Entrevista de Leonildo Borim
Entrevistado por Lila schnaider e Fabiana Augusta Foglieni
Projeto Barra Bonita
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número PCSH_HV 1150
00:00:10
P/1 - Boa tarde Borim, tudo bem?
R - Boa tarde. Tudo ok.
00:00:18
P/1 - Vamos começar agora um resgate de memória. ...Continuar leitura
Entrevista de Leonildo Borim
Entrevistado por Lila schnaider e Fabiana Augusta Foglieni
Projeto Barra Bonita
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número PCSH_HV 1150
00:00:10
P/1 - Boa tarde Borim, tudo bem?
R - Boa tarde. Tudo ok.
00:00:18
P/1 - Vamos começar agora um resgate de memória. Vou puxar pela sua memória. Borim para começar você por favor podia falar teu nome completo, a data de nascimento e o local onde você nasceu?
R - Eu me chamo Leonildo Borim, 28/02/0948, nasci na cidade de Pongaí, estado de São Paulo.
00:01:01
P/1 - Na cidade de?
R - Pongaí.
P/1 - Pongaí com P?
R - É Noroeste.
00:01:18
P/1 - E qual o nome dos seus pais?
R - Meu pai chamava João Borim filho, minha mãe e Idalina Faber Borim.
00:01:39
P/1 - E o que eles faziam quando você era criança?
R - Meu pai tinha um pequeno sítio na fazendinha e a geada comeu tudo, nós tivemos que vir embora.
00:02:02
P/1 - E a sua mãe fazia o quê?
R - Cuidava da filharada que eram oito.
00:02:12
P/1 - Então você tem mais sete irmãos?
R - Sim.
00:02:21
P/1 - Eu vou te perguntar de outra forma. E quantos irmãos você tem?
R - Agora eu tenho um só. eram oito, eram seis homens e duas mulheres.
00:02:45
P/1 - E aí resolveram se mudar você tinha que idade?
R - Estava com 08 anos.
00:02:56
P/1 - E foi para morar onde?
R - Viemos para Barra Bonita 14/10 de 1956. Viemos trabalhar todo mundo na cerâmica que é onde achamos serviço.
00:04:18
P/1 - E quando vocês se mudaram, nessa época você estava com quantos irmãos?
R - Família toda, todo mundo, e aí foi casando, foi separando.
00:04:44
P/1 - Mas você conhece, sabe da origem dos seus pais?
R - Sim, da Itália, tudo italiano.
00:04:53
P/1 - E eles contavam histórias?
R - Contava a história da Itália que eles só sofriam lá, levaram três meses de navio para vir para o Brasil.
00:05:10
P/1 - Porque eles vieram para o Brasil?
R - Porque estavam todos passando fome lá, a lei lá diz que era muito brava. Eles fugiram de navio.
00:05:29
P/1 - E você lembra de mais alguma história que eles contavam para você?
R - Eles vieram e pararam aqui na região de Lençóis Paulistas, São Manuel, Pongaí, conseguiram pegar uma terra do ímpio, aonde que foi criando, eles casaram aqui no Brasil mas vieram juntos de lá.
00:06:09
P/1 - E aí vocês chegaram em Barra Bonita o que você lembra? Da da vinda, da chegada, da viagem?
R - A viagem foi uma história grande, a gente nunca tinha feito aquilo lá, mudança em cima de um caminhão e aquela turma toda em cima do caminhão, aquele barulho mesmo, tudo triste.
00:06:43
P/1 - Por que escolheram Barra Bonita?
R - Porque o irmão mais velho veio pra cá, minha irmã já tinha casado, então o marido dela tinha parente aqui em Barra Bonita e arrumou serviço na cerâmica para todo mundo, para o meu irmão mais velho que tinha vido com eles, a gente chegou aqui estava tudo empregado já.
00:07:15
P/1 - E você dos oito é o mais velho, o mais novo, como que é?
R - Só tem mais um mais novo que eu, os mais velhos já desencarnou todo mundo.
00:07:35
P/1 - Recentemente ou faz tempo?
R - Já faz tempinho, já faz uns dois anos que foi o último. Eu estou cortando volta, mas não sei se ela vai me pegar.
P/1 - O quê?
R - Estou cortando volta da morte, mas não sei se ela na hora de me pegar.
00:08:04
P/1 - E qual é a primeira imagem que você tem de quando você chegou na cidade?
R - Eu morava uns quatro, cinco quarteirões longe da ponte do rio, e eu tinha que trabalhar para o lado de lá do rio, quatro horas da manhã, cinco horas da manhã eu tinha que atravessar aquela ponte que me dava um medo danado, mas a gente ia.
00:08:45
P/1 - O que você fazia? Você trabalhava com o que exatamente?
R - Eu entrei de desbarbar telha, desbarbador de telha, era uma faquinha e picava aquela rebarba nas telhas, então aquela faquinha tinha que tirar as barba tudo.
00:09:11
P/1 - Isso com oito anos?
R - Com oito anos.
P/1 - E o que mais você lembra dessa fase?
R - Eu saí de lá da cerâmica, fui trabalhar de ajudante de fotógrafo, carregar aquela luz para tirar foto, casamento, baile, festa.
00:09:45
P/1 - Com que idade?
R - Já estava com dez, doze anos.
00:09:53
P/1 - E você gostava de fazer? Você gostava do trabalho?
R - Eu gostava porque andava sempre bonitinho, só dentro da cidade, mas ganhava pouco e tive que sair.
00:10:21
P/1 - E como era a sua casa, onde vocês moravam?
R - Era uma casa de parede meia, o chão de tijolo, não tinha forro, você escutava o gritinho do vizinho do outro lado, é assim a passagem.
00:10:53
P/1 - Você costumava brincar com seus irmãos, vocês brincavam de quê?
R - Nesse tempo eu não tive brinquedo. Meu pai não gostava nem que jogasse bola. Era um italianinho pequeno, mas bravo, a gente brincava mais com bola mesmo, bem escondido, mas torcia para não se machucar.
