P - Boa tarde, Dulce
R - Boa tarde
P - Eu gostaria que você falasse seu nome completo, a sua data de nascimento e o local.
R - Sou Maria Dulce Rezende do Vale, eu nasci em Coqueiral no sul de Minas Gerais em 2 de maio de 1953.
P - Dulce, e o nome dos seus pais?
R - Geraldo Ribeiro do Vale e Ivanise Rezende Ribeiro do Vale.
P - Qual era a atividade profissional dos seus pais?
R - O papai era coletor estadual e a mamãe professora.
P - A sua família sempre foi de Minas Gerais?
R - Sempre.
P - Sempre foi de Coqueiral?
R - Não, nós não éramos de Coqueiral. Papai foi transferido para lá. Eles nasceram em outra região do sul de Minas Gerais.
P - Qual região?
R - A mamãe nasceu em Bituruna e o papai nasceu em Carrancas.
P - Você ficou em Coqueiral…
R - Nazareno.
P - Nazareno?
R - Nazareno, que é pertinho de Carrancas.
P - Agora, Dulce, você ficou em Coqueiral até quantos anos?
R - Eu saí de lá com 9 anos, eu ia fazer 10.
P - Como que foi a infância lá em Coqueiral?
R - Nossa Minha infância foi maravilhosa. Eu acho que assim… eu não sei dizer assim exatamente qual foi o melhor período da minha vida, que eu acho todos bons, inclusive o que eu vivo agora, eu assim, acho que vivi muito bem todas as fases. A minha infância foi maravi-lhosa, porque Coqueiral, hoje, ela deve ter 5 mil habitantes, por aí, de 5 a 7. Naquela época, você imagina, quando eu nasci. Então, a gente brincava na rua, a gente morava em frente da praça, ia para as roças chupar jabuticaba, pegar manga e via matar porco, papai criava um porquinho em casa. A gente tinha tudo quanto é fruta em casa e a gente viveu assim muito, a gente era muito ingênuo, a gente foi ver televisão lá por 1960. Você tinha de criar tudo. Então, foi assim, ma-ravilhosa a infância.
P - E você teve irmãos?
R - Ah, nós éramos… bom, um morreu com três dias, mas eu tinha oito irmãos.
P - Isso, fala o nome deles para a gente.
R - Carlos Rogério, Ana Maria, eu Maria...
Continuar leituraP - Boa tarde, Dulce
R - Boa tarde
P - Eu gostaria que você falasse seu nome completo, a sua data de nascimento e o local.
R - Sou Maria Dulce Rezende do Vale, eu nasci em Coqueiral no sul de Minas Gerais em 2 de maio de 1953.
P - Dulce, e o nome dos seus pais?
R - Geraldo Ribeiro do Vale e Ivanise Rezende Ribeiro do Vale.
P - Qual era a atividade profissional dos seus pais?
R - O papai era coletor estadual e a mamãe professora.
P - A sua família sempre foi de Minas Gerais?
R - Sempre.
P - Sempre foi de Coqueiral?
R - Não, nós não éramos de Coqueiral. Papai foi transferido para lá. Eles nasceram em outra região do sul de Minas Gerais.
P - Qual região?
R - A mamãe nasceu em Bituruna e o papai nasceu em Carrancas.
P - Você ficou em Coqueiral…
R - Nazareno.
P - Nazareno?
R - Nazareno, que é pertinho de Carrancas.
P - Agora, Dulce, você ficou em Coqueiral até quantos anos?
R - Eu saí de lá com 9 anos, eu ia fazer 10.
P - Como que foi a infância lá em Coqueiral?
R - Nossa Minha infância foi maravilhosa. Eu acho que assim… eu não sei dizer assim exatamente qual foi o melhor período da minha vida, que eu acho todos bons, inclusive o que eu vivo agora, eu assim, acho que vivi muito bem todas as fases. A minha infância foi maravi-lhosa, porque Coqueiral, hoje, ela deve ter 5 mil habitantes, por aí, de 5 a 7. Naquela época, você imagina, quando eu nasci. Então, a gente brincava na rua, a gente morava em frente da praça, ia para as roças chupar jabuticaba, pegar manga e via matar porco, papai criava um porquinho em casa. A gente tinha tudo quanto é fruta em casa e a gente viveu assim muito, a gente era muito ingênuo, a gente foi ver televisão lá por 1960. Você tinha de criar tudo. Então, foi assim, ma-ravilhosa a infância.
P - E você teve irmãos?
R - Ah, nós éramos… bom, um morreu com três dias, mas eu tinha oito irmãos.
P - Isso, fala o nome deles para a gente.
R - Carlos Rogério, Ana Maria, eu Maria Dulce, Maria Auxiliadora, Ge-raldo Fernando, Maria Carmem, José Higino, Ivan Manoel e Maria Lei-la. E o Carlos Rogério, mais velho, foi o que faleceu e eu tinha um ou-tro irmãozinho entre o Fernando e a Auxiliadora chamado José Hugo, que morreu com três dias. Foi minha primeira experiência com morte, eu tinha 5 anos.
P - Como foi essa experiência?
R - Ah, foi assim, terrível, porque quando o neném nascia a gente não sabia exatamente o que era aquilo, mas aí o papai vinha: “chegou mais um irmãozinho, não sei o que.”A gente ficava tudo de fora, não podia entrar no quarto deles e aquele movimento de gente entrando, mulher correndo para lá, para cá, a gente só assistia e depois aparecia um irmãozinho. E aí, a gente chegou lá. E eu me lembro bem que eles davam banho no neném com aquela bacia de alumínio. Então, eles jogavam álcool, jogavam fogo, esterilizava a bacia, punha água quente e punha o neném. E esse nenenzinho, diferente dos outros, ele ia to-mar banho e ele chorava, e afundava assim aqui na barriga dele. E eu me lembro muito bem dessa cena: a parteira ou a mamãe segurando o neném e aquela barriga afundando e eu não entendia o que era aqui-lo. E com três dias esse menino morre. Depois, eu não entendia na época, aí vieram falar que “o seu irmãozinho morreu”, não falavam morrer, mas “não tá mais com a gente”, “foi para o céu”, aquelas coi-sas. E eu me lembro que eu não entendia direito, eu fui para trás da casa e chorei, chorei, chorei, era tudo rodeado de canteiro de flores a nossa casa, e o papai falou para a gente pegar flores para levar para colocar no irmãozinho, aquele caixãozinho branco que ficava na sala da casa, aquelas coisas assim, e eu não queria ver aquilo. Então,eu ia para trás da casa, perto dos canteiros de lírio e chorava, punha a ca-beça, a mão assim na parede, chorava, chorava, chorava e voltava lá para dentro, eu não chorava na frente, eu ia chorar lá no fundo. Aí eu voltava e via aquilo de novo e voltava para chorar. E eu me lembro as-sim um pouco, foi um pouco triste, porque ele foi embora, aí cemité-rio, aquelas coisas, mas enfim.
P - E você estava em qual colocação entre os seus irmãos?
R - Terceiro.
P - A terceira?
R - Terceira. E esse que morreu era o quinto.
P - E como que era assim a infância com a família grande, com muitos irmãos?
R - Era, como é que fala? Era assim, uma coisa muito engraçada. Ao mesmo tempo em que era bom, a gente tinha muitas responsabilida-des. A gente tinha que arrumar cama, tinha que fazer tudo, os mais velhos tinham que olhar os mais novos. Então, quer dizer, a família mesmo, a gente brincava, o Carlos, a Ana e eu, nós brincávamos um pouco mais juntos, mas a gente brincava mais com os amiguinhos. Cada um tinha o seu grupo de amigos, porque, personalidades dife-rentes, eu acho. E assim, e a mamãe ficava meio louca com a gente, era muita gente. Então, eles tinham umas estratégias que hoje eu mo-rro de rir, por quê? A gente plantava horta, e tinha frutas, a gente tinha onde apanhar frutas, e plantava horta, então arrumava uma história de fazer canteiros para cada um cuidar e fazer concurso de canteiros. Então, eu me lembro que assim, eu ficava: “mais a minha alface tá grande”, eu fazia assim, imagina com 5, 6 anos, 7 anos, sei lá você fazia que aquela alface era enorme, porque você abraçava a alfa-ce. E eles faziam o concurso para ver quem tinha o canteiro mais bo-nito e ia por tamanho de cenoura, tamanho de beterraba, todas essas coisas. E então, a gente se distraía com tudo aquilo lá, cuidando da horta e depois fui ver: super sacada, porque você tinha alimentação, cuidava da alimentação, e eu não tinha essa percepção, lógico. E tam-bém, chegava domingo, tinha uma história do mingau da preguiça de-pois do almoço, que a gente almoçava e a mamãe: “ah, agora vamos tomar o mingau da preguiça” “O que é mingau da preguiça, mamãe?” “Ah, esse mingau é muito interessante, vocês tomam esse mingau e todo mundo fica morrendo de preguiça.”. Quer dizer, a gente depois do almoço tomava o mingau da preguiça e ia todo mundo dormir. Acho que era a hora da folga dela.
P - E que mingau era esse? Era de que esse mingau?
(pausa na gravação)
P - Dulce, você estava falando do mingau da preguiça, esse mingau era do que?
R - Naquela época ela não contava de jeito nenhum. A gente também nem se interessava, era o mingau da preguiça e pronto. Mais tarde, ela me falou que era um mingau de leite com trigo e canela, punha a canela em pó assim, pronto, era isso Aí ela punha nos pratinhos para a gente, cada um comia num pratinho diferente, dependendo do ta-manho da criança. Aí, ficava aqueles pratinhos branquinhos com a-quele marronzinho por cima. Era o mingau, leite trigo e canela, olha só, açúcar, leite e canela.
P - Dulce, e a escola? Você estudou lá em Coqueiral?
R - Foi.
P - E como que era a escola naquela época?
R - Grupo escolar Frei Eustáquio. Eu achava lindo o grupo, e assim, não tinha jardim da infância, nem pré. E eu, na verdade, como eu faço aniversário em maio eu não poderia entrar no primeiro ano no ano em que eu fazia sete, tá, porque eu tinha de fazer sete até março. Mas, a mamãe disse que eu era, assim, muito levada, muito pergun-tadeira, muito dada e eles, acho que não me agüentavam muito dentro de casa e a mamãe negociou com a professora para eu entrar para es-cola, porque eu não podia ficar em casa mais, acho que eles não me agüentavam muito dentro de casa (risos). Essa parte ela não esclare-ceu muito. Ela negociou com a professora para eu entrar naquele ano, aí a diretora não queria, porque era uma exceção, assim, e aí a direto-ra falou: “tudo bem, então ela entra, mas se ela não acompanhar os alunos aí ela vai ter que dar uma pausa, sair”, sei lá como é que era. (risos) Entrei e com dois meses eu já tinha passado todo mundo da turma e tava dando trabalho para a professora, mas enfim, fiquei na escola. Acho que eu sempre sou até hoje muito curiosa, sou pergun-tadeira até hoje, eu acho. Tudo eu quero saber o porque, para quem, enfim. Então, foi assim, eu estudei, fiz o primário lá, foi assim, mara-vilhoso, lembro do nome das minhas professoras, visito algumas delas até hoje lá em Coqueiral. Eu vou em Coqueiral freqüentemente, eu vou na casa de uma professora, do maestro da banda, maestro Chi-quito, todo lugar eu vou lá. A moça que ficou com a gente em casa até sair para casar, que lavou nossa roupa, que tinha isso, essa Mariana Aparecida. Então, o grupo foi assim uma delícia, muita descoberta, e muita coisa e enfim, foi assim, fantástico, esse primário lá em Coquei-ral.
P - Dulce, porque vocês mudaram então? Vocês foram para Lavras depois?
R - Sim, porque em Coqueiral só tinha primário, e o meu irmão mais velho, Carlos já estava em Varginha interno no Colégio Marista e a minha irmã Ana já estava interna lá no Colégio de Lourdes em Lavras. E aí o papai e a mamãe não tinham mais dinheiro para me colocar no internato, e o papai já faltava só dois anos para ele se aposentar. E Lavras era relativamente perto, lá era três horas de viagem, agora faço com 45 minutos. Mas, papai falou: “Então Ivanise, você vai com as crianças para Lavras” e todo final de semana ele vinha. E para eu es-tudar, para entrar para o ginásio, para eu não perder o ano, aí eu cheguei, fui fazendo admissão, entrei no colégio.
P - E como que foi o colégio lá em Lavras? Como que foi essa mu-dança para você?
R - Ah, eu fiquei assim meio triste, porque nós chegamos em Lavras no dia 30 de março de 1964, 30 ou 29, então foi assim um ou dois di-as antes da revolução. Então foi uma coisa assim muito esquisita por-que nós chegamos lá e em Lavras tem o Oitavo Batalhão de Infantaria, Polícia Militar, e aquele carro para a rua, e comemorando o fim da re-volução, e não sei o quê, e a gente não entendia nada, e que os comu-nistas iam chegar e invadir nossa casa, e que o Brasil estava salvo, aquela coisa toda. Foi uma coisa assim, meio traumática. E a gente ficou com muito medo antes de resolver a revolução e aquela história de comunismo, era um terror muito grande para a gente que era cri-ança. Eu fiquei muito assustada com isso tudo. E agente é uma famí-lia católica, então aí que se exagerava o negócio do comunismo, por-que o comunismo “não acreditava em Deus, e não sei o quê”, aquela coisa toda. E isso a gente viveu, então foi um pouco traumático, mas eu acho assim, que eu tenho um poder de acomodação nos lugares muito grande, porque num instante eu gostei tanto do colégio que eu estudava, era um colégio de freiras. Eu achava um pouco chato, por-que você tinha que fazer educação física com uma saia, uma calça comprida por... um saiote por baixo uma bermuda por baixo que vi-nha até para baixo do joelho e a blusa justa e tudo de uniforme. Aqui-lo era meio ruim para mim, muita norma, muita coisa assim. Eu não gostava muito do colégio, mas gostava do que eu aprendia no colégio, gostava do que eu vivia lá. Foi ótimo. Tinha de ir de bonde, a gente nunca tinha visto bonde na vida, se descia de bonde para o colégio. Então assim, umas coisas foram aumentando e sumindo, aquela his-tória toda dos dias que a gente chegou. Logo eu fiz amizade com a Telma, que é a minha segunda amiga mais antiga, que lá em Coquei-ral tinha a Rosane, a Grici, e logo eu me enturmo assim, eu não sou de muita dificuldade aonde eu chego, sabe, eu falo que eu sou espaço-sa, num instante eu chego e me enturmo. Então, foi passando, aquilo foi ficando longe. Aí saí do Colégio de Lourdes, entramos para o Colé-gio Estadual que foi criado na cidade. A gente fez a prova de admissão no colégio, passei, entrei lá. Então era mais gostoso o estadual, era mais solto eu acho.
