Meu nome completíssimo é muito grande, Nossa Senhora. Então vamos lá, há lugar. Maria Augusta de Toledo Tibiriçá Miranda. Mas eu não uso isso tudo, é muito nome. Nasci em São Paulo, capital. Seis de maio de 1917. Com o que estão vendo, 6 de maio próximo completo 86 anos.
FAMÍLIA
Meu pai, João Tibiriçá Neto. Paulista de uma família de políticos paulistas, da antiga oligarquia paulista antes de 30. Ele era engenheiro e exerceu a profissão em parte em São Paulo, em parte no Maranhão. Que ele foi construir uma estrada de ferro. Mas dominantemente em São Paulo. Minha mãe, Alice de Toledo Ribas Tibiriçá. Ela fez um curso completo de piano, como era comum à época. Ela era profundamente autodidata. E escrevia muito bem. Chegou a lecionar português e era uma oradora exímia. Agora, se você me perguntasse profissão, eu diria patriota. E ela se embrenhou muito em campanhas médico-sociais. Desde 1927, exatamente quando meu pai estava no Maranhão construindo a estrada de ferro, meu irmão mais velho tinha 2 anos - são 4 anos de diferença entre nós. Ele já faleceu. Ele tinha 2 anos e foi para o Maranhão. E minha mãe saía, às vezes à tarde, ia para as praças com ele, e via os leprosos, como eram chamados à época. E é o nome, depois houve uma conotação que ela própria trabalhou para mudar. Ela via os leprosos a cavalo, à distância, pedindo esmola. E ela ensinava o filho, meu irmão, a levar para eles os óbolos, e aquilo marcou a vida de Alice Tibiriçá - que era o nome dela. Alice Tibiriçá, resumindo. Ela ficou muito impressionada e quando voltou para, primeiro para o Rio e depois para São Paulo, onde foram morar, onde eu nasci 2 anos depois, ela pensava sempre nos hansenianos do Maranhão. E resolveu fazer um trabalho para eles. Criou primeiro uma quermesse para levantar fundos, depois uma sociedade. E logo vejam, o nome consubstancia todo um programa, porque ela via muito largo. O nome era Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa Contra a Lepra. Ela dizia o seguinte: “Não adianta eu fazer um hospital para cem doentes. O Brasil está cheio deles. Não adianta eu atender crianças apenas, filhos deles. E aqueles doentes do Maranhão? E como são escorraçados.” Resolveu. “Eu vou fazer uma campanha, um barulho tão grande nesse país que povo e governo passem a se interessar pelo problema.” E fez. Ela fez uma campanha tão forte que em poucos anos ela criou a sociedade em São Paulo, depois veio, criou a do Rio. Depois estabeleceu uma rede de sociedades por todo o Brasil. Só no interior de São Paulo umas cem associações chegaram a se formar. E em seguida ela criou uma federação das associações já criadas. E basta dizer que com alguns anos de campanha, o orçamento do governo para lepra como até então chamavam, era de 12.800 contos. Era o tempo dos contos de réis. Enquanto que para a tuberculose, que tinha uma abrangência muito maior e muito mais contagiosa, 400 contos. Isso fruto de uma grita, de um movimento. Ela disse: “Vou fazer mesmo um barulho nesse país todo.” E depois de criada a federação ela organizou em 1933 um congresso, já aqui no Rio de Janeiro. Não só com as entidades privadas como com os cientistas que trabalhavam irmanados com as entidades. E ela criou mesmo um órgão de publicidade, o boletim. Que trazia a parte científica, explicações sobre a enfermidade. E a parte social e o movimento que se fazia. E o Getúlio - à época estava na chefia do governo - mandou dizer a ela que o que ficasse aprovado naquele congresso seria adotado como plano de governo. E ela era leiga, ela não era médica. E quando ela faleceu, em 1950, nossa família, eu já era médica. E fui médica por influência de tudo isso. Eu com 10 anos vivia por hospitais. E eu recebi da Sociedade Brasileira de Leprologia uma carta de profundo pesar pelo falecimento de Alice. E eles, que congregavam os especialistas, médicos especialistas, reconheciam em Alice Tibiriçá a pioneira da moderna fase da campanha contra a hanseníase no Brasil. Reconhecimento, mas assim mesmo ela teve lutas muito grandes, porque em São Paulo, uma ocasião, isso despertou grande ciumeira no serviço oficial de lepra de São Paulo. E justamente quando ela organizou o congresso. Aí eles enlouqueceram. Disseram: “Como é que uma particular está passando na nossa frente?” Então ela vivia no hospital, no sanatório. E tinha um então que vivia dizendo: “Dona Alice, cada vez que eu venho aqui, eu já venho com vergonha de tanto que eu peço.” Mas o inspetor de lepra de São Paulo estabeleceu um decreto que podia nomear e demitir seus auxiliares. Ficou com todos na mão e desencadeou uma campanha para impedir a realização do congresso. Campanha muito feia. E minha mãe adotou então o seguinte lema: “Com os governos se preciso. Sem os governos se possível. E até mesmo contra os governos se assim for necessário.” E foi. E ela veio, fez uma carta, mandou para os jornais dizendo que assumia a responsabilidade de todas as coisas boas que não queriam ver e de quaisquer coisas más que pretendessem apontar. Mas que ela ia trabalhar e vinha para o congresso. Esse mesmo grupo teve o desplante de vir para o congresso. Se apresentaram de qualquer jeito, depois que viram o nível do congresso, no dia seguinte já estavam mais enquadrados. E afinal foi um grande êxito, uma grande vitória. São coisas que vocês vão me perguntando, a gente vai se lembrando e trazendo.
OS AVÓS
Meus avós maternos eu não conheci, e foi muito pena. Minha mãe era muito ligada à mãe. Eu sou Maria Augusta por isso. Minha avó chamava-se Maria Augusta, é uma homenagem. E meu avô entrou para a Guerra do Paraguai. Foi levado pelo pai, que levou todos os filhos, quando tinha 13 anos se engajou e ficou. Ele morreu como general do Exército no hospital que tinha no Morro do Castelo. O nome do meu avô é José Florêncio de Toledo Ribas. Mas aí, quando ela perdeu pai e mãe, com 13 anos, foi para o Rio de Janeiro onde a irmã já tinha se casado e morava. E depois foi para São Paulo para a casa de umas tias. Uma delas foi casada com um tio da minha mãe. E foram muito chegadas a nós. Lá eu nasci. Então nossa família foi enriquecida por essas tias e tios. Já os avós paternos, a minha avó era de uma tradicional família - e eu até costumo brincar muito que ela tinha uma postura. Ela não se sentaria assim à vontade como nós. Ela tinha assim aquela postura antiga, golinha alta. E falava sempre, eu achava aquilo, desde criança eu achava aquilo uma coisa muito engraçada. Ela dizia: “O meu pai, o conde de Parnaíba.” Na minha cabeça de criança: “Que é que tem a ver que seja conde ou não seja conde?” Eu já reagia com aquilo. Mas era uma estrutura da época. E o meu avô, mais tranqüilo nessas coisas, ele - antigamente não era governador. Era presidente. Ele foi presidente de São Paulo por duas vezes. O nome dele é Jorge Tibiriçá. Na família era um João, o pai dele já tinha trocado Almeida Prado por Tibiriçá. Uma coisa do avô índio lá de São Paulo. Então havia uma alternância: João e Jorge. Meu avô era Jorge Tibiriçá. E meu irmão era Jorge Tibiriçá Neto. Meu pai era João, o bisavô era João.
A CASA
Olha, eu lembro muito das brincadeiras da infância. Nós morávamos em uma casa que foi da família de Campos Sales. Era uma casa, nós nunca fomos ricos. Nem quisemos ser. Até hoje, viu? Eu tenho esse mau hábito. Não sei se mau hábito mas, uma preferência. E nós tínhamos uma casa mas muito gostosa que povoou minha infância. Ficava perto de Santa Cecília, mais ou menos. Ali perto da Santa Casa na rua Aureliano Coutinho. Perto da Jaguaribe. Era um jardim que subia. Uma casa térrea. Eu adorava. Ficou até hoje na minha memória assim, na minha preferência de aconchego, essas casas térreas. Muito agradável, com uma varanda na frente. E nessa casa minha mãe tocava piano. Ela teve o curso completo. Ela era professora de piano. Ela chegou a lecionar no conservatório. Meu pai tocava violoncelo e violão. E um amigo dele tocava violino. Então eles à noite às vezes se reuniam e tocavam. Aquilo ficou muito... E minha mãe, sempre quando eu ia dormir, estudava piano. Mas aos poucos eu fui deixando de ouvir. Deixando de ouvir porque ela se engajou de tal maneira na campanha contra a lepra que não tinha mais tempo para nada. Ela teve depois que fazer um colégio para nossa sobrevivência, e esse colégio mesmo ela sacrificou pela causa. E eu garota, eu adorava meu jardim. Tinha uma árvore que era minha árvore. Eu vivia em cima da árvore em um, tinha um galho em que eu me refestelava para ler. E tinha muros, eu subia. E tinha minha cachorra. Grande cachorra na minha infância. Até hoje eu penso na Mimosa. Então foi uma infância assim com essas coisas. Eu seleciono as coisas sempre melhores, as boas, porque tem coisas, problemas que vão surgindo na vida, o importante é como a gente os enfrenta. Não é?
IRMÃO
Eu só tive um irmão. 4 anos mais velho, o irmão que eu falei. De que eu falei. Que aliás foi a causa da volta deles. Porque ele teve uma furunculose muito grande e os médicos de lá chegaram à conclusão que ele não se dava com o clima e teria que voltar para São Paulo.
