tive dificuldade nenhuma de morar lá.
P/1– O senhor tava lá quando aconteceu o movimento militar aqui?
R – Não, foi um pouquinho antes de eu ir. Foi uns três ou quatro meses antes.
P/1– E o senhor lembra se quando estava lá, havia alguma repercussão, como os americanos viam isso, lá?
R – Muito. Tinha bastante repercussão, principalmente a imprensa do York Times, em qualquer cidade dos EUA você lia o New York Times, os jornais locais não davam muita importância. Eu morria de rir quando o noticiário da televisão, quando tinha uma notícia do exterior era de Illinois, o negócio mais provinciano que eu já vi na minha vida era o noticiário da televisão local. Mas os jornais sim, faziam muito comentário. Apareceu uma vez na televisão o Carlos Lacerda. Ele fez uma peregrinação no Mundo defendendo o movimento militar. E lá nos EUA quando ele fez, apareceu na televisão. Nós assistimos a defesa que ele fazia do movimento militar.
P/1– O senhor chegou a ficar nos EUA, durante um ano ou mais que isso?
R – Não, foi seis meses.
P/1– E depois quando voltou, como é que continuou sua trajetória profissional?
R – Aí foi outra coisa cômica, porque o governo era do Francisco Lacerda Aguiar. Fui lá, me apresentei. Primeiro tem um episódio aí, folclórico: logo no início que nós chegamos lá na Universidade Pittsburgh, o __________ da nossa escola me chamou e disse assim: “Eu vou receber uns banqueiros brasileiros domingo de noite para um coquetel e eu queria que você fosse para ajudar a conversar porque eu era o melhorzinho em inglês da turma de brasileiros que tava lá. Eu fui lá, e uma das pessoas que tava lá, dirigiu para mim e: “Você que é o Arthur Gerhardt Santos?” eu disse: “Sou.” Ele disse: “Você tá aqui no meu lugar.” “Como?” “Eu arranjei aquela bolsa pro Espírito Santo, ele nunca teria aquela bolsa, porque eu acertei com o governador que a bolsa era para mim, aí o governador não cumpriu a palavra, veio você.” Eu digo: “Tá bom, eu não posso fazer mais nada, já tô aqui.” Esse cara ficou muito meu amigo, semana passada eu tive com ele ____ Paulo ________. Mas teve esse episódio nessa história. Quando eu voltei, me apresentei ao governador, e o governador se lembrou da história do Paulo: “Ah! Fiz um papel danado com o Paulo, meu amigo...” ele me disse: “Eu queria que você trabalhasse como assessor do Secretário do Planejamento”. O Secretário de Planejamento era um coronel reformado, muito boa pessoa, mas que de planejamento não entendia absolutamente nada. Depois de conviver lá uma semana, eu voltei para Federação das Indústrias, que eu vi que lá não ia dar nada, e continuei durante o período do governo do Francisco Lacerda de Aguiar, na Federação das Indústrias.
P/1– E a Cia de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo? Eu queria que o senhor falasse para gente o quê que era.
R – Vai demorar a chegar lá.
P/1– Então fale o que vem antes.
R – Depois, nesse governo do Francisco Lacerda de Aguiar houve uma série de denúncias contra ele, coisas que eram rotina no governo, ele tinha muitas ligações com os militares, principalmente o pessoal que assessorava o Castelo Branco. Ele tomou como Secretário um senhor chamado Rubens Rangel que era Presidente do P.T.B. aqui. O senhor Rubens era uma figura muito interessante. Era um homem sério, Presidente do P.T.B., extremamente conservador, coisas típicas da política brasileira, e ele que já me conhecia do outro governo do Francisco Lacerda de Aguiar, do D.E.R., me chamou para ser assessor dele. Federação e lá assessorando o Rubens Rangel, que nessa época era vice governador. Ele foi secretário no primeiro governo do Francisco Lacerda de Aguiar e no segundo governo ele era o vice governador. Eu assessorava ele numa porção de coisa. Um dia, eu tava na casa do meu pai lá em Domingos Martins, com mulher, filho, me aparece a Polícia Rodoviária e disse: “Dr. Arthur, o vice governador, Rubens Rangel, quer falar com o senhor com urgência, pro senhor descer para Vitória. Eu tinha uma caminhonete Studebaker, botei a família toda nela e vim para Vitória. Fizemos uma reunião, ele estava na casa de um filho que morava na praia, ele não morava aqui não, morava no _________. Nós fomos para lá, tava cheio de políticos na casa desse filho dele. Quando eu cheguei o Rubens Rangel me chamou para um quarto, nós ficamos conversando, ele me disse o seguinte: “Olha, o Chiquinho vai renunciar hoje à noite, eu vou assumir o governo. Eu quero fazer um secretariado, mas não quero essa politicada comigo não. Esse pessoal foi que levou o Chiquinho pro buraco e eu não tô querendo saber disso. Eu queria fazer um secretariado de gente que…” Ele fez uma coisa que me comoveu muito. Ele disse assim: “Eu tenho um ano de governo, era o resto do mandato, e eu quero acertar as finanças e a vida do Estado neste ano, pro meu sucessor pegar a casa arrumada.” Eu falei: “Tudo bem.” Chamei mais dois amigos que ele conhecia também o (Alvindo Gart?) e o Zé Carlos, que também era engenheiro do D.E.R. e nós três sentamos com ele e fizemos o secretariado dele. Dando sugestões, ele aceitando, e no dia seguinte o Rubens Rangel assumiu o governo do Estado, eu fiquei com a secretaria de Obras e de Planejamento. A secretaria de Obras é a que tinha mais problemas como sempre. Quando não tem obra não dá para ganhar dinheiro, ficamos durante um ano consertando a casa. Nessa época é que foi feita a erradicação dos cafezais improdutivos no estado, e foi um choque porque isso não é assim como nós exploramos não.
