PESSOAL Nome e nascimento Meu nome é Daura Silva, nasci em Patrocínio, Minas Gerais, no dia 16 de março de 1936. FAMÍLIA Avós Conheci minha avó paterna e meu avô e minha avó maternos.Joaquim Afonso da Silva e Severiana Afonso da Silva são os pais de meu pai. E Balduíno Afonso da ...Continuar leitura
PESSOAL
Nome e nascimento
Meu nome é Daura Silva, nasci em Patrocínio, Minas Gerais, no dia 16 de março de 1936.
FAMÍLIA Avós Conheci minha avó paterna e meu avô e minha avó maternos.Joaquim Afonso da Silva e Severiana Afonso da Silva são os pais de meu pai. E Balduíno Afonso da Silva e Balbina Afonso Pereira são os pais da minha mãe.Esse sobrenome comum, Afonso, é porque eram casados muitos parentes. Papai, por exemplo, casou com uma prima primeiro; depois que mamãe teve três filhos, o quarto filho dela morreu e o papai casou com uma prima primeiro dela.
Eu já procurei saber a origem da minha família; segundo informações que eu tive, que não são assim concretas, a minha origem veio de Portugal e eles foram morar em Patrocínio. Eu acredito que todos eles são de Patrocínio. Vovó Severiana, vovô Balduíno e vovó Balbina tenho certeza; agora o vovô Quinca, que a gente fala, eu não tenho certeza se era de Patrocínio, mas eu tive informação que ele e vovó Severiana eram primos primeiro.
Pais Meus pais eram Décio Afonso da Silva e Dolores Afonso da Silva. Papai era fazendeiro.Nós fomos criados em fazendas. Depois que os filhos precisavam estudar, nós mudamos para Uberaba. Eu nasci em Patrocínio, depois papai ficou com a sede da fazenda do vovô quando ele morreu. Ele ficou com a sede no Município
de Santa Juliana e depois em 1956 nós mudamos para Uberaba para estudar.
Casa da fazenda Eu tenho tristeza de ter desmanchado aquela fazenda. Ela chamava-se Fazenda Córrego do Meio. A casa era uma casa grande, casa de fazenda. Quando nós mudamos para lá ainda tinha o quarto escuro onde fechou os escravos; papai mandou desmanchar porque não queria que os filhos crescessem vendo. Ficou uma sala enorme. A sala de jantar também era enorme. Tinha os teares de tecer as colchas, esse trabalho que hoje é uma cultura, aliás,
toda vida foi. Ela era uma casa muito alta, com quartos grandes, acho que tinha cinco quartos, a cozinha enorme; tinha um moinho movido à água, para moer o milho, fazer o fubá, fazer a canjica; tinha um engenho movido à água, era uma roda enorme, muito alta, e aquela roda movida à água era que moía a cana. Tinha muita água mesmo na fazenda.
Alambique O engenho tinha aquelas tachas enormes de fazer o melado, para fazer rapadura e fazer o açúcar cristal. Do melado e desse açúcar fazia a pinga. Tinha um alambique de fazer a pinga. Eu trabalhei muito nisso, até fazer pinga eu já fiz. A pinga tem que fazer um fermento do melado com fubá e a garapa. Ali ferve, como se tivesse fogo que esquenta. Aí quando pára de ferver, assenta o fubá e o milho, leva aquele líquido, põe no alambique, põe fogo e vem com água por cima. Tem que cair água no alambique, para que na fervura evapore aquele vapor que sobe, e a pinga tem um caninho de sair. A pinga era boa. Nós tínhamos os termômetros de medir o fermento e medir a pinga. Na época, eu já era moça, minha atividade era trabalhar mesmo.
Casa na cidade Papai ficava na fazenda e mamãe, em Uberaba, tocava uma pensão. Com essa pensão é que mantinha a família. Era Pensão Santa Rita. Ficava na esquina da José de Alencar com a Tristão de Castro. Ali perto dos Três Irmãos Tecidos. Eu trabalhava também na pensão, ajudando. As funções era tudo o que precisava fazer, porque não tem coisa determinada, o que precisasse fazer. Mas geralmente era arrumação, servir a mesa para os hóspedes, arrumar a cama para
hóspede, arrumar a casa. Eu ficava muito na costura, porque eu também estudava nessa época. Essa época eu estudava em Uberaba, fazia o ginásio. Estudei no Ginásio Triângulo lá em Uberaba. Sobrava pouco tempo para lazer. Papai também foi muito severo conosco. A gente tinha hora para sair e hora para voltar. Se o namorado ficasse na porta, ele chegava e chamava: "Vem para dentro que já está tarde".