00:11:27
P/1 - Teve alguma vez que ele te pegou?
R - Pegou, quebrei o pé jogando bola, fiquei oito meses parado e
ele queria o pagamento.
00:11:41
P/1 - Conta direitinho essa história.
R - Eu fui jogar bola e quebrei o tornozelo e precisei fazer cirurgia, ele nunca foi no hospital me ver, era bravo. Quando chegava o dia do pagamento ele ia no pé da cama e falava assim, “cadê o seu? Está faltando o seu esse mês”. Mas eu tinha um patrão muito bom, ele não me deixou nem um mês sem pagamento, para quando eu sarar pagar, depois de oito meses eu voltei a trabalhar e não tinha jeito de pagar a dívida, quando eu casei foi meu presente de casamento que ele deu para mim, a dívida ele não cobrou.
00:13:07
P/1 - Eu acho que teve mais história.
R - Com vinte anos eu roubei a namorada e tive que casar. Com vinte anos foi quando eu quitei a minha dívida e comecei outra.
00:13:26
P/1 - Por quê roubou a namorada?
R - Porque os pais não queriam. Os pais dela não queriam eu. Eles não gostaram de mim. Eu sempre usei barba.
00:13:48
P/1 - Desde vinte anos você já usava barba?
R - Agora só uso o cavanhaque que branqueou.
00:14:01
P/1 - E aí o que você fez?
R - Fui tocando a vida.
P/1 - Não, em relação à namorada?
R - Arrumamos uma casinha para morar, tinha um rapaz que eu tinha trabalhado perto da casa dele de servente de pedreiro, ele tinha uma loja e ele prestou muita confiança em mim e mobiliou minha casa, levei uns cinco anos mas paguei.
00:14:41
P/1 - E como foi essa história de roubar a namorada? Como foi quando os pais dela ficaram sabendo?
R - Naquele tempo era assim, quando os pais não queriam namoro a gente levava a mulher embora, só se ela não quisesse ir.
00:14:57
P/1 -Teve festa?
R - Não.
P/1 - Vocês juntaram tudo e foram morar nessa casa?
R - Os irmãos dela e os meus foram os padrinhos, já foram no cartório, na igreja, meia hora no cartório, meia hora na igreja já estava entregue para Deus.
00:15:25
P/1 - E voltando um pouco na tua infância. Como era o bairro da tua infância onde você morava?
R - Era tudo escuro.
00:15:40
P/1 -
Qual era o bairro?
R - Não, era um final de rua, mas não tinha poste, não tinha luz.
00:15:47
P/1 - Que bairro?
R-
Era centro da cidade bem dizer, dois quarteirões longe da prefeitura que estava em construção quando a gente…era só mata. Não foi fácil.
00:16:10
P/1 - E o que mais você lembra? Tinha mato, tinha o que mais?
R - Derrubar passarinho com estilingue era a maior diversão que a gente tinha, matei muito, muito pecado para pagar.
00:16:39
P/1 - E como era com os amigos, você tinha muitos amigos?
R - Amigo mesmo eu acho que eu não tive nenhum, tinha aqueles coleguinhas que saia um dia ou outro, mas amigo mesmo. Hoje sim, eu tenho dois, três que eu considero amigo
00:17:05
P/1 - Mas e quando você saía, ia lá com estilingue, ia com quem?
R - Mas sempre quando a gente saía para dar uma passeada, nós saíamos em dois, três irmãos, a nossa amizade era essa.
00:17:25
P/1 - Que mais que vocês faziam com os irmãos?
R - Brigava bastante.
00:17:32
P/1 - Teve alguma briga que marcou mais?
R - Não, a briga que marcava mais era quando um colocava a camisa do outro ou a calça do outro. “Eu ia pôr hoje”! Não, mas quem ia pôr era eu, então tinha essas encrencas, mas a mãe era muito boa, ela chegava arrumava tudo, o meu pai era bravo.
00:18:08
P/1 - E você queria ser o que quando crescesse?
R - Na verdade eu queria ser homem mesmo. Eu acredito que cumpri minha vontade.
00:18:21
P/1 - Mas profissionalmente você queria fazer o que?
R - Nunca estudei minha filha, nunca tive escola, o que eu aprendi foi o meu irmão mais velho me ensinava, ele teve uma escola a noite, então ele me ensinava e aprendia, mas a vida ensinou, ensinou muito.
00:18:44
P/1 - Como era o nome desse teu irmão mais velho?
R - Vergílio.
P/1 - Conta um pouquinho da relação de vocês dois.
R - Ele era o mais velho e tudo que ele pedia para fazer eu fazia, então era o dodói dele, ele me ajudava muito. Mas aprendi muito bem. Não sou bom, mas sei ler, sei escrever, sou bom de matemática, toco a vida.
00:19:24
P/1 - E com teu irmão assim, qual a história mais marcante com ele?
R - A mais marcante, eu fui padrinho de casamento de todos os filhos dele, de 05 filhos dele, eu fui padrinho de casamento de todos eles. E a segunda filha fui padrinho de batizado,
de casamento e de casamento de 25 anos depois.
00:19:54
P/1 - O que você mais admirava nele?
R - A coragem que ele tinha, a disposição, ele estava sempre disposto a tudo, era muito bom, as coisas vão perdendo, vai acabando.
00:20:25
P/1 - Mas você nunca frequentou a escola ou você chegou a frequentar? Curso você sempre só trabalhou?
R - Não, eu já tenho um curso de enfermagem de primeiros socorros, quando eu estava na Usina da Barra, entre 82 agenciador de empregado. Eu recebi o diploma em primeiro lugar. Mas coragem de dar injeção nos outros. Trabalhava na lavoura, o pessoal suportava muito no corte de cana, então a gente dava injeção, fazia curativo e a gente tinha uma lista que a fundação dava pra gente e o remédio que a gente podia passar para as pessoas.