P/1– Então como é que é?
R – Eu vou explicar: a decadência do café já vinha há muito tempo. Na Federação das Indústrias, quando eu estava lá nós fizemos uma pesquisa e constatamos que no Sul do Estado onde os cafezais eram mais velhos você já tinha praticamente acabado com o café. Tinha uma fazenda, “Castelo”, que não era em Castelo era em outro município, ela quando tinha o plantio de café, tinha duzentas famílias trabalhando, passou para pecuária, tinha cinco. Esse contingente, naquela época Vitória não podia atrair porque não tinha nada aqui, esse contingente foi ser pras favelas do Rio de Janeiro. Aquele estudo que o padre Lebret fez mais ou menos nessa época mostrava isso, que o terceiro fornecedor de contingentes pras favelas do Rio era 1º Rio de Janeiro, 2º Minas Gerais, 3º Espírito Santo. Era a decadência do café. Logo que Rubens Rangel assumiu, o Presidente do I.G.C., chamava-se Leônidas Bório, Leônidas veio aqui a Vitória e falou com o governador: “O Instituto tá querendo ajudar, nós viermos aqui dez vezes falar com o governador e não resultou em nada.” Aí o governador me chamou e nós conversamos com o Leônidas e montamos um grupo para estudar no Espírito Santo, e ver o que podia ser feito para reerguer o Estado. Estes estudos foram financiados pelo Gerca, Grupo de Erradicação dos Cafezais, esse grupo forneceu recursos para se fazer esses estudos. Esse conjunto de estudos é que foi a base da Companhia do Desenvolvimento que foi criada no governo seguinte, de Cristiano (Vianna?) Lopes. Tava tudinho preparado, nesse ano de governo de Rubens Rangel se arrumou a casa, se preparou essas coisas pro Cristiano dar continuidade.
P/1– O senhor foi o primeiro Presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico?
R – Foi.
P/1– Como é que foi isso, os grandes projetos estão ligados a essa Companhia?
R – Não no início. Isso evoluiu, depois seguindo o exemplo do Paraná que tava mais adiantado nisso, nós transformamos a Companhia num Banco de Desenvolvimento e aí foi a sede de todos os estudos que se fez com um corpo técnico da melhor qualidade, que facilitaram a geração desses projetos. Aí teve uma porção de coincidências boas pro Estado. O Estado do Espírito Santo não conseguia nada, um quadro parecido sem o que acontece hoje, por causa da pouca importância política do Espírito Santo no contexto do Sudeste. Nós temos dez Deputados Federais, enquanto você tem a bancada de Rio, São Paulo, até da Bahia, que tem muito mais prestígio do que nós. Então, muitas das coisas que aconteceram nesse período, se fosse um período com Democracia não teria acontecido. As pessoas políticas teriam levado para outro lugar. Isso é uma constatação, não é uma ideologia _______. (riso) Vou dar um exemplo: a Aracruz, nessa época do governo do Rubens Rangel foi que se começou (Dias Leite), a desenvolver a idéia dos incentivos fiscais para plantio de floresta. Eu me recordo, que Raimundo Mascarenhas, que tinha sido meu companheiro, logo depois que eu vim para cá, vários desses engenheiros que foram trazidos naquela leva, foram convidados e foram para Vale e eu não fui. Inclusive o Eliezer, que era o líder na época, insistiu muito comigo, somos amigos até hoje, mas eu não fui para Vale. Eu mexia com eles e dizia que engenheiro ferroviário era enferrujado, eu não queria ser engenheiro enferrujado, mas tudo bem. Numa reunião, lá na casa de hóspedes da Vale, nós estávamos conversando, o Raimundo Mascarenhas que era o Presidente da Vale, na época, o Dias Leite, eu, trocando idéias e obviamente falando em incentivo, nos começamos a formatar como é que podia ser uma política de incentivo para recuperar áreas degradadas que o Brasil tinha, até hoje tem, como floresta artificial e permitir a criação de atividades de exportação de madeira, ou de outra utilização para madeira. Isto estava na cabeça de todo mundo. Outra coisa que era óbvia: aqui no Estado, já existia estudo desde o final da década de 1920, mostrando que o melhor lugar de localizar uma siderurgia era na costa do Espírito Santo, porque você tinha o trem que trazia o minério das minas e tinha todo o mercado mundial para você exportar o produto siderúrgico. Era preferível exportar produto siderúrgico do que minério, mas nunca se conseguiu fazer siderurgia aqui. A siderurgia na época do Getúlio foi feita no estado do Rio, tem justificativas porque ficava perto dos dois mercados consumidores maiores, mas talvez não tenha sido só essa justificativa, tem o problema político do Amaral Peixoto ser casado com a filha do Getúlio ________(riso). Depois quando se criou a Usiminas, o peso político de Minas Gerais não dava outra alternativa. Eu me lembro, eu já era engenheiro aqui em Vitória e a quantidade de japoneses que vinham aqui insistiam que tinha que ser junto ao mar, para exportar, mas não teve jeito, foi construída lá, no interior de Minas Gerais e a Cosipa então é um erro terrível, porque ele foi colocada por pressão política paulista num lugar que não devia estar. São Paulo devia de ter usinas acabadoras de aço e não geradoras. Por isso vive em crise até hoje. Isso eram idéias que viviam. Quando eu fui escolhido governador, eu não era político, não era meu projeto de vida, eu disse pros amigos que tiveram certa influência na minha escolha: “Olha, eu tô entrando para modificar, para continuar no status quo não é minha missão. Não tô, aqui para isso. Não quero fazer carreira política...” “Ah, não, você depois se candidata a senador.” “De jeito nenhum, não nasci para isso.”. Então, com a experiência que a gente tinha adquirido do Banco do Desenvolvimento, lidando com o andamento desses projetos, toda evolução que teve a concepção da Aracruz, o que a gente tinha de informação da Vale do Rio Doce, do mercado que ela atingia no mundo inteiro, a amizade minha com o Eliezer, o Raimundo, com Dias Leite, esse quadro todo que foi se abrindo, tava claro que uma das metas era fazer uma siderúrgica grande aqui. Foi assim que a coisa se desenvolveu.
