Entrevista de Zenilda José Gomes Rodrigues
Entrevistado por Elisangela Venceslau, Ravenia Vitoria
Santa Cruz do Calvário , 10 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
Entrevista nº MRD 0016
Transcrita por Bruna Alves
(00:00:23) P1: Então, boa tarde, vamos iniciar nossa entrevista, primeiramente eu gostaria de te agradecer. Tá, Zenilda? Por ter aceito nosso convite.
R: Boa tarde, Elisangela.
P1: Espero que seja maravilhoso esse momento.
R: Vai ser uma alegria muito grande participar com você né, que foi minha colega de trabalho né, Ravena aí também, minha colega que nós duas tivemos um parto quase junto, lá no hospital, vai ser uma alegria muito grande participar com vocês disso aí. Tá bom? Vocês já fazem parte da minha família.
P1: Obrigada, vamos começar.
(00:01:01) P2: Boa tarde, espero que esteja tudo bem, conta para nós o seu nome completo.
R: Boa tarde, Ravena, graças a Deus está tudo bem, meu nome completo é Zenilda José Gomes Rodrigues, eu nasci no dia 22 de maio de 1963, sou da comunidade aqui de Merengo mesmo, e eu tenho várias histórias a falar da comunidade.
(00:01:30) P1: Primeiro você ter falado que você não gosta do nome Merengo.
R: É.
P1: Tem algum motivo, por quê que você não gosta desse nome?
R: Não, motivo é assim, em memória do meu avô mesmo, porque logo quando, para você ver como é que são as coisas, Merengo surgiu, Merengo por causa de uma partida de futebol, e nessa partida de futebol né, aqui tinha um time maravilhoso, tinha jogadores bons demais, aqui na comunidade. E sempre tinha torneio de baralho, que é o famoso truco e torneio de futebol. E nesse dia, houve um torneio de futebol, e a turma que veio para cá, não me lembro mais agora qual que foi o time, que naquela época eu era bem pequena, né. Esse time que veio, tinha um boteco na praça, então, o pessoal era de caminhão que vinha, eles pararam para tomar uma pinga ali, e reclamando, porque tinha perdido, mas...
Continuar leituraEntrevista de Zenilda José Gomes Rodrigues
Entrevistado por Elisangela Venceslau, Ravenia Vitoria
Santa Cruz do Calvário , 10 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
Entrevista nº MRD 0016
Transcrita por Bruna Alves
(00:00:23) P1: Então, boa tarde, vamos iniciar nossa entrevista, primeiramente eu gostaria de te agradecer. Tá, Zenilda? Por ter aceito nosso convite.
R: Boa tarde, Elisangela.
P1: Espero que seja maravilhoso esse momento.
R: Vai ser uma alegria muito grande participar com você né, que foi minha colega de trabalho né, Ravena aí também, minha colega que nós duas tivemos um parto quase junto, lá no hospital, vai ser uma alegria muito grande participar com vocês disso aí. Tá bom? Vocês já fazem parte da minha família.
P1: Obrigada, vamos começar.
(00:01:01) P2: Boa tarde, espero que esteja tudo bem, conta para nós o seu nome completo.
R: Boa tarde, Ravena, graças a Deus está tudo bem, meu nome completo é Zenilda José Gomes Rodrigues, eu nasci no dia 22 de maio de 1963, sou da comunidade aqui de Merengo mesmo, e eu tenho várias histórias a falar da comunidade.
(00:01:30) P1: Primeiro você ter falado que você não gosta do nome Merengo.
R: É.
P1: Tem algum motivo, por quê que você não gosta desse nome?
R: Não, motivo é assim, em memória do meu avô mesmo, porque logo quando, para você ver como é que são as coisas, Merengo surgiu, Merengo por causa de uma partida de futebol, e nessa partida de futebol né, aqui tinha um time maravilhoso, tinha jogadores bons demais, aqui na comunidade. E sempre tinha torneio de baralho, que é o famoso truco e torneio de futebol. E nesse dia, houve um torneio de futebol, e a turma que veio para cá, não me lembro mais agora qual que foi o time, que naquela época eu era bem pequena, né. Esse time que veio, tinha um boteco na praça, então, o pessoal era de caminhão que vinha, eles pararam para tomar uma pinga ali, e reclamando, porque tinha perdido, mas não tinha importância ter perdido não, que estava valendo a pena eles terem vindo pro Merengo, porque tinha muita moça bonita aqui, então deu apelido aqui, começou a chamar “cambada de merengada, fica por aí cambada de merengada” né, as moças que eram merengue né, e por isso que nasceu o nome de Merengo. Mas, eu não gosto do nome de Merengo, porque, pelo próprio meu avô: ”Não pode falar Merengo, minha filha, é Patrimônio, Patrimônio de São José“. Que nessa época era Patrimônio de São José, não era ainda o Sagrado coração de Jesus, porque, é… Os São José, era uma imagem de madeira que tinha na casa do meu avô, e ela foi roubada, só que era uma imagem muito bonita, o oratório tinha uma moldura de madeira muito bonita também, e com essa imagem, faziam aquelas rezas do mês de março, né, de São José, que iam os andores para as fazendas vizinhas, para as casas, e essa imagem foi roubada.
Apareceu na casa do meu avô um santeiro, chamado seu Tarcísio, e seu Tarcísio viu a imagem, achou muito bonita né, o pessoal antigo era simples, né, e falou assim “O seu Hilário, mas que imagem bonita, mas o senhor podia deixar eu levar esse São José”. Porque o São José o vovô queria que tivesse uma imagem de madeira do São José maior, né, e imagem para colocar logo para ser o padroeiro, para colocar na frente lá, tinha que ser maior. O meu avô concordou com a ideia,o santeiro levou a imagem, e nunca mais trouxe, então ficou um bom tempo sem a imagem do São José, porque estava esperando chegar a imagem, que o santeiro ia trazer a imagem para o meu avô, como ela nunca mais apareceu, o Padre, achando ruim ficar a igreja sem uma imagem, trouxe o sagrado coração de Jesus, e então o sagrado coração de Jesus ficou sendo até hoje, mas antes o meu avô: “É Patrimônio de São José“. Porque o terreno foi dado para São José, a mãe do meu avô que doou um terreno né, que era para construir uma igreja, para colocar a imagem de São José
(00:05:02) P1: Naquela época, sempre essas terras eram doadas por alguém da comunidade?
R: Eram doadas, isso, então foi doado o terreno para construir a igreja do São José, mas o padre achando que a igreja não poderia ficar num lugar sozinho, isolado, então ele tinha que doar uma parte a mais do terreno para fazer um povoado. E aí foi feito um povoado, foi loteado e vendeu, não sei como era vendido na época né, mas de acordo com o padre, eram vendidos os lotes, e aí formou-se a comunidade Sagrado Coração de Jesus, que era o antigo São José, hoje passou a Sagrado Coração de Jesus , e popularmente Merengo.
(00:05:50) P2: Zenilda, você falou do seu avô, qual era o nome dele?
R: Meu avô era Hilário Napoleão Firmino.
(00:05:57) P2: E o que você lembra dessa casa dele, como ela era?
R: A casa do meu avô? Meu avô praticamente morava conosco né, mas ele morava numa casa de sapé, ele almoçava, jantava, tomava café na casa, mas tinha a casa de sapé, que era dele. E era um senhor muito religioso, era uma liderança né, meu avô era uma liderança na comunidade, tudo que acontecia no Merengo tinha que falar com o seu Hilário. Antigamente saíam muitos andarilhos, e a gente falava: “Nossa, passou um homem doido“, assim que a gente falava, né: “Passou um homem doido no Merengo hoje, fecha a porta, cuidado né, que tá andando gente doida aí”.
Então, às vezes, qualquer pessoa que chegava aqui, pedia um local para dormir, aí o pessoal falava: “Lá em cima, lá onde que é a porteira ,lá na casa do seu Hilario”, então a pessoa ia para lá.