P - Era misto então?
R - Misto. Lá no colégio onde eu estudava era só menina. Eu fui muito levada, a gente pulava o mura para roubar fruta no jardim das irmãs, jogar flor vivia esfolada. Aquela coisa toda. Mas era muita pressão eu acho, era muito sério para o meu gosto, sabe, acho que eu sou mais solta assim, sabe.
P - E no Colégio Estadual você fez o que lá?
R - Ah, eu fiz da segunda série do ginásio, fiz segunda, terceira, quar-ta série e fiz o normal, os três anos do normal, lá eu me formei no ma-gistério, me formei como professora.
P - E você queria ser professora?
R - Queria Queria ser professora mesmo Eu gostava de dar aula
P - Por que?
R - Porque eu gostava de dar aula Eu gostava. Desde que eu estava assim, na primeira série do ginásio, a mamãe tinha um curso de ad-missão, eu não sei nem se vocês lembram disso, que para entrar para o ginásio precisava fazer um curso, uma prova. Eu dava aula de geo-grafia com 13 anos, 12 para 13 anos eu dava aula de geografia e his-tória no curso de admissão da mamãe, sabe, então eu gostava de dar aula, e me formei no magistério absolutamente consciente do que eu queria fazer. Você tinha de fazer um estágio de formação, não sei o que. Eu fui no grupo escolar na aula noturna, perguntei para os alu-nos, que estavam assim, adultos analfabetos e eu fui ensiná-los a ler com o método Dom Bosco que era o método de alfabetização que tinha nessa época. Então eu gostava daquilo. E eu consegui alfabetizar, falo que consegui porque nós éramos uns oito alunos, nove talvez, eles iam para casa à noite, foi no terceiro normal todinho. Foi a minha forma-ção, eu não quis ir para grupo normal. Essas pessoas, eu conversei com a diretora do colégio, ela deixou esses alunos freqüentarem a mi-nha, eles saiam do curso noturno, primeiro ano noturno, foram lá pa-ra casa, toda noite eles iam para lá e eu aplicava o método Dom Bosco neles, dava lanchinho, aquelas coisas todas. E nós éramos uns sete, oito, parece que uns quatro ou cinco continuaram no grupo, se forma-ram e alguns continuaram estudando. Encontrei com alunos na rua e eles viraram professores, mais velhos que eu. Então, assim, eu gosta-va daquilo. E por que eu não quis continuar? Porque eu acompanhei a minha mãe a vida inteira tendo salário atrasado mais de seis meses, às vezes, o salário atrasava e gente indo para a loja explicar que a mamãe não podia pagar a prestação aquele mês porque o salário não tinha vindo, não sei o que, não sei o que, aí eu falei: “isso que eu que-ro para mim”, muito embora eu não tivesse dúvida de que eu quises-se era ser professora, entendeu?
P - Então terminou a Escola Normal e você procurou outro empre-go? Você não seguiu como professora?
R - Não Aí foi assim: eu queria fazer Universidade, tá. Eu era nova, era menor de idade quando eu me formei, só tinha agronomia, que hoje é uma escola muito boa de agronomia, a Universidade Federal de Lavras, era ESAL na época, Escola Superior de agronomia e eu não queria fazer aquilo. Aí a Faculdade lá de Lavras, na verdade eu não sabia exatamente o que eu queria, mas a Faculdade também de Filo-sofia, Ciências e Letras não me agradava muito, mas eu escolhi Filoso-fia para fazer. Eu gosto muito desses assuntos, gosto de ler assim, en-tão eu falei: “vou fazer Filosofia” e passei no vestibular, que também não era difícil (riso) enfim, passei no vestibular e comecei a fazer Filo-sofia. Mas não era tanto o que eu queria, mas eu não podia sair, que eu era de menor como eles falavam. Papai recomendou que eu não saísse, porque era assim, não era tanta aquela pressão para não fazer, porque o papai apesar de ser mineiro, ele foi um pai assim meio dife-rente, porque ele cuidava da gente em Coqueiral. Vamos voltar para Coqueiral um pouquinho: a mamãe dava aula no grupo, papai era co-letor, a prefeitura era na praça, a mamãe ia para a aula, o papai ia para o retiro pegar o leite das vacas e tudo, voltava para casa, acorda-va a gente e a gente fazendo dever ou alguma coisa assim e ia para a prefeitura e falava que ia ficar olhando a gente lá da janela da prefei-tura. Então, a gente tinha aquele respeito, ninguém saía, fazia os de-veres, arrumava, cuidava dos mais novos, arrumava as tarefas da ca-sa. Papai vinha por volta de 11 horas punha a gente para tomar ba-nho, terminava o almoço, punha a gente para almoçar, olhava as ore-lhas, os cabelos, e tudo se estava tudo direitinho para ir para escola, a gente ia para a escola, a mamãe vinha. Mamãe foi casada, papai fale-ceu com 66 anos, eles foram casados por 27 anos. A mamãe nunca fez mingau de criança, nunca rolou café de criança, nunca fez café em casa. “Isso é tarefa do papai”. E ele ajudava muito com a gente. Ele tinha assim, um carinho especial com os filhos, sabe, então assim, o papai era um pai diferente. Então eu não tive aquele negócio “porque você é menina, você não pode fazer isso”, não. “Você não pode fazer isso porque isso não é bom para você”, “você na deve fazer aquilo por-que isso não é…”, sabe? Lógico, tinha as proibições, a gente tinha que chegar em casa tal hora, tudo isso tinha, mas não era assim tão enfá-tico “isso você não pode porque você é mulher ou que você é menino” ou que não sei o que. Mas como eu era meio desesperada eu cansei de ouvir: “Maria Dulce, isso não são modos de menina, Maria Dulce, você tem que tomar jeito.” Porque vivia correndo, vivia pulando, enfim…
P - E o curso de Filosofia então…
R - Pois é, curso de Filosofia eu falei: “ai papai, não é isso que eu que-ro”, eu gostava de algumas matérias, mas falei: “vou fazer o que com isso agora?” Com menos de 18 anos. Aí a minha irmã casou e veio morar em Brasília. E eu tinha feito vestibular de Educação Física lá em Belo Horizonte e fiquei de excedente, sabe? E eles não me chama-ram, mas o papai falou: “Maria Dulce, você vai morar lá em Belo Hori-zonte como? Não tem parente” Porque você tinha de morar em casa de parente. “Você ta muito nova para sair sozinha”. Eu não tinha nem carteira de identidade, só tirava com 18 anos. Aí ele falou: “tenha cal-ma, você tá muito nova”. E eu com aquela impaciência. Enfim, aí a minha irmã casou e foi morar em Brasília. Aí eu falei para o papai: “Papai, então eu podia ir para Brasília. Morar com a Ana.” Aí eles ne-gociaram lá com a minha irmã e com meu cunhado e eu vim para Brasília em setembro de 1972.
P - Em 72? E como era Brasília naquela época, Dulce?
R - Quando eu cheguei em Brasília à primeira vez, eu pensei que es-tava entrando em marte. Porque o ônibus entrou de madrugada, as-sim, era uma cinco da manhã, mais estava lindo, lindo, lindo. A hora que eu abri o olho assim, aquele monte de caixinha e um nascer do sol assim meio arroxeado, mas uma coisa maravilhosa. Então a visão que eu tive assim de Brasília parecia que eu estava entrando assim, sei lá, marte, alguma coisa dessa. Eu nunca tinha visto essa concep-ção de cidade, não tinha muita foto de Brasília. Papai tinha vindo na inauguração de Brasília. Ele saiu de Coqueiral com quatro amigos num jipinho 1951 e vieram pelos interiores de Goiânia e tudo. E veio na inauguração em 1960.
P - Por que ele veio?
R - Ah, porque ele adorava o Juscelino O Juscelino mexia ali na regi-ão, tinha o compadre dele, o Olavo Freire, o seu Geraldo Freire, então ele era o parlamentar, deputado, sei lá e papai mexia ali no sul de Mi-nas Gerais, ele conhecia esse povo todo e era fã do Juscelino, assim absolutamente número um. Então ele veio conhecer o que era isso. Ele tinha gostado muito do governo do Juscelino.
P - Aí você em Brasília…
R - Aí fiquei assim deslumbrada. Eu cheguei e fiquei falando: “nossa, é aqui que eu quero ficar.” E quando eu vim visitar minha irmã para saber se eu queria vir para cá. E eu falei: “é aqui que eu quero.” E eu estudava com a minha amiga Telma, então, nossa, aí a minha irmã que morava aqui mostrou tudo para a gente. Eu fiquei encantada. Eu fui à Universidade, nossa, mãe do céu, fiquei louca. Imagina, sair de Coqueiral, ir para Lavras, e chegar aqui em Brasília, aquela moderni-dade toda, eu fiquei doida. Tinham muitas quadras vazias. Acho que por isso que pontuava aquela história do interplanetário para mim. Porque eu assistia aos filmes do Buck Rogers (riso). Acho que tudo aquilo que eu vi nos filmes do Buck Rogers, do Flash Gordon, das his-torinhas do Flash Gordon, eu acho que Brasília era isso para mim. Sabe, aquela coisa assim, aqueles prédios diferentes?
P - E a sua irmã morava em qual quadra?
R - Morava na 112 sul.
P - Na 122.
R - Então assim, vinha aquele monte de bloco e de repente aquele monte de árvores, porque as quadras vazias. E o Eixão, aquilo tudo muito reto, a cidade do interior, muita rua. Então era uma coisa as-sim, um parâmetro absolutamente diferente daquilo tudo que eu tinha vivido. Aí foi aqui que eu quero ficar. Aí quando vi a UnB pronto, me apaixonei, aí vim, em… isso era junho, julho de 1972, em setembro eu já estava aqui.
P - E você fez o vestibular logo em seguida?
R - É, eu fiz dois meses de cursinho no Pré-Universitário, que era o the best aqui em Brasília, nessa época. A escola funcionava no 912, mas o cursinho era na 504, debaixo do prédio do Ponto Frio. E aí eu fiz o cursinho lá e passei na UnB.
P - Qual o curso que você passou?
R - Eu passei em letras, porque eu queria fazer literatura e língua in-glesa. Era o que eu queria fazer. E também ensino público naquela época era bom. Eu tinha uma base melhor do que eu imaginava, por-que eu cheguei e entrei na UnB e depois que eu fui saber que era dis-putadíssimo (riso). Eu não tinha idéia de vestibular. Eu fui meio que indo. Eu vou meio que indo na vida. A minha vida eu acho que foi to-da assim. Eu falo “não quero isso”, mas também não sei exatamente o que eu quero. Aí “ah, tem isso aqui, tá, vou ver se está bom.” E eu en-trei para Letras. Quando eu entrei para Letras, meu tio, ele era pro-fessor lá na UnB e eu pedi para a ele os papéis da UnB para eu ler, pois sempre que eu chegava, eu gostava de me informar, nessa época não tinha Internet. Aí eu falei: “ah, tio David, me arruma umas coisas aí para ler.” E ele me deu. Quando eu comecei a folhear o que era os cursos na UnB eu me deparei com o curso de comunicação. Ah, cria-tura, a hora que eu li aquilo eu falei: “é isso que eu quero para a mi-nha vida É isso daqui que eu quero fazer “Ah, tio David, como é que eu faço?” Aí, comecei a lembrar do Colégio de Lourdes, que eu sabia as propagandas tudo de cor e salteado, mas eu não vou cantar agora porque eu não quero pagar esse mico (riso). Eu sabia propaganda da Super Quick, sabia propaganda de um monte de coisa. E eu adorava, adorava as revistas e olhava aquilo, é o calor e não sei mais o que. Bom, eu falei: “gente existe isso, quer dizer, você estuda isso Meu Deus, o que que é isso? É isso que eu quero fazer Tio David, o que é que eu faço, né?” Ele falou assim: “Não, mas você pode, é curso de humanas, você pode transferir.” Aí eu falei: “quanto tempo leva isso?” “Para você transferir você leva uns dois anos.” Eu falei: “não tio David, eu não quero isso não, demora muito.” Aí ele falou: “então, você vai ter que fazer vestibular de novo.” Eu falei: “faço” E aí me inscrevi no ves-tibular, isso nós já estávamos…
P - 1973?
R - 1973 Aí, eu fiz vestibular de novo para comunicação, e passei também. Aí passei…
P - E como que foi fazer comunicação em 1973 na UnB? Como que era a Universidade?
R - Um horror, porque ninguém falava. Então você tinha professores como José Melchior e ninguém falava português claro, porque nin-guém podia falar. Você fazia aquelas matérias de introdução à sociolo-gia, e eu também não entendia muito bem o que acontecia, mas era assim: aí você tinha um colega na sala e de repente aquele colega não aparecia mais. Aí a gente falava: “ai, sumiu Germana? Onde foi o Germana?” E ninguém respondia cadê a Germana? Aí, eu ia lá: “tio David, o que é isso que está acontecendo?” Aí que eu fui descobrir a repressão, o governo Médici, aquelas coisas todas.
P - O seu tio dava aula de quê?
R - Ciência Política.
P - Ciência Política?