PRIMAS
Ah, estudei. Havia uma lei que eu achava meio burrinha, que só com sete anos eu poderia entrar para a escola, que fiz e foi uma beleza. Era a Escola Modelo Caetano de Campos. Anexa à Escola Normal. Mas eu tive que esperar um ano, porque eu tinha seis anos. E eu tiraria de letra. Porque é uma coisa você, está falando de mim. Eu disse: “Eu não sei falar de mim, mas vocês estão me provocando”. Disseram que eu tenho que falar de mim, então... Eu não sei como foi que eu aprendi a ler. Eu achei tão tranqüilo. Era o óbvio, né? Então eu tinha muita facilidade. Mas tive que passar um ano com as minhas primas, eu tinha uma família grande. Minha mãe só teve dois filhos. Mas a irmã teve 12. Perdeu três, eu cresci no meio de nove primas muito chegadas. Sobretudo uma que até hoje felizmente está viva e a gente é muito próxima, é como irmã. E então nós tivemos esse convívio nesse período com familiar, mais com esse grupo.
IGREJA
A religião não esteve tão presente em minha casa, mas a tradição era a religião católica. E eu fui criada na religião católica, fui batizada. Fiz minha primeira-comunhão. Depois eu fiquei muito ligada com a professora que nos preparou. E às vezes saía até com ela. E ela me levou para a igreja para fazer um trabalho que ela fazia. A gente recolhia um, naquele tempo como era? Um mil réis. Um mil réis dos amigos. Cada um levava, todos, fazia uma caixinha para a igreja. Cada entidade pedia por mês aquela importância. Eu não sei se foi isso, mas me passa que sim. Um dia uma entidade que não era católica, de finalidade assim mais religiosa, mandou pedir, e eles disseram: “Bom, mas essa não é.” Eu nunca mais voltei. Não voltei porque, sabe, eu disse: “O que é que eu estou fazendo aqui?” Eu acho que quem precisa, precisa e não importa que religião tenha, não é? Pode ser que isso tenha influenciado. Então digamos, se você perguntar, hoje eu diria que eu sou uma pessoa ecumênica. Ecumênica. Se me convidarem para qualquer templo eu entro tranqüilamente. Achando aquela paz. Mas eu prefiro olhar para o infinito e conversar diretamente sei lá com quem. Talvez com a equipe de anjo da guarda que eu tenho.
DO PRIMÁRIO À FACULDADE
A escola em que estudei eu já dei. Era uma escola pública muito boa. Me lembro com ternura das minhas professoras. Cecília Bueno dos Reis Amoroso. Primeira, segunda e terceira série. Quando ela saiu, foi aquele “Oh.” E depois pegamos dona Mary Quirino dos Santos. Eram 4 anos naquele tempo. Depois eu fiz o ginásio em São Paulo também. Foi a última turma do ginásio de 5 anos. E quando terminamos, a faculdade de Medicina de São Paulo criou exatamente naquele ano os dois anos de pré-médico obrigatórios. Um grupo veio para o Rio de Janeiro. E como minha mãe, eu estava conversando lá fora com a Mirella, como minha mãe tinha perdido os pais cedo – ela que tinha uma visão muito larga das coisas – ela não queria que nós, filhos, ficássemos assim muito dependentes. Então hoje em dia isso é tranqüilo. Até a gente falar nisso é engraçado. Mas à época não. Eu tinha 17 anos, e ela veio ao Rio e disse: “Você vai estudar no Rio.” Eu tenho muitos parentes aqui. “Você não vai para casa de parente, não.” Tinha uma amiga que tinha uma pensão familiar. Aí ela foi para a pensão familiar e disse que ia me mandar. Tratou tudo, uma pessoa maravilhosa. Conceição Branco. O marido dela e as filhas foram muito amigos. Voltou para São Paulo e se esqueceu de uma coisa. Tocou o telefone: “Olha, eu me esqueci de dizer que vocês não são responsáveis pela Maria Augusta, não. Ela vai dirigir a vida dela. Entrar, sair, para onde ela vai ela sabe.” Quer dizer, eu achei isso tudo maravilhoso para uma pessoa e para a época. Me pôs em um trem. Eles me receberam aqui e, se alguma coisa isso me fez, foi aumentar o senso de responsabilidade muito grande que eu já tenho. A minha opção pela medicina se deve ao ambiente em que eu vivia. Bom, na minha turma, que foi a de 1941, da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, hoje a UFRJ, havia 10 mulheres para uns 170, em um conjunto de uns 170. Eu acho que já era bastante. Porque hoje, você está rindo? Hoje a maioria é de mulher, já está passando, já está virando uma profissão feminina praticamente. Mas nossa turma teve uma coisa de boa, até hoje todos os anos nós comemoramos a formatura. Até hoje. Já comemoramos 61 anos de formados. E sempre eu estou na comissão. Acabei sendo da comissão, porque tem sempre que ter quem puxe. E sempre nos reunimos, o que é uma coisa boa. É outra família que a gente tem.
NO RIO
Olhe, eu cheguei ao Rio de Janeiro. Estava instalada, vamos para frente. Eu tinha uma responsabilidade grande.
MEDICINA
Saí do ginásio e por décimos eu não entrei na faculdade. Mas foi bom, foi muito bom. Por décimos. A minha média foi assim. Mas aí havia um curso de pré-médico ligado à própria faculdade. Excelentes professores. Aí eu pude fazer um curso muito bom e me deu uma base que valeu pelo curso todo. Muitos professores me marcaram, principalmente os mais exigentes. E talvez um, o Maurício de Medeiros. Eu gostava muito dele no pré-médico. Ele foi professor do pré-médico. Eu gostava tanto dele que só tive 10. Em todas as provas e no vestibular. Porque eu gostava da matéria e gostava muito dele, da filha dele. E isso é importante também. E na faculdade a gente guarda. E eu tive uma coisa: tive que fazer meu curso trabalhando. Então era uma correria para lá e para cá. E eu consegui e não podia ficar em dependência. Naquele tempo era dependência. Porque se eu ficasse eu não poria as coisas mais em dia. Então eu dava força total durante o ano.
TRABALHO
O meu trabalho não era emprego, era trabalho e muito trabalho. Eu trabalhava na Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas do Ministério da Aviação, que virou Transportes. E o chefe tinha pedido licença para escolher. Tinha um funcionário só. Para escolher outro funcionário. E a tal senhora, amiga da minha mãe em cuja casa eu morava, a pensão, foi buscar a filha dela na Escola Mário Cavalcante, e não foram. Ela me disse: “Vai lá.” Eu fui. Redação eu tinha. Batia a máquina furiosamente bem. E não sabia fazer tabela. Mas aí, Zamir. A gente guarda certas figuras. Já faz tempo, chegou perto: “Olha, faz isso, divide e tal.” “Deixa comigo.” Eu sou calma, tranqüila para fazer prova. Saiu bonita a minha tabela. Fiquei com o lugar, né? Então éramos três doidos trancados em uma sala trabalhando feitos possessos. Quando chegava, também de 8 da manhã às 7 da noite ou eu estava na faculdade ou eu estava lá, embora o horário fosse de 11 às 5. O trabalho era no Rio. Não dava para viajar. Aí não dava. Era aqui mesmo. E eu trabalhava em uma repartição de engenharia fazendo curso de medicina. Parecidíssimo. Mas dei conta dos dois, muito bem obrigada.
DIVERSÃO
Dava tempo para o lazer. Não dava para exagerar. Mas eu, fim-de-semana, eu pegava meu cinema, pegava minha praia. Isso eu sempre procurei fazer. Ih, o cinema era curioso, porque era um monte de filmes e galãs. Naquela época a gente sabia o nome de todos os galãs do cinema. Hoje em dia eu não sei mais de ninguém. Pois são muitos. Mas à época você conhecia, sabia. E havia filmes. Hoje em dia o cinema está muito voltado para uma realidade hostil que interessa para esse sistema que está aí montado. Então você já tem, há filmes ainda bons, felizmente até de países diferentes e até nosso cinema. Nós já podemos destacar muito bons filmes. Na época da minha juventude havia tantos filmes. Eu sou do tempo do “E o Vento Levou”, daquela coisa toda, sabe? Que eram filmes que marcavam.
CORRERIA
Olhe, na época da universidade, eu vivia correndo. Hoje é que eu convivo muito mais com meus colegas e o que querem é comigo, telefonam para mim porque eu sou da comissão. Acabei ficando mais responsável mesmo pela comissão. Eu ingressei... Em 35 eu fiz o pré-médico, 36 eu fiz o primeiro ano. Nessa época, honestamente, eu entrava, assistia às aulas práticas, me virava para estudar as aulas teóricas e saía correndo. Então realmente nesta época eu não me engajei em coisa alguma, não podia. Não tinha como na faculdade, e realmente os estudantes com o correr dos anos foram tomando mais consciência política. E com os diretórios que se criavam.
UNE
E por fim, eu depois de formada trabalhei muito mais com os estudantes, na campanha do petróleo. Que nós vivíamos na UNE, na Praia do Flamengo. E aí a gente teve um convívio muito maior e político mesmo. Político não partidário, mas político.
FILHO
Eu já tenho um filho médico, que hoje até está na presidência do Conselho Regional de Medicina. Eu dizia... Todo mundo militante. A avó, a mãe. O filho. (riso)
CLINICANDO
Eu dizia: “Eu acho que o médico antes de se especializar precisa ser clínico. Para ter noção de conjunto”. Depois que eu me formei, um ano depois passei para o Serviço Médico do próprio ministério. Como médica do ministério. E lá eu fazia clínica. E havia uma coisa curiosa, tudo que era caso de psiquiatria ia bater no meu consultório. Não tínhamos psiquiatra. Eu digo: “Eu não sou psiquiatra”. Mas batia no meu consultório, e eu não deixava de atender. E comecei a perceber que eu fui resolvendo muitos problemas. Não só na parte de medicação como principalmente na parte de psicoterapia mesmo. Eu conseguia coisas com um paciente que nunca tomava injeção. Eu consegui tudo dele. Tomava até injeção na veia. Até quando eu estava, depois, tendo filho na maternidade, ele me telefonou para qualquer coisa que... E de repente eu parei e disse: “Espera um pouco. Eu vou fazer psiquiatria”. Já tinha entrado um psiquiatra para lá, mas como eu fiz o curso trabalhando, eu já estava com a aposentadoria à vista. Então eu disse: “Eu vou fazer uma especialidade.” E fiz o curso de saúde mental de ano inteiro. Aí foi outra, Nossa Senhora, outra correria, mas consegui.