P2: A identificação, né…
R: Aí chegava lá pedia comida, a minha mãe que dava comida, e aí: “A seu Hilário, queria um lugar para mim dormir, será que é possível?”. Então, às vezes na casa, nossa casa era pequena né, e junto com ele também não colocava, então colocava até no paiol, né.
(00:07:15) P1: Eles sempre moraram aqui, os seus avós?
R: Sempre moraram aqui meus avós, do lado dos meus pais, meus avós do lado da minha mãe era do córrego da oncinha, naquele local ali onde que Zé Dor .. Por isso que nós somos parentes de Zé Dor, Antonio Salvador, né… Isso, era de lá, isso, o Vicente Moreira morava lá.
(00:07:44) P1: Continuando no ciclo familiar, Zenilda, você tem irmãos? Se sim, quantos?
R: Eu tenho oito irmãos e sou a quarta dos meus irmãos, eu sou a quarta não, eu sou a.. Esqueci, que eu perdi... sabe, mas eu sou a quarta mesmo, aham. Maria da Conceição, minha irmã mais velha, Zenita do Santos Gomes, depois vem José Rodrigo, que tem apelido de Zezinho, depois sou eu Zenilda, depois tem Zilda, tem Ivanildo, Adeir e Oscelino, nós somos oito.
(00:08:25) P1: E eles sempre moraram aqui?
R: Sempre moravam aqui, trabalhavam, trabalhavam todos na roça, é tanto que hoje eu fico preocupada assim, meus filhos foram embora cedo, e eu acabei ficando sozinha, só que na minha casa, a maioria dos meus irmãos foram embora assim, tudo depois de 20 anos, né.
(00:08:48) P1: Por que você acha que eles foram embora?
R: Foram embora por causa, a procura de emprego, de vida melhor, né, conseguir um emprego, uma vida melhor, por tanto eu tenho um irmão que está nos Estados Unidos, tem uns 20 anos que ele está lá.
(00:09:05) P1: Quando vocês, assim, eram mais novos, como era a vida de vocês?
R: A nossa vida era assim, muito sacrifício, mas a gente era muito feliz, família boa, muita união em casa. Gente, era incrível, a minha família era incrível, a minha mãe, meus pais, meus avós. Hoje, as vezes, quando eu conto alguma coisa assim da minha mãe, tem gente que fala assim: “Nossa Roxa, mas do jeito que você fala assim me dá até vontade de ter conhecido a sua mãe”.
(00:09:37) P1: Você lembra alguma coisa dela que você possa contar para a gente?
R: Me lembro muito, minha mãe era costureira, minha mãe era dona de casa, minha mãe trabalhava na roça, minha mãe enfeitava quarto de noiva, minha mãe cuidava da igreja, minha mãe cuidava da roupa do padre, minha mãe se apresentava na igreja, minha mãe cantava ladainha em latim, que eu achava lindo, maravilhoso, né. Que mãe era coordenadora das rezas que tinham aqui, quando o padre vinha para celebrar, ele almoçava na nossa casa, quando ele vinha para dormir, juntava-se todo mundo em um quarto só, e o padre tinha o quarto, a caminha, só para o padre, né. Primeiro as visitas, depois os de casa, só que não deve ser assim, né gente, primeiro os de casa, né? Eu aprendi isso depois.
(00:10:30) P1: Mas a realidade nossa, né, toda…
R: É, na realidade de antigamente era isso, primeiro as visitas, os de casa vão comer depois, o que tinha de pior era pros de casa.
(00:10:45) P2: E o seu pai, o que ele fazia?
R: Meu pai trabalhava na roça também. Plantava milho, feijão, a gente tinha lavoura de café. Na época do meu avô, nós tínhamos engenho, fazia rapadura, né, cortava cana, tinha junta de boi para puxar o engenho, era isso…
P1: Todo mundo ajudando…
R: Todo mundo ajudando, a criançada toda trabalhava, mas cada um tinha uma rotina né. Os meninos, levantar, já tinha determinado as semanas, como era muita gente em casa, nós éramos 4 mulheres em casa, as mais novas não tinha ainda aqui dever de troca de semana não, mas as mais velhas tinham. A semana começava na segunda-feira, não começava no domingo não, aí segunda, terça, quarta, quinta, sexta até domingo, por exemplo, era a semana da Maria da Conceição, Cotinha, aí naquela semana era ela que fazia almoço a semana inteira, era ela que tinha que coordenar para buscar água na mina, que a gente não tinha água encanada, não tinha água em casa.
P1: As tarefas eram divididas?
R: Isso, e se tivesse que torrar café, socar arroz, a gente tinha isso, socar café para torrar, socar arroz no pilão, era daquela dona daquela semana. E não adiantava nem se namorado chegasse lá, antigamente era assim, o namorado ia na casa da gente, né, aí a gente se arrumava, ia lá para a sala, sentava né, e se tivesse na hora de fazer o café, se não tivesse pó de café lá na cozinha, minha mãe tirava a gente pra ir torrar o café, ou as vezes o café estava torrado, mas a gente socava no pilão né. “Não minha filha, vem socar o café.”, Ou mãe né, “Não senhora, a semana é sua “. Aí minha mãe ia para sala, fazia sala pro namorado, chegava lá ficava contando caso, com o namorado e a gente ia lá para cozinha socar o café, e socava, aí lavava a mão “O mãe, já soquei”, aí mãe ia, fazia o café, depois… “Fulana, serve um café pro fulano aí… Sabe? Se passa de 10 horas também “Pergunta pro fulano se vai querer que arrume a cama para ele, você vai dormir aqui hoje?”. Era assim.
P1: Não podia passar a hora, tinha hora determinada?
R: Isso, e assim era, e as crianças tinham, os meninos tinham… A gente tinha cabrito, tinha que todos os dias de manhã, já tinha a semana também trocada né, semana inteira, nas cabritas… Mas tarde os meninos iam para a roça, talvez nós, e nós que estivéssemos em casa, a gente ia, tinha o horário da água. “Cabrita tá berrando lá no pasto, tem que dar água pros cabritos”. E era assim, tinha porco, tinha galinha né, colher os ovos, molhar a horta, buscar lenha… A gente buscava lenha também, a tarde, e eu, por exemplo, eu tinha o Nem, Dede e Celinho, esses meninos, tinha um tal de André. André foi filho daquela, … Da irmã de Belica, Matinha, que morou na casa da tia Matilde, né, ele veio do Rio de Janeiro e morou conosco uns tempos, não sei porque, aí depois nunca mais vi esse menino. Então, era eu que dava banho nesses meninos, toda tarde da banho nos meninos, ou aqueles que já estavam maiorzinhos, banho de bacia né, tinha que colocar a água para esquentar, e preparava o banho dos meninos, aqueles que eram maiores, eles mesmos tomavam banho sozinhos, e aqueles menores eu dava banho. A roupa desses meninos, todos os dias tinha que ser lavada, então todo dia, que a gente não tinha muita roupa, as crianças não tinham muita roupa, né? Então, todos os dias levantava, a primeira coisa buscar água na mina, depois pegar roupa, lavar roupa daqueles meninos, e se tivesse faltando um botão, um elástico, um furadinho, não colocasse. Short furado “não coloca short furado no seu irmão não, eu te ensinei isso menina?” Né, aí tirava, se tivesse mal lavado também: “Eu vou esfregar essa roupa na sua cara qualquer hora, lava direito. Então, se tivesse rasgada, não podia vestir roupa nos meninos furada, short caindo, menino tá andando e segurando short de um lado, nada disso né, então eu tinha que colocar elástico, se tivesse. Mãe costurava, e mãe me ensinava a remendar, se precisasse de remendo, aí mostrava lá: “Corta um pedacinho de pano, você ponha aqui”. E tem que costurar na mão, que não sabia na máquina ainda, mas tinha que ser feito.
