P/1 - Eu gostaria que o Sr. me dissesse o nome completo do senhor.
R - Expedito de Jesus Gonçalves
P/1 - O endereço do Sr.?
R - Avenida Conselheiro Nébias, 49, apto. 51.
P/1 - O bairro ali?
R - Ali é Encruzilhada.
P/1 - Telefone do Sr.?
R - 232-9075.
P/1 - A data de nascimen...Continuar leitura
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Eu gostaria que o Sr. me dissesse o nome completo do senhor.
R -
Expedito de Jesus Gonçalves
P/1 -
O endereço do Sr.?
R -
Avenida Conselheiro Nébias, 49, apto. 51.
P/1 -
O bairro ali?
R -
Ali é Encruzilhada.
P/1 -
Telefone do Sr.?
R -
232-9075.
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A data de nascimento do Sr.?
R -
31/12/1920.
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A cidade que o Sr. nasceu?
R -
Viana, Estado do Maranhão.
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O nome do pai do Sr.?
R -
Falecido, Genésio Gonçalves.
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A data de nascimento dele, o Sr. lembra?
R -
Não, porque meu pai quando faleceu eu era pequenininho.
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A cidade de nascimento dele?
R -
Do meu pai? Codó, Estado do Maranhão.
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Qual que era a atividade dele, o trabalho dele?
R -
Ele tinha um comércio chamado quitanda, era um armazenzinho.
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É, eu conheço. Ele era dono de uma quitanda.
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Geralmente vende frutas?
R -
Frutas...
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E o nome da mãe do Sr.?
R -
Maria Raimunda Gonçalves.
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A data de nascimento dela, o Sr. lembra?
R -
Bem, dia 23 de maio de 1893, já falecida, né?
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E ela era nascida onde, em Codó também?
R -
Não, ela nasceu mesmo em Viana.
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Ela trabalhava fora, era doméstica?
R -
Não, doméstica.
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E quantos irmãos o sr. teve, ou tem?
R -
Quatro. Agora só tem dois. Duas mulheres e dois homens.
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São quatro filhos?
R -
Quatro filhos.
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Então são três irmãos. O nome da esposa do Sr., qual que é?
R -
Maria Joana Carvalho Gonçalves.
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A data de nascimento dela?
R -
É 24... Ô, espera aí! Dezenove de abril de 1924.
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E ela é nascida em que cidade?
R -
São Luiz do Maranhão.
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A data de casamento do Sr.?
R -
A data é doze de maio de 49. Vai completar 50 anos, daqui há três meses. (riso)
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Tem que fazer uma bela festa.
R -
Vamos ver, né! Se der a gente faz, se não der... (risos)
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Pelo menos uma boa reunião de família.
R -
Uma reunião, os familiares...
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A atividade dela?
R -
Doméstica, dona de casa.
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Eu queria que o Sr. me desse o nome dos seus filhos, começando pelo mais velho.
R -
Do mais velho? Paulo Roberto Carvalho Gonçalves.
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A data de nascimento dele?
R -
É 10/11/51.
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A atividade dele qual que é?
R -
Ele é arquiteto, viu?
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Abaixo do Paulo?
R -
É, Maria de Fátima Carvalho Gonçalves. São casados também.
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A data de nascimento dela?
R -
É, 18 de novembro de 45.
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E a atividade dela, a profissão dela?
R -
É, agora ela é doméstica. Ele esteve trabalhando uma temporada lá em São Paulo, mas agora não trabalha, é doméstica mesmo.
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São só os dois?
R -
É.
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A formação escolar do Sr. qual que é?
R -
Naquela época, fazia até o quinto ano, era o primário, né? Agora tem a primeira série, segunda série...
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É, vai até a quinta série.
R -
Primeira, você quer dizer o quinto ano, que era o primário.
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O Sr. não chegou a fazer nenhum curso profissional?
R -
Não.
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O Sr. tem alguma religião?
R -
Sou católico. (PAUSA) Agora, fiz a profissão de futebol, mas, fora o futebol eu era ourives também.
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E o Sr. fez algum curso pra ourives?
R -
Não, aprendi desde o interior. Mesmo quando eu saí, no interior eu já aprendia, então quando eu cheguei aqui no Santos, comecei a aperfeiçoar mais. Eu mesmo me interessei, pensando em largar e continuar, então quando eu larguei de jogar futebol, abri uma lojinha aqui em Santos mesmo. Aí continuei minha vidinha até aposentar, né?
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Atualmente o Sr. é o que, aposentado?
R -
Sou aposentado.
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Eu queria voltar um pouquinho, que o Sr. falasse do primeiro trabalho. Foi como ourives, ou não? Aprendiz... Qual foi o primeiro trabalho?
R -
Foi ourives.
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E o Sr. aprendeu no Maranhão?
R -
Não, aprendi no interior, lá em Viana, onde nasci. Isso já com 13 anos comecei a aprender.
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Então eu quero colocar a data aqui. E foi que época mais ou menos, assim?
R -
Isso foi mais ou menos em 1931. Espera aí, 1933 mais ou menos.
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Em 33, até quando?
R -
Aí eu trabalhei... Que depois eu vim pra Capital, mas continuei trabalhando, trabalhei até 44. Agora, em 1944, eu fui contratado pelo Vasco.
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Aí o Sr. já largou, e tornou-se um profissional de futebol.
R -
Já dei um pulo enorme! (riso)
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É, pelo Vasco, foi o primeiro time que foi...
R -
Não, eu não tive muita chance no Vasco porque naquela época o Vasco tinha um time que era quase da seleção brasileira. Você sabe. Depois, um jogador do norte, é muito difícil, antigamente, um jogador do norte... Agora não, agora é fácil! Antigamente era difícil, então eu não tive muita chance no Vasco e fui cedido, então, por empréstimo, que eu te falei. Canto do Rio, que era de Niterói.
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Mas, o Sr. veio de lá pelo Vasco?
R -
Fui contratado pelo Vasco.
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Contratado pelo Vasco e depois foi cedido...
R -
Fui cedido ao Canto do Rio. Aí do Canto do Rio eu voltei para o Vasco, mas quando eu voltei para o Vasco, aí já tive um convite para vir aqui pra Santos. Aí aproveitei, porque se fico no Vasco de novo, eu não tinha chance, entendeu? Aí aproveitei, vim pra cá, e aqui tive sorte que joguei oito anos aí no Santos.
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Em 44, né? O Sr. veio para o Vasco. E aí para o Canto do Rio o Sr. foi em 44 mesmo?
R -
Em 45. Joguei seis meses no Canto do Rio.
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Canto do Rio Futebol Clube?
R -
De Niterói.
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É um time de Niterói. Eu conheço, é lindo!
R -
A Sra. conhece? Tem uma praia lá que é uma beleza, viu? Praia de Caraí.
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Ah sim, conheço mais ou menos. Conheço mais a universidade... Fluminense. Aí o sr. ficou durante seis meses, em 45?
R -
Aí eu voltei de novo pro Vasco.
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Voltou para o Vasco?
R -
Eu fui emprestado, né, terminou meu prazo lá de empréstimo, eu voltei para o Vasco. Aí quando eu voltei para o Vasco, então, houve esse convite. Aí eu vim aqui pra Santos.
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Em 45 ou já em 46?
R -
Não, em 46.
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Aí o sr. ficou de 46 até?
R -
Até agosto de 53. Quase oito anos, sete anos.
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Foi quando o sr. parou de jogar?
R -
Foi quando eu parei de jogar.
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Aí o sr. voltou a ser ourives?
R -
Aí eu voltei pra trabalhar... (riso)
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De 54, né, até quando? Quando que o sr. se aposentou?
R -
Aposentei, acho que em 78... Em 78.
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E aqui, em 54, o sr. falou que abriu uma lojinha?
R -
Uma lojinha modesta, né?
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Bom, o sr. falou que nasceu em?
R -
Em Viana.