Fechei o curso na Escola Nacional de Saúde Pública. Ainda saí na cabeça. Fiquei representante de turma. Rebatia a matéria para todo mundo. Quer dizer, é um temperamento que eu tenho, que a vida me deu, porque se eu tenho algum mérito é de utilizar em boas causas. Eu tenho capacidade de trabalho e isso tem me ajudado muito na minha vida não só familiar como profissional, como política.
“O PETRÓLEO É NOSSO”
Nas campanhas médico-sociais em que eu entrei, nas campanhas femininas e principalmente - principalmente que foi onde eu me dediquei mais e até hoje - nas campanhas cívicas. De defesa dos interesses, começando pela campanha do petróleo. Que entrei em 1948; final de 47 já estava nos centros democráticos que se integraram quando lançaram a campanha do petróleo. Veio através do centro da Tijuca. Bom, eu vinha falando nos trabalhos médicos-sociais de que eu participava. Minha mãe ela tinha entidades aqui no Rio de Janeiro, também a instituição Carlos Chagas, e trabalhava no movimento feminino. E foi a São Paulo e criou uma federação. Primeiro isso, falar em mulheres, tinha que reportar à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino de Berta Lutz, que representava em São Paulo a federação. E teve uma atuação grande pelo voto feminino etc. E depois do pós-guerra, houve uma eclosão de uniões femininas pelo Rio de Janeiro e entidades democráticas também, e contra a carestia pelos bairros. Antifascistas e contra a carestia. E no nosso bairro ela era presidente do Centro Democrático Catete-Laranjeiras. Quando a Liga Anti-Fascista da Tijuca, que era presidida pelo general Euclides Figueiredo, o pai, e dona Nuta Bartlet James também era da liga, porque morava na Tijuca, minha mãe presidiu o Centro Democrático Catete-Laranjeiras. O Café Filho era vice-presidente. E eu integrava também o centro. E tinha a União Feminina, que também funcionava ali. Ela foi para São Paulo criar a Federação de Mulheres, já lançando no programa a defesa do petróleo, porque tudo começou em 47 com as palestras, a convite do general César Obino, que era o presidente do Clube Militar. Ele, o general Henrique Cunha e o brigadeiro Francisco Teixeira, que eram da comissão cultural, sugeriram que abrissem a discussão. E a diretoria, o general César Obino, prontamente concordou e convidou os dois: o general Juarez Távora - que na palestra se mostrou entreguista, como nós chamamos - e o marechal Horta Barbosa, que defendeu, apresentou e defendeu a tese do monopólio estatal do petróleo. E nessa época a Alice Tibiriçá, minha mãe, foi para São Paulo criar a federação já incluindo no programa a defesa do petróleo. E enquanto isso a Liga Anti-Fascista da Tijuca, no dia 4 de abril de 1948, fez um ato na ABI e lançou a idéia do Centro de Petróleo. Lançou a idéia do Centro de Petróleo, no dia 9. Eu estava nesse ato e no dia 9 já se reuniu a comissão organizadora. Eu estava na comissão. Logo, sou sócia-fundadora do centro que desencadeou o movimento todo no Brasil. No dia 9 de abril. Quando foi dia 20, uma pequena nota que eu até tenho aí, vou mostrar para vocês, no dia seguinte noticiava, uma notazinha, a criação do centro. Isso no dia 9. No dia, não, sobre quando foi lançado no dia 4, quando veio a idéia. Dia 9 se reuniu a comissão. E no dia 21 de abril, um grande ato no Automóvel Clube, nós já tivemos a alegria de ver lançado o Centro Nacional de Estudos de Defesa do Petróleo. Um ano depois, por proposta do general Raimundo Sampaio, ele ampliou o seu nome para Centro de Estudos de Defesa do Petróleo e da Economia Nacional, para ser mais abrangente. Amazonas, minério, etc. O que me levou a participar disso, como eu vinha dizendo, que a minha mãe foi já para São Paulo. E quando ela voltou, eu já estava em... Olhe, ela tinha uma frase que talvez responda. Ela dizia que consciência política é como um tapis rouler. Você põe o pé no tapete, ele vai subindo, não tem volta. E nós já participávamos desses movimentos democráticos. E eu estou lhe dizendo, eu fui representar o Centro do Catete, foi lançado o Centro de Petróleo e eu já me engajei. E a minha mãe, quando voltou, disse uma coisa muito interessante. Ela se engajou direto na campanha do petróleo e disse, ela tinha realizado muita coisa, principalmente na campanha contra a hanseníase. Depois contra a tuberculose, conseguiu unificar as entidades, era difícil. Trabalhou para os cegos. Psicopatas. Ela criou entidades. E ela criava e entregava para os outros. Agora não falta quem queira. Ela tinha feito todo esse movimento, ela parou e disse: “Perdi praticamente 20 anos de minha vida em lutas parciais. Só quando o Brasil for emancipado economicamente é que pode resolver todos esses problemas.” E entrou de cabeça. Ela fez, nós tínhamos no centro – eu já vou dizendo nós porque eu me integrei direto no Centro de Petróleo – e primeiro minha mãe ficou na vice-presidência, eu estava no Conselho, encarregada da comissão de propaganda e de intercâmbio com os Estados. E como é que se fazia propaganda? Era uma beleza. A propaganda, olhe você veja: até hoje a mídia é mais ou menos fechada. E as multinacionais que sempre quiseram o nosso petróleo se encarregavam de fechar ainda mais. Mas o nosso movimento parecia que tinha fermento, se multiplicava. Logo que nós nos constituímos – vai entrar a resposta da propaganda nisso – foram sendo criados vários centros nos Estados. E eu fui designada para ir a São Paulo. Criei o Centro Paulista a partir do núcleo estudantil do Centro XI de Agosto e pouco tempo depois o centro se lançava no Teatro Municipal. Lotado. E saíram em passeata já pelas ruas. Então foi um momento realmente muito grande. E a propaganda era o seguinte: visava especialmente a esclarecer o povo sobre o que era, o que estava acontecendo. Não era apenas “Vamos lutar pelo petróleo.” Era isto também, mas: “Vamos lutar pelo petróleo porque...” Eu tenho um documento que trouxe aí, vou mostrar a você. Esse documento quem redigiu fui eu. Tamanho papel-ofício. Porque tínhamos o centro de estudos, a comissão de propaganda, a comissão de finanças. Quiseram me pôr na de finanças, eu disse: “De jeito nenhum. Eu vou para a comissão de propaganda”. E acabei acumulando por um tempo, a de intercâmbio. O centro de estudos elaborava as teses, estudava. Estudou o estatuto do petróleo que tinham lançado no Congresso. Era um terror de entreguismo. Eu peguei aquilo, organizei em itens. “Você sabe que há na Câmara Federal um projeto do estatuto do petróleo que dá concessões por 30 anos para os estrangeiros, renováveis por mais 10 e ainda renováveis? E você sabe que no fim disso tudo, se houver desistência teremos que indenizar todas as despesas e mais o petróleo que ainda tem debaixo da terra? Você sabe...?” E então a primeira página era uma análise em termos bem claros para qualquer um entender. E no verso nós imprimimos opiniões de personalidades, marechal, general, e desembargadores, sei lá quanto. A adesão era de todas as categorias, de todas as classes. E distribuímos na rua. Na rua. Onde fosse. Eu me lembro de eu entrando no ônibus para casa e distribuindo para todos os passageiros. Pegavam e liam. Isso aconteceu no ano de 1948. Já me perguntaram como era, naquele tempo, uma mulher fazer campanha e ir para a rua, mas era igual.Eu nunca me senti... Eu sempre era muito bem recebida, porque eu nem pensava em como iria ser recebida. Eu sabia o que estava fazendo e tinha tal convicção, que passa. Eu fui representar - é curioso que já me fizeram essa pergunta em outro depoimento que eu fiz. Exatamente a mesma pergunta. E eu me lembro de que fui, por exemplo, para Goiás. Eu era bem moça. Mulher e bem moça, bem jovem. Eu fui para Goiás com a carta de apresentação do nosso então presidente, que era o deputado Domingos Velasco. Goiano. Mandaram pedir alguém do centro, lá fui eu. Cheguei, fomos direto para um comício. Eu tenho facilidade de falar. Outro dom que aquele, não é virtude porque eu recebi esse dom. Me empolgo, falo. Fui para o comício e tal. Depois, o meu mérito é aplicar em uma boa causa, é isso que eu digo. O meu mérito é esse. Fui para o comício e falei. E sempre em linguagem que pudesse ser entendida, clara. E como eu sabia que eles dali iam para a sede, não é porque fosse sede do Partido Socialista, é porque a campanha era suprapartidária e qualquer partido que funcionasse podia ser lá. Todo mundo ia sem se importar se era este ou aquele - eu vou enfatizar esse aspecto, que é importante. Não me deixa esquecer -, mas então nós fomos para a sede. E eu de público disse: “Olha, nós vamos reorganizar o centro aqui. Quem quiser se engajar e puder fazer parte de uma das comissões, vamos embora, vamos conosco”. Direto. E fomos, e veio um grupo atrás. E lá então nós pudemos reestruturar o centro, organizamos as