Projeto Memória Vale do Rio Doce
Depoimento de Genilson Pimentel
Entrevistado por Claudia Resende e Manuel Manrique
Rio de Janeiro, 04 de setembro de 2000
Realização Museu da Pessoa
Entrevista CVRD_HV063
Transcrito por: Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por: Bruna Ghirardello
P/1 ...Continuar leitura
Projeto Memória Vale do Rio Doce
Depoimento de Genilson Pimentel
Entrevistado por Claudia Resende e Manuel Manrique
Rio de Janeiro, 04 de setembro de 2000
Realização Museu da Pessoa
Entrevista CVRD_HV063
Transcrito por: Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por: Bruna Ghirardello
P/1 – Bom seu Genilson, a gente pede para o senhor então se apresentar por favor. Dizer o seu nome, local e a data do seu nascimento.
R – Eu sou Genilson Pimentel de Vitória, nascido na cidade de Serra no estado do Espírito Santo, entendeu? No dia 25 de dezembro de 1935.
P/1 – O nome dos seus pais?
R – Sou filho do senhor Antônio Álvaro Pimentel e de dona Geni Pereira Pimentel.
P/1 – E os seus avós? O senhor conhecesse um pouco da história da família, a origem deles?
R – Também. Conheço.
P/1 – Conta um pouco por favor.
R – Avós eram pessoas maravilhosas, né? Seu Manoel Pinto Pimentel e dona Marcelina Pimentel, por parte de meu pai. E senhor Osório Martins Pereira e Florisbela Martins Pereira por parte de minha mãe.
P/1 – Eles sempre moraram ali na mesma região?
R – Sempre na redondeza. Sempre no município da Serra, no interior do município. Eram pessoas fazendeiras, entendeu? Todos os dois. E a gente vivia muito na casa deles, então a infância hora na casa de um, hora na casa de outro. Agora mais tempo mesmo era nos meus avós maternos. No seu
Osório Pereira, porque ele era político. Foi prefeito lá do município durante umas cinco ou seis vezes e tinha uma fazenda muito grande. Então a gente passava a infância toda nessa fazenda. A estrada de ferro cortava o meio da fazenda. Então a gente via o trem passar, ia lá para ver o trem. Às vezes ali, era a chamada “volta do violão”, o trem passava ali no meio da fazenda e os próprios maquinistas às vezes pedia. Ele levava, dava as coisas para eles, entendeu?
P/1 – Sempre em contato.
R – Aquela fruta. É, passava devagarzinho, até parava lá. E eles gostavam de parar lá porque o meu avô sempre levava as coisas pros maquinistas, entendeu? Eles tinham muita intimidade com ele. Ele era político, né? Era uma vida boa, uma infância boa.
P/1 – Muita brincadeira?
R – Muita brincadeira. A gente caçava muito naquela época. Dava muita caça. E era liberado a caça, né, no interior. A fazenda dele tinha tudo quanto é caça. Desde o veado, a capivara, tudo. Tamanduá, se caçava tudo. Coelho, tatu, é, caçava tudo.
P/1 – O senhor teve quantos irmãos?
R – Somos em sete irmãos na minha família. Uma irmã só. Seis homens e uma irmã.
P/1 – Só uma irmã?
R – Só uma irmã. Todos vivos.
P/1 – Ainda hoje.
R – Tudo. Graças a Deus, entendeu? Convivência pacífica. Meu pai muito rigoroso, não existia esse negócio de um brigar com outro. Isso não existia. Nunca houve esse problema de um discutir com outro. Um brigar com outro. Geralmente irmãos brigam, né? Porque eu tenho meus filhos, de vez em quando um briga. Mas, dificilmente, mas briga. Agora lá em casa não. Porque meu pai não permitia mesmo. Não tinha esse negócio de estar brigando não.
P/2 – Qual era a atividade do seu pai?
R – Papai era comerciante. Minha mãe também.
P/1 – Comércio de que, que eles tinham?
R – Comércio de tudo, né? Ele era comparador de café e vendia café. Aquela época o café era muito bom, na época. E ele fazia isso. Era forte comerciante e comparador de café. E vendia tudo na venda. Desde tecidos a feijão, arroz, né, tudo. Coisa de interior.
P/1 – Sua mãe trabalhava com ele?
R – Com ele. Toda vida trabalhou. Trabalhou até papai morrer.
P/1 – Sempre no comércio?
R – Sempre. Ela hoje também está com, vai fazer 87 anos. Está velhinha, mas está, está viúva. Está lá. A gente está com ela todo dia. Ainda ontem estive com ela. Almocei lá com ela, entendeu? O domingo é sagrado. ___________ e domingo.
P/2 – E o senhor é o filho mais velho, mais novo, do meio?
R – Não , eu sou abaixo do mais velho. O mais velho é médico, Duilie. Doutor Duilie Pimentel. Mora em Belo Horizonte. É médico lá em Belo Horizonte, pediatra.
P/1 – Seu Genilson, e o senhor teve alguma formação, uma educação religiosa? Como era isso na família?
R – Bom, papai, nós somos de família católica. Todo mundo é católico lá em casa. desde meus avós, os antepassados todos. E papai também nos criou assim, dentro do catolicismo. Indo à missa aos domingos. Tanto é que eu vou à missa todo domingo. Ainda ontem fui à missa. É difícil o domingo que eu deixe de ir à missa, entendeu? Isso é sagrado. Os filhos não vão, mas eu vou. É costume, isso já vem de berço, entendeu? Esse problema de frequentar a missa aos domingos. Esse é o mundo católico.
P/1 – Católicos, né? O senhor disse que seu pai era rígido, não é?
R – Era rigoroso.
P/1 – Rigoroso.
R – Muito. Muito rigoroso.
P/1 – Ele era a autoridade maior na casa era ele?
R – Lógico. Liderava. E político também papai. Foi vereador, entendeu?
P/1 – Também foi político?
R – Também foi, lá em Fundão. Sempre adorou política. E o regime dele era duro. Um regime muito sério. Criou a gente dentro do limite normal. Não tinha esse negócio de agredir filho, nada disso. mas era rigoroso só no olhar. Olhou para gente, a gente já, entendeu, (risos) já entendia. Sabia quando ele não gostava de qualquer coisa que a gente estava fazendo, entendeu?
P/2 – E sua mãe?
R – Mamãe a mesma coisa também. Mesma coisa. Rigorosa também. Até hoje! Até hoje ela com 87 anos, ela não aceita certas coisinhas. E não aceita mesmo. Ela é rigorosa também. E isso facilitou muito, vamos dizer assim, a maneira da gente viver, entendeu? Então todos os meus irmãos, sete irmãos, a gente convive todo mundo em união. União constante. Não tem esse negócio de disse me disse. De briguinha um com outro, inimizade, nada disso. é uma família unida. Unida mesmo.
P/2 – Como é que era a família com os filhos dentro de casa? distribuição de tarefas: o Genilson vai lavar louça, o Fulano vai...
R – Não , isso nunca fez. Papai nunca admitiu isso.
P/2 – Como é que era?
R – Todo mundo estudava. Papai só _____. O ideal dele era que cada um estudasse. Esse negócio de botar para trabalhar não. Ainda mais lavar louça, varrer casa. Isso ele nunca admitiu. (risos) Isso aí não ia admitir mesmo, entendeu?
P/1 – E como era a casa?
R – A casa era casa de interior, sobrado. Sempre moramos em sobrado, até hoje. Papai nunca, mamãe nunca gostou de casa baixa. Então a casa tinha que ser alta, sobrado, né, entendeu? Saímos do interior do Município da Serra, para sair de dentro da serra. Do interior do município, já era comerciante. Aí fomos para Fundão, entendeu? Isso quando? Em 1942, 1943.
P/1 – Fundão?
R – Fundão. É pertinho de Vitória. Está a 50 km de Vitória. E lá papai ficou a vida toda lá. Criou os filhos todos lá, até a época de colégio. Até a época de faculdade, né?
P/1 – Essa casa era a casa em cima e o comércio em baixo?
R – Comércio em baixo e a casa em cima, a residência em cima. Exatamente.
P/1 – Então o senhor tinha uma estreita relação também com o comércio.
R – Exatamente isto, é.
P/1 – E como era isso, o senhor ajudava também, atendia no balcão?
R – Eu ajudei muito. Eu realmente ajudei. Porque eu fiz escola técnica. Meus irmãos não. Todos eles fizeram ginásio. Cursaram ginásio, científico e depois faculdade. Eu não, eu fui para escola técnica. Papai me colocou na escola técnica que é curso industrial básico. Então na escola técnica a pessoa aprende a trabalhar, né? Segue uma profissão. Então com aquilo ali, nas minhas férias eu ajudava papai na venda, entendeu, no café. Preparando café, pilando café na máquina. Então eu tive esse tipo de infância.
P/1 – Mas escola técnica de?
R – De Vitória.
P/1 – Mas qual curso?
R – Curso industrial.
P/1 – Industrial?
R – É. Eu fiz Mecânica de Máquinas na época, entendeu? Tanto é que eu entrei na Vale do Rio Doce na oficina. Devido a isso, né? Comecei em oficina, trabalhar.
P/2 – Essa história que o senhor contou do trem que atravessava a fazenda era aonde? Serra?
P/1 – Na Serra.
R – Como? História?
P/2 – A história do trem que atravessava a fazenda?
R – Ah, no Município da Serra. Saindo de Vitória, você tem a estação com nome de Calogi. Antigamente era Itapocu, o nome da estação. Itapocu era a fazenda do meu avô. Então o trem tinha uma volta lá, que se chamava “Volta do Violão”, então o trem passava por dentro da fazenda do meu avô. Cortava um trecho dela, entendeu? Perto do casarão da fazenda.
P/1 – A estrada de Pedro Nolasco que depois virou ___________?
R – Exatamente. Pedro Nolasco e tinha a estação ali de Alfredo Maia e ia até Itapocu, hoje é Calogi. É retirado um pouco. Bem retirado. Antigamente era Itapocu. O sujeito brincava, fazia piadas no trem. Então existia uma série de piadas. O sujeito chegava, os condutores de trem então, eles eram, tinham um, eram fantásticos em fazer as piadas. Tinha a estação, depois de Fundão tinha uma estação de nome Pau Gigante. Então eles chegavam, o condutor dizia: “Gente, o pessoal que embarcou em Pau Gigante, Tapa o Cu.” Então... (risos)
P/1 – (risos)
R – Eles eram mestre nisso! Entendeu? (risos) Existia demais.(risos) Era interessante.
P/1 – O senhor lembra mais alguma história assim, alguma piada?
