Projeto Memória dos Brasileiros
Entrevistada por Thiago Majolo (P/1) e Winni Shoy (P/2)
Depoimento de Eva Alves Machado Luis
Chapada do Norte, Comunidade Córrego do Atanásio, 01/08/2007
Realização Museu da Pessoa
MB_HV031_Eva Alves Machado Luis
Transcrito por Michelle de Oliveira Alencar
Revisado por Paulo Ricardo Gomides Abe
P/1 – Começar, então, dona Eva. Eu queria que a senhora dissesse primeiro pra gente o nome completo.
R – Eva Alves Machado Luis.
P/1 – E a senhora nasceu aonde?
R – Nasci aqui mesmo em Chapado do Norte.
P/1 – Em que dia?
R – Comunidade Batieiro. E o dia 11 de novembro de 53.
P/1 – Qual o nome da comunidade mesmo?
R – Batieiro.
P/1 – E Córrego do Atanasio o quê que é?
R – O Córrego do Atanasio é onde eu moro hoje.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Os meus pais são Pedro Luis Machado e Maria Alves de Sousa.
P/1 – O quê que eles faziam?
R – Eras lavradores também, no caso, não tinham leitura, não tinham nada. Sabiam mal assinar o nome. Era tudo na roça mesmo.
P/1 – E a senhora tem irmãos?
R – Tem. Eu tenho por parte de pai só. Porque os irmãos assim mesmo eu nem sei se é vivo mais. Eles foram pra São Paulo e lá desertaram, não sei nem é se é vivo mais, não. Mas parte de pai eu tenho uma irmã que mora em Misericórdia, tenho outro que mora lá no Batieiro mesmo. Eu tenho esses, os outros mora tudo no Batieiro mesmo. Tenho quatro irmãos.
P/1 – Dona Eva, eu vou pedir pra senhora... Voltando então, dona Eva, eu queria que a senhora descrevesse pra gente, contasse como que era a comunidade onde morava?
R – Onde morava? Eu começo assim... Como que era a comunidade?
P/1 – Isso.
R – Onde eu morava era assim: gente cá lutando sempre com as lavouras mesmo, lavando areia, tirando ouro e do ouro trocava, substituía em outra coisa. Mas sempre era da lavoura e do ouro, lavoura e do ouro. Algodão também. A gente fiava muito algodão. Agora que eu não fio. O tempo não dá. (risos) O tempo não dá pra fiar, mas era muito gostoso fiar algodão. Depois que eu passei a morar aqui também, eu continuei fiando, agora depois misturou, misturo muita coisa, não tem tempo de fiar, não. Não tem tempo mesmo. Enrola muito as coisas. Ô, gente!
P/1 – A senhora aprendeu a fiar com a sua mãe?
R – Com a minha mãe. Com minha mãe porque ela fiava, fiava mesmo que a roupa, as roupas que o meu pai trabalhava era de algodão, porque meus irmãos usavam era algodão. Então tinha aquela roupinha mais ou menos pra sair, mas era algodão mesmo. Cobertor pra cobrir, não usava esse cobertor fino hoje. Cobertor pra cobrir era algodão. (risos) O pano de prato era de algodão, tudo era algodão até a toalha de mesa. Todas essas, chitão era algodão mesmo. Mas só que o pessoal deixou o algodão, eu não sei o que deu neles moda que apresentou o dinheiro que dá pra eles comprar o fino porque antigamente não tinha dinheiro, tinha de resolver era com algodão e com o que tinha. Hoje mexe daqui, mexe dali, apresenta o dinheiro eles compram o fino. Mas fazendo falta, o algodão está fazendo falta. Mas faz falta mesmo. _______ tinha umas tecelãs que compravam ali na nossa mão, compravam o pavio. Quando era o pavio, a gente tecia o cobertor e elas compravam na mão da gente. Toda hora estava entrando um dinheirinho, mas hoje está... Não sei o quê que eles viram que não quer o algodão, não. Não estão usando mais, não. Não estão usando porque não faz. Hoje você faz um cobertor de algodão. Na roça grande mesmo tem umas meninas lá que fazem o cobertor de algodão, tem tanta coisa de algodão que elas fazem, as bolsas. Tanta que no caso, antigamente, ela só sabia fazer o cobertor e o pano, e hoje faz muita coisa do algodão, até o crochê mesmo que as meninas faz do algodão. Só que agora desistiu. Elas caçam só o fino. E só o fino hoje está _______________. (risos)
P/1 – E como que era o processo do algodão? Conta desde o comecinho de colher, conta pra gente.
R – Uai, colher a gente ia na roça. Colhia, depois levava o descaroçador pra descaroçar. O descaroçador sendo assim tem as duas moendas, então tocando de um lado outro de outro. Então a gente descaroçava ele, depois ia na “mofada” batia, e sentava fiava o pavio no fuso ou a linha na roda, então tinha a linha e o pavio que o pavio sozinho não tece e a linha sozinha também não tece. Então tinha que ter a linha e o pavio. E depois eu mandava tecer porque eu mesmo não teço. Nunca tive o tear. A gente tinha as tecelã perto e mandava tecer. Tecia pra gente, a gente vendia, _____________ deixava pro gás lá dentro de casa. Era assim.
P/1 – E que mais que vocês faziam?
R – Do algodão?
P/1 – Não, em geral.
R – Lavava a areia, tirava o ouro. O meu pai trocava, trocava assim por dinheiro, porque o ouro é um dinheiro mas é. Então trocava, ia nas vendas e trocava, substituía por outra coisa, por dinheiro mesmo. O dinheiro dava pra comprar outra coisa, alguma coisa que comprava também, porque as coisas tiravam da roça, toda coisa tirava da roça. Hoje que não está chovendo igual chovia, o povo perdeu os interesses da roça. Não são todos que fazem roça. Não são todos que fazem a roça, não, mas quem faz ainda pega qualquer coisa, qualquer tanto pega ainda da roça. Mas não está igual era, não. Está geral não é uns e outros não.
P/1 – Chovia mais antigamente?
R – Chovia, ah, chovia muito. Chovia muito antigamente. Agora aquela chuvinha um mês, dois. Antigamente nesses canto tudo corria, esse córrego corria, qualquer lugarzinho você via água. Hoje até assim, até essa miséria de água. Falo miséria de água que no meu tempo não tinha essa miséria de água, não. Hoje está assim. Vem de longe lavar roupa, outra hora eles trazem nos pipa pra encher as caixa pra gente. Quando eu vinha crescendo não era assim, não. Era essa danura de água, não.
P/2 – Quem mais plantava e fazia os trabalhos com você?
R – Era todo mundo da tapivaria, uai. O meu pai mesmo. Meu pai aí esse Herculano que é o avô de Zé Henrique. Em geral, os que faziam mais: o meu pai, o vô Herculano, outros e outros fazia mais, mas todos faziam roça.
P/2 – Todo mundo junto?
R – Todo mundo junto fazia um mutirão, fazia um ajudava um, ajudava o outro, ajudava o outro.
P/2 – E as marmitinhas também?