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Em Viana, né? De Viana o sr. já foi direto para o Rio, ou o sr. morou em outros lugares?
R -
Não, fui pra Capital.
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Ah, sim, então é isso que eu queria saber. Os lugares que o sr. morou, tá? Então, foi Viana, né, que foi onde o sr. nasceu...
R -
Depois São Luís. Aí depois que eu vim para o Rio, mas eu ainda também servi o exército três anos, viu?
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Lá em São Luís?
R -
Lá eu servi dois anos e seis meses, que eu servi no tempo da guerra, né? Eu servi dois anos e seis meses lá, e seis meses no Rio. Quando eu vim para o Vasco, eles conseguiram
arranjar a minha transferência para o Rio, quer dizer que eu ainda servi seis meses no Rio. Isso em 44, no tempo do Getúlio.
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E servia todo esse tempo? Era comum mesmo, ou era por causa da guerra?
R -
Não, era por causa da guerra. Antigamente é como agora, né, o rapaz, assim, adulto, não chega nem a um ano... Dez meses, nove meses, onze meses... Naquela época era por causa da guerra, né, então eles cancelaram as baixas. Aí eu servi 3 anos. Na minha aposentadoria contou também, né, esses 3 anos conta na aposentadoria.
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Bom, então os lugares que o sr. morou. Viana, São Luís, Rio de Janeiro e Santos, né? Quando que o sr. saiu de Viana para morar em São Luís, que época, o sr. lembra a data?
R -
Eu saí 1939.
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E porque que o sr. saiu de lá?
R -
Ah, por causa da situação, né? Porque era um meio de a gente progredir mais, né, porque no interior não tinha nada. Mas agora está muito melhor lá a cidade onde eu nasci. Muito melhor, não tem nem comparação. Então, como minha mãe ficou viúva e meu pai deixou os filhos pequenos, então tinha que procurar um meio de melhorar de vida, né? E como já tinha esse dom, assim, de jogar futebol, então eu aproveitei a leva, com 17 anos, 18 anos pra Capital. Porque vontade... Pela minha mãe eu não vinha não, mas eu digo: "Nossa situação aqui não permite que a gente fique mais tempo."
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Então o sr. veio e a sua mãe ficou, né?
R -
Ah, ficou.
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Em 39 o sr. saiu da cidade natal. E, atualmente... Em Santos o sr. chegou em 46, né? Bom, atualmente o sr. é ligado a alguma instituição, assim, associação?
R -
Tem. A única coisa que eu tenho é um plano de saúde, só. Só o que eu tenho.
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Tá. No caso de...
R -
Investimento, essas coisas?
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Não, de por exemplo, terceira idade, grupo de terceira idade?
R -
Não.
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E aqui no Santos, o sr. é sócio do clube? O sr. participa dos veteranos aqui?
R -
Bem eu participo, mas é assim, quando eles vão jogar fora, não é pra eu jogar, né, eles me convidam. (riso)
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Ah, sim, não, mas pra... Porque aqui na sala dos veteranos tem uma mesa de sinuca. Esses encontros o sr. não participa?
R -
Não, às vezes eles vão jogar fora, então me avisam se eu quero ir ou não quero ir. A discussão... Eu vou, né, só pra assistir a brincadeira, mas não acompanho não.
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E hoje em dia, por exemplo, qual que é a atividade de lazer, de descanso do sr.? O que é que o sr. gosta de fazer?
R -
Não, a única coisa que eu faço é que, às vezes, vou para o interior. Minha filha tem um sítio no interior, então ela sempre me convida, principalmente quando a Márcia... Aí, telefonou pra mim na época, eles me convidaram pra eu passar alguns dias lá no interior, então eu falei pra ela: “Olha, agora não dá...”
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E é no interior de São Paulo mesmo?
R -
É, é ali pela região de São José do Rio Preto. Mas é uma cidadezinha mais pra lá ainda, chamada Nipoã.
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Aí o sr. fica...
O lazer...
R -
É, a gente passa lá, mas aqui eles não freqüentam não.
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Bom, aqui eu terminei essa ficha, e aí agora a gente... Eu vou voltar, eu vou perguntar algumas coisas que eu já perguntei para o sr., mas aí agora...
R -
Pra ver se eu lembro?
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Não, não é nem ver se lembra, é pra ser a entrevista mesmo, né? Assim... Eu queria que o sr. contasse um pouco da sua infância, das lembranças que o sr. tem da infância. Desde os pais do sr., como é que era lá no interior do Maranhão, né, dos avós. O sr. lembra?
R -
Minha infância foi muito difícil, viu? Foi uma infância pobre, né, principalmente depois que meu pai faleceu, porque meu pai tinha essa quitanda, então era o sustento da família, mas depois ele faleceu, então ficou difícil, né? Então minhas irmãs, que eram mais velhas do que eu, lecionavam naqueles centros e então eu comecei a aprender o ofício. Ali, mais ou menos uns 13 anos, né, comecei a aprender o ofício. Então, eram dois homens e duas mulheres e meu irmão trabalhava em fábrica, pra ter aquele dinheirinho todo dia, e minha irmã com a outra minha irmã elas lecionavam, assim, dentro de uma vila. Então elas faziam aquelas viagens muito difíceis, tempo de inverno, no interior, então elas faziam aquelas viagens de canoa. Quando era tempo de seca, elas iam a cavalo, faziam as viagens de cavalo, iam e voltavam, né? Então ficou muito difícil...
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E as escolas que elas lecionavam?
R -
É, era primário. Então naquela época era muito difícil, viu, muito mesmo.
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E o sr. era o filho caçula?
R -
Eu, o caçula.
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O sr. aprendeu a ler e escrever... Foi alfabetizado pelas irmãs do sr. ou não?
R -
Não.
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Foi em outras escolas?
R -
Foi em outras escolas, porque minhas irmãs ensinavam naquelas vilas. Agora, eu aprendi, fiz o quinto ano na cidade mesmo onde eu nasci.
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Certo. E como é que era a escola lá, que é que o sr. lembra, assim, do bairro onde o sr. morava?
R -
Onde eu morava não tinha nada. Fui pra capital, tinha que ir de barco, mas não é barco a motor, é barco a vela, que esperava o vento chegar pra levar o barco. Agora não, agora está tudo motorizado, né? Então facilitou muito. E tinha umas lanchas também, dessas que atravessam aqui, pro Guarujá, mas essas já eram motorizadas, entendeu? Mas as viagens eram muito difíceis também, o mar era muito forte, às vezes as embarcações viravam também, né, então foi uma criação muito difícil aí.
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Fica no litoral, Viana?
R -
É uma ilhazinha, viu? Agora, tem três lagos ali por perto também, que ali chamava a atenção. Na época da seca, ali que a gente fazia o campo pra poder jogar futebol.
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Ah! Então como é que era?
R -
Esvaziava, então, ficava aqueles seis meses que criava até capim, e ali naquele capim é que a gente fazia o campo de futebol. Agora, quando chegava o inverno aquilo tudo cobria, né, aí eles faziam outro campo em outro local, que ali não enchia, entendeu?
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Na parte mais alta?
R -
Mais alta, tudo, então tinha pra lá. Agora, quando era época da seca, aí tornava a voltar. Eu sempre gostei de futebol. Meu pai tinha quitanda, então quando eu chegava, assim, da escola, eu ia direto pra quitanda. Eu tinha uns dez anos mais ou menos e eu sempre gostei de futebol, então essas laranjas, o pessoal chupava tudo e eu ficava brincando com aquilo.
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Com o bagaço?
R -
Com o bagaço, justo. (risos) Então eu fui acostumando com aquilo, 12 anos, 23 anos, fui até com... Agora, tem um caso interessante, que eu com 15 anos... Foi nomeado um Juiz de Direito lá pro interior e esse Juiz de Direito gostava muito de futebol, então um dia ele mandou me chamar, porque eu lá era tido, assim, como um dos melhores jogadores daquela redondeza.