R - Ele é cientista político até hoje, mora aqui e tudo. E aí, ele que começou a me contar essas coisas ,e eu comecei a ver isso na pele. Por exemplo: eu gosto muito de cinema, eu sempre gostei. Desde a época em que lá em Coqueiral eu ia para o Cine Brasil (riso) que o ca-ra dava tiro e eu me escondi embaixo da poltrona para o tiro não me pegar, que eu fiz disso tudo. Eu era muito bobinha, eu fui uma boba, assim sabe, o quanto pode ser, uma boba da ingenuidade da época, que não tem mais hoje. Eu vivi as fases da minha vida muito bem vi-vidas, sabe? Eu fui criança quando tinha de ser, adolescente, eu fui assim, vivia direitinho, então desde aquela época eu gostava muito de cinema e eu fui assistir um filme chamado Toda Nudez Será Castiga-da. Eu fui assistir esse filme e no dia seguinte o filme tinha acabado, estava proibido. Por quê? Era comum, contavam aí as pessoas lá na UnB, que eram as mulheres dos generais que iam para o cinema, as-sistiam aquilo, achavam aquilo um absurdo, buzinavam no ouvido dos generais e o filme era proibido. Um outro também que eu fui como re-comendação da professora de sociologia, Maria do Carmo, acho que ela chamava, muito assim, porque eles não falavam nada claro, tudo era muito, escondido assim. Fui assistir esse filme, também foi proibi-do, porque contava de quando começou a briga dos trabalhadores, enfim. Então, eu fui vivendo isso, descobrindo isso e lendo sobre isso, onde se podia ler, porque não tinha quase nada. E não se falava nada, a imprensa muito proibida. E foram assim os meus primeiros anos na UnB, e a comunicação aí que começa a abrir, quando você começa a saber as coisas.
P - E o Banco do Brasil, como que veio surgir aí?
R - Pois então, eu estudava na UnB e tinha os colegas da arquitetura. Eu fazia comunicação, e a arquitetura era do lado. E eu entrei para o Banco do Brasil porque tinha o irmão de um amigo meu, que era o Felipe, era o meu amigo e o irmão dele, o Ricardo, ele desenhava his-tória em quadrinhos. E eu amo história em quadrinhos, em literatura ainda estuda história em quadrinhos. Aí o Felipe: “ah, meu irmão es-tuda história em quadrinhos”, não sei o que, não sei o que, “ele dese-nha, faz história em quadrinhos, você vai gostar de conhecer”, não sei o que. E quando eu conheci o Ricardo aí num instante ele: “aí, vou te namorar”, e não sei o que e por fim, e para não alongar na história, a gente começou a namorar. E aí logo a gente queria se casar e eu não tinha emprego (riso). A minha irmã, que era do Banco Central, era do Banco do Brasil e foi para o Banco Central e o meu cunhado, que era do Banco Central tinham me dado quinhentos editais do Banco do Brasil ou do Banco Central para eu fazer concurso e eu: “não, eu que-ro estudar, quero morar fora, quero estudar fora”, não sei o que. Aí quando eu conheci o Ricardo tá, “vamos nos casar”, o Ricardo traba-lhava, ele mexia com publicidade já nessa época, tivemos tudo haver. E aí como que eu casava sem emprego? Aí eu falei: “Ô minha irmã, não tem nenhum concurso do Banco do Brasil para eu fazer?” Aí eu fiz o concurso do Banco do Brasil.
P - Em que ano?
R - 1975.
P - Em 1975?
R - Eu fiz o concurso. E adiei a minha posse até o último dia que eu podia. O povo do Departamento de Pessoal me ligava e eu: “tá, mas até quando eu posso ir?” “Até tanto.” “Tá, então tá” Porque eu assim, sabe, eu queria ter um emprego, mas eu não queria o Banco do Brasil, “aí meu Deus, o que eu vou fazer no Banco do Brasil?” Eu não tenho nada haver com aquilo, eu pensava. Mas eu queria casar também, eu tinha que ter um emprego. E foi assim que eu entrei no Banco, no úl-timo dia, 12 de março de 1976, era o último dia que eu podia ter en-trado no Banco do Brasil como concursada naquele concurso lá, de 1975.
P - Dulce, você entrou no Banco do Brasil meio que por acaso, as-sim, o fato do casamento, mas o que significava o Banco do Brasil na época, assim, até não sei, para os seus pais, para a sua família?
R - Nossa, para minha família quando eu falei que tinha passado no concurso do Banco do Brasil eles achavam que eu estava com a vida resolvida. Porque era assim, tinha um anúncio do Banco muito inte-ressante, era o prefeito, o padre e o gerente do Banco do Brasil. Era assim. E era verdade. O meu filho vai ser engenheiro, médico ou fun-cionário do Banco do Brasil. Era uma peça, um título. E a outra era o prefeito, o padre e o gerente do Banco do Brasil. E era verdade, era isso. Então era assim the best, trabalhar no Banco do Brasil. E eu não achava nada disso, lógico, eu queria casar. Para mim eu não estava nem ligando para isso, porque eu não ligava muito para essas coisas, sabe?
P - E quando você entrou então no Banco do Brasil, qual era sua primeira função lá?
R - Trabalhei no setor de ações. Entrei como auxiliar de escrita, que não era nada. Tinha umas pessoas que chamava a gente: vem cá auxi-liar” E eu ficava danada: “o meu nome é Dulce” (riso) Que eles fala-vam, assim, e eu sempre fui muito assim, acho que sempre gostei muito de ser eu mesma, sabe? Assim, sempre fui muito eu, (riso) nun-ca fui muito ajeitada, chique assim como a minha irmã, como uma minha amiga, Germana, sabe? Eu não sou assim. (riso) Eu ando mais solta, eu sou mais assim estabanada, então, aquilo era sério demais para mim. Era muito sério, eu não sou séria desse jeito.
P - E você trabalhava seis horas?
R - Trabalhava seis horas e estudava de manhã. E era um terror no Banco, porque tinha horário, tinha aquele chefe que assim, mandava em você. Era um mundo de homens. Acho que eles não estavam mui-to satisfeitos com as mulheres entrando, então a gente sofria um pou-co.
P - Tinham muitas mulheres?
R - Nessa época ainda não.
P - Não?
R - 1973 não. Não tinha tanto. Já tinha bastante, mas não tantas as-sim e os homens parece, gostavam muito de exercer o poder deles em cima da gente. Nossa, mulher sofria nesse Banco.
P - E como que era estudar e trabalhar, Dulce?
R - Muito apertado. E assim, eu casei logo. Não, quando eu entrei eu não estava casada ainda, mas assim, eu queria viver lá, eu não queria viver do Banco. O meu primeiro ano de Banco foi um pouco sofrido por isso, porque eu tive que me ajustar. Que eu nunca fui assim de ser preguiçosa, nada disso. Eu cheguei, eu estou ali, eu faço, não tem essa não. Mas era uma coisa muito forte, muito pesada. O gerente fi-cava andando, eu trabalhava na sobreloja e o gerente ficava passean-do para ver o que a gente estava fazendo e eu pensava comigo: “puxa, ele não tem nada para fazer? Precisa vigiar os outros?” Por que eu sempre fui assim: me deu um serviço, eu faço, não precisa ninguém me vigiar. Então para mim aquilo era uma afronta. O cara ficar pas-sando e vigiando a gente. Mas era meio assim.
P - E depois, você foi para onde?
R - Aí eu fui, fiquei lá quatro meses e esse meu amigo lá da arquitetu-ra, ele um dia soube, já fazia comunicação e ele trabalhava, chamava DESED, era a área de recursos humanos do Banco, onde tinha o áu-dio-visual do Banco, a área de treinamento do Banco. Então, eles es-tavam precisando de alguém da área de comunicação para trabalhar com o assessor que cuidava da comunicação do Banco, que era dentro da Diretoria de Recursos Humanos. Aí ele falou para o chefe dele de mim, o chefe dele ligou para o Márcio Cotrin, que era a pessoa res-ponsável pela comunicação do Banco naquela época e eu fui lá con-versar com ele, na diretoria. E aí eu lembro que eu andava assim meio coisa falavam assim: “você tem que ir arrumada” E aí minha irmã me emprestou a roupa, me arrumou, me produziu, porque eu não sabia nem roupa para ir lá. E eu fui falar com o Márcio Cotrin. E ele conver-sou lá comigo, gostou e achou que eu podia ser a pessoa para traba-lhar com ele e aí eu fui para lá. Em dois dias eu estava lá, o que eu também achei muito estranho, porque na Agência Central, a Direção Geral era assim, um lugar inatingível, que eu não podia nem pisar pa-ra entrar, eu achava de tanto que eles fantasiavam, e eu cheguei lá, o Cotrin foi super light, conversou e não sei o que, “então tá, você vem.” E em dois dias eu estava lá. E foi assim que eu fui para a área de co-municação.
P - E você ficou quanto tempo lá na área de comunicação?
R - Bom, eu fui para inaugurar a milésima agência do Banco, por isso eu fui. Para ajudar o Cotrin nisso. Para inaugurar a milésima agência do banco, eu fiquei encantada, o Cotrim era muito empreendedor re-almente, ele fez muitas coisas. E desde esse dia, foi julho de 1976, eu fiquei na comunicação até abril de 1995.
P - E qual era o trabalho que você fazia lá, Dulce?
R - Ah, eu comecei como assistente do Cotrin, eu continuei como au-xiliar de escrita, naturalmente, e fiquei lá ajudando olha, eu ajudei o Cotrin era uma pessoa, que isso ele me ajudou muito, que ele não queria saber se eu era auxiliar ou se eu era o que. Ele nunca me cha-mou de auxiliar, chegou lá eu tive que tomar conta da exposição mo-dular que rodou o Brasil todinho. Eu tive que fazer coisas assim que eu achava que nem ia dar conta. E no entanto, eu fui me surpreen-dendo com o tanto que eu gostei daquilo. E ele realmente, se eu tinha de falar com um chefe de Departamento, ele falava para eu falar. Eu nem cheguei a ter noção do que era essa hierarquia tanto do Banco quando eu fui trabalhar com o Cotrin, porque éramos ele, um menor aprendiz, o João Pergami e eu. Então, e numa Diretoria de Recursos Humanos, então era um assessor que cuidava disso, então, nós tí-nhamos que de conta daquele projeto. Então, eu falava com quem pre-cisava falar e foi nessa época do Cotrin inclusive, que eu conheci o Maurício Teixeira, que ele depois veio a ser o chefe lá da área de sele-ção e desenvolvimento pessoal, que é o DESED. E o Cotrim assim, me deu asas, acho que ele me deu as asas que eu queria. Acho que ele notou, ele era muito assim, ele sabia que eu gostava de viajar e de to-das as formas. Eu gosto de viajar assim, e ele me deu asas. E então, a gente deu conta daquele projeto, e eu continuei com ele.
P - De qual projeto você falou que a exposição…
R - Foi a inauguração da milésima agência do Banco do Brasil. Eu esqueci a cidade agora, se não me engano foi uma cidade do Mato Grosso. E teve um monte de atividade, teve um monte de coisas, sa-be? E éramos só nós, tomando conta disso e a gente deu conta, foi um projeto bárbaro. De lá para cá a gente veio vindo e eu fiquei… Nem lembro sua pergunta mais, viajei aqui na exposição.
P - Eu estava perguntando como que era a área de comunicação, o que você estava trabalhando?
R - Então é isso, éramos nós três. E aí depois, tinha a pessoa que tra-balhava lá na função de contínuo, o Jatobá que ajudava também nis-so, fazendo o serviço que não dava tempo da gente fazer. Então nós éramos essas pessoas. Aí depois a área foi para a Presidência do Ban-co, na época do presidente Richbitter, nós fomos para a Presidência, mas não era assim, um setor estruturado, depois que se estruturou. E aí vem vindo: depois ela foi para a Consultoria Técnica, depois voltou para a Presidência.
P - Agora, Dulce, só para entender, você trabalhava na área de co-municação, mas a comunicação era interna ou externa ao Banco?
R - Externa
P - Vocês estavam trabalhando com marketing, então?
R - Era o marketing do Banco, só que não tinha o setor era dentro da Diretoria de Recursos Humanos, tinha esse assessor chamado Márcio Cotrim, que cuidava da comunicação externa do Banco. Nós só traba-lhávamos com agência de propaganda, tinha a MPM Propaganda que atendia o Banco do Brasil. E já fazia os anúncios todos. Inclusive a comunicação do exterior, tinha propaganda e tudo.
P - Legal, Dulce Como veio a Fundação? Você já ouvia falar da Fundação? Porque a Fundação já tinha sido criada em 1988. Você já tinha ouvido falar alguma coisa sobre a Fundação?
R - Já. Nós que cuidamos de todo o lançamento da Fundação Banco do Brasil, na área de comunicação. Então, eu conhecia muito do Ban-co, porque todos os anúncios e todas as peças passaram por lá. Então eu conheci muitas pessoas e muito do Banco do Brasil por isso. Então a Fundação Banco do Brasil eu conheci. A gente fez o anúncio de lan-çamento, a gente fez não, a gente encomendou, porque quem fazia e-ram as agências de propaganda, mas assim, eu participei de todos es-ses briefs da fundação. Eu lembro de todas as partes de criação da Fundação, sob o a lado da propaganda, não o lado operacional.
P - E como que foi isso assim para você?
R - Eu adorava porque eu sempre fui assim (riso) um pouco assim, meio irmã Dulce. (riso) Quando eu trabalhava lá no laboratório Santa Cecília eu ia cuidar das crianças da pediatria, eu ia ver as pessoas da enfermaria, trazia roupa para eles, levava caderninho para as crian-ças, eu sempre gostei disso. Tem esse lado depreciativo: “a Dulce ado-ra mexer com pobre”, sabe? E assim, e eu não, eu gostava de estar ali junto. Porque eu ficava tão feliz, eu sempre achei que eu lucrava com isso, por que eu recebia muito mais porque aquilo ficava. Eu gostava de ver os olhinhos das crianças assim, mexendo. Que era uma coisa que eles viviam, não era o dia a dia deles. E eu levava, cortava figuri-nha, e lá nesse laboratório eu era secretária, então eu ficava traba-lhando de manhã, ajudava, fazendo as fichas e depois tinha um perío-do que eu ficava de dez da manhã até uma da tarde, que eu não fazia nada. Aí eu tinha de arrumar coisa para fazer, que eu sempre fui mui-to inquieta. Aí eu fugia pela Santa Casa a fora, que o laboratório era na Santa Casa.
P - Que laboratório é esse?
