P/1: Bom Eder, eu queria de começar a entrevista com você dizendo pra gente, o seu nome completo, o local e data do seu nascimento?
R: O meu nome é Éder Franco da Silva, eu nasci em Andradina, no estado de São Paulo, no dia 05 de novembro de 1965.
P/1: E o nome dos seus pais?
R: O meu pai é Dinae Lima da Silva e minha mãe Darcy Franco da Silva.
P/1: E o que faziam os seus pais?
R: O meu pai era bancário, ex funcionário do Banco do Brasil, hoje aposentado e minha era Professora do Estado e hoje também é aposentada.
P/1: Aula do que a sua mãe dava?
R: Dava aula no primário, no colégio primário, aula de primeiro a quarta série.
P/1: E você tem irmãos?
R: Eu tenho dois irmãos, uma irmã, Silvana e um irmão, Mário Roberto. Eu sou o mais velho.
P/1: Você é o mais velho?
R: É
P/1: Nossa, responsabilidade então...
R: A responsabilidade maior é minha.
P/1: Éder você cresceu em Andradina?
R: Eu morei em Andradina até os 16 pra 17 anos, sempre a infância tudo lá, depois eu fui pra Ribeirão Preto, pra fazer colégio preparatório, o terceiro colegial pra vestibular e depois mudei pra Ouro Preto, passei na Faculdade Federal de Ouro Preto, aí mudei pra Ouro Preto.
P/1: Andradina fica naquela região de Ribeirão Preto?
R: Não. Andradina fica aproximadamente 400km de Ribeirão Preto. Agente foi..., eu fui pra Ribeirão Preto por ser uma referência, hoje os meus pais moram em Ribeirão Preto, meu irmão mora também lá e minha irmã mora numa cidade próxima, Guarilha, então sempre foi uma cidade referência que gente sempre quis morar e na época mesmo, mais no interior a gente foi pra um lugar mais recurso, mais condições de vida e melhores condições de viver.
P/1: Andradina, então, quando você era criança era pequena? Como era?
R: Não, era uma cidade não tão pequena, uma cidade de 40, 50 mil habitantes, na época, sempre foi uma cidade boa, a parte de agropecuária...
Continuar leituraP/1: Bom Eder, eu queria de começar a entrevista com você dizendo pra gente, o seu nome completo, o local e data do seu nascimento?
R: O meu nome é Éder Franco da Silva, eu nasci em Andradina, no estado de São Paulo, no dia 05 de novembro de 1965.
P/1: E o nome dos seus pais?
R: O meu pai é Dinae Lima da Silva e minha mãe Darcy Franco da Silva.
P/1: E o que faziam os seus pais?
R: O meu pai era bancário, ex funcionário do Banco do Brasil, hoje aposentado e minha era Professora do Estado e hoje também é aposentada.
P/1: Aula do que a sua mãe dava?
R: Dava aula no primário, no colégio primário, aula de primeiro a quarta série.
P/1: E você tem irmãos?
R: Eu tenho dois irmãos, uma irmã, Silvana e um irmão, Mário Roberto. Eu sou o mais velho.
P/1: Você é o mais velho?
R: É
P/1: Nossa, responsabilidade então...
R: A responsabilidade maior é minha.
P/1: Éder você cresceu em Andradina?
R: Eu morei em Andradina até os 16 pra 17 anos, sempre a infância tudo lá, depois eu fui pra Ribeirão Preto, pra fazer colégio preparatório, o terceiro colegial pra vestibular e depois mudei pra Ouro Preto, passei na Faculdade Federal de Ouro Preto, aí mudei pra Ouro Preto.
P/1: Andradina fica naquela região de Ribeirão Preto?
R: Não. Andradina fica aproximadamente 400km de Ribeirão Preto. Agente foi..., eu fui pra Ribeirão Preto por ser uma referência, hoje os meus pais moram em Ribeirão Preto, meu irmão mora também lá e minha irmã mora numa cidade próxima, Guarilha, então sempre foi uma cidade referência que gente sempre quis morar e na época mesmo, mais no interior a gente foi pra um lugar mais recurso, mais condições de vida e melhores condições de viver.