comissões. E deixamos, porque eu fui para Anápolis e Pires do Rio, onde eu fiz palestras, conferências. Pires do Rio com um teatro lotado. Mas cheguei a Pires do Rio, parei e pensei e disse: “Eu preciso reorganizar aqui o centro. Como é que eu vou fazer?” Chamei os meus goianos que estavam comigo, lá do centro, e disse: “Olha, me levem para os médicos locais e para as professoras.” Eu tinha um dia. Passei a tarde visitando médicos e professoras. E eu digo: “São elementos conhecidos e que têm contato. E tragam as mulheres também. porque eu acho que nessa campanha não é homem, não é mulher, é brasileiro.” E consegui deixar formado, estruturado o Centro de Petróleo. E fiz uma palestra, me lembro bem descendo a detalhes bem explicados. Quando acabei veio uma senhora dizer: “É a primeira vez que eu ouço uma palestra e entendo tudo”. “Então consegui minha intenção.” Porque eu expliquei tudo o que se passava, mas com linguagem: “Olha, vem o petróleo. Do petróleo a gente faz isso... Até batom, sabia?” No quorum dessas palestras, não vou dizer que tivesse muitas mulheres. Mas tinha mulheres. Tinha. Bom, isso tudo para responder a pergunta de eu ser jovem e mulher. Bom, quando acabou tudo, voltamos e tal. Voltamos, estavam esperando na Assembléia Legislativa para a posse que eu ia dar em nome do Centro Nacional. Desembargadores e lá uma comissão toda cheia de altas personalidades. Eu fiz o meu discurso e ainda pediram que eu ampliasse para a Amazônia. Eu acrescentei e dei a posse e tal e coisa. Depois beijos e abraços e fomos embora. Quando eu saí, foram me levar de volta, disseram: “Agora a gente pode dizer, quando a gente pediu uma personalidade do cCentro e fomos buscar você a gente disse: ‘Ih, mas a gente precisava...’, Agora nós temos de dizer: ‘Puxa que trabalho bom.’” Então é esse o problema. É você saber o que faz. É você conhecer o que está fazendo. Você confiar em você. Eu tive. Eu confio plenamente em mim. Quando eu tenho que fazer uma coisa, eu me imbuo daquilo e aí parto com confiança. Ou procuro conhecer bem, e foi o que eu fiz, para ganhar a confiança e poder desempenhar. Com isto eu não senti nenhuma diferença nem discriminação. Isso uma jovem. Jovem nem tão jovem. Eu estava com 30, 32 anos. 31, 32 anos por aí. E mulher sem problema nenhum. E assim foi feita toda a campanha. Sempre tivemos também contato com a União Nacional dos Estudantes. Essa parceria começou logo que o general, depois marechal, Horta Barbosa lançou sua tese. Os estudantes foram reconquistando a praça pública. Tenho fotos aí também. Tudo o que eu estou falando está documentado. E tudo, tudo com detalhes. Documentadíssimo, como dizia. Ou exaustivamente documentado. Livro de... Como dizia Barbosa Lima Sobrinho nos artigos dele. Depois ele veio me explicar: “Olha, aquele exaustivamente documentado...” Eu digo: “Adorei, doutor Barbosa. É isso mesmo que eu queria”. Eu queria falar e provar, falar e provar. Está lá. Mas tudo isso está lá no livro. Eu vou deixar um, oferecer um a vocês. Vocês vão encontrar tudo o que eu estou falando. Episódios. Mas foi uma campanha toda ordenada, organizada. E os estudantes foram os pioneiros. Foram para a rua. E depois no centro os presidentes da UNE eram sempre presidentes de honra no centro. E também os militares do Clube Militar - que afinal a campanha foi lançada durante a gestão de César Obino, repito. Agora estão mudando o nome da rua César Obino para Ronaldinho porque ele nasceu lá. Ronaldinho merece todos os nossos aplausos. Mas não tirando o nome de César Obino. Então nós estamos fazendo um movimento para pelo menos dar a um outro logradouro expressivo o nome do general César Obino. Mas então você veja, havia essa integração. E o Centro de Petróleo, como ficou conhecido, foi realmente o coordenador em nível estadual e nacional da campanha o “Petróleo é Nosso”, que durou ininterruptamente. Até hoje não acabou, mas durou ininterruptamente. Intensivo, intensivo, intensivo, durou oito anos. E eu tenho três causas para a vitória. Que era, não foi fácil. Fomos tiroteados. Houve prisões, mortes. Vou contar o episódio da Praça Floriano. Mas primeiro eu vou arrematar esse pensamento para não ficar solto. A três causas eu atribuo a vitória da campanha. Uma é um objetivo definido que unificou todas as correntes de opinião: era a luta pelo monopólio estatal do petróleo. Segundo: um caráter rigorosamente suprapartidário. Não era apartidário, porque os partidos praticamente, dois oficialmente, os outros liberaram para quem quisesse vir. Nós tínhamos elementos de muitas correntes. Quase todas. Rigorosamente suprapartidário. E terceiro, importantíssimo: a organização. Aqui no Rio, que era o Distrito Federal na época, era o centro nacional. Era ao mesmo tempo centro do Rio de Janeiro e nacional. E cada Estado tinha o seu centro. E foram-se criando e rapidamente comissões de bairro, de empresa, femininas, de fábricas, camponesas em Xerém, Baixada Fluminense, eu fui lá, estive lá. Testemunha ocular da história. E então no Brasil todo isto acontecia. Foi uma penetração pelo Brasil todo. Você viajava, vocês podiam fazer... Isso partiu do núcleo. Eu só não. Eu e todos que se integraram no Centro de Petróleo. O núcleo principal, é interessante, até eu vou passar a vocês, pelo menos uma diretoria, a primeira. No livro está tudo isso. Era uma diretoria muito grande. O primeiro presidente foi um parente do general Horta. Foi o engenheiro Luis Hildebrando Horta Barbosa. Tinha um número grande de vice-presidentes de representações diferenciadas. Depois secretário geral Henrique Miranda, que foi meu ex-marido. Durante a campanha nós nos casamos.
GENE PETROLEIRO
E foram nascendo os filhos. Que eu estava brincando, contando para vocês, minha filha diz: “Nós somos derivados do petróleo.” É verdade. E eu quando quero me lembrar de um fato, de um congresso, de uma convenção, eu ficava pensando: “Ah, eu estava esperando fulano. Não, eu viajei grávida do sicrano.” E foi durante a campanha, e isso eu digo na introdução do meu livro, leia, a meus filhos. Foi a parte mais assim, foi a maior doação. Os filhos nascendo, crianças pequenas. Eu tinha uma boa retaguarda, mas era uma parte que às vezes você viajava assim com o pensamento, o coração, e queria contar e queria os filhos. E deixar pequenos e voltar. Esse pedaço foi uma coisa muito importante da nossa vida. Aluísio, o meu filho mais velho, que mais tarde quando eu escrevi, até eu conto isso, eu digo: “Você se lembra quando a gente viajava, quando a mamãe se ausentava, que vocês reclamavam?” Porque um dia ele me disse: “Eu quando crescer vou ficar muito perto dos meus filhos”. Deu um nó. Deu nó. Quando eu expliquei a ele: “Você se lembra da ausência? É que a gente estava viajando para defender o petróleo.” Ele olhou para mim e disse: “Por que é que você não me dizia que era para defender o petróleo?” Aí desmanchou o nó. Esses aspectos são muito importantes. É o mais velho... Ele é médico e hoje presidente do Conselho Regional de Medicina. O segundo, Carlos Henrique, é economista, trabalha na Fundação Getúlio Vargas e também engajado na associação e na vida política em geral. E Maria Alice, é o nome da avó, esta mais engajada em trabalhos assim, ela se preocupa muito, ela é muito mãe. Ela tem três filhos biológicos, três adotivos, que são tudo igual. E não fale que é. É tudo filho e é tudo neto. Perfeitamente integrados. E ela passou a trabalhar com esse problema de meninos de rua na Fundação São Martim. Foi para Teresópolis, trabalhou lá com os meninos. Então ela foi mais para esse campo. É psicóloga que trabalha no consultório em que eu trabalhei como psiquiatra, trabalhando em psicoterapia. Ela trabalha como psicóloga. Alguns clientes meus até que quiseram ficar com ela. Ela trabalha no consultório com o irmão, que é cardiologista e clínico, o Aluísio. E o caçula eu perdi. Era o Alberto. Esse não chegou a se formar. Então desses três filhos que se casaram eu estou com 13 netos e 3 bisnetos. Uma já vai fazer amanhã, depois de amanhã, ela vai fazer 11 anos.
NAMORO
O namoro com o Henrique no meio da militância foi curioso. Porque era no meio... O nome dele era Henrique Batista Aranha Miranda. Ele foi sempre secretário geral do centro e teve uma atuação muito expressiva na campanha. E a gente se conheceu e começou lá nas reuniões no Centro de Petróleo. Já estava engajada. Desde a primeira reunião já me engajei no Centro de Petróleo. Já ajudei a fazer estatuto. Em tudo, tudo eu participei. A minha atuação foi realmente muito grande, permanente e efetiva. E a organização interna era assim: havia as comissões e ele como secretário geral coordenava as comissões que se reuniam para cada um, para então depois, poder sair fazendo os seus trabalhos. E começamos então a namorar.