R - Laboratório Santa Cecília, que foi o meu segundo emprego. Era na Santa Casa. E aí eu ia andar pela Santa Casa no tempo em que eu estava à toa, enquanto não chegava cliente, que se colhia sangue e recebia material só até dez horas. E aí acabou aquilo, tinha a menina que ajudava a fazer exame, que ajudava a mexer com aquilo, que eu não gostava. Aí eu ia andar pela Santa Casa, eu gostava de mexer com as crianças. Bom, e lá no Banco, quando começou a Fundação eu a-chei o máximo, porque aí sim, uma organização com o peso do Banco, aí eu já entendia o peso do banco, não tinha mais problema nenhum de afirmação como mulher, que isso também foi passando, crescendo no Banco. Eu já estava bem à vontade lá e aí eu fiquei encantada, a-chei o máximo o Banco fazer aquilo e tudo mais. E aí me lembro, um projeto que eu me lembro muito; eu me lembro muito dos anúncios de lançamento de todo o grupo que criou, que trabalhou para criar a Fundação, eu lembro de algumas pessoas. Mas assim, me lembro es-pecialmente de, hoje se fala produto, de um projeto que tinha lá que se chamava FUNDEC. Então, teve algumas propagandas que a gente teve de fazer, alguns folhetos, algumas coisas, então me lembro bem. Aí quando...
P - Aí vocês fizeram o FUNDEC, vocês fizeram que tipo de material? Que tipo de produto?
R - Naquela época não tinha propaganda em televisão, porque não era esse o target que a gente queria para a Fundação. Era uma coisa mais direcionada, que era para entregar. Você fazia assim: fez o anúncio em revista, parece que em jornal de que estava lançando esse programa, esse projeto e fez alguns livretos para poder dizer o que era esse proje-to, como esse projeto ia trabalhar. Eu não me lembro com detalhes agora, Eliete, mas era assim basicamente: teve um anúncio para revis-ta, eu não me lembro se saiu no jornal, que saiu em revista bem seg-mentada e tinha um folheto, que não sei o que, o Zé Dureza, acho que era o personagem que foi criado para poder falar como o FUNDEC funcionava, para levar nas comunidades. Eram peças assim basica-mente impressas, folhetos. E aí, porque também eu tenho uma coisa assim: eu gosto de estar onde eu me sinto bem, onde eu gosto, eu te-nho que estar apaixonada por aquilo. Em tudo na minha vida. Seja em família, amizade, namoro, casamento, tudo na minha vida, se eu não estiver apaixonada, absolutamente feliz ali, ou mais feliz do que triste, pois às vezes você fica meio triste, mas não tem problema, pas-sa. Mas assim, se eu começo a ver que aquilo não ta bom, pode saber que eu vou embora. Sabe, eu gosto de brincar, eu gosto de estar bem ali. Começou a me incomodar, eu, às vezes, demoro em resolver, mas eu saio. E aí, aconteceu isso na área de comunicação. Eu não estava feliz mais, eu não estava gostando, não estava mais interessante...
P - Por que Dulce?
R - A gente passou aquele período do Collor, que foi assim, de uma autocracia absoluta, com a propaganda de instituições como o Banco. Começaram as interferências governamentais, você não tinha mais autonomia, tudo você tinha que ir à Presidência da República. Come-çou a ter licitação, que eu não concordava muito com aquilo. Eu fui até das pessoas que mexeu com a licitação do Banco fazendo normati-vas do que eram as leis e enquadrando para o Banco. O que uma a-gência de publicidade e propaganda vende é criação. E para criação, como você faz licitação disso? Sabe, então assim...
P - Então você está falando de licitação para as agências?
R - É, porque antes, as empresas, apesar de serem estatais a gente escolhia de um jeito. Tem um lado bom, que centralizou a comunica-ção, o que seria uma coisa ótima, mas, aquilo para mim não estava sendo feito pelo lado bom, estava sendo conduzido pelo lado ruim, tá? E aí eu comecei a achar aquilo muito estranho. Bom, só para você ver o que me incomodou é isso que aconteceu hoje, depois de tudo o que está acontecendo com a área de comunicação foi o que me incomodou na época e foi uma das grandes coisas que me fez sair, sabe? Eu não acreditava mais naquilo, achava que aquilo não ia dar certo.
P - Isso foi depois das licitações... As licitações começaram depois do Collor?
R - Foi. O Collor que criou toda a arregimentação que instituiu que todo o governo federal de administração, direta ou indireta, teria que ter um órgão único no governo e que controlaria toda a verba e todo o tipo de comunicação. Então, todas as organizações da administração direta e indireta por lei, decreto, não lembro mais bem o que era... ins-truções normativas. Os decretos e as instruções normativas eles ti-nham que se reportar a essa Secretaria da Presidência da República. Então, eu achei que aquilo não era muito sério, como eles estavam querendo mostrar, tá? E eu não achei mais graça na brincadeira. En-tão eu falei: “não quero mais ficar aqui.” E mesmo porque, eu acho que com meu jeito de pensar, apesar de trabalhar assim, eu acho que eu já fui assim, não sendo tão útil mais, já estava lá a um certo tem-po, sabe? Começa aquela coisa assim que você já não é mais muito bem vinda. E aí, eu falei assim: “ah, quer saber? Eu vou sair”. E um dia lá, eu pensei naquilo, e quando são decisões muito importantes na minha vida, eu não resolvo com a agilidade que eu gostaria, que eu sou muito analítica, eu analisava, pensava, enfim. Aí um dia eu falei: “não, não quero mais, acabou.” Uma noite lá, passei a noite acordada, criatura, e eu que durmo até aqui se eu parar de falar, de tão fácil que eu durmo. Eu não dormi uma noite pensando, falei: “não dá, eu não quero mais isso, que que eu faço, que que eu faço, que que eu faço?” E acordei, fui para uma médica que eu tinha que ir de acupuntura, porque eu faço como medicina preventiva. Fui saindo de lá, de repente eu pensei: “gente, o Rabelo está na Fundação.” Rabelo que tinha tra-balhado comigo na comunicação do Banco, ele era da área de impren-sa, no gabinete da Presidência do Banco. Eu fiquei muito tempo, ele era de uma área operacional, depois ele passou para a área de im-prensa. Ele foi assessor de imprensa antes de ir para o exterior. E a gente trabalhou bem junto nessa época.
P - Antes de ele ir para Portugal?
R - Exatamente. Aí o Rabelo, para você ter uma idéia assim de tanto que nós éramos ligados como colegas de trabalho, que a gente chama-va ele de Rabelinho, que hoje é o nome que o filho dele tem. E falei: “o Rabelinho está na Fundação, vou lá falar com ele.” E fui lá na Funda-ção. Desci da médica, entrei lá no Setor Comercial Sul e falei: “vou fa-lar com o Rabelo, agora.” Assim, eu fui falar com o Rabelo. Mas assim, no caminho. A Doutora Cléa lá perto do Pátio 2. Eu desci, vim aqui, entrei, e fui falar com ele. Como a gente tinha essa intimidade, eu che-guei lá, falei que queria falar com ele e ele me recebeu na hora, não tinha marcado hora nem nada. Bom, eu entrei lá e falei com ele. Ele falou: “mas eu não tenho cargo aqui para você.” E eu falei: “o que que você tem? Você tem alguma coisa no FUNDEC?” Eu lembrei do FUN-DEC. Ele falou: “tenho, mas eu tenho uma comissão nova” E eu era seis, era um pouco acima. Então eu falei: “quero Você pode me rece-ber?” “Claro, Dulce, tudo bem” Não sei o quê. E quando eu fui saindo, tinham as pessoas lá que eu conhecia, e as pessoas com umas caras esquisitas, não sei o quê, tristes pareciam e eu lá, alegre, radiante porque eu ia para a Fundação.
P - E isso quando?
R - Abril de 1995.
P - Abril de 1995?
R - Aí combinei com o Rabelo: “então tá Rabelo, eu vou lá para o Ban-co agora, já vou falar lá na comunicação avisar que eu vou sair. E vo-cê se importa se eu vier para cá só daqui uns 15 dias? Porque eu que-ro sair para dar uma quebrada de ritmo, vou tirar alguns uns dias, uns 15 ou 20 dias...” “Não, Dulce, problema nenhum. Você acerta lá, e você vem.” E eu saí. Cheguei lá na comunicação, falei que eu ia sair, que eu tinha conversado com o Rabelo. Todo mundo ficou meio espan-tado, porque eu não tinha falado nada. Mas de fato, eu tinha resolvido naquela manhã definitivamente. E aí fui lá para a Fundação. E aí tirei uns dias e aí cheguei na Fundação depois de uns quinze dias.
P - Dulce, você não pegou o momento das demissões, das demis-sões não, dos devolvimentos de funcionários para o Banco do Brasil, que eram funcionários da Fundação?
R - Não. Eu não peguei e não sabia que isso estava acontecendo, por-que na verdade, eu conversei com o Rabelo muito rápido, e ele falou que me aceitava, eu fiquei super feliz. E aí eu já fui resolver lá no Ban-co. Por quê? Porque aquilo sim me aliviou a alma. Falei assim: “ai, não vou mais ficar nesse lugar que eu não gosto” Que era bem assim, ape-sar de amar comunicação eu não queria mais ficar ali. Então, eu esta-va feliz porque eu tinha ido para um outro lugar que eu sabia que eu ia gostar também. Bom, aí saí para os meus 20 dias e voltei para a Fundação. E cheguei lá, mas no dia que eu cheguei, eu fiquei absolu-tamente atônita, porque eu passava no corredor assim, e as pessoas me evitavam, essa era a palavra correta, me evitavam. Poucas pessoas falaram comigo, poucas me deram “bom dia” e “boa tarde”, sabe? En-tão tinha uma menina, que tinha saído lá da área de comunicação e tinha ido lá para a Fundação e tinha a Regina. E essas pessoas con-versaram comigo mais ou menos normais, elas estavam mais ou me-nos normais para conversar comigo. Talvez porque me conheciam de antes.
P - Elas ficaram? Elas não passaram pela reestruturação?
R - Não. Parece que elas saíram depois. Elas saíram também, mas e-las estavam ainda no dia em que eu cheguei.
P - Então você chegou logo no momento?
R - Quando eu cheguei, no dia que eu fui falar com o Rabelo, depois que eu vim a saber, era o day after da comunicação, que ele tinha fei-to e de que algumas pessoas iam ser devolvidas para o Banco. E como eu fiquei 20 dias fora, várias pessoas tinham sido devolvidas. Então eu cheguei no day after do comunicado e cheguei quando vários cole-gas, dos que estavam lá tinham saído. Então assim, eu me senti muito mal. Eu cheguei num lugar assim em que eu não me sentia bem vinda também. Eu falei: “ai meu Deus, eu saí de um lugar que eu não estava mais gostando, vim para esse, ai, o que é que eu faço?” Aí eu falei: “não, agora eu tenho que aceitar.”
P - E em que área você ficou quando você entrou?
R - Eu fiquei na área administrativa trabalhando com o Sérgio Cotrin, que era um dos que estavam cuidando da reformulação da Fundação.
P - E o que você fazia lá?
R - Nessa área?
P - Isso
R - Sim, quando eu cheguei, eu mexia com quê? Eu não lembro assim exatamente, o Rabelo chegou e queria que eu catalogasse as coisas de comunicação que tinha da Fundação para ver o que podia fazer em termos de comunicação. Tivemos que fazer algumas licitações para comprar alguns materiais para área de informática. Eu fui cuidar com o João e com o César de alguns editais de licitação, porque eu tinha experiência nessa área também. Então, eu fiquei fazendo o que preci-sava na área administrativa, sem estar com função definida, sabe? Fiquei fazendo assim o que precisava, porque as pessoas; parece que pela ocasião da tristeza que estavam, parece que não estavam com boa vontade de atenderem os novos pedidos. E eu estava chegando, então, essas coisas que precisavam, assim, eu ia intermediando aqui e acolá. Foi isso o que eu fiquei fazendo.
P - E depois você chegou a assumir alguma área então?
R - Cheguei. Porque mais ou menos em agosto, eu não sei se foi julho ou agosto, setembro, eu não sei. Uma das diretoras de área da Gerên-cia de Operações I, ela saiu com emprego no GDF, concurso que ela tinha feito, e o Rabelo me convidou, me perguntou se eu me interessa-ria em candidatar ao cargo dela. E me esclareceu que tinha mais da Fundação, mais umas quatro ou cinco pessoas e tinha uma pessoa de fora, e eles iam mandar os nossos currículos para a diretoria do Ban-co. Assim ele me disse. Inclusive, eu me lembro bem que, eu tinha ido a secretaria, eu trabalhava no andar de baixo, e eu tinha ido a secre-taria pegar umas cópias de um material de licitação que o César tinha providenciado para mim, e a secretária disse: “ah, o Rabelo quer falar com você” E eu entrei com aquela papelada e pus a papelada no colo. Aí quando ele falou isso, eu comecei a tremer, que aquela papelada pulava assim e eu falei: “mas Rabelo, você acha que eu tenho condi-ções disso?” Ele disse: “acho, tenho certeza que você tem Currículo você tem, pelas coisas que você já fez no Banco mas você vai...” E Eu fiquei nervosa, assim, um pouco insegura e também com o ambiente lá que não era muito agradável para nós que havíamos chegado. Até aquele momento, ainda não dava assim para a gente trafegar com tranqüilidade, sabe?
P - Então você assumiu qual área?
R - A Gerência de Operações I.
P - Gerência de Operações I? E o que era a Gerência de Operações I?
R - Analisava projetos. Tinha a Gerência de Operações I e a Gerência de Operações II, que era o Cisne. Francisco Cisne. E eu não lembro exatamente, mas alguns projetos eram nessa gerência e outros lá com o Cisne e o FUNDEC. Eu inclusive nunca cheguei a trabalhar no FUN-DEC, que era lá na área do Cisne.
P - Você lembra de algum projeto que você analisou quando você estava lá na gerência? Teve algum assim, especial?
R - Não, porque os projetos eram muitos assim, não tinha um projeto específico. Tinham projetos da área de saúde, não lembro nem da área exatamente, das áreas da Fundação. Mas tinha muito de dar equipa-mento médico para hospital, tinha muito a parte de apoiar banda, ti-nha um do apoio ao CNEC, aquelas escolas cnecistas.
P - Era um pouco projeto balcão ainda, atendimento a balcão?
R - Era projeto de atendimento ao balcão, por isso não me lembro tan-to assim. Eram projetos muito variados, tinham esses grupos de pro-jetos que aconteciam. O mais mesmo estruturado era o FUNDEC que...
P - E aí você foi para a área de educação?
R - Comunicação
P - Comunicação?
R - Aí o Rabelo me chama já como... Ia ter uma reestruturação na Fundação, eles queriam criar uma área de comunicação e ele me en-carregou e criou a Diretoria de Comunicação e me destacou para ficar lá para criar a Diretoria, toda a infra-estrutura, treinar e ajudar no treinamento dos funcionários.