R – As marmitinha. Aliás, fazia o dia que era meu, fazia os (bambi ?) de panela, as panela de barro. Fazia era as panelas de barro, que eu não sei que horas que essas panela cozinhava, porque (risos)... Porque era difícil pra cozinhar mas cozinhou também. É um gosto mais diferente, é melhor e a comida não esfria. Não esfria, não, porque ela era quente direto. Não esfriava. E agora elas faziam. Os camaradas que eram meus na comparação faziam aquelas panelas de feijão, arroz, outra de molho de macarrão do que fosse e chegava na roça quentinha. Só que eu tinha que ser duas ou três pessoas pra levar pra roça, porque era muita gente e as panelas eram muito grandes. Aquelas panelões. E hoje está assim. Ajuda de Vera mas quem va levando sua marmitinha, outro vem pra mim, vem trazendo a marmitinha, porque se for, se na comparação, se for bem, quer dizer que o meu feijão não perde. Se ele vier pra mim bem, eu estou trazendo a marmita. Se ele não vier bem também, porque tinha a questão que eles levavam, não ia com marmita mas eu tinha que botar o feijão no fogo pra fazer pra eles comer. E hoje não, eles vem trazendo a marmitinha se eles vem bem. Se eles não vem, eles mesmos comem a marmita e pronto. É isso.
P/1 – Como que era a vegetação, chovia mais, tinha mais árvores, como que era?
R – Chovia mais. Gente, qualquer lugar que a gente ia, a gente achava um ouro. Hoje os lugares que às vezes nós podemos achar um ouro, não tem água. Pode ter é no rio, no rio não acha mais ouro, não sei onde é que o ouro foi. Já sumiu tudo. Tem mais nada, não, sumiu tudo. Vê aí do lado da Chapada mesmo, se vocês chegaram a ver, tem um lado assim que é pedra, só tem pedra que lá era ouro, o ouro tinindo que o pessoal tirava lá. Parou de chover, parou tudo. O povo não tira mais ouro, mais nada. Acabou, acabou com tudo!
P/2 – Como que foi que o pessoal chegou aqui, dona Eva?
R – O pessoal da?
P/1 – Comunidade.
R – Ô, meu Deus! Esse pessoal... Quando eu nasci, esse pessoal, a maioria já morava aí, mas teve a ________________ aí e o Herculano Luis, que eles falam que conheceram eles aí mesmo. Agora, é com certeza que teve índio que veio primeiro. Teve índio que veio primeiro. Você sabe, Zé, como é que o pessoal do velho Herculano chegou aqui?
R2 – Não. Infelizmente, não sei não.
R – É, porque...
R2 – Eu acho que o pai do velho Herculano casou na comunidade e veio.
R – Casou onde?
R2 – Casou em Misericórdia, e a _________ chamava Bernarda.
R – É, esse detalhe eu não sabia, não, porque os mais velhos que tem aí, eles falam que nasceram aí mesmo, casou aí mesmo e foi rendendo, foi aumentando, aumentando. Mas o primeiro, o principal que veio não sabemos.
P/2 – O que vocês plantavam mais juntos no começo quando era mutirão, panelão?
R – Uai.
P/2 – Além do algodão.
R – Era o milho, era o feijão, feijão de corda também plantava muito que o pessoal gostava muito do feijão de corda. Hoje que o pessoal não quer nem saber do feijão de corda. A cana, que a cana era muito vendável porque fazia as rapaduras, fazia o melado, vendia a rapadura pra comprar outra coisa. E hoje alguns que moem, alguns que moem tem uns que não ligam mais nem pra cana nem nada, hoje não. O algodão nessa época da colheita do algodão era saca e mais saca de algodão. Saca e mais saca. Quem não tinha comprava da mão do outro, ou então pegava do outro pra fiar de ameia. E se acabou, acho que tem um pé de algodão. Está caindo tudo por lá, não vinga nem nada. Pra fazer pavio de lamparina não vinga, porque tem luz geral. A luz está pra todo lado. Fiar não é todo mundo que fia. Esses novatos hoje nem aprenderam a fiar. Nem aprenderam, sendo que às vezes se fiasse, podia substituir outra coisa porque se às vezes não dá pra mim mas dá pro outro, que nem aquelas meninas da roça grande mesmo que se comprava meia pra vir na nossa mão, elas compram, vem algodão de fora, pra elas comprar, fiar. Não sei, é que aqui não está dando. O algodão vem vindo de fora às vezes. Dá linha melhor ou pavio, não sei. Porque elas dizem que no algodão lá de fora eles dão um fiamento mais fofo. Então tira todo o povo da crença do algodão, tirou mesmo. Não tem crença mais, não.
P/1 – Dona Eva, eu estou voltando um pouquinho, porque eu queria que a senhora contasse se tinha muita festa na comunidade.
R – Tinha muita festa não, não.
P/1 – Dança, música?
R – A dança tinha porque sempre nas comunidades tinha os bailes. Os bailes de fim de semana, então os pais iam, levavam a gente e dançavam, cantavam. Agora, festa que tinha era só da cidade, era só na cidade que tinha as festas. Igual a festa do Rosário mesmo, a festa do Divino sempre é só na cidade que tinha. Agora, depois que passou a vir os padres nas comunidade que têm as festas na comunidade, mas não tinha mão.
P/2 – E os batuques?
R – Os batuque tinha na comunidade quando eles chamavam, eles faziam, então convidavam a gente. Os pai da gente iam, levavam a gente. Então, levando a gente, dançávamos o que a gente queria. Era a roda, era o nove, era a rodinha de terreiro, era o baile. De tudo dançava um pouquinho. Hoje os novos não querem dançar, não sabem. Não sabem nada de viola, alguns que sabem alguma coisa de negócio de viola, não interessa aprender. Alguns. Igual o Luis Henrique mesmo. Ele aprendeu de tudo, dançava um pouquinho mas aprendeu com o pai dele, diz ele. Porque o pai dele comprou uma viola e ele aproveitava quando o pai dele saía e montava a rifa, tocava. (risos) Quando o pai dele chegava: “Quem mexeu aqui, menino?” “Eu não sei, não”. Então o pai dele aprendeu, e quando é um dia que o pai dele está falando de “Esses meninos precisam aprender”, ele assim já sabia. “Onde é que você aprendeu?” “Aprendi na sua viola, mas não quebrou nada”. Falou que ficou aprendendo, tocava um tantinho. Ele toca um pouquinho da viola, toca a sanfona, ele bate um padeiro, ele bate uma caixa, coisa que não pode é sentir o danado do derrame. Já vai um pouco mais devagar.
P/1 – A senhora ficava assistindo os batuques?
R – Hã?
P/1 – A senhora assistia esses batuques quando era pequena?
R – Um pouco assistia. Mas assim dos... Desde quando eu tinha 13 anos, meu pai já ia nos bailes e me levava porque eu criei sem mãe. Minha mãe morreu eu tinha cinco anos. Então eu criei com a minha madrasta. Ela ia, me levava. Então quando ela não ia, o meu pai me levava e lá nós sambava, era um baile, _________, era roda. Era um vilão de lenço, era um de braço, danço ainda. Está tossindo, E nós...
P/1 – E como que era a senhora gostava? Conta como que era contra.
R – Eu gostava porque era o que tinha. Fazia aquilo. Era gostando, nossa Senhora! Porque o meu pai, ele sempre ia. Não pegava na gente pra gente não ir. A gente ia, dançava, cantava e pulava. O que tinha nós sambávamos e meu pai não era assim de ignorar a gente pra gente não ir, a gente dançava não. E isso eu aprendi alguma coisa, passo pra alguns que interessa e eu passo pra eles também, os que não se interessam deixo de lado, porque não é todo mundo que quer dançar. Não querem essa dança, não. Pra melhorar quando nós começamos esse Congado, nós vamos apresentar na Chapada mesmo, põe nós de doidos: “Só está bua pode de doido aqueles saião, aqueles roupão!” “Essa está bua de doido gente, esse povo é doido! Vê se pode uma roupa dessas! Esse povo, você é doido?” Não esqueço disso. Pôs nós de doido no meio da rua. (risos) Eita nós, mas é assim.
