Museu Clube da Esquina
Depoimento de Juarez Ferreira Moreira
Entrevistado por Léo Dias
Belo Horizonte, 19/04/2005
Entrevista nº MCE_CB039
Realização: Museu da Pessoa
Transcrito por Jacqueline Cabral
Revisado por Genivaldo Cavalcanti Filho
P – Juarez, boa tarde, eu queria que você começasse...Continuar leitura
Museu Clube da Esquina
Depoimento de Juarez Ferreira Moreira
Entrevistado por Léo Dias
Belo Horizonte, 19/04/2005
Entrevista nº MCE_CB039
Realização: Museu da Pessoa
Transcrito por Jacqueline Cabral
Revisado por Genivaldo Cavalcanti Filho
P – Juarez, boa tarde, eu queria que você começasse falando pra mim seu nome, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Juarez Ferreira Moreira. Nasci no dia seis de fevereiro de 1954, em Guanhães, Minas Gerais.
P – Como começou sua carreira na música?
R – A família do meu pai já vinha de uma família de músicos. Meu avô era músico e dentista, ele tinha o hábito de ensinar música para todo mundo em casa, todos os meus tios. O irmão do meu avô, que se chamava Valério Moreira, foi um grande flautista aqui em Belo Horizonte no começo do século XX.
Dizem que a relação com a música da minha família remonta a uma família de espanhóis; me parece que eram artistas que vieram para o Brasil por conta de alguma guerra e em algum momento se casaram com portugueses, aí essa história da música veio deste lado. Mas meu pai, que eu costumo dizer que era um músico diletante, na verdade não desejava que fossemos músicos profissionais.
Lá em casa, além de eu já tocar tem outro irmão, o Celso Moreira, músico muito conhecido aqui. A gente toca desde menino ouvindo meu pai tocar, ouvindo aqueles amigos tocarem Bossa Nova. A Bossa Nova foi uma coisa que norteou muito a vida da gente - o Choro, a Bossa Nova... Antes disso eu ouvia até o próprio Roberto Carlos, os Beatles. Nossa casa era um lugar de música - tudo na base diletante, não tinha nenhum músico profissional.
Eu vim para Belo Horizonte com o objetivo de estudar para ser engenheiro civil e eu fiz isso. Estudei no Colégio Estadual, fiz vestibular e fiz Engenharia Civil; larguei no último semestre, faltando duas matérias. É um caso raro na faculdade, porque eu tinha 92% do curso todo completo. Mas porque que eu fiz isso? Porque nos anos 70, você já deve ter visto isso em vários depoimentos aqui, nós vivemos uma barra pesada mesmo. Nós tínhamos a repressão do sistema militar, da classe média e além disso, da alta repressão, então é um medo que você aprende a ter. Você está vendo a Mariana e o Pedro ali fora, eles gostam de música, ninguém está falando assim com eles: “Você vai ter que ser engenheiro, vai ter que ser médico.” Pode até falar, mas não obriga. Nesta época era impraticável você ser um artista, então, além da posição de músico ser muito difícil, era um perigo fazer qualquer coisa ligada à poesia e a música.
A gente vivia nos anos 70 uma solidão imensa, porque vivia uma ditadura com todas as implicações que ela teve e vivia este medo: “Você não pode ser músico.” Isso fazia com que a gente se atirasse mais.
Eu por exemplo, vim de Guanhães, eu já era um cara aficionado com música. Uma coisa que talvez me colocou dentro da música foi minha paixão por qualquer estilo. Eu tocava aquele violão Baden Powell, chorinho, bossa nova etc. Quando eu cheguei aqui já estava estourando esse negócio que eles viriam chamar de Clube da Esquina, Milton nascimento e essa turma toda. Logo em seguida, através do Gilbertinho de Abreu e o Yuri, eu conheci o Toninho Horta e foi uma sorte na vida. Eu vivia uma crise existencial fortíssima, porque eu falava que não queria ser engenheiro. Sempre fui um bom aluno, mas nesta época eu já estava começando a ser um aluno relapso. Eu passei no vestibular muito bem colocado, sempre fui bom em matemática, fato que fez alguém falar: “Então ele vai ser engenheiro, não é?” Mas eu queria ser músico. Meu outro irmão também, mas meu irmão tinha um temperamento diferente e ele ficava mais em off e eu, com essa inquietude...