00:21:34
P/1 - E você não quis seguir?
R - Chegou uma hora que precisei sair da firma. Eu disputei uma eleição de presidente do sindicato, e eles não queriam que eu saísse candidato, eu saí, perdi com 53 votos na regional da região, não quis ficar mais na usina, pedi a conta.
00:22:19
P/1 - E desse tempo que você trabalhou na usina, você trabalhava com o quê?
R - Com o pessoal, eu tinha no meu setor, eu era chefe de um setor, tinha 126 pessoas, 03 caminhões de turma e eu comandava tudo aquilo lá, enjoei, saí de lá para não lidar com gente, fui comprar um barco, continuo cuidando. Me convidaram para ser conselheiro de um clube, acabei sendo 03 vezes presidente do clube.
00:23:10
P/1 - Que clube?
R - Clube Recreativo Vila Nova, onde o Jair, os outros iam lá arrumar namorada.
00:23:30
P/1 - E como é que foi ser presidente desse clube?
R - Eles acharam que eu devia ser presidente, e a chapa que a gente compôs, o outro presidente que compôs ganhou a eleição, e a chapa que ganhou escolheu eu como presidente, depois na outra eu quis ficar, gostei, quis ficar, ganhei, eu saí, voltei, depois de 03 anos eu voltei e ganhei a eleição de novo.
00:24:15
P/1 - O que é que fazia esse clube, é um clube importante? Fala um pouquinho do clube.
R - O clube foi na era da discoteca, foi a maior discoteca do interior de São Paulo e os bailes também, 85, 86 foi escolhido como melhor presidente com 03 clubes na Barra Nova. Fui escolhido como melhor presidente dos eventos que eu fazia, teve muito baile importante.
00:24:56
P/1 - O que que você mais gostava nesse trabalho?
R - Do povo. O povo gostava muito da minha pessoa, chegava lá era recebido com todo mundo, é gostoso.
00:25:19
P/1 - Era um clube tradicional?
R - Era um dos 03 clubes que tinha na cidade, ele era o clube do povão, tem o da elite, tinha o outro e o nosso era o mais da classe baixa mesmo. É de onde nós fazíamos alegria.
00:26:08
P/2 - Nós falamos sobre o Vila Nova foi um importante universitário, talvez o clube mais tradicional como um todo da região cada vez. Queria perguntar para ele, qual bairro ou qual o lembrete que aconteceu em outubro que mais marcou para ele?
R - O baile que mais marcou Jair, foi o baile que o Moacyr Franco, onde a gente recebeu todas as mulheres que entraram no Vida Nova com uma rosa vermelha na porta, nós de branco foi cantando de mesa em mesa, foi muito marcante.
00:27:11
P/1 - E aposto que tiveram mais histórias nesse clube.
R - Eu trouxe o Silvio Mazu, Jair super show, fora outras fases todas. Teve um carnaval que fizemos um robô e colocamos na avenida para desfilar.
P/1 - Fizeram o que?
R - Um robô, tinha 05 metros de altura, a gente tinha uma comissão de festa muito grande, onde cuidava dos eventos e ajudava, saiu tudo para rua. O maior desfile em Barra Bonita.
00:28:18
P/1 - Como era organizar tudo isso? Me fala de algum evento que você organizou, se teve alguma dificuldade?
R - A gente procurava alguém para patrocinar um pouco também, então tinha muita cerâmica que ajudava muito a gente, cerâmica, madeireira, comércio maiorzinho ajudava, inclusive a usina da Barra, a usina da barra, a cobertura deles metálica foi tudo na usina aqui. Também eu trabalhava lá.
00:29:10
P/1 - O que você acha que era o teu papel como presidente do clube?
R - Era tomar conta de tudo mesmo, tinha que passar por mim, se não passasse por mim não estava nada certo.
00:29:26
P/1 - E por que você fazia diferença?
R - Porque eu trabalhava com amor na sociedade, eu não ia lá para aproveitar da organização. Inclusive, depois que eu saí de lá, o clube acabou, faliu, hoje está fechado.
00:29:53
P/1 - Conta mais de momentos assim que foram importantes, de coisas que você fez, como era esse teu trabalho?
R - Eu trabalhava na usina, e nas horas de folga, a noite a gente ia para o clube planejar o que ia fazer, o que não ia acontecer, ver o que estava certo, o que estava errado, fazer as reuniões, a gente decidia o que ia fazer, mas praticamente toda noite a gente estava lá juntos, aproveitava e tomava uma que eu gostava também.
00:30:35
P/1 - Conta se teve alguma vez que foi difícil e você conseguiu realizar, alguma realização? R - Foi o seguinte, a gente tinha um terreno fora do clube, era uma associação, Vila Nova Futebol Clube, compramos esse terreno então trocamos o nome, fizemos um novo estatuto e o irmão do Clube Recreativo Vila Nova, onde ia ter um uma piscina de um ginásio de esporte, uma quadra, um mini campo e eu contratei uma firma para vender os títulos e comecei a construir, eu fiz uma quadra, fiz um vestiário, fiz um mini campo com ajuda do prefeito de Barra Bonita, eu dava o material e ele dava mão de obra, aí houve uma eleição, um candidato comprou todo mundo, ele ganhou a eleição, ele queria que eu fosse para o lado dele, renunciasse o lado que eu estava, o lado do Prefeito para ir para o lado dele, queria comprar meu bar para eu trabalhar para ele, eu não aceitei, aí ele ganhou a eleição, mais 02 ou 03 que faziam parte do conselho deliberativo, foi eleito vereador. Ganhou dia 02 de outubro, dia 05 me chamaram lá e disse que só terminava o serviço lá em cima, eles falavam lá em cima porque era outro outro local. Se eu não fosse mais o presidente do clube, eu como um bom Vila Nova ia ver aquilo lá terminar. Eu pedi demissão e uma data novamente, dia 14 de outubro. E o que ele fez? O ginásio que ia ter lá era no nome do pai dele, ele não deu nada, não ajudou nada e fez depósito de pedregulho lá dentro do terreno, de pedrisco para fazer asfalto, essas coisas, areia, acabou com tudo, só que quando eu saí, pedi demissão, a diretoria inteira pediu demissão comigo, eles ficaram sem diretoria sem nada, morreu, tinha dinheiro, todo mês o balancete estava lá para todo mundo ver, mexer com dinheiro aplicado no Banco do Brasil e dinheiro no Bradesco. Acabaram com tudo, está lá fechado hoje.