P - Como que foi essa experiência, Dulce?
R - Ah, foi muito boa, porque aí eu já estava assim, vamos dizer, mais enturmada na Fundação, acho que o pessoal já tinha visto que eu não era concorrente para ninguém, que eu apenas tinha ido para lá, muito embora eu não sei nem quantas pessoas acreditam que eu tenha caí-do do jeito que eu lhe contei lá, porque eles estavam muito doídos com razão, porque essas dores cada um sabe onde aperta. A gente que chega não pode medir, e eu não tinha dado muita fé do que tinha a-contecido, porque eu simplesmente estava mudando, eu não sabia. Depois que você vai pegando você vai... Aí falei: “não, não vou me es-quentar com isso.” Então já estava um pouco mais enturmada. Então, foi muito bom, porque é uma área que eu realmente gosto e lá na Fundação a gente teve... Isso o Rabelo foi bom também, ele dava liber-dade para você criar, muito embora ele controlasse lá do jeito dele, mas, a gente podia assim, apresentar o que fosse. O Comitê aprovava ou não, mas a gente podia caminhar na necessidade daquilo ali. E a comunicação eu entendia um pouco e então não foi difícil.
P - Dulce, era algo muito novo então essa coisa da comunicação na Fundação. Bom, faz parte de um momento de mudança e o que vocês propuseram de inovação assim, já que a própria área já era nova?
R - Olha, o que a gente viu? A Fundação apesar de ser uma coisa muito importante para o Banco, não cabia, a gente entendia naquela ocasião, fazer uma propaganda ostensiva. Uma que não tinha verba e segundo, era um momento difícil da economia do Brasil, e assim, esse lado social, a gente acreditava, tinha que investir muito nos projetos e não na comunicação para gastar uma verba assim tão grande. Então a gente foi criando mecanismos assim, como a gente criou o jornalzi-nho interno, o Viva Voz, a gente começou a criar projetos dentro das áreas e aí foi, a Fundação estava em um momento de incentivo à pro-gramas também. A gente foi estruturando alguns programas que pu-dessem dar essa visibilidade e pudessem ter como back-ground tam-bém a parte toda social, o lado educativo, o lado cultural. Aquilo a-brangeu todas as áreas que a Fundação atendia. Foi assim um traba-lho muito interessante porque ficou uma comunicação, vamos dizer, com pouca verba, mas ficou uma coisa que foi considerada na época boa, criativa pelas pessoas que entendiam de comunicação e atingiu, assim satisfatoriamente ou até diria bem, os públicos onde a gente queria atingir. Dentro da estratégia da comunicação a gente foi atrás de institutos que trabalhavam com a educação no terceiro setor, bus-cando parceiros aí. Então, o nome da Fundação foi se espalhando sem ter essa comunicação ostensiva de mídia eletrônica. Então foi uma comunicação que a gente tinha de criar de todas as formas para poder estar e sem gastar e mostrando o que a gente fazia lá com os projetos.
P - O Viva Voz ele foi um jornal voltado para funcionários do Banco do Brasil? Ou era uma comunicação interna entre os funcionários da Fundação? Como que era isso, qual era o público?
R - A gente tinha que fazer... Foi um dos mecanismos usados também para fazer a propaganda dos funcionários do Banco, para os funcioná-rios do Banco, porque a gente fez uma pesquisa e o próprio funciona-lismo não sabia o que a Fundação Banco do Brasil fazia. Então nós tínhamos que ter mecanismos para tornar isso conhecido. Então, foi criado com esse foco também, para funcionários e também a gente usava para clientes nossos, possíveis parceiros, parceiros potenciais, as pessoas que iam lá na Fundação, a gente mandava também para a área governamental, sabe? Mas assim o funcionário do Banco foi as-sim um dos focos..
P - O público alvo.
R - Um dos públicos prioritário. O público prioritário foi o funciona-lismo. Não foi exatamente ele. O primário. O secundário, esses outros que eu lhe falei.
P - Agora Dulce, e a mídia eletrônica? Vocês já trabalhavam com Internet? Como era isso?
R - Não. A Internet veio depois, eu não lembro nem se eu ainda estava na área de comunicação. Talvez eu estivesse, mas era assim um me-canismo que estivesse tão acessível, nas organizações. Então demorou um pouco. Acho que eu já estava na área de comunicação quando a Internet pegou assim, essa força que ela tem. Não me lembro bem, mas não era, quando criamos a Diretoria de Comunicação a Internet não era um dos veículos disponíveis, não.
P - Agora, Dulce...
R - Nós tínhamos a BBnet, ou o Bbnet, que era uma comunicação pa-ra todos os funcionários, que a gente usava para divulgar projetos, ou alguma coisa também.
P - Existia em nível do Banco do Brasil?
R - Do Banco do Brasil
P - Agora Dulce, você não ficou até o final nessa área da comuni-cação. Você mudou e por quê?
R - Porque eu comecei a não achar graça de novo (riso). Aí, eu achei que já não estava tão engraçado mais, sabe? Aí eu falei: “quero mudar novamente.” Aí, nessa ocasião já era a Heloísa a diretora da área – di-retora da Fundação – Aí eu falei com ela, teve uma nova reestrutura-ção, aí eu falei que eu gostaria de fazer uma outra coisa, de tentar uma outra coisa. Aí eu fui para a área de educação.
P - Bom, uma pergunta um pouco até pessoal, Dulce. Com saída do Rabelo para você que tinha entrado ele era um ponto de contacto, na Fundação. Com a saída do Rabelo como que foi isso? Assim, você, por ser o governo Fernando Henrique, enfim, você pensava que o Ra-belo iria ficar? Como ficou até sua situação? Você se sentia até vincu-lada ao Rabelo ou não?
R - Não. Porque está aí uma coisa que talvez possa ter até prejudicado a minha carreira no Banco, porque eu nunca quis fazer esse papel po-lítico, eu não gosto disso. Eu queria vencer pelo meu talento, pela mi-nha habilidade. E eu acreditava que isso fosse possível. Então, apesar de o Rabelo ter me dado a chance de ir para a Fundação, eu não era uma pessoa assim, que me sentia ligada ao Rabelo. Eu não fui assim. Ele nunca me convidou, eu me convidei para ir para lá. Você entende a diferença?
P - Sim, claro.
R - E mesmo que eu tivesse ido, eu sempre tive uma coisa sempre cla-ra para mim: eu trabalho para o Banco do Brasil. Então, para o Banco do Brasil eu trabalho direito e vou trabalhar sempre. Eu acho assim: que o Banco me deu muito do meu conhecimento, do meu aprimora-mento, mas eu também respondi para o Banco com toda a lealdade que eu pude, sabe? Eu sou uma pessoa leal, eu acho, sabe? Eu prezo minha família, prezo meus amigos e prezo meu trabalho, exatamente nessa ordem. E assim, quando eu estou achando que eu já não estou tão leal assim, é onde eu perco a graça e eu mudo. Se eu não acho mais engraçado, se eu não estiver rindo muito da coisa, eu não quero mais aquilo. Então, eu não sentia bem, então para mim não teve pro-blema ele sair. Eu não achei que com o que eu tinha de bagagem de trabalho eu fosse ser prejudicada. E eu acreditava nisso. E a minha carreira no Banco foi mais ou menos assim: eu trabalhei no gabinete da Presidência do Banco, mudaram n, n presidentes e chefes e tudo mais, e eu fiquei porque fui para a consultoria técnica do Banco, a propaganda, e mudou consultoria, chefe, a P2, a P4 e eu sempre fica-va. Eu era técnica, tá? E fui ficando. Então não teve diferença para mim. Eu senti que era um amigo, mas, também, eu acredito que nes-ses cargos assim, é sempre bom uma mudança. Eu não tive assim... Você fica com pena, às vezes, temendo uma descontinuidade. Sempre numa mudança de um cargo máximo de uma instituição, a gente que continua fica assim apreensivo. Mas eu acho que teve melhorias com a vinda da Heloísa, acho que agregou ao trabalho que ele já estava fa-zendo, agregou muito de bom para a Fundação, então, eu não tive problemas.
P - E como que foi essa mudança para a Educa, que foi para onde você foi? O que foi isso assim?
R - Na área de educação?
P - É.
R - Eu me senti um pouquinho peixe-fora-d’água, a não ser o projeto Memória que nós havíamos criado na área de comunicação. Ah não Fui para área de cultura antes de ir para a educação.
P - Então, conta para a gente como que foi essa mudança. Perdeu a graça para você a comunicação, depois você foi para a cultura. E aí, como que foi?
R - Como é que eles brincam: “jogou um sapo n’água de novo”. E a gente já estava com esse Projeto Memória idealizado, aí ele foi para a área de cultura. Um projeto fantástico, foi uma das estratégias que a gente usou para fazer a comunicação da Fundação. Para divulgar a Fundação, esse Projeto Memória... Aí então. E aí eu fui para a área de cultura e o carro-chefe era esse. Mas a área de cultura ela pratica-mente ficou pouco como área de cultura. Aí logo...
P - Se tornou...
R - Não, acho que a área de cultura, era Educa. Não Mas enfim, teve essa parte que era a área de cultura, mas depois fui parar na de edu-cação. Era uma coisa completamente nova para mim e eu achei bom ir para lá por cauda minha vontade de ser professora e que eu gostava de ser professora eu realmente acredito que a educação é o que falta no Brasil. Eu acho é uma tristeza não se dar a importância devida à educação, que é a base de tudo na vida de um cristão, de um ser hu-mano. Eu fico assim com pena. Então eu achei que era uma oportuni-dade e tanto para mim para aprender novas coisas e juntar com tudo que eu já tinha. Mas foi um grande desafio, porque a gente conversava com as pessoas que vinham, aquelas pessoas dos projetos que traba-lhavam com os projetos, que trabalhavam com educação a vida intei-ra, quer dizer, que tinham trabalhado, o que não era o meu caso. E começavam aqueles assuntos, eu me sentia um peixe-fora-d’água, en-tão eu ouvia mais do que falava, palpitava onde eu podia. Mas aí foi assim fantástico. Foi um aprendizado absolutamente bom. Os projetos da educação são bárbaros.
P - Dulce, fala um pouco para a gente do Projeto Memória, você acompanhou desde o início?
R - Acompanhei.
P - Como que surgiu essa idéia? Surgiu na comunicação, então? Foi uma estratégia da educação ou surgiu lá mesmo na cultura?
R - A gente não pode dar uma pausa?
P - Você quer parar?
R - Tomar uma água e ir ao banheiro. Um café, se possível.
(Pausa)
P - Dulce, a gente estava conversando sobre o Projeto Memória. Você trabalhou no projeto e, inclusive, você trabalhou no começo. Eu gostaria de saber se o projeto Memória nasceu como estratégia de co-municação ou se ele surgiu da cultura. Você estava falando que exis-tia uma área, da cultura. E como que foi essa história do Projeto Me-mória?
R - Falar para você exatamente onde ele começou, eu não me lembro e isso eu acho que o Arthur Pedreira tem muito para falar e deve saber assim, nos mínimos detalhes. Mas numa das mudanças de estrutura da Fundação, que eu acho que no tempo que eu fiquei lá eu passei bem por umas quatro reestruturações. Numa dessas, eu acho que quando foi criada a área de comunicação, e o Arthur que era da área operacional, ele veio para a nossa área. Bom, a Fundação tinha a par-te de restauração de patrimônio histórico, a parte de cultura, a parte de... que de alguma forma era alguma coisa de memória e me parece que existia o esqueleto de fazer assim, alguma homenagem para per-sonalidades brasileiras, para resgatar a memória daquelas personali-dades. E nisso, foi onde nasceu o Projeto Memória. O cerne do pro-blema como eu lhe falei, não lembro exato.Mas tudo isso era o bojo. E agente viu nisso, como também vinha para a comunicação, como uma das estratégias para também divulgar a Fundação, ta? Então aquilo que era o esqueleto, o embriãozinho de um projeto, ele foi crescendo. Nós elegemos o Castro Alves... Foi criada a estrutura do projeto, que ia homenagear personagens da nossa história, que tinham feito dife-rença no Brasil, marcado uma época, aquela coisa toda. E foi eleito o Castro Alves por vários motivos, e a gente descobriu. E o Arthur era o assessor responsável por isso. Por isso que eu digo que ele tem todos os meandros, porque eu era diretora da área, e a gente não pega tudo quando você está coordenando uma área. E a gente descobriu que a Odebrecht tinha um projeto parecido com ele, já estava homenagean-do o Castro Alves naquela época, era o centenário de nascimento ou sesquicentenário, nem lembro mais, acho que sesquicentenário, por-que ele é de 1800 e pouco. Bom, aí a gente foi fazendo visitas, fomos Rabelo e eu fazendo visitas na Odebrecht para ver se nós juntávamos, porque algumas das peças que eles estavam fazendo nós também terí-amos no nosso projeto. Bom, e começou, a Odebrecht entrou meio as-sim, que desconfiada, nunca tinha feito uma parceria assim, princi-palmente com uma organização como o Banco do Brasil. Nesse caso de cultura, ela era muito linear no que ela fazia na área de cultura, que ela fazia. que eram alguns livros. E eles iam fazer exposição, e o nosso projeto tinha um livro e exposição. Como que você ia fazer na Bahia, concorrer Odebrecht, concorrer com Castro Alves. Não dava. Ou a gente unia ou o nosso não saía, é, porque a gente estava come-çando. Só sei que a gente uniu, foi uma parceria maravilhosa, e a gen-te de fato começou a usar esse projeto como estratégia de comunica-ção e foi bárbaro, porque depois veio o Monteiro Lobato, o Juscelino já foi recente, em 2000. E vieram outros personagens da nossa história, tá, e a gente assim: fazia livro, fazia exposição, fazia trabalho com es-colas, com os estudantes de segundo grau, sabe, que tinha uma carti-lha, tinha a fita de vídeo que você distribuía para as professoras. Aí você ia distribuindo para os outros, atores dos programas da Funda-ção, sabe? Então foi uma estratégia que se não foi criada especifica-mente como de comunicação, eu diria para você que ela foi uma das grandes divulgadoras do trabalho da Fundação Banco do Brasil, por-que assim, teve uma saída, uma receptividade, uma visibilidade para a Fundação, uma coisa assim, fantástica.