R – Ih, tem tantas histórias, Vale do Rio Doce. Eu trabalhava, depois que saí da oficina, fui para área de pessoal, né? Na área de pessoal então a gente conhecia todo mundo de nome, né? Porque tinha a ficha de todo mundo da Vale do Rio Doce, no meu departamento que era Estrada. Hoje é Superintendência, né? A gente conhecia tudo por nome, entendeu? Então certa vez aconteceu até, tinha o Doutor Quintino era o chefe. Um engenheiro, chefe do tráfego. Então um dia, eu quando cheguei, recebi um telegrama de um agente de estação lá de, de.... lá do interior de Minas. Chegando depois de Valadares, acima, acima de Ipaba. Então lá existia um companheiro nosso, ele estava entrando na estação naquela época. Por volta de 1942. Ele era magrinho, doente, entendeu? E onde ele estava que era uma estaçãozinha, que era um lugarzinho que não tinha o que comer. Então ele foi definhando. Então o nome dele era José Dente. Ele definhando, definhando. Então o agente chegou: “Pô, esse rapaz vai morrer. Eu vou ter que arranjar
um lugar para ele. Um lugar melhor onde tenha uma pensão que ele possa comer.” Resultado: então puseram ele para Tamanduá. Tiraram o Dente e levaram, colocaram num lugar de nome Tamanduá. Porque lá era um lugar bonitinho, que tinha pensão. E lá ele passou a se alimentar. Aí o chefe do trem, que era um cara espirituoso, Doutor Quintino –
faleceu – ele chegou e passou um telegrama, perguntando ao agente de lá de Tamanduá: “Peço informar quem colocou Dente em Tamanduá.”
P/1 – (risos)
R – Aí o cara de lá, mandou o agente lá, ele respondeu: “Dente colocado em Tamanduá, motivo de alimentação. Onça”
P/1, P/2 – (risos)
R – Onça era o nome do agente!
Zé Maria Onça, era o agente responsável. Já morreu. ______ Então peguei aquele telegrama, aí eu liguei: “Doutor Quintino, que telegrama é esse?” Ele: “Ah, eu passei esse telegrama para lá perguntando.” Eu falei: “Mas olha a resposta: Dente colocado em Tamanduá, motivo de alimentação!” Aí ele não aguentou. Eu mostrava para todo mundo. Todo mundo que chegava lá, eu... Aquilo era uma chacota. Servia de piada, né? (risos) Eu gostava desse troço de estar...
P/1 – Brincando, né?
R – Brincando com todo mundo. Eu brincava.
P/1 – Que bom. (risos)
R -
Chateava, gozava todo mundo.
P/1 – Seu Genilson, voltando um pouquinho aí, depois da escola, do curso técnico, né, o senhor se formou...
R – Eu fiz quatro anos. É, quatro anos na escola técnica aí que eu entrei na Vale do Rio Doce.
P/1 – O senhor já entrou...
R – Entrei como auxiliar de artífice. Em Itacibá. Nas oficinas de Itacibá.
P/1 – Em que ano?
R – 1953. 22 de março de 1953.
P/1 – E o que é que seria esse auxiliar de artífice?
R – Era trabalhar em oficina. Ajudar ali na manutenção e reparação de vagões, né? Então a gente consertava, fazia aquelas peças paras poltronas de vagões. Consertava as poltronas de vagões. Fazia tudo quanto é serviço de oficina, entendeu? Oficina grande. Tem até hoje lá.
P/1 – Depois o senhor continuou estudando?
R – Continuei estudando.
P/1 – Trabalhando na Vale do Rio Doce e estudando.
R – Trabalhava na Vale e estudava.
P/1 – E o que é que o senhor cursou?
R – Fiz Contabilidade, né? Depois de Contabilidade, eu fiz Administração. Aí já foi por conta da Vale do Rio Doce. Aí a Vale me escolheu para vim para Fundação Getulio Vargas aqui no Rio, entendeu? Isso em 1962. Eu fiquei de 1962, aí que eu fiquei direto aqui no Rio, estudando. Aí fiz Administração de Empresas, aqui na Fundação, 1962 a 1965. E continuei aí. Nessa época logo a Vale instituiu o plano de cargos e salários dela. Quando eu me formei em Administração, eu ingressei na equipe do plano. Eu fui até o coordenador geral do plano de implantação com o professor Bráulio.
P/1 – Certo. Nós vamos falar dele mais.
R – Isso.
P/1 – Como é que o senhor entra na Vale do Rio Doce?
R – Concurso.
P/1 – O senhor se forma...
R – Eu fiz concurso na oficina.
P/1 – O senhor tinha alguma expectativa, um conhecimento prévio do que é que seria trabalhar na Vale do Rio Doce? O que é que o senhor esperava entrando na Vale do Rio Doce?
R – Não, a Vale naquela época estava começando a, vamos dizer assim, se destacar como empresa, entendeu? Já passou a exportar minério. Passou a dar gratificações semestrais. A primeira gratificação na Vale foi na época que eu entrei mesmo, em 1952 ou 1953, mais ou menos isso aí. Então _____________ coqueluche. No Brasil o Estado não tinha, como não tem até hoje grandes firmas, muito menos naquela época. A pessoa _________ que queria entrar na Vale mesmo. Era aonde você conseguia colocar mão de obra ali, para trabalhar.
P/1 – Entendo, na sua região principalmente, né?
R – Exatamente, ainda mais eu. Em Fundão, no interior, entendeu? Então o que é que meu pai fez? “Ó, você terminou Mecânica de Máquinas na escola técnica, agora...” Ele tinha, ele era político, então conhecia muita gente da Vale do Rio Doce, meu avô também. Era muito amigo do Superintendente. Então eu fui fazer a prova lá na oficina. Prova de conhecimentos, assim, deram uma pecinha para eu fazer. Eu fiz a peça e passei e fui admitido.
P/1 – Daí da oficina o senhor muda de área, né?
R – Na oficina eu trabalhei quatro anos, na oficina. Quase quatro anos.
P/1 – Como foi essa mudança então?
R – Mudança através de concurso também. Aí eu já estava fazendo o científico, entendeu? Era uma dificuldade danada. para você chegar na oficina, sete horas começava o serviço. Era um pouco distante de Vitória. Aquela época você tomava um trenzinho, saía de Vitória de ônibus, saltava ali na __________, pegava um trenzinho e ia para Itacibá, entendeu? Era uma luta. E sair de lá, chegava em casa cinco, seis horas da tarde para ir pro colégio, depois de um dia de oficina e tal. Era uma coisa estafante. Então eu reclamava muito com meu pai: “Ó, eu vou abandonar aquilo. Não vou ficar não. Ou o senhor dá um jeito de falar aí com alguém na Vale do Rio, do escritório ou senão eu abandono. Não vou ficar na oficina.” Então ele deu um jeito. Falou com o Doutor Beleza que era o Superintendente da Vale, entendeu? O Doutor Beleza na mesma hora me transferiu. Eu já tinha feito concurso...
P/1 – Interno.
R – É, é. Concurso interno. Era uma luta. Você pensa que eles deixavam eu fazer
o concurso? A chefia da mecânica, tinha o chefe da mecânica era o Doutor Linhares. João Linhares. Ele uma vez, eu fui falar com ele, ele disse: “Ó rapaz, o cara que começa na oficina tem que morrer lá.” Eu falei: “Ah, então eu largo isso aqui. Por que é que eu vou morrer aqui dentro? Ora, ora, ora.” Ele era um integralista danado e violento.
P/1 – É?
R – Entendeu? É. Terrível ele.
P/1 – Quer dizer, precisava de uma indicação política para mudar.
R – Exatamente. Eu digo: “Eu não fico aqui não, rapaz.” “Ah, então sai.”
“Por que é que eu vou ficar aqui? Eu estou terminando o científico...” Eu estava terminando o científico, entendeu? Ai papai falou com o Doutor Beleza, Doutor Beleza falou: “Não, pode, pode. Você não já passou no concurso?” “Já.” “Então você vai vir.” Aí ele ligou para o chefe de pessoal. Na época era o Carlos Jorge Bonessi. E me transferiu. Só esperei fechar o mês. Naquela época tinha que fechar o mês. Você tinha pagamento no dia primeiro, fim de mês e tinha pagamento pessoal geral que era no dia 10. Então eu esperei chegar o dia 10, fechar o pagamento e eu vim pro escritório.
P/1 – No escritório o senhor passou a ganhar melhor?
R – Lógico, claro. Passei a ganhar melhor e a perspectiva era maior, né?
P/1 – Tinha perspectiva de crescimento.
R – Perspectiva de crescimento, logo, logo. Pouco tempo de escritório eu fui escolhido para fazer o curso de Administração de Empresas. Isso a Vale escolhia. Ela escolhia os funcionários. E me mandou pro Rio de Janeiro.
P/1 – Aí o senhor veio de mudança e passou a trabalhar no escritório aqui, no Rio de Janeiro?
R – Não, eu fiquei quase quatro anos só estudando, por conta da Vale e ganhava dobrado. Ganhava diária.
P/1 – Só estudando?
R – 30 dias de diária o mês de 30 dias. O mês de 31, 31 diárias. Ganhava cinco vezes mais que meu salário. Diária.
P/1 – Fazendo curso na Fundação Getúlio Vargas.
R – Fazendo curso na Fundação Getúlio Vargas. Era um curso difícil na época, entendeu?
P/1 – Sei. A empresa tinha expectativas com o senhor, né? Quer dizer, que ela investiu na esperança que...
R – Não tem dúvida, lógico. A empresa _____________ para depois ela usufruir, né, lógico. Eu fiquei nessa, por força circunstancial e moral eu tinha que ser um bom empregado dentro da Vale, lógico. Ela me projetou, como é que eu ia deixar ela na mão? Então eu trabalhava...
P/1 – E o que é que ela esperava com esse aperfeiçoamento do senhor?
R – Ela esperava tudo, né? Tudo. Eu participei de tudo que tem hoje dentro da Vale do Rio Doce na área de Recursos Humanos, eu participei de tudo. Eu participei da implantação do Plano de Cargos e Salários. Fui o coordenador geral do plano. Eu participei do Plano de Normas de Pessoal também. Tudo na... Promoção, eu era o coordenador geral das promoções dentro da Vale do Rio Doce. E empregado sempre de destaque. Sempre assim ligado aos superintendentes, entendeu? Nunca tive dificuldades, assim para... é espécie assim, todo mundo se julga dono quando ele tem um certo prestígio da Vale, a gente vestia mesmo a camisa da Vale. como é até hoje. O empregado da Vale do Rio Doce, ele veste a camisa da Vale do Rio Doce. Queria ou não. Só o cara que não quer nada mesmo.
P/1 – Tem um envolvimento pessoal ___________
R – Tudo. Ele tem um envolvimento, a Vale do Rio Doce ele coloca às vezes acima da casa dele. Acima da família. Ele coloca primeiro como a gente fazia: primeiro é o nosso trabalho, é o nosso ganha pão. Depois vem família, vem outras coisas. Então todo mundo era dessa forma. Aqueles bons, os bons da Vale do Rio Doce.
P/2 – Quando é que o senhor mudou pro Rio? Em que ano?
R – Eu mudei pro Rio em 1962. Eu fiquei de 1962 até 1970, 1971, por aí.
P/2 – E antes de vir para cá o que é que o senhor imaginava do Rio? Já conhecia o Rio?