Depois que papai vendeu o bar, nós fomos para o Bairro Martins. Ele vendeu a fazenda e comprou uma casa lá. Era uma casa antiga, terreno grande, mas uma casa bem antiga, com cômodos grandes também e papai deu uma reformada nela e nós ficamos lá. Em volta dela ainda era cerca de arame nessa época, a casa não tinha muro, aí papai deu uma arrumada. Tinha quintal grande. Mamãe plantava assim alguma verdura, depois o papai fez um barracão para criar frango e acabou o quintal. Depois não deu certo e ele alugou para uma oficina esse barracão. Recordar o passado é bom pra ver o que a gente evoluiu.
Irmãos Eu tinha vontade de trabalhar, ganhar meu próprio dinheiro, porque a gente vivia com o dinheiro do papai e da mamãe, que trabalhava na pensão, embora a gente trabalhasse também. Mas a gente ter o próprio dinheiro é bem melhor. E não foi possível fazer isso lá. Em Uberaba era bem mais difícil de arrumar emprego, arrumar um trabalho. Lá eu não trabalhei em lugar nenhum.
Viemos todos para Uberlândia, quer dizer, uma já havia casado, lá em Santa Juliana. A Déa ficou pra trás, porque não tinha vendido a pensão. Nos mudamos para cá no dia 3 de março de 1960. Mamãe, papai e todos meus irmãos e eu. São nove irmãos. Três do primeiro casamento e seis do segundo.
EDUCAÇÃO Primeira escola
Eu estudava lá na fazenda mesmo. Mas nessa época que nós morávamos lá na fazenda eu fui estudar em Araxá. Lá em Araxá eu estudei na Dona Borondina e estudei interna no Colégio São Domingos. Quer dizer, eu e a Déa trabalhávamos no colégio para ganhar o estudo, porque papai não tinha condições de pagar estudos para nós. Mas onde eu comecei mesmo a estudar foi em Patrocínio. Porque nós moramos em Patrocínio até a idade de... eu mudei de Patrocínio para o município de Santa Juliana, que era essa fazenda, em 1945, foi de maio até julho parece, foi nesse intervalo que nós mudamos de Patrocínio para Santa Juliana. Então, os meus estudos eu comecei mesmo em Patrocínio. Porque em Patrocínio nós morávamos numa fazenda do compadre dele, e lá tinha escola, foi lá que eu comecei meu bê-a-bá.
Lá da sede da fazenda do Sr. José Queiroz, onde a gente trabalhava, eu não lembro o nome das professoras não. Eu me lembro de uma não sei se era Derci ou Gerci, essa já foi em outra fazenda, que era também do Sr. José Queiroz. Ela morava lá em casa mesmo, para poder dar aula para nós. A escola era lá em casa. Eu estudei em Patrocínio também depois que eu morava no município de Santa Juliana, eu voltei para Patrocínio e estudei lá no Grupo Escolar Honorato Borges; lá eu terminei a quarta série, como se diz hoje, depois é que eu fui para Araxá. Nós não fomos sozinhas, o papai levava a gente. É... porque a gente ficava internas no colégio.
Formação educacional Era bom, porque a gente nem viu o tempo passar. A gente trabalhava, estudava, às vezes a gente ia para a chácara com as irmãs. Eu gostava,
precisava de estudar, não tinha outro jeito, tinha que ficar. Mas eu não tenho nada a reclamar do colégio não. Eu aprendi muita coisa boa no colégio, com as freiras. Sobre religião eu aprendi muito, eu aprendi a trabalhar. Quer dizer, eu aprendi isso também com a minha mãe, eu tenho que agradecer a minha mãe segunda que me ensinou a trabalhar. Mas eu aprendi muita coisa no colégio, no sentido de lavar roupa, cozinhar. No colégio, eu que tomava conta da Capela. Eu que limpava a capela, encerava, preparava as coisas para a missa, o vinho, a água; essas coisas todas, eu que preparava; lavava as toalhas do altar, engomava. Foi no início de... foi na década de 50. Eu era
jovenzinha.