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Tinha um time local?
R -
Tinha.
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E o sr. jogava nesse time?
R -
________________________, o time que eu jogava, né? Então esse Juiz de Direito mandou me chamar e tinha muita gente tarimbado numa cidade chamada Tenalva, e a minha que era Viana. Então ele mandou me chamar e falou... Nós íamos jogar num domingo e ele falou que se ganhasse o jogo, eu podia... Jogava descalço: "Eu vou mandar fazer uma chuteira, você pode escolher o que você quiser, que você vai acostumar jogar com chuteira." Aí nós fomos e ganhamos o jogo. Eu mandei fazer uma chuteira sabe que cor? Branca. (risos)
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O sr. que escolheu a cor?
R -
Eu que escolhi a cor.
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Por que o sr. escolheu essa cor?
R -
Não sei, acho que porque era bonito. Então, aí os outros também mandaram, mas ele mandou me chamar, eu principalmente, só por causa disso, que se ganhasse o jogo...
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O sr. marcou algum gol nesse jogo?
R - Não, eu... Engraçado, né! Eu jogava na linha, de centro avante, depois... E depois eu vou contar como foi chegar na posição que eu jogava. Então ele mandou que eu escolhesse a chuteira, fui no sapateiro, falei com ele, aí comecei a jogar de chuteira. Então tinha um cuidado danado, jogava e quando eu chegava em casa limpava a chuteira de novo pra ficar branquinha. Isso foi, agora com 17 anos, formaram a... Não, eu fui transferido para outra cidadezinha no Maranhão. Mas fui transferido para trabalhar com um dono de uma casa de jóia, lá nesse interior. Então eu fui, passei lá dois anos com ele, trabalhando. Aí quando eu completei 18 anos, formaram essa seleção no interior, aí me requisitaram da outra cidade, e vim fazer parte da seleção. Aí eu vim, passei dois anos nessa cidadezinha e voltei pra minha cidade, aí nós ficamos em concentração, tudinho, pra jogar na capital, né? Era a primeira vez que o (time?) vinha jogar na capital, né? E eu vim com eles.
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Que ano que foi?
R -
Isso foi em 1938. Aí ficamos treinando, tudinho, fazia aquelas corridas, acordava de madrugada, aqueles campos,
a gente treinava, corria, tudinho... Preparo físico. Então fomos jogar no interior... Na capital. Agora, na capital nós tivemos sorte porque pela primeira vez que veio uma seleção do interior jogar na capital, fizemos bonito: perdemos um jogo, perdemos um e empatamos outro. Aí que eu digo, como eu tinha... Começo de profissão, então eu já tive um convite pra eu ficar no Maranhão, na capital.
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Lá em São Luís?
R -
É, em São Luís. Então, esse sr. que tem essa casa de jóia, era presidente do clube lá do Maranhão Atlético Clube, justamente era o clube que eu joguei lá. Então houve a facilidade pra eu ficar, e morava com ele, tudinho, né? Me convidou...
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Morava na casa dele?
R -
Morava com ele, tudinho. É uma casa de três andares, existe lá. Então, em baixo era loja, no meio morava com a família e no terceiro andar morava eu e o sobrinho dele.
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Que era jogador também?
R -
Não, não era jogador. Então ali eu não pagava nada. Desde o café, roupa lavada, nada, nada. Porque eu era amador. Agora, ganhava na época 120 mil réis.
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Ganhava pelo fato de trabalhar na casa de jóias dele?
R -
Na casa de jóias, na joalheria, justo. Ganhava 120 mil réis, na época. Mas eu sempre fui filho bom, viu? Então, desse dinheiro, que minha mãe ficou viúva, então, desse dinheiro eu tirava 80... No primeiro mês que eu cheguei no Maranhão, ganhava 120, então já tirei 80 e já mandei pra minha mãe. Então, até ela falecer, que ela faleceu em 88, nunca teve um mês que eu não mandasse uma mesada pra ela. Ah! No primeiro dia que eu recebia, mesmo aqui em Santos, recebia o dinheiro, ia no correio, já emitia.
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Sr. Expedito, e ela
se importava de o sr. gostar de futebol?
R -
Não, ela não gostou quando eu me separei dela, né?
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O pai do sr. também não...
R -
Não, porque meu pai não alcançou... Porque era o seguinte...
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Quando o sr. era criança, ia jogar bola e...
R -
Meu pai era o seguinte: meu pai ele foi jogador de futebol, e treinava um time. Eu vou te explicar o caso. Então, eu com dez anos, eu e meu irmão, quando era dia de treino, eu e meu irmão ficávamos na quitanda. Mas eu ficava na porta da quitanda esperando ele dobrar a esquina pra eu chegar no campo primeiro do que ele. (risos) Então, tanto que eu... Meu irmão também jogava futebol, justamente essa seleção que fizeram no interior, meu irmão também veio comigo. Mas, então quando ele dobrava a esquina eu ficava na porta, assim né, quando eu via que ele dobrava a esquina, aí saía correndo, chegava no campo primeiro que ele, que o campo lá dos adultos e aqui o campo das molecadas, né? Mas, olha, apanhei tanto do
meu pai por causa de futebol... Gostava, foi jogador, tudinho, né? Porque eu acho que ele não queria que eu jogasse, entendeu? Então, quando eu chegava no campo que ele me via, mandava eu ir para casa. Eu estava lá me divertindo mais a molecada, mas eu vinha, né? Então, assim, foi mais... Não demorou muito porque depois ele faleceu, né? Então quando ele faleceu, minha mãe já não se incomodava muito, né? Tanto que quando eu vim pra capital, eu expliquei o caso pra ela, disse: “Olha, se eu for ficar aqui, não vou poder lhe dar nada também.” Não tinha comércio, não tinha nada, lá era a pescaria e verduras, só. Agora, não tinha, assim, uma fábrica de... Como é que se diz... Uma fábrica de tecido e outras coisas, entendeu? Não tinha nada. Então dependia muito da capital também. Aí foi fluindo, falando pra ela, aí foi até o dia que ela concordou, quando eu vim de lá.
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E o irmão do sr. não continuou com o futebol?
R -
Ah! Meu irmão, depois que eu estava na capital, eu fiz carta pra ele, tudinho, pra ele vir pra capital, sabe por quê? Ele tinha conhecimento na capital, então era fácil de ele vir, mas como ele ia casar, ele não quis vir. Tanto que quando eu vou no interior, eu falo isso pra ele, ele diz: “Pois é, é que não tinha que ser.” ele fala pra mim. Mas eu convidei, fiz uma carta, (PAUSA) todo mês eu telefono.
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E ele não quis ser jogador de futebol, então?
R -
Não, ele quis como eu. Amador.
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Mas não foi?
R -
É, agora se ele viesse pra capital, aí ele também seguiria carreira, entendeu? Mas como ele não quis... Porque eu joguei cinco anos no Maranhão, eu era amador.
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Que time que era?
R -
Maranhão Atlético Clube. Porque lá tinha o Maranhão Atlético Clube, tem o Sampaio Correia,
que são os mais conhecidos. Agora tem mais outros clubes, mas não são tão conhecidos quanto eles.
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Certo. O sr. jogou cinco anos como amador. Agora, o sr. me falou que jogou num time em Viana, qual que foi o primeiro time que o sr. jogou?
R -
É, o meu primeiro time foi Maguari, Maguari Esporte Clube, depois eu fui para o Vianense Futebol Clube, aí que eu vim para o Maranhão Atlético Clube.
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Isso tudo como amador?