R – Já, já conhecia. Eu vinha às vezes, eu vinha muito. O meu chefe, entendeu, eu era um funcionário bom, dentro da área de pessoal, então às vezes ele não podia vir ao Rio na época de promoção, então ele me mandava. Então eu vim. Pegava o avião, vim. Saltava ali no centro, ali no edifício Novo Mundo. Eu peguei aquele edifício, edifício Novo Mundo, entendeu? Isso em 1960, 1958, 1959, 1960. A Vale era ali. No edifício Novo Mundo, no começo da Presidente Wilson, né? Então a gente já conhecia.
P/1 – Como é que foi a vida aqui no Rio de Janeiro como estudante?
R – Muito boa.
P/1 – Ganhando bem...
R – Ganhava bem, tinha muito dinheiro, né? Muito dinheiro, a gente aproveitava.
P/2 – Como é que era o dia-a-dia?
R – Dia-a-dia?
P/2 – É.
R – Estudo. Estudava, fim de semana aproveitava.
P/1 – E como era aproveitar?
P/2 – (risos)
R – Aproveitava ______, dinheiro no bolso. Tinha dinheiro mesmo. Ir para Paquetá. Passava o fim de semana em Paquetá. Passava lá, entendeu? Quase todos fins de semana eu saía, sexta-feira a noite, e ia para Paquetá. O tempo que eu morei aqui no Rio. Era solteiro.
P/1 – E as namoradas?
R – Tinha também. Tinha as namoradas, a gente nunca passava sozinho, não.
P/2 – (risos)
R – (risos) A gente não passa. Não é mesmo?
P/2 – Claro.
R – Nunca passava sozinho não. Tinha as namoradas sim.
P/1 – Bom aí o senhor terminando o curso o senhor retorna para onde?
R – Terminando o curso eu retornei para Vitória. Aí foi quando eu me casei, entendeu, em 1968.
P/1 – Mas o senhor conheceu sua esposa onde?
R – Lá em Vitória. Lá em Vitória mesmo. Em Fundão na serra...
P/1 – O senhor morando aqui...
R – ...ela é de lá. Casei em Vitória.
P/2 – Ah, já conhecia ela?
R – Já conhecia, é claro. Conhecia. Nós namoramos cinco anos.
P/2 – Como é que ela chama?
R – Norma.
P/2 – E como é que foi esse noivado a distância, o namoro a distância? Como é que foi o...?
R – Eu ia muito em Vitória. Quase todo fim de semana quando eu passei a trabalhar mesmo aqui no Rio, então o que é que eu fazia? Nós estava implantando o Sistema de Cargos e Salários na Vale do Rio Doce, então todo fim de semana eu tinha serviço em Vitória. Fim de semana no... constantemente eu
fazia a ponte Rio-Vitória-Belo Horizonte-Itabira. Itabira-Belo Horizonte-Vitória-Rio. Então eu viajava mais do que tudo. Quase eu não passei a trabalhar, quase eu não trabalhei. Não ficava fixo no Rio de Janeiro. Ficava nessa vida, montando. Nós ficamos quantos anos? Ficamos de 1962 a 1967 implantando o plano. O Plano entrou em vigor em 1967. De 1967 até 1970 eu fiquei dando apoio. Apoio técnico às áreas sobre o Plano de Cargos e Salário, entendeu?
P/1 – É, porque o senhor disse que quando estava no Rio de Janeiro, o senhor estava só estudando.
R – Não, isso foi no período de 1962 a 1965, mais ou menos isso.
P/1 – A partir de 1965 o senhor começa a trabalhar nessa implantação do plano.
R – Exatamente, perfeitamente.
P/1 – Mas sediado no Rio de Janeiro.
R – Sediado no Rio de Janeiro.
P/1 – Então fala um pouco como é que foi esse Plano de Cargos e Salários? O estudo para ele, o que é que se previa?
R – O Plano de Cargos e Salários foi um plano visando que a Vale alcançasse, na época, 20 milhões de toneladas ano. Nós tínhamos um quadro de pessoal já muito cheio. Muito antigo, muito arcaico. E onde o empregado não tinha perspectiva de melhoria nenhuma. Ele já estava esgotado. Era um quadro por padrões, de padrão 1
ia até padrão 27, aí encerrava. Então já estava superlotado isso aí. Então nós tivemos, a Vale teve de criar um plano de cargos e salário onde se fez, levantou todas as atribuições de cada um dentro da Vale do Rio Doce, naquela época, entendeu? E se fez aquele trabalho por sistema de pontuação e grupos ocupacionais e implantamos aí dentro da Vale do Rio Doce.
P/1 – Teve alguma redução de funcionários?
R – Não, redução de funcionário não. Nem de salário. Teve melhoria.
P/1 – Entendo. O senhor lembra quantos funcionários a Vale tinha nessa época?
R – Naquela época em 1962, 1963 a Vale estava com cerca de, só na minha área, minha área tinha uns 10 mil empregados. A minha área, a minha superintendência, a Estrada. A Vale toda tinha uns 18 mil empregados, na época. Isto nesta época. Ela chegou a ter 25 mil empregados. A Vale, né?
P/1 – Quer dizer, nessa época, só na sua superintendência tinha...
R – Só na minha superintendência tinha 10 mil e poucos empregados.
P/1 – E o restante, 7 mil, distribuídos na mina...
R – Minas e Rio, né?
P/1 – E o Rio de Janeiro.
R – É. Minas e Rio.
P/1 – Quer dizer a maior concentração...
R – Itabira e Rio.
P/1 – A maior concentração estava ali na Estrada?
R – A maior concentração era a Estrada. Porto também tinha um pouco, né? Já foi quando começou a fundar o Porto de Tubarão.
P/1 – Houve alguma modificação ou algum trabalho mais direcionado para a
construção do Porto de Tubarão dentro da sua área?
R – Houve. Esse plano já foi com base nisso.
P/1 – Já visando a construção?
R – Já, o porto já começou dentro do sistema de grupos ocupacionais dentro do Plano de Cargos e Salário.
P/1 – Como que é esse sistema de grupos ocupacionais?
R – São por função. Você vê, o mecânico ele está na linha de mecânica, o torneiro; o escriturário está na linha de escritório. Antes era tudo misturado, entendeu? O mecânico ele ia até oficial administrativo, o outro também ia. Era uma coisa muito errada.
P/1 – Quer dizer, estabelecendo dentro das funções...
R – Dentro das funções.
P/1 - ...as categorias que...
R – Dentro das linhas de atividades. É. Criamos um quadro geral e um quadro técnico, não é? Um quadro para pessoal mais especializado, de nível superior e o pessoal geral.
P/1 – Quer dizer, é um reestruturação, foi feita. Administrativa.
R – Isso. foi feito totalmente. Radical.
P/1 – Como que os empregados viram essa modificação?
R – Não aceitaram muito bem não, mas foram se acostumando. Muitas reclamações.
P/1 – Por que eles reclamavam?
R – Porque eles esperavam... todo plano que se introduz ele é muito falado. Ele é muito divulgado. Então a pessoa tem uma expectativa de ter uma melhoria também boa. E o plano, você nunca faz um plano para melhorar ninguém. Você faz para você corrigir aquilo que está errado, entendeu? E realmente poucos foram os que melhoraram. Então isso aí criou, muito de gente que teve um real, hoje, um real de melhoria. Então o cidadão não aceitou. Outros tiveram 50, 60. Então quem teve 50 _____________ quem teve um se aborreceu. Então esses entraram, inclusive na Justiça. Vários processos na Justiça, entendeu? E aí aquilo tudo caiu nas minhas mãos. Era, tudo eu que tinha que resolver. Aquela xaropada toda. Graças a Deus foi normal.
P/1 – Deu tudo certo.
R – tudo certinho.
P/1 – Mas seu Genilson, não foi feito um esclarecimento pros empregados?
R – Claro que foi.
P/1 – Mas não foi suficiente?
R – Isso não. Não. É a mesma coisa com a fundação da Valia, entendeu? Na época poucos aceitaram a criação da Valia, não é? E se faz uma divulgação violenta. Se faz uma promoção
muito boa. Você divulga com tudo, se manda prospecto. Mas tem sempre aqueles que não acreditam. Existe as pessoas que não acreditam em nada. Então a Valia era uma necessidade urgente dentro da Vale do Rio Doce. Mas ela foi aos poucos. O pessoal foi aceitando, aceitando, até... Hoje ainda tem gente que não tem Valia, entendeu?
P/1 – É verdade.
R -
Tem gente que não tem.
P/1 – O senhor participou da formação da Valia?
R – Na época fui um dos que estava ali firme divulgando a Valia. Pedindo ao pessoal que ingressasse nela. Muitos não aceitaram: “Ah, você é do lado da chefia.” Vem logo isso. “Ih, rapaz, você divulgando isso. Você é do lado da empresa.” Eu digo: “Ué, eu sou do lado nosso rapaz. É lógico que eu tenho que ser do lado da empresa. Eu sou empregado dela, por que é que eu vou ser contra ela? Mas eu sou do lado nosso, rapaz!” Mas ninguém aceita, entendeu?
P/1 – É, porque antes da Valia não tinha nenhum plano de seguridade?
R – Nenhum. Nenhum. A pessoa se aposentava, com 6 meses depois estava na miséria. Adoecia. Morria nas enfermarias da previdência, não é?
P/1 – É verdade. Esse Plano de Cargos e Salários, esse primeiro que nós estamos falando, foi o primeiro que fez essa reestruturação.
R - _________________
P/1 – Depois houve algum outro que o senhor tenha participado? Assim, mais amplo, ou algum outro projeto de maior alcance dentro da Vale que o senhor tivesse...
R – Não, não. O projeto maior que eu participei foi o Plano de Cargos e Salário. E Normas de Pessoal também, né?
P/1 – Como é que é?
R – É outro projeto. Você tem, você pede um código. Você tem um manual ali com todas as Normas de Pessoal
onde facilita o empregado de Recursos Humanos ele conhecer tudo ali dentro. Ele tem tudo catalogado ali num manual só. Foi um trabalho bonito. Um trabalho feito até pelo João Alves de Paula, também foi superintendente, cidadão de alto nível, entendeu? É ele quem foi o idealizador disso e colocou em execução e nós na área de pessoal, já como chefe da área, introduzimos ali junto com ele.
P/1 – Normas?
R – Normas de Pessoal, tem até hoje.
P/1 – Normas de conduta, é isso?
R – Conduta não. Normas de serviços. Você vê, serviços assim por exemplo de frequência, entende,
você ter tudo ali normatizado.
P/1 – É, conduta profissional que eu falo.
R – Isso. tudo normatizado. É um trabalho bonito também dentro da Vale. Deve estar existindo até hoje com algumas modificações porque tudo evolui e tudo você vai se adaptando, não é? Você vai trazendo novidades e vai
encaixando dentro do sistema, entendeu? Hoje é tudo informatizado, não é? Hoje no computador você digita e faz a folha de pagamento. Autoriza o pagamento.