Dava tempo de estudar com todas essas atividade. Não era só nós duas, nós éramos em quinze moças que trabalhavam, fora as freiras que coordenavam o serviço. Cada uma tinha sua obrigação, de limpar as salas de aulas, quer dizer, tudo coordenado; você tinha prazo para fazer aquilo, prazo marcado para limpar uma sala, tinha que ter tantos minutos. Por isso que dava. Eu, por exemplo, estudei matemática na época, eu estudava após o almoço, eu tinha uma hora de aula de matemática todos os dias. Era todos os dias, acho. Como o trabalho era, vamos dizer, quilometrado, então a gente tinha prazo.
A gente tinha saudade de casa, mas todas as férias a gente ia em casa. Nessa época, nós morávamos em Santa Juliana. A viagem não era muito dificultosa, porque o ônibus de Araxá à Uberaba passava no alto da fazenda, era estrada de terra, não tinha asfalto. Demorava uma hora, uma hora e meia, duas quando muito. Não demorava muito não. Hoje a gente faz em uma hora pelo asfalto, eu acredito que era uma hora e meia mais ou menos. Eu não lembro. Eu estudei em Araxá uns dois... no Colégio foram dois anos, deve ter sido uns três anos que eu estudei em Araxá. Um com a dona Borondina e dois interna no Colégio.
Aí voltei para a fazenda e em 1956, quando nós mudamos para Uberaba, eu fui fazer o ginásio. Eu fiz o ginásio em Uberaba e quando mudamos para aqui, em Uberlândia, eu fiz o Técnico em Contabilidade. O que motivou a família mudar para Uberaba era porque o papai queria que a gente estudasse mais e lá em Santa Juliana não tinha como, não tinha estudo para a gente. Então foi esse o motivo que
nós mudamos para Uberaba.
No tempo de Uberaba, lembro-me do Professor Edmundo, que era o diretor do Colégio que eu estudei também, que era o Colégio de Uberaba, ele era muito amigo dos alunos. No Colégio Triângulo tinha o Professor José Lemos, eu não me lembro mais da matéria que ele lecionava, mas me lembro bem da fisionomia dele. Tinha uma professora, acho que é Iris, eu não me lembro mais. São esse dois professores que eu me lembro bem. O professor mais amigo a gente não esquece ele. No Ginásio Uberaba eu tive uma professora também de português, eu gostava muito dela e gostava muito também da matéria.
Universidade Depois passado treze anos eu resolvi estudar de novo, fiz cursinho e prestei vestibular para Pedagogia. Passei e fiquei na faculdade, mas não terminei. Eu estava no quarto período quando eu deixei a faculdade, porque me deu stress, eu trabalhava muito. O médico falou assim para mim ou eu tinha que parar de estudar ou parar de trabalhar. Falei: "Bom, parar de trabalhar eu não posso". Então deixei o estudo.
CORPORATIVO Primeiro emprego
Aqui em Uberlândia nós chegamos, deixa eu ver, nós mudamos para cá em 1960, em 1961 mais ou menos eu já arrumei emprego e as minhas irmãs também foram arrumando; era tudo mocinha. Estudamos no Liceu à noite e trabalhávamos durante o dia. O papai comprou um bar-restaurante, quer dizer era bar e dava refeição. Nossa casa era ao lado. Na esquina da Cesário Alvim com a Coronel Antônio Alves Pereira.
Era de frente o posto. Agora eu não lembro como chamava o bar, esse eu não lembro não. Quando precisava a gente ajudava. Porque a gente já trabalhava durante o dia, tinha que estudar à noite e tinha que sobrar um prazo para a gente poder estudar as lições.
O meu primeiro emprego em Uberlândia foi no Laticínios Planalto. Lá eles recebiam o creme do leite das fazendas e transformavam em manteiga e essa manteiga era vendida para São Paulo, para o Rio, era até exportada essa manteiga. Depois, um dia não deu bem e fechou. Eu trabalhava no escritório, calculava os valores. Era só eu que fazia o serviço de escritório.