00:34:011
P/1 - Mas e da época que ele estava funcionando e que você era o presidente, qual foi a época áurea assim, o que você fazia, como você conseguia que as coisas acontecessem?
R - É que eu tinha uma amizade com empresário, e eu trabalhava junto com ele, já estava fora da usina, nessa época eu tinha um bar, trabalhava com ele. Então você tinha um conjunto, eu ia lá e contratava sexta, sábado e domingo e eu vendia ele para outro clube, comprava no valor, mostrei data e vendi. E quando sobrava a gente não conseguia vender eu trazia para o Vila Nova a troco da portaria, a troco do lanche, a troco da gasolina, então sempre tinha evento dentro do clube.
00:35:28
P/1 - Teve algum evento específico que isso aconteceu? Conta pra gente.
R - Teve, as mulatas do Rio de Janeiro lá que a turma queria arrebentar o Vila Nova inteiro. Eles queriam receber em dólar e o contrato não dava, os criolãos lá queriam arrebentar tudo, sorte que o Gilberto tinha dólar e ele pagou.
P/1 - Conta essa história direitinho.
R - Eu tinha contratado as mulatas do Rio de Janeiro para dar um show no clube. E o contrato não falava em dólar, e a hora que estava terminando, vão acertar com o empresário, ele queria em dólar e nós não tinhamos dólar, ele disse que iam arrebentar tudo, e para enfrentar os negão daquele lá tinha que ter uma 12 na mão. Tinha um da diretoria que tem hotel, muito rico, ele tinha dólar guardado, ele foi lá buscou e pagou, mas no cinema eles deram a mão de obra, estava tudo lá e não deixava o pessoal sair, ficou bravo, foi triste, mas no fim a gente deu risada.
00:37:31
P/1 - E uma grande realização dessa época?
R - Uma realização que me deixou marcado também, foi que o prefeito de Barra Bonita fez uma olimpíada em Barra Bonita e eu amo ter o time de futebol e fui campeão. Foi a maior festa no clube.
00:38:05
P/1 - Foi difícil montar esse time?
R - Quando a gente tem dinheiro é fácil montar time, você compra até o adversário.
00:38:24
P/1 - O que mais você fez por Barra Bonita?
R - Não sei, fiz tanta coisa por Barra Bonita. Ganhei um troféu do melhor esportista de Barra Bonita. Montei um time, registrei, União da Lagoa junto com o pessoal, disputamos o amador, fui diretor da Fundação Pedro Ometto no Parque do Esporte, 02 anos, sempre cooperei com o tudo em Barra Bonita, disputei uma eleição em Barra Bonita para vereador, não ganhei, mas peguei 02 títulos de suplente.
00:39:28
P/1 - Qual foi a sua atuação política na vida da cidade?
R - Só apanhei, o lado que eu entrava perdia.
P/1 - Mas você de alguma forma atuava na política da cidade?
R - Não, eu saí candidato, sempre ajudei alguém, gostava de estar no meio, mas não era apaixonado por política. Eu recebi o título de cidadão barro-bonitense. Sou muito grato a Barra Bonita, criei meus filhos, meu caçula está com 52 anos, criei o meu, criei o dos outros, a última neta agora. Paguei o estudo dela do começo ao fim, que bom, gostoso.
00:40:46
P/3 - Essa história da criação tem dois filhos, e criou mais filhos dos outros. Poderia contar pra gente essa história, como que foi?
R - Do meu casamento tive um casal, e criei mais um casal, eram dois irmãos, filho de uma cunhada minha ela teve eles solteira, meu sogro ficou muito bravo, eu recolhi as crianças e criei eles até se formar e casar. É igual a minha filha, teve uma neta, criei ela também, agora ela está me ajudando, vem limpar minha casa, vem limpar meu bar, vem lavar minha roupa, faz minha comida, estou super contente com ela.
00:42:14
P/3 - Porque agora só mora o senhor e a filha dela?
R - Só mora eu.
P/3 - Aí ela vem ajudar?
R - Ela vai na igreja.
P/3 - Porque a esposa faleceu.?
R - Ela faleceu no dia 19 em 2015, lá em São Paulo, deu uma mão de obra para trazer o corpo embora que você nem faz ideia.
00:42:49
P/1 - O que foi que aconteceu com ela?
R - Ela precisou de quatro pontes de safena, mas não aguentou. Quatro pontes safena e uma mamária. Morreu lá no Dante Pazianeli, fazer o que.
00:43:11
P/1 - Quanto tempo vocês ficaram casados?
R - 48 anos, eu e ela dezessete dias tinha criança de idade.
00:43:27
P/3 - Quem é mais velho?
R - Eu.
00:43:33
P/3 - Ela sempre ajudava o senhor no barco?
R - Não, minha mulher não. Ela ajudava a fazer salgados no bar.
00:43:47
P/3 - No bar ela fazia o salgadinho, e o que mais que servia lá no bar?
R - Eu sempre trabalhei no bar sozinho. Quando o rapaz, meu filho estava lá ele ajudava
00:44:06
P/1 - Como começou, qual foi o seu último trabalho antes de abrir o bar, conta um pouquinho como foi a ideia?
R - Eu saí da usina da Barra e tirei umas férias de uns três meses, descansando um pouco, depois comprei um bar e estou até hoje.
00:44:53
P/1 - Como surgiu a ideia de comprar um bar?