P/2 – como é que era antes?
R – Antes era na mão, rapaz.
P/2 – (risos)
R – (risos) Era na mão, ora, ora! (risos) Eu peguei folha de pagamento onde uma pessoa fazia o ponto na mão e depois ia conferir também na mão. Manual, folha de pagamento. Eu peguei a época que saía o pagamento, mesmo no computador, o computador lá em Tubarão tirava uma prévia: “Genilson, ó, eu estou te mandando uma prévia para você, você tem meia hora para examinar essa prévia e ver se está certo.” Então eu batia os olhos naquilo dali para olhar se tinha algum erro, se estava alguma coisa errada. Então era dessa forma, entendeu?
P/1 – Como é que era a política de Recursos Humanos da empresa, seu Genilson?
R – A Vale sempre adotou, agora não mas na minha época, ela sempre adotou uma política muito, muito democrática, entendeu? Democrática. O empregado sempre teve, vamos dizer assim, sempre teve bastante direito. Muito direito, entendeu? Sem medo, sem coação. Ele trabalhava normal, sabendo que o emprego dele era seguro. Isso sempre foi política da Vale do Rio Doce. Segurança no trabalho para o empregado. Isso aí realmente isso dá um certo equilíbrio, dá um certo conforto ao empregado. Porque ele não é coagido, ele não trabalha com medo. Ele sempre tem perspectiva: “Bom, eu vou ficar nessa empresa, porque aqui a gente trabalha tranquilo e tem perspectiva de melhoria. De futuro.”
P/1 – Quer dizer, diferente de quando o senhor entrou, né?
R – Diferente da minha época. Eu entrei em oficina. É diferente.
P/1 – Mas é diferente?
R – Eu entrei em oficina, eu entrei com um sistema de recursos humanos arcaico. Plano antigo. Onde você não tinha, você chegava era artífice, morria como artífice, entendeu?
P/1 – E isso com o Plano de Cargos e Salários, isso tudo modifica?
R – Lógico. Abriu, abriu mesmo.abriu um leque. O leque ficou bem grande, entendeu?
P/1 – Em relação aos salários, como é que era o da Vale do Rio Doce em relação ao restante, às outras empresas, ao mercado como um todo?
R – Ao mercado lá do Espírito Santo? A Vale era o melhor. A melhor política de salário era a da Vale do Rio Doce. Por isso que todo mundo queria se empregar na Vale do Rio Doce, entendeu?
P/1 – E os investimentos no empregado: treinamentos, _____________?
R – Isso de 1970, depois do Plano de Cargos e Salários, entendeu, 1970, 1975 para frente, a Vale investiu muito em treinamento. Muito mesmo, entendeu? Eu mesmo andei dando muitos cursos em Belo Horizonte, aqui no Centercom. Aí em Itaipava, aí, no Rio de Janeiro. Dei vários cursos aí.
P/1 – para todas as áreas? Áreas técnicas, administrativas?
R – Todas as áreas. Dava, dentro da minha área eu dava o quê: eu dava cargos e salários.
P/1 – É, o senhor no caso.
R – E pessoal. para todo mundo. Os
engenheiros, para todo mundo.
P/1 – Mas nas outras áreas também tinha essa preocupação?
R – Tinha, tudo. Contabilidade.
P/1 – O senhor viajou?
R – Viajei muito na Vale.Viajava
muito na Vale do Rio Doce.
P/1 – E o processo de seleção dos empregados? Aí eu falo na Vale como um todo. Era...
R – Muito bom estar dentro.
P/1 - ...rigoroso? Como era? Concurso, se estabelecia uma prova?
R – Concurso.
P/2 – O critério, né?
R – Concurso. O critério sempre foi concurso. A Vale o tempo todo da vida sempre teve, ela sempre foi muito paternalista nisso aí: porque ela abria concurso para, vamos dizer assim, os de casa. Filhos de empregados ou
aposentados dela. Então ela sempre deu essa preferência, entendeu? Então
por isso que hoje em dia o empregado da Vale do Rio Doce é filho de um aposentado ou filho de alguém que está lá dentro. Pode olhar que é isso que existe na Vale. Agora deve mudar, né, lógico. Agora privatizou. Mas a Vale sempre foi assim. então os concursos, o pessoal até, os lá de fora reclamava muito isso: “É, na Vale só passa quem é...” É igual Justiça? Justiça também não é assim? Só entra na Justiça quem é um filho de desembargador, um filho de juiz. É a mesma coisa. A Vale também era assim, só entrava filho de empregado. Isso não tinha dúvida, ela sempre utilizou essa forma de seleção. Abria seleção para os de casa.
P/1 – Mas com critérios?
R – Lógico.
P/1 – A pessoa tinha que demonstrar capacidade?
R – Com critério, claro. Tinha. Tinha que passar na prova, né? Senão não entrava, entendeu? Tinha que passar. Era um teste psicotécnico muito rigoroso, o psicológico. O que reprovava mesmo, entendeu? Então era bom. Era uma empresa boa, eu sempre gostei muito da Vale. A gente tem saudade. Eu não tenho muita saudade da Vale, eu saí muito novo da Vale. Eu saí com 47 anos de idade, aposentei com 35 anos de serviço. Porque eu fui aluno de escola técnica, então os alunos de escola técnica antes de 1958, contava aquele tempo. Aquele tempo era contado.
P/1 – Entendo.
R – Entendeu? Como tempo de efetivo exercício. O INSS contava. Então eu tive que dali, a Vale dava um prêmio muito bom para gente sair, eu fui obrigado a sair. Não podia deixar de sair, né? Senão eu tava lá até hoje. E continuei, depois que eu saí da Vale, ainda trabalhei dois anos no serviço jurídico, lá, assessorando na área jurídica. Nestes processos judiciais. Então eu fiquei dois anos. Depois com a criação da nossa associação eu passei então à...
P/1 – A Aposvale.
R – É, a tomar conta. Estou a 15 anos.
P/1 – Entendo.
R - 15 anos ali. Dirigindo aquele lugar ali. Só como diretor eu estou a cinco mandatos.
P/1 – Na Aposvale de Vitória?
R – Na Aposvale. E os outros eu fui conselheiro também, uns cinco anos como conselheiro. Estou a 10 anos como diretor regional, né? Então eu tenho contato com todo mundo na Vale, entendeu? A gente não perde o contato com os amigos. Então a gente da Aposvale ia mantendo. Agora não, agora dificultou, porque com a privatização os conhecidos da gente dentro da Vale saíram todos. Não tem quase ninguém. Ninguém, ninguém, ninguém. Eu não conheço mais ninguém lá em Vitória, em Tubarão. E de vez em quando eu vou lá. para assuntos dos aposentados eu vou lá resolver. Às vezes pedir carro de passagem, de passe, o trem lá pro pessoal. Agora mesmo estive lá, porque eu fui lá agradecer o gerente geral lá, porque ele me forneceu dois carros para levar o pessoal à Itabira num encontro que houve lá de corais e teatro. Então eles que me deram a passagem, ida e volta. Então a gente mantém sempre essa...
P/1 – Essa relação.
R – Esse contato, essa relação com a Vale do Rio Doce.
P/1 – Seu Genilson, voltando ainda no seu tempo na Vale, como é que era a
relação com os sindicatos?
R – Sempre foi muito ruim.
P/1 – Ruim?
R – Sempre. Sindicatos, sempre. Muito ruim.
P/1 – A empresa não se relacionava bem?
R – Não, nunca se relacionou bem com os sindicatos.
P/1 – Como era? As atitudes dela como eram?
R – Ah, não era uma atitude, vamos dizer assim, agressiva. Mas era uma atitude assim de não ligar, não dar bola. Deixa eles. Deixa para lá. Não dava bola pro sindicato, entendeu? O sindicato pedia uma coisa a gente negava. Pede outra nega novamente, deixa eles falarem. É isso que acontece.
P/1 – E não houve reação? Não havia reação?
R – Não. Não ia adiantar. Reação por que? Não tem como reagir. Eles nunca tiveram consideração nenhuma com a empresa. Essa que é a verdade. Sindicato, eu nunca tolerei sindicato. Nunca tolerei. Nunca. Não dava colher de chá mesmo não. Comigo não dava não.
P/1 – Mas não tinha acordo? Simplesmente...
R – O sindicato só age, o sindicato acha que tudo é casa de Mamãe Dolores. E não é. Empresa não é casa de Mamãe Dolores. Entendeu? Empresa é empresa. O sindicato, o que é que ocorre com o sindicato? As brigas que nós tivemos, que a gente tinha com o sindicato, empresa com sindicato, porque , sindicato, a empresa às vezes deslocava um cidadão porque ele não estava se adaptando bem ali ou era ruim empregado, então a gente o que é que fazia? A gente transferia ele e botava em outro lugar. Aí ele ia por sindicato e o sindicato começava a bater : “Porque isso, aquilo outro.” Mas não é nada disso. o sindicato só quer defender aqueles que não prestam. Essa é a realidade. Pode reparar, isso é o Brasil todo. A Cut, todos os sindicatos são assim. Só pedem aquilo que não pode, que a empresa dá. Pode reparar. Só pede um absurdo. Você vê que uma pauta de um sindicato de reivindicações, você pega a pauta lá, tem mais de 100 itens. Tem mais de 100 itens pedindo. Por que é que eles não pedem os itens viáveis? Então eles colocam 100 itens para criar problema. para criar polêmica, para criar problema, para criar, vamos dizer assim, para viver em estado de beligerância. É o que é, é o que o sindicato faz. Lá no sindicato lá em Vitória, ferroviário, é até uma empregada da Vale do Rio Doce. Ela é muito minha amiga, gosto muito dela, mas ela é terrível. De vez em quando eu estou dando uns puxões de orelha nela. Ela é muito, é quase, igual a minha filha ela.
P/1 – Ela é presidente?
R – Muito minha amiga mesmo. Mas de vez em quando eu: “Dá um pulinho aqui que eu quero falar com você.” Chego lá, puxo mesmo as orelhas dela: “Você não pode agir dessa forma. Pelo amor de Deus. Será
possível? Você só sabe falar da chefia, não tem outro meio de você administrar o sindicato?” “É porque o cara não presta!” “Quem não presta é você! Você é que não presta não o cara. Abaixa a sua bola, entendeu? Diminui um pouquinho a sua bola e cuide do seu servicinho. Deixe a empresa. Senão você nunca vai conseguir nada!” É isso.
P/2 – E vocês...
R – Então, nunca, a Vale nunca deu. Hoje é pior ainda. Hoje ainda é pior. Hoje não dá nem conversa. Hoje, entendeu? Faz aí, tem aí a pauta de reivindicações porque a lei obriga. Por isso que ela aceita. Por isso que ainda o sindicato vem ao Rio de Janeiro em época de dissídio coletivo porque a lei obriga a empresa a fazer. Senão ela não dava nem na bola. Como não dá. Não dá aumento. Vê que a Vale não tem dado aumento. A Vale em uns dois ou três anos que não dá nada,entendeu, não dá nada.