(00:15 :26) P: E no tempo livre de vocês, o que vocês faziam?
R: Aí, eu brincava demais, misericórdia, pensa numa pessoa que gosta de brincar de boneca e brincar de casinha, até hoje, se eu encontrar alguém,eu brinco. Gosto de brincar de boneca, eu gosto de brincar de casinha, e eu gostava muito de brincar de casinha.
(00:15:44) P1: Essas brincadeiras, eram só na sua casa, ou eram com os colegas?
R: Essas brincadeiras mais era lá em casa, quando a gente tinha, eu, Zilda, tinha minha prima que morava perto, minha mãe não liberava a gente assim, muito para ir para a casa dos outros não, agora os outros poderiam ir lá em casa, né. Isso, mas era em casa mesmo, a gente brincava de casinha, dia de domingo tinha o campo, a gente ia no campo, mas eu não gostava muito de ir no campo não. Eu brincava até sozinha mesmo, Zilda, ela na hora que via as meninas mais velhas, se arrumando para ir pro campo, ela ia lá na bica, e jogava uma água nas pernas assim, nem tomava banho nada, e ia.
(00:16:23) P1: Mas esses brinquedos, como que eram comprados, ou vocês que faziam?
R: Nossa, brinquedo era tudo que a gente pegava lá no lixo, era latinha de massa de tomate, de sardinha, um vidro bonitinho que a gente encontrasse, qualquer lata velha que a gente encontrasse, qualquer coisa bonitinha que a gente encontrasse né, era brinquedo para nós. Então a gente colocava e fazia aquelas prateleiras, um papel bonito, um papel de presente, as vezes a gente ganhava um presente, né. Aquele papel era pra forrar ali a mesinha, a gente preparava aquele local da brincadeira, onde que a gente… As vezes era embaixo de uma árvore, atrás da casa, a gente cortava vassoura de ramo, varria aquela lugar bonitinho, a gente fazia como se fosse uma casa mesmo da gente, as bonecas que a gente não, eu não tinha boneca, mas eu me contentava com que tinha, boneca de sabugo né, eu tinha minhas várias bonecas de sabugo, que a gente, nós éramos muitas, então não tinha como comprar, e como a minha mãe era costureira ela fez uma boneca de pano para mim, muito feia. Só a Zenita minha irmã que ganhou uma boneca de… Eu não sei de quem, eu só sei que um dia minha mãe foi buscar lenha, e eu resolvi dar um banho naquela boneca, e a boneca começou a derreter, sabe? Não sei se ela era de massa, só sei que aí colocava no sol, quanto mais no sol ficava,mais ela melava…
P1: Acabou com a boneca…
R… Acabou com a boneca, mas nossa Deus, era uma boneca que minha irmã tinha que a madrinha deu, né. E eu era doida pela aquela boneca dela, só ela que tinha, porque a madrinha deu, e eu não tinha, eu tinha uma boneca de pano, né.. A Duruta, nome dela era Duruta, e as bonecas de sabugo que a gente né. E eu me lembro que aqui na comunidade, tinha uma senhora, até já faleceu, mas os filhos dela estão aí, minha mãe costurava, e ela gostava muito de roupa assim, tecido bem colorido, e ela só usava conjunto, ela sempre usava blusa, saia e blusa, e na hora que mãe estava costurando, aí eu vi aquele pano bonito, qualquer tirinha que tivesse ali, eu juntava para mim, e depois eu vestia a minha boneca de pano, e falava assim: “Essa daqui é dona Maria”.
(00:18:40) P1: A sua tinha nome?
R: Tinha não, e eu vestia, colocava blusinha né, naquele sabugo, que eu fazia uma coisinha para colocar, como se fosse um paninho na cabeça, que o pessoal sempre usou pano na cabeça, então fazia aquele, tipo um lencinho na cabeça, amarrava, né. Assim, minha boneca, né, e aí a gente brincava, fazia caminha dela ali, qualquer caixa de sapato, qualquer coisa velha a gente juntava lá.
(00:19:07) P1: Você tem alguma coisa que marcou sua infância?
R: As brincadeiras né, brincadeira de gangorra, queimada, pique esconde, a gente brincava muito disso, de jogo de peteca, peteca a gente brincou até depois, até mais velho a gente brincava de jogar peteca, era muito bom. E essas brincadeiras que marcaram muito. De casinha, eu gosto até hoje, marcou e marca, o dia que você quiser ir lá em casa para nós brincarmos de boneca, a gente brinca também. É tanto que eu gosto, eu tenho assim, não é minha não, as bonecas de Adeis, as bonecas de Adeis estão lá em casa até hoje, aí todos os meninos que chegam lá em casa eu tenho prazer, quando a minha neta, eu tenho uma neta né, quando a minha neta chega ela: “Vai brincar vovó? Vem brincar comigo vovó”. E eu vou, brinco, sento no chão, forro paninho, sabe? Quanto as meninas do Paulo Júnior também vem, aí eu chamo um tantão de menina lá para casa, nó vamos brincar, eu vou brincar de boneca, aí eu brinco um pouquinho de boneca,aí depois “Agora eu vou contar uma história para vocês”, aí que conto história, pego livrinho de historinha, ou então eu conto assim, sabe? Eu gosto muito de contar para minha, para essas meninas… Eu gosto muito de contar história da dona baratinha né, aí eles ficam, sabe? Sabe aquela atenção que menino da? “Conta mais vovó “, quando termina, “Acabou?”. Tem a história da dona formiguinha, né, aí eu conto “Você sabe por que que tem, a formiga tem a bunda assim grande, a cintura bem fininha? “. “Não, não sei vovó “. “A então, vou contar para vocês o porquê que aquela formiga ficou desse jeito”. Aí eu conto a história né, da dona formiga, que tinha uma filha muito levada, aí eu falo assim: “Igual você, Valentina, e um dia a mãe dela saiu para fazer compra no mercado, deixou ela em casa e pediu que ela não fosse na horta do vizinho cortar as couves, e ela foi, só que depois quando a mãe dela chegou, atrás da porta tinha tantas folhas, mas era muita folha, muita folha, Valentina”, “E aí vovó, o que que ela fez?” “Sabe o que ela fez? Então dona formiga mãe, arrumou uma corda e amarrou bem apertada na cintura da formiguinha, e amarrou no pé da mesa, então de tanto ela esticar, foi esticando para soltar, a bunda dela foi crescendo e inchou daquele jeito, e é por isso que a formiga tem a bunda grande, e a cintura fininha,” “A vovó, pelo amor de Deus, era isso”, Aí termina: “Conta mais vovó, conta mais “. Aí Deu.
(00:22:03) P2: Por falar em história, quando você era menor, era criança, tinha alguém que contava histórias para você?
R: Tinha, tinha minha mãe mesmo, contava muitas histórias para nós, que minha mãe trabalhava… Eu assim, tenho uma admiração, não é porque era minha mãe também, sei lá né, era uma mulher muito sábia, minha mãe era uma mulher muito sábia, porque a minha mãe trabalhava o dia inteiro na roça, chegava em casa, ainda tinha o prazer de cuidar das coisas de casa, e dar ensinamento para a gente. Ensinava a rezar, e a noite, lá em casa, nunca era lamparina. Era luz de querosene, deu a noite todo mundo caça um jeito de dormir, não lá em casa não acontecia isso, ficava todo mundo em volta igual a galinha choca, com seus pintinhos ali em volta, a gente ficava ali em volta e mãe contava várias histórias para gente, várias coisas, ensinava a rezar, contava história, contava casos antigos, dos negos escravos, que tinha pessoas né, a gente é descendente dos escravos também, e a minha mãe… Me perdi aí um pouco.
