Celulares em sala de aula
Por Angelo Beas Fernandes Callou
Reiteradas vezes combinei com meus alunos da universidade a não usar o celular em sala de aula. Explicava o porquê e exemplificava. O celular, quando utilizado inadvertidamente, é uma forma de negação do outro. Em sala de aula, nega o professor e os próprios alunos. Em última instância, nega o ato de ensinar-aprender.
Já vi de tudo: candidato a mestrado atender o celular no meio de uma entrevista coletiva; celular tocar aos primeiros acordes de um concerto (e o maestro solicitar que essas máquinas narcísicas fossem desligadas); amigos e/ou casais em volta de uma mesa a mexer nos celulares; falar alto por meio deles no consultório médico; na casa de um anfitrião. Mais recentemente, quando fui benzer minha garganta no dia de São Brás, um telefone toca no meio da missa. Minha fé, já precária, se sentiu ultrajada.
Acobertados pelos pais, esses jovens narcísicos, que processam professores por dar limites em sala de aula, como pudemos observar na decisão de um juíz, em Sergipe, que julgou improcedente a atitude do aluno, em utilizar o celular em sala de aula para ouvir música, e enaltece o professor por impedir o uso indevido do equipamento.
Esses jovens, ao se tornarem adultos, ultrapassam o sinal vermelho. E matam, literalmente, o outro.
Praia do Pina, Recife, 8 de fevereiro de 2023.