P/2 – Mas pelo menos na época do senhor, vocês recebiam o sindicato e sentavam na mesma mesa ou nem isso?
R – Às vezes, recebia. Recebia muito aqui no Rio. Aqui no Rio eu andei recebendo o sindicato várias vezes. Aqui no Rio de Janeiro, em Vitória não. Porque os contatos em termos de dissídio coletivo sempre foram com o superintendente geral de administração que é aqui no Rio. A superintendência, né? Lá em Vitória não. Em Vitória a empresa só em alguns casos que o sindicato ia lá na área de pessoal para resolver algum problema interno, aí a gente atendia, entendeu? Atendia, dizia que podia ou não podia, entendeu? Mas ter relações amistosa entre empresa e sindicato isso nunca houve. Nunca houve. Com diretoria nenhuma de sindicato e com diretoria nenhuma também de Vale do Rio Doce. Nunca houve. Eu acho que é no Brasil todo, não é só Vale não.
P/2 – E o ambiente de trabalho então, num contexto assim?
R – Como? Entre o quê?
P/2 – Entre os trabalhadores, vocês como era o ambiente?
R – Não, isso aí muito bom. Internamente muito bom. O ambiente de trabalho muito bom. Sempre teve, a Vale do Rio Doce sempre teve um ambiente bom de trabalho. Agora, com o sindicato não, você vê que o sindicato é fora das dependências da Vale. O sindicato fica no centro da cidade. O sindicato quando vai na Vale do Rio Doce vai lá para fazer piquete, vai lá para criar problema. Só para criar problema, entendeu?
P/1 – O senhor chega até a que cargo na Vale do Rio Doce?
R – Eu cheguei até gerente de, hoje é gerente de divisão, na minha época era gerente de setor.
P/1 – De setor...?
R – De Cargos e Salários.
P/1 – De Cargos e Salários.
R – É, exato.
P/1 – O senhor lembra assim de alguns casos, algumas histórias aí ao longo da sua temporada, sua trajetória na Vale do Rio Doce além do que o senhor já contou? O senhor disse que gostava muito de brincar, o pessoal brincava. O senhor lembra de alguns casos assim?
R – Assim, agora eu não estou lembrando, não me recordo não.
É que viva realmente era uma vida boa dentro da Vale do Rio Doce. O pessoal muito bom, são amigos até hoje. Até hoje eu encontro todos eles. Eles fazem parte da nossa associação, entendeu?
P/2 – Queria retomar uma questão só, que o senhor falou da sua esposa, né, que era de Espírito Santo e tal. Quando que o senhor casou com ela?
R – Eu casei em 1968. dia 7...
P/2 – Pode contar um pouquinho como é que foi a cerimônia, o casamento. Se teve lua de mel, se não teve?
R – Ah, lógico. Isso aí foi. Nós namoramos 5 anos, casamos num sábado lá em Vitória, na igreja lá, Salesiano. Teve festa. Lua de mel nós passamos lá em (Campinho?), montanha. Depois viemos pro Rio de Janeiro. Belo Horizonte e Rio. Quando eu me casei eu tinha mais de 10 férias que eu não tirava na Vale do Rio Doce. Tinha umas 12 férias.
P/2 – Nossa.
R – Eu dava quitação mas a chefia não deixava eu me afastar, entendeu? Então eu...
P/1 – O senhor pegou todas essas férias.
R – Quando eu me casei eu fiquei uns 90 dias.
P/2 – (risos)
P/1 – Em lua de mel?!
R –É.
P/1 – Que beleza!
R – Uns 90 dias. É verdade. Uns 90 dias eu fiquei. Tirei logo uns três meses. E depois eu fui tirando as férias, né? Tirava, já era casado, então eu não tirava 20 dias. Tirava às vezes duas férias até colocar em dia. Até colocar em dia, entendeu? Eu saí da Vale do Rio Doce, recebi férias atrasada. Ainda tinha umas três férias atrasada. Porque era difícil, a gente que tinha por exemplo, um cargo aí dentro da Vale do Rio Doce e que conhecia um pouco dessa área de pessoal, então dificilmente eles deixavam a gente sair. Você saía em condições. Condicionalmente. Às vezes eu ia passar as férias em Jacaraípe, mas sempre nessa condição: “Ó, se eu precisar de você eu mando um motorista lá te buscar.” Aí acontecia mesmo. Superintendente era muito meu amigo, né? Às vezes precisava: “Ah, vai lá buscar aquele __________ para resolver esse pepino, aí.” Então lá ia o cara lá. Eu estava na praia chegava o cara lá: “Ó, o doutor Fulano de Tal está te esperando, aí, está te esperando lá, para você dar um pulinho lá que tem um pepino lá para resolver.” E ia, voltava. Sempre foi assim, a Vale.
P/2 – Então sua esposa teve que se acostumar com essa dinâmica do trabalho do senhor?
R – Realmente. Quando eu me casei com ela, ela tinha 19 anos e eu tinha 31 anos de idade. Diferença de idade grande. E ela ficava sozinha em casa no apartamento. Então o que é que eu fiz: “Ó, é melhor você entrar numa faculdade. Você fazer um cursinho aí e entrar numa faculdade.” Ela fez um cursinho e passou em segundo lugar em Pedagogia. Está até hoje nessa área de educação. Hoje ela tem um colégio. Tem um supletivo lá em Vitória, entendeu? Trabalha ela e meu filho, que é administrador de empresas, tomando conta desse colégio. Trabalha de sábado, domingo. Ontem mesmo ela trabalhou. Sábado ela trabalhou e ontem. É supletivo, então tem um sábado e domingo no mês, onde tem aulas. Onde tem curso, tem provas. É isso. E ela dá também cursos no interior. Capacitação das prefeituras, ao professorado do estado, entendeu? Ontem mesmo estava uma equipe dela em (Mantenópolis?) dando curso lá para mais de 100 alunos lá, prefeitura. Então dá curso em Cachoeiro, dá curso em vários municípios. Então trabalha muito. Ela gosta dessa área. Às vezes eu vou com ela, às vezes: “Ah, não vou não. Deixar de jogar minha bocha para estar ouvindo professor dentro de classe, pô?”
P/1 – O senhor tem quantos filhos, seu Genilson?
R – Um casal.
P/1 – Um casal? Qual é o nome deles?
R – Nara Lúcia Pereira e André Ricardo. Casal. Minha filha é assistente social, já fez pós-graduação nessa área e fez Psicanálise agora. Ela está se formando agora. Ela está até trabalhando.
P/1 – E seu filho... Seu filho é administrador.
R – Meu filho é administrador. Fez Administração de Empresas, e toma conta do colégio. É o diretor do colégio. Não tem emprego então minha mulher teve que partir para isso. Arranjar uma escola para fazer. para dar emprego a ele.
P/2 – O senhor falou que joga bocha?
R – Jogo. Bocha é bom, joguinho bom. Bola
de pau.
P/2 – Han, han.
R – Ainda ontem joguei de nove horas da manhã até as quatro da tarde.
P/1 – Que ótimo.
P/2 – E da onde vem esse gosto?
R - _____ um esportezinho bom. Isso vem antigo, né? _______
P/2 – Mas o senhor sempre jogou ou só agora mesmo que está...
R – Não, eu sempre joguei. Sempre gostei de jogar bocha. Sempre gostei. No clube, a gente vai pro clube não tem o que fazer lá, então a gente fica jogando. Batendo uma bolinha lá, uma bochazinha, boliche eu gosto também. E tomando cerveja. (risos)
P/1 – Oba. (risos) Seu Genilson, o senhor participou então da fundação da Valia. E o senhor chegou a atuar na Valia também?
R – Não. Valia não. Valia eu participei da divulgação dela.
P/1 – Da divulgação.
R – Isto. É.
P/1 – Entendo.
R – Da divulgação eu participei.
P/1 – E vamos falar um pouco...
R - __________
no Vale do Rio Doce, de Vitória até Itabira.
P/1 – Entendo. Em toda a Vale.
R – Todo. Divulgando. Divulgando para angariar os simpatizantes. Adesões, né?
P/1 – Então o senhor saía viajando?
R – Viajava.
P/1 – E o que é que o senhor apresentava, o que é que o senhor argumentava com os empregados, para trazê-los para esse plano?
R – Ah, a gente levava uma porção de prospectos, entendeu? Aqueles prospectos mostrando ali... tinha um prospecto então mostrava lá a pessoa dormindo com aquele monte de dinheiro ali subindo, e ele dormindo. Como quem diz: “Ó, entrou na Valia garantiu sua vida. Seu salário vai sempre crescendo.” Uma piada isso, né? (risos) Uma piada danada essa aí. Mas na época a gente acreditava. Tudo da Vale do Rio Doce a gente acreditava. Essa é a realidade. Tudo, tudo, tudo, entendeu? A gente acreditava. E isso aí para nós, isso aí é o que eu tenho um pouco de arrependimento, na minha passagem na Vale do Rio Doce, foi eu ter divulgado assim como amor a causa, a Fundação Vale do Rio Doce. Isso aí eu tenho arrependimento, como quem diz: “Minha culpa, minha máxima culpa.” De ter vendido aquela idéia ali...
P/1 – Da Valia, né?
R - ...que a coisa era boa. Entendeu? Não é das piores, mas boa também não é. A Valia é a única fundação no Brasil, que defasa violentamente as suplementações dos aposentados. É a única nesse país. Do nível dela, do porte dela. As outras todas cuidam muito bem das complementações ou suplementações. Você vê a Previ é muito boa, vê a... de qualquer outra aí.
P/1 – ___________
R – A da Embratel, a da Caixa Econômica, todas são boas. Todas lutam pela manutenção dos proventos reais das suplementações ou complementações. A Vale não complementa. A Valia não complementa. Ela suplementa. E a suplementação vai caindo. Você vê a suplementação na Vale do Rio Doce, de 30 reais, 24 reais, entendeu? De menos de um salário mínimo nós temos quase 2.000 suplementações no contingente de aposentados e pensionistas. Então isso aí de vez em quando eu tenho aí às vezes me desentendido com os diretores da Valia, entendeu, devido a isso.
P/1 – É, eu gostaria de perguntar isso: como é a relação da Aposvale com a Valia?
R – A Valia sempre teve um Conselho de Curadores que são verdadeiras vaquinhas de presépio. Eles não tem, inclusive os nossos, os nossos representantes. Que nós colocamos lá. São autênticas vaquinhas de presépio. Só balançam a cabeça pro lado que a empresa manda. Não defende de jeito nenhum. Se tiver um projeto lá de melhoria para aposentado eles votam contra. Por que? Porque não sabem o que estão fazendo. Não sabem. A Vale escolhe um camarada, um elemento daquele é um cara preparado. Mas nessa área ele é, ele não entende nada. Ele desconhece tudo por completo. Ele é um engenheiro muito bom na área operacional. Mas ali nessa área de seguridade ele é zero. Zero à esquerda. Então, às vezes, ele vota lá por ignorância. E vota, geralmente. no lado da empresa e contra a gente. Então é o que acontece. Eu tenho várias briguinhas com a Fundação. Tanto é que eu tenho cinco processos contra ela em Vitória. Processos judiciais, entendeu? Colocados por mim.