P1: Da história que sua mãe contava…
R: Isso, então a minha mãe que contava várias histórias para gente né, ficava ali a noite, e ela mesmo que contava história, e meu tio, meu avô Hilário também contava história quando ele estava de bom humor, o meu tio Reis, que era nosso Deus, né, contava várias histórias, e era isso.
(00:23:37) P1:Mas vocês sempre moraram aqui?
R: Sempre moramos aqui.
P1: Nunca…
R: Não, eu só sai quando eu fui estudar né, que primeira à quarta série fiz aqui no Merengo, depois eu fui para Santa Cruz, né, e do quinto ao, naquela época até o oitavo ano, até a oitava série.
P1: Oitava série…
R: Aí depois eu fui Ponte Nova, mas assim, ficava... Em Santa Cruz eu ficava durante a semana, dia de sexta-feira o papai me buscava de cavalo eu vinha e era assim direto, depois…
(00:24:11) P1: Naquela época não tinha transporte, né?
R: Não tinha transporte, papai me buscava a cavalo, então eu vinha na garupa do cavalo, depois né, a situação melhorou um pouquinho, ele comprou uma charrete né, para me buscar em Santa Cruz e aí “Não, tenho que comprar uma charrete minha filha tá estudando”. Aí comprou uma charrete, aí ele me buscava todo final de semana.
(00:24:35) P1: Aí nessa época você estudava, você se formou, no caso, nessa época em Ponte Nova?
R: É, em ponte nova, né, fiz até a oitava série em Santa Cruz, depois fui para Fonte Nova né, fui para escola Nossa Senhora das Dores, depois da escola Nossa Senhora das Dores, porque eu trabalhava em casa de família né, era um colégio muito bom, era não, é um colégio muito bom, mas era assim, situação… Era muito caro né, era muito caro aquele colégio, se bem que eu ganhei metade de bolsa, foi aquele Luiz de … Que me deu, mas depois eu sai da escola normal e fui para aquela perto da rodoviária, como é que chama? Esqueci, como é que chama, Denise? Perto da rodoviária nova, aquele colégio ali. Fonseca, esqueci… Aí esqueci o nome do colégio que eu fui para lá, e lá eu formei.
(00:25:36) P: Aí você formou e continuou lá, ou voltou?
R: Não, eu formei em 86, eu voltei em 87, em 87 eu já vim trabalhar, aí eu trabalhava lá no córrego novo, e trabalhava aqui, no Merengo.
(00:25:48) P1: Então já funcionavam as duas escolas nessa época?
R: Funcionavam as duas escolas nessa época, aqui primeiro em 87, minha primeira turma foi uma turma de segundo ano, e lá no Córrego Novo foi uma turma de um prezinho. A turma de segundo ano aqui no ano que eu formei, eu tinha 38 alunos, todos, a maioria deles, todos eram repetentes, era tudo menino grande, é, e ninguém queria mais aqueles meninos, então entregou pra mim né, recém formada, né, estava chegando, mas não tinha turma melhor. Era uma turma que eu tenho saudade daqueles meninos até hoje, porque eles eram carinhosos, eu também, era como se eu fosse uma criança no meio deles, chegava a hora do recreio, era nessa escola aqui, só que era outro prédio, só tinha duas salas, então essa parte de lá, era um quintal enorme que tinha umas bananeiras, então tinha um espaço muito grande que a gente podia jogar queimada, e os meninos adoravam jogar queimada, jogar belisco, e, tudo isso eu gostava de fazer, né, jogar queimada, então tirava o sapato e ia para lá para a terra, depois ia para sala de aula todo mundo suado, todo mundo sujo sabe, mas era bom demais, muito bom, e eu tenho saudade até hoje dessa turma.
(00:27:14) P1: Essa escola lá do Córrego Novo, você lembra como que era essa escola?
R: É, no início, essa escola, eu não cheguei a estudar lá, cheguei a trabalhar. Minhas irmãs mais velhas, estudavam lá, levantavam, saiam de casa o que, umas 5 horas da manhã né, minha mãe fazia um mexido para elas, que não tinha merenda, e elas iam estudar lá, só que a escola não é num local, era numa casa, eu não cheguei a conhecer essa casa, uma fazenda antiga… Fazenda de... Não vou lembrar o nome do homem mais não, sabe, era uma antiga fazenda, não vou mais lembrar mas o nome do homem não, mas eu nem cheguei a ir lá, existe essa casa ainda. Mas, a escola onde eu trabalhei, era uma casa de tábua, era um paiol de tábua, depois que eu estava lá, mais de 2 anos, que veio construir uma escola nova, e construiu essa escola nova, estadual, só que depois essa escola, ela municipalizou e eu ainda estava lá, eu saí de lá em 94, até 94 eu trabalhei lá. Que antes era a Ninha do Zé que trabalhava lá, deu aula aqui, e deu aula para mim também né, e ela levava a gente para jogar queimada com a turma de lá, era muito bom também, a gente ia, saia todo mundo cedo, ia a pé, passava, entrava na cachoeira, chegava lá ia brincar com os meninos de lá, e disputava, a gente disputava a queimada com a turma de lá.
(00:28:50) P1: Já que você fala, Ninha, né? Foi sua professora?
R: Foi minha professora.
P1: Você tem alguma lembrança dela assim, como sua professora na sua infância?
R: Tenho, ela era muito brava né, mas eu a amo demais, eu sei que ela as vezes puxava as orelhas, dava umas varadas, mas eu tenho maior admiração por ela, uma professora e tanto, aquela pessoa que você, dentro da sala de aula, você aprendia mesmo. Eu aprendi muito com ela, e foi através dela que eu estudei, que eu sou de uma família de 8 irmãos, somente eu estudei, né, eu estudei na idade mais nova, somente eu estudei, depois que as meninas estudaram. Mas, minha mãe não tinha condições de comprar livros para mim, e ela prometeu que os primeiros livros ela ia dar, e foi assim ela me deu mesmo, os livros, ficava na casa da minha madrinha lá em Santa Cruz também, que também ajudava muito, depois até a oitava série, quando tirei a oitava série eu vim para casa, vim para o Merengo, fazer o que? Capinar roça né, aí fui lá, não queria estudar mais não, já estava mocinha, interessada em alguém né. Falei assim “Não, eu não vou sair daqui não, quero ficar aqui mesmo” . Aí um dia a tarde a minha madrinha apareceu lá na minha casa, na casa da minha mãe, porque ela tinha olhado uma casa para eu ficar lá em Ponte Nova, ”Não, ela vai trabalhar lá e ela vai estudar, mas ela tirou a oitava série para vim capinar roça, não, não pode”. E eu já estava lá, então ela desceu, foi até lá na beira do rio, a gente trabalhava na beira do rio né, e eu estava lá, com a calça comprida, meu sapato velho, capinando, num poeirão, fazendo terra de feijão, era mês de janeiro, de fevereiro, essas épocas agora né, um sol quente, falou assim: “O minha filha, mas é isso que você quer “. “A dindinha está muito bom”. E assim, e a gente fica animada, porque era várias moças trabalhando, um monte de gente, a gente trabalhava, a gente era feliz, a gente era alegre assim mesmo, chegava em casa caçado, tomava banho, no outro dia a mesma coisa, mas a gente era feliz, então ela falou: “Não, não, você não vai ficar aqui, eu vou te levar para estudar”. Então, eu resolvi ir, fui, por isso eu estou aqui, né, graças a Deus, agradeço a minha madrinha Jacira né, que hoje eu tenho uma aposentadoria, graças a ela, o maior presente que ela me deu, aquilo que eu conquistei, que ninguém pode tomar, mas que foi com o apoio dela, e da dona Ninha, Nazare Ferraz, Nazare né, Nazare Ferraz, que antes ela morava na minha casa também, dona Ninha morou lá em casa 6 anos, quando ela lecionava aqui, e lecionava no Córrego Novo, ela morava lá em casa.