P/1: Andradina, então, quando você era criança era pequena? Como era?
R: Não, era uma cidade não tão pequena, uma cidade de 40, 50 mil habitantes, na época, sempre foi uma cidade boa, a parte de agropecuária muito forte, tinha uma industrias, ela teve uma fase boa, na época quando tava construindo as usinas hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá, então, depois ela se estabilizou e por uma questão de estratégia de vida a gente mudou.
P/1: Quer dizer, você fez o Ensino Básico em Andradina?
R: Eu fiz tudo em Andradina até o segundo colegial, aí o terceiro colegial eu fui pra Ribeirão Preto.
P/1: E aí, você já tinha em mente estudar mineração nessa época?
R: Não, não..., no segundo colegial, primeiro, segundo colegial, a gente começa a pensar em alguma coisa. Eu sempre fui ligado assim, a parte de exatas, Matemática, Física, Química, a gente sempre gostou, né, e eu queria fazer alguma coisa de Engenharia, mas que não fosse aquele..., eu chamava de trivial, Mecânica, Elétrica, Civil, essas coisas, aí, comecei pesquisar, estudar Engenharia Naval, eu prestei vestibular em Engenharia de Minas e acabei optando por fazer Engenharia de Minas, passei nas duas e optei por fazer Engenharia de Minas.
P/1: Você lembra, assim, o que te levou a optar pela Engenharia de Minas? O que que passou pela cabeça?
R: É uma coisa de infância, depois que eu passei, a gente começou a lembrar, do passado, que eu tinha um tio do meu pai que ele era operador de máquinas pesadas, de caminhões de grande porte, na época das construção das usinas hidrelétricas próximas lá de Andradina e gente ia visitar muito eles, final de semana era próximo assim e eu ver o trabalho deles com cinco, seis, até dez anos praticamente e eu gostava. Queria ver as máquinas que ele trabalhava, subia nos caminhões, subia nos equipamentos, nas coisas e aquilo me ficou lá na minha mente da infância, ali, né, talvez é uma associação com isso e com a questão de fazer uma engenharia diferente, acho que foi isso que me levou a área de mineração e Graças a Deus, eu acho que eu fiz uma escolha legal, porque eu gosto muito da área de mineração é uma coisa que me identifico bem e tá sendo legal pra mim.
P/1: Então, daí você prestou vestibular em Ouro Preto e aí vai pra lá estudar?
R: Aí eu prestei vestibular em Ouro Preto e fui estudar lá em 84, de 84 que eu passei no vestibular e fui estudar lá e fiquei até 89, final de 89.
P/1: Você morou em república?
R: Morei em república
P/1: Então conta como é que era? Porque são famosas as repúblicas de Ouro Preto...
R: As repúblicas são muito legais, a gente chegou aquela..., do interior sem conhecer, sem saber como isso funcionava, durante o vestibular eu já fiquei numa república, até assim estranho, fiquei numa república só de meninas que a gente conheceu lá, eu e um pessoal amigo e fui entendendo como funcionava, aí quando eu passei, eu fui morar numa república, tem todo, assim, um processo de seleção meio diferente, coisa que a gente não entendia como é que era. Pô, levava um monte de trote, pegava a roupa da gente dava nó, se chegava da aula roupa tudo molhada se tinha que se virar com aquela roupa que você tinha, mas era uma forma de você é ..., eles faziam aquilo, talvez, de uma forma bastante amadora, assim, mais na brincadeira. Mas depois com o passar do tempo quando eu fui fazendo também, depois que eu fui..., não era mais calouro, eu fazendo com os outros, a gente foi entendendo o porquê daquilo, era ver se a pessoa entendia, se entendia bem com ela, com os que moravam ali e se a pessoa era muito estourada, se ia se adaptar bem às questões da casa, arrumação, as questões de dividir quarto, era tudo bastante dividido mesmo, as primeiras vezes que a gente ia, às vezes..., pô, minha mãe fazia aquele docinho, ali, pá, meu filho, tal, chegava lá, dez minutos acabava o doce, morava em doze pessoas, todo mundo comia e gente foi...., dividia roupa e eu fui vivendo nesse mundo aí, e pra mim foi muito legal, em termos de aprender a dividir as coisas, de compartilhar, a gente tinha dificuldades de grana mesmo e fomos...e ia levando a república assim...