P/1 – Ações conjuntas?
R – Ações conjuntas. Tem processo com 3.500 associados num processo só.
P/1 – Quer dizer a Aposvale...
R - _______________
P/1 – A Aposvale toma ________________
R – Por meu intermédio. Tem cinco processos.
P/1 – O senhor se aposenta em que ano, seu Genilson?
R - Eu me aposentei em 50... ah, em 50. Em 1983.
P/1 – E por quê? O senhor estava com os anos já cumpridos?
R – Eu me aposentei porque, primeiro, eu tinha 32 anos de serviço, de Vale do Rio Doce e mais 3 anos e 10 meses de escola técnica. Então a Vale estava, na época, oferecendo um prêmio. Fazendo acordo com quem quisesse sair. Eu não poderia deixar de sair. Naquela época era um dinheirão.
P/1 – Era vantajoso que o senhor saísse?
R – Muito vantajoso, era. Era um bom negócio. Recebi na época uma fortuna. Deu para comprar um apartamento cobertura em Guarapari. Ih, tantas coisas.
P/1 – Aí senhor sai, o que é que o senhor começa a fazer? O senhor vai trabalhar em outra coisa?
R – Não tem dúvida, entendeu?
P/1 – O que é que o senhor faz?
R – Ah, trabalhei advogando, né? Parti para advogar.
P/1 – O senhor cursou então Direito ao longo desses anos também, o senhor fez o curso de Direito?
R – Cursei Direito quase obrigado pela Vale. quando eu fiz Administração, voltei para Vitória e lá a chefia falou: “Agora você vai ter que fazer o curso de Direito.” Aí eu fui fazer Direito. Fiz Direito de dia, no horário de trabalho, de manhã. Parte da manhã. Quer dizer, liberado por ela. Pela Vale.
P/1 – Mas esse contexto em que o senhor se aposenta, quer dizer, tanto investimento na sua carreira. O senhor estudou Administração de Empresas, o próprio curso de Direito. Por que esse interesse da Vale também que o senhor saísse nesse momento?
R – Não , a Vale não queria que eu saísse não.
P/1 – Mas o senhor achou que era interessante em relação às vantagens?
R – Achei, exatamente. As vantagens que ela dava eu não podia perder aquela oportunidade. Eu novo, com 47 anos a Vale me oferece milhões de cruzeiros, na época, para sair? Muita gente saiu.
P/1 – Mas o senhor disse que ela não queria que o senhor saísse.
R – Não, realmente.
P/1 - Quer dizer, o seu chefe direto, como era?
R – Aí eu tive que usar de prestígio que eu tinha aqui no Rio. Porque dependia da assinatura do superintendente aqui que era meu amigo.
P/1 – Mas não te ofereceram nada para que o senhor ficasse?
R – Não, não. Eles falavam que não queria que eu saísse: “Ah, você não devia sair agora,
você está muito novo.” Eu digo: “Rapaz, eu não posso deixar de sair porque eu vou advogar. Eu vou advogar. Sair daqui, eu não posso perder uma oportunidade dessa.”
P/2 – Já estava com alguma coisa na mente?
R – Já, já tinha alguma coisa na mente, né?
P/1 – Já tinha em vista já alguma coisa definida?
R – Não, era advocacia mesmo.
P/1 – Escritório de advocacia.
R – Escritório de advocacia.
P/1 – E que área do Direito o senhor passa a trabalhar?
R – Previdenciária e trabalhista. Minha área, né?
P/1 – Claro. E aí o senhor ficou trabalhando...
R – Fiquei, ganhei algum dinheiro. Ganhei algum dinheiro que deu para parar. Não quero mais trabalhar. Em dois ou três processos eu ganhei dinheiro, entendeu? Em dois ou três processos só. Então eu parei. Digo: “Não quero mais, pô.”
P/1 – Nesse meio tempo que o senhor começa a atuar na Aposvale, como é a sua história com a Aposvale?
R – A Aposvale foi fundada em 1985. Eu saí da Vale em 1983, trabalhei na área jurídica da Vale do Rio Doce. Então a Vale do Rio Doce, aqueles processos dela, ela me deu aqueles processos.
P/1 – Como consultor?
R – Exato, como advogado ali mesmo. Como advogado.
P/1 – Contratado.
R – Exato, contratado. Ganhava ali por trabalho prestado. Depois eu me desentendi com o gerente da divisão que ele queria que eu desse um parecer contrário num processo dele lá, da secretária dele, eu falei: “Não, ela tem razão. Não faço isso?” “Ah, você é pago para fazer isso.” “Não senhor. Eu sou pago para agir com minha consciência. Pago para agir contra a minha consciência eu não faço. E de hoje em diante eu não venho mais aqui.” Nunca mais eu fui lá, entendeu? Eu não preciso disso.
P/2 – Existia esse negócio de pressão, pressão política dentro do trabalho?
R – Não. Não, não. Só ele colocou porque nesse caso aqui ele quis me pressionar porque quem estava questionando contra a Vale do Rio Doce era a secretária dele. A chefe de secretaria do setor jurídico. Então ele não queria que ela ganhasse o processo. “Rapaz, ela tem todo direito, eu não vou fazer isso de jeito nenhum. Pode estar ciente disso que eu vou dar o parecer favorável à ela.” “Você não pode fazer isso porque eu não vou aceitar o seu parecer.” “Então não aceita? Então eu não venho mais aqui, pronto.” Saí e fui embora. Não voltei mais lá. Depois eu fui como testemunha dela no processo. Ah, fui. Eu me ofereci. Fui lá e derrubei a Vale do Rio Doce, como testemunha, entendeu?
P/1 – mas e a Aposvale?
R – A Aposvale foi criada em 1985, aí eu ajudei a criação dela. Eu o Costa e Silva. O Costa e Silva aqui no Rio o Alves, __________ Faria. E lá em Vitória ele me mandou um prospecto, uma boneca do, do, do estatuto da coisa. Da redação do estatuto. E lá nós então começamos a divulgar aquilo, né? Divulgar , fazer reuniões, a melhorar aquilo dali. Colocar as nossas ideias dentro do, o pessoal que tem lá em Vitória, dentro do estatuto. E criamos, né, a fundação. E estamos nela até hoje.
P/1 – E o senhor sempre dirigindo, né?
R – Sempre dirigindo. Sempre em cargo de direção lá na regional do Espírito Santo, né?
P/1 – Pro senhor o que é que significa a Aposvale assim, em relação a Vale do Rio Doce?
R – Bom a Aposvale eu aprendi muito ali na Aposvale. Em todo lugar que você vai você aprende. Terminando aprendendo muito, né? Ainda mais quando você começa, você é pioneiro e é fundador. Ali você vai aprendendo. Os casos que vão aparecendo são casos complexos. Você lidar com aposentado você sabe como é que é. Primeiro porque é pessoa de terceira idade, segundo são cheios de problemas. Cheios. É um em cima do outro. Então você vai...
[Fim da Fita 01]
R - ...aprendendo com aquilo e a tendo gosto. Então você resolve um problema de uma pessoa idosa daquela, então aquilo dali é uma satisfação pro seu interior, entendeu? E a gente que tem mais facilidade, que conhece essa área, toda vida eu trabalhei nessa área dentro da Vale do Rio Doce. Mexendo com INSS, mexendo com a área de Previdência. Dando curso, dando aula sobre previdência, entendeu? E mexendo com salário. Então nisso aí eu encontro muita facilidade para resolver esses problemas dentro da Aposvale, entendeu? Então ali eu resolvo tudo para eles. Então vem às vezes com um inventário: “Ah, eu preciso você me ajudar ...” “Ó, eu posso te ajudar, agora eu não quero ser seu advogado não. Aqui eu não sou advogado. Eu sou diretor. Advogado você bota outro. Arranja aí, vai na Justiça gratuita aí e bota lá. Agora se você quiser que eu prepare a petição para você eu preparo você dá pro cara assinar e pronto.” Então eu ajudo todos esses casos. Inclusive esses casos pessoais, negócio de briga de marido com mulher, filho com pai. Tudo eles levam para mim. Então ali eu fico sendo uma espécie de consultor deles, entendeu? Então, por isso que dificilmente a gente consegue, agora eu quero sair. Esses anos todos eu tenho tentado sair mas não consigo. Chega na hora, então vai aquele pessoal todo lá, chega lá faz uma reunião grande com 100, 150 pessoas. Tem gente que chora quando eu falo que quero sair o cara começa a chorar, aí aquilo constrange a gente, rapaz. A gente fica numa situação difícil. E minha mulher também dá em cima. Eles
vão lá em casa, pede à minha mulher para não deixar que eu saia da entidade, entendeu? Então termina a gente via ficando. É isso que acontece. E olha que eu sou linha dura, ein! Eu uso a democratura, eu não uso democracia. Eu uso 70% de ditadura e 30% de democracia. Minha linha sempre foi essa.
P/2 – Então isso que eu ia perguntar. O jeito do senhor...
R – Porque minha formação é assim. A formação do meu pai. Eu uso o sistema da democratura que eu criei dentro da Aposvale, todo mundo sabe disso na Aposvale. Então o resultado com isso, mando eu na Aposvale. Tudo o que eu falo é bem recebido, inclusive na diretoria. O presidente não faz nada sem primeiro me ouvir. Aqui o Costa e Silva, vai perguntar a eles. Todos eles. Qualquer probleminha que eles têm, então o ponto de referência sou eu. Ele vai, conversão comigo, entendeu? Sempre foi assim. Devido ao sistema que eu sempre gostei de utilizar.
P/2 – Dentro de casa também...?
R – Mesma coisa. Mesma coisa.
P/2 – O senhor tem netos?
R – Não, ainda não. Os filhos não querem casar. É democratura mas eles...
P/1 – (risos)
R - ...não querem sair lá de casa. (risos) Não é mesmo? É democratura mas vê se eles querem sair, largar a mordomia. Não querem. Eu nunca, nunca agredi um filho. Nunca. Lá em casa não há isso.
P/1 – Democratura com carinho. (risos)
R – Democratura
_________. Nunca, nunca. Quem vê assim diz: “Ah, você deve ser muito rigoroso.” Nunca fui rigoroso com os filhos. A gente conversa muito, entendeu? Conversa com eles, eles conversa comigo. Nunca me deram trabalho, então nunca houve necessidade da gente ser um tanto mais ríspido.
P/1 – Seu Genilson, na Vale do Rio Doce o senhor considera que o senhor alcançou os seus objetivos iniciais? O senhor chegou aonde o senhor queria?