P/1 – Quando foi isso, quando que começou?
R – Quando começou esse Congado nosso?
P/1 – Isso.
R – Em 85, em 85 começamos. Nós começamos e negócio foi assim simples, simples, simplesinho que assim nós não sabíamos se nós íamos ficar andando assim, não. Gente, começou a vir duas moças de Campinas. Chegaram na Chapada e perguntaram pras meninas lá se elas não sabiam de uma comunidade que tinha gente assim que cantava, dançava. O rio estava cheio, o rio Araçuaí estava cheio, porque, se tivesse vazio, eles tinham buscado era um pessoal que tem uma Folia de Reis em Santa Rita. Mas o rio estava cheio nessa época, foi mês de novembro? Foi novembro ou dezembro, Zé, essa época?
R2 – Dezembro.
R – Mês de dezembro, foi mês de dezembro. Eles falaram: “Lá tem Santa Rita mas o rio está cheio, então o pessoal de Misericórdia, que eles cantam muito bem.” Elas falaram: “Vocês podiam buscar ela?” Depois um rapaz que trabalha na (Chante ?) pegou e falou: “Eu vou lá buscar eles”. Depois veio, os homens. Estavam tudo pra roça. Eles foram na roça buscar os homem. Reuniram-se, chegaram aqui, me pegaram, nós fomos pra lá. Lá nós a apresentamos, depois nós começamos a dança até lá no grupo, uma dança nova. É um trem é outro, o povo daqui, povo lá do outro, e elas ficaram gostando. Ficou uns 15 dias depois Padre Paulo, que é um, ele é um estrangeiro... Ele é de, padre Paulo, gente... Da Itália, ele é italiano. Veio pra Chapada e viu aquela dança. Ele gostou e disse: “Vocês podem tirar uma diretoria, vocês pode ser freqüentes na Festa do Rosário.” E em uns poucos dias, ele nos convidou. Nós fomos pra Chapada. Lá reuniu todo mundo, ele fez uma baita fogueira na Igreja do Rosário. Nós fomos. Nós saímos da casa paroquial e fomos até a Igreja do Rosário cantando, dançando, sapatinando e muitos fecharam até a porta pra subir junto, batendo palma, sambando. Chegamos na Igreja do Rosário, tinham acendido essa fogueira lá. Nós rodeamos a fogueira. Faz uma roda daqui outra dali. Depois disso: “Agora é importante vocês tirarem uma diretoria”. Aí foi, tirou a diretoria, tirou secretário, presidente, vice-presidente, tesoureiro, vice-tesoureiro. Tirou, montou e nisso ficou. Nós de vez em quando nos chama, na Chapada é fatal, mas fora uns chama dali, outros chama daqui devagar nós vamos indo. Uns já desistiram que uns morreu, outros desistiu porque quis, outros não gosta mas por enquanto for gostando nós vamos.
P/1 – Dona Eva, todo mundo já conhecia, sabia dançar, cantar?
R – Conhecia nada muita gente quando nós começamos, iniciou a parte de ir pra Chapada. Eles ficaram bestas. Muitos falaram conosco: “Não sabia que vocês cantava! Não sabia que vocês sabiam assim, não, gente!” Uns ficavam traumatizados de ver nós sambando e cantando na rua, achava que a coragem não dava! (Risos) Achavam que a nossa coragem não dava pra cantar e sambar no meio da rua assim todo mundo olhando, nós não estávamos nem aí. Nem, gente!
P/1 – Mas quem fazia parte do grupo já conhecia desde que era pequeno?
R – Não porque o grupo maior começa por Cesário aqui embaixo. Cesário, eu vi o Cesário uma vez na vida, porque eu morava na casa do meu pai e eu vi ele uma vez na vida. Depois que eu casei, passei a conhecer eles. O Zé é meu sobrinho. E nessa época eu morei em São Paulo, quando nós começamos o Congado eu morei em São Paulo. Nós chegamos, nós pensamos de celebrar um culto na comunidade, eu fui dirigente. E aí foi indo, foi indo, foi indo. Depois nós conhecemos, ele já fazia os bailes nós juntos. Tinha uma visita, nós aí juntos. Então foi se conhecendo por aí fora e hoje estou dentro da casa, dentro da casa deles, eles dentro da minha casa. Vai levando.
P/2 – Mas os batuques eram desde pequena...
R – Desde pequena, desde pequena.
P/2 – Desde antes do avô assim?
R – É. Porque meus avós eu nem conheci. Os meus avós, não. Meus avós morreram no de imediato. Eu não conheci os meus avós, não. Minha mãe eu não conheci ela direito, porque quando ela morreu eu tinha cinco anos no máximo. Mas meu pai ia, falava o quê que era, falava quê que significava as rodas, os (avilão ?), essas coisas assim. E muitas rodas nós fizemos música delas, sentou ela no Congado. Sentou ela no Congado e lá vai saindo Congado por aí fora, tem uns nove. No dia que a gente vai saindo, o Congado a gente não canta nem a terça, a metade que não dá tempo. Mas tem nove, tem roda de (sepo ?), tem roda morena, tem roda de braço, tem (avilão ?) de lendo, tem (avilão ?) de braço, tem tanta coisa.
P/2 – E o quê que seu pai contava pra você que era a roda pra ele?
R – Uai, ele falava a roda de (sebo?) mesmo ele falava que tinha de cantar a roda e depois os que iam saindo da roda tinham que subir no (sebo?) e deixar um verso. Depois falava os nove, os nove é porque contava os noventa, depois tinha os nove: 90, 99 e ia por diante. Depois contava todas as cantigas, todos os cantos da roda têm um significado ele falava pra mim, cantava pra mim. Depois morreu também, ficou sem cantar, nós ficamos aqui com o que ele cantou. Só que naquilo, mas o que ele me contou também foi legal porque eu fiquei sabendo que o que ele deixou pra mim foram essas músicas.
P/2 – E você lembra de uma daquele tempo dos primeiros batuques lá do seu pai?
R – Eu lembro.
P/2 – Quer mostrar pra gente?