P - Dulce, no mesmo ano que o Projeto Memória teve lançamento, do Castro Alves, que foi o primeiro homenageado em 1997. No mesmo ano teve o lançamento do Programa Homem do Campo. Você chegou a participar do Homem do Campo?
R - Não Do Homem do Campo não, porque eu não estava na área assim operacional mais. Mas a gente participou...
P - Mas chegou a viajar?
R - Não, não, não, porque eu já era responsável por uma área, então quem mais viajou foram: os assessores que cuidavam dos projetos e inclusive foram assessores da minha área e os responsáveis pelas á-reas onde estavam o Homem do Campo. Eu não era a responsável, então, por esse projeto eu não viajei.
P - Agora, Dulce, você tem alguma história de quando você estava lá à frente da área de cultura, que abarcava o Projeto Memória? Você tem alguma coisa que você lembra? Algo que te marcou? Algum proje-to?
R - Ah, o Projeto Memória foi acho que indiscutivelmente o que mais me marcou na Fundação. Porque assim, eu sou muito ligada à memó-ria. Me incomoda muito a falta de preocupação das pessoas com me-mória. Eu não só prezo a minha memória, que eu tenho em fotos, ado-ro fotografias, fotografo tudo, que é a forma de eu visualizar. E eu ado-ro ir a museus, adoro livros de História, adoro ouvir histórias de pes-soas idosas, sabe? Eu gosto de histórias com H mesmo, isso eu prezo muito. Gosto de História da Civilização, como as coisas aconteceram. E me incomoda muito uma tendência do mundo ocidental e eu não posso dizer pelo mundo oriental, naturalmente, é assim: muda um governo, muda e aí vem de cima para baixo. Mudou o governo, eles tentam apagar o que foi feito e não agregar valor. E isso vem numa escala decrescente e chega até um grupo escolar, até na casa das pes-soas. Então, esse é um costume ocidental, que a mim incomoda, tá? Por que? Porque eu acho que a melhora da sua vida, começando de você, a sua memória, a memória da sua família, a memória da sua cidade, do seu Estado, do seu país, entendeu? Isso está em você, não adianta você querer tirar. Então você é o que você é por conta disso tudo. Então assim, me incomoda que isso não exista. E no Brasil, in-felizmente, nós tivemos um momento da nossa história em que nós fomos roubados dela. Mais recente, a época militar. E assim, me en-tristece ver, não que eu quisesse que todo mundo desse a mesma im-portância que eu, mas me entristece que as pessoas não dêem impor-tância quase nenhuma a isso. Então o Projeto Memória foi uma coisa assim, que me realizou profissionalmente, porque eu pude botar a ex-periência da área profissional e tive assim, no Arthur o maior defen-sor, porque ele também pensava muito sobre isso, sabe? Então a gen-te se deu muito bem para fazer esse trabalho, que ele gostava disso também, ele preza também memória, ele acha isso importante, enten-deu? E o Arthur é uma pessoa assim, que tem um conhecimento de História absolutamente fantástico. E eu aprendi muito mais com ele, porque ele tem muito mais conhecimento do que eu, nessa parte, sa-be? Ele é um homem inteligentíssimo, com uma bagagem cultural muito grande, e a gente viajava muito juntos, então pude aprender com ele assim demais. E foi muito emocionante, acho que para ele também, mas para mim especialmente, eu poder ir aonde o Castro Alves nasceu. Você imagina uma coisa dessa? Eu falo aqui e fico toda arrepiada, eu sou toda boba como eu lhe falei. Eu continuo aquela caipira lá de Lavras ainda, lá de Coqueiral. Então eu prezo muito isso. Então eu ficava assim, absolutamente emocionada de encontrar pes-soas lá da terra, Muritiba. Tinha um dentista lá, que infelizmente es-queci o nome dele. A gente sentava para conversar e a gente bebia Castro Alves, porque ele era absolutamente apaixonado. Ele foi morar lá porque lá era a terra de Castro Alves. E ele viajou com a gente, era historiador de Castro Alves, “Castro Alves fez isso, Castro Alves fez aquilo” e aquele monte de pessoas falando daquilo que eu prezo de-mais, sabe? Que é cultura, que é história, que é educação, que eu a-cho que são as coisas que fazem um ser humano. E que eu acho as-sim que infelizmente a juventude hoje não preza tanto. Acho que a juventude hoje é muito imediata, muito assim, é tudo para ontem. Eu sou uma pessoa absolutamente imediata, mas eu acho, graças a Deus, eu tive alguma coisa na minha educação que me fez ver isso, porque nem todos os meus irmãos gostam e prezam isso assim como eu. Também, nós somos oito, cada um é diferente. Mas eu digo assim, teve algum momento. Mamãe gostava muito que a gente lesse, sempre comprou livro, papai também foi um homem que sempre leu jornal, O Sol daquela música “Caminhando Contra o Vento”, meu pai assinava, quer dizer, o papai assinava aquela revista Senhor do Rio de Janeiro, que foi toda aquela classe intelectual lá do Rio de Janeiro que fazia. O Carlos, o Jaguar, o Ziraldo, todo aquele povo, então eu tive esses privi-légios. Não sei se era o Jornal do Brasil ou o Jornal da Manhã, não sei, que vinha o suplemento feminino, mamãe tirava aqueles modelitos de bolo para fazer para a gente quando a gente era criança. Quer dizer, eu tive acesso a isso e suguei isso e aproveitei isso. Então, eu gosto. Aí nossa mãe O Projeto Memória foi absolutamente fantástico Viver lá onde o Castro Alves andou foi assim o máximo, aí me fez ler Monteiro Lobato. Quer dizer, Monteiro Lobato que no meu tempo de criança eu nem pude ler assim, porque ele era comunista, então não entrou livro do Monteiro Lobato na minha casa. Eu só vim a ler livro do Monteiro Lobato muito depois, como eu lhe falei eu vim de um lar católico, a-quela coisa toda. Aí conhecer aquelas pessoas que eram doidas para falar do Monteiro Lobato, e sempre eu com o Arthur lá do lado, que nós dois rodávamos esse país. E aí você conhece as pessoas interes-santes que estão ali por trás do projeto, a neta do Monteiro Lobato, a dona Joyce, que eu tenho relacionamento com ela até hoje, sabe, de visitá-la. E assim, sabe, de você ir lá em Taubaté, pegar tudo ali, sabe assim? Nossa mãe, mas foi uma coisa absolutamente fantástica. En-tão aquilo não era trabalho. Então aquela coisa, enquanto eu estou no passional: “ah, eu tô feliz, tô sapo na água”. Tudo isso me fazia traba-lhar com gosto e eu passei por momentos difíceis da minha vida, um pouco antes da Fundação, que foi quando eu me separei. Eu tive um casamento muito bom, graças a Deus, e assim foi triste a gente se se-parar. Não vem ao caso, nem é isso que vocês estão perguntando, e nem é hora de falar disso, mas assim, então o trabalho foi muito bom para mim nessa época. Eu estava na área de marketing num momen-to muito bom e quando não ficou bom, eu fui para a Fundação e em pouco tempo, eu me enturmei, conquistei o meu espaço, e me cai o Projeto Memória na mão, quer dizer, foi assim fantástico. A gente fazia aquilo, tanto o Arthur quanto eu, aí nós dois éramos assim os defen-sores e os quixotescos lá e... (riso) Eu acho que era até chato para ou-tras pessoas a gente às vezes, porque a gente queria o tempo todo o Projeto Memória, que a gente não ocupava o tempo com os outros pro-jetos da Fundação. Lógico, isso é um pouco demais, mas a gente era aquela coisa realmente passional com o Projeto Memória. E a gente viajou e a gente conversou, e conheceu gente fantástica e pôde apren-der e pôde divulgar a Fundação. Porque a gente fazia aquilo com tal gosto, sabe, que o trabalho saía bonito, saía amarrado, saía bom. En-tão foi assim, uma coisa fabulosa.
P - Então, Dulce, você acompanhou o Castro Alves, Monteiro Loba-to e qual mais outro homenageado?
R - Até o Juscelino eu ainda acompanhei de outra área. Então até 2000 eu acompanhei todas.
P - Mas no Juscelino você já estava em qual? Estava no Educa?
R - Já estava no Educa. Daí eu estava na área do Fumio.
P - Por que você mudou? Por que você foi para a Educa?
R - Não. Eu pedi para sair da comunicação. Aí o Projeto Memória pa-rece-me que ele veio para a Educa, mas depois ele saiu. O Projeto Memória foi para outra área. As mudanças lá da área. Não me lembro exatamente.
P - Mas quais os projetos que existiram lá na área da Educa?
R - Ah, sim Aí vem a educação, que é outra coisa que eu amo tam-bém por acreditar que isso é absolutamente isso é fundamental para um povo, a educação. E você trabalhar com BB Educar, que você alfa-betiza a pessoa. Você trabalhar com o AABB Comunidade que você tirava as crianças de uma escola e as colocava em uma outra escola, que na verdade, que é uma coisa livre, que são as AABBs que elas po-diam trabalhar o lúdico, aprendendo. E você pega, aí na faixa de sete a 18 anos e você pegar o Escola Campeã, que era um programa onde você ia trabalhar a gestão escolar para professores ou secretarias de educação. Minha filha, outro sapo dentro d’água. Apesar daquilo que eu lhe falei que eu não tinha aquele conhecimento assim sobre educa-ção, mas eu fui aprendendo assim aprendi. Isso eu acho bom, você ir para uma coisa quando você tem que aprender. Que isso é um desafi-o, que a mesmice assim, sabe? Eu não ficava, eu não dou pra isso. Então foi assim absolutamente fantástico estar lá, e aprender. E a gente teve oportunidade de viajar para ver algumas formaturas, algu-mas...
P - Você lembra de alguma história, dessa época que você começou a viajar para acompanhar esses projetos? Você lembra alguma coisa especial, algum momento?
R - Eu acho que todos os momentos assim, eram muito especiais em todos os projetos. Em todos, tanto no Memória quanto no BB Educar quanto no da comunidade, no Escola Campeã também. Por quê? Tal-vez o Escola Campeã um pouco menos essa parte do emocional, as-sim, mas sempre havia agradecimento das pessoas pelo que a Funda-ção Banco do Brasil estava proporcionando. E isso eu achava absolu-tamente fantástico. E às vezes, quem não tinha aquela percepção exa-ta da Fundação Banco do Brasil, falava Banco do Brasil, que era o mesmo objetivo vamos dizer, afinal de contas, o Banco do Brasil que é o mantenedor da Fundação. Mas assim, no caso específico das pesso-as que se “formavam” no BB Educar, aí era de chorar. E aí o que dá pra rir dá pra chorar. E eu choro com a mesma facilidade com que eu rio e com que eu falo. E já viu que eu falo pouco. (riso) E falo rápido (risos)
P - Um pouquinho.
R - Então... (risos)
P - Você lembra de algum momento do BB Educar? Que te mar-cou?
R - O BB Educar não era uma história. Era a história que acontecia em todos os lugares. De chegarem àquelas pessoas absolutamente simples, aquelas pessoas que chegavam para você. Porque as pessoas quando são simples, elas são puras e falam, assim, que nem criança, não é? Não falam mentiras para você. Então não adianta, aquilo era verdadeiro. E elas chegavam perto de você e falavam assim: “Eu pos-so dar um abraço na Senhora?”, e: “Pode dar quantos a Senhora qui-ser”, e adoro abraçar, “nossa, a Senhora não pode imaginar...” eu fico emocionada só de lembrar, porque é assim, elas vinham para te agra-decer porque você tinha a ensinado a ler, quer dizer, elas tinham con-seguido aquilo ali, não agente, você está entendendo? Elas que tinham quebrado todas as barreiras de, sei lá, ter 60, ter 70 anos, mais de cinqüenta e não saber pegar em um lápis, porque elas não sabiam pe-gar em um lápis, elas não sabiam pegar em um lápis, e elas falavam isso para gente, então assim, as pessoas chegarem para você e fala-vam assim: “ah, eu quero agradecer a senhora, porque foi a senhora que me fez a ler.” E eu falava: “de jeito nenhum, a senhora que foi que quebrou as suas dificuldades vindo aqui. Se a senhora não tivesse vindo, a senhora não teria aprendido. Então que bom que a gente aju-dou a senhora nisso Mas a senhora vai continuar, porque se a senho-ra parar aqui...” E as pessoas que vinham, normalmente, eram aque-las que você sabia que iam continuar, aquelas que ficavam tão inebri-adas de ler uma palavra, de ler, de escrever um nome e que elas as-sim, você sabia que elas iam, queriam saber mais daquilo. Isso era em toda formatura que você ia. Eu acho que do mesmo jeito que eu fui, as outras pessoas que foram também representando a Fundação, pude-ram ver isso, sabe? Porque tinha aquele formalismo de estar todas as autoridades presentes, mas o bonito era isso. E no AABB Comunidade era assim: as crianças chegando: “tia, tia, tia a tia tô gostando muito daqui”, quando você perguntava. E as mães vindo para agradecer porque os filhos tinham mudado nisso, tinham mudado naquilo, ele não gostava de ficar na rua mais, ele gostava de ficar na AABB, tinha aprendido a jogar futebol, um tinha aprendido isso, outro tinha a-prendido aquilo. E teve o caso de uma cidade, acho que foi Paracatu, acho que foi Paracatu, que o AABB Comunidade já está há um tempo aí, de uma mãe que veio para agradecer o pessoal da Fundação Banco do Brasil, porque o filho dela tinha estado no programa um tempão e ele era um menino meio rebelde e tudo. E ele com o programa já tinha ficado, aprendido outras coisas e já era, já estava assim com uns 20 anos, não sei o que. E ela agradecia o AABB Comunidade e sempre que havia AABB Comunidade em Brasília, que ela ia lá agradecer, porque a vida do menino dela tinha mudado. E depoimentos escritos também, que a gente via nos relatórios que chegavam. Então era as-sim, absolutamente fantástico você ver que uma organização do ta-manho do Banco do Brasil que criou uma Fundação e podia estar propiciando aquilo para essas pessoas que não tiveram oportunida-des e que a gente teve na verdade. Eu falo que a gente que está aqui, se qualquer um de nós abrir a boca para reclamar da vida, eu acho que tem que no mínimo apanhar, porque a gente foi privilegiado. E aquelas pessoas não tinham nada. E então você chegar, não é uma história em particular, porque isso se repetia em todos os lugares.