R - No momento eu cansei de ficar parado, para não ficar parado eu comprei um bar. Eu estava enjoado de trabalhar com gente. Então foi que comprei um bar para trabalhar, estou até hoje.
00:45:24
P/1 - Conta mais o começo do bar, o que você pensava em fazer e como é que você foi desenvolvendo no bar?
R - O bar que eu comprei tinha jogatina, baralho, sinuca, bocha e ficava 24 horas funcionando, não parava. Aos domingo era churrasco, frango assado e violeiro, show de viola. E eu tinha 04, 05 empregados que trabalhavam comigo, fora a família, depois eu vendi, comprei outro, não, aluguei outro, venceu o contrato, parei. Arrendei outro, quando eu estava trabalhando nesse terceiro eu construí o terreno da minha casa, construí o meu e estou lá até hoje, faz 30 anos que estou com bar no fundo da minha casa, estamos lá fazendo panceta servindo a turma a vontade.
00:46:48
P/1 - Você já sabia fazer panceta? Como é que começou essa história da panceta?
R - Quando eu estava no terceiro bar tinha um senhor, um cearense de São Manuel e vinha fazer feira. Eu comecei comprar o material dele, ele, “por que você não faz panceta no seu bar”? Eu nem sei o que é isso, “barriga do porco não sei o que”. Pegou umas quatro peças e levou no meu bar e cortou, falou é
assim que faz, eu aprendi porque me deu macete de como se faz, não deixei para ninguém até agora.
00:47:38
P/1 - E o que a panceta virou?
R - Ela virou, está muito famosa a panceta, criou nome, já tentaram fazer nos 04 cantos da cidade, eles não vão fazer nunca.
00:48:01
P/3 - Aqui no bar vem gente de todo lugar para comer a panceta?
R - Tem pessoal de fora que vem passear aqui, toda vez que vem eles param lá no meu bar. Faz um ano, come e leva embora.
00:48:26
P/1 - Me conta com detalhes como é foi essa de você comprar casa, pensar em fazer um bar no fundo, o prato que você fez, me conta essa história toda com detalhes por favor?
R - É que chega uma hora que a boquinha aperta, em todo lugar que eu ia, o proprietário, os olhos cresciam e ele pedia para sair que ele ia tocar, então falei, eu tenho que fazer o meu. E comecei. De manhã comecei a cavucar. Fiz o alicerce. Tenho 100 metros de construção do bar, falo com muito orgulho, assentei tijolo por tijolo, só não fiz a laje e não cobri, eu paguei para fazer, para rebocar e colocar piso azulejo, mas levantar os tijolos, foi tudo eu, as portas aqui do outro quarto. E quando eu estava nesse outro bar que é em uma vila daqui na Nova Barra, colocava um balde de frango temperado, saía aqui da Cohab com duas cordas nas costas, eu ia de madrugada levar esses frangos, eu estava sem carro, para o pessoal não ver, levava os frangos nas costas, temperadinho daqui ,porque eu estava gastando na construção, então não ia comprar o carro. Dentro de 01 ano eu levantei e voltei trabalhar dentro do que era meu, depois foi terminado o resto, estou lá até hoje faz 30 anos.
00:50:51
P/1 - Como era, o frango era para vender ou você temperava?
R - Assava no domingo, frango, costela, panceta, eu temperava em casa e levava lá. Eu não temperava muito, quem temperava era a minha finada patroa, limpava os frangos e temperava, panceta, costela e as outras carnes eu fazia lá mesmo, agora o frango tinha que levar.
00:51:27
P/1 - Tinha que levar para onde?
R - Levar no outro bar para assar, saía da minha casa e ia lá no bar para assar.
00:51:36
P/1 - Enquanto isso você estava construindo o seu bar?
R - Então minha patroa fazia salgado, fazia duas cestas de salgado, então eu descia, até meio-dia uma hora eu trabalhava lá no meu bar, a minha finada mulher e o Patrick, o menino que eu criei, ia lá, limpava o bar, abria, ficava até até meio dia, uma hora, eu pegava o salgado e levava uma cesta. Tinha um senhor, um velho que vendia a rapadura,
chamava Gardini, quando eu descia com a cesta de salgado, passava perto do outro bar e falava, o velho Gardini vai descer mesmo para vender rapadura, mas depois comprei 01 carro.
00:52:47
P/2 - E aí depois que você ficou um ano trabalhando no bairro, me conta essa história por favor, você ficou trabalhando em um bar e construindo o seu?
R - Levantei, contratei um pedreiro para rebocar, colocar o piso, fazer a laje, a cobertura, aí já mudei para o bar novo sem terminar mesmo, estamos lá até hoje. Deu uma melhorada
00:53:30
P/1 - Como foi passar de ser empregado a ser dono?
R - É bem mais gostoso né!
P/1 - O que é bem mais gostoso?
R - É porque ser empregado é duro, você sabe, mas se tiver um patrão cheio de orgulho, encarregado mesmo, tem que engolir mesmo, não tem jeito. Fazer um erro, a gente procura não errar.
00:54:11
P/1 - E como que foi virando assim uma referência? Conta um pouquinho da trajetória. Como é o nome do seu bar, e como foi virando uma referência na cidade?
R - Meu bar ficou com um nome de guerra de Borim, Bar do Borim, e as pancetas acabaram de completar o resto. Pessoal passa lá, para o carro com, “vai ter panceta hoje”? Tem, já para e desce, e o outro liga, manda 05 para mim, manda 03 para mim assim, estou muito contente, a pandemia segurou um pouquinho, pouquinho não, segurou bastante, peguei covid, fiquei 08 dias internado.
00:55:10
P/1 - Como foi?
R - Foi mal, preso em um quarto de hospital não é fácil, mas não precisei de oxigênio e nem entubar também, foi só um tratamento devido a idade, mais de 70 anos curar isso. “Esse velhinho é capaz de querer aprontar.