P/1– Antes do senhor chegar a Governador do Espírito Santo, me parece que o senhor teve experiência em uma, iniciativa privada, Diretor Superintendente da Real Café.
R – Não, não foi não. Deixe eu te explicar o que foi isso. Veja como são as coisas: Um dos estudos que o Banco de Desenvolvimento fez, mostrava que uma das coisas que podia melhorar a rentabilidade dos cafés capixabas era botar uma fábrica de café solúvel. Aí, o governador que era o Cristiano, concordou que a gente devia chamar os exportadores de café para serem sócios do empreendimento. Vou deixar bem claro o que a gente tava pensando. Nesse levantamento que falei que fizemos na Federação das Indústrias, mostrando como era a socioeconomia do estado, eu chamei um amigo meu que é sociólogo, ele veio fez uma análise dos questionários e chamou atenção para uma coisa que nós capixabas não tínhamos percebido apesar de tá na casa: é que de vinte em vinte anos não tinha nenhuma empresa que fosse líder que continuasse no café. Quem era líder em 1920 não era em 1940; quem era em 1940 não era em 1960. O que mostrava uma instabilidade muito grande de você ter uma cultura que é commodity, sujeita a variações de preço mais estapafúrdias que o mercado coloca, pelo menos colocava, agora não é mais tanto. Isso levava a gente a procurar saída pro problema do café. O café ficou diagnosticado na crise da erradicação que a vocação capixaba por café era nos terrenos entre 400 a 800 mil metros de altura, então era uma área restrita, que poderia dar café de qualidade. Foi mais ou menos a política que o governo seguia no início. Mas o Brasil estava se preparando para industrializar o café, fazer café solúvel. Foi na época que foi criada a Iguaçú, a Cacique, a Brasília e todas as outras. E, como o relacionamento que nós tínhamos com IBC que quem dizia para onde íamos era o IBC se conseguiu localizar uma aqui no estado, aí ou você fazia com capital de fora ou com o daqui. Nós achávamos que não era um investimento cavalar, poderia ser feito com as poupanças locais. Fizemos várias reuniões com o pessoal do Centro de Comércio do Café convidando eles a participar da empresa, mas não acreditavam. Sabe, o comerciante para se transformar em industrial é uma transformação difícil. A solução que nós demos com toda participação do governador foi do Banco tomar as ações iniciais, de fazer projeto, fazer o investimento e ir chamando os exportadores para se associarem e ir tocando o projeto. Foi o que nós fizemos. No final os comerciantes não aceitaram, não era da cultura deles ser industrial, só um que foi o Tristão que ficou sócio. Então, quando eu lá para tantas da vida da empresa, o capital maior era do Banco do Desenvolvimento e o Tristão era um sócio menor, depois paulatinamente foi se passando as ações pro Tristão. Nesse período o Diretor Superintendente era o Presidente do Banco. Foi nessa época que eu fui Presidente da Real Café.
P/1– Quando o senhor foi Governador do Estado do Espírito Santo como foi essa experiência?
R – Eu não tenho arrependimento suas se perguntar se eu quero repetir eu não quero não. A pouco tempo que o Senador Camata tava falando comigo: “Arthur você… Você é maluco tá querendo se candidatar outra vez depois que Elsio se candidatou”. Eu falei: “Eu só conheço um que foi governador e não quer ser mais, você eu desconfio que qualquer hora você vai ser outra vez.” Mas foi uma experiência para mim muito boa. Não foi choque porque eu tava com um experiência de governo. Eu trabalhei no DER; fui Diretor Geral do DER; fui assessor do governador; fui assessor de vice governador na época do ___________, depois fui Secretário de Estado, Presidente de Banco do Desenvolvimento dentro do estado, isso tudo me criou experiência para eu poder enfrentar a tarefa de governar o Estado, e me deu mais uma coisa que me serviu muito: eu não tive rejeição da classe política por essa experiência que eu tinha tido no Banco, na Secretaria, de ter trabalhado com eles.
P/1– Qual foi seu maior desafio como governador?
