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Dia 11 de outubro de 2000 eu e mais cerca de 150 jovens internos da FEBEM nos preparávamos para encenar o clássico de Miguel de Cervantes: “Dom Quixote”. A ansiedade e o nervosismo, misturavam-se a fúria que sentíamos por tanta humilhação que passamos para estar ali: escolta policial que nos tratava como se fossemos bicho, funcionários da FEBEM que faziam piadas sobre nossa participação no teatro, entre outros atritos, mas incrivelmente nenhum de nós aceitou provocação, enfrentamos nossos moinhos de vento dignamente.

Todos prontos, o espetáculo irá começar, vozes de diferentes tons, cores e textura povoam a plateia de 1200 lugares do teatro do Memorial da América Latina. A música inicia e com ela, o espetáculo, minhas pernas tremiam, afinal eu era encarregado do protagonista da peça, deram minha deixa, eu entrei, a voz libertou-se quase que inconscientemente, não consigo lembrar de muitos detalhes, mas lembro que naquele pedaço de tablado, sob as luzes dos refletores eu era livre. Começou então a música final, era o fim do espetáculo uma multidão de jovens invadiu o palco, via-se que a plateia estava receosa esperando pelo pior, pois o que todos esperam da FEBEM são monstros e não artistas.

Os familiares que estavam presentes na plateia subiram ao palco, choros risos e parabéns encheram o ar de sons. Ao canto vi um homem, uma moça com um menino no colo, era Gabriel, meu filho, meu Sancho Pança, uma voz me fala ao ouvido: “olhe por esse menino, pense nele”, palavras da diretora do espetáculo, Valeria Di Pietro, e isso ficou em minha cabeça. Despedi-me dos meus e voltei para FEBEM para terminar de cumprir a minha pena, naquela noite eu e mais um amigo achamos que iríamos conversar durante horas, mas a voz não falou e sim o silêncio, o mais puro silêncio, um silêncio preenchido de todos sentimentos.

Cerca de 1 mês e meio depois eu recebi minha liberdade a uma semana de outra apresentação queria sentir aquilo...

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