Contabilidade Nesse tempo eu já estava no curso de contabilidade, e o contador de lá também trabalhava no escritório, mas aí eu aprendi muito com ele. Às vezes fazia o serviço contábil mais o serviço de calcular preço de quilos de creme, preços, essas coisas era eu que fazia. Esse contador era o Sr. Teolino; tem uns dois anos que ele faleceu. Foi onde eu aprendi mais na minha vida foi com ele. Aprendi, assim,
no início do meu trabalho. Agora onde foi uma escola pra mim mesmo foi na CTBC. Quer dizer, em cada lugar que você trabalha a gente tem uma experiência de vida, que é uma experiência válida, que eu acredito que é para todo mundo, dê certo ou não, eu acho que é válido.
A contabilidade não era uma vocação... talvez seja até uma vocação, mas era porque era o único curso que tinha a noite e eu tinha que trabalhar durante o dia, e o magistério nessa época era só durante o dia, não
tinha magistério à noite. Tinha nessa época também o científico, mas eu optei pela contabilidade. Aprendi a gostar mas nunca exerci a profissão de contabilista, porque na época que eu formei era muito difícil da gente achar
um lugar para fazer estágio, não existia estágio para a gente aprender. Quem sabia, quem tinha o seu lugar já garantido, não interessava pegar alguém para ensinar, não era interessante para ninguém. Então, eu arrumei esse serviço que não era na contabilidade. Quem precisa trabalhar pega aquilo que dá conta e consegue ganhar dinheiro, dinheiro assim pra viver.
Ingresso na CTBC Eu morava em Monte Alegre e a Déa trabalhava na CTBC; eu precisando de trabalho aí surgiu uma vaga, eu fui lá, fiz o teste e passei. Era uma vaga no escritório. Mas quando eu entrei, eu entrei calculando os bilhetes.
O teste para admissão foi um ditado, que eram observadas as vírgulas, a escrita também, é lógico, o português e cálculos de matemática, de juros, de porcentagem, problemas, as quatro operações - naquela época eram as quatro operações - e os problemas, foi só o que eu fiz. Aí passei... e fui para área com a Maria Ramos tachar os bilhetes; até que surgiu uma vaga para ser secretária da Dona Ilce e tomar conta do arquivo.
CTBC
Tarifas Eu não me lembro muito bem do processo não, porque foram poucos dias que eu trabalhei. Mas num bilhete assim... vinha o tempo que a pessoa falou, o valor dos minutos, um negócio assim, e a gente punha o valor embaixo. E aí eu não sei se iam para a contabilidade ou pra onde iam esses bilhetes, eu não sei explicar. Eram bilhetes preenchidos pela telefonista. Porque naquele tempo se fazia os bilhetes, não era computador, não era nada assim. A gente taxava os bilhetes pra mandar para a contabilidade.
PROCESSO DE TRABALHO Arquivos
Eu secretariava Dona Ilce no que ela precisava. Atendia o telefone e fazia o arquivo da CTBC, que eram uns três ou quatro arquivos, esses... tamanho ofício, grandes. Eu fazia o arquivo dessa época. Aí foi crescendo a quantidade de papel e quando nós mudamos lá para a Industrial eu ainda fiquei uns tempos com ela. Era para separar os arquivos porque estava aumentando muito e a
Dona Ilce falou que era para eu ficar com ela. Aí eles pediram que eu continuasse no arquivo, que eu ia ser a coordenadora do arquivo, que meu ordenado ia ser maior. Então eu optei pelo arquivo. E fiquei nele até o fim.
Toda a documentação era guardada. Não só de Uberlândia, como os papéis que vinham das outras localidades eram guardadas aqui. No início não era assim, quando eu entrei. Depois foi crescendo, foi trazendo toda a papelada das localidades para Uberlândia e foi aumentando o arquivo, foi aumentando gente para trabalhar com a gente, porque era muito papel. Esse papel era separado com a classificação da contabilidade. Tinha uma pasta para cada coisa. Tinha as despesas de rede interurbana, rede urbana, de equipamentos. Era assim: de luz, água, isso era tudo separado e arquivado em pastas separadas, ano por ano. Os papéis eram separados de acordo com a classificação da contabilidade. Dona Ilce escrevia, classificava e escrevia o que era aquilo. Por exemplo, rede interurbana, rede urbana, prédio e terreno, equipamentos, luz, água. Era tudo escrito, a gente separava, punha em ordem de data e guardava.