R - Tudo como amador. Até no Maranhão mesmo era amador, esses quatro, cinco anos que eu fiquei no Maranhão, era amador. Agora, o interessante, a minha vinda para o sul foi porque esses clubes daqui de São Paulo e do Rio jogavam no Maranhão. Os clubes lá me pediram emprestado. Então naquela época eu ganhava 200 mil réis pra jogar pelo clube. Agora, se ganhasse, eram outros tantos que ganhava. Então o Sampaio Correia me pedia emprestado pro Maranhão, então eu gostava, né, porque mesmo não ganhando, o time não ganhando, eu ganhava 200 mil e se o time ganhasse eu ganhava mais 200, então pra mim era bom. Então foi assim, fui descoberto lá no Maranhão, viu? Foi um time do São Cristóvão jogar
no Maranhão, e eu joguei pelos três times de lá, né? E outra coisa, eu de 41... De 40 a 44 eu jogava na seleção, sempre joguei na seleção, os quatro anos que eu passei lá, né? Então a gente vai ficando conhecido, vai jogando muito.
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Seleção do interior?
R - Não, da capital, Maranhão. Então naquela época, disputava-se torneios, (por zona?), então nós jogávamos contra Belém do Pará, contra Piauí e contra Ceará. Então, eu vim em 41, eu vim jogando pela seleção do Maranhão, mas jogando contra Pernambuco. Mas no Rio, heim?
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No Rio de Janeiro.
R - Agora, nós fizemos a viagem de navio, gastou 13 dias. (risos) Mas porque era navio costeiro, ele vem, navio misto, né, ele vem descarregando tudinho, então gastamos 13 dias do Maranhão para o Rio. Aí quando eu voltei para o Maranhão, aí eu fiquei mais 42, 43, e quando foi 44 eu tive esse convite do Vasco.
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Aí, conta pra gente, como é que é? O sr. foi... O sr. recebeu o convite do Vasco...
R - Bem, aí é o seguinte: em 41... Que naquela época que servia o exército era por sorteio, não é como agora. Agora, o rapaz quando chega 17 anos se alista, né? Havia o sorteio, então, eles sorteavam pessoas de 21 anos, de 1920. Agora, se a pessoa caísse naquele sorteio, servia, se não caísse, não servia, né? Como meu irmão, meu irmão não caiu, então não serviu. Agora, eu caí, então por isso que eu servi os três anos, quando fui para o exército.
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Isso foi em 41, que o sr. foi sorteado?
R -
É fui sorteado em 41.
P/1 -
E o sr. serviu em São Luís?
R -
Servi dois anos e seis meses lá. E seis meses eu servi no Rio.
P/1 -
Tá, porque nesse tempo que o sr. foi convidado para vir para o Rio?
R -
Nessa época, justamente. Então naquela época que tinha o presidente do Vasco, naquela época era o Cyro Aranha, irmão do Osvaldo Aranha, que foi Ministro da Fazenda. Você lembra desse nome, né?
P/1 -
É, de nome sim.
R - É, de nome, talvez. Então, eu, com aquela facilidade da minha transferência do Maranhão para o Rio, como militar... Eu era cabo do exército, né, como militar. Então, assim que eu consegui minha... Aí, porque esse time que foi lá, o São Cristóvão... Joguei contra o São Cristóvão, contra o Fluminense, contra a Portuguesa de Desportos, então, esses times todos eu jogava contra, né? Que eles me pediam emprestado, então eu aproveitava.
P/2 -
Durante o tempo que o sr. ficou no exército o sr. chegou a jogar? Jogava bola pelo exército?
R - Jogava, eu fui até preso numa ocasião porque... Preso no quartel do exército, né? Porque eu servia... Conhece o Rio?
P/1 -
Conheço, mais ou menos.
R -
Bangú, conhece? Ali era a Central do Brasil, e eu servia na Vila Militar, fica perto de Bangú. Então tinha que tomar o trem da Central do Brasil, ia até a Vila Militar, lá que eu servia. Muito bem, então lá havia aquela disputa, uma disputa de seleções do exército, né? Eu, quando fui, já entrei na seleção. Então havia um jogo no campo do Vasco. Como eu morava no Vasco, eu me apresentei na sexta-feira lá pro comandante do batalhão, porque o jogo era no sábado, no campo do Vasco. Me apresentei lá pro comandante, e falei pra ele: “Eu, como moro lá no Vasco, então eu fico esperando a delegação, o time lá no campo.”; “Ah! Está tudo certo!” Então, quando chegou sábado, deu assim, oito horas, nove horas, eu não vi movimento nenhum de militar ali, nada, viu? Aí o que é que eu faço. Telefonei pra lá. Naquela época a gente telefonava, era um cruzado que chamava, umas moedas grandes, então tinha que por no telefone pra poder... E dava aquelas voltinhas. Bem, aí telefonei pra lá, aí me disse: “Ah! O jogo não é no campo do Vasco, vai ser no campo São Cristóvão.” Aí eu pus a farda depressa, cheguei lá, me apresentei para o capitão, disse: “Cabo Expedito, segunda feira o sr. se apresente comigo.” O jogo já tinha começado, né? Aí já fiquei matutando, digo: “Olha, vai ver que eu vou pegar qualquer coisa aí, porque cheguei atrasado.” Mas eu tinha razão, porque eu cheguei a perguntar para um jogador no campo do Vasco, tudinho, só porque eu cheguei atrasado, mas, eu estava com minha razão. Quando chegou segunda feira, me apresentei, já fui pro... Passei dois dias só, viu? Ia almoçar, os guardas me levando pro refeitório...
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Só por causa disso?
R -
Só por causa disso. Mas quando eu saí do exército, eu saí limpo, né? Não saiu nada no certificado, nada, nada, viu? Um mau elemento, nada.
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Então esse dia o sr. não jogou pro exército?
R -
Não, não joguei.
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Mas, o sr. chegou a jogar outras vezes?
R -
Ah! Outras vezes joguei sim. Joguei contra... Em Niterói tinha o Primeiro Regimento de Infantaria. Não, Terceiro Regimento de Infantaria. É, porque o primeiro e o segundo eram lá na Vila Militar, onde eu servia. Agora, o Primeiro Regimento é que ia muito pracinha pra guerra, viu? Então, eu tinha medo, às vezes, de ficar de serviço, porque era ali perto e o trem passava bem atrás do quartel. Então, de noite eu estava de serviço, a lua bonita, quando eu via o trem passar com aquela turma. Poxa, militar, né, que ia pra expedicionário. E eu ficava com medo disso. Mas chegou uma época que o comandante reuniu um pessoal que jogava e falou: “Olha, eu vou avisar vocês que o dia que tocar... Reunir pra fazer exame pra expedicionário. Se vocês estiverem fazendo instruções..." porque ali ao redor tudo é mato, viu... "Vocês procurem despistar, porque se vocês fizerem o exame, vocês vão mesmo, sabe?” Todo mundo ali está com saúde, né, então a gente fazia isso, viu? Às vezes a gente estava fazendo instrução, corria, tu, tu, tu, pra fazer exame. Aí, saiu um pra cá, outro pra lá. Quando ia a falta pra ele, ele já sabia, né? Então por isso que eu nunca fui, assim, expedicionário, né? Mas se não fosse o futebol, garanto que eu ia. É, porque eu tinha saúde, graças a Deus. E assim, a minha vida foi isso, viu?
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Então e aí, do Vasco o sr. ficou... O Vasco emprestou o sr. pro Canto do Rio, em Niterói?
R -
É, pra mim ali foi uma beleza, porque o Canto do Rio só tinha o primeiro quadro profissional. Então aí eu joguei todas as partidas, então fiquei mais conhecido, né? Aí terminou o meu contrato e eu voltei para o Vasco.
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O sr. sempre jogou de centro avante? O sr. falou no início... (riso)
R -
Bem, no interior eu jogava de centro avante, mas aí, quando formaram essa seleção no interior, eles acharam que o meio de campo, naquela época se chamava centro avante, que era o trabalho do meio de campo... Agora é meio volante, não sei o que... O treinador achava que estava indo bem, se eu não queria fazer uma experiência ali, eu disse: “Eu vou.” Aí
voltei pro meio de campo. Aí com os treinamentos, ele achou que os zagueiros também não estavam correspondendo, se eu não queria fazer uma experiência. Aí eu fui, de zagueiro, né? Aí fiquei até hoje. Mas eu jogava de lateral direito, aqui no Santos é que jogava de lateral esquerdo. Esses oito anos que eu joguei aqui, foi de lateral esquerdo. Eu não sou canhoto não, né? (riso) Mas, não tinha dificuldade, assim, pra chutar com a perna esquerda, não. Mas eu não era canhoto não. Agora eles procuram mais o jogador canhoto, nessa posição, como joga aqui o Dutra, né? O Dutra é meu conterrâneo, é maranhense também.