R – Lembro de umas do Congado que era roda, nos tempos dele eram músicas do Congado. Tem muitas, tem um... Você quer ouvir a música? Tem um que fala: “Eu vou dançar Congado, congado dança também. Você gostou de mim, eu gostei de ‘ocê’ também. Congado não tem amor, Congado podia ser meu bem. Congado não tem amor, Congado podia ser meu bem.” Essa é uma do Congado. Depois tem uma que fala: “Eu vou dançar Congado, Congado, meu bem. Se o padre soubesse como é que é bom ele tirava a batina e dançava também. Se o padre soubesse como é que é bom ele tirava a batina e dançava também.” E teve uma vez que nós fomos no Congado no Bério, quando chegou lá o padre não gostou que nós cantou pra ele, e dia... Ele não gostou, mandou falar uns trem: “Isso é errado”. Mas nos xingava. “Mas é errado!” Não está nem aí, está xingando, não ia bater em nós mesmo. (risos) Ele não ia bater em nós mesmo, nós cantava pra ele. E tem os nove. Apresenta, o nove é feito assim, por exemplo, três pessoas, depois mais três, depois mais três, nove, as três, doze. O tanto que na sala couber. Como tinha as meninas, que às vezes ia por causa da leitura, ou porque não sabiam ler, não sei que sentido era dela. Então meu pai ensinou uma assim: “Eu vou cantar meu nove na janela da escola, ô menina bonitinha que namorou e tirou o pé fora.” Nós respondíamos: “Quem de dez tira dois fica oito. Quem de oito tira dois fica seis. Quem de seis tira dois fica quatro. Quem de quatro tira um fica três.” (risos) E assim ia por diante. Assim ia. E as rodinhas de (avilão?) de lenço, o (avilão?) de lenço, por exemplo, é dois mais dois, com mais dois, como se fosse uma quadrilha, não sabe? Então canta: “Aprendi a dançar (avilão?). Aprendi a dançar (avilão?). Não foi nessa terra, não. Não foi nessa terra, não. Aprendi com a alemoa. Aprendi com alemoa. Na terra dos alemão. Na terra dos alemão.” Vai cantando e passando, passa, mergulha, passa. Os valhões. Depois vem o de braço, o de braço é dado esse braço, depois vira esse, depois vira esse, aí nós vamos: “Aprendi a dançar (avilão?), não foi nessa terra, não. Aprendi com alemoa na terra dos alemão.” E vai trocando, vindo a conversa, trocando os braços, quando cansa, para. Quando cansa, para.
P/2 – Era bem colorido também, esses encontro de batuques?
R – Mas era, era. Hoje que não está com nada, você sabe? Hoje faz de vez que tem aqueles encontros de batuques. Quando é batuque assim um nove ou roda assim essa turma nem entra, não liga, não. Não liga com nada, não. Agora, liga assim pra quando é Festa do Rosário. Na praça aqui, eles colocam um som naquela praça, aquilo a moçada, a rapaziada, aquilo enche. É um axé Brasil, vou falar. (risos) É um axé do Brasil, a turma gosta mesmo, já começa até o dia na rua.
P/2 – E o pessoal tocava caixa?
R – Caixa, o pandeiro, a sanfona, a viola, o violão era muito tido. Hoje...
P/2 – As meninas colocavam saia...
R – Colocavam saia ou então vestido, uns vestidos preguiadinhos, usavam uns vestidos preguiadinho que usava, uns vestidos que quando a gente passava o ferro neles fazia igual uma sanfona o vestidinho. Hoje menina falar nesses vestidos dá até briga (RISOS), elas até brigam com a gente por causa desse vestido. Briga, justamente, saia comprida então.
P/2 – E os vestidos, vocês que faziam os vestidos juntos pra batucada?
R – Não, tinha vez que a gente vestia o vestido, chegava nas brincadeiras, tinha outra com o mesmo sem nenhuma saber umas das outras. É, tinha uma com o mesmo: “Ai, fulana, você está com o meu vestido!” Elas ficavam tirando o sarro: “Você está com o meu vestido?” “Você está com o meu vestido?” Mas fazia e não sabia nem que a outra tinha feito com o mesmo pano.
P/1 – Tinha uns colares também?
R – Tinha uns colarzinhos. Nós, que comprávamos, não ousávamos fazer esses colares assim, não. Tinha valor também. Então tinha uns colarzinhos, uns brinquinhos na orelha. Ia toda bonitinha pro samba de roda, toda enjoada.
P/2 – Eu acho tão bonito esses batuques que o pessoal faz assim, que o pessoal junta, senta. E como é que faz, o pessoal fica de um lado, dança do outro? Também tem essas que você falou do nove,
R – Tem, uai. Tem aí, tem o nove. Tanto é homem como mulher porque tem os homens com a viola que tira, e tem as mulher pra responder. Tem, por exemplo, três homens aqui, tira e as mulheres que estão aqui de lado respondem, aqui na frente tem outros três homens, então a mulher passa pra cá e responde, legal. É muito bom!
P/1 – Quanto tempo dura?
R – Uai. O pessoal aguentando até uma meia hora, até uma meia hora depois descansa, depois vamos tirar outra, tira e vai sambando por aí fora.
P/1 – É sempre de noite?
R – É sempre à noite, sempre à noite, porque de dia eles estão trabalhando. Quando é à noite eles inventam o folclore, inventam a brincadeira de noite e nós sambamos. Sempre é melhor de noite.
P/1 – E é lugar fechado, lugar aberto?
R – Não, sempre na sala das casas mesmo, na sala assim. Hoje que na comunidade que tem uma sala grande que é onde que tinha a creche, antiga creche, então eles deixaram o centro pra nessas épocas, na época da festa lá mesmo, nós dançarmos lá nessa sala, (avilão ?). E toda roda que quer fazer nós vamos lá dentro e fazemos.
P/1 – Tem algum ritual antes de começar? Alguma celebração?
R – Não, celebração... Sempre tem a celebração, por exemplo, tem o culto que a gente celebra no domingo. Então na comparação: se tem uma brincadeira fazer, faz à noite depois da celebração. E também tem a missa que celebra nas festa, depois que tem a missa, depois que come o angu, que na festa tem o angu, depois que come o doce aí, agora quem quiser dançar dança.
P/2 – E quê que era esse doce?
R – Esse doce porque todas as festas tem que ter o doce. E o angu também, tem que ter o angu. Agora, o angu na Chapada é dia de quinta-feira porque a gente está trabalhando na igreja. Então eles fazem aquele angu, aquele tradicional angu pra gente comer na hora que vier de lá. Porque o angu já é uma tradição, uma tradição da festa. E aqui embaixo nós cozinhamos ele para o dia da festa mesmo. Então todo mundo, todos que vem na festa tem de comer desse angu, mas é angu, angu mesmo, angu mesmo que faz. Faz duas, três qualidades de molho e é (bambi ?), é tacho.
P/2 – Faz quanto?
R – Faz aquele baita tacho de angu e agora o molho. Faz aqueles tacho de molho é de abóbora com carne, é de frango com abóbora, é de feijão, é a fava, mas é angu, angu mesmo. Festeja e tem que comer do angu.
P/1 – É pra dar força o angu?
R – O angu dá força, muita força, o angu é do fubá, do fubá vivo. Porque o angu tem de moer o milho pra fazer o angu. Então mói o milho vivo pra fazer esse angu. Então ali dá sustância, sustância é isso que dá.
P/1 – E cansa muito o Congado?
R – Uai, cansa, mas na hora que cansa a gente descansa um pouco, descansa. A gente vai pulando, vai pulando, vai pulando, sua, limpa, para e descansa um bocado, depois começa de novo.
P/1 – Ele serve pra quê? Pra uma festa só ou tem uma função?
R – Sempre nas festas, nas festas do Rosário da Chapada eles nos convidam, na festa da comunidade. Os Festivale eles convidam a gente também pra ir. Sempre fica andando aí porque... É nas festas mesmo, nos Festivale, nos Festiminas também eles têm convidado a gente. Sempre nós temos que estar sambando com esse Congado. E agora tem umas meninas da Chapada que até já entraram conosco, porque os da comunidade estavam ficando fraco. Entraram as meninas da cidade que ajudam a gente, vai também. “Vamos, quer ir?” “Vamos!” Quer ir, vamos embora.
P/1 – A senhora conhece a história do Congado? Como começou?