P1: Já tinha aquela intimidade…
R: Todas as professoras que vinham aqui para lecionar aqui no Merengo, morava na nossa casa.
(00:32:00) P1: Aí você fala né, que você trabalhava, já pensava em namorado, e como que foi essa época dos namorados?
R: Era uma época assim, minha mãe era muito rígida, né, meu pai também, então eu não tive vários namorados não, não tive muitos namorados não, e depois que eu fui para Ponte nova ainda, aí ficou pior ainda, porque eu fui para a casa da Dona Lindalva, trabalhava na casa de família, mas era como se fosse a minha casa também, só podia sair com a permissão dela, se falasse não podia ir, não vai mesmo não, senão eu vou contar para sua mãe, e eu morria de medo de contar para minha mãe né, então não saia não. Então, lá eu nem arrumava namorado não, só no final de semana quando eu vinha para casa. E você sabe, antigamente, acontecia muito os forró na casa das famílias, né, então eu gostava de vir para isso, que a gente gostava de dançar também, mas era um namoradinho aqui e ali tudo, mas era coisa passageira.
(00:33:04) P1: Quem eram os seus amigos, assim, aqui na juventude, assim, tinha muitos amigos?
R: Bom, a gente considerava, mas assim, mais as irmãs mesmo, as irmãs, as primas, né. A Marli,Aparecida, aquela que já morreu, era mais assim, família, que aqui nós somos assim, a família, a minha família estava praticamente todos aqui, né, então a amizade era entre as primas.
(00:33:38) P1: É que na verdade, no Merengo, é praticamente uma família, né? Todo mundo é parente, né?
R: É, isso mesmo.
P1: Então, já ficava aquele laço entre vocês mesmo, né?
R: É, nós mesmos entre a família de Dona, mãe do Angelito, Angelito também foi meu colega de escola, né, as meninas, o pessoal de dona Luzia, era esse povo aí, muitos já não estão aqui mais, já foram embora, outros já até morreram.
(00:34:11) P2: E você falou desse forrós, nas casas, como que era?
R: A esses forrós nas casas eram assim, com sanfona né, geralmente a sanfona, pandeiro, violão né, e tinha ali uma pessoa, tinha aqueles que gostavam de cantar, se não tinha instrumento pegava lá umas tampas de panela, né, umas colheres, né Elisangela? Pega colher, os instrumentos eram assim, e ali tinha lamparina de querosene né, no quintal, no quintal da casa, e lá fazia o forró, era convidado né, por exemplo, se a Elisangela fizesse um forró na casa dela, e ela me convidasse, ou convidasse a minha família, tinha que convidar a família, então a minha mãe ia e me levava, a mãe ia e levava as filhas, não tinha nada de “Aí, vou convidar aquela moça lá”. Não tinha nada disso não, tinha que convidar a família.
(00:35:03) P1: Mas e aí, vocês iam para esses forrós, vocês dançavam?
R: Íamos, dançávamos, nossa Deus, o forró que a gente tivesse, minha filha, era até as 6 da manhã, era muito bom.
(00:35:17) P2: Você lembra de alguma música que marcou assim, esses forrós, para você?
R: Eu lembro de Carlinhos de Madalena, você lembra Elisangela de Carlinhos?
P1: Lembro
R: Carlinhos gostava muito de cantar, e que me foge, sabe da memória, não vou me lembrar não, mas assim, veio na minha mente, mas não lembro não, sabe? Não vou. Eu sei, sabe? Tem aquela “dama de vermelho” era uma que ele cantava, tinha uma outra, gente, era uma, era até uma valsa, mas pensa numa pessoa que cantava, e era lindo Carlinhos de Madalena cantando essa música, até a Terezinha… um dia comentou lá em casa: “Você lembra Roxa…”. Eu falei: “O tereza, eu lembro”. É, mas agora não me vem a memória não.
(00:36:14) P1: Mas vocês iam pro forró?
R: Íamos, participamos, tinha... Quando não era sanfona tinha aqueles toca disco, aqueles discos de vinil. Aqui tinha um rapaz, não me lembro… Ele tinha uma carvoaria, lá no córrego da oncinha, esse rapaz era desconhecido aqui na comunidade, mas eles vinham, queimava carvão, e ele tinha um toca disco. Sabe aquela caixa assim que tem a tampa bonitinha? Então, ele era um dos convidados principais, era um dos principais né. Convidava as famílias, mas tinha que convidar o dono do som né. Aí ele ia, toca disco a pilha ainda, aí levava esse toca disco, colocava lá na mesa, bonitinho, aí o dono do som ficava por ali, para ir trocando as músicas. Aí tinha muita música de Amado Batista, tinha muito, era o que rolava mais era Amado Batista.
(00:37:13) P1: Que era só, na época, o forró mesmo né?
R: Era, era isso, era João Mineiro e Marciano, Milionário e José Rico, isso aí.
P1: Que realmente o povo dançava...
R: É, o pessoal dançava mesmo, o pessoal participava mesmo, com gosto, né. E a gente ia também no forró para dançar, e na minha família, por exemplo, não podia chegar e. mesmo que você estivesse interessado em alguém, não tinha nada de ficar no canto ali conversando com alguém, algum rapaz que tivesse interessado não. Tivesse ali, passou uma música eu to ali, passou duas músicas, eu to ali encostada, minha mãe chegava e falava assim: “Você tá com vontade de ir embora?” “A não mãe,” “Eu acho que tá, porque eu trouxe vocês aqui é pra dançar, não é para segurar parede de ninguém não”.
(00:37:57) P1: Então tinha que ir, mas tinha que participar?
R: Aí tinha que dançar, e tinha que dançar com todo mundo, por mais que você tivesse interessado numa pessoa assim, né, você: “Não, vou dançar com fulano agora, depois eu danço com você tal, mas eu não posso ficar parado aqui se não minha mãe chama para ir embora”. E assim a gente ia enrolando, enrolava a minha mãe né, para ficar a noite toda, aí ia lá, tomava um café “O mãe, a senhora não quer sentar um cadinho não?” Aí minha mãe também arrumava um cavalheiro lá, e começava a dançar. Se tivesse dançando muito perto do, né… “Que isso, minha filha? Você não pode dançar com os outros não, parece que você tá casada com fulano”. Aí Deus.
(00:38:41) P1: Aí você já falou, você casou, teve seus filhos, já deu aula, aposentou. E hoje?
R: É, hoje eu tô sozinha lá em casa, com Deus, cuidando.. Levando a minha vida, né. Tento trazer muita coisa para comunidade, tento levantar a comunidade, que a nossa comunidade praticamente está muito desleixada, abandonada, então depois que veio esse rejeito aí da, dessa barragem da San Marco, então o Merengo… Muitas pessoas do Merengo sumiram, que aqui também acontecia, tinha muitas pessoas que vinham de fora para cá, né, vinham para pescar, acampavam ali encima no rebojo, acampavam na cachoeira, todo movimento que a gente tinha aqui, vinham pessoas, então isso trouxe uma situação muito ruim para nós. Isso deprimiu a comunidade, e com essa história de uns receber e outros não, isso também trouxe desavença. Porque esse rio para nós, ele é um cartão postal, né, e aí você vê que naquele dia, quando estava descendo, aquela barraria no rio, que eu saí, nós estávamos aqui nessa escola.
P1: Eu tava com você no dia.
R: Você estava aqui, né?