Eu conheci o Toninho Horta, nisso eu já era amigo do Yuri Popoff e do André Dequech, porque nos encontramos e ficamos amigos, já tínhamos um grupo de música instrumental. Com esse contato com o Toninho Horta, eu tive contato com essa música do Clube da Esquina. Pra mim era uma coisa muito nova na época, que me causou muito fascínio porque era diferente de tudo aquilo que eu conhecia. Era uma música contemporânea, uma música jovem; ela misturava rock n’ roll com outras músicas, com outras influências de música que eu achava interessante. Apesar de eu gostar de Música Popular Brasileira, eu não era um músico fechado.
P – Em que época você conheceu o Clube da Esquina?
R – Eu já conhecia o Toninho Horta, o Lô Borges com o Paulinho Carvalho. O Paulinho, a gente se conheceu aí pela rua junto com o Melão, o Fernando Boca; o Paulinho Carvalho, um dia andando na rua, na esquina de São Paulo com Rio de Janeiro… Era uma tarde assim e ele me apresentou o Lô Borges. O Lô já estava fazendo sucesso, tinha acabado de sair o Clube da Esquina e o conheci ali.
Naquela época, Belo Horizonte era muito pequena, tinha uns guetos assim, onde eu conheci essa turma. Decorrentemente eu conheci Flávio Venturini, Fernando Orli, conheci o Tavinho Moura, conheci o Vermelho.
Embora eu fosse um cara que tocasse um estilo de música… Eu não era roqueiro, mas eu gostava de música boa. De certa forma, eu estava sempre perto deles porque achava a música deles muito rica. Por exemplo, a música do Lô Borges tem uma harmonia muito boa e aquilo era interessante para mim do ponto de vista musical, então eu ficava perto. Ao mesmo tempo, eu nunca deixei de ter esse gosto que eu tenho por música brasileira, tradicional, popular, jazz. Naquela época, eu fazia isso de uma maneira até inquieta, porque eu sentia muita solidão, então quando você encontrava pessoas afins, você se agrupava. Então foi uma coisa engraçada e por outro lado – eu estou tentando lembrar como era – era tudo meio espontâneo; a gente se encontra muito para tomar uma cerveja, ou então para tocar um violão. Belo Horizonte era muito diferente do que é hoje.
P – Juarez, você tem esta influência brasileira, do jazz. Como foi o impacto na primeira vez que você escutou o Clube da Esquina?
R – Para mim foi um impacto muito grande. A música do Clube da Esquina já era uma mistura daquilo que eu achava que a música tinha que ser, porque tinha os Beatles, tinha a Bossa Nova e tinha a harmonia. Quando eu ouvi, eu falei: “Porque jogar fora a Bossa Nova?” Porque não usar a bossa nova com os Beatles, eu pensava assim: “Porque não usar o choro com uma harmonia de Bossa Nova?” Na minha cabeça eu tinha isso secretamente, depois eu vi que o mundo convergia para isso e eu achava que estava descobrindo a pólvora. É uma coisa que sociologicamente, esteticamente ia acabar acontecendo.
Eu achei importantíssimo, por exemplo, a música do Lô Borges e do Beto Guedes, porque a do Toninho Horta eu já tinha um link, já tinha uma ligação direta; já vinha de coisas que eu gostava, que é harmonia, e a guitarra do West Montgomery, que era uma influência que ele tinha, o jeito de tocar guitarra com o dedo - inclusive eu tocava assim também e aquilo foi fácil chegar. A música do Lô Borges e Beto Guedes foi uma coisa nova, era diferente. Por exemplo, eu tive que aprender a tocar. Eu fui tocar com eles e apanhei muito; eu considero que eu não sabia acompanhar, eu aprendi muito com isso.
Um dia eu falei com o Beto Guedes sobre isso e falei que eu não sabia acompanhar música do Beto Guedes e do Lô Borges, porque eu vinha e aquilo me obrigou a cair a ficha; porque eu tinha que aprender a tocar em grupo e uma das coisas que eu aprendi muito foi com eles. O Beto Guedes tinha a sinceridade, às vezes… Ele é muito sincero e falava: “Não está bom, não é assim.” Mas na época a gente era muito novo e muito presunçoso, você se assustava assim, não é? Anos mais tarde eu fui ver que era muito bom, porque eu tive que aprender.