R – É um desafio que a gente estava continuando do governo do Cristiano, que era de erguer o Estado. Principalmente o problema do café. Logo no início do governo teve um Congresso do Café aqui em Vitória, porque como o Espírito Santo tinha sido o estado que mais tinha padecido com a erradicação, proporcionalmente, porque praticamente 100% dos cafezais capixabas foram destruídos nessa época, o Congresso foi aqui. Aí eu enfrentei teses, eu já era governador, o presidente do I.B.C. nesta época já não era o Leônidas, era um industrial de São Paulo mas que nasceu no Espírito Santo, em São Mateus, a família mudou para lá, ela se criou e desenvolveu lá. Mas a tese que era defendida era a seguinte: no Espírito Santo não tem que plantar café, aqui é um lugar que não dá café de boa qualidade. Tinha a famosa bebida Rio que era uma bebida muito ácida. Eu tinha um Secretário da Agricultura, muito competente, Ivan (Shawder?), Ivan me disse: “Isso não é assim não, aqui pode dar café bom, é só plantar direito.” E nas zonas que não dá café bom, vamos plantar café africano Conilon. Essa idéia se formou no grupo do governo, de que a gente podia tentar fazer um plantio de Conilon. Eu fui falar com I.B.C. que me disse: “Arthur, de jeito nenhum o Brasil não pode plantar Conilon.” “Não pode por quê? Proibido?”, “Proibido não é, mas o I.B.C. não pode ajudar porque tem a doutrina dos paulistas, do paranaenses e dos mineiros que nós só temos que plantar arábica de boa qualidade”, eu digo: “Tá bom, deixa comigo, se vocês não podem me prenderem eu vou plantar Conilon”. Aí fez acordo com três prefeituras do norte do Estado, eles produziram as mudas e nós começamos a plantar Conilon. Hoje nós somos os maiores produtores de Conilon do mundo. Tem mercado, hoje você não toma nenhum café no mundo que não tenha uma parte de Conilon. Nele, porque o índice de extração dele é maior, o índice de cor dele é maior, e ele se mistura com os outros cafés de melhor qualidade. O café Colombiano que você anuncia nos EUA, como um café maravilhoso, leva no mínimo 40% de Conilon nosso ou da África. Quando o pessoal fala assim: “As indústrias que foram criadas aqui criou muito emprego.” Criou, mas não foi tanto. O que criou emprego foi o café. O plantio do Conilon criou no mínimo mais de 60 mil empregos. Essa foi uma batalha que a gente venceu contra as autoridades locais. Um dos líderes da bancada paulista que defendia as teses de não se plantar no Espírito Santo era o Herbert Levy, que tinha um peso enorme sobre ponto de vista político. Ele fez um discurso aqui no Teatro Carlos Gomes, que deixava todos nós, capixabas, envergonhadíssimos mostrando a desgraça que era o café capixaba ______ (riso) graças a Deus vencemos. O desafio grande era esse: recuperar a economia do Estado. Logo no início do governo ficou claro que a Aracruz era um projeto viável, não mais para exportar ships de madeira mas para fazer celulose aqui, aí minha ligação com Dias Leite, Eliezer, Raimundo, me levaram a conhecer Lorence. E lá pras tantas ele me pediu, eu já era governador, nós fizemos uma viagem à Escandinávia, na Suécia e Noruega para mostrar que o Governo do Estado dava apoio ao projeto desse tipo, para ajudar a trazer a Billerud que era quem tava dando tecnologia. No início do projeto. Graças a Deus deu certo, né, gente. Tive em Portugal para ver as instalações que a Billerud tinha lá na Figueira da Foz foi uma boa jogada. Aí começou a discussão Nacional da Siderurgia. Com a ajuda do Dias Leite, que era ministro, a gente foi trabalhando junto ao Governo Federal da necessidade de racionalizar essa produção de aço brasileiro e o Brasil passar a ser um significativo exportador de aço, não tinha sentido a ficar exportando só minério de ferro e não exportar aço. Aí, contamos com a compreensão e a visão clara que Pratini teve do problema. Pratini, Dias Leite, eu ajudei um pouco, conseguimos convencer o Presidente Médici a que repensasse esse problema da Siderurgia. Nessa época foi criada a SIDERBRAS. Ela foi criada originalmente para construir a Usina aqui em Vitória, tanto é que o decreto da criação da SIDERBRAS foi assinado aqui no palácio. Veio o ministério todo e a assinatura foi feita aqui. Foi uma decisão do governo, não sei se foi no do Médici ou no governo seguinte que incorporaram, ela passou a ser dona de todas as siderúrgicas brasileiras estatais, mas no início ela foi criada para fazer CST. Esses dois projetos foi um marco muito grande na evolução do Parque Industrial e até diria da vida Capixaba, cultural e tudo mais.
P/1– Arthur, eu quero agora que você fale um pouco sobre a Aracruz, quando ela era Aracruz Florestal e transformou-se e, Aracruz Celulose, eu acho que foi durante seu governo. Mas antes de você responder você quer fazer algum intervalo?
R – Queria uma aguinha.
(troca de fita)
P/1– O senhor era Governador do Espírito Santo quando houve essa transformação da Aracruz Florestal em Aracruz Celulose e o senhor participou, acompanhou isso?
R – Acompanhei muito de perto, como eu disse a você, eu cheguei a fazer essa viagem para conversar com o pessoal da Billerud na Suécia justamente dentro do espírito de reforçar a estrutura que pudesse viabilizar a construção da fábrica. Eu tinha dois grandes amigos no Governo Federal, um era Ernani Galvêas, presidente do Banco Central e outro, era Marcos Vianna. Você deve ter entrevistado os dois ou vai entrevistar, porque todos dois são figuras importantes da história da Aracruz.
P/1– Ernani já entrevistamos.
