Do Itaim Bibi até a Lapa
* Helcias B. de Pádua
Juro, não sou um estudioso da língua tupi, nem tão pouco tenho essa pretensão, mas gosto de pesquisar, conhecer o significado das palavras, tentando formar novas sentenças, garimpando os termos tupi-guaranis.
Uma dessas é: itai bibi embi...Continuar leitura
Do Itaim Bibi até a Lapa
* Helcias B. de Pádua
Juro, não sou um estudioso da língua tupi, nem tão pouco tenho essa pretensão, mas gosto de pesquisar, conhecer o significado das palavras, tentando formar novas sentenças, garimpando os termos tupi-guaranis.
Uma dessas é: itai bibi embiaçaba lapa* (aonde rolam as pedras pequenas..., na passagem para gruta).
Perdão senhores estudiosos. Vejamos o porque dessa minha ousadia.
Em 1562, um levante armado que culminou em ataque ao Colégio de Piratininga, resultado da união dos donos da terra ou da Confederação os Tamoios (tamoios = donos da terra, do tipo tamuya que quer dizer o velho, o mais antigo,
contando com os caciques Piquerobi e Araray, irmãos de Tibiriçá, junto com as nações indígenas tupinambás, guaianazes, aimorés e temiminós, mais alguns portugueses e franceses, obrigou os padres da Companhia de Jesus, ajudados por Caiubi e Tibiriçá, á organizaram em pontos estratégicos espalhados em todo o do Planalto de Piratininga, os dispersos índios que até então viviam como nômades, formando-se núcleos, chamados de reduções.
··Eram como postos avançados e outros ainda servindo de intermediários entre os maiores núcleos
de: Carapicuiba (água rasa), M’boy (Embú), Itapecerica, Ururay (Barueri), Parnaiba, etc. A região da pedra pequena ou pedregulho, ou Itai, com certeza recebeu um desses postos intermediários entre os sítios de Sto Amaro e de Pinheiros.
Estes postos, na época tinham como função, servir de entreposto de abastecimento e descanso, além de vigiar e proteger a aldeia ou sítio central de ataques de índios não catequizados, ou dos portugueses caçadores de índios e invasores de terras entres outros aventureiros e bandoleiros.
Além disso, as terras do sudoeste de São Paulo tinham a fama de terem solos difíceis, pobres, para o cultivo, com montanhas cuja altitude ia de 700 a 1000 metros acima do nível do mar, sem longos trechos de rio navegável. Toda a região após as margens a sudoeste desses rios fora de certa forma esquecida, sendo denominada de sertões.
Com isso as populações do outro lado da margem dos rios Tietê e Pinheiros viviam muito isoladas. Já a região centroeste era rica em rios e riachos sem correntezas e quedas, portanto com mais facilidade de navegação e permanência marginal.
Por outro lado, era muito difícil chegar a alguns outros lugarejos, mesmo os mais próximos ao pateo do colégio. A Aldeia dos Pinheiros era uma delas, visto ser
uma área sempre sujeita às inundações, com terras entremeadas pelas curvas de córregos e de seus dois rios principais. Só em 1687 é que constrói uma ponte sobre o caudaloso rio dos Pinheiros.
Imaginem só, - quem te viu e quem te vê -, entre a margem do lado direita do rio Pinheiros e a esquerda do rio Tietê, formavam-se grandes extensões várzeanas, os baixios, - as terras
de Pinheiros e parte da Lapa (Embuaçu).
Ultrapassando os rios, nas terras à outra margem, iniciavam-se os temidos sertões de Itapecerica, de Ribeira de Iguape, de Embu, de Sorocaba, de Itu, etc., usados como refugio pelos negros fugitivos, formando precários quilombos e pelos fora da lei.
Firmam-se as aldeias de Pinheiros (1560), Lapa (1561) e Itapecerica (1562),
com intuito de dar maior movimentação e segurança aos parcos e isolados moradores e viajantes, esses últimos, os passantes.
Na região próxima à Lapa, o rio dos Pinheiros recebia o nome indígena de Embiaçaba. Isso mesmo com todas as variações possíveis como: Ambuaçava, Umbiaçava, Mboaçava, Emboaçava ou Boaçava, topônimo de origem tupi, designando durante três séculos a região lapeana. Lapa significa gruta ou caverna, o lugar mais fácil de se morar, de se ter segurança, - abrigo. Mas o primeiro nome do bairro da Lapa foi
Emboaçava, que em tupi significa lugar por onde se passa.
Nos tempos iniciais e coloniais, a porção mais a montante e mediana do Rio dos Pinheiros foi chamada de Jurubatuba, que em tupi significa, lugar com muitas palmeiras jerivás, ou também pardo e sujo. Passou a ser rio dos Pinheiros pelos jesuítas, em 1560, quando eles criaram o aldeamento indígena de nome Pinheiros, por causa da grande quantidade de araucárias (ou pinheiros-do-paraná) que cobriam a região.
A paragem da Emboaçava -século XVI, se limitava com os campos de Piratininga (altura do Pacaembu), Aldeia de Pinheiros, Jaraguá (que compreendia Pirituba e Freguesia do Ó) e campos de Carapicuíba na altura do município de Osasco. Na margem direita do rio dos Pinheiros, havia o Forte Emboaçava, para proteger a vila de São Paulo de Piratininga dos ataques indígenas, que à época eram constantes.
O principal caminho que dava acesso à aldeia era o Caminho de Pinheiros, que hoje é a Rua da Consolação. Aos poucos, com a construção de pontes que permitiam a sua travessia, as margens do rio foram sendo ocupadas.
Agora, em pleno século XXI,
a região itahyense continua sendo considerada e muito utilizada como ligação, embora rica e mesmo com seus grandes atrativos empresariais, de trabalhos, gastronômicos e culturais. Um entremeio cortado por avenidas em cima de córregos canalizados. Tudo para até que se ultrapasse os rios.
A região de passagem..., de curta permanência, um caminho aos outros locais.
Itai bibi embiaçaba lapa* (aonde rolam as pedras pequenas (pedregulhos)..., na passagem para gruta).
Passam as pessoas, os pedestres, os transeuntes, os carros, os caminhões, os aviões e os helicópteros. Sempre retornando, num vai-vem constante.
*licença poética do autorRecolher