00:55:44
P/1 - Eu imagino que no seu bar muitas histórias aconteceram.
R - É, sabe que o dono do bar é de tudo, lá é uma cultura danada, ele é especialista em tudo, ele é psicólogo, ele é tudo, ali você ouve o que você não quer, principalmente quando o cara toma umas par dela ou ela também. História sai bastante do bar.
00:56:23
P/1 - Qual foi a história mais marcante para você no período que você foi dono do bar do Borim?
R - A mulher veio buscar o cara lá no bar, falou para ele, (por que você não pega a cama e traz aqui e já fica no Bar do Borim cantando tudo e dorme, você perdeu a viagem por que você não trouxe), eu já ficava que eu nem voltava. Essa foi a irmã das bocas. E o outro é quando a mulher chega na porta do bar, “eu esperando você lá e a mistura aí cozinhando em cima do balcão, você com a cara cheia e eu lá esperando você chegar”. Mas já estou indo, larga até o copo cheio e sai, que bonito isso daí.
00:57:40
P/1 - Como é? Ele largou o copo cheio e foi, na mesma hora que a mulher entrava?
R/2 - É que as pessoas, quando você senta lá no bar para comer, para beber cerveja e conversar, passa só para comprar panceta para fazer de mistura, a panceta já vai pronta para almoçar, a pessoa só faz o arroz, o feijão. Eu costumo fazer isso.
R - Não é só você não, tem bastante gente.
00:58:17
P/1 - Tem alguma história que seja sua, não de outra pessoa no bar, alguma coisa que tenha acontecido com você mesmo
R - Tinha um domingo, eu estava assando frango, aquela máquina que fala que é churrasqueira de cachorro, e acabou a força, a força é gás, mas se deixar queima, chegou a hora de entregar a turma chegou para buscar estava tudo cru, e o resultado sobrou tudo para mim. Perdi o domingo, mandava para o asilo quando sobrava carne assada, essas coisas, frango, sempre mandei para o asilo, mas agora cortaram Jair, se tem que assinar uma responsa lá se ficar alguém doente o culpado é você, eu não sei o que eles vão fazer com a comida que eu vou deixar lá. Agora no domingo eu tenho duas pessoas que me ajudam, eu asso uma média de 40 frangos por domingo, 20 peças de panceta, 12, 14 de costela, costelinha de porco, pernil, joelho de porco, o frango desossado e recheado só faço por encomenda.Tem duas pessoas que ajudam, faço uma rifinha no fim do dia, não para ganhar dinheiro nela, mas para vender o material, preço bom o material, a turma se diverte.
01:00:37
P/1 - E como você aprendeu a temperar?
R - Ana Maria Braga.
P/1 - Conta aí os segredos. Você assistia, ficava assistindo de manhã o programa dela.
R - Estava trabalhando e a tvzinha na frente, então aprendi desossar frango, leitoa, temperar, no fim se torna divertido
01:01:15
P/1 - Nossa, será que ela sabe que ela inspirou aí o Bar do Borim?
R - Só que eu vi ela fazer panceta lá, a panceta que ela faz perde para mim, assisto bastante essas coisas, eu gosto. Minha finada mãe ficou doente eu era mocinho, hoje fala AVC, mas que o tempo era derrame, e ela não podia andar, fazer nada, eu trabalhava na cerâmica perto, levantava cedo, ela ficava sentada em uma cadeira e ia falando um pouquinho o que tinha que fazer, eu tinha um pai e um irmão que trabalhava na lavoura, tinha que levar a marmita, então eu já deixava aquilo preparado, depois eu ia trabalhar voltava e só esquentava, fui aprendendo e cozinho bem, gosto de fazer comida.
01:02:38
P/1 - E você teve quantos filhos?
R - Eu tive um casal.
P/1 - Ah, um casal e cuidou de outro, né?
R - É, 02.
01:02:50
P/1 - E eles fazem o quê?
R - A minha filha hoje não faz mais nada, o marido dela tem oficina de enrolar o motor, ela vai me ajudar em casa, ela fica mais na minha casa do que na casa dela, que o marido trabalha o dia inteiro, e a neta está com ela também não faz nada, meu filho trabalha com assessor, ele é pedreiro também, ele viaja muito trabalha para raio, assessor de mercado, shopping, ele trabalha muito a noite, ele trabalha 03, 04 meses, depois ele pega 01 mês de folga, trabalha de pedreiro na cidade e os outros 02, a moça está casada, muito bem casada e o outro trabalha de conferente na Delta lá em Rio Claro, conferente de cargas.
01:04:16
P/1 - E como é o seu relacionamento com eles?
R - Muito bom. Só com o meu filho que nós dois não se bica muito bem. Mas é um rapaz muito bom também, gosto dele.
01:04:38
P/1 - O que vocês gostam de fazer quando estão juntos? Você e os filhos?
R - Comer e beber.
P/1 - Aonde?
R - Quando não é em casa é na casa dele, ele tem um rancho no baixão também, baixão de serra que a turma fala, não sei se você conhece a beirada do rio, é um condomínio, vez e quando ele está na prancha dele também, Passo uns dias lá.
01:05:23
P/1 - E o seu bar é em que bairro?
R - Bairro da Cohab. Cohab de Barra Bonita.
01:05:34
P/1 - E como você vê, teve alguma transformação? Como que é a Cohab? Conta um pouquinho.
R - Falo que é o centro de Barra Bonita, eu acho que está maior do que o centro da cidade.
01:05:58
P/1 - O que é a COHAB? O que significa a COHAB?
R - Aquelas casas, quem não tinha casa pegava uma casa, casa de pobre, a gente pegou uma também, levei 25 anos para pagar ela, mas paguei.
01:06:19
P/1 - E como você vê a transformação do bairro?
R - Só está faltando aqui para Cohab, mas tiraram, tem um banco, um correio, uma mini prefeitura onde se a gente pode, não precisar descer lá para pagar as coisas, uma casa lotérica tiraram tudo aqui uns tempos, tem uns 03, 04 mercado muito forte, mas a Cohab hoje é uma cidade muito gostosa de morar.