Era muito papel. Quando eu saí de lá tinha nove ou dez arquivos, tinham mais de 1000 pastas no arquivo ativo, que retirava todo ano; a gente mudava
aquelas que estavam muito cheias, guardava de dois anos numa pasta só as que eram pouco papel. E tinha as caixas, essas caixas evidente de arquivo inativo, que a gente guardava. Tinha um cômodo lá dentro, tudo numerado; tinha índice para tudo, que nós que criamos quando eu estava lá. Quando eu estava lá nós criamos esse índice, que inclusive foi jogado no computador.
As pastas eram tudo em ordem alfabética e numérica ao mesmo tempo. Se entrasse, por exemplo... tinha
o número três, se entrasse na ordem alfabética uma que tinha que ficar antes do número três, então colocava número 3A. E assim foi até que eu saí de lá, quando eu aposentei.
As atas das reuniões de todas as localidades também vinham para mim. De Uberlândia, as ordinárias, as extraordinárias, a Ata de Constituição, todas guardadas lá. Inclusive nós fazíamos até umas pastas grandes do tamanho de jornal para arquivar, para não dobrar, e era tudo guardado lá com a gente e separadas também por cidades. E também o edital de convocação que a gente guardava de três dias consecutivos, que é lei. A gente fazia isso. Eu acredito que deve estar guardado até hoje. Eu telefonei para o Altair e ele disse que as atas estavam lá. Eu só sei que o arquivo inativo era mais procurado que o ativo porque muita coisa, muito papel que eles querem recordar... às vezes surge algum problema que já passou... era muito procurado o arquivo inativo.
Índices
Quando eu cheguei lá, tinha uma folha com aquelas pastas numeradas, uma folha que ficava na gaveta. Daí eu fui e pensei: "Não, isso aqui tem que melhorar, isso não pode ficar assim. Os papéis antigos eram no almoxarifado, não tinha assim um controle. Não tinha controle nenhum do arquivo inativo. Depois que eu organizei é que nós arrumamos as caixas também tudo numerada, tudo com índice. Se chegasse lá e pedisse um papel da Embratel, vamos dizer, antes de eu estar lá, eu entrei em 1970... Eu vou dar exemplo do que eu lembro que surgiu, no momento que eu
estava lá: me pediram um papel de 1968 da Embratel, eu fui no índice, encontrei a pasta da Embratel de 1968, em 15 minutos eu achei os documentos. Depois que foi organizado por nós, a minha equipe e eu, ficou mais fácil de encontrar os documentos do que quando eu entrei. Quando eu saí, nós éramos cinco, seis comigo.
Quem solicitava mais esses documentos era a diretoria, a contabilidade. Todos os departamentos procuravam os seus documentos; por exemplo, garantia de equipamento, garantia de peça, muita coisa. Negociação que houve e precisava de documento, cartas que foram enviadas e que foram recebidas. Eu tinha que ter tudo isso. Quando eu saí já tinha o disquete do índice. Eu não sei se eles continuaram porque antes de eu sair de lá nós fizemos uma tabela. Já escrevi ali até quando os papéis poderiam ser incinerados e já mandava para o arquivo desse jeito. Chegava lá ele colocava no computador, numerava , numerava... - e ainda é assim - e guarda a caixa. Ali já estava definido qual era a vida útil do documento. Agora nessa norma que nós fizemos por último lá, que eu
não sei se já fizeram outra, vinha com o tempo determinado.
Documentos vencidos Os documentos que caducavam já podia picar. Acho que eles picavam, eles tiravam de lá. Eu entregava para eles e eles levavam. Tinham umas máquinas que picavam esses papéis. Tinha época que era muita coisa. Mas não é tudo que pode ser eliminado. Tem certos documentos que é 30 anos, outros são 35. Eu não tinha tabela. Eu tinha é na cabeça mesmo a quantidade. Por exemplo, documento de pessoal, você não podia eliminar antes de 30, 35 anos e às vezes nunca. Folha de pagamento, recibos, essas coisas não podem ser eliminadas.