P1: Tava
R: Que descendo aquele tanto de barro, a gente não sabia da situação que era, mas depois quando a gente ficou sabendo da gravidade da situação que a gente viu, que a gente estava perdendo um bem assim, precioso demais. Que ia embora, e que nunca mais vai voltar, que esse rio nunca mais, né, porque acabou aquela situação de você ir à beira do rio, a tarde, nós íamos muito, na época dos meus pais , quando eles trabalhavam lá na beira do rio, a tardezinha, já ia para roça, ou já levava o anzol, ou então na hora do café da tarde, “O traz (o papai) arranca minhoca lá, e traz os anzóis para pescar”. Ainda mais quando estava aproximando da época da quaresma assim, de acordo com as tradições religiosas, o católico geralmente não come carne, né? Então, a tardezinha o papai queria ir pescar, as vezes a gente ficava lá pescando também. E agora você não tem mais isso, tem uma época que dá muita areia na beira do rio, a gente ia de tarde, ficava ali com o anzol pescando lambari.
Acabou isso, agora ninguém nem pode chegar lá perto, então isso é muito triste mesmo. Isso trouxe assim, uma tristeza muito grande para muitas pessoas, o meu falecido esposo mesmo, quando veio aquela lema, Carlos, ele vivia, ele vivia nesse rio pescando, acampava, vinha gente de outros locais, até morreu, aquele senhor que morreu era de... Não era de Viçosa não, de... A, eu esqueci de onde, então ele morreu lá na… E Carlos estava acampado com esse pessoal, né, e o senhor morreu lá. Então, isso trouxe uma tristeza muito grande para ele, que ele parou de ir no rio, ele morreu de câncer no pulmão, mas ele já estava, com isso ele ficou muito dentro de casa e se deprimiu, e agravou mais a situação, e muitos outros, aconteceu muita coisa.
P1: Era a vivência dele…
R: Era a vivência, perdeu, perdeu aquele direito, aquele direito de ir e vir lá no rio, nem ir lá pode ir mais, pescar? Pior ainda. Comer peixe? Nem pensar.
(00:42:43) P1: Aí quando você fala das festividades, nós falamos do sagrado coração de Jesus, tinha outras festas aqui também, não tinha?
R: Tinha, tinha outras festas, muito, muito tempo atrás, na época do meu avô, o pai da minha mãe, meu avô Vicente Moreira, ele tinha a dança de Caboclo, que até hoje eu não entendo direito, né, eu já pesquisei sobre essa dança, mas era uma espécie de um desafio que tinha. Os versos, é um desfio, é aquilo que você canta, igual àquela. É desafio mesmo, que eles falam, repente, né.
(00:43:18) P1: Você lembra algum desses versos, não?
R: É, eu lembro alguns, então tinha aquela, isso era uma dança… Aí tinha a dança da fita, que muitos, acontecia isso, entre os negros escravos, os índios, né. É tanto que as vestes que eles usavam, tinha a ver com os índios né, era aquiles cocares, com espelho, penas das aves né, o cabelo era tirava embira de uma planta chamada malvarisco, e colocava-se dentro da água, numa água, dentro de um balio, ficava ali de molho, muitos dias, e aquilo, ia amaciando aquela casca, depois que soltava aquela casca, eles pegavam um pente para limpar aquilo ali, limpava-se, e formava-se... Com aquilo fazia cabelo, e com aquele cabelo ficava tudo branquinho, eles conseguiam tinta e pintava, e aí que fazia os cocares, fazia as sainhas com penas né, e os cocares tinham cabelo, tinham espelho e tinha pena. E era a dança de caboclo que fazia com isso aí, e da dança de caboclo...
(00:44:30) P1: E era o povo daqui mesmo que fazia?
R: Era do meu avô, meu avô que... Essa dança era coisa dele, e era uma tradição religiosa, toda festividade que tinha dos santos, São José, mês de junho né, que era festa junina, aí tinha as apresentações, festa do São bom Jesus, lá em Santa Cruz, 14 de setembro, e tinha outras, outras danças de caboclo lá do sem peixe, de outros locais, que o meu avô contava, e era uma dança tipo, voltada para o lado espirita, eu acho que era uma coisa voltada para o lado espirita, que ali tem o chefe, que era o índio velho né, o cacique, igual na dança de caboclo. Na dança de caboclo, a que nós apresentamos, eu não consegui fazer essa parte aí do velho, então o velho era o cacique, o responsável pela turma, e aquele velho, ele era colocado em uma cadeira, uma cadeira que era tecida no desenrolar daquela dança, de acordo com aqueles versos, e aí depois. É tanto que na hora que a pessoa entrava para dançar tinha lá o grupo, aí tinha a pessoa com a sanfona de 8 baixos, aquelas caixas, padeiro e o apito, era esses os instrumentos, E quando as pessoas entravam para dançar, primeiro entrava os instrumentos, e tinha os arcos e flechas, dos índios né, então aqueles arcos e flechas, eles tocavam de acordo com o som da caixa, não podia bater descompassado, então o primeiro verso que eles entravam, já entravam se benzendo né, eu lembro que a.... Eu não cheguei assim, participar totalmente, que eu era bem pequena, mas depois trazendo, tentando trazer de novo essa dança, eu fui pegando alguns versos, aí o chefe né, o senhor velho lá, já chegava lá e falava assim: “Deixa eu me benzer primeiro olele, deixa eu me benzer primeiro olele, para livrar de algum quebranto olele, para livrar de algum quebranto” né, mal de olhado… Então, tinha isso, e aí ele chegava, e chegava o outro, um mais moço, levando uma rodia, antigamente falava isso, uma rodia de cipó, que era tirado lá no mato tirava o cipó e já levava. E aí tinha um momento de construir essa cadeira, tinha o momento, e aí na medida que ia tocando, batendo as flechas, o arco e flecha, a caixa, a sanfona, aí tinha aquela pessoa que já sabia tecer ali, e daí tecia a cadeira, e pegava aquele velho, o vovô, era o vovô e colocava naquela cadeira, um pegava de um lado e do outro, e carregava o senhor e colocava no meio, no circo ele. Aí tinha um com a espada também, dois com a espada e… Se você tivesse falado eu tinha até trazido né, porque às vezes a gente esquece, tá lá em casa, eu tinha anotado, aí tinha um “Eu estou reduzido com meu arco e flecha na mão, diga quem és…” Não vou me lembrar, para eu falar com você, mas assim, era uns versos assim, maravilhosos, tinha rima, sabe? Era interessante demais, quando eles. Aí depois na hora que termina, eles se benzem de novo, pede licença para ir embora, né, fala que tá com sono, aí agradece a família, é bacana.
(00:48:34) P1: Mas até hoje, ainda tem alguma festividade dessa aqui, na comunidade, né que assim você participa?
R: Quando… Eu participo de todas, né. Todas as festividades que tem aqui, se Roxa tiver vai acontecer, “Vai fazer, Roxa? Aí Roxa, vamo fazer, a senhora não vai fazer não?" Aí eu vou faço, mas a dança da fita ainda da para fazer, mas a dança de caboclo não da para fazer mais, não tem, não tem personagem né, para fazer. Então, a dança da fita a gente ainda consegue fazer o mastro de fita, consegue as fitas, as pessoas, os membros, para trançar ali, o pau de fita. Apesar que as vezes sai desorganizado, porque o pessoal, eles não tem ciência daquilo, mas aquela dança tem muito a ver com o clima religioso, é tanto que na hora que eles estão dançando ali a dança de caboclo, por exemplo, porque que ele fala: “Deixa eu me benzer primeiro “ né, porque, para se livrar daquela outra turma, que aí eles falam assim “A, a sanfona ficou rouca, a caixa ficou rouca” Porque…Aí eles falam “que ganhou mau olhado”, aí o senhor, o índio velho, o negro velho né, que é o negro velho, aí se benze, se benze, benze os instrumentos para tirar aquele mau de olhado.
(00:50:01) P1: Como que foi para você contar essa história para gente hoje?