01:07:12
P/1 - E que lugares você gosta de passear, de frequentar na cidade?
R - Eu gosto de ir para beirada do rio lá no teleférico, onde tem um monte de quiosque, sempre tem festinha, passo o domingo à tarde e à noite lá.
01:07:38
P/1 - E você tem alguma memória? Alguma coisa que tenha acontecido nesse lugar, alguma história?
R - Só coisa rotineira. Agora na pandemia que meteram um tanto d'água lá, meteram água na turma, estava com aglomeração demais, o funk comendo no meio da avenida.
01:08:13
P/1 - E gostava de ir com a família, com a sua esposa?
R - É o caminhão pipa passou tacando água em todo mundo. Diz que estava lavando os canteiros, mas é bom, um bairro bonito e muito calmo. Por enquanto.
01:08:38
P/1 - Que outros lugares importantes para você?
R - Eu sou de sair pouco, eu saio por na de minha folga de segunda-feira eu não trabalho no domingo depois das duas horas da tarde, o sábado depois das sete horas, mas eu não vou para lugar nenhum, fico aqui em Barra Bonita mesmo, a gente desce em uma pizzaria, em um quiosque e passa o dia a noite lá.
01:09:42
P/1 - Falando um pouquinho do seu casamento, do seu relacionamento com a sua esposa
conta um pouco do início do casamento, como é que foi a vida de vocês?
R - Quando nós casamos eu trabalhava na cerâmica e ela trabalhava na lavoura. Tinha uma amiga de uma loja que cedeu todos os móveis para gente pagar quanto pudesse, ela trabalhava na lavoura e eu trabalhava na cerâmica, depois que pagamos os móveis não deixei ela trabalhar mais. Vivemos 48 anos juntos, que eu lembro assim nunca tivemos uma briga de ficar de mal um com o outro e precisar ir dormir no sofá.
01:10:50
P/1 - E um momento, uma lembrança, um momento importante de vocês dois.
R - Teve muitos momentos importantes, a gente gostava de ir no baile junto, era gostoso, em festa juntos, fazer alguma coisa em casa, estar os afilhados tudo, eu tenho pouco afilhado, 70 e poucas vezes padrinho de casamento, batizado não, foi pouco, mas casamento tem bastante.
01:11:42
P/1 - Mas um momento importante seu com ela. Como era o nome dela?
R - Nadir.
P/1 - Um momento importante seu e da Nadir assim que ficou na memória?
R - Nós fomos na Aparecida do Norte e andando lá ela tropeçou e quebrou dois dedinhos do pé, isso ficou marcado, judiação.
01:12:18
P/1 - Bom, e um momento bom de vocês dois sem quebrar dedinho?
R - Ah é que nem eu falei para você, para mim todos os momentos com ela estava bom, não teve festa, casamento, baile a gente gostava muito de baile, todos os momentos para nós estava bom, ela era minha paixão.
01:12:56
P/3 - Agora se ele quiser mostrar fotos.
R - Agora vamos mostrar o que eu faço. Essa é a costela de ripa. Aqui é a panceta assada e recheada.
P/1 - A famosa.
R - Essa aqui é a costela com sabor de carne seca.
P/3 - Essa que nós vamos comer, viu Lila?
R - Aqui é o frango desossado e recheado
Aqui eu estou finalizando uma chalana lá no rio, vamos pescar na chalana ela não deixou de ir junto.
Aqui é quando eu tiro as pancetas e ponho na bandeja. Aqui a porçãozinha que eu ponho na mesa que o pessoal come, aqui é a costela normal que eu faço, assim é a costela também, aqui estou fazendo um peixe.
01:15:15
P/1 - Qual peixe é?
R - É corvina.
P/1 - Assado?
R - Assado, estou preparando ela para assar, tem umas coisinhas que eu faço lá no botequinho.
01:15:25
P/1 - Tempera como a corvina? Agora vamos trocar a receita aqui.
R - Ervas finas, sal, não uso pimenta, alho, cebola, cerveja, faz tudo batido no liquidificador, deixa no banho Maria de um dia para o outro, depois é só levar no forno.
01:16:04
P/1 - Gostei, hein? Borim, pensando assim nessa tua trajetória toda, desde a época que você trabalhava lá na cerâmica, vendo a tua trajetória até hoje. O que você pensa? Como que é para você?
R - Olha, eu penso que Deus me ajudou muito, eu venci, tudo que eu enfrentei eu venci, graças a Deus venci, só não venci a morte da minha finada mulher, mas o restante tudo que eu pretendia eu tive, não posso queixar da minha vida, vou completar 74 anos, estou com a saúde boa, estou trabalhando, gosto de tomar minha cervejinha, gosto de estar junto com as pessoas, tenho muito amigo, amigo mesmo a gente tem pouco mesmo, colega já tem bastante. Espero que um dia você vier passear em Barra Bonita chega lá conhecer, aí sim você vai comer a panceta de graça
01:17:33
P/1 - Com certeza! Quando eu for hein?
Então hoje você está à frente do bar. E tem mais alguma coisa que você esteja fazendo no momento?
R - Não. E a única vantagem minha que eu fecho a hora que eu quero, eu abro a hora que eu quero, então eu mando em mim, não tem ninguém para falar não.
A Fabiana foi hoje cedo, ela falou para mim assim, “Zé sabe quem eu sou”? Não, conheço
desde quando nasceu.
01:48:41
R/2 - A minha mãe era muito amiga da esposa dele, a dona Nadir, e aí elas sempre têm histórias para contar deles, de quando era assim do clube, várias coisas, porque estava falando pelo WhatsApp, às vezes você não sabe com quem está falando, ele falou que sabia sim, memória boa.
01:19:07
P/1 - E que histórias são essas que a tua mãe conta dele? Faz ele lembrar.