Conservação dos documentos De vez em quando o pessoal de serviços gerais batia alguma coisa no arquivo, algum veneno. Mas não era constante não. Mas não dava problema de muito bicho não. Para não estragar tinha as prateleiras; quem limpava lá espanava bem, não tinha problema não. No tempo que eu trabalhava lá, era um cômodo grande, era um cômodo embaixo e outro em cima, então o arquivo inativo ficava embaixo e o ativo em cima. Descia uma escada, era um porão que tinha e guardava. Isso já no Industrial, lá onde trabalha a Dila.
Correspondência Eu tinha consciência que estava tomando conta da história da Empresa. Inclusive, o Dr. Luiz me pediu que as cartas expedidas pela CTBC eu mandasse encadernar. Eu não sei onde estão esses livros, mas devem estar guardados. Desde 1967, as correspondências expedidas pela CTBC, e até quando eu saí de lá, eram todas encadernadas em ordem numérica, porque nós tínhamos o controle de numerar as coisas por mês, e todos que escreveram a carta, telefonavam, pegavam o número, a gente anotava a data, o departamento, a pessoa que pegou, para onde que ia a carta, qual cidade, então a hora que ia arquivar a gente dava baixa naquela numeração.
Era um tipo de um livro que nós fizemos, tiramos xerox. Tirava xerox e anotava tudo ali. A hora de arquivar anotava, naquela folha que tinha aquela numeração, o número da pasta que estava arquivada. Agora acredito que hoje não é assim mais não, me parece que cada departamento faz a sua. Toda a correspondência era centralizada ali. E funcionava. Faltava alguns, aí a pessoa não sabia o que tinha feito dela, ficava assim mesmo. Às vezes quando cancelava, a gente escrevia também cancelado.
As pessoas que solicitavam esses documentos tomavam emprestado e depois devolviam. E se não devolvesse eu ia atrás. Eu ia atrás, e nesse sentido eu acho que eu fui muito responsável. Não só eu fui responsável como eles tinham confiança comigo, senão eu não teria ficado lá 23 anos. Modéstia à parte, eu tinha muita responsabilidade e muito amor pelo meu trabalho.
E esse amor pelo trabalho eu acho que era o dom. É o dom que a gente tem de trabalhar com amor, eu acho
que vale mais a pena do que a gente trabalhar revoltada. Como tem muitas pessoas que chegam no serviço de manhã e fala assim:
"Oh cinco horas, que horas que você vai chegar?". Esse não está com vontade de trabalhar, esse não trabalha por amor. A gente para trabalhar não pode ser assim, a gente tem que pensar em fazer aquilo que está na nossa frente, o que tem que ser feito, assim da melhor maneira possível, para sair certo e com amor também.
Arquivo computadorizado Quando o arquivo foi para o computador eu já havia saído. Eu participei de várias reuniões, vários cursos sobre a microfilmagem que nós tentamos pôr dentro da CTBC mas não foi possível, que eu achava que melhorava bem o arquivo na época. Mas não foi possível conseguir isso, porque o pensamento deles, eles que viajavam sabiam, o Dr. Luiz viajava muito e sabia que um dia ia informatizar. Na época, não era interessante às vezes gastar com a microfilmagem para depois ir para a informática. Então, no meu tempo foi tudo manuscrito.
Aposentadoria Fiquei na CTBC até primeiro de março de 1993. Eu entrei em 2 de fevereiro de 1970 e saí 1º de março de 1993. Saí porque eu aposentei e eles não aceitavam aposentados naquela época. Ah eu senti muita saudade, fiquei muito emocionada, mas tinha que sair. Depois, meu primo me chamou para trabalhar com ele. Ele tem um firma de ar condicionado. Eu trabalhei com ele dois anos. Aí eu pensei trabalhar por mim mesma, mas não deu certo e eu larguei. Agora estou só em casa.
De vez em
quando encontro com antigas companheiras de trabalho. A gente encontrava mais quando tinha aquele encontro pré-aposentadoria. A gente encontrava com muitas amigas do nosso tempo. Mas agora eu acredito que não vai ter mais esse encontro, então fica mais difícil. De vez em quando eu telefono para uma, as vezes faz visita, a gente não pode perder o contato.