NOITE E DIA
Nós trabalhávamos na sede do centro até 11, meia-noite. Havia trabalho para isso, era o grupo todo lá. E tinha uma pessoa, preciso lembrá-lo, Jair Pereira de Amorim, ficou muito conhecido aqui no Rio porque ele faleceu há pouco tempo. Meu querido amigo Jair. Ele era o pé-de-valsa. Porque gostava de dançar. Conversem com qualquer meio boêmio que eles sabem quem é o Joel. Ele passava a noite, nós saíamos a meia-noite, íamos para minha casa. A minha mãe estava lá, nós tomávamos um lanche. Aí ele ia embora para a casa dele em Copacabana. Olha que hora já era isso. E eu às 8 horas da manhã entrava na quarta enfermaria da Santa Casa onde eu ia dar aula para sextanista de medicina. E dava. Quando a gente quer? Eu só acredito em gente ocupada. Gente desocupada não tem tempo para nada. Não é mesmo? Pois é. E então o Jair ficava noite adentro respondendo a correspondência. Ele era secretário. Duas horas, duas e meia da manhã ele, aí nós já nos casamos, no ano seguinte. Ele tocava lá para a nossa casa: “Olha, recebemos uma carta de Pernambuco assim, assim. Mas é um problema. Como é que a gente vai fazer e tal?” A gente acordava, resolvia esse problema. Então paciência com esse. E quando saíamos à meia-noite, o Correio, que ficava aberto lá na Primeiro de Março, a gente ia lá e botava tudo. Era volumosa a correspondência dos Estados. Para mostrar como era intensivo o trabalho. Eles mandavam.
IMPRENSA
Eu da propaganda tirava da correspondência tudo que acontecia e diariamente fazia o noticiário. Um de nós, eu ou quem fosse. Não havia escolha do trabalho, e tinha o Inácio. Também já falecido. E ele saía de noite percorrendo as redações. Eu, muitas e muitas vezes ia também. Um dia eu estava passando com o general Felicíssimo Cardoso Pena em frente à Galeria Cruzeiro, que hoje é o edifício central e na frente funcionava um jornal, “O Radical”. E eu comentando com ele: “Olha, general, estamos aqui, vamos aproveitar e fazer uma visita.” Porque a gente tinha que furar a imprensa. Subimos. Menino, veio fotógrafo. Eu estava com uma barriga, grávida. Muito grávida. Eu ficava exageradamente grávida. E veio fotógrafo e tudo e nós três: eu e ele. Fotografaram e no dia seguinte éramos primeira página. Manchete: “Encham os seus cárceres, mas os patriotas lutarão pelo petróleo”. Quer dizer, assim a gente conseguia propaganda. E o grupo tinha duas edições, uma de manhã e uma à tarde. E eu descobri subindo nas escadas, fiz amizade com um repórter lá da manhã e ele sempre que podia passava as notícias. E o “Diário de Notícias”, que abria de manhã, um dia publicou uma matéria do outro lado. Era matéria paga, assim. Eu disse: “Eu vou lá, falar com o Orlando Dantas.” Trabalhava lá também o Fernando Segismundo, atual presidente da Associação Brasileira de Imprensa. Sucedeu a doutor Barbosa, mas sempre trabalhou na ABI. Eu disse: “Vou falar com ele.” Fui lá no Orlando Dantas e disse: “Doutor Dantas, mas... ” Ele disse: “O jornal eu abro para quem quiser falar.” Eu digo: ‘Muito bem, então vamos combinar o seguinte: tudo que eu tiver...” “Pode mandar.” Então eu mandava tudo o que era notícia, mandava entrevista. Pegava um deputado, fazia uma entrevista aqui, e mandava para o jornal. E tivemos essa abertura. O jornal de debates do Max Pimenta no começo pôs um encarte, porque era um jornal só de opiniões assinadas. Pôs um encarte com o noticiário. E fomos no final obrigados a criar o nosso órgão de publicidade, que se chamava “Emancipação”. Eu tenho aí um volume para vocês verem. Se quiser até fotografar. Porque também funcionou anos a fio. E sob a direção de membros da comissão de estudos em que se destaca Fernando Luis Lobo Carneiro, e muitos outros. Eu não gosto de falar em nomes porque às vezes você esquece e não podia ter esquecido. Mas eu estava falando exatamente que o “Emancipação” era um jornal que tinha uma circulação grande e importante. Porque ia para todos os parlamentares com matéria explicativa do que estava acontecendo no curso da Câmara Federal. Porque o nosso público-alvo era a Câmara Federal, onde circulava o projeto do estatuto do petróleo que nós conseguimos paralisar. Depois disso tudo, acho que faz parte de ficar aí na história. Vamos organizar. Mas “Emancipação” tinha artigos da comissão de estudos explicativos e noticiário da campanha em geral. E de outros, como da economia nacional e também de outros assuntos pertinentes. Então era muito requisitado, sobretudo pelos parlamentares, como subsídio. E até do exterior mandavam pedir “Emancipação”. E tínhamos que mandar para os Estados porque era nosso órgão, então tinha que ter uma tiragem grande. E se vocês me perguntarem: “Com que dinheiro?” Eu dizia: “Aí é que eram elas.” Era uma situação séria e que a gente venceu... Havia rifas, havia quadros que doavam que a gente leiloava. Havia, por exemplo, o pintor Inimar José de Paula era integrado. O Israel Zjambrum era integrado. Eram dois muito integrados que nos ajudaram muito. Inimar hoje está valendo, né? E mais a campanha de fundos. Eu vou contar um episódio que vai esclarecer bem. O então coronel Artur Carnaúba, depois general, era um dos que viajavam. Tinha um grupo de nós, eu era uma delas. Enfim, essa viagem era dele. Ele estava percorrendo o Nordeste. E lá no meio da viagem acabou o dinheiro. Ele mandou um telegrama: “Preciso prosseguir, acabou o dinheiro”. E nesse dia, havia muitos atos públicos, havia o ato público na ABI. E nós levamos o telegrama e foi lido. E nós dissemos: “Quem tem de responder esse telegrama é essa assembléia”. Passamos um chapéu. Mandamos o dinheiro e ele continuou. O Modesto de Souza, um ator muito conhecido, ele era muito empolgado, ele fazia leilões. Até curioso o nome: leilão americano. Qualquer quadro, qualquer doação, qualquer livro, qualquer coisa. Fazia e arrecadava fundos, compreendeu? E então nisso o Rafael de Carvalho compôs um hino para a Liga de Emancipação Nacional, que já é outra etapa. Que eu sugiro que seja o hino da nossa emancipação. Um dia nós vamos cantar esse hino. Era cantado... “Convenção, convenção, convenção, pela emancipação nacional. Convenção, convenção, convenção repete o povo confiante e triunfal. Convenção, convenção, convenção não mais traidores, entreguistas ou tiranos, o Brasil há de ser dos brasileiros e não será colônia de americano.” E depois tem a segunda parte, só que eu estou com um problema de corda vocal que eu tenho que adaptar o tom porque ela não está fechando direito, de tanto que eu falo. Nós cantávamos esse hino em todos os atos públicos. E ele tinha uma voz possante. Bom, mas aí assim nós íamos conseguindo. Em geral nós pagávamos as passagens, e os centros, as hospedagens. Era uma coisa mais ou menos assim.
EVENTOS HISTÓRICOS
Bom, eu fiquei, eu estou devendo uma resposta do episódio da Praça Floriano. É, porque eu estava dizendo que não foi fácil a campanha. Muitas de nossas sessões eram tiroteadas, ou nós evitávamos impedindo os acontecimentos. E nós chegamos até a procurar o chefe de polícia, dizendo: “Nós queremos que designe uma pessoa para acompanhar os nossos atos. Oficialmente.” E eles designaram o Cantuária, se minha memória não falha. O Cantuária. E ele ia. E foi-se vendo o que era a campanha. E ele estava até nesse dia lá do episódio que eu vou contar, foi à instalação do Congresso de Defesa do Petróleo do Distrito Federal em setembro de 48. Quando ia terminando o ato - é que os atos eram mais tarde. Não havia essa guerra que está agora, que a gente não quer ficar de noite na rua. Começava às 8, 9, acabava 11, meia-noite. Ao acabar o ato sugeriram que se levassem as flores para a estátua do Floriano, na Praça Floriano. Havia vários generais com suas famílias. General Horta Barbosa, general Estevão Leitão de Carvalho. General Raimundo Sampaio. E justamente a filha de um deles fez questão de levar a mãe e tudo para verem. Porque eles tinham receio e tudo. Para verem como era a coisa. E também elas queriam participar. E fomos todos, as famílias e a assistência toda. Se não tivesse havido problema nenhum, depositaríamos as flores, saudaríamos o general e íamos dormir. Mas a Polícia Especial, famigerada Polícia Especial ali do Largo da Carioca, de bonezinho vermelho – vocês não conheceram essa polícia – já estava nos esperando. Quando o general Carnaúba saudava o general Floriano Peixoto, começou a bomba lacrimejante. E nos atacaram violentamente. E eu me lembro bem que o pessoal chorando com o gás lacrimogêneo, se afastava e voltava. E começamos a cantar o Hino Nacional e nos afastávamos e voltávamos, e nos afastávamos e voltávamos. Até que o filho do general horta Barbosa, ele hoje é coronel, Luis Augusto Horta Barbosa, foi para o telefone, tocou para o Exército. Disse: “Olha, aqui na Praça Floriano altas patentes do Exército com suas famílias estão sendo atacados pela Polícia Especial”. Daí a pouquinho chegava uma viatura da Polícia do Exército, que foi recebida, obviamente, com palmas. E ali seria o confronto. Tinha que acabar. A polícia, a outra a famigerada, foi embora. E assim nós concluímos, cantamos o Hino Nacional e pudemos nos recolher. Resultado: todo o Brasil falou nisso. Os jornais todos, tem aí uma foto que está no livro também de recortes. Houve uma arrumação de, os fotógrafos aí que devem gostar de saber disso, de manchetes, foi uma repercussão que não teria tido. Eu digo: “Puxa, ajudaram a gente?” Agora, o primeiro secretário, José Junqueira, da Câmara Municipal, estava de branco. Me lembro porque eu estava lá - e foi ferido na perna e sujou a roupa de sangue. O Eusébio Rocha, deputado de grande nome na campanha, do partido do Getúlio, muito meu amigo. Hoje a filha dele me pôs no lugar dele, me chama de tia. Ele também foi atingido por estilhaço. Então no dia seguinte, o José Junqueira fez questão de ir com a roupa suja para a Câmara. Suja de sangue. Simbólica. Então houve aquele, quer dizer, ele continuou. E o Eusébio Rocha - a Câmara era no Rio, o Senado era no Rio - foi também ferido e tal. E outros que também foram atingidos ali. Esse foi um dos episódios.