R/2 - Essa época do clube, eu tenho foto do carnaval com as minhas irmãs lá dentro do clube, que meu pai também era sócio do clube, e a gente tem fotos lá dentro, carnaval e ela conta essas histórias.
R - Sua mãe bateu uma foto minha lá, vou tirar dentro da sua casa.
01:19:47
R/2 - Da minha mãe o senhor fala?
R - É, dentro da casa da sua mãe.
R/2 - Ah, eu vou perguntar para ela. Essa daí.
R - Acho que nós somos padrinhos de casamento da mesma pessoa.
R/2 - É uma foto em comum na verdade.
Aqui o bairro cresceu, foi sendo como um sorteio, né seu Borim aqui? E aí o pessoal foi se conhecendo, as meninas trabalhavam muito novas, têm pessoas que não me conhecem, fala assim, “trabalhou junto na casa de fulano, na casa de ciclano”, elas trabalharam como babá, como doméstica, começaram muito cedo, o bairro veio crescendo. A parte que seu Borim mora foi a última parte da Cohab, a rua da casa dele tem mais um quarteirão, na verdade é que os quarteirões aqui são bem menores que os de São Paulo, aqui tem coisa de 10, 15 casas, aí é 20, 30, bem maior, mas depois só tinha a cana, e a usina que é onde ele trabalhava, meu pai também trabalhava lá, é que comandava tudo isso, essa parte da cana, muita gente trabalhava lá, que hoje é a Raízen, mas antigamente quando ele, o meu pai trabalhou lá era Usina da Barra, e o pessoal conta essas histórias do pessoal que ficava no ponto para entregar a marmita, passava o ônibus recolhendo a marmita, que ia para o trabalhador que estava lá na usina, e aí as mulheres se conheciam, estavam amigas e levava para frente.
01:22:05
P/1 - Você podia contar um pouquinho disso que Fabiana falou?
R - É que aquela época lá na usina, o pessoal saía
cedo, então na hora do almoço você tinha que estar com a marmita pronta ou caldeirão, a maior parte era um caldeirãozinho pequeno, e passava a condução da usina recolhendo para levar para o pessoal, hoje não, eu tenho um restaurante dentro da usina, as coisas mudaram bastante, era legal, todo mundo trabalhava bem, comia bem e foi evoluindo as coisas tranquilo, devagarzinho. Hoje já tem na usina o restaurante, faz tempo já. E aqui onde a gente mora é a estrada que ia para Jaú, uma cidade na outra que não tinha asfalto, não tinha nada, hoje está tudo asfaltado, está uma beleza. Cohab virou uma cidade, tem vários restaurantezinho dentro da COHAB.
R/2 - Mas nenhum tem uma panceta igual a dele. É imbatível.
01:24:02
P/1 - Estou muito curiosa.
R/2 - O pessoal para ali para happy hour, o pessoal sai do serviço e para ali, toma uma cerveja, não é seu Borim.
R - Ali é o lugar certo. Trabalho aqui que é minha vendinha, ela não gosta de pagar não.
R/2- Ah tá, o Borim adora falar mal de mim.
01:24:39
P/1 - Ô Burim, eu fiquei aqui pensando, fiquei com uma dúvida, por que você quis se candidatar? O que você queria fazer pela cidade? Porque você quis ir para a política?
R - Por quê eu achava, não, eu tinha certeza os trabalhadores rurais eram tudo enganado, eu achava que se eu entrasse lá eu ia melhorar, mas como eu fui candidato e tive direito de ver as papeladas, é um tal de acordo o sindicato com a firma que dava vergonha, aquilo me deixou doente, às greves que eles faziam era tudo combinado, quem ganhava mesmo era o sindicato. Então eu me candidatei, mas a usina comprou meus candidatos, comprou candidato da minha chapa, abasteceu o carro deles, eu perdi a eleição, mas na barra eu ganhei, dentro da cidade do Carneiro, perdi na cidade fora.
01:26:10
P/1 - Ah. E hoje, quais são as coisas mais importantes para você?
R - A coisa mais importante para mim hoje é a minha família, eu adoro muito a minha família, minha filha, meu filho, meus netos, são muito bons para mim, bem dizer a minha família mesmo é minha filha e minha neta que vivem comigo, deixa eu mostra uma foto.
01:27:03
P/1 - Tudo bem, depois você vai mostrar as fotos para Fabiana. Ela vai fazer ficha de cada foto. Agora quais são os seus sonhos hoje?
R - Morrer tranquilo sem dar dor de cabeça para ninguém. Ai que belezinha de foto quando era moço.
01:27:45
P/1 - Você se considera uma pessoa alegre?
R - Sempre fui.
P/1 - Você está sempre sorrindo, né?
R - Se tristeza pagasse dívida eu ficava chorando.
01:28:03
P/1 - O que é que te deixa feliz?
R - Pessoas boas, as pessoas que me tratam bem, as pessoas que brincam com a gente, as pessoa que sabe respeitar me deixa muito feliz, não tem maldade são as coisas que deixam a gente feliz.
01:28:29
P/1 - E como foi contar a sua história aqui hoje?
R - Eu adorei. Principalmente uma pessoa igual a você que sabe levar as coisas, leva controladinho, bacana, gostei. Não tem pressa, adorei.
R/2 - Hoje de manhã eu estava preenchendo aquela ficha aí eu falei para ele, que era um pouco chatinha aquela parte, mas que ele também ia dar o trabalho. Por essa parte aqui de perguntar, questionário, um pouquinho chatinha seu Borim, mas o senhor vai ver que legal que vai ficar o trabalho depois de pronto.
01:29:24
P/1 - Eu queria te agradecer muito pela entrevista, pelo teu tempo, depois você vai fazer parte do museu virtual de histórias de vida. Vai estar lá para eternidade.
R - Fico muito contente, e mais contente ainda de ter essas duas pessoas aqui ajudando a gente e você é campeã, tem que tirar o chapéu para você.Recolher