Hoje faço serviço de casa só. Eu gosto de fazer comida. Eu que gosto de preparar, gosto muito de cozinha, de fazer quitanda, essas coisas assim. Eu fazia congelados. Quando eu larguei de trabalhar com o meu primo, eu fui trabalhar com congelados, mas aí me deu uma tendinite na mão que eu não pude mais amassar. E não achei vantajoso comprar a máquina, porque aí deixa de ser aquela quitanda caseira. Então, eu larguei. Pois tem que garantir o gosto do
pão de queijo mineiro, não é?
Associados Para uma pessoa que fosse trabalhar na CTBC, eu diria que é uma empresa assim muito consciente do que faz. Não é só o trabalho, a experiência que a gente encontra lá não, a gente encontra amigos, faz amigos. É uma empresa muito boa, é uma escola para a gente. Eu falo que o Arquivo foi uma escola para mim. Eu aprendi muito. Qualquer pessoa que quiser trabalhar na CTBC hoje eu acho que ela vai ser bem recebida desde que ela trabalhe conforme a empresa precisa e com o coração. Tem que trabalhar não só com o pensamento mas com o coração também.
Eu também gostaria de falar mais para as pessoas que entrarem, não são só os funcionários que a gente encontra lá, são pessoas amigas, pelo menos eu tinha muitos amigos lá dentro, como o Dr. Luiz, o Luiz Alexandre, Dona Ophélia, todo mundo são pessoas muito benquistas para gente, que recebe a gente muito bem. Eu tenho um grande carinho pelo Luiz Alexandre porque quando ele tinha 15 anos, o primeiro serviço dele foi no Arquivo. Nas férias dele, o Dr. Luiz pois ele para fazer o serviço de office boy. Eu acho assim que foi muito importante para mim ter o Luiz Alexandre como meu funcionário e a Ana Marta também teve no meu departamento. Todos os dois estiveram lá conhecendo a empresa, conhecendo o arquivo.
EMPRESAS Laticínios Planalto
No Laticínios Planalto, eu aprendi muito no sentido da contabilidade mesmo, que eu estava fazendo o curso; eu levava muita coisa para o escritório para ele me explicar. Aprendi muito com ele. Eu trabalhei lá um ano e cinco meses, até o momento em que a empresa fechou. Não dava para prevê que a empresa estava indo para o buraco; nesse sentido aí eles não comentavam comigo, mas a gente via, sentia por causa assim de pagamentos que, às vezes, até a gente que fazia, pessoas que iam lá cobrar; a gente sentia que a empresa não ia bem. E o dia que fechou estava planejado. Eles pagaram todo mundo primeiro para depois fechar. Era um comportamento diferente. O que ajudou ela falir também foi uma ocasião que eles mandaram uma manteiga para o Rio para despachar para o exterior, e a alfândega segurou essa manteiga lá até perder. Isso deu muito prejuízo.
Margel Máquinas Com o fim da Planalto eu fui trabalhar na Margel Máquinas; era móveis de aço e máquinas de escrever, da marca Securit, que eles eram exclusivos, e da Olivetti. A máquina Olivetti e os móveis Securit. Eu trabalhava no escritório, fazia faturamento, tomava conta do estoque de máquinas. Nesse momento, já estava com uma experiência profissional razoável, bem melhor. Eu fiquei quatro anos e nove meses na Margel.
O escritório ficava na Afonso Pena entre a Machado de Assis e a Praça Tubal Vilella. Eu não sei o que é hoje, parece que tem um banco ali. Nessa época, eu ficava no bairro Martins, que toda vida eu morei no bairro Martins.
Eu ia a pé para o trabalho. Era fácil, é engraçado. Hoje todo mundo quer carro para andar. E a gente achava tão fácil. Em uma hora e meia eu ia da João Pinheiro lá na Estrela do Sul no bairro Martins, almoçava e voltava com tempo. Hoje parece que o tempo diminuiu para as pessoas.
Emater Depois da Margel, eu pedi demissão porque eu fui convidada para trabalhar na Emater. Emater é uma firma do governo que dá assistência no campo. A supervisora trabalha com a dona de casa, com as escolas rurais e o supervisor trabalha com o fazendeiro, na parte do gado, da plantação. No tempo que eu trabalhava chamava ACAR - Associação Comercial... um negócio assim, não lembro, e depois passou para a Emater. Eu fiquei um ano na Emater e depois eu saí.