Há muitas coisas para contar, meu livro tem 551 páginas. Eu gostaria se fosse possível, porque eu queria vir, eu vim com a idéia de falar mais na campanha. E vocês me fizeram falar mais de mim, de mim na campanha. Mas aí também fica mais leve, a gente vai contando as coisas e os episódios, está certo.
SURGE A PETROBRAS
Bom, a minha, eu digo, a nossa participação para barrar o Estatuto do Petróleo no Congresso não foi fácil. Porque foi à força. Para cada etapa havia um Congresso Estadual em cada Estado. Não, antes do congresso... Aí vocês vão entender a organização. As comissões faziam conferência. Nós do Centro Nacional mandávamos as teses. O que ia ser debatido. As comissões debatiam e tiravam elementos para os congressos estaduais, que geravam delegações para a convenção nacional. A primeira foi em 48, com a finalidade de barrar o Estatuto do Petróleo. E também contra as concessões de refinarias e defendendo que a grande refinaria, que já se cogitava, não fosse para o Pará, e sim para Cubatão. Foi vitória nossa. Então a força da campanha. Porque quando acabava, aqueles delegados todos baixavam no Congresso. Enchiam as escadarias, entravam. Então foi uma pressão permanente nos congressistas. Que também sofriam pressão do outro lado, violenta. Por aí vocês imaginam como foi a força da campanha. Isso foi em 48. Em 51 nós tivemos que organizar a segunda, com a mesma estrutura, viu? A segunda convenção nacional, porque houve tentativa de fechamento desse centro. Convocamos imediatamente a convenção para barrar, reforçar as teses aprovadas na primeira convenção. De paralisação do estatuto, contra o fechamento do centro - e realmente conseguimos a sobrevivência do centro. Vencemos a tentativa . Realmente paralisamos o Estatuto do Petróleo. Em agosto de 51. Julho de 51 é a convenção. Em agosto já era Getúlio. Quem mandou o Estatuto do Petróleo foi Dutra. Em fevereiro de 48. Já está para trás, ficou de lado. Mas em agosto de 51, Gustavo Capanema, que era líder do Getúlio na Câmara, quis reviver o Estatuto do Petróleo. Não havia qualquer clima. Então que o Getúlio preparou o anteprojeto da Petrobras e enviou dia 12 de dezembro de para a Câmara. Mas com dispositivos permitindo - é um conceito muito importante - sociedades organizadas no país. Porque as sociedades organizadas no país só se você explicitar com capitais nacionais e com brasileiros natos e tal é que é genuinamente nacional. O que a Esso podia fazer com o material Esso do Brasil era registrá-lo na sociedade. E havia essa brecha, que era a maior. E outras coisas que analisamos e foi então que não havia mais clima para o estatuto, morreu. Morreu de morte matada pela campanha. Sufocou. Parou. E começou o curso do 1515/51, que era a Petrobras. Anteprojeto da Petrobras. E nós tivemos que prosseguir com a mesma intensidade a campanha, porque realmente não podia ser como estava. E continuamos a esclarecer. Tem folhetos que eu trouxe para vocês. Depois vocês vão ver como aproveitar. Uma nova forma de entreguismo. Até que fizemos a terceira convenção, já em 1953, mas ao contrário. Aí nós fizemos a convenção, depois desdobramos em congressos regionais. Congresso Regional Norte. Congresso Regional Centro, Sul... Tem mais um.. Congresso Regional Norte, Nordeste, Centro e Sul. E nós, cada um de nós foi para cada um. Uma delegação para cada um desses congressos. Em todos eles esclarecendo o que era a Petrobras e porque estava sendo modificado. Isto já pegou setembro de 53. A pressão estava muito forte. E havia na Câmara - porque eu estou, não tive ainda a oportunidade de falar -, havia muitos parlamentares de vários partidos que faziam parte do centro e eram da Câmara e do Senado. Era o que se podia chamar do embrião da Frente Parlamentar Nacionalista. Chegou um ponto em que o Getúlio, através do Capanema, mandou chamar os representantes dos vários partidos e disse: “Reconhecemos que a campanha venceu. Então queremos fazer um acordo”. E propôs o seguinte: “Vou começar por coisas: que se mantivesse o nome Petrobras”. Nada contra, o nome até muito simpático. “Que a Petrobras seria executora do monopólio estatal, que seria monopólio estatal a pesquisa, lavra e refino.” Beleza. E a executora seria a Petrobras. O governo ficaria com 51 por cento das ações da Petrobras, e das subsidiárias da Petrobras já seria a Petrobras que ficaria com 51 por cento das ações. Agora vejam, eu parei no refino. O comércio financista ficou de fora. Que é muito lucrativo. Porque já estava instalado. Nós estávamos fazendo um acordo. Acordo a gente tem que ver. Para ganhar uma parte tem que... E mais, ele propunha que as refinarias já concedidas - em duas convenções nós já contrariávamos, queríamos que fossem canceladas as refinarias particulares - ele queria que ficassem. Permanecessem. Porque já tinham a concessão. Era base principalmente a de São Paulo, Soares Sampaio Correa e Castro e do Hernani aqui no Rio de Janeiro. E tinha a Ipiranga, outras pequenas, mas basicamente essas duas. Concordamos, através da rede do Parlamento daqui, que atuava no centro também, desde que não pudessem ser ampliadas. Elas ficaram congeladas até agora. E com esse acordo ficou de fora mesmo o comércio financista. Com este acordo foi aprovado na Câmara. E subiu para o Senado. No Senado houve muitas lutas. Eu não falei nas violências? Houve até morte de militantes. No Congresso, Bismarck Góes Monteiro apresentou a emenda 32 estabelecendo os contratos de risco. Foram aprovadas no Congresso e desceu para a Câmara. Voltou para ser aprovada, e o Artur Bernardes, que era deputado - ele já aparecia menos na Câmara - voltou no dia da votação. E foi um correr até de funcionário para ouvir o discurso. Ele fez um discurso contundente, definitivo. E foi votado. Derrubaram as emendas para serem fiéis ao acordo que tinha sido firmado. Foi o acordo que salvou. Então nestes termos, já era setembro, dia 3 de outubro foi sancionada a lei 2004 por Getúlio Vargas, criando a Petrobras, executora do monopólio estatal.
Eu não sei onde eu estava nesse dia. Olha, você me pegou assim de surpresa. Eu sei que eu estava acompanhando de perto. É possível que eu estivesse no próprio Congresso. Eu acredito que eu estivesse lá. Porque nessas ocasiões a gente estava mobilizada mesmo. Mas para te ser muito honesta, eu não posso te dar com precisão.
SUICÍDIO DE GETÚLIO VARGAS
Bom, e com isto você veja, depois de que Getúlio concordou e assinou, ele tinha precedentes - eu nem entrei em legislações anteriores porque ficou para trás, tem muita coisa. Mas desde o momento em que ele cedeu, ele criou também a sua própria sorte. Mas não se prendia apenas ao problema de petróleo. Se prendia muito, mas se prendia também à sucessão. E o Carlos Lacerda, que era opositor, derrubou aquela campanha violenta. Ajudada pelos jornais da América do Norte. Então começaram a dizer, nas vésperas de 24, que foi o dia do suicídio, parece que 17 – eu posso esquecer minhas coisas, mas da campanha eu tenho as datas quase que com precisão –, no dia 17 os jornais americanos dizem que o Getúlio mais que podia dizer, que ele não fazia nada. Coisas assim. E o embaixador americano já foi visitar o Café Filho, que era um progressista. Até era vice-presidente do Centro Democrático. Foi pena. É o que eu digo, que o sistema engole o indivíduo. Ele foi convidado a visitar a América do Norte, já prevendo que o Getúlio cairia. Dia 17. As coisas se precipitaram e houve o suicídio de Getúlio, que virou.
CAMPANHA NACIONAL
Você quer a minha história? Tem mais coisas importantes a comentar politicamente. Você quer que eu fale de mim? Nesse dia - estamos equilibrados. Nesse dia eu participei de toda a ocorrência. Estava aqui. E já tinha sido criada na terceira convenção a Liga da Emancipação Nacional. Que praticamente eram os mesmos elementos do centro, mas era um reforço. O centro e a liga caminharam juntos. E a liga percebeu que haveria um golpe. Então ela promoveu um simpósio, um encontro, e me mandou para o Sul e mandou um outro companheiro para a Bahia para arregimentarmos os políticos para este ato da liga em defesa da legalidade, que estava ameaçada de ser rompida. Aí eu fui para o Rio Grande do Sul. Fui visitar vários políticos. E me lembro de um deles, que disse: “Mas, minha senhora, eu estou com um comício marcado”. Porque era um ano de eleição. “Eu estou com um comício marcado na minha base eleitoral exatamente no dia da convenção que vocês vão fazer no Rio. Eu não posso ir.” Eu olhei para ele: “O que é que adianta – eu perguntei a ele –, o que é que adianta o senhor ir para o seu comício se não houver eleições?” Ele virou para mim: “Eu vou para o Rio”. Então era assim que a gente trabalhava. E eu consegui trazer uma boa delegação do Rio Grande. No Paraná eu parei e ainda fiz finanças com a comissão do Paraná para me financiar. Eu parei em Santa Catarina. Eu conversei com Rio Grande, Santa Catarina e Paraná. Então cheguei com eles. Me lembro até que eu peguei uma bronquite, eu que nunca adoeço. Eu nem sabia mais, quando entrava no avião... Então era um terror. Acompanhei toda a convenção da liga participando diretamente dos trabalhos. Quando acabou tudo eu procurei um colega e disse, eu estava já quase boa mas, ele olhou: “Agora é que você vai começar a se tratar”. Mas isso é um detalhe sem importância.