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E como é que foi a vinda do sr. pro Santos? Do Vasco, quando o sr. retornou, aí é que o sr. foi convidado?
R -
É, aí esse treinador que quando foi no Maranhão com o São Cristóvão, ele foi contratado aqui pelo Santos, aí eu estava no Vasco.
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O sr. lembra o nome dele?
R -
Abel de... Então ele assinou o contrato aqui com o Santos, ele se lembrou de mim. Aí ele foi lá no Vasco, conversou comigo, se eu queria vir para cá. Santos era uma cidade que eu nunca tinha visto, nunca mesmo, nunca tinha visto falar, nada. Aí ele falou: “Não, é uma cidade boa, você vai gostar, tem praia, tem tudo...” Aí ele me animou, né? E eu fiquei pensando: "Vou ficar aqui no Vasco, vou ficar de novo na reserva." Aí eu aceitei o convite, mas o Vasco não me vendeu não, o Vasco me emprestou também pro Santos. Me emprestou por um ano, mas, com seis meses, eu tive sorte de jogar bem, agradar aqui o treinador, a torcida, ser bem quisto com a torcida, tudo, então, com seis meses o Santos comprou meu passe.
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E o sr. lembra do primeiro jogo aqui no Santos, com a camisa do Santos?
R -
Com a camisa do Santos, foi contra o Ipiranga, aqui.
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Aqui na Vila?
R -
É, agora o resultado eu não sei, não lembro do resultado.
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Mas o que o sr. lembra do jogo, assim, os companheiros, os colegas?
R -
Ah! Eu lembro de tantos colegas que eu tive. Agora, no mesmo ano que eu cheguei, eu vim pra cá em março de 46, e outubro de 46, sobre a venda do meu passe ficou combinado do Santos fazer um jogo amistoso contra o Vasco. Então, nós fizemos esse amistoso, aí ganhamos do Vasco aqui de quatro a um. Isso pra mim foi uma beleza, viu? Mas dois dias antes, nós tínhamos ido jogar em Taubaté e perdemos de três a dois lá do time de Taubaté. Isso numa sexta-feira, foi 15 de novembro, também. Feriado aqui, né, e sexta-feira. E no dia 17 era domingo. Então nós perdemos lá e o Vasco tinha jogado aqui com o Jabaquara. Tinha ganhado de oito a um do Jabaquara. Então nós viemos jogar com o Vasco, a portuguesada aqui tudo apostava no Vasco, um dava uns cinco de lambuja, porque tinha ganhado de oito do Jabaquara, outros davam seis... Aí nós ganhamos de quatro a um, viu? E depois de dois dias, nós tínhamos que viajar para o norte.
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Que tem as fotografias?
R -
É, que tem as fotografias aí. Pra mim, foi uma das melhores partidas que eu fiz,
eu quis mostrar também, porque eu não fui aprovado lá, né? Então o jogador sempre fica com aquele pensamento... Não, eu digo: “Eu vou mostrar pra eles que eu também...” (riso) E ganhamos de quatro a um, e depois de 2 dias embarcamos para o norte, aí fizemos uma excursão também muito boa. Nós voltamos invictos, né? Fizemos 15 partidas, tivemos dois empates só e 13 vitórias. Agora, tive bons amigos, muitos amigos, tive o Antoninho aqui, que foi um amigão mesmo.
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Era jogador?
R -
Era. Agora, daquela época, já morreram muitos, né? Daquela época se tiver uns seis vivos, é muito.
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Quem jogava, qual o time, quem que jogava com o sr.?
R -
Quando eu vim mesmo pra cá, o goleiro era um goleiro que veio de São Cristóvão do Rio, um tal de Joel. Era Joel, Artigas e eu, Nenê, Dacunto, aquele careca argentino e Castanheiras. Era Pirambó, Antoninho, Caxambú, Adolfrise e Rui. É, eram os onze. Agora, depois foi mudando, né? Esse Joel saiu, aí veio o Leonídio, esse que já fizeram também com ele. Já não fizeram uma entrevista com ele?
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Já.
R -
É, depois veio o Leonídio pro gol, aí fiquei jogando também. Era eu, Élvio, aí já era o... Não, aí com Leonídio ainda era o Ortigas também comigo, eu e o Ortigas. Agora, a linha já era o Nenê, Alfredo e Pachoal. Aí já era o Alemãozinho, já era o Antoninho, era o mesmo, o Nicássio, o Odair e Pinhedas. É esse que ela falou, eu vou dar depois o endereço pra ela, que ela quer fazer uma entrevista também com ele. Depois foi mudando. Depois veio o Chiquinho, goleiro, depois eu joguei com o Élvio, com o Zito também, o atual Zito, o Formiga, também joguei com o Fomiga, né, e depois foi mudando. Depois veio o Tito, joguei com o Tito também.
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Ponta esquerda?
R -
É, ponta esquerda. Naquela época, que eu joguei e que está vivo é o Formiga, o Zito, Leonídio, os que eu me lembro é só, viu?
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A Márcia estava me contando que o sr. chegou a jogar com o Leonidas?
R -
Contra.
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Conta um pouquinho pra gente?
R -
Ah! O Leonidas era muito bom.
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Que jogo que foi esse, quando que aconteceu, onde?
R -
Isso foi aqui mesmo.
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Aqui na Vila?
R -
É, quer dizer, eu joguei com ele diversas vezes, né, mas aqui tem uma fotografia, instantânea aí, eu e ele disputando bola.
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Você que marcava o Leonidas?
R -
Não, quem marcava naquela época era o outro, Artigas. Tem uma fotografia interessante, tirando assim, uma bola, ia marcar um gol, então tinha o Leonidas, tinha o Gilmar mesmo, Gilmar que era do Jabaquara, que jogou no Corinthians, goleiro, né? Eu joguei contra ele, né, agora depois, quando ele saiu do Corinthians é que ele jogou no Santos, porque ele era daqui de Santos mesmo.
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Sr. Expedito, além desse jogo que o sr. contou pra gente contra o Vasco aqui na Vila, o sr. ficou bastante emocionado, foi muito importante para o sr...
R -
Ah! foi sim.
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Além desse jogo, teve mais algum, assim, que marcou?
R -
Não, a gente quando ganhava do Corinthians sempre era bom. (risos) E nós perdemos, eu perdi jogos com o Corinthians, mas eu ganhei também, né, do Palmeiras. Os times todos que eu joguei sempre ganhei também, perdi também, né, mas sempre ganhei. Agora, o Corinthians sempre teve aquela rixa.
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Aquele gostinho especial? (riso)
R -
É, naquela época tinha o Baltazar, que era um bom jogador, marcava muito gol, né? Na época do Leonidas também. E o Palmeiras também tinha um time muito bom, tinha o Oberdan, que era um bom goleiro, um ótimo goleiro também. É isso viu! Agora tem muitos jovens bons na Portuguesa de Desporto, nós sempre ganhamos da Portuguesa, dificilmente nós perdíamos para a Portuguesa, e mesmo na Portuguesa, naquela época tinha um time muito bom, viu! Um time muito bom mesmo.
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E esse título que vocês conseguiram da cidade de São Paulo?
R -
Ah! Da cidade de São Paulo, os três clubes que tiraram primeiro, segundo e terceiro lugar, então, naquela época havia aquele torneio, um torneio que eles faziam, e foi na época do Brandão. Mas aquele torneio teve muitos jogadores do Fluminense do Rio. Deixa ver se eu me lembro: veio o goleiro, o Robertinho.