R – Bom, isso são os mais velhos que contavam, porque nessa época ainda era muito pequena e eu não tenho assim contar como que era. Mas eles contavam assim: que Nossa Senhora ficava num pequeno deserto e foi um branco buscar ela. Então o branco interessou, foi buscar o samba que ele sabia cantar, que sabiam, festejando pra ela. Buscou ela, ela veio de vera mas eles puseram ela no lugar, porque ela tinha que ficar e ela não ficou, não. Depois os negros disseram assim: “Ah, nós vamos lá buscar ela, quem sabe ela quer nós. Ela vai ficar que ela quer nós, vamos lá.” Os negros foram batendo palma, cantando, chegaram lá perto dela: “Ô, minha santinha!” Ela veio e acomodou lá na igreja, onde eles puseram ela. Então Nossa Senhora buscada pelos negros, nem foi o branco ali misturadinho assim, mas o sangue, difere da pele mas o sangue é o mesmo.
P/1 – E assim começa a festa pra ela?
R – Começa a festa pra ela. Diz que eles ia cantando, batendo palma, gritando, que uns cantam, outros batem palma, uns outros gritam, e vem trazendo debaixo de barulho e vem trazendo. Mas ela quis só os negros, o branco trouxe ela e ela foi embora. E o negro buscou ela uma vez só ela ficou acomodadinha lá no lugar.
P/1 – É uma celebração pra?
R – É uma celebração em honra de Nossa Senhora.
P/1 – Tem muita bebida também?
R – Uai, tem vez que eles levam pra buscar ela. Às vezes eles levam um litro de pinga só e pra passar no tambor, quem quer tomar golinho toma. É bom. Depois trazendo ela, nós vamos com ela pra casa dos reis. Agora na casa dos reis tem bastante bebida, tem licor, tem vinho, tem a cachaça. Então quem quer bebe, tem o biscoito, que eles dão o biscoito também um biscoito nós comemos, nós bebemos. Chega na casa da rainha também a mesma coisa. Sobe com ela e coloca ela na Igreja do Rosário. Porque o correguinho onde ela fica é perto da Igreja mas tem de ir na casa dos reis primeiro depois voltar com ela pra igreja.
P/1 – ... algumas cidades.
R – Mas falta mesmo. Não sei, parece que o pessoal de cá tem outra voz um jeito assim, melhor que o dele aí. Ainda falei que eu vou montar ele. Que nossa conta folia assim no natal, quando a gente está arrumando o presépio, quando a gente vai na casa de um de outro assim pra...
P/3 – Passar as datas.
R – As datas comemorativas. Mas dia de natal a gente canta, a gente canta a folia mesmo, a gente sabe a voz, a voz é outra.
P/1 – Por quê?
R – É outra que a deles lá, porque a gente... Não sei, não. Parece que a gente dá um sentido assim. Parece que mais adequado, não sei, o jeito da voz deles é de um jeito, o nosso de cá é de outro. Parece que nós pegamos melhor. Nós pegamos melhor, sim.
P/1 – Eu queria, dona Eva, que a senhora explicasse pra gente, porque a gente não conhece muito, o que é casa de reis, casa de rainha, pra onde vai primeiro, pra onde vai depois. Explica um pouquinho desse processo todo.
R – Da casa do rei e da rainha. O rei é porque o rei, quem está fazendo a festa na comparação é o rei, ele que comanda na comparação. Dentro da casa dele ele comanda todo aquele momento da festa, ele que comanda o vinho, a pinga, o biscoito, o que tiver na festa ele é que comanda, por exemplo: é o rei. Na casa da rainha, a mesma coisa, inclusive, na casa do rei se faz o angu de quinta-feira do angu. De quinta-feira ele faz o angu, mas o angu mais tradicional mesmo é na casa da rainha. Na casa da rainha faz aquele (bambi ?) de angu mesmo e o povo carrega pra casa da rainha pra comer o angu. Agora, na casa do rei a gente come também, mas é quem quer, porque ele é mais chegado mesmo na casa da rainha. Só que se a rainha faz o angu de dia de quinta-feira, o rei faz o doce. O doce é dado de segunda-feira depois da procissão de segunda-feira, sempre ele é duas horas da tarde. O rei já dá o doce na rua, na rua pra todo mundo, tem vez que uns pegam, outros já não pegam, mas a tradição dele é na rua. Uns lambuzam-se de doce, uns lambuzam os outros de doce, mesmo pro povo categoria suja o outro tudo de doce. E é assim, jeito que o doce, a festa não pode ser sem o doce. A festa tem que ter o angu de segunda-feira, de quinta-feira e o doce dia de segunda-feira. É o tradicional doce e o tradicional angu.
P/1 – Pra quê é o doce?
R – O doce é que... Acho que já foram mesmo as festas assim, de agradar o pessoal com o doce. O doce todo mundo grita: “O doce da festa! O doce da festa!” Então tem que ter o doce.
P/1 – Então a festa começa como? A santa. Conta um pouco assim como começa.
R – Ela começa assim, dia de quinta-feira a gente vai na Igreja, lava todas as peças que tem na igreja o dia todo. Quando são duas horas, vão dois cafés, vão o da rainha e do rei também levando pra gente. Nós tomamos esse café lá. Quando é quatro e meia, cinco horas, a gente desce, a gente já vem batucando. A santa fica lá na igreja e a gente já limpou tudo lá, a gente vem batucando pra casa da rainha, que é o tradicional angu. Come esse angu hoje, na quinta-feira, come o angu se tiver de ter algum som na praça já tem. Já começou a festa, fica, o som fica na praça mas quem quiser que fica. Tem a sexta-feira também, a sexta-feira mas a gente está fazendo algum biscoito pra gente, passando roupa, fazenda algum biscoito pra gente levar. Quando é o sábado, já começa nove horas. A gente vai buscar a santa lá no corguinho que ela fica, lá atrás da igreja do Rosário tem um corguinho onde eles põem ela. Tem uma casinha também que já fez pra por ela. Então a gente vai e busca ela, é tambor, é músico, é o pessoal. Vem lá rezando Pai Nosso com a Ave Maria e o pessoal da Irmandade primeiro que pega ela, trazendo e a gente vem sapateando atrás, sapateando, dá o que pode. Quando chega acá, desce em vez de subir pra igreja, que a imagem fica lá atrás. Ao invés de subir pra igreja, desce pra casa do rei. Então chega na casa da rainha, na casa do rei bebe, e é batucando, não é caladinho, não, até batucando mesmo. Bebe, come o que tiver, desce na casa do rei é a mesma coisa, depois sobe. Mas meio dia a gente tem que está com ela na Igreja do Rosário, meio dia a gente está com ela, lá tem o meio dia da festa. Eles batem muito sino, tem a cerimônia, tem uns cantos que eles fazem. E depois a gente entrega ela lá, termina aquele período. Depois quando é à noite, já tem um mastro, tem um mastro a cavalo, tem o rei mouro, tem o... rei mouro e o outro, Zé, qual que é? Rei mouro... rei mouro, rei mouro... Ah, depois eu falo o outro. Esqueci. Tem os reis, tem o que fica com a bandeira, o outro fica na porta de igreja pra receber e tem a fala que eles, aqueles que estão montados a fala que eles fala, depois fica as beatas ali na porta da igreja pra responder também que cada estrofe que eles falam, elas cantam. Elas cantam, depois eles entregam a bandeira pra um tacar pedra no mastro, e já levanta o mastro, levanta o mastro com a bandeira. E depois que levanta o mastro, ele vai e dança. Os homens vão e dançam ao redor da igreja, depois monta no cavalo e vai galopar ao redor da igreja. Corre, corre, corre, uns caem, outros machucam-se. É corrida, é corrida mesmo essa hora que eles correm atrás da igreja. Depois terminou, pronto. Termina aquela. Cada um vai pra sua casa. Quem gosta do som vai pro som na praça, quem não gosta vai pro seu canto. A festa mais popular aqui na Chapada é essa da Nossa Senhora do Rosário, que é de mais dias e o povo tem mesmo aquela fé, aquela fé mesmo dessa tradição da festa de Nossa Senhora do Rosário.