R: Eu acho que, eu fiquei assim, nervosa né. Foi bom, mas é emocionante lembrar de tudo isso que teve, e eu sei, eu sei que é coisa assim maravilhosa, é coisa que todo mundo, que traz lembrança, que assim, todo mundo lembra com saudade de tudo aquilo, principalmente aqueles mais velhos “A vai ter dança da fita, vai ter quadrilha, vai ter dança de caboclo, ai eu vou lá” não eu tenho que ir, porque aquilo é bonito demais, tem muito tempo que eu não vejo sabe, então traz boas lembranças.
(00:50:51) P1: Você gostaria que alguém ouvisse essa sua história?
R: Aí eu acho que... Será que é bom né, ouvir? Porque assim, as vezes essa história não tem nada a ver com a realidade do mundo de hoje, as vezes não tem.
(00:51: 06) P1: Você não acha que seria importante os mais novos aqui da sua comunidade né, verem todo seu envolvimento na comunidade?
R: Sim, a meu envolvimento é completo, sabe? Meu envolvimento… E eu agradeço também muito a comunidade, porque quando eu vou fazer qualquer movimento aqui na comunidade, por mais que no início tenha aquele negócio assim: “Aí eu não vou não, não vou dar nada não “. E no final, você não acredita, todos participam, aí eu penso “O gente, eu vou querer, eu vou querer leilão” outra hora “Eu vou querer que de um trocadinho, pode ser a quantia que quiser”. Elisangela não tem, até os evangélicos participaram aí “Eu vou precisar de pessoa pra ajudar a trabalhar na barraquinha” O pessoal vem, então é aquele negócio assim, o difícil é começar, mas se você começar, você vai, então eu acho para mim isso, eu tenho isso como amizade.
(00:52:13) P1: Você consegue organizar...
R: É, eu consigo organizar e fazer o público vir, e fazer todo mundo sair de casa e ir lá para participar.
(00:52:29) P1: Você faria alguma coisa diferente hoje aqui na comunidade?
R: Eu estou fazendo né, porque eu to tentando, como eu sei que a nossa comunidade se formou através de time de futebol, time de futebol, e aí surgiu essa história do projeto, e renasceu o futebol aqui no Merengo de novo, aí o rapaz que mexia falou assim: “ A não, vou mexer com isso não, que que é isso o Merengo já morreu faz tempo, não tem time, não tem jeito de jogar bola aqui mais não.” Gente, nós estamos indo embora, mas os que estão ficando, e os que estão chegando né, então eu estou tentando fazer, trazer de volta o futebol no Merengo. E aí teve esse projeto que eu estou participando, com escolinha de futebol, está ficando muito bacana né, eu estou trazendo pessoas… Vem gente de Santana, da Esperança, vem gente de Santa Cruz, então eu consigo, dia de sábado o pessoal tá todo mundo lá no campo, dia de domingo então…Ronaldo mesmo veio, esse final de semana né, aí todo mundo com aquele uniforme que o Éder trouxe, aí na hora que a bola fura eles colocam lá no, tem um grupo né, o me colocaram no grupo, aí eles “ A tem muita coisa indecente naquele grupo.” “Não me coloca nada indecente aquele grupo não “. E acho que só eu de mulher que to lá no grupo né, aí eles mandam foto da foto “Madrinha.” A maioria aqui me chama de madrinha, madrinha ou então tia Roxa, aí coloca foto da bola: “Nós estamos precisando de bola, a bola furou” Eu falo assim “Não, pode deixar, que a bola daqui uns dias vai chegar” Então, outra hora; “Madrinha, o campo ta precisando de bater” Falo assim: “Meu Deus do céu, mas até isso, porque vocês não resolvem…” “A não a senhora tem que ver”. E aí eu dou um jeito, vou lá na prefeitura, converso com o prefeito, converso com um, com outro, e daí a pouco eles vem bater o campo e da certo.
(00:54:24) P1:É um sonho né, tá voltando alguma coisa né…
R: Isso, tá voltando…
P1: A pesar da pouca gente né… Você está conseguindo, resgatar isso para comunidade…
R: To, to… E eu.. Veja só, eu falei assim “ A igreja tá muito..” Assim, eu participo bastante na igreja, e eu to vendo assim que tá ficando muito escasso, poucas pessoas que vem para missa, pouca participação, aí eu falo que é lá no campo, e eu to vendo que o campo tá ficando “assim” , ta ficando cheio, você precisa ver, é, tá ficando cheio, isso interessante, eu não fui lá ainda não , mas os meninos me manda foto “O madrinha, olha aqui” “ O gente, bacana, né”
(00:55:11) P1: Você tem que ir lá participar, mulher…
R: Não, eu vou ainda, eu vou fazer uma festividade ainda com eles, é que não deu, já comprei né, os postes, a tela, o arame para fazer o alambrado, nós estamos devagar, mas estamos indo.
(00:55:28) P2: Zenilda, uma pergunta que eu fiquei, da onde vem o seu apelido “Roxa”?
R: Aí esse apelido “Roxa “ , como eu nasci em casa né, e eu, segundo a minha mãe, eu passei da hora de nascer, então como eu passei da hora de nascer, a parteira tava ajudando e tudo, mas eu estava muito roxa, já nasci muito roxa, e aí ficou “Roxa”, e aí eu ganhei o apelido de “Roxa” que eu custei.. o roxo custou a sair, e não saiu até hoje, e não saiu até hoje, e por isso que eu tenho o apelido de “Roxa”.
(00:56:10) P1: Tem alguma coisa que você ainda gostaria de falar?
R: É, me perdi, sabe...Tem várias coisas que eu ainda gostaria de falar, mas deixa, deixa, se vocês me perguntarem, quem sabe eu recordo.
(00:56:32) P2: Você tem mais algum sonho para o futuro na sua vida?
R: Nossa, a, não, não sonho mais não né, não sonha mais não… Deixa assim mesmo… O melhor sonho seria né, que a comunidade voltasse, é impossível voltar como era antes, é impossível, a gente tenta trazer alguma semelhança do antes, mostrar um pouquinho daquilo que era antes, a gente tenta, né. Quando eu fiz o café com história, aqui mesmo na comunidade, eu trouxe muita coisa, muita coisa diferente, coloquei em exposição, as pessoas iam perguntando “A, mas o que é isso?”. Então assim, curiosidade, e a gente, igual, tentei trazer a dança da fita, a dança de caboclo, pelo menos para ilustrar aquilo que acontecia antes, que fazia parte da minha família, né , e deu certo, mas não da para ter mais porque falta personagens né, não tem. E as comunidades você vê, as famílias aqui estão cada dia mais se resumindo, ou tem uma pessoa em casa, duas pessoas, filhos completou 17, 16 anos vão embora, né, porque a comunidade não oferece condições da pessoa crescer né, você vê, para estudar, fazer um curso em fonte nova, daqui até lá, é muito longe, então a pessoa tem que sair mesmo. Como a minha filha está hoje lá, em São Paulo, gostaria que ela estivesse aqui, mas está estudando, tá trabalhando.
(00:58:28) P2: Esse “café com histórias”, o que que foi?