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Veio pro time do Santos?
R -
Pro time do Santos, né? Vieram muitos jogadores do Fluminense.
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É, acontecia isso. Como que era?
R -
É, ele... O Santos comprava, porque naquela época era, como se diz, não sei se era tudo igual, mas era barato o preço dos passes, né, então tinha aquela facilidade. E como o Santos sempre foi, assim, teve uma amizade com o Fluminense, então... Olha, na época, tinha o Robertinho, goleiro, tinha o Paschoal, Telesca, só pra ver quantos dispunham nesse time, o Tite, o Élvio, o Simões, tinha Juvenal, tinha o _____________, chamado Chatara, que também veio pra cá, então tinha muitos jogadores... Carlyle, Carlyle também veio pra cá, então tinha muita gente do Fluminense, né? Faziam aquele intercâmbio, né, com o Fluminense. E também, às vezes ia jogador também do Santos pra lá,
mas do Fluminense vinha mais, né? Fluminense veio, principalmente em 48, que o Santos foi vice-campeão, porque eu não fui campeão nenhuma vez, fui vice duas vezes.
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Então conta desses vices, conta um pouco desse vice campeonato aí, desse título de vice de 48.
R -
Esse foi... Não, nós fomos em 48, mas fomos disputar em 49 esse título do torneio. Era torneio, como é que se chamava? A Taça São Paulo, da cidade de São Paulo.
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Mas em 48 vocês foram vice.
R -
Vice, aí disputou, porque ficamos em segundo lugar, então disputamos em 49. Então sempre disputava, Santos, Corinthians e Palmeiras, né? Antigamente eles só falavam nos times de São Paulo, que era o trio de ferro, era Palmeiras, Corinthians e São Paulo, Santos não. Agora, o Santos pegou um bom nome mesmo foi depois que o Pelé chegou mesmo, viu? Naquela época tinha, o time ia bem, né, ficava sempre bem colocado, tudinho, mas depois que o Pelé chegou é que ficou mais conhecido, mundialmente, né? Agora, o Brandão, o Brandão também foi um bom treinador, muito enérgico, viu, muito bom. Faleceu já, né?
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E o sr. falou que sempre jogou de zagueiro depois que saiu do interior, e o sr. chegou a fazer algum gol, como zagueiro?
R -
Fiz na minha terra, mas de penalti, né?
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E qual que é a sensação quando a gente faz um gol? Que é que a gente sente, o que o sr. sentiu?
R -
É, justamente, o gol que eu fiz foi pra decidir título também, então, isso foi em 1943, um ano antes de eu vir para o Santos.
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E era quem que estava jogando? Que título estava sendo disputado?
R -
Era Maranhão e Moto Clube. Então eu... Mas, agora, contra eu nunca marquei não. Teve colega meu que marcou... Aqui teve um jogo, Santos e Comercial, naquela época tinha o Comercial de São Paulo, que disputavam a primeira divisão. Nós ganhamos aqui de cinco a quatro.
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O Odair fez cinco gols, né?
R -
É, o Odair. O Odair marcou cinco gols e o Nenê marcou um também, contra, né? Ele sempre marcava, o Nenê sempre marcava um golzinho contra. (risos) O Odair naquele dia marcou cinco gols aí. Há poucos dias, encontrei com um rapaz, encontrei não, esse rapaz foi fazer... Foi levar uns alicates para um amigo meu amolar,
e conversando, não sei, ele era ponta esquerda desse Comercial. Aí ele conversando lá, tudinho, ele disse: “Ah! Eu tenho um compadre, um amigo meu que jogou no Santos.”
Aí falou: “Quem é?”; “Expedido”; “Ah! Expedito”, aí ele lembrou desse jogo, de cinco a quatro, que ele jogou, também marcou gol, né, esse rapaz. Mas aí ele até me convidou: “Quando tiver uma folguinha, aparece lá em casa, pra gente bater uma papo.” Porque ele é aqui de Santos mesmo. E agora você falando nisso, eu me lembrei dele. (risos) Naquele dia ele marcou dois gols, e o Nenê marcou um, e o outro eu não me lembro quem foi. Nós ganhamos de cinco a quatro, mas, assim, apertado. Agora, contra eu nunca marquei não!
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E fora do penalti também não?
R -
Não, também não. Só batia penalti aquele ali, né, porque depois que eu mudei pro sul não batia mais penalti. Porque o batedor de penalti, ele tem que treinar também um pouco, né?
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E o sr. treinava?
R -
Não, não treinava não. Eu chutava, assim, a ermo. Eu chutava forte, né? Então se o goleiro defendesse, se machucava, né? (riso) Agora se procura até colocar, né, tudinho, mas de marcar, assim, pra... Nunca fui, marquei aquela vez...
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Porque atualmente, por exemplo, a gente vê muito zagueiro fazendo gol de cabeça, por exemplo.
R -
De cabeça, é. Também goleiro, assim, de área, que joga na área, né, como aqui tem no Santos o Argel, né. O Argel marcava muito... O Luís Pereira, quando jogava, também marcava muito gol de cabeça, né? Porque eles procuram mais as pessoas mais altas, né, porque o Viola marca muito gol de cabeça também, porque ele é alto, marca muito gol de cabeça, então... Agora, tem jogador pequenininho que marca muito gol de cabeça, esse Sandro mesmo, pequenininho, né? De vez enquanto ele marca o golzinho dele. O Marcelinho Carioca também, é baixinho, não é?
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Sr. Expedito, eu queria que o sr. falasse um pouco em relação do futebol da época que o sr. jogou, quer dizer, dos anos 40, e de agora. O sr. acha que mudou, que está igual? Se mudou, o que é que mudou?
R -
Não, agora mudou, porque tem as táticas que eles inventam aí, né? Porque antigamente nós jogávamos... Por exemplo, eu, quando jogava, se fosse agora nem daria nada, porque naquela época eu jogava mais era marcando, dificilmente apoiava. Agora seria ao contrário, os laterais "tudo" apoiam, né? Marcam gol também, tudinho, como aqui o Dutra. Aquele menino que joga no Vasco também, o lateral esquerda que é muito bom também, né? Então, naquela época não! A gente ficava plantado ali, é como o zagueiro de área, quando jogava o Artigas, o Élvio, a gente ficava ali na... Dentro da área. Agora, não. O zagueiro sai às vezes pra marcar gol de cabeça no escanteio, né? Vai todo mundo lá pra dentro do gol, né? Então, está sendo diferente e depois as táticas também modificaram.
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Às vezes o goleiro sai também?
R -
O goleiro também sai, pode marcar até gol de penalti, ou fora da área mesmo, como faz o do São Paulo. Então, antigamente não tinha nada disso, o goleiro não saía do lugarzinho dele. Agora ficou mais truncado também o jogo, por causa desse cartão amarelo, o jogador já tem medo de disputar uma bola, pra não fazer uma falta. Isso tudo já modificou. Agora, não... Por exemplo, um lateral que fosse atrasar uma bola pra ele,
podia pegar e ficava batendo. Agora não, né? Agora não pode.
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Recebe cartão amarelo.
R -
Ah! Pega cartão amarelo, quando não é expulso, né?
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Essas regras alteraram um pouco o dinamismo do jogo?
R -
Ah! Também, né! Agora está muito violento, eu acho mais violento do que antigamente.
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Ah! Essa pergunta que eu queria fazer para o sr. agora. Quais seriam os aspectos negativos, do futebol atual, mais veloz, mais força?
R -
Bem, agora é mais físico, o time que tiver um bom preparo físico sempre leva vantagem Não é como antigamente. Antigamente os exercícios que nós fazíamos eram mais brandos, eram mais lentos, tudinho. Agora não, você vê, um time aí que tem um preparo físico bom sempre ganha a partida, né? Por causa dos treinamentos que são diferentes também.