Uma coisa é você tocar um violão solo - eu tocava em um trio de jazz, tocava uma música com uma licença poética, uma coisa livre. Uma coisa é você tocar em um contexto e eles sabiam muito o que eles queriam; apesar de serem muito novos, eles sabiam muito o que eles queriam. Eu me lembro que toquei
guitarra junto com o Lô Borges e tive que aprender a tocar o que eles chamam hoje de groove - hoje eles deram um nome pra isto.
Embora eu não tenha trabalhado com eles o tanto que eu desejava, eu estava sempre por perto durante um tempo, depois fomos tomando caminhos diferentes. Mas a primeira coisa que me deu um puxão de orelha em música foi ter trabalhado com eles, porque era uma coisa, por exemplo, que não era fácil. Tinha compassos alternados nas músicas, as guitarras não trabalhavam de maneira combinada, não era uma coisa simples assim. Por exemplo, o Beto Guedes tinha ritmos muito particulares, ligados a rock progressivo, ligados muito a Beatles e o Lô Borges também, são compositores muito originais. Então o que eu posso dizer deles é que ficou pra mim [a] experiência.
Uma vez o Lô Borges me chamou pra tocar uma música dele que depois o Toninho Horta gravou. Eu estava no Rio, nós fomos para o estúdio da Odeon. Estava [lá] o Chico Neves e eu fiquei “brincando”;na época a coisa era tão relaxada, que no estúdio você podia ficar à vontade. Eu lembro que dentro do estúdio da Odeon tinha uma guitarra Gibson, um amplificador Fender e aí o Lô Borges falou, “Você quer tentar colocar?” E é uma música que eu não sabia, só sei que eu fiquei tentando lá umas três horas e não consegui tocar. (risos) Por outro lado, eu tinha capacidade de saber que aquilo não dava certo, e não tinha essa fissura: “Ah, eu tenho que fazer.” Foi uma coisa curiosa, tanto que se eu te falar que até hoje eu não participei de nenhuma gravação com o pessoal… Engraçado, eu estive sempre perto deles em um momento da minha vida, tanto que nós fizemos muito contato, só que eu não gravei. Isso é engraçado, curioso. Por isso eu acho importante até estar dando esse depoimento aqui, porque até um dia eu estava falando com um rapaz mais jovem: “Ah, eu toquei!” E ele: “Eu não sabia disso.” Falei com Márcio Borges um dia que era bom a gente falar pra ter registrado isso. Foi uma fase interessante para mim, musicalmente e pessoalmente.
P- E como foi essa história do Projeto Pixinguinha que você participou?
R - O Pixinguinha foi uma coisa curiosa. Foi o Wagner Tiso, o Lô Borges e uma cantora que chamava Rosali, do Rio - eles chamavam janela, porque os artistas principais eram Wagner Tiso e Lô Borges. Então foi o Paulinho Carvalho, Telo Borges, eu, Fernando Orli, um saxofonista do Rio de Janeiro [que se] chamava Beto Saroldi e o baterista daqui, Aécio Vilar, que foi uma coisa curiosa também. O Aécio é conhecido como um baterista de jazz e toca muito bem samba, e ele naquela época estava vivendo as suas experiências musicais de tocar, vamos dizer, mais livre. Com todo respeito que eu tenho por todo mundo, pelo Aécio, que é um grande baterista, foi até eu que fiz a política, se é que se pode dizer assim, pra que ele tocasse junto com a gente. Mas ele não era na época o baterista adequado para tocar a música do Lô Borges. Por quê? Porque o gênero de música… Porque a gente toca muito dentro daquilo que se chama a levada. Você sabe disso porque você é músico, a levada - hoje eles chamam de groove aquilo e naquela época não tinha.
Mesmo assim, naquela época era [tudo] tão livre que o Aécio foi. (risos) Fizemos uma viagem com o Projeto Pixinguinha, foi uma viagem muito bacana. Ficamos uma semana em cada cidade e, além do mais, tinha a coisa do bom humor muito grande. Uma coisa que eu sempre me lembro deles todos, que eu acho que é próprio do músico é esse bom humor, são espirituosos. Paulinho, Marcio, Lô Borges, Telo Borges, todo mundo, então era muito agradável, era muito bacana esse convívio. Era uma forma muito bacana de levar as coisas, com bom humor. Eu acho que não há salvação sem bom humor, acho que pode ser considerado um defeito gravíssimo de uma pessoa ela não ter bom humor. Eu até aceito outros defeitos, mas não ter bom humor eu acho um defeito gravíssimo.