P/1: Mas como que é? Um estudante, as repúblicas dizem se tem vaga ou não? Ou você entra por indicação? Como é que funciona?
R: Normalmente a gente chega na primeira semana de aula, assim, a gente fica em alguma pensão, algum hotel ou em alguma república mesmo, o próprio, os próprios estudantes já colocam placas na porta, temos, sei lá, três vagas, temos quatro vagas, nós temos... e aí, durante a aula a gente vai conhecendo: “ah, você está em qual república? Ah, eu estou na república tal, ah eu tô... Como que é lá? Lá tem vaga não tem? Tem”. Então a gente chama, eu vou batalhar vaga, a gente chama assim, aí, a gente vai, chega com a mochila, com as roupas lá e fala, ó tem..., aí você fica, se você acha que não tá legal, você tem o direito de falar, vou embora, não tem problema nenhum, vou batalhar vaga em outra república e vai ou chega um período lá, tem dia lá que eles chamam lá, o dia de ser escolhido, vamos dizer assim, aí, eles reúnem lá, num quarto fechado, discutem sobre aquela pessoa, como que é o comportamento dela, o que acha de positivo e negativo tal e fazem uma votação, né, na minha república a pessoa tinha que ter votação unânime, ou seja, todo mundo tinha que votar a favor para aquela pessoa entrar, se porventura você votasse contra, você que falar qual era o motivo, o porquê daquilo, se aquilo era uma coisa pessoal ou era uma coisa de grupo. Se fosse uma coisa estritamente pessoal você tinha que justificar, conversar, por exemplo, tinha doze pessoas, o cara teve onze votos a favor e um contra, aí, você que votou contra, tipo, ô por que? É uma coisa pessoal? Que que ele fez pra você? Que que não é e tal, aí discutia em grupo, aí você poderia mudar o seu voto, falar não, eu concordo vocês e a pessoa aceita morar aqui ou não, na minha posição, eu acho por causa disso e disso, se você era respeitado o seu voto era respeitado, no outro dia, a gente sempre fazia as reuniões a noite, no outro dia de manhã ou no dia mesmo falava, ó, infelizmente não foi escolhido, mas você pode ficar aí a quantidade de dias que você acha necessário e procura um outro local pra morar, funcionava assim.
P/1: E tinha uma hierarquia ou não?
R: Normalmente o pessoal mais velho tinha uma certa...
P/1: Ascendência?
R: Ascendência, alguma coisa assim, mas enquanto você era bicho, no primeiro semestre, você era...você tinha que buscar o pão, você tinha que lavar louça, você tinha que limpar casa com mais freqüência do que os outros vamos dizer assim, todo mundo fazia, mais você era o mais privilegiado pra fazer essas atividades e depois com o passar do tempo, sempre as lideranças surgem em qualquer lugar, é uma coisa natural, a gente... cada república tinha o seu time de futebol, fazia os encontros, fazia as festa, estudava junto, era... a vida era assim.
P/1: Então seu cotidiano era esse. O período da escola era integral?
R: Era período integral, a gente tinha aula praticamente o dia todo, algum dia da semana ou outro que às vezes tinha uma janela ou não tinha aula, alguma coisa assim, mas a gente tinha aula das oito às cinco, seis da tarde, todo os dias. A gente almoçava no próprio refeitório da universidade, jantava também no próprio refeitório da universidade, era uma vida...
P/1: Aí voltava, estudava...
R: Voltava, de noite estudava, tomava cerveja. Cerveja eu não tomava muito porque o dinheiro era mais curto, a gente tinha que tomar umas batidas, umas coisa… mas final de semana...
P/1: Mas as repúblicas, o pessoal anda lá pedindo dinheiro pra turista pra tomar cerveja… não?
R: É normal, porque aí a cidade de Ouro Preto por ser muito turística, a gente pegava às vezes... a gente falava assim: “pô, nós precisamos pegar um gringo aí, pra gente dá uma levantada, precisamos pintar essa sala e estamos sem grana…”. Aí chegava a época de 21 de abril, a época dos feriados mais assim, povão, a gente pega dois, três gringos, aí pegava os caras, vamos ficar lá, em vez dos caras ficar no hotel, dava uma caprichadinha no café e tal e os caras pagava lá.