R: A esse “café com histórias” foi um projeto mandado para escola, a secretaria de educação na época, eu não me lembro mais o ano, isso foi em 2013, por aí, aí teve um projeto, Santa Cruz tinha, nós éramos 13 Elisangela? 9 escolas municipais? 9 escolas municipais, e para cada escola recebeu o mesmo projeto para desenvolver, e eu fiquei aqui na escola do Merengo, eu já dava aula lá em Santa Cruz, e trabalhava aqui e lá em Santa Cruz, turma multisseriada, é, mas aquela época eu acho que Ana Maria ainda estava com uma turma também, né,e estava tendo muita dificuldade para trabalhar com esse projeto, porque eu gosto assim, o que eu pego para fazer, pode não sair com perfeição né, que ninguém é perfeito, mas eu gosto de ter semelhança, eu gosto de né. Se é 10, eu posso não chegar nos 10, eu não quero ser a primeira, mas eu não quero ser a última, que estar no meio dos melhores. E então, eu fui lendo o roteiro e “ Nossa Deus, tanta coisa”, era muita coisa mesmo que tinha na época. para desenvolver, e eu falei assim… E eu trabalhava aqui e lá, e nas outras escolas estava acontecendo o “café com histórias” no período de aula né, as professoras convidavam as famílias “ A o café com histórias” , e fazia naquele período lá, e eu não me achava, eu não conseguia um horário para … Porque, era assim, termina a aula aqui onze e pouca, onze e horas, sei lá, onze e quinze, e eu tinha de ir de moto até Santa Cruz, nessa época não tinha transporte, né, meu irmão me levava de moto, para mim estar em Santa Cruz 12:30, então eu falei assim “ Gente, geralmente você vai fazer esse negócios, aí passa da hora, e eu não posso chegar lá atrasada , eu não vou fazer direito, vou deixar aqui.. “Então, eu não quis dessa forma, eu estudei todos os projetos, anotei tudo bonitinho, eu tenho até o roteiro, sabe? Do que eu fiz, sabe? De como eu tinha que fazer, aí fui nas casas, pedi o que eu queria, a colaboração para fazer as apresentações das coisas antigas. E planejei para fazer isso um dia de sábado, e esse dia de sábado, nesse dia teve mais de 70 pessoas, eu fiz até uma lista de presença nesse dia, né, teve muita gente mesmo. E eu pedi nas casas “O, cada um vai levar um prato diferente”. Aí tinha bolo de fubá, engorda padre, aquelas coisas antigas mesmo, né. E essas peças antigas como cutelo, você sabe o que é cutelo, né? Ela não sabe, cutelo é um instrumento, que usava antigamente, que tinha, antigamente a gente plantava arroz por aqui, então tinha esse instrumento de cortar, na hora fazer a panha do arroz né. E eu queria expor isso, tinha coisa de 1400 e não sei o que, né, e tem umas coisas que até tem a data né, máquina. Então, a gente fazia essas exposições todas aqui, e trazer a história, e nesse dia eu quis trazer essa história da dança do caboclo também, porque era uma coisa do meu avô, que os meus tios participaram, meus primos, alguns primos, que não participaram, mas conheciam um pouco da história. Aí busquei os meninos que estavam em São Paulo né, o Dilson o Gil, o meu irmão que estava em São Paulo “Não, vocês vão fazer parte “. E aqui tinha um teatro, e minha mãe participava desses teatros que tinha aqui, roda de capoeira, então nesse dia eu trouxe um pouquinho de cada coisa. O teatro eu peguei a história que meu tio Reis contava,,eu peguei aquela história que ele contava, do jeito que ele contava, aí eu fui e escrevi no papel, aquilo que ele contava, e depois escolhi os personagens , que um era o meu filho Samuel né, Paulo Júnior e Vanderlei de Ladinho, meus ex alunos, meus meninos levados, mas nossa Deus… O que eu mandasse eles fazerem, eles faziam mesmo né “ Tem que ensaiar desse jeito" Sabe? Samuel era todo engraçado, então eu quis contar dessa forma, e desse jeito. Eu convidei a dona Luzia, porque dona Luzia foi uma senhora que assim, contribuiu muito com as escolas do Merengo, porque ela foi uma senhora que teve, parece que 21 ou 22 filhos, todos os filhos dela, eles estudaram aqui nessa escola, eu cheguei a ser colega de filho dela, e depois eu dei aula para filho dela, né. Então, dona Luzia foi a personagem principal, que veio para contar um pouco, ai dono Luzia foi contar um pouco da vida dela, como que era, aquela dificuldade que eles passavam antigamente, né. E eu tinha assim por ela uma, hoje já faleceu, uma admiração, um carinho muito grande mesmo, por ela. E esse “café com histórias” foi para, aí eu ilustrei tudo aquilo que a secretária de educação determinou que era para fazer eu coloquei, eu apresentei, e depois a gente foi, esse café com história foi tão bom, que no dia do aniversário de Santa Cruz, dia 27 de dezembro, é, todo 27 de dezembro é aniversário da cidade de Santa Cruz, nós fomos convidados né, a escola do Merengo, foi convidada para apresentar o “café com histórias” lá né, por isso o “café com histórias” ...
(01:04:34) P1: Veio toda sua família?
R: Isso, aí veio, nossa, o ônibus, saiu ônibus aqui do Merengo, o pessoal… Então, isso é gratificante, né, um movimento que você faz, que depois você tem aquele tanto de gente que vai né, acompanhando você, é apresentação né. Então, e todo mundo foi para ver né, as pessoas antigas lá de Santa Cruz que lembravam da dança de caboclo quando meu avô apresentava lá na festa do Senhor Bom Jesus, né, 14 de setembro. Eu lembro, a Jacira, outas pessoas: “Nossa, eu lembro, era assim mesmo, mais ou menos isso, esses versos mesmo que o seu avô “. Era meu avô né, então era muito gratificante, foi gratificante mesmo.
(01:05:24) P1: Relembrou toda história, né... Da comunidade?
R: É, relembrou toda história, isso mesmo, depois tem os eventos que eu levava os meninos da escola né, levava na cachoeira, vê se tinha uma árvore bonita, uma nascente, levava. Tinha a reza do cruzeiro, participava com os meninos do cruzeiro, ia também. Na nascente, reza do cruzeiro, o que mais que? As, as histórias, que era, igual no início quando eu comecei em 87, aquela turma levada que eu tinha, se tornou a melhor turma da escola, e depois esses meninos, quando foram para Santa Cruz, foram estudar, eu me lembro que dona Norma, dona Norma é professora de português, um dia ela me vendo passar lá no jardim, aí ela me chamou, e eu falei assim “Nossa, Deus, vai falar dos meus alunos, né ‘aqueles meninos seu.’” Que geralmente é assim, os meninos vão para a cidade estudar, e muita gente fala assim: “A aqueles meninos lá do Merengo não sabe nada”. Aí eu fiquei pesando “Dona Norma é professora de português ainda”. Ela falou assim: “O Zenida... “. Ai na hora que ela falou “Que que foi dona Norma? É que os meus meninos estão muito ruim, não é? ““Não, chamei você aqui para mim te dar parabéns, sua turma é muito boa “. Aí eu fiquei toda feliz, a turma é muito boa.
(01;06:59) P1: Valorização..
R: Isso, mas é aqueles meninos que eu ia contar uma história, que eu inventava as histórias de última vez, tava aquela bagunça na sala, e eu começava a contar história, aí “ Um vai ser o galo, o outro vai ser o cachorro, o outro vai ser o gato “. E aí ia contando história “Daí o gato, (aí aquele que é o gato fazia o papel do gato né), e daí a pouco o galo cantou e “E aqueles que era o galo todo mundo…E no final, dava aquele silêncio assim, sabe? Era uma maravilha, então as vezes eu tinha mania de usar aquelas histórias antigas, que meu tio Reis contava, aí história de assombração: “Gente, hoje eu vou contar para vocês uma história de assombração, assombração na época da quaresma” “I é mesmo tia Roxa, é, minha mãe fala mesmo”. Daí ia contando a história, dali a pouco eu dava aquele grito, fazia de conta que era aquilo. Aí os meninos assustava todo mundo e ficava todo mundo em silêncio, e era assim, era muito bom mesmo, viu. Tinha hora de oração a gente ia na igreja também, quando a igreja funcionava mais, né, participava também .
(01:08;17) P1: São muitas histórias, né?
R: São muitas histórias, não foi nem a metade do que eu precisava contar, nem a metade.
(01:08:26) P1: Mas valeu Zenilda, né, ter aceito nosso convite né, e estamos aí finalizando, tá? Agradecemos, muito obrigado.
R: De nada, espero que eu tenha contribuído bastante, que eu tenha, porque foi uma tarde maravilhosa, passar junto com vocês, só de, né.
Recolher