P- E o Bituca?
R- O Milton Nascimento eu conheci também na época, conheci através do Keller Veiga, que é lá [de] Três Pontas e foi meu colega na Escola de Engenharia. Conheci o Milton e já estive com ele em várias situações diferentes. Quando ele fez Canção da América, eu estava hospedado na casa dele com o Keller. Eu lembro que ele fez essa música, não tinha letra ainda e ele tocou no piano. Eu não esqueço disso, foi muito bonito, toda vez que eu escuto no rádio, eu vejo.
Já uma vez em Três Pontas, quando eu estava lá naquela varanda da casa do pai dele, a gente estava tocando violão e eu já participei mil vezes tocando o violão. Eu gravei uma faixa com o Milton no disco Anima, uma música do Celso Adolfo, Coração Brasileiro.
Quando ele morou um tempo aqui, a gente ia muito na casa dele. Ele promovia umas tardes lá e eu gosto muito de cerveja, eu e meu irmão Celso Moreira. A gente chegava lá e ele falava: “Está aqui.” Ele tinha um ‘freezerninho’ que mantinha a cerveja gelada, então foi uma boa época aquela que ele morava aqui e a gente ia muito à casa dele.
Meu primeiro disco foi lançado nos Estados Unidos e ele escreveu uma capa muito generosa a respeito da minha música.
Já se falou tudo sobre o Milton Nascimento, então é redundante, chega até [a] ser piegas ficar falando a respeito de uma pessoa tão importante, que foi tão celebrada quanto o Milton Nascimento. O que eu acho e continuo achando que é [a] música mais original que eu conheço de compositores modernos, nos sentido primitivo. Eu consigo identificar, eu já ouvi muita música e conto bravata que eu sou capaz de descobrir de onde que a pessoa pegou a influência, se pegou de uma música remota, porque não é difícil também, isso não é crime, não, às vezes você escutou muita coisa. O Milton Nascimento eu nunca vi; a música dele, realmente… Tem muitas músicas dele que são muito fortes, eu sinto que ela vem com uma coisa muito forte na composição, principalmente na primeira fase da música dele, é uma coisa que eu não consigo enquadrar.
Tem grandes compositores que eu amo, que eu consigo falar assim: “Isso aqui teve influência do Pixinguinha, isso é Noel Rosa e do Ary Barroso” e eu não consigo formular esse pensamento com relação a Milton Nascimento. A influência dele é muito grande, tem música moderna, tem música negra, ao mesmo tempo tem uma coisa que eu gosto muito, que às vezes as pessoas brincam, tem a “igreja”,
que algumas pessoas, os jornalistas, veem como uma coisa ruim ou até brincam com isso. Eu acho isso uma coisa fortíssima da música dele.
P- E o Wagner Tiso, como foi essa sua estreia com ele?
R- O Wagner foi uma pessoa que nessa minha inquietude, nessa minha agitação toda, foi uma pessoa que me deu muito apoio e que teve muita compreensão para com essa agitação minha. Eu fui chamado pra tocar com ele em 1979, quando ele começou a fazer aquilo que se chama de carreira solo. E o Wagner é uma pessoa espetacular mesmo: ele é um artesão, um maestro, trabalha ali muitas horas e é uma pessoa muita equilibrada, às vezes até imediatista. É um homem assim, pelo menos no que eu convivi com ele, e muito.
Inclusive recentemente eu toquei com ele de novo em um show com a Gal Costa, ele montou uma orquestra de cordas com instrumentistas e fui chamado para fazer o violão. Foi um trabalho muito bacana, em novembro de 2004. Mas pelo que eu sei, é uma pessoa muito centrada, é um sujeito brilhante em todos os aspectos. É um autodidata, eu admiro muito, ele escreve arranjo para orquestra sofisticado e ao mesmo tempo com uma personalidade. E naquela época, eu, menino.
O fato de tocar com a banda dele me deu muita força, porque eu tive a oportunidade de conhecer o outro lado, conhecer músicos profissionais. Paulo Braga, Robertinho Silva, Mauro Senise, Luís Alves e vai por aí.