HISTÓRIA REGISTRADA
Não fui eu que elegi o petróleo. A campanha surgiu no nível nacional. E a campanha não era minha. Abra a primeira página do meu livro. Na primeira página, o que é que eu digo aqui: “Ao povo brasileiro, verdadeiro personagem deste livro”. Porque realmente houve uma mobilização total e eu era engajada porque me interessava por esses problemas. Primeiro momento se você perguntar por quê? Eu digo por patriotismo, por compreensão de que isto era de uma importância vital para a nossa emancipação. Você quer um exemplo atual? O que está acontecendo no Iraque? E por quê? Respondi. Eu tinha consciência plena disso. Da importância. Porque o Horta Barbosa, o general, na tese dele ele dizia: “Petróleo é uma indústria altamente monopolista. Ou é monopólio do trust – hoje é multinacional – ou monopólio do Estado.” E dentro dessa certeza nós nos atiramos de corpo e alma. E tinha, não dava para parar. É o tal do tapis rouler. Você tem consciência política, você subiu, não há volta. Respondi? Essa campanha, eu não tenho a menor dúvida, vocês são historiadoras, eu peço que meditem. Porque podem dizer que ela emocionalmente, friamente eu posso analisar, que esta foi a maior página da história do Brasil em profundidade, em tempo de duração, em abrangência, em justeza e vitória. Porque vocês não dizem, e se disserem eu gosto de aprender, uma campanha que tenha levado oito anos de trabalho diuturno. Dia e noite. Não houve outra. Agora vocês vejam que muitas pessoas dão um pulinho sobre esta campanha. E passam da abolição da escravatura para as Diretas já. Meu Deus. Está aqui o livro que não me deixa mentir. Como dizia doutor Barbosa Lima, um exaustivamente documentado livro da dona Maria Augusta, como ele me chamava. Eu quis escrever esse livro exatamente porque eu sei que a memória nacional é curta e que propositadamente a campanha do petróleo seria congelada. E eu disse, eu me impus. A minha preocupação era que eu não podia morrer antes de escrever esse livro. E eu sabia que era um livro de fôlego. Quando eu comecei escrever eu não me lembro bem. Mas eu sei quando eu terminei.
O LIVRO
Então realmente eu trabalhava intensivamente. Porque nesse tempo que eu escrevi o livro, eu também estava fazendo um curso de saúde mental, quando eu mudei de especialidade. Então eu andava com tudo debaixo do braço. Quando tinha uma máquina e um tempo - era máquina de escrever naquele tempo -, eu escrevia. E depois tinha que cortar. Não era computador, aquele que encaixa. Eu estava com uma idéia fixa de que eu não podia... Eu fiz a campanha desde o primeiro dia até hoje. Porque a campanha teve três etapas distintas. Eu tinha o material na mão. Porque eu tinha participado de tudo. Da diretoria, que do conselho eu passei para a vice-presidência. Encarregada da propaganda, encarregada do assim mais diretamente do intercâmbio com os Estados. E eu tinha muito material. Eu estava com o material. Eu disse: “Isso não é meu.” Isso precisa ser divulgado. Os jovens como vocês precisam saber disso. Mas saber de forma que leu, viu e está provado. Para publicar o livro eu demorei porque teve toda a ditadura no intermeio. Eu publiquei uns 18 anos depois de escrever. E foi bom, porque nesse período uma outra geração surgiu e não conhecia o problema. E para esta geração foi importante esse livro. E eu acredito que ainda seja. Tanto que eu procurei colocar em pontos de referência, bibliotecas. E não está em todas como eu gostaria. E até já me perguntaram por uma segunda edição. Agora isso já foi uma edição heróica. Eu digo: “Não morro sem publicar esse livro.” Está aqui. É um filho.
AEPET NA CAMPANHA
A campanha não acabou. Então eu divido em três etapas distintas. A primeira que vai até a criação da Petrobras. A segunda etapa vamos assim dizer, não, não acabou aí não. É que não dá para contar. Está aqui, viu? Depois você lê. Depois de criada a Petrobras, ainda vinham em curso outros projetos restabelecendo tudo. Tinha um na Câmara e um no Senado. Restabelecendo tudo. Então nós tivemos ainda que combater esses outros projetos. Derrubar esses outros projetos. E fazer manter o acordo que tinha sido feito inicialmente. Bom, depois, isso durou mais um ano, dois anos. Tanto que a campanha não acabou com a assinatura da Petrobras. Nós prosseguimos e ainda começamos a trabalhar quando se criava e se organizava a Petrobras. E a segunda etapa foi durante a Constituinte, quando criamos e eu participei. Eu estou falando da minha participação. Tenho que falar, né? Porque não gosto. Na primeira pessoa que eu estou dizendo, me obrigaram. Do singular. A campanha contra os contratos de risco e pelo monopólio estatal. Essa campanha já foi presidida pelo grande brasileiro Barbosa Lima Sobrinho, que à época da campanha era governador de Pernambuco. E lá ele recebia de uma maneira especial os viajantes do centro. E tinha dois secretários - Pelópidas da Silveira e Miguel Arraes eram os secretários e faziam parte da campanha. Nessa segunda etapa, digamos, Barbosa Lima presidiu esta comissão junto com a Associação dos Engenheiros da Petrobras, Aepet. E foi exatamente quando quiseram estabelecer os contratos de risco. E que fizemos um movimento intensivo justamente para combatê-los. Isso foi durante a Constituinte. E conseguimos estabelecer o capítulo da ordem econômica, que era um primor. Um capítulo da ordem econômica porque havia vários pontos que tinham que ser vistos ali. Era o problema do monopólio estatal para todas as bases da indústria do petróleo. Aquele meandro que tinha ficado de fora, principalmente o comércio financista. Tinha o conceito de empresa brasileira e de capital nacional, e empresa de capital estrangeiro. Que nós conseguimos distinguir perfeitamente. Isso era muito importante. E outros pontos da ordem econômica que foram influenciados diretamente por essa campanha já com a participação da Associação dos Engenheiros da Petrobras. Então as reuniões eram na ABI. O doutor Barbosa Lima, o presidente da Aepet à frente. Os Sindipetros já criados. Então tivemos uma atuação muito intensiva nessa fase. Campanha pelo monopólio estatal do petróleo e contra os contratos de risco. Foi uma fase de uma atuação muito intensa, e a vitória foi a inclusão do capítulo da ordem econômica como nós quisemos na Constituinte. Terminada essa fase, em 1989, doutor Barbosa Lima foi procurado, eu estava presente. Eu participei de todas as fases, inclusive desta dos contratos de risco. E viajávamos, íamos para Brasília. Procurávamos os deputados. Foi uma fase de intensivo. O doutor Barbosa Lima idoso, mas vivia uma fase muito intensiva. Depois fomos procurados pela Frente Parlamentar Nacionalista, que precisava de uma entidade que representasse, que trabalhasse junto à Frente Parlamentar Nacionalista e foi então que foi criado o Movimento em Defesa da Economia Nacional. Sigla: Modecon. Sob a presidência de Barbosa Lima Sobrinho e uma série de vice-presidentes. Eu uma delas, que tive o privilégio de trabalhar junto ao Barbosa Lima. Como eu tive o privilégio de trabalhar na primeira fase junto a Felicíssimo Cardoso. Eu acho que eu contei para vocês. Foi junto com o presidente general Felicíssimo Cardoso. E nós éramos... Toda manhã ele tocava para a nossa casa para saber das notícias. Então eu trabalhei, eu tive esse privilégio, de trabalhar com gente de grande valor. Então era o general Felicíssimo Cardoso que era o presidente do centro e depois o doutor Barbosa Lima Sobrinho. Ele ficou como presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional. Que foi criado a pedido da Frente Parlamentar Nacionalista para terem aqui uma representação. E eu sempre trabalhando junto ao doutor Barbosa Lima, como vice-presidente. Havia várias vice-presidentes, mas eu era, digamos, a vice-presidente executiva. Que trabalhava sempre. Porque doutor Barbosa estava presente sempre a todas as nossas reuniões, que eram semanais. Como era também, no mesmo dia até, nós nos reunimos na comissão contra os contratos de risco, e nas segundas-feiras na ABI. Depois foi criado o Movimento em Defesa da Economia Nacional, o Modecon, continuou a nos reunir nas segundas-feiras na ABI. E nesse período para atender o pedido da Frente Parlamentar Nacionalista. Eu me liguei muito ao doutor Barbosa Lima, então eu era das vice-presidentes a que trabalhava mais junto ao doutor Barbosa Lima. Ele presidia todas as nossas reuniões de trabalho. E até quando ele teve um acidente que quebrou a perna, aí nós íamos até ele.
MODECON
Bom, nós estamos no Modecon, que é a sigla do Movimento em Defesa da Economia Nacional. Com a lamentável perda do doutor Barbosa Lima Sobrinho eu assumi a presidência, me indicaram. É um cargo irrecusável. Até porque eu estava muito integrada em termos de uma equipe que continua trabalhando em geral, nos problemas nacionais em geral, já não é só petróleo. Mas nós estamos fazendo um estudo da parte de petróleo. Eu quero dizer que o Modecon, que é a sigla deste nosso trabalho, dedicou grande parte ao estudo também do petróleo e a defesa, porque era um ponto que é uma conquista do povo brasileiro. Veio com um espírito diferente.