R – Acho que deve entrevistar também Marcos. Através deles e junto com eles a gente tava, todos nós, trabalhando para viabilizar isso. Reuniões toda hora, discussões com Leopoldo, com Erlin e começando a montar a estrutura para deslanchar o projeto. Depois dessa viagem na Escandinávia, a (Biderud?) aderiu ao projeto. Não estou dizendo que foi por causa da viagem, mas foi depois. Com essa adesão o Laurence e os acionistas, porque pensava em serem também todos os que tinham investido em incentivo fiscal para plantar floresta. Era isso que a gente tava pretendendo. Teve uma importância muito grande. Nesse ________ da empresa o Valter Moreira Sales. A gente estava toda hora em contato com ele dizendo que o governo do Estado tinha interesse, queria apoiar… Esse esforço foi feito. E a coisa foi engrenando, essas coisas vocês têm que trabalhar dia e noite para elas acontecerem e graças a Deus começou a deslanchar. Antes de eu largar o governo, pouquinho antes nós lançamos a pedra fundamental da fábrica, até era uma das fotografias que eu tava procurando lá em casa, mas não consegui achar, eu e Laurence botando a pedra fundamental lá. Agora com a escavação que fizeram ela tá lá num pedestal. Acharam ela. Quando eu tava para terminar o governo o Erlin me procurou, veja só: quando terminou o Governo Médici o Erlin convidou o Galveas para ser Diretor Financeiro da Aracruz. Ele, o Hernani e o Marcos que tava no BNDES, vieram aqui a Vitória um dia e me disseram: “Arthur, quando terminar o governo você vai trabalhar na Aracruz, a gente tá querendo que você nos ajude lá.” “Tudo bem, a vida de engenheiro é essa mesmo, estamos aí para isso.”. Quando terminou o Governo eu fui ser Diretor da Aracruz. Mas antes teve um episódio aí. Eu peguei um ano do Geisel, quando tava para terminar o mandato, eu fui lá me despedir do Geisel e ele me convidou para ser diretor do Banco de Habitação. Eu digo: “Não agora eu vou ficar na iniciativa privada, chega de governo.” E aí eu larguei o governo num dia, no mesmo dia eu peguei o avião, fui pro Rio e no dia seguinte eu já tava trabalhando lá na Aracruz. O período de implantação da Aracruz foi bastante interessante, mas muito trabalho. Já tava a empresa de Engenharia trabalhando, que era a Tacopoi e nós começamos a desenvolver com a Tacopoi todos os estudos que eram necessários para implantação da usina isso era no Rio, eu tinha da área pública e da área de infra-estrutura eu comecei a cuidar da parte de infra-estrutura, da Aracruz, era porto, residência, água, eletricidade, tudo ficou mais ou menos sob minha responsabilidade. A Aracruz precisava se capitalizar, e surgiu a oportunidade, era a época áurea dos petrodólares, os países árabes tinham feito aquele aumento do petróleo e eles não tinham nenhuma estrutura para gastar o dinheiro, e estavam procurando investimento no mundo inteiro; Laurence e a outra acionista, que tinha posto recurso lá como incentivo fiscal e depois participou do capital a Souza Cruz. Então o Laurence com o pessoal da Souza Cruz teve contato com os investidores do Kuwait e veio uma pessoa responsável pelo fundo, teve reunião com a gente lá no Rio, veio aqui na Aracruz, eu vim com ele aí e ele disse: -“Tudo bem, nós vamos entrar se tiver um parecer favorável do IFC que era o órgão empresarial do fundo monetário.” Aí os acionistas pediram que o engenheiro que chefiava o projeto da IACOPOI e eu fôssemos negociar com a IFC o parecer que eles tinham que dar. Numa terceira ou quarta reunião que nós tivemos lá em Washington, eu voltei às carreiras e me reuni com o (Erlyn?) e com o Galveias e disse: “Eles vão dar parecer contra.” “Qual é a justificativa?” “Eles dizem que aqui no Brasil não tem mão-de-obra para tocar uma fábrica sofisticada como aquela. Eram dois alemães os técnicos que disseram isso. Aí, vamos discutir o quê vai ou não, fazer.” Eu digo: “Eu acho que o melhor que pode acontecer é a IFC não dar parecer nenhum, porque se der parecer contrário, constrange até o BNDES, de fazer financiamento.” Nós conversamos com o Marcos que era o Presidente do BNDES ele disse que tínhamos razão, era isso mesmo trabalhar para não dar, aí o Marcos telefonou para o Presidente do IFC e eu voltei a Washington, o ____ tava lá ainda e nós conversamos lá e dissemos: “É melhor não dar parecer, vamos retirar o pleito daqui, não vai dar parecer nenhum.” Isso permitiu que o BNDES financiasse o projeto. Se ele desse um parecer contra criaria um constrangimento pro BNDES financiar. Foi nessa época que o BNDES resolveu que durante o período de construção, para inclusive ter uma justificativa da garantia do projeto que eles indicassem o presidente da empresa, eles indicaram o Ciro Guimarães. O Ciro assumiu a Presidência, eu fiquei Diretor, Hernani como Diretor Financeiro, (Veneros?) como Diretor Técnico e Leopoldo como Diretor da Área Florestal. Trabalhei lá no resto do ano de 1975, 1976, em 1977, o General que era Presidente da SIDERBRAS me chamou e me disse: “Arthur você tem que assumir a presidência da CST, senão o projeto não sai.” Aí, discuti com minha família, toda ela contra eu assumir, porque entre outras coisas o salário era a metade do que eu ganhava na Aracruz. Quem saía do governo quebrado, não o Estado, mas o ex-governo, era um sacrifício grande. Aí eu sofri uma pressão enorme dos meus amigos, você tem amigo para essas coisas. Eu me lembro que um dia eu tava num drama, faço não faço, o Galveas deixou um bilhete na minha mesa, até guardo esse bilhete, eu mandei plastificar dizendo assim: “Arthur, conversei com o Marcos se você assumir a CST o projeto não sai.” Aí cheguei em casa e falei para mulher: “Olha não tem jeito, tenho que ir.” Fui e a CST era no Rio, essas coisas tem episódios gozados. Primeira coisa que eu vi é que era uma estupidez da CST a Presidência no Rio quando tudo estava para acontecer aqui, não ia acontecer nada lá. Naquela época não tinha nem começado a terraplanagem, já tinha as estruturas dos acordos feitos mas ainda não tava feito os acordos, não estavam assinados. A primeira tarefa minha, ainda quando a empresa tava no Rio foi de ajudar costurar a conclusão dos acordos dos investidores estatais brasileiros a SIDERBRAS, o estatal italiano que era a (Fincida?) e a empresa privada japonesa _______, isso consumiu uns seis meses, para fechar esses acordos. Acabei ficando na CST quase onze anos.
P/1– Eu queria que a gente voltasse um pouquinho ao momento do lançamento da pedra fundamental da Aracruz, o senhor era o governador do Espírito Santo, o senhor deve lembrar ou saber como era a repercussão disso na opinião pública, mas especialmente no setor cafeicultor.