Nessa época, eu decidi ser músico - no sentido [de] ser guitarrista, porque você vai fazendo e não sabe direito o que quer da vida. Você vai fazendo por uma necessidade que não sabe exatamente de onde vem, aí você compõe umas músicas, ou vai acompanhar o cantor, aí chega um momento que você não sabe. O Wagner me ajudou muito a decidir essa coisa de largar a Engenharia que eu te falei no começo, foi muito importante isso.
P - O que você está achando do Clube da Esquina se tornar um museu?
R - Eu acho essa iniciativa ótima e vou te falar por que. Tem um ditado que fala assim: “A mulher do César não basta ser só honesta, tem que parecer honesta.” Nós estamos vivendo no mundo da mídia e onde se você não falar… Infelizmente pode ser até pedante você falar “eu fiz aquilo, eu compus aquela música”, porque existe um processo de diluição tão grande e de esquecimento da memória, de situações, que você tem que pontuar.
Pela importância que tem a música do Clube da Esquina no cenário nacional, até demorou essa iniciativa. Ainda bem que conseguiram, o Márcio Borges conseguiu o apoio de várias pessoas, porque no nosso país, no mundo de hoje, a memória tem que ser muito breve e você tem que chamar a si. Por exemplo, a Tropicália foi um movimento de música, conceitualmente, muito importante do ponto de vista do comportamento; politicamente se colocou e musicalmente também. Mas a evolução profunda da música popular, o divisor de águas foi a música do Milton e aquilo que se chamou Clube da Esquina.
Eu não estou falando isso como mineiro, porque eu acho pedante. Eu falo isso como um brasileiro, um cidadão que gosta de música antes de ser músico e [de] observar a cena. Eu já vi o Caetano Veloso fazer considerações sobre isso, sobre esse caráter de vanguarda da música mineira. Só que eu acho que nós mineiros somos um pouco tímidos, a divulgação disso é pouca.
Eu espero que a partir desse movimento aqui do site, desse filme, consiga criar um movimento em torno de valorizar e situar historicamente, esteticamente essa música. Eu viajo muito e vejo uma tendência a não dar o valor real pra isso [como] merece dentro da música brasileira.
P - E pra você, que importância tem estar participando dessa história?
R - Eu fiquei muito feliz. Inclusive eu passei um pito no Márcio Borges um dia porque eu não estava citado no livro - embora a minha importância não seja grande e eu não tenha tocado tanto tempo assim com o Clube da Esquina igual ao Paulinho Carvalho, por exemplo, Mário Castelo, que estão aí há anos. Mas eu estive perto disso e foi muito importante na minha vida, na minha juventude e é uma música que eu gosto, e que teve influência na minha formação e no jeito de ser músico.
P - Tem mais algum caso que você queira contar?
R - Tem mil casos. A gente viajou muito, tinha muita conversa. Parece que o mais importante eu te falei, no geral. Tinha também polêmicas que eram frutos daquela época nossa: nós refletíamos muito sobre a realidade brasileira, tinha polêmicas sobre estilos de música, eu já me envolvi muito em discussões. Gostávamos muito de tomar umas cervejinhas também.
Tinha polêmicas, mas é engraçado, é uma coisa bonita, isso nunca resultou em uma coisa pessoal. Tinha a franqueza de falar, “Não gosto dessa música. Esse negócio de jazz é muito chato.” Às vezes eu falava assim: “Essa música está muito ruim”, mas tudo com muito carinho, tudo dentro de certa dose. Mas geralmente os encontros eram muito divertidos, muito espirituosos, cheios de piada, muito alegres. É uma coisa que eu te falei, um bom humor que vai de encontro comigo, porque eu também sou assim. Eu gosto muito desse lado, o lado alegre da música, eu acho muito bacana.
Fiquei muito feliz. Eu ficaria muito triste de não estar aqui, embora eu não tenha tocado anos e anos com eles, mas estive perto em um momento, estive com eles.
P - Então que queria te agradecer pela entrevista.
R - Obrigado a vocês e boa sorte para o trabalho do site. Tem que colocar na roda pras novas gerações a importância real daquilo que a gente chama O Clube da Esquina.
P- Valeu, brigadão.Recolher