P - Você lembra de mais outro projeto, Dulce? Que passou por essa época quando você estava numa diretoria de área, o que você lembra que tenha algo especial?
R - Olha, os assim do coração são esses que eu diria a você, porque mexem com aquelas áreas que eu te falei que eu acho que movem um povo, que movem a civilização. Então, que é a memória, que é a edu-cação, que é a saúde. Por quê? Porque tanto no AABB Comunidade, quanto no BB Educar, eles têm, por ser essa metodologia educacional ligada ao Paulo Freire, elas têm esse lado de formar o cidadão. Então, você é o seu próprio ator, você dá aquela autonomia. Então, a pessoa aprende que em primeiro lugar é ela, que ela é um cidadão, e como cidadão ela tem direitos e tudo. Então eu acho assim: que isso que é o bacana nesses projetos, que é você ajudar a pessoa a ser isso. Lógico, como eu falo a você, a pessoa tem que estar pronta e querer isso. Por-que se ela não quiser, não adianta nem descer por goela à baixo, como se diz, que não resolve. Então assim, eu acho que esses foram os pro-jetos que mais me entusiasmaram, que mais me gratifica e que eu a-gradeço por ter passado pela Fundação e por ter vivido com isso. No Banco eu vivi a comunicação como um todo, que é uma das minhas paixões também. E lá na Fundação eu podia agregar a comunicação, que é uma das minhas paixões com toda a parte desse... Eu não gosto de falar social, porque eu acho isso pouco, eu acho muito pouco por isso que é feito nesses projetos. Então foram assim os que mais en-cantaram esses projetos que eu diretamente conduzi. Agora, quando eu saí da Fundação Banco do Brasil, esse projeto da tecnologia social já estava em pleno andamento, parece que eu acompanhei uma ou duas versões e eu acredito que eu também não tenho como dizer de todo. Eu não acompanhei todos os meandros, acompanhei nas dis-cussões para a criação do projeto como diretora de área, que eu era, e eu acho que é um projeto assim, mais abrangente ainda, que eu acho que se bem compreendido, que se bem entendido, ele é um projeto assim do valor assim para o brasileiro e para o Brasil muito grande. Muito embora, eu ache que no nível de educação que o Brasil tem ho-je, eu acho que esses projetos que chegam lá como o AABB Comuni-dade, o BB Educar, são assim de mais fácil assimilação e de dar um resultado positivo. Eu acredito, do que eu me lembro que foi a tecno-logia social, eu acho que a partir dessas pessoas que vão para o BB Educar e que vão para o AABB Comunidade, como se essas pessoas fossem desenvolver as tecnologias sociais. Eu acho que eles se com-plementam, porque sem você saber ler e escrever você está capenga de um jeito, e sem você ter essa orientação para a cidadania, essa coisa séria, você não tem a compreensão do que pode ser esses benefícios todos que esse Banco de Tecnologias pode dar para as comunidades. Eu penso assim, sabe, eu acho que é isso.
P - Dulce, tem um fato curioso, você participou da elaboração do livro Guarani?
R - Sim.
P - Como que foi essa história?
R - (Riso) Eu assim, eu acho que o que tem de mais curioso e me constrangeria falar aqui na entrevista dessa de banco de imagens, porque eu fui um tanto quanto atrevida, assim, porque eu estava em nome da Fundação Banco do Brasil. Mas foi assim, um projeto que estava com uma certa dificuldade na condução e acho que a gente conseguiu dar um rumo para ele. Tanto que eu soube que o livro ficou pronto, eu nem cheguei a ver. E eu fiquei feliz porque o projeto saiu. Na época eu acho que a minha equipe teve um papel importante no andamento desse projeto, fazer com que ele continuasse. Mas eu fica-ria constrangida de contar isso (riso)
P - Tudo bem.
R - Acho que a Germana gostaria que eu falasse isso, mas... (riso)
P - Não quer falar, tudo bem. (riso)
R - Não, é que assim, uma das pessoas importantes do projeto é uma pessoa assim, talvez... (riso)
P - Não precisa citar nomes.
R - É porque assim, nós estávamos num ponto, que nós tínhamos que resolver. Nós estávamos com o advogado do Banco lá nos ajudando, para você vê, porque já era uma parte legal e aquilo não deslanchava, não saía. Porque uma das pessoas que estavam no projeto responsá-vel pelo projeto, como idealizador daquele projeto, a pessoa era um tanto quanto assim, um nome, uma autoridade e assim, achava que tudo conseguiria com o nome, mas nós já estávamos na parte legalista da coisa. E lá fomos nós, eu e Germana para o Rio, para conversar com o advogado do lado, e tudo. E Chegamos lá e...
P - Conversar com quem lá no Rio?
R - Com a Universidade que cuidava do projeto, vamos dizer, que ti-nha escrito o projeto para o Banco. Então, tinha professores de músi-ca, e todas as pessoas envolvidas lá. E aí, numa hora nós... (riso) A pessoa que tinha de fazer a função, e tudo, e a gente explanou o as-sunto, a Germana também e eu, também, o advogado também colo-cou, todos nós colocamos. E aí eu fiz algumas ponderações e essa pessoa virou assim: “então a senhora...” alguma coisa assim “está in-sinuando que eu não fiz a minha parte no trabalho?” Alguma coisa assim: “a senhora está insinuando isso?” E eu falei: “Não, não. O se-nhor está equivocado” alguma coisa assim “eu não estou insinuando, eu estou afirmando que o senhor não fez” Aí foi aquele gelo na mesa assim. Uma coisa desse tipo: “Eu não estou insinuando não, eu estou afirmando que o senhor não cumpriu” Então foi aquele mal-estar e todo mundo ficou torto, não sabia para que lado. Aí ele ficou meio tor-to também: “então tá não sei o que” Aí , a reunião deslanchou e ficou definido o que era a parte de cada um. E ficou mais ou menos assim. Mas foi muito engraçado, na hora que saímos de lá, Germana e eu ri-mos à beça. A Germana quase desmaia, como eu já lhe falei, a Ger-mana de uma fineza, assim. Ela ficou torta também, preocupada. Eu falei: “não, a gente tem que falar português claro, senão a pessoa es-tava dando uma de desentendida” e o negócio estava num clima que coisa assim, foi demais. Saiu o livro, então valeu a saia justa lá.
P - Dulce, como que você avalia a sua trajetória na Fundação? Vo-cê ficou até 2003? Você se aposentou?
R - Foi.
P - Como que foi isso? Como que foi essa...
R - Eu não estava achando mais graça também. E eu estava, acho, não achando graça não só do lado profissional . Eu precisava, eu ia fazer 50 anos no ano seguinte e todas as décadas eu fiz mudanças na minha vida e eu precisava saber que eu tinha de sentir que eu tinha feito alguma coisa para entrar bem aquela década. Sabe como? Todas as décadas eu tive um momento assim. E eu já estava incomodada, falei: “não, não sei o que eu faço, não está dando mais trabalhar.” Não era a Fundação. Era o esquema todo de trabalho, o jeito como tudo estava vindo e eu inquieta também, queria fazer alguma coisa diferen-te. Mas ao mesmo tempo eu achava que eu estava muito nova e as pessoas: “aposenta, você já tem tempo” “Não, eu tô muito nova, não quero, adoro meu trabalho” E eu amava aquele trabalho na Funda-ção. Eu achava assim, que a gente realmente fazia uma coisa boa, uma coisa útil, alguma coisa que sabe, que fazia sentido. Eu achava um grande privilégio, você trabalhar com projetos daquela natureza, era o máximo. Então aquilo tudo me inquietava, porque eu questiona-va muito, como eu lhe falei tudo e naquele momento da minha vida... Eu deixei, passou tudo e aconteceram algumas coisas. E eu, fui viajar com a Telma, aquela minha amiga de 40 anos que sempre está, e con-versei muito com ela, a gente foi para a ilha de Marajó, para Belém e não sei o que; Manaus, lá para o Amazonas à fora e assim. Então a teve a assim, oportunidade da gente conversar demais, nós ficamos quase um mês viajando e acho que ela me conhece mais do que eu. Acho não. Eu tenho certeza. Ela me conhece mais do que eu mesma, e eu acho que mais que a minha família. E foi muito bom conversar com ela. Ela me resgatou alguns valores que já estavam muito encobertos naquela briga toda por trabalhar e aquela confusão toda, e ela come-çou a resgatar: “Dulce, você não gosta disso? Você não gosta daquilo?” E começou a pegar da nossa época de menina mesmo. Todas aquelas inquietações, que eram os planos de vida que ela seguiu, que eram meus planos de vida, e ela começou a questionar muito isso e me deu umas dicas lá para eu encontrar as minhas respostas e as respostas vieram. E aí, de uma hora para a outra, eu atrasei dois dias para vol-tar ao trabalho. Fiquei absolutamente fechada em casa meditando na minha vida e sem atender telefone e sem nada, foi dica da Telma, lógi-co Eu fiz tudo Porque a Telma para mim, falou, eu acredito nela: “Faça isso que você vai ver encontrar a resposta, mas tem que parar”. E eu: “Mas como parar?” “Pare E faça isso” Parei. Parei dois dias. Fa-lei para minha irmã: “cheguei, mas não vou trabalhar e ninguém sabe que eu estou aqui.” E fiquei em casa. Eu fiquei dois dias, sabe? Den-tro de casa, só tomando líquido, não comendo e pensando, pensando, pensando. Bom, eu sou rezadeira porque eu gosto, por escolha e por vocação. Então, ela falou “você faz o que te der conforto.” Então eu rezava, ouvia música, que não podia ser muita coisa. Meditando lite-ralmente. E aí, veio um primo dizendo que estava indo para a Nova Zelândia, encontrar com a esposa dele que estava fazendo doutorado lá, e ele também ia terminar de escrever um livro. E nisso foram acon-tecendo... “me manda papéis daí”. E nisso, foram acontecendo coisas. Quando chegaram os papéis de lá eu: “vou me aposentar e vou viajar.” E era um sonho antigo. Essas coisas, Telma começou a lembrar: “mas você não vai se aposentar e viajar? Por que você não faz isso?” “Não, mas eu não quero, mas eu não quero” “Pense Dulce, pense.” A Telma falou: “com dois dias você vai ter resposta.” Lógico, que eu não tive resposta nenhuma. “Calma Dulce, você é muito apavorada” E foi as-sim, aquilo que eu te falei, a minha vida me incomoda, eu não quero mais brincar daquilo, mas eu não sei exatamente o que fazer. Aí al-guma coisa acontece e eu vou com aquilo, sabe? E nisso meu primo veio se despedir, desejar feliz natal e ano novo e dar tchau. E daí à pouco quando chegaram os papéis e eu resolvi aposentar e pronto. Resolvi na primeira semana de janeiro, não falei para ninguém. E aí, eu conversei com uma pessoa amiga, que me deu as dicas. E assim, uma outra coisa interessante que eu falo, que é a sincronia do univer-so e que as minhas amigas falam: “ai, você é doida” Ai não, o universo tem uma sincronia. Você vai indo lá e ele tem uma sincronia. E o meu primo falou: “vai, vai para lá Se você quer ir para lá, vai até abril” Eu falei: “não Chiquinho, abril eu não posso, vou em junho.” Falei assim. E quando eu falei com a pessoa em janeiro, na primeira semana de janeiro que eu me decidi que eu me aposentaria e que iria viajar e mo-rar um tempo na Nova Zelândia. Fui conversar com uma pessoa no Banco, ela olhou os papéis e falou: “a melhor época para você se apo-sentar é junho ou julho.” Aí eu falei: “nossa mãe, sincronia do univer-so Lá vou eu” Aí eu não tive mais medo. E também, uma coisa inte-ressante, que quando o meu primo me ligou, eu fui mexer no meu es-critório em casa e quando vê, me caiu uma revista de viagem com No-va Zelândia. (riso) Sim, estou falando que eu sou doida, que eu acredi-to nisso tudo. O universo é perfeito, as coisas acontecem quando você está afim. E uma coisa que eu nunca tive competência para ser, que eu nunca quis aprender, é a ser assim, ruim. O povo brinca que eu falava de pureza da alma, e é verdade, eu procuro ter, porque gosto de ser sincera com as pessoas para ter também. Então assim, eu não sou assim de inventar muita mentira, muita coisa assim não. E eu come-cei a me lembrar dos meus tempos, lá dos 18, 20 anos, que eu falava para as meninas preocupadas em noivar, em casar que eu falava: “não, vou viajar, vou lá para a Austrália, para o sul do Pacífico.” Olha, eu nem lembrava disso mais. Quer dizer, o mundo foi, rodou, rodou e voltou. Bom, aí eu fiquei tranqüila. Comecei a brincar com a minha equipe e a gente apertado de trabalho e a nossa equipe, nossa era fa-bulosa.
P - Quem era a sua equipe?
R - A Germana, o Arthur, depois ele foi para outra área, tinha o Artur, Germana, Teresinha, tinha a Bia, o Celinho, a Dalva, a Roberta. Então essas pessoas trabalhavam demais. A gente trabalhava demais, prin-cipalmente os assessores, que eu acho que era muito mais apertado para eles. A gente que está na Coordenação tem outro tipo de traba-lho, que é apertado, tem uma responsabilidade das decisões que você tem que tomar a todo segundo. Mas era muito pesado para os asses-sores, em termos do número de projetos, em termos do trabalho bra-çal, do serviço e de responsabilidade. Era muito apertado. Pois essa equipe ralava e dava conta de tudo. O AABB Comunidade ele tinha essa sazonalidade. Ele e o Escola Campeã. O AABB Comunidade, de final de novembro até final de janeiro, que era tempo de férias, era fi-nal de ano letivo, tinha de fechar 400 projetos, que eram cerca de 400 municípios no mínimo, fechar todos esses projetos e analisar mais 400. Eram 800 projetos para serem analisados no período de férias, tanto da equipe, que muitos tinham filhos na escola e tudo. Agora, assim, eu estou falando uma coisinha. Agora, analisar esses projetos, muito embora a parte de programa estivesse muito bem resolvida, não estava no tanto que a gente precisava e as pessoas que tinham filhos na escola tinham que... Nossa, a gente nunca conseguiu aumentar a equipe, mas a gente conseguiu ajuda de outras, nessa ocasião porque era tranqüilo para as outras equipes. Então assim, era uma equipe que trabalhava, mas que trabalhava desvairadamente. Eu posso usar essa palavra sem o menor medo de estar usando a palavra errada. A gente trabalhava desvairadamente.
P - E qual foi a reação da equipe quando você chegou lá com a no-tícia de que iria...
R - Não, de janeiro...
(troca de fita)
P - Dulce, quando você decidiu se aposentar, como você colocou isso para a sua equipe?
R - Como eu te falei, essa equipe, a gente estava em um grau de ami-zade muito grande. Inclusive, eu acho que eu não falei o nome do Jeo-van da equipe, Jeovan Jeovan é uma das grandes paixões da minha vida. Assim, eu não sei nem como eu descreveria Jeovan, porque o coração dele, eu nem sei como cabe naquele peito. Profissional de uma qualidade que não tem jeito Ele na verdade, foi quem mais nos aju-dou estando na Educa ou não, ele foi um dos mentores da formatação da AABB Comunidade, do Educar. Tudo que a gente precisava era Je-ovan. Jeovan era uma choradeira o dia inteiro. A nossa equipe era as-sim, formada muito de mulher. (riso) Tinha mais mulher do que ho-mem. E Jeovan reinava absoluto lá. Depois que o Arthur saiu, o Jeo-van ficou sozinho lá até vir o Celinho e depois o Fernando, porque o Fernando fez parte da nossa equipe mais no final. E o Jeovan era o homem de todas as mulheres, porque tudo era o Jeovan que sabia, organizar programa, dar todas as informações, como que aquelas in-formações podiam casar melhor, porque, vamos dizer assim, a infor-mática não era uma coisa de domínio de todo mundo. O Jeovan não só dominava essa parte toda, e ele sabia pegar no programa e casar com aquilo para ficar direito. Nossa, e aquela boa vontade que não tinha jeito. Então o Jeovan foi assim uma pessoa que sem ele a Educa existia. E ele tinha assim um poder, tem um poder de agregação muito grande. Então a equipe, a gente assim, girava em torno do Jeovan, vamos falar o português claro. Era aquela agonia, pilhas de projeto, o Jeovan fazia, ajudava todo mundo e ainda me substituía quando eu não estava. Quer dizer, ele era assim uma pessoa absolutamente vital. Quando ele resolveu sair da equipe, que ele resolveu assim, porque precisava mudar a Fundação, alguns projetos estavam indo para ou-tra área. Ele foi exatamente para o Banco de Tecnologias. Nossa, foi o maior “chororô” e todo mundo ficou viúva Viúvas do Jeovan ficaram lá na Educa (riso) Foi muito engraçado E ele continuou nos ajudando com essa coisa toda. E aí, voltando lá para como eu comuniquei a e-quipe. Bom, eu não falei para ninguém, aquele não era o momento, era um momento de muita mudança novamente. E eu assim, na mi-nha aposentadoria eu estava tranqüila porque eu tinha férias, tinha licença prêmio para tirar, tinha o que eles chamam de esmolão, caso eu perdesse o meu cargo, então, eu podia chegar até junho tranqüila-mente. Mas, eu pensei: “já que estou saindo, vamos organizar o setor” E comecei a forçar a equipe um pouco mais para a gente terminar tu-do aquilo que não tinha tido tempo, botar as pesquisas todas enca-dernar para ter uma história. Exatamente vem para o lado. Então eu ficava com o Robertinho trabalhando de final de semana, a equipe, eu pedia para todo mundo organizar tudo. E o povo: “ai não, não sei o que.” Ficava aqueles dias de stress e eu: “olha gente, eu vou para a África, não vou ficar aqui. Eu vou embora para a África, eu não a-quento mais isso.” “O que que você vai fazer na África?” “Ah, vou para lá, não quero mais ficar aqui.” E vinha àquela história eu já sabia que eu ia para a Nova Zelândia e isso estava correndo paralelo à minha viagem.E a equipe mais uma vez, nós demos o sangue e nós deixamos aquela equipe assim: o trabalho nosso, que a gente tinha feito, ficou registrado de alguma forma. A gente encadernou os volumes, nisso o BB Educar, nisso a gente estava concluindo a pesquisa do BB Educar, muito importante para o programa. Não foi a primeira pesquisa do BB Educar, mas foi talvez a mais abrangente, em termos da gente pegar todos os atores do BB Educar, todos os capacitadores, foi uma pes-quisa assim, muito qualitativa, não tanto quantitativa, que daria in-formações assim para subsidiar as melhorias do programa. Todos os relatórios do AABB Comunidade nós encadernamos, nós deixamos tudo encadernadinho, para ficar na biblioteca, pois era um material muito procurado por pessoas que faziam mestrado, doutorado, por causa da... Como que a gente fala quando uma coisa é única?
P - Particularidade.
R - A particularidade desses programas e até onde eles iam. E princi-palmente as pessoas que faziam letras ou pedagogia, conheciam bem o trabalho do Paulo Freire, e sabia do sucesso do programa que era enorme. E nós não tínhamos uma coisa organizada. Então, a gente organizou a área toda e não sei o que, até o dia que eu fui informada que eu teria que sair da Fundação. Daí eu falei: “ta, eu quero fazer uma reunião com a minha equipe.” E aí foi a hora que eu falei e que eu me emocionei muito porque a gente carregou muito sal junto, aí brinquei: “eu falei para vocês que eu ia para a África, não é África, eu estou indo para a Nova Zelândia.” “Que é isso?” “É, eu estou indo pa-ra a Nova Zelândia” E aí pronto, eu saí. Foi assim que eu comuniquei quando eu recebi a notícia de que eu ia sair.
P - E Dulce, como que você avalia essa sua trajetória lá na Funda-ção?
R - Olha, eu direi que não foi uma trajetória na Fundação. Eu acho que foi uma trajetória no Banco do Brasil. Como eu acho que eu fa-lei... Dá uma paradinha, por favor.
(Pausa )
P - Dulce, então como que você avalia a sua trajetória na Funda-ção?
R - Então, eu não ponho a minha trajetória na Fundação. Eu sempre tive assim, eu fiz concurso para o Banco do Brasil, sou funcionária do Banco do Brasil e gosto de ser funcionária do Banco do Brasil. Então, o que eu fiz na Fundação foi continuar o trabalho que eu fiz lá no Banco. Então, eu trabalhei com gosto, eu trabalhei com prazer. Acho que eu falei antes para você, o Banco me deu muito de capacitação para o que eu fiz. Então, não que ele tivesse me dado tudo de graça, eu também busquei, pois eu sou curiosa, eu sempre fui atrás. Então eu queria fazer uma coisa, eu ia lá: “posso fazer iss? Posso fazer aqui-lo? Eu posso ir para lá? eu posso ir para cá?” E nisso, o Banco me respondeu. O Banco respondeu às minhas perguntas, respondeu às minhas necessidades. Então, eu tenho uma folha assim de treinamen-to no Banco que tinha gente que dizia assim: “mas como você fez isso? Você é P9, você é P10, como é que você fez isso?” Eu não sabia res-ponder. Mas, eu fui entender depois porque fazendo os cursos de ava-liação, aqueles cursos que você faz de executivo, todas aquelas coisas todas que o Banco me propiciou. Teve uma vez, teve uma coisa, que esse professor me abriu a cabeça. Eu estava fazendo o curso de alto executivo do Banco e eu não entendia aquelas coisas de sistema fi-nanceiro internacional, nacional e não seio o quê, e eu, meu Deus Entrava em desespero, porque aquilo era uma linguagem que eu não entendia. Por que eu não entendia assim? Por que eu não entendia aquilo? Porque eu trabalhava com comunicação, aquilo não era as-sunto que me interessasse. E como alto executivo do Banco, que era o troço lá, eu estava entrando para o quadro de alto executivo do Banco naquela ocasião, eu fui nomeada gerente lá na Fundação Banco do Brasil. E para o Banco, era o início da carreira de alto executivo. E eu a rigor, talvez nem estivesse fazendo esse curso, mas como o Rabelo não pôde ir, ele me perguntou se eu gostaria, porque eu já tinha co-mentado com ele sobre esse curso uma vez e disse: “ué Rabelo, gosta-ria muito.” E ele me mandou para não perder a vaga para a Fundação Banco do Brasil. Bom, e aí o cara dando aquelas aulas e eu pensando: “meu Deus do céu Se bota eu na agência para ser gerente eu morro, eu não vou saber fazer isso.” E aí, eu sempre perguntava muito nas aulas, gostava de conversar com o professor depois da aula. Eu não lembro o que ele estava dando, se era sistema financeiro internacio-nal. Eu lembro que era um curso da USP. Aí eu fui conversar com ele: “sabe, eu fico pensando se o Banco me mandar para ser gerente de uma agência. Eu vou quebrar a agência Eu não entendo nada disso Eu vou quebrar a agência” Aí ele virou para mim: “você? Quebrar a agência?” Eu disse: “é professor, eu não entendo o que o senhor está dizendo, isso é muito difícil de captar tudo isso” Aí ele virou e falou assim para mim: “olha Dulce, eu tenho acompanhado você..” , já era a segunda semana dele, “eu tenho acompanhado você aqui, como eu tenho acompanhado a todos aqui, e eu vou falar uma coisa para você, eu duvido que você quebraria qualquer agência desse Banco. E bobo dos diretores do Banco do Brasil que ainda não te mandaram para uma agência. Porque eu tenho certeza de que se você chegar lá, e a gente estiver no prejuízo, você vai lá e em pouco tempo, você coloca a agência para cima, porque se você não sabe de uma coisa, você vai buscar quem sabe. Aposto que você faz isso, te conhecendo essas du-as semanas.” Aquilo me deu um tchan assim, uma felicidade, porque eu nunca tinha me dado conta de que eu tinha feito isso a minha vida inteira. Então, eu nunca me preocupei de não saber. Então, eu sem-pre, realmente, esse professor me deu essa luz, e que me ajudou até um pouco na minha carreira depois. E eu não tinha consciência disso. E ele falou: “você faz tão naturalmente, que você não percebe isso. E pouca gente faz isso” Nossa, eu fiquei feliz de mais, é como se tivesse aberto uma luz assim no meu caminho. E eu me dei conta. E foi o que eu continuei fazendo. Então assim, quando eu falo do Arthur, quando eu falo do Jeovan, falo de outras pessoas que trabalharam comigo na área de marketing, Rosa Bueno, Sônia, e todas as pessoas que passa-ram comigo pelas áreas e eu dizia para as pessoas. A Germana foi uma, ela chegou lá: “ah, eu não vou ser capaz.” E eu dizia: “Claro que vai sim” E eu empurrava as pessoas, sabe? Por quê? Porque eu acho que Deus me deu uma sensibilidade, por mais que eu seja faladeira e que eu seja de brincar e tudo, Deus me deu uma seriedade uma hora de perceber as pessoas. No trabalho é o que eu falo: “eu fiz tanta por-caria para não falar outra palavra nessa vida, que me ensinou.” Mas também são coisas que eu não gosto porque não foram boas. Mas eu acho que eu muito mais aprendi e tive coisas boas, sabe? Porque eu conversava muito com as pessoas e eu percebia que a pessoa podia fazer aquilo. E eu soltava a pessoa e a pessoa fazia. Então eu tive mui-to bons retornos na vida profissional, porque eu fiz coisas boas para as pessoas e graças a Deus encontrei pessoas capazes de fazer aquilo que eu era absoluta e totalmente ignorante. Então, eu sempre tive e-quipes assim, fantásticas, porque o povo sabia fazer o que eu não sa-bia. Então a gente juntava esforços e fazia. Dava conta assim de coi-sas que as pessoas não entendiam como que a gente fazia. Então, o que o Banco foi para mim? Foi assim o lugar onde eu pude exercitar muito do que eu não sabia porque eu aprendi e do que eu sabia, eu pude também repartir. Então, foi o lugar onde eu me senti absoluta-mente bem. E onde eu não estava mais achando graça eu mudava, então, foi o lugar que eu gostei de ter ficado, que eu guardo assim com muito carinho.
P - Dulce, você pode traduzir a Fundação em poucas palavras?
R - A Fundação em poucas palavras? Ai meu Deus, poucas palavras para mim e também para a Fundação... Eu acho assim, que a Funda-ção é o lugar mais bonito do Banco do Brasil. É o lugar onde as pes-soas podem exercitar aquilo que faz falta para o mundo que é fazer as pessoas se descobrirem, sabe, as pessoas usarem seus talentos. Os programas da Fundação Banco do Brasil são para isso. Para que as pessoas sejam o autor da sua vida. Então para mim, é o lugar mais bonito do Banco do Brasil, porque ele propicia isso. E se a pessoa é isso, ele vai agradecer a Fundação, ao Banco e vai ser o cliente do banco porque ele vai ter cidadania, entendeu?
P - Dulce, o que você achou de ter participado desse projeto Memó-ria e o que você está achando desse projeto de registro da memória da Fundação?
R - Bom, eu gosto da memória. Quando a Germana ligou para mim, pensei: “que que eu vou fazer lá? Que que eu tenho de memória para falar da Fundação? Que que eu tenho para falar está nesse meio com tanta gente que ficou e que está lá até hoje?” Mais aí como eu te disse, Germana de boa que era, ficou excelente, me convenceu a vir. E eu acho assim, eu normalmente eu não sou boa para falar em entrevistas e essas coisas, mas confesso que eu fiquei muito à vontade no que eu falei, foi maravilhoso, me deixaram à vontade. E eu fico assim feliz por quê? Se é para fazer memória, se é para guardar história e se eu pu-der contribuir, eu fico feliz de poder participar. Sabe, não sei exata-mente em que aí, mas eu acho que qualquer projeto que preserve a memória ele é muito importante, porque quando você estiver contando uma coisa e a gente não estiver mais, aquilo vai estar registrado em algum lugar. Então, eu acho que é de uma riqueza, e de uma acertabi-lidade muito grande fazer isso, antes que essa memória se acabe. An-tes que as pessoas que possam falar dessa memória não estejam mais aqui. Então, eu acho isso fantástico e fiquei muito honrada de ter sido chamada para isso, porque se você pode contribuir para uma coisa dessa natureza, eu gosto.
P - Bom, Dulce, em nome da Fundação Banco do Brasil e em nome do Instituto Museu da Pessoa, a gente agradece a sua entrevista.
R - Obrigada
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