COMUNIDADES/PESSOAS Alexandrino Garcia
O Sr. Alexandrino foi uma pessoa lutadora. Ele era uma pessoa enérgica, mas eu acho que tinha que ser mesmo porque era muita gente, e uma empresa que não tem uma certa energia ela não cresce. Acho que era uma pessoa enérgica, mas era uma pessoa boa, amiga também. Eu gostava muito do Sr. Alexandrino, como patrão eu gostava muito dele. Ele conversava comigo. Às vezes, até eu ia lá arrumava a sala dele, do Dr. Luiz. Eram pessoas muito amigas mesmo. O Sr. Alexandrino era uma pessoa muito boa. Ele tinha as nervosias dele, mas eu acho assim, pela quantidade de gente, pelo tanto de empregado, pelo tamanho da empresa, ele também não poderia ser uma pessoa muito... muito
liberal, deixar muito à vontade, porque senão não crescia.
Eu me lembro de uma carta que ele pediu e eu não achei essa carta que era do arquivo. Ele ficou nervoso comigo, mas depois eu achei a carta e levei para ele. Ele falou para mim que pensou que eu
tinha jogado a carta fora e não podia. Falei que não e que a carta estava guardada e que eu não tinha achado. Foi só isso.
Ilce Fogarolli Dona Ilce era uma pessoa calma para trabalhar, ela
estava acostumada; a gente era uma pessoa muita amiga, toda vida ela foi muito minha amiga, Dona Ilce. Me ajudava um pouco no que eu não sabia, me ensinava, me explicava. Eu gostava de trabalhar com ela.
LOCALIDADES Patrocínio
Na minha infância, Patrocínio era uma cidade muito familiar, até hoje é. Mas ela já evoluiu muito no sentido de comércio, indústria, de melhoria da cidade, melhorou muito. Mas naquele tempo, as pessoas eram muito unidas, todo mundo fazia visitas. Era uma cidade em que todo mundo ia na casa de todo mundo quando era amigo, que hoje a gente quase não vê isso mais.
Uberaba
Na época da minha adolescência e juventude, Uberaba era uma cidade calma, não é como é hoje que você tem medo de sair na rua. A gente tinha muitos colegas, os professores eram mais amigos, não sei se eram mais amigos que hoje, porque hoje não estou estudando. O ensino, eu acredito, era bem melhor do que hoje. Eu acho que os alunos aprendiam mais, tinham mais responsabilidade. Hoje está muito fácil, se o aluno não passa aí ele continua; antigamente não, se ele não passasse ele repetia o ano. Eu acho que o estudo antigamente era mais apertado e o aluno aprendia mais.
Uberlândia Na Uberlândia desse tempo, a estrada de ferro ainda passava dentro da cidade. A praça Sérgio Pacheco era a estação do trem de ferro. Lá na estação era pertinho do Liceu, onde havia vários colégios, mas depois disso veio muitos, desenvolveu muito. Quando nós mudamos para Uberlândia, o prédio mais alto que tinha aqui era o prédio Tubal Vilela. Era o prédio mais alto que tinha. Dá para ver o tanto que desenvolveu...
MEMÓRIA Sonhos
Eu sonho ainda fazer alguma coisa na vida. Eu comecei terça feira um curso no Senai, uma modelagem em roupas elásticas, em tecidos elásticos que é a lycra, a helanca, para trabalhar; ou se conseguir numa confecção alguma coisa para ajudar na aposentadoria. O aposentado tem que pôr o raciocínio para funcionar. Não pode aposentar o raciocínio de jeito nenhum. E é isso que eu estou fazendo.
Centro de Memória Eu achei muito bom ter dado esse depoimento para o Museu da Empresa, porque eu trabalhei na empresa tanto tempo. Eu acho que qualquer funcionário que trabalhou lá, que seja convidado a dar uma entrevista ou um depoimento, eu acho que deveria aceitar, porque se a gente é convidado é porque alguém da empresa citou o nome da gente para isso. Eu acho que todo mundo deveria dar seu depoimento; foi muito bom para mim.
Eu agradeço por vocês terem me convidado e eu ter oportunidade de falar tudo que eu acho da empresa, que é uma empresa excelente para a gente trabalhar, e que esse depoimento vai servir para a história da CTBC .Recolher