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E a técnica?
R -
Olha, não sei se dá certo, porque antigamente nós tivemos bons jogadores, pra você "vê", como no caso do Leonidas. Leonidas, eu nunca vi, assim, um centro avante esperto, muito ágil como ele pra dominar a bola, porque ele era baixinho, viu! Então, ele dominava muito bem a bola e às vezes até cabeceava a bola, com a altura que ele tinha. Tudinho, viu? Agora eu acho que o... Você "vê", você assiste um jogo aí, você "vê" toda jogada, fazer o cruzamento na área, dificilmente você pega um jogador que faça ali um triângulo, né, pra chutar em gol. Então, o cara pega uma bola na ponta, já vai cruzando na área. A defesa leva vantagem, né, os jogadores altos, tudinho, né? E antigamente não fazia essa...
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Como fazia?
R -
É como eu estou falando, ele... Por exemplo, já digo na seleção, antigamente, como jogava. Tinha os chutadores também. Naquela época tinha o (Terácio?), chutava muito forte, no tempo do Leonidas, tudinho. Então, eram jogadores que iam dominando o adversário, ia de passe em passe até chegar no gol. Agora não, eu só vejo cruzamento dentro da área. E depois, antigamente o futebol era mais bonito pelo seguinte: jogavam cinco na linha, tinha cinco atacantes. Agora você vê que são só dois, na escalação que dão, são dois elementos na linha. É difícil, às vezes, fazer gol e antigamente fazia-se mais gol por causa disso...
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Mais gente no meio de campo?
R -
Dentro da área, do meio de campo para o adversário. Então tinha cinco jogadores.
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Bom, então, continuando, o sr. estava falando sobre a formação dos times antigamente.
R -
É, agora, tem o goleiro. Na minha época, né, o goleiro... Agora, tinha o lateral direito, o lateral esquerdo, era um e outro: o goleiro, o lateral esquerdo e o lateral direito; tinha o volante, que na época... Como é que chamava o volante na época?
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Cabeça de área?
R -
Não, cabeça de área é agora. (riso) Não me lembro como é que chamava antigamente. Eu sei que o volante, antigamente, era sempre o médio, chamavam sempre o médio. Tinha o ponta direita, meia direita, que agora é meio de campo que chama, tinha o centro avante, que sempre foi centro avante, né, meia esquerda e o ponta esquerda. Então, quer dizer que tinha os cinco na linha, e agora não tem. Eles põe dois, né, só dois, que são o centro avante e às vezes o ponta, como joga o Santos. Põe esse menino, ponta direita... Como é o nome dele? Admércio não,
Alessandro. Tem o Alessandro e o Viola. Quer dizer que um é ponta direita e o outro... Então só ficam os dois, se torna mais difícil, às vezes, para marcar um gol do que com cinco. Com cinco o pessoal vai...
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Sr. Expedito, a gente estava olhando seu álbum rapidamente e o sr. estava me mostrando umas fotos de jogos e tal, mas que atrás a gente via o estádio, a Vila Belmiro aqui. Eu queria que o sr. falasse um pouco sobre a Vila naquela época, quer dizer, a construção que atualmente é bem diferente, e também da torcida.
R -
Primeiro, aqui quando eu cheguei a arquibancada era de madeira, e aqui atrás tinha um campo que era estande de tiro, que naquela época era o Armando, que o Miguel me falou ainda agora, o Armando
era diretor da guarda civil, então eles faziam os treinamentos aqui. Tem um campinho aqui de lado, aqui mesmo, então a arquibancada toda era de madeira, tanto que eu tenho uma fotografia aí, da arquibancada toda de madeira. Agora, depois, em 49, o Modesto Roma era vice-presidente e o Athiê era presidente, que o Athiê foi presidente uns 20 e poucos anos, presidente do clube. Então eles começaram a construir aqui o ginásio, viu, isso em 49. Quer dizer que em 48 começou e quando foi em 49 eles terminaram o ginásio. E o que eu sei do Santos é...
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E enquanto estava tendo obra aqui de construção do estádio, ainda existiam partidas aqui ou não?
R -
Não, não.
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Suspenderam?
R -
É, suspenderam.
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E o Santos jogava onde?
R -
Você diz, do estádio aqui?
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Isso.
R -
Não, não, aqui... Porque eles faziam sempre na época do... Porque não tinha jogos como tem agora, viu! Porque agora é a semana toda, né, e antigamente era só de domingo em domingo. Eu tenho recortes de jornais, tudinho, antigamente era Gazeta Esportiva, ela é muito antiga, viu! Então era de domingo em domingo, quer dizer que dava tempo do jogador descansar, treinar bem, tudinho, pra outro domingo. Agora não, agora todos os dias. É como o Santos na época do Pelé. O Santos na época do Pelé não descansava. Chegava hoje, amanhã já tinha que viajar de novo, já tinha outro convite, né? Foi uma época que o Santos... Eles deviam aproveitar aquela época, era época boa, porque o Santos teve aquele Parque Balneário lá também, naquela época, que compraram, tudinho, mas depois não sei o que é que houve, que ali era um ponto muito bom, né? Eles estão explorando agora para muitas coisas, né, o Parque Balneário.
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E das torcidas, o sr. lembra das pessoas que vinham assistir os jogos?
R -
Bem, a gente se lembra de alguns, né?
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Era diferente naquela época?
R -
Não, era...
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Tinha torcida organizada?
R -
Não, primeiro que não tinha essas brigas como agora, né? Então eu me lembro que na arquibancada mesmo aqui, de madeira, o pessoal vibrava muito, principalmente quando vinha um time grande jogar aqui, né? Mas dizer de atirar garrafa no campo, não tinha nada disso, viu! Era mais civilizada a torcida, né? Não é como agora. Agora o pessoal vai armado, não é mesmo? Então da torcida... E depois a torcida quando vai, assim, com a cara do jogador, então é bom, né? É como eu, eu vim pra cá emprestado por seis meses, por um ano, né, mas com seis meses agradei a torcida, tudinho, aí o Santos procurou comprar meu passe.
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A torcida interferia muito na compra e venda dos jogadores?
R -
A torcida? Não.
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Como o sr. está dizendo, assim, a torcida...
R -
Não, vibrava em jogos, né, mas agora de...
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Algum lance que o jogador fazia, a torcida se manifestava e os dirigentes percebiam...
R -
Bem, isso continua até hoje, o cara joga mal, a torcida dá em cima. Agora, se joga bem, também dá em cima, né? Então, isso aí não muda não, porque o torcedor ele quer ver a vitória, né? Que você "vê", um caso aqui de um jogador, Anderson. Esse cara teve uma época que quando ele entrava em campo, antes de começar o jogo, já estavam vaiando o rapaz. Depois ele se recuperou, o Leão deu uma confiança a ele e depois ele começou a jogar, entrar no time e foi convocado até pra seleção. Quer dizer, então normalizou tudo aí com ele agora. Eles pegaram muito no pé do Dutra. (risos) Mas se daqui alguns dias o Dutra fizer umas boas partidas... Ele tem jogado bem, viu, eu acho que ele tem jogado bem. Mas se jogar pior ainda, eles dão em cima de novo. (risos) Mas a torcida é toda torcida, né?
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Toda torcida é assim.
R -
A torcida quer ver o time ganhar e...
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A mesma facilidade que ela idolatra, ela vira as costas.
R -
Ah! Ela põe o cara lá em cima e pra abaixar o cara também...
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E o sr. tem algum fato curioso, assim, na sua relação com a torcida? Algum autógrafo que o sr. chegou a dar?