R – A opinião pública era muito favorável, quem conheceu o Aracruz, a região do Barra do Riacho como eu conheci quando era engenheiro do DER sabia que aquilo lá era uma coisa horrível, agricultura precaríssima, não dava nem mandioca, muito ruim mesmo. E que era uma coisa importante para toda essa área do Estado, que tava deprimida pela erradicação do café e por não ter nem vocação para Conilon era um negócio bastante difícil de se contornar; e as florestas estavam crescendo com recordes mundiais de crescimento e tudo indicava que isso realmente era… A repercussão junto ao público capixaba, políticos, a sociedade, os agricultores, era boa. Não tinha problema. Nós tivemos problemas muito sério depois com a Academia. De vez em quando, quando fala na Universidade eu mastigo essas coisas. A Universidade se opôs violentamente contra os dois projetos: a Aracruz e da CST. As alegações eram as mais incríveis que você possa imaginar. De que ia criar desemprego, jamais consegui entender como era isso. Então diziam assim: “Porque no ano de mil novecentos e tanto, quando estava construindo a Aracruz, que foi que construiu primeiro. Teve um êxodo rural grande. Eu digo: “É verdade, mas no ano seguinte teve, no anterior teve, um ano depois teve, três anos depois teve.” E mais uma coisa: anos de taxa de êxodo rural falta que o IBGE mostrava necessariamente não coincidia com a construção dos grandes projetos. Qual era o reacionário que estava atrás disso. O reacionário desses acadêmicos era de duas naturezas. A primeira era de que você criando um mercado de trabalho provisório, ocasional, você trazia muita gente que depois quando acabasse a obra não tinha emprego e ele ficava aqui nas favelas. “Pô tudo bem, vamos supor que isso seja verdade apesar que as estatísticas não tão mostrando ______, depois um empreendimento, industrial como a Aracruz e a CST ele emprega muita obra de montagem também, não é só obra de construção civil. Então você tem uma obra de construção civil pesada, que foi a construção das lagoas, que é obra de terraplanagem e construtora estrada que faz isso, você tem a obra de montagem que são especialistas, uma empresa montadora, ela vem, trabalha aqui, depois vai trabalhar no Amapá, no Rio Grande do Sul e esse pessoal migra com isso que acontece relativamente comum depois de construído, o sujeito que tem habilidade de torneiro ou qualquer outra coisa, se incorpora à empresa. Isto existe. Não é essa tragédia de desemprego que o pessoal imaginava. A Segunda coisa é que um ecologista, líder aqui da época que era o Augusto (Russef?) dizia que a poluição que a CST ia fazer ia criar uma nuvem de chuva ácida de 250 quilômetros e ia destruir todas as vegetações em torno, e tinha gente que acreditava. As afirmativas que o (Russef?) fazia, tanto no caso da Aracruz, como no casa da CST, ou da Vale, eram totalmente injustificadas, sem nenhuma sustentação científica. Era um negócio emocional dele. Isso também pesava na cabeça da Academia. Eu lembro que fui chamado várias vezes na Universidade para debate, e ouvia coisas incríveis, assim: “Quê que eu vou fazer, meu Deus do céu?” A outra coisa que se falava muito era o problema da poluição: “Que as fábricas não deviam ser localizadas onde estavam.” Eu digo: “Bota onde?” “Bota em Colatina.” “Vocês querem que polua Colatina, não aqui? Como é que é?”. Esses tipos de coisa. Agora, um dos trabalhos melhores sobre a CST foi feito pelo pessoal da Academia. Outra coisa que diziam, que nós éramos uns malucos, que não existia mercado pro tipo de produto que a CST ia fazer, que era placa. O que era uma meia verdade, realmente não existia porque você não tinha oferta de placa no mercado, mas a gente tinha certeza que essa demanda existia e que a oferta ia ter sucesso. O que realmente aconteceu, a ponto de que a CST assumiu uma certa obrigação com o mercado, de fornecer placa, que ela não pode parar de fornecer placa. Ela agora vai continuar fornecendo placa, porque o mercado tá pedindo e é bom negócio para eles, eles tão fazendo. A Academia teve uma colaboração muito pequena no desenvolvimento do Estado. A Universidade, pelo contrário, até bem recentemente foi um aparelho de entrave pro Estado se desenvolver.
P/1– Ainda é assim?
R – Não, não, agora mudou muito. Agora ela está plenamente incorporada às necessidades do Estado. A gente ainda critica um pouco, um certo distanciamento das atividades econômicas e a Academia. Mas eu acho que tá chegando perto, a gente vai conseguir trabalhar junto.
P/1– A obra da implantação da fábrica A, que o senhor comandou, o senhor vinha muito ao canteiro?
R – Sim. Depois eu mudei para cá.
P/1– Eu quero saber sobre isso.
R – Eu morava no Rio, mas passava quase que a semana inteira aqui. Nós construímos aquele hotel lá e a casa de hóspedes, eram os locais onde a gente ficava. A gente passava praticamente a semana inteira aqui, o que tava demonstrando muito claramente que o que fiz depois na CST que a direção devia vir para cá. Naquela época não foi possível. Você tinha resistência dos próprios diretores, o Leopoldo, o Hernani e o Ciro não queriam morar aqui de maneira nenhuma e também o Laurence, os acionistas estavam no Rio. O raciocínio que eu fazia lá, insistindo de vir para cá era o mesmo que eu fiz na CST. “Mas a diretoria financeira tem de ficar no Rio, porque os bancos estão lá.” Empresa do tamanho da Aracruz e CST os bancos vão onde a diretoria financeira estiver, e não a diretoria financeira ir atrás do banco. Foi o que aconteceu com a CST, Aracruz não, ainda bem a diretoria financeira no Rio. O produto que nós fabricamos, tanto a Aracruz como a CST não vende no Brasil, vende no mercado mundial. Não precisa ficar no Rio. Agora até tem justificativa para ficar no Rio porque nós não temos mais vôo daqui pros aeroportos internacionais. Temos que usar aeroportos locais que é um inconveniente quando vai pro exterior, mas é só esse.