R – Não, claro que não. Eu acho que com o que eu aprendi dentro da Vale do Rio Doce, eu acho que eu podia ir mais alto um pouco. Eu tive essa oportunidade de ir mais à frente. Se eu continuo no Rio de Janeiro, eu chegaria a superintendente, tranquilamente. O próprio superintendente quando eu saí daqui, que eu fui me despedir dele, ele falou: “Olha, você vai fazer a maior burrice da sua vida. Você aqui vai ocupar o meu lugar. Você tem tudo para ser o superintendente.” Mas como eu ia me casar e trazer minha mulher para o Rio de Janeiro, uma menina nova, na Vale aqui a gente começava as nove horas da manhã e ia até as nove, dez horas da noite trabalhando e ela ficar em casa. Falei: “Não, aqui eu não fico.” Aí eu só não fiquei por causa do meu casamento. Só, devido a isso.
P/1 – E em Vitória o senhor já não tinha mais...
R – Não no casamento, tinha a família toda, os familiares todos. Colocados, encostados.
P/2 – Os irmãos, né, também?
R – Tudo.Os irmãos meus, os irmãos dela. Pais meus, pais dela. Então, uma tranquilidade lá em Vitória.
P/1 – Pois é, e na Vale em Vitória já não tinha essa perspectiva de crescimento.
R – Não, porque naquela época o advogado ele não tinha, a Vale sempre foi de engenheiro. Entendeu? Só de engenheiro. Ela veio melhorar de, de quando? De 85 para cá que abriu esse campo para administrador, para economista. Mas na época era só engenheiro. Engenheiro era chefe até de médico. Até chefia médica era o engenheiro que chefiava. Chefia médica, da área médica era o engenheiro. Então você tinha um limite. Quer dizer, eu cheguei ao limite máximo que era gerente de setor que podia um elemento sem ser engenheiro chegar. Mas engenheiro não. Divisão, só era gerente de divisão a formação engenharia. Formado em engenharia. Engenheiro. E ninguém entrava.
P/1 – Crescimento na área administrativa só no Rio de Janeiro?
R – Não, só no Rio de Janeiro que tinha. Só. Assim mesmo em alguns casos que um elemento sem ser engenheiro ocupava. Era raro também. Todo mundo quase era engenheiro aí, entendeu, a Vale sempre foi assim.
P/1 – E era difícil o relacionamento com os engenheiros?
R – Não, facílimo. Facílimo.
P/1 – Mas tinha contradição isso? O que é...
R – Não, difícil. Agora a gente que era, por exemplo, gerente de setor, isso vai muito da pessoa. Vai muito do empregado e do funcionário. Que na minha área por exemplo eles precisavam demais. Eles não entendiam
nada de organograma. Nada disso. Eles não sabiam dar um risco nisso aí. Então quando eles queriam fazer uma divisão no trabalho deles, ligavam para mim: “Genilson, eu preciso que você faça uma divisão do meu trabalho, o troço está ruim aí.” Eu ia lá, levantava tudo. Entregava para eles mastigadinho. Eles adoravam aquilo. Então eu tinha muita liberdade com eles e muito trânsito com eles. Só não avançava.
P/1 – Só não avançava.
R – Só não tinha um que chegava: “Ó, o Genilson pode ser gerente de divisão.” Isso eles não faziam de jeito nenhum. Isso eles não faziam.
P/1 – O senhor acha que isso se devia a quê? Uma tradição na empresa?
R – Tradição, tradição. Cultura da empresa.
P/1 – Cultura da empresa.
R – Cultura, cultura. Por formação da empresa era uma empresa de engenheiros, entendeu?
P/1 – Qual que era a relação da sua superintendência com as outras: com a mina, aqui com o Rio de Janeiro, mesmo com o porto?
R – Muito bom. Isso a gente sempre teve.
P/1 – Vocês tinham essa noção de integração de um complexo, né, que um dependia do outro para funcionar?
R – Isso sempre teve. Sempre teve na Vale do Rio Doce. A Vale do Rio Doce sempre foi uma família só, né?
P/1 – Era uma coisa só?
R – É, é. A Vale do Rio Doce..., entendeu? Muitos usavam, trabalhavam diferente, entendeu? Por exemplo, em Vitória na estrada a gente tinha um sistema de fazer frequência diferente do porto. Até do porto, era encostadinho, entendeu?
P/1 – Era diferente?
R – É, até fazia um tanto diferente. Os impressos eram diferentes. Então você tinha que padronizar aquilo tudo. Fazer uma padronização para poder falar a mesma linguagem. Minas trabalhava de uma maneira, Vitória outra e Porto outra. Isso sempre houve, eu não sei por quê. Porque na Vale cada um gosta de criar a sua maneira, né? A Vale do Rio Doce sempre foi assim também. Chega um determinado gerente, chefe aí de divisão ou assistente geral, ele chega ele quer implantar os impressos dele, entendeu? Aquilo tudo que estava lá ele manda jogar tudo fora. Às vezes a Vale tinha um prejuízo danado nisso aí. Toda chefia que mudava queria mudar padronização de impresso, para ter o dele. Então, às vezes, com isso aí você tinha informações diferentes. Tudo isso.
P/1 – E aí...
R – Devido a essa vaidade. Todo mundo era dono, todo mundo mandava.
P/1 – E quando é feita essa padronização?
R – Não, isso hoje já é tudo padronizado.
P/1 – O senhor pegou esse período em que se padronizou?
R – Não, não peguei não. Isso é novo.
P/1 – É recente.
R – Isso é novo. Isso foi feito agora com..., entendeu? A Vale depois de privatizada então, ela mudou todo o sistema. Todo o sistema. Hoje o sistema de Recursos Humanos é um só. É tudo centralizado em Tubarão. Então é o Norte-Sul. Sistema Norte-Sul. Tudo centralizado ali. Você tem poucas pessoas que trabalham com isso na área de recursos humanos. Então é feito daquela maneira. Só daquela maneira, entendeu? Deve estar melhor hoje. Deve estar melhor.
(Pausa)
P/1 – Seu Genilson, o senhor acompanhou o processo de privatização da Vale?
R – Acompanhei.
P/1 – Acompanhou, é, dentro da Aposvale?
R – Dentro da Aposvale.
P/1 – O que é que o senhor achou? Como o senhor avalia?
R – Fui totalmente favorável. Acompanhei aí ajudando. Dei muita cobertura lá em Vitória, por meu intermédio à Investvale. Esse clube que foi criado aí para...
P/1 – Apoiando a Investvale?
R – Apoiando a Investvale.
P/1 – O senhor como representante da Aposvale, apoiando a Investvale?
R – Eu como diretor regional, é. E tinha do outro lado o sindicato que era contra. Por isso que eu digo à você: o sindicato foi terrivelmente contra a criação do Investvale e a privatização. A privatização, bom, é até um direito que eles tinham de ser contra, não é, claro. Agora ser contra o Investvale era burrice. Foi o que eu falei para Janete: “Isso é burrice. O que é que vai acontecer com esse, você vai deixar aí mais de 2.000 aposentados ignorantes, entendeu, que não vão entrar no Clube e depois vão me encher a paciência lá e pedir
para botar no Clube. Por que eles não tiveram cabeça, isso, porque eles foram iludidos.” E foi o que aconteceu.
P/1 – Chegou a acontecer isso?
R – Claro. Mais de 2.00 ficaram de fora.
P/1 – Mas a Aposvale incentivou os aposentados a entrar na Investvale?
R – Todos. Todos que entrasse, pagasse um real ia entrar. Que era a condição básica. Pagar um real para entrar no Clube, entendeu? para poder ter o direito a receber as ações, a cota deles, né? 626 ações. Mesmo assim muitos deixaram de entrar no Clube. Até hoje aparece gente lá: “Ah, eu queria ver se o senhor, eu soube que o senhor colocou muita gente aí no clube.” Eu digo: “Coloquei, mas com direito. Com direito. Agora sem direito é impossível. Você pagou um real? A condição básica.” “Ah, não paguei porque na época eu não sabia.” “Bom se você não sabia meu amigo, pelo amor de Deus! Então você é muito alienado. Porque isso aí até o pessoal na Sibéria sabia que...”
P/1 – (risos)
R – É, eu falo logo. “Até na Sibéria o pessoal sabia que a Vale ia ser privatizada e que os funcionários estavam criando um Clube que se chamava Investvale. Pagando um real pro sujeito ter o direito as ações. Se você não sabia, paciência. Então não tem jeito.” “Ah, então eu vou botar no juízo.” “Pode botar. Pode botar na Justiça que você vai pagar dinheiro. Aí que você vai pagar mesmo e não vai entrar.”
P/1 – Tem algum processo deste tipo rolando?
R – Não, ninguém colocou.
P/1 – Ninguém colocou.
R – Não, que eu conheça não. Lá em Vitória não tem ninguém. Ninguém que eu descarto logo. Descarto: “Ó, quer botar é um direito que você tem, agora vai gastar dinheiro à toa. Vai gastar, vai pagar advogado e não vai entrar na Investvale.” “Ah, por que não?” “Porque eu não vou deixar. Você não entra de jeito nenhum. Na época eu não te chamei? Você não quis vir, rapaz. Você não acreditou no sindicato? Então agora você não entra de jeito nenhum. Não tem doutor que dê jeito.”
P/1 – E o modelo adotado na privatização, o senhor concordou? O preço?
R – Não, claro que não, né. Lógico.
P/1 – Mas qual a sua opinião o que é que o senhor achou?
R – Mas o modelo, todo mundo sabia que isso aí era uma questão de, vamos dizer assim, quase de foro íntimo do Presidente da República. O Presidente da República vendeu a Vale do Rio Doce, entendeu, por desaforo. Porque uma vez que ele falou no programa do Jô Soares, que o Jô Soares perguntou a ele: “E a Vale do Rio Doce pode ser privatizada?” Ele: “Porque não? Pode sim.” Aí no outro dia o Itamar deu uma bordoada nele danada. Falou que Ministro no Governo dele não tinha autoridade para falar em privatizar coisa nenhuma. Que a Vale do Rio Doce jamais seria privatizada. E quem falasse de privatizar a Vale do Rio Doce ele botava para fora. O Itamar falou isso. Em resposta ao Fernando Henrique. Naturalmente ele ficou com raiva daquilo. Porque ele privatizar a Vale, logo no início do Governo dele, e por um valor irrisório, pô. A Vale do Rio Doce foi dada, não foi vendida, não foi privatizada. Foi dada. Foi entregue, né, pô. Pelo amor de Deus! Uma empresa que tem, só Itabira vale 10 vezes mais. Sem ser Carajás. Itabira está acabando com o minério lá. Quase não tem minério. Não tem minério nem mais para 2 anos. Isso aí vale muito mais do que os 3 bilhões de reais. Agora Carajás, han, entendeu? Que conhece Carajás, eu conheço bem. Eu fui lá duas ou três vezes, visitei aquilo tudo. Então sei o que significa aquilo ali pro país e quanto vale aquilo. Então o preço, lógico, foi um... foi dada. O Governo deu a Vale do Rio Doce prum grupo aí de testa de ferro. Paciência.