P/1: Ah, vocês hospedavam então?
R: Hospedava também, aí, conversava lá com a Dona Maria, a gente chamava a mulher de Dona Maria que cuidava da casa, pra dar uma caprichada, arrumava um quartinho legal pro cara, ai ficava ali dois, três dias, uma semana, sei lá, se o hotel era cem reais a diária, a gente cobrava vinte, trinta reais, por exemplo; tinha um cafezinho lá meia boca lá, mas tinha e depois no final o cara gostava e tal, acabava... geralmente europeu assim… dava lá uma grana, a gente arrecadava lá uns mil reais em dinheiro de hoje; pintava sala tal e ficava lá, precisamos comprar som, comprar uns discos aí, tá ruim de grana, a gente batalhava, assim, umas estadias extras assim, normalmente o pessoal que vinha de fora, estudante de outras universidades, vinha um pessoal do Rio, do interior de São Paulo, algumas universidades iam pra lá em época de festa tal, aí, não, era mais só pra cobrir as despesas mesmo, as coisas normais, não tinha nenhuma margem de lucro vamos dizer assim.
P/1: Não sobrava pra cerveja.
R: Era só pra coisa... e uma coisa que tem até hoje, a gente que é ex – aluno é cobrado às vezes, né, mandar dinheiro pra alguma coisa quando a gente vai lá, eu faz tempo que eu não vou lá, já faz uns sete, oito anos; quando eu casei e tive as minhas filhas, eu não fui mais, aí, gente tem pagar lá, uma cervejada pro pessoal, um churrasco, alguma coisa assim.
P/1: Por que fica identificado que você pertenceu a alguma república?
R: Fica, a gente tem uma, normalmente em toda república uma sala, na sala principal, as casas são muito grande, casas antigas e tal, tem os quadros e no dia que a gente forma, a gente inaugura o quadro, então você tem lá todo um cerimonial lá, né, de fazer um discurso, contar algumas histórias e agradecer a família, os amigos e tal, aí você, tipo, descerra aquela placa, né, que é você de beca, toda aquela coisa assim e aí fica sua foto lá. Só que, por exemplo, se for lá hoje, não conheço mais ninguém, porque já faz sete anos que eu não vou lá, oito anos, acho, então quem entrou já saiu, quem eu fui lá provavelmente já formou e tal, então a gente chega, bate lá na porta lá, oh, eu sou aquele cara lá, da foto ali, a tá, onde que você dormia? Qual que era o seu quarto? Aí a gente vai lá no quarto. A última vez que fui lá, meu quarto estava igualzinho, da mesma forma que eu deixei, porque eles não tem muita, não tem muita opção, assim, aquele guarda roupa, a gente morava em dois, o guarda roupa que a gente dividia e as duas camas e as duas mesinhas, ali, de estudar. Então aquilo ali fica meio patrimônio da república, ninguém pode vender, não pode fazer nada, quando eu comprei o guarda roupa eu comprei e dei, quando eu me formei eu dei ele pra república, então ele ficou lá, então a gente vai rever aquilo ali e mostra pra família, ó era aqui que eu estudava. Normalmente o pessoal mantém a tradição de não mudar muito e aquilo vai passando mais por uma questão de história e você preservar e lembra, pô, aqui eu estudava, aqui que eu dormia e tal.
P/2: E as festas do 12 eram famosas na época?