P/1– Na ocasião da obra, foi aí que se pensou na construção do porto?
R – Foi.
P/1– Como é que foi isso?
R – O projeto tinha necessidade de um porto e se mostrou ao órgão que na época não era ainda a PORTOBRÁS, depois é que virou, necessidade do porto. Aí tivemos um convênio com ajuda do BNDES foi feito um conselho que era Aracruz e PORTOBRÁS e esse conselho foi quem comandou a construção da obra. Eu era o representante do conselho, nós fizemos um estudo, um orçamento e construímos o porto bem abaixo do orçamento, terminamos o porto, coisa que era contra a tradição dos portos brasileiros. Porto brasileiro tem a mania de ser catedral, não termina nunca. _____ começou antes do porto de Aracruz não terminou ainda.
P/1– E as condições no canteiro eram muito complicadas?
R – Era, porque era um lugar virgem, nós tivemos que construir um conjunto residencial grande lá para colocar os futuros empregados da empresa. Todo período de treinamento esse pessoal teve que ficar morando lá. Era da minha diretoria a construção disso, o problema de água foi complicado. Desde aquela época a gente defendia tese do desvio do Rio Doce mas o Ciro contratou um consultor bastante competente o (Okipint?). Ele fez uma análise da precipitação, das bacias possíveis e se construíram várias lagoas para reservar água, para fábrica poder operar também no período de estiagem. Com a expansão ficou claro que tinha que tirar água do Rio Doce. Tanto é que agora tão fazendo isso.
P/1– O senhor lembra de alguma história pitoresca do tempo heróico da Aracruz?
R – Coisa do pessoal local, quando começamos a fazer as barragens. Elas eram de terra e eles diziam: “Isso vai vazar tudo.” O que não aconteceu. Também o problema do efluente da Aracruz. A Aracruz contratou uma empresa sueca para fazer os estudos; foram feitos e constataram que o grau de difusão do efluente era satisfatório, mas também deu muita confusão principalmente com os ecologistas. Sabe que ecologista você não precisa de diploma para ser, você precisa só ter desejo de proteger a natureza, louvável desejo, para ser ecologista. Então você pode ter uma porção de suposições que não são verdadeiras mas tudo bem. Isso foi outra dor de cabeça que nós tivemos. Mas o projeto ficou muito bom. Nós construímos o tubo, botamos um extrusor ali no Piraqueaçu ele fazia um quilômetro de tubo flutuando no mar e depois colaram. O pessoal da região ficou espantado com aquele tubo enorme, que não ia afundar, como é que ia ser, como ele ia afundar se tava flutuando ali. Tivemos que explicar tudo direitinho para comunidade. Outro problema foi os índios. Aracruz é uma coisa gozada, ali sempre existiu um núcleozinho de descendentes de índio. Quando começou o plantio da floresta, esses índios se incorporaram às forças de trabalho e deixaram de morar na aldeia e passaram a morar ali, tinham bicicleta para ir pro serviço, se acostumaram, isso eu acho que é normal. O sujeito vê um padrão de vida melhor, tem rádio, tem bicicleta. Quando esvazia os índios, vem uma nova remessa lá do sul e ocupa. Teve uma época quando eu era diretor, que não tinha nenhum índio lá que soubesse falar português, eles falavam espanhol e guarani. Agora os índios lá são Guaranis. Aqui nunca teve Guarani na época anterior ao descobrimento. Existem estruturas que trazem os índios para cá.
P/1– Eu tenho a imagem do canteiro de obras, como uma espécie de torre de Babel. Por que parece que tinha muitas línguas e agora o senhor está falando também do Guarani._____(riso). Era assim ou é uma imagem?
R – O problema não era tanto de língua. A não ser os técnicos de alto nível que tinha inglês, alemão, escandinavo, mas a linguagem comum entre os técnicos era inglês, mas a balbúrdia é o comportamento das pessoas. Aquela turma enorme de operários, morando em residências comuns; aquele refeitório enorme dando comida; o problema do esgoto, complicadíssimo, dentro daquela estrutura mas isso é comum em qualquer construção. De maneira que o pessoal que está acostumado com construção isso não é novidade para ele.
P/1– O senhor lembra quais empreiteiras participaram desse projeto?
R – Não, não lembro.
P/1– O senhor se lembra do Tacopori? Como é que ele era?
R – Você fala a pessoa ou a empresa?
P/1– A pessoa.
R – O Taco era uma pessoa muito competente obviamente e muito agradável. Toda vez que ele vinha aqui ele reunia com a gente, conversávamos, discutíamos os problemas todos que a construção tava gerando e tudo. Eu encontrei Taco dois anos atrás, lá na casa de Helen e ele tava com duas menininhas, aí ele virou para mim e disse: “Arthur, não são netas, são filhas, eu casei outra vez.” Ele sempre foi uma pessoa muito agradável, sempre tivemos uma convivência muito agradável com ele, e com a equipe dele. __________ foi comigo a Washington é um sujeito excepcional, muito bom, boa pessoa, bom técnico. Eu aprendi muito com esse pessoal.
P/1– Depois que o senhor saiu da presidência da Aracruz, o senhor foi por CST?
R – Eu não fui Presidente não, fui Diretor.
P/1– Diretor. E na CST como é que foi?