P/2 – Como é que o senhor nesse tempo em que o senhor trabalhou na Vale, tanto trabalho e tal, qual era, quando o senhor não trabalhava o que é que você fazia? Qual era a diversão nas horas de, tempo de lazer e tal?
R – Olha rapaz, quando eu não trabalhava antes de... Eu entrei na Vale com 17 anos, né? 16 para 17 anos de idade. Antes disso eu fiz escola técnica, estudava. Fiz o primário, fiz escola técnica, 4 anos, e logo entrei na Vale. Então ali o que a gente fazia era estudar e brincar, passear, jogar futebol, entendeu? A diversão nossa era essa. Mais futebol, né, que eu gostava mesmo.
P/1 – E depois com...
R – Eu entrei novo na Vale.
P/1 – Mas com os filhos, aí já com família?
R – Não, com família a gente passeava muito assim, eu sempre
gostei muito de passear. Na época que os meninos eram pequenos, na época do inverno, da montanha, né? Então sábado e domingo a gente sempre nunca ficamos em casa, né? Durante o meu, eu tenho 33 anos de casado. Nesses 33 anos de casado eu não me lembro os dias que nós almoçamos e jantamos em casa, fim de semana. Sábado e domingo. Todo sábado e domingo a gente sai. Hoje não, hoje sai eu e minha mulher que os filhos já não sai mais com a gente, né? (risos) Mas quando eles eram pequenos, eles saiam com a gente, para montanha, para (Campimba?), Pedralva, as montanhas, né? paraia no verão, sempre a gente teve, teve condição, né? Carro, a gente tinha carro. Tinha condição para isso, a Vale era um salário bom, né? Então dava bem para trocar de carro todo ano. Era, todo ano.
P/2 – Hoje continua?
R – Não, hoje defasou muito. A gente tem porque tem renda. A gente fez renda fora disso aí, entendeu, a gente economizou, guardou alguma coisa para poder ter um final melhorzinho, né? Sem problemas. Então a
gente tem renda. Hoje eu estou fazendo uma cobertura lá em Vitória, em Tamburi. Terminando, acabando agora a cobertura. Estou botando os móveis, mobiliando. Tudo com o, o meu salário que eu ganho não dá nem para nada. Não dá para comparar nem as luminárias. Quanto mais... é que a gente tem renda. Eu aproveitei muito, na Vale também. Tive boas ações da Docenave. Vendi agora na própria Vale.
P/1 - O senhor comprou ações da Docenave?
R – Tinha muita. Eu tinha 70 e tantas mil ações. Vendi agora. Me deu aí 120 mil reais. Quer dizer, um dinheiro que entra que eu não preciso gastar, então eu jogo em investimento. Em que contexto que o senhor comprou essas ações?
R – Ah, isso eu comprei tem muitos anos.
P/1 – Ao longo dos anos?
R – Ao longo, logo no início da Docenave. Isso foi quando? Isso lá pro ano de mil e novecentos sessenta e poucos, entendeu?
P/1 – O senhor foi comparando?
R – Comparando. Ia dando filhote, entendeu, aí o cara que não queria vendeu os filhotes, eu comparava dele e ia comparando. Cheguei a 70 e poucas mil ações. Vendi agora à Vale. a Vale mesmo estabeleceu compara para todo mundo que tem ações da Docenave. O prazo é até agora, esses mesmo agora de setembro. Eu vendi em abril. Eu vendi em março no dia 30 de março.
P/1 – Esse prazo para venda?
R – É, para Vale comparar. Ela mandou um contratozinho, duas cópias, para quem quiser vender só preencher __________. Ela pagando R$ 1,75 cada ação.
P/1 – Depois não compara mais?
R – Não, depois ela encerra. Já abriu novamente porque eu pedi. Ela abriu porque lá em Vitória muitos que não queriam vender, depois resolveram vender. Quando eu dizia : “Ó, vende porque senão você vai se arrepender. Porque a Vale do Rio Doce, a Docenave, não vai dar nada durante uns 5 anos. Porque ela só vai pagar dívida. Dívida fiscal que ela tem aí. Durante uns 5 anos você não vai receber nada. : “Ah você vendeu?’ “Claro que eu vendi. Vendi
sim.” Então eles passaram a... aí eu pedi na Vale do Rio Doce, entendeu, eles abriram novamente com prazo determinado até agora. Deve ser até o dia 10 agora, coisa assim, de setembro. Vendi, quer dizer, um dinheiro que entrou, 120 mil reais que está lá para mim. Deve estar em 130. Quer dizer, eu não mexo. A gente não precisa de mexer no dinheiro. Tem quatro apartamentos lá em Vitória, quatro unidades. Dois cobertura, um em Guarapari outro em Vitória. Tem os filhos, estou doido que eles casa, mas não querem casar. Quer dizer, já falei: “Vocês pegam o apartamento, eu dou o apartamento mobiliado com carro.”
P/1 – Se casar ganha? (risos)
R – Lógico, mobiliado.
P/1 – E nem assim eles querem? (risos)
R – Nem assim. (risos)
P/1 – Seu Genilson, como é que é o seu dia a dia?
R – O dia a dia é na Aposvale, né?
P/1 – Pois é. Como é que é sua rotina de trabalho.
R – Eu chego as oito e meia. Primeiro eu acordo as seis horas, seis e dez eu saio de casa. Faço minha caminhada de sete quilômetros. Lá da cidade de Alves Cabral e volto, andando, entendeu? Depois vou para Aposvale. Na Aposvale chego oito e meia até meio dia. Meio dia vou para casa. Eu sou o único que vou em casa. Minha mulher não vai, almoça fora. Meus filhos também. Às vezes, ela chega almoça, eu já ____. Quando ela chega eu estou vendo televisão, né? “Ué, você veio?” ________ “Me avisa.” Então dificilmente a gente almoça junto.
P/1 – E a tarde o senhor volta para Aposvale?
R – A tarde eu volto para Aposvale as duas horas. dezoito horas eu estou em casa, vendo minha novelinha, né? Sou noveleiro. Gosto. Vejo minhas novelas todas. Ligo as seis horas e vou até, até a hora que a última acabar. Vou vendo todo dia.
P/1 – E final de semana é __________________?
R – Final de semana eu saio. Saio. Vou para praia, vou para Guarapari no verão. Quando está sol. Visito minha mãe. Todo sábado e domingo, isso é sagrado, né? Vou à missa, depois da missa vou à casa da minha mãe faço minha visitinha a ela depois saio, pro clube, né? Então é a vidinha, aí.
P/1 – Boa, né?
R – Não, é uma vida simples. Simples, simples, simples.
P/2 – E os seus irmãos, tem contato com eles? _________
R – Todos eles. A gente convive mais em família.
P/2 – Legal.
R – Entendeu. Então eu encontro com eles todos no clube, eles jogam comigo a bocha. Um é diretor do clube. Tem dois são diretores lá do clube, do Alves Cabral. __________ lá. Lá tem tudo, tem restaurante, tem tudo.
P/2 – E se o senhor pudesse mudar alguma coisa na sua trajetória de vida o senhor mudaria? Ou deixaria tudo do jeito que está?
R – Olha, mudar sempre é bom. Mas é bom mudar para melhor. Quando a gente pode e aparece as oportunidades...
P/1 – Mas olhando para trás. Na sua trajetória o senhor mudaria?
R – Não olhando para trás não. Não. para trás eu me considero, vamos dizer assim, um cidadão feliz, entendeu? E, gente, eu já vou fazer 65 anos de idade e muita saúde, graças a Deus. Então não tenho do que reclamar não. Tenho uma família muito bem constituída com 33 anos de casado, dois filhos. Então tá, o que é que eu posso querer mais, pô. Não é? É tocar para frente, cuidar da minha saúde para viver bastante. Ver se chego aos 90. Estou satisfeito chegando aos 90, não é?
P/2
– Claro.
R – O meu avô morreu com 97 anos, eu tenho um tio com 90, minha mãe está com 87. Então o pessoal lá em casa vive muito.
P/1 – Seus sonhos então pro futuro são esses? Viver bastante...
R – Não, viver bastante, é. Eu estou querendo até no próximo mandato me afastar um pouco da Aposvale porque você vai ficando muito tempo lá então vai formando uma igrejinha em torno da gente. Então isso é muito ruim. Então hoje na Aposvale já começam alguns comentários lá: “Poxa, isso aqui agora é só Genilson, só Genilson. Isso aqui parece que é dele. Será possível não tem outra pessoa?” Então a gente ouve essas coisas e eles tem razão. Eu sou favorável a certa mudança, entendeu? Então no próximo mandato eu não vou entrar, eu não vou me candidatar não.
P/1 – E aí como é que o senhor pretende ocupar o seu tempo?
R – Eu vou ver. aí eu vou ver o que aparece. Ou eu vou lá pro colégio dar uma assessoria lá no colégio da minha mulher ou vou lá pro meu escritório mesmo, de advocacia lá, com o meu sobrinho, entendeu?
P/1 – O senhor continuou advogando?
R – Continuo, continuo advogando. Muito pouco mas continuo. Então eu tenho um sobrinho que ele é advogado, muito bom, trabalhista. De vez em quando a gente está junto, né? Quando ele me chama lá no escritório dele para resolver alguns probleminhas nessa área. E eu dou de vez em quando assessoria.
P/1 – Sei. Então se Genilson, encerrando a nossa entrevista a gente queria saber o que é que o senhor achou de ter participado do Projeto Memória? O que o senhor achou de ter dado esse depoimento aqui para nós?
R – Olha, eu achei isso importantíssimo. para mim foi até surpresa. Porque a Vale do Rio Doce ela antes da privatização nunca teve essa idéia. Isso veio ocorrer, de poucos anos para cá com a criação do Museu Ferroviário lá em Vitória. Eu estive presente lá. Eu estava lá no dia da inauguração do Museu. Então isso é de grande utilidade, entendeu? para empresa, porque a empresa é uma empresa de grande porte. É a maior exportador de minério, é o maior produtor de minério, é o maior exportador. Então ela tem. É uma empresa antiga, que já completou seus 50 anos como Vale do Rio Doce, então tem que ter isso aí, vamos dizer assim, documentado. Esse documentário aí. Isso é importante para ela como empresa. Isso valoriza muito a empresa, entendeu? Valoriza a gente também, como ex-empregado dela, isso nos deixa feliz por a gente vir aqui ou bem ou mal, mas a gente trás alguma coisinha que possa também ficar aí guardado para a posteridade. Isso realmente é importante para nós e acredito para empresa também, é mais ainda. Porque ela tem que ter a sua história. Ela tem que ter aí documentada a sua existência, entendeu? E bem documentada aí. É isso aí.
P/1 – A gente gostaria de agradecer, né?
P/2 – Muito obrigado.
P/1 – Muito obrigada.
R – Estamos às ordens sempre.
P/1 – Tá, muito obrigada.
[Fim da Entrevista]Recolher