R -
Tem. Tem um caso aqui, depois que eu deixei de jogar, né? Eu vim assistir um jogo aqui no Santos, vim até com dois amigos meus, já tinha deixado de jogar, aí eu fui passando assim e um cara falou, eu não vi, mas o meu amigo viu, esse cara falou: “Ah! Esse cara aí se vendeu naquele jogo com o São Paulo” não sei o que, tudinho, viu? Depois que meu amigo me falou, né? Pô, se falasse na hora eu ia tomar satisfação com ele, né? Porque cara mais sério do que eu acho que não tem não, viu! Eu joguei tantos anos e nunca houve nada. O cara não sei o que ele cismou e falou, então fiquei aborrecido com isso, porque meu amigo não me falou porque eu ia tirar satisfação, saber né? Então isso aí foi uma coisa que eu não me esqueci.
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Que jogo que era esse que ele estava se referindo?
R -
Não me lembro qual foi o jogo. Eu vim assistir aqui na arquibancada mesmo.
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Não, esse jogo que ele acusou o sr.?
R -
Ah! Não me lembro, diz que foi um jogo com o São Paulo. Até nós ganhamos, um jogo de dois a um viu?
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Quer dizer, então estava reclamando o quê?
R -
Pois é, mas, o cara disse que um gol, eu estava na gaveta, porque naquele tempo, usava-se muito gaveta. O jogador jogava mal, ficava na gaveta, né? Agora não, porque o jogador ganha bem, né, ninguém fala nada. Mas, naquela época, jogador jogava mal... Eu tive um amigo aqui no Santos que o pessoal dava em cima dele, o Élvio. Nunca ninguém provou, viu, todo mundo falava, falava, mas na hora de...
“Não foi sicrano que me falou.” E ninguém dizia o certo que era mesmo, viu? E eu acredito que não, porque era um bom amigo meu também, e nunca houve... Desconfiar dele e nada, mas a torcida mesmo desconfiava. E é ruim quando a torcida desconfia, assim, do jogador, não é? Mas era naquela época, agora não. É como eu digo, jogador agora ganha bem, então ninguém vai se incomodar se jogador está vendido. É, tem muitas alegrias o futebol, mas tem muito aborrecimento, viu?
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Alguém chegou a fazer alguma proposta pro sr.?
R -
Não.
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Nunca aconteceu isso?
R -
Não, nunca. Eu tive um amigo, quando eu jogava no Vasco, que passou por isso também. Jogava no Vasco e depois eu fui emprestado para o Canto do Rio, mas eu morava no Vasco. Pra você ver, eu jogava em outro time e morava no Vasco. (riso) Então, houve um jogo, campeonato de 45, Vasco e Canto do Rio, no campo do Vasco. Aí o Vasco vinha invicto. Nós fomos jogar com o Vasco e empatamos de um a um, no campo do Vasco. E era portuguesada a me xingar, disse que: “Você dorme, come aqui no Vasco...”(riso) Isso eu nunca esqueço também. (riso) “Ainda vai se esforçar tanto...” Porque eles vinham invicto e ficaram invicto ainda, é que nós empatamos, mas tiramos um pontinho deles. Naquela época eram dois pontos só, né?
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Eles queriam que o sr. deixasse? (riso)
R -
Deixasse, né? Então,
não sei se eles pensaram isso, que ia facilitar. É uma passagem que eu não esqueço. (risos) Futebol é... Por isso que é muito bom, né? A pessoa... Uns gostam, outros não gostam do jogador e assim é em toda parte. Até mesmo num comércio, não tem empregado que patrão não gosta e o empregado às vezes não gosta do patrão? Tem também.
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Sr. Expedito, e o filho do sr., não gosta de futebol?
R -
Meu filho tinha qualidade, viu? É, porque ele estudou aqui num colégio santista, colégio de frei, né, de frade, é no colégio santista, e ele era do time, jogava no time de lá, isso com 12 anos. Então, às vezes eu ia assistir os treinos lá pra ver se ele tinha qualidade, e ele tinha, viu?
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Que posição que ele jogava?
R -
Era de meio de campo. Ele tinha físico, tudo. Mas meu filho quis estudar, viu? E depois eu não tive sorte com ele, porque ele depois de 22 anos, meu filho está com 47 anos, depois de 22 anos apareceu um problema com ele que não tem cura, epilepsia. Depois de 22 anos. Formou-se, estudou no Mackenzie, se formou em Arquitetura, mas tem esse problema. Então, com esse problema que ele tem, ele é muito... Como é que se diz... Descriminado.
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Tem muito preconceito?
R - Preconceito, porque vai num emprego, chega com esse problema, já não aceitam porque eles querem que produzam e também... Então, quer dizer, tem essas dificuldades. Ele mora em São Paulo, mas é um bom filho, muito educado, tudo, viu? E com 22 anos apareceu esse problemas.
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E o sr. tem netos?
R -
Tenho uma neta por parte da minha filha. Moram os dois em São Paulo, tanto o meu filho como minha filha. Mas o que me desgostou na vida foi só isso, viu, isso que apareceu com o meu filho, com 22 anos. Ele está com quarenta e pouco. Mas não há de ser nada não, a gente tem que acatar tudo.
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É, tem que ser forte, né? Bom, eu não sei se o sr. quer dizer mais alguma coisa...
R -
Não, acho que o que eu tinha que dizer já contei o bom, o que não é bom. (risos)
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Não sei se o sr. chegou a mencionar, o sr. torce para o Santos?
R -
Ah! Torço.
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Sempre torceu para o Santos?
R -
Meu time é: Maranhão Atlético Clube, Vasco e Santos. Nós jogamos Vasco e Santos, eu sou Santos. (riso)
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E se joga o Maranhão e Santos?
R -
Ah! Sou Santos, viu, porque eu estou aqui há cinqüenta e poucos anos, aqui construi família, tudo.... E minha senhora é do norte também, né?
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O sr. conheceu a sua senhora aqui em Santos?
R -
Não, eu casei lá. Eu vim pra cá solteiro, né, eu vim em 46, em 49 eu fui lá e casei. Casei e vim pra cá. Graças a Deus me dei muito bem aqui, né? Então, quando a gente se dá bem a gente fica. (risos) Tem que tomar um pouquinho da água da biquinha, lá em São Vicente, que aí não vai mais embora não. Eu cheguei a tomar mesmo. (risos) É, e acho que o que eu tinha que falar, já falei toda minha vida, né? (riso)
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Então eu vou fizer uma pergunta que a gente sempre faz pra finalizar, que é o sr. falar um pouco dessa experiência. Como é que o sr. sentiu esta experiência de estar sendo entrevistado pro Museu do Santos Futebol Clube, colaborando então aí, com a memória do clube?
R - Pra mim foi muito bom, porque às vezes aí não está a par, não sabe o que está se passando, tudinho, entendeu? Então na presença, assim, fica até melhor, viu, fica sabendo de tudo, né? E eu fiquei muito contente de ser escolhido.
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O sr. acha importante deixar o registro da história de vida do sr. e do clube, né, da participação do sr. no clube. Esse trabalho que a gente faz, o sr. acha que é importante deixar esse registro?
R -
Eu acho que sim, né, é muito importante sim.
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Está bom então, muito obrigada. A gente com certeza aproveitou muitos esses momentos aí.
R -
É, o que eu me lembro, graças a Deus eu tenho uma boa memória, viu? Outro dia eu fui remeter um dinheiro pro meu filho em São Paulo, no meio, então na hora eu... É que eu não levo, assim, o número, nada. Aí cheguei lá, fiquei pensando, será que... Aí estava na fila já pra remeter, aí a caixa perguntou: “Como é, o sr. não está se lembrando?” digo: “Eu já vou me lembrar” Assim que eu falei pra ela que já vou me lembrar, eu disse o número direitinho, disse: “Poxa, mas o sr. tem uma memória!” São oito números, nove números (riso) mais o código, então... (riso) disse: “O sr. tem uma memória muito boa mesmo!” Graças a Deus, viu?
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Está certo então, sr. Expedito, aí a gente passa a ficha...
R -
Eu pensei que fosse pra jornal, né? Não é pra jornal, é só lá pro museu mesmo?
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É, Museu do Santos.
R -
Aquilo vai ser quando mais ou menos?
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Olha...Recolher