R – A primeira coisa foi, que tudo na vida tem coisas boas e coisas ruins. O fato de ter dois sócios estrangeiros com culturas bastante diferentes evidentemente deu muita dor de cabeça. Os japoneses, depois que eles ganharam a confiança na minha pessoa as coisas ficaram muito fáceis. Contrário dos italianos que tomaram confiança logo e nunca ficaram fáceis. Eu costumava dizer que os japoneses levavam um mês para tomar uma decisão e implementavam em um dia; o italiano tomava a decisão em um dia e implementava em um ano. Os ritmos não eram os mesmos, mas assim mesmo nós tivemos profissionais italianos lá excepcionais. Todo controle da construção, eu já relatei isso várias vezes pro pessoal da Aracruz era feito por um italiano, ele conduzia toda a construção da usina, que era bem maior que a Aracruz com um terço do pessoal que o Ciro usava para conduzir e conseguiu no prazo e abaixo do orçamento. Ele era muito bem estruturado, muito competente. Era um grupo pequeno, muito eficiente, com muitos brasileiros e também japoneses, mas funcionou muito bem. Um desafio grande como uma empresa como a Aracruz ou como a CST é o treinamento que você tem que dar pro pessoal que vai trabalhar. Isso nós demos treinamento no EUA, no Japão, na Alemanha, na Áustria (a empresa austríaca forneceu parte dos equipamentos). Foi uma experiência muito interessante. Eu disse que tinha problema você tá lidando com japoneses, italianos e brasileiros, mas em compensação para o fato de ser uma empresa multinacional no sentido de ser três sócios é lógico que o majoritário era brasileiro, mas o acordo de acionistas deu liberdade para conduzir a obra, que uma estatal normal não tem. Eu lido agora muito com o pessoal da Petrobrás e digo a eles que o status que eles têm é bem parecido com o que eu tinha lá na CST, tinha mais liberdade de fazer as obras, discutir preço, que uma estatal formal. A grande perda do ente público quando ele discute um contrato é que ele não pode negociar. Você tem que fazer uma licitação e o resultado da licitação é o resultado. A iniciativa privada não é assim, você escolhe, negocia, negocia com outro, abaixa o preço, melhora a qualidade. Você tem liberdade. No serviço público você tem. Na CST a gente teve relativa liberdade para conduzir isso. O que fez com que a gente conseguisse fazer o... Não conseguimos fazer no prazo por razões de ordem financeira, porque o sócio brasileiro faltou gás para completar a participação dele; mas fizemos abaixo do custo do projeto.
P/1– Arthur eu vou encaminhar para questões finais. O quê que significa hoje pro senhor ter trabalhado na Aracruz durante aquele período?
R – Eu canso de dizer pro (Erlin?), pro Carlos, pro Valter, que eu me sinto ainda da Aracruz. Eu tenho um cordão umbilical com as duas empresas que eu trabalhei, a mesma coisa com a CST. Os problemas da Aracruz são meus problemas, da mesma maneira com a CST. Eu sinto muito integrado com eles.
P/1– E se fosse definir a Aracruz com poucas palavras, quais seriam?
R – Primeiro, a Aracruz é um exemplo de uma empresa brasileira que montou uma equipe de técnicos brasileiros, que desenvolveu tecnologia, produto e qualidade que é invejado no mundo inteiro. Eu acho que isso é uma coisa da maior importância. Eu acompanho hoje a VERACEL que é uma associação da editora ________ não tem nenhuma “inferioridade” dos brasileiros lidando com os finlandeses que são gente da melhor qualidade. Eles estão em pé de igualdade, os técnicos, os administradores, tudo. Para mim foi uma experiência muito gratificante, e que me fez amadurecer muito sob o ponto de vista empresarial e profissional.
P/1– E o quê que o senhor faz hoje?
R – Fico achando sarna para me coçar. Hoje, tenho uma empresa de consultoria, eu criei recentemente uma empresa de engenharia com gente que saiu da IACOPOI e graças a Deus ela está indo muito bem. Eu sou conselheiro numa empresa que presta serviço na área siderúrgica sou membro do Conselho da Administração dela que é a Brasilsupai; tenho uma empresinha que os filhos tocam que é de importação e exportação e o que mais apareça estamos aí.
P/1– E ainda os seus passatempos são cinema e leitura?
R – Cinema não tanto mais, tem muita coisa que eu perdi o entusiasmo, mas eu ainda gosto muito de cinema. Filme bom eu não perco de jeito nenhum. Eu gosto também muito de música, eu vou lá pras montanhas, Pedra Azul, sábado e domingo ninguém me tira de lá, fico vendo filme, lendo e ouvindo música e comendo comida boa.
P/1– E qual é seu maior sonho?
R – Continuar trabalhando, é uma vocação __________(riso).
P/1– O quê o senhor acha de um trabalho como esse que a gente tá, fazendo, de registrar a memória da Aracruz?
R – Eu acho muito importante, é bom para empresa, para comunidade, tudo isso. Eu sinto não ter conseguido fazer uma coisa que agora eu insisto muito com meus amigos da Aracruz e da Veracel para eles fazerem com a Veracel. É de fazer um registro da situação que é hoje lá, isso não foi feito. Não foi feito porque naquela época não se pensava nisso assim. Eu fiz isso na CST, de maneira que o relacionamento com a comunidade da CST ficou no início mais fácil do que a Aracruz. Isso é uma coisa muito importante de fazer, porque as pessoas esquecem da coisa, ninguém se lembra mais da miséria que era a Aracruz. Todo mundo raciocina agora: “É porque sai um cheiro da fábrica...” Isso é (pinotes?) do que era antes. Era uma coisa terrível, eu fiz estrada naquela região lá, era o fim da picada.
P/1– E finalmente o que o senhor achou de ter participado dessa entrevista?
R – Quando Carlos me falou que isso seria feito eu digo: “Bom, eu não sei o que é mas se vocês mandarem eu faço.” Eu acho que foi bastante agradável, vocês souberam conduzir com sabedoria, tirando coisas de mim que eu talvez nem me lembrasse mais.
P/1– Muito obrigada Dr. Arthur, por esta entrevista pro projeto Memória Aracruz, muito obrigada mesmo.
R – Prazer.
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