R: São famosas ainda, elas são famosas. É uma festa de aniversário da Escola de Minas, que foi primeira a primeira escola de mineração do Brasil, desde de a época do Império e isso é uma tradição e tem lá os eventos sociais da universidade, tem que ir de terno nas festas lá e tal, mas todo mundo gosta das festas paralelas, não as oficiais, onde cada república recebe ex-alunos, recebe amigos, pessoal de outras universidades que vão pra lá, pra essa festa que dura uns três, quatro dias e aí é 24hrs, os três, quatro dia direto, som ligado, muita festa, bebida e é gostoso, muito coisa você encontra pessoa: “ah, eu sou formado há 40 anos…”. Aí chega lá, às vezes um senhor bem de idade, com esposa bem de idade, netinho: “ah, eu sou aquele segundo ou terceiro ali do quadro”... Então, é, ela das festas, bem assim, agradáveis, não tem… O pessoal fala muito aquela coisa, tem muita farra, sexo, droga e tal, às vezes até acontece, mais não é o principal, o geral, porque é uma festa de encontro das pessoas que estudaram lá, e aí vem muita gente de fora e junta e acaba acontecendo as festas aí mais animadas, aí tem as repúblicas, tal república tem festa mais animada, outra é mais família, normalmente o pessoal quando vem, o pessoal antigo, tá vindo aí dez ex-alunos de... antigos normalmente os caras bancam a festa, pagam as despesas todas de bebida, comida, o pessoal que faz a limpeza, arrumam tudo a casa, então, acaba sendo respeitado e estas questões aí...
P/1: Legal. E você se formou em 89?
R: Formei final de 89.
P/1: Tá. E aí formado você já tinha um caminho?
R: Aí eu formei e eu não tinha nada definido, a gente tava aí, o país passando a primeira eleição de 90, final de 89, inicio de 90, então ficou uma coisa meio parada, eu tava..., eu participei de processo de seleção pra ir pra África do Sul, numa empresa de mineração, fui até os últimos estágios das entrevistas, fui passando, mas acabei não sendo contemplado com a oportunidade lá. Tinha que casar, tinha umas outras coisas, acabei não sendo escolhido, mas foi um processo bom, né, e aí, num domingo lá meio triste pra mim, meu pai tinha sofrido um enfarte de sábado pra domingo, tava na UTI e tal; e eu num domingo lá a tarde, no hospital, falei: “vou comprar um jornal”. Aí, não tava nem cabeça pra procurar nada, aí a gente tava tranqüilo, já passado o risco de morte aquela coisa toda, aí eu fui numa banca de jornal umas duas, três horas da tarde, comprei o último jornal que tinha na banca. Aí tô lendo, vi lá um anúncio lá: programa contra Engenheiro Trainee, recém formado, não sei o quê, pra trabalhar em empresa de grande porte, em São Paulo. Aí, eu peguei, nem sabia onde que era, peguei e mandei e fiquei quieto, aí passou, uns sete, isso foi em março, aí quando foi pra setembro, outubro me ligaram tal, aí reiniciou o processo de seleção de estagiário, fui passando nas etapas todas, tinha bastante gente concorrendo, acabei entrando na Votorantim.
P/1: Nesse período você já estava em Ribeirão?
R: Não eu tava em Andradina, gente morava em Andradina, eu voltei pra Andradina, meu pai tinha um sítio lá, eu trabalhando no sítio junto com ele, ajudando na plantação, ajuda a reformar a casa lá, gente tava fazendo umas reformas na casa lá, meu já… ficou um tempo hospitalizado, aí depois ele se recuperou normalmente e voltamos pra lá tudo e fiquei... um dia ligaram lá e surgiu esta oportunidade.
P/1: Aí quando ligaram falaram que era da Votorantim?
R: Aí falaram que era Cimento Santa Rita, que é uma empresa que a Votorantim tinha adquirido a quatro, cinco anos atrás, e aí, eu fui fazer entrevistas, fiz acho que umas... Vim de Andradina pra São Paulo, acho que vim duas ou três vezes nas etapas de seleção e aí acabei sendo escolhido pra trabalhar na fábrica aqui de Itapevi e a mina era em Araçariguama, a mina era próxima da fábrica, mas ficam em municípios diferentes.
P/1: Isso então em 90?
R: Isso final de 90, eu entrei em novembro de 90, na empresa, aí, a seleção demorou uns dois meses pouco.
P/1: Você já tinha casado?
R: Não, era solteiro.
P/1: Mas você já tinha pensando?
R: Não, não tava não. Eu tava só namorando, com a mesma namorada que eu casei, ainda tava no começo de namoro, eu namorei quatro anos... comecei a namorar em 89, quando tava pra me formar, fui casar em 94, cinco anos e meio de namoro.