PATRIMÔNIO PÚBLICO
Realmente a Petrobras tem um espírito diferente de qualquer outra empresa, embora qualquer empresa nacional nós devamos preservar com todo o carinho. Mas houve um espírito coletivo, popular que deu um tom de patrimônio público à Petrobras. E esse espírito nós temos procurado preservar. Mas lamentavelmente já começou a ser quebrado esse monopólio. Nós tivemos os contratos de risco. Nós tivemos, quem participou com o entusiasmo que nós participamos dessa campanha, o próprio doutor Barbosa Lima, que também se integrou, nós tivemos um sofrimento muito grande quando começaram a pegar pelas beiradas. Primeiro foi o setor petroquímico, Petrofértil e foram todas as empresas de petróleo mesmo, as multinacionais, esses ramos fazem parte da empresa. E foram tirando os suportes da Petrobras.
RESISTÊNCIA
Agora, a Petrobras, que foi criada com um outro espírito, vem resistindo a todos esses embates e ainda sendo a grande Petrobras que se destaca do consenso das nações. Então nós continuamos não só no Modecon, como junto às outras entidades. Porque o nosso movimento agora, o Modecon, é justamente como ligar as entidades da vida social brasileira e defender todos os pontos que estejam sendo agredidos ou atacados. Já defendemos o lado da Embratel. Já defendemos a questão do seguro. Já defendemos o Loyd Brasileiro. Agora o petróleo sempre nos mereceu muita atenção. E nós temos procurado manter essa defesa até hoje. Mas lamentavelmente as multinacionais não dormem em serviço e conseguiram já quebrar aquela conquista do povo brasileiro. Mas nós ainda estamos lutando, estamos vendo que empresaram todos esses lances para derrubar a Petrobras, mas nós ainda vemos que ela, mesmo já dilapidada, é ainda uma grande empresa. De grande destaque. Com um nome internacional. E ainda um orgulho do povo brasileiro e daqueles que trabalharam para construí-la. Eu me orgulho disto.
VOLTA À FAMÍLIA
Olhe, realmente eu tive que dividir minha vida. Eu tenho um hábito, viu? Eu, quando faço uma coisa eu gosto de fazer bem feita. Não sei se é mau hábito ou não, mas eu sou assim. Eu tenho um lado da minha vida pessoal, particular, privado. Familiar. E o lado exatamente das campanhas cívicas e, tenho o lado profissional. O lado profissional eu levei, houve um período que eu tinha que me dividir muito, porque eram as três frentes funcionando. E eu quando me empenho é para procurar fazer o melhor possível. E no consultório eu não faltava. Não faltava porque o dia inteiro eu trabalhava em psiquiatria, psicoterapia. E o horário não era meu, era dos meus pacientes. Então eu tive que ajeitar a abrir a segunda-feira para ser o dia dos trabalhos lá da ABI, onde nós íamos trabalhar com o doutor Barbosa Lima e a parte cívica. E na parte do consultório, eu quando terminava ia para a ABI. Às vezes não dava, porque eu terminava às 8 horas da noite. Enfim eu consegui, às vezes eu me pergunto como - hoje que eu não tenho mais tempo para nada. Como é que eu consegui? E consegui, viu? Eu não faltava a consultório. Mas realmente chegou um ponto da campanha, no dia que eu fiz 50 anos de formada, foi isso, no dia em que eu completei 50 anos de formada. Eu comemoro sempre no dia 5 de dezembro. Eu disse o seguinte: “50 anos de formada, eu acho que agora eu vou me dedicar mais – a família já precisando ainda um pouco da minha assistência, mas já tinham crescido, os filhos já se casando. Eu digo: “Agora eu posso me atirar mais para a Pátria Amada. Para as campanhas.” Então foi isso que aconteceu. E com 50 anos, quando comemorei 50 anos de formada eu preparei o meu grupo - eu trabalhava em grupos de psicoterapia no consultório. Nunca faltava. E disse a eles: “Olha, eu vou tirar férias.” Mas já fui preparando, já fui encaminhando. Já montei casos novos, sabe como é? Minha filha como psicóloga começou a trabalhar também em terapia na linha dela e eu na minha. Quando eu saí, eu resolvi fechar. É preciso ter coragem. Eu tive. Fechei o consultório e foi uma choradeira geral e aquela coisa. Mas eu disse: “50 anos de exercício profissional, família, pátria e profissão. Agora...” A campanha estava também exigindo muito. Então nessa ocasião eu disse para elas: “Olhe, vamos nos despedir. Eu vou sair de férias.” E encaminhei. Quem quis ficou com a minha filha, que trabalhava no consultório. E digo: “Vocês vão se...” Eu já tinha, encaixei os que ainda precisavam, não recebi essas novas. Fui preparando. Então nesses 50 anos de formada saí de férias e não voltei. Foi um ato meio heróico. Porque é um lado muito importante para mim esse do campo profissional. Eu gostava muito do que eu fazia. Eu fiz um relacionamento muito bom com os meus pacientes. E aí eu pude me dedicar mais ainda ao que é família, mas já crescida. Meus filhos se casando, já tendo sua vida própria. Eu pude me dedicar mais, sem deixar de olhar. E até hoje eu cultivo muito, eu acho a família muito importante para mim. E me dedicar a parte final que foram os contratos de risco e o movimento em defesa da economia nacional.
DEFESA DO BRASIL
Esse brochinho que estou usando é um mapa do Brasil com um nome em cima, porque nossas campanhas nacionalistas, desde o tempo da campanha do petróleo, foram sempre em defesa dos interesses nacionais. É aquele nacionalismo que querem deturpar. Que querem dizer que isso é xenofobia. Não é outro. O próprio. Eu tenho até uma frase - eu vim sem o material -, é uma frase do Artur Bernardes: “Bendito nacionalismo que detém o ...” Ele tem uma frase muito bonita que depois eu dou para vocês. E esse nacionalismo que faz com que nós, que somos um país rico, nós que temos recursos naturais, nós que conseguimos a vitória na campanha do petróleo e que temos a Amazônia cobiçada. Que estamos vendo o cerco, porque já tivemos o imperialismo português, o imperialismo inglês, agora o imperialismo americano. Nós estamos percebendo que eles estão fechando o cerco. Eles começaram pelo Afeganistão, depois foram para o Iraque. O que eles querem? Petróleo. Então vocês vejam, nós da campanha estamos alertas porque sabemos que corremos um grande perigo. E já denunciaram a tríplice fronteira, que na tríplice fronteira haveria - a tríplice fronteira é aqui no Paraguai, Argentina, Uruguai. O americano ele queria justamente nos cercar por todos os lados. E o governo disse que não havia nada de extraordinário. Pesquisou, mas os americanos descobriram que haveria terrorismo na tríplice fronteira e descobriram no sul do Brasil, mandaram prender gente que afinal ficou comprovado que não tinha ligações diretas. E eu tenho até recortes. É uma nova etapa. É uma nova fase mostrando que o próprio governo brasileiro disse que não encontrou terrorismo nenhum, mas interessa ao imperialismo americano, que sempre cobiçou as nossas riquezas e o nosso petróleo. Eles querem fazer o que estão fazendo. Sob qualquer pretexto. Sem pretexto nenhum eles invadiram o Afeganistão, invadiram agora o Iraque, já falaram da Síria, do Irã e na Coréia. Então nós estamos preparados para defender o nosso país. E não sabendo até onde vai a loucura dos que querem as nossas riquezas. Porque é isso que eles querem: as nossas riquezas, o nosso petróleo. E a Amazônia - eles descobriram na Colômbia as Farcs e falaram que estão penetrando pela Amazônia. Então nós temos que ter os olhos voltados para defender exatamente o nosso território, o nosso país. E é o que nós temos feito.
NACIONALISMO
O nosso movimento nacionalista é um nacionalismo sadio, defensivo. Um nacionalismo que não quer permitir que outros países se intrometam na nossa vida. Mas estamos em uma conjuntura adversa, estamos em uma conjuntura muito séria em que temos que estar alerta porque eles já andaram descobrindo terroristas nas fronteiras e tudo isso, quer dizer, já lançaram a semente para se precisarem. E não é nada disso que eles querem. O que querem é a nossa Amazônia, e nós temos feito um grande movimento em defesa da Amazônia. O que eles querem é o resto do nosso petróleo que já abriram. O que eles querem são nossas riquezas. E contra isso nós ainda estamos teimosamente de pé.
A IMPORTÂNCIA DA MEMÓRIA
O que vocês estão realizando? Olhe, eu acho que é da maior importância. Porque veja, a memória nacional às vezes é curta. E é preciso ser reavivada. Eu tenho de confessar que eu não conheço ainda os detalhes. Até gostaria que vocês me esclarecessem. Ficaram de me mandar, mas eu acho que esses e-mails da vida ficam pelos caminhos da vida, até chegar, e eu não recebi. Então eu realmente ainda não pude me enfronhar mais. Mas quando me chamaram eu disse: “Contem comigo, porque para dizer o que foi a campanha do petróleo, para dizer que nós estamos ameaçados.” E nós temos que nos mobilizar. Que a campanha não está encerrada. Ao contrário, eu considero um período muito sério que nós estamos atravessando, quando o imperialismo está lançando suas garras por todo o mundo. E descobre que tem terrorista. Olhe, antigamente era comunista, agora é terrorista. Mudou agora. Que tem terrorista. E já descobriram terroristas nas nossas fronteiras. Então nós temos que estar organizados, preparados, para novamente esclarecer o nosso povo. Que foi sempre a nossa condição esclarecer o povo o porquê dessas loucuras. E mostrar a nossa necessidade de permanecer em pé. De continuar já em outra etapa. Nós tivemos a primeira etapa de campanha do petróleo a dos contratos de risco durante a Constituinte. Estamos na campanha da emancipação nacional. E estamos agora diante da perplexidade que vamos estar acompanhando, preparados, porque eles já lançaram insinuações de nuances que teriam encontrado por aqui. Eu é que agradeço a vocês pelo convite e por relembrar tanta coisa que para mim é da maior importância.
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