P/2 – A fé é muito importante.
R – É muito importante. No domingo, a gente vai e busca o rei, a rainha embaixo do Congado também. Já tem a banda de música. O rei e a rainha põem ela na igreja, depois o padre celebra a missa. Depois que celebra a missa, a gente leva o rei e a rainha outra vez cada qual na sua casa. Muita bebida, é biscoito, é tudo. Quando é, vai descansar um pouquinho, quando é de tarde tem a procissão, a gente vai na procissão. Depois só continua no som da praça. Festa festejando mesmo, festejando. Um vai daqui, outro vai dali, não para, uns não param não. Não dormem em festa também, não, por causa do som, pelo som. Depois na segunda-feira já tem... A gente já vai nas quatro casas porque o rei que já fez essa festa de quinta-feira até na segunda, agora na segunda vai entregar pros novos reis. Vai o rei velho e entrega pro rei novo, a rainha velha entrega pra rainha nova. Agora, é outro tropel, é outro tropel na casa de um, busca a rainha velha, pega a nova. Depois pega o rei velho também e vai e pega o novo e vai subindo com os quatro da frente. Lá celebra de novo a missa e aí agora eles já ficam na igreja o dia todo. Tem o cofre que, tem na comparação quem é irmão dê um total de dinheiro, quem não é dá aquelas ofertas, aquela quantidade de oferta mas é o dia inteirinho. Quando são seis horas... Um dia inteirinho assim, quem quer vai lá e dá oferta e vem embora pra casa. Quando é de tarde, o povo se reúne outra vez, vai pra procissão. Depois que termina a procissão, tem outra missa, agora é hora de o rei velho entregar a coroa para o rei novo, e a rainha velha entrega a coroa também pra rainha nova. Quer dizer que aquela rainha velha já não tem mais nada, a festa dela ela já fez. Agora os reis novos vão fazer a do ano que vem e é o mesmo detalhe que essa velha já deixou pra traz vez o outro também tem que fazer.
P/2 – E como é que escolhe o rei e a rainha?
R – Esses fazem reunião antes, moça. Domingo, domingo agora mesmo, ia ter uma reunião pra escolher o rei novo. Então tem aqueles irmãos do Rosário. Eles perguntam, um quer, outro quer, se um não quer, o outro não quer, se não quer, os outros já querem até achar.
P/2 – Ô, dona Eva, antes tinha uns encontros de Congado, uns bailes de Congado que não eram juntos com a festa de Nossa Senhora do Rosário, não é? Eram duas coisas separadas que era quem nem tipo esses batuques que rolava, que acontecia nas salas. Como que era só os encontros de Congado, porque agora o baile de Congado é chamado pra junto também...
R – O rei, o rei e a rainha. Era assim igual estou falando pra você. Era, por exemplo, às vezes Cesário tinha umas brincadeiras na casa dele e já convidava a gente. E a gente ia e lá dançava de tudo tanto o Congando, tanto o nove, tanto o (avilão?), as rodas, era assim. Depois que pôs essa nossa dança como Congado, foi que os festeiros continuaram chamando. Então nós vamos. A gente não fala mais dança pra dançar lá em casa mais, não. É o Congado. “Vamos no Congado, vamos no Congado!” Porque na casa de Cesário, na comparação, quando ele chamava nós pra brincadeira, a gente não ia com as roupas do Congado. Nós fizemos a roupa da Congado foi depois que ficou sendo o Congado mesmo. Mas mais antiga era roupinha simples, qualquer roupa e dançava, só que dançava as músicas que é do Congado. Hoje nós dançava ela como se fosse uma roda, um nove assim.
P/2 – E como que é o nove, o (vilão?)?
R – O (vilão?), o de braço, é como se fosse você rodar com esse braço e eu rodo com esse. Um direito, um esquerdo, um direito, um esquerdo e é duas pessoas, aliás, quatro porque eu com você, esse outro com esse dá as quatro pessoas. E vamos rodando, dançando, joga um verso, pula. Esse é o de braço. E o de lenço é formado como se fosse uma quadrilha, conhece quadrilha? Como se fosse uma quadrilha, um passando debaixo, passa outro passa, outro passa. Quando cansar, para, é só cansando que para. E o Congado é um batendo, a viola, a caixa, é o pandeiro que for e as mulheres pulando, as mulheres sambando na frente. E o nove é fazer de três, por exemplo, aqui tem três homens mais lá trás tem três mulheres, três homens, três mulheres e vai trocando, sambando trocando, sambando trocando.
P/2 – Tem marujada também?
R – Marujada? Como é que é que você fala marajuda?
P/2 – Que o pessoal vestido de marujo assim?
R – Não, aqui não tem, não. Aqui não tem, não. Deixa eu ver onde eu vi uma marujada, não sei se foi em Belo Horizonte. Foi em Belo Horizonte que eu vi uma marujada que estava vindo do Cerro, no Cerro tem. Que até nessa época que eu fui em Belo Horizonte, eles pediram muito que fizesse um encontro com nós. Lá tem uma marujada. Mas nós ainda não, é porque nós ainda não tentamos, mas se nós tentássemos certamente saía uma marujada.
P/2 – E a folia que você estava pensando aí? Como que é a folia?
R – Olha, a deles lá em Santa Rita é assim: eles vestem vermelho, enfeitam o chapéu também, põem uma toalha ou verde ou rosa no pescoço. Nós sempre somos mais verde, porque vermelho com rosa não dá certo. Nós pomos uma toalha no pescoço verde e cantamos. Eles cantam as mulheres respondem, as mulheres no meio também respondem. Aliás pra travar as vozes, os homens cantam, as mulheres também dão as de quinta. E assim forma a folia de Reis. Assim se forma.
P/1 – Dona Eva, posso pedir um favor pra senhora?
R – Sim.
P/1 – Pra senhora sentar mais reta pra gente poder capturar a sua, sentar assim, ficou mais bonito agora assim.
R – Mas é, a Folia de Reis é do jeito que... Não é difícil de montar, não, porque a gente já canta ela na época do natal, e pra gente montar ela assim, pra gente sair é só fazer a roupa, pode fazer a roupa e montar ela tranquila que tem gente na comunidade. Dá pra se formar ela sossegadamente.
P/2 – As roupas de Folia de Reis são diferentes das roupas do...
R – Do Congado é. Que a do Congado sempre a saia é chitão e blusa branca. Da Folia de Reis as calças podem ser de qualquer cor mas a camisa tem que ser vermelha, tem o... Hã?
R2 – Camisa branca com lenço vermelho e uma fita vermelha na calça.
R – A camisa deles não é branca, não, a camisa deles é vermelha.
R2 – É vermelha?
R – É. A bandeira vermelha também. A bandeira é vermelha. Eles põem uma espécie de gravata verde no pescoço e enfeitam também os chapéus, os chapéus deles são enfeitados. Se não enfeita o chapéu, passa uma fita vermelha também assim na testa e deixa o pau quebrar.
P/1 – No Congado tem chapéu também?
R – Tem, os homens têm um chapéu.
P/1 – Como que é esse chapéu?
R – O chapéu dos homens está sendo normal agora, mas não deveria ser. O Joaquim sempre eles pedem que o chapéu tem que ser de um só: o bem só de couro, ou bem só de palha. Às vezes ignoram uns vão de chapéu, outros vão de boné. Os velhos... Você sabe que é meio difícil pra gente organizar cada qual quer fazer a sua parte, quer fazer de um jeito que eles querem. Então eu mesmo sempre tenho vergonha de falar que a gente não é assim, não. Não é assim que eles são mais velhos do que eu. (risos) Eu fico com vergonha de ficar falando com eles.
P/2 – Quem que é o Joaquim?
R – O Joaquim, ele mora na Chapada, um tal Solto, ele é pernambucano. Ele mora na Chapada. Você vai conhecer ele, você vai achar muita coisa bonita dele. Ele mora na Chapada, ele tem um grupo de pastoril na Chapada. Ele tem um grupo de tamborzeiro também que ele está criando aí na Chapada. Ele ensina assim muita coisa, de como participar das coisas. Ele é medico. Ele está na Chapada e trabalha como médico. Mas de noite deita, trabalha como médico e à noite ele está como os meninos. Como lá em Joaíma mesmo nós levamos acho que uns 10 meninos de tambor, mas é ele que está incentivando esses meninos para o tambor, porque o tambor também está acabando. Na Chapada está acabando. Uns morreram, outros estão, mas às vezes não ligam por nada. Então ele está incentivando os meninos mais pequenos.
P/1 – Qual a importância do tambor no Congado?
R – Hã?
P/1 – Qual a importância do tambor no Congado?
R – Dá um som, Dá um som. Eu vou falar com você, juntar os tambores, a sanfona, a viola ali dá um som, um ajuda o outro, dá um som tinindo pra gente.
P/1 – A senhora diz que passa até pinga neles?
R – Passa até pinga, eles passam assim no couro, no couro do tambor que dá uma zoada melhor e é tradição também que os meninos viam os mais velhos passar pinga no tambor e sai passando, diz que dá um som melhor. (risos) Ai meu Deus, que toda vez que vinha com ele é no som, aquilo deve que resseca, dá um som melhor pra gente.
P/2 – Dona Eva, contaram pra gente que a senhora é mestre aqui do grupo de Congado. Quê que você faz como mestre, como é que você foi escolhida?
R – Ô, menina, nem eu sei como foi, porque eu, como sei ler um pouquinho, pouca coisa que eu não sei ler muito bem não. Nós fomos em São Paulo e eu sei que nós estávamos chegando de São Paulo, o Zé falou comigo no caminho assim: “Ó, quando chegar lá nós vamos fazer uma coisa qualquer pro pessoal agradar”. Eu falei: “Certo, nós vamos caçar!” Quando nós chegamos, tinha uma creche. Eles, os meninos, só iam comer, iam aí levando os pratos, os grafos porque comia e ia embora também com o seu garfo e o prato. Tanto que eu cheguei, eu sabendo ler um pouquinho, a diretora dessa creche falou assim: “Olha, Eva chegou, então nós passamos essa creche pra funcionar de outro jeito, porque ela vai ensinar e tem a cozinheira”. Tinha uma cozinheira pra cozinhar pra esse menino, pra eles, levar, lecionar pra eles e a cozinheira cozinha. Levou muito tempo não, depois eu fui sendo a coordenadora da creche. Tinha a Maria, que era cozinheira, então os meninos já não iam levando os pratos mais, já iam brincar, pra aprender a fazer alguma coisa e lá ficavam quatro horas por dia. É quatro horas? Eram oito horas, é, eram oito horas, ficavam o dia todo. Eles almoçavam, eles merendavam, jantavam e eu ali com eles. Aquilo depois já interessou no culto, já celebrava o culto para o pessoal da comunidade. Eu celebro até hoje, no domingo eu celebro o culto. E ele já me nomeou pra coordenar o Congado. “Eu coordeno o quê?”, falei “Quê? Vamos embora!” Nós já passamos, já passei a coordenar, tenho uma viagem... De primeiro era assim: tinha uma viagem, nós íamos. Reunia na comunidade, dançava lá pra treinar o quê. Hoje, como eles já está sabendo, não estou indo assim pra treinar mais, não. E toda vez que tem uma coisa assim quando eu chego, eles já estão treinado. Já estão treinado e Joaquim fez uma bandeira pra mim, eu sou porta-bandeira, fez o meu arranjo da cabeça também já é diferente. E onde é que eles estão, eu estou junto, onde que eles estão, estou no meio, estou em frente, estou fazendo frente. (RISOS)
P/2 – Vocês ensaiam quando encontra pra fazer um...
R – Encontra ainda, encontra assim: lá mesmo às vezes a gente lembra de uma cantiga de outra e, lá mesmo em cima da hora, a gente troca de roupa e dá uma ensaiada. Mas eles já aprenderam as músicas tudo, o sapatear, o jeito. Não está reunindo mais pra cantar mais, não, como era..
P/2 - A senhora também é, falou que é lavradora?
R – Ah, é, eu faço a rocinha, planto umas coisinhas. Eu trabalho na escola faz muito tempo, faz quase 20 anos. Eu lido com os meninos da comunidade. Eu sou... Que chegou um órgão aí na Chapada, que esse órgão que eu trabalhava com ele na creche, eu faço pesagem das crianças. Eu faço dos multi-mistura que eles trazem, eu faço isso pras crianças desnutridas. Eu luto assim com as crianças da comunidade. E de escola mesmo é uns 11 anos, trabalhei com escola 11 anos. Depois os cursos não foram dando porque foi diferençando. Eu fiquei sendo merendeira, e merendeira assim mesmo precisou de passar no curso, porque se não passasse no curso, não tinha merendeira. É assim e assim vou indo.
P/2 – Você também faz parte do conselho...
R – Faço.
P/2 – Como é que foi isso?
R – Uai, eles me chamaram, eles viram que eu prestigiava. Me chamaram: “Você quer ser uma conselheira de conselho?” Eu falei: “Se vocês vir que eu mereço, eu quero”. Então hoje eu estou sendo conselheira.
P/2 – Que conselho que é?
R – É do patrimônio, patrimônio histórico. Do patrimônio histórico porque é assim: na Chapada mesmo toda vez que eles, quem quer derrubar uma coisa tem que saber de nós primeiro, se eles podem derrubar ela, se não puder, então nós damos a ordem deles fazerem conforme. Nem que às vezes querem mudar uma teia, o modelo que for, mas as ordens nós temos que dar. Somos uns nove conselheiros, nós que damos as ordens pra eles desmancharem as casas e fazerem. É isso.
P/1 – Vou tirar uma dúvida só está bom, dona Eva?
R – Está bom.
P/1 – Me fala como é que funciona as irmandades?
R – Irmandade funciona assim, na época das festas mesmo, eles procuram ali os fazeres. Um pergunta pro outro: “Nós queremos fazer isso na festa, nós queremos fazer aquilo. Como faz, como é que não faz?” Então é pra isso que tem as irmandades, que é irmão do Rosário mesmo. Então tem uns que são mais chefe. Aquele que é mais chefe da irmandade é que orienta os outros. Então tem ali o tesoureiro da irmandade também, que é o tesoureiro da irmandade também que guarda o cofre de Nossa Senhora na casa dele. Porque tem a buscada do cofre também no dia de segunda-feira e assim por diante. A irmandade é pra orientar o que precisa da festa.
P/1 – E a pessoa paga alguma coisa por mês?
R – Paga, eles pagam. Quando não pagam por mês, pagam por ano. Melhor anual porque chega ali na segunda-feira da festa, tem os irmãos que pagam por ano. Então conta os 12 meses e pagam. Outros não pagam por serem irmãos da esmola ali, por exemplo pra eles aí eles compra alguma coisa Nossa Senhora precisa então põe o dinheiro no banco.
P/1 – E a senhora faz parte da irmandade desde que nasceu, desde quando?
R – Uai, eu fiquei aí no meio deles aí porque, como se diz, eles quiseram. (risos) Eles quiseram, eu fiquei aí. Só estou assim no meio. E também pra fazer a festa de Nossa Senhora do Rosário tem de ser um irmão, tem de ser um irmão que já tem cinco ou dez anos de irmandade também. Eles procuram sempre a irmandade pra fazer as festas.
P/1 – A gente viu lá em cima na Chapada as casas com “Salve Nossa Senhora!” “Salve!” Tinha muita. Por que isso nas casas assim?
R – Uai, tem os quadros, os quadros?
P/1 – Tem as frases, as frases.
R – Ah, “Salve Nossa Senhora!” É porque conforme você vê desses quadro feito aqui ou de fora?
P/2 – Pintado assim lá fora.
P/1 – Pintado na fachada da casa.
R – Hum, assim nas paredes?
P/1 – É.
R – É porque eles têm uns lembretes. Eles fazem e também os que são irmãos e que tem muita fé em Nossa Senhora, tem muita fé em Nossa Senhora então, eles deixam ali aquela frase, “Salve Nossa Senhora!”
P/1 – O próprio dono da casa escreve?
R – Hã?
P/1 – O próprio dono da casa escreve?
R – O dono da casa escreve. Outro eles não escrevem. Eles mandam escrever, mandam fazer.
P/2 – Dona Eva, eu queria que você contasse um pouco pra mim Você já foi muito participar de festivais, foi viajar, como é que foi?
R – Nossa Senhora! De Festivale eu tenho ido bem. Eu já fui em Belo Horizonte, Joaíma levaram, Juiz de Fora, Araçuaí... Qual é lugar, gente? Eu sei que eu já fui em vários lugares em Festivale. E também pra festa já fui em várias. Eu fui em Festivale de Araçuaí, fui em Festivale em Belo Horizonte, esses lugares que eu já falei, mas em festa também já.
P/2 – Tem alguma história engraçada num desses lugares que você já foi, alguma história bacana diferente?
R – Diferente? Eu acho que ficou sendo quase igual da gente, porque nos Festivales sempre a gente encontra com o outro. A gente encontra com os outros às vezes que vem participar do Festival. E tem algumas danças diferentes, porque os que vêm às vezes têm uma dança diferente. Mas nos festivais sempre se reúne os moços. Tem as moças do teatro, tem moça dos (Catoplês?), tem os (Catoplês?). Nas festas também tem os grupos também que vem participar das festas mas quase igual.
P/2 – Você gosta?
R – É, alguns são quase iguais.
P/2 – Você gosta de viajar?
R – Ah, eu adoro viajar, vixe, eu adoro viajar! Não viajo mais, porque não pode (risos). Não posso viajar pra todos os lugares que têm as coisas. Não dá pra gente ir. Que uma é esse velho aí doente, outra que tem hora que não dá porque tem hora que a gente trabalha também. Tem hora que não dá pra gente ir toda hora assim, não. Em todas, todas não dá. Mas eu adoro viajar, falar a verdade adoro viajar!
P/2 – Os seus filhos, eles vão com você, de vez em quando nos batuques, festas?
R – Vai, o Marco está no café, mas sempre ia comigo. O Dedé casado sempre vai. Agora, esse aí sempre está indo comigo, Messias. E o pequeninho sempre vai também, mas aqui na Chapada eu levo ele. Em lugar longe eu não gosto de levar, não, porque aí o velho fica muito sozinho. Mas na Chapada todas que tem ele está dentro.
P/2 – E o que você acha de ensinar eles pra eles aprenderem?
R – Ah, eu acho bom, porque, na comparação, se a gente morre, eles ficam ali uma coisinha, com eles. Eles podem criar também uma outra coisa ou Congado mesmo e seguir em frente. As meninas da comunidade mesmo falam com eles, as meninas aprendem porque eu não sou pra semente, não. Eu vou querer ficar aqui, qualquer coisa já vou indo viajar, estou pegando a malinha e vocês ficando. Vocês ficam tendo uma coisinha que serve pra vocês criarem o Congado mesmo ou outra coisa. Mas não quer, o negócio delas não quer, não.
P/1 – Dona Eva, que dia que são as festas? Que dia acontece?
R – As festas?
P/1 – Aqui na comunidade, lá na...
R – Aqui na comunidade sempre no segundo domingo do mês de janeiro, e na cidade é no segundo domingo de outubro, de outubro. Mas a festa aí quando é dia de quinta-feira, é uma semana, é uma semana de festa. Você chegando na Chapada, mais ou menos, no principio de outubro, você já vê que o clima é de festa.
P/1 – Uma pergunta pra senhora: desde que a senhora começou a participar do Congado, quando era pequena até hoje em dia, o mundo mudou muito, e qual a importância do Congado hoje em dia? Por que continuar? Qual a importância dele?
R – Uai, a importância do Congado é porque a gente tinha as coisas escondidas pra gente só. A gente dançava, a gente sambava, mas é só pra aquele pessoal que iam nas casas que ficavam sabendo. E depois que ia ao Congado muita gente ficou sabendo do Congado, então é por isso que eles convidam, porque ficaram sabendo que a gente sabe lutar com o Congado e que tem gente que sabe, às vezes, brincar com o Congado. E a importância é que o Congado faz parte das festas, faz parte das festas em Minas também quando eles têm convidado pra ir em Festiminas. Uns querem aprender, outros não querem, mas estão fazendo parte. Estão fazendo parte, sim.
P/1 – Só pra gente terminar, eu queria perguntar o que a senhora achou de conversar com a gente hoje?
R – Uai, muito importante! Não sei se vocês acharam assim as coisas importantes, mas eu achei muito importante de vocês saírem daquela distância, pra vir atrás da gente. E como já tem vindo bastante gente me procurar e eu estou achando até importante, porque os do lugar não acham tão importante igual vocês está achando. Justamente os do lugar. Uns falam que a gente é doido, outros falam que isso é besteira, outros falam uma coisa, outros falam outra. E vocês vindo lá de longe, vem e acha importante. Então pra gente fica sendo uma coisa muito importante, vocês virem em procura da gente.
P/1 – Muito obrigado.
R – Eita nós.
P/1 – Obrigado mesmo.
R – De nada.
P/1 – Achamos importante sim.
P/2 – Muito importante.
R – Mais é, muita força mas nós chegamos lá.
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