P/1: Você conheceu ela em Ouro Preto?
R: Eu conheci ela na vizinha minha, lá em Ouro Preto. Morava numa república do lado da minha lá, ela fazia… aí, quando eu tava me formando, ela tava entrando, gente se conheceu no meu último ano de faculdade, ela tava entrando, começamos a namorar ali, tal. Eu vim embora, vim pra Andradina, depois comecei a trabalhar. Morei aqui em Osasco, porque trabalhava em Itapevi e continuamos o namoro, aí, foi, ela se formou… quando ela se formou em 94, depois que ela se formou a gente casou.
P/1: No que ela se formou?
R: Nutrição
P/1: Então você veio pra Votorantim e foi morar em Osasco?
R: Exatamente
P/1 Sozinho?
R: Não, fui morar numa outra república, de novo, pra manter a tradição, tinha um rapaz que trabalhava na mina. À princípio eu vim numa casa, tinha uma hospedaria da empresa, eu fiquei ali, acho que uns quarenta dias, sessenta dias no máximo, fiquei ali até, eu conheci algumas pessoas que trabalhavam na mineração na fábrica e fui morar numa república em Osasco, com cinco pessoas.
P/1: Essa hospedaria era onde?
R: Era em Itapevi. Era da empresa, o pessoal que vinha de fora fica ali, tem pessoas que moravam ali direto, mas era um lugar bem afastado do centro, alguma coisa assim e era bem… do lado da fábrica mesmo, a fábrica e esse local aí. E morei ali, fiquei pouco tempo, aí falei, vou morar num lugar melhor, queria estudar, fazer inglês, alguma coisa assim, aí vim morar com o pessoal.
P/1: Quando você recebeu este telefonema, a pessoa dizendo: “somos da Votorantim e tal”. O que te passou pela cabeça? Você se lembra? Você já deveria conhecer a Votorantim?
R: A gente conhecia né, porque na cidade onde eu nasci, lá em Andradina, tem uma pessoa que hoje é falecida, a gente chamava de doutor, era advogado, um fazendeiro muito rico, Dr. Lourencino e ele era do mesmo partido que o Doutor Antônio Ermírio. Ele, então, às vezes, ele vinha aqui pra São Paulo, Dr. Antônio ia lá, ele foi um cara que foi prefeito da cidade, então, o meu pai era amigo desse Lourencino Rodrigues da Silva, acho que ele tinha alguns parentesco com o meu avô, coisa assim bem longe, parentesco assim, de fazendas, moravam próximo, trabalhavam junto lá... Não eram parente de sangue e ficava aquela imagem do Antônio Ermírio e todo mundo sempre associou o nome da Votorantim a ele. Ele ia na cidade, acho que foi uma ou duas vezes, mas era um fato que pra uma cidade de 30, 40 mil habitantes era importante, isso na década de 80, 85, 80 e..., isso na década de 80, 80 e pouco, quando ele foi candidato a governador, ele foi lá, então, pra mim foi uma coisa de orgulho, meu pai ficou emocionado, achou legal, pô, Votorantim, tal… a gente ainda era novo, não tinha noção da amplitude da coisa e é uma empresa de nome, uma empresa de grande porte, então vamos lá pra vê.
P/1: Só voltando, parentesco de fazenda?
R: É porque a cidade de Andradina, todo mundo que tinha sítio era vizinho dessa pessoa, porque ele tinha muita terra, se tinha um sítio lá de dez alqueires, o vizinho era ele, tinha uma fazenda próxima lá do meu avô e sempre tomava umas pingas junto lá, aquelas coisas toda, então a gente chamava de...
P/1: Usa então esse termo?
R: É, usa o termo de compadre, coisa assim do interior, a gente fala, compadre não é parente, mas... não tem nenhum parentesco com rei do gado lá de Andradina, não.
P/1: Então aí, você veio, todo mundo ficou orgulhoso e tal… Primeiro dia de trabalho?
R: Ah, o primeiro dia de trabalho era um programa de trainee muito, assim, inicial na Votorantim, era uma coisa bem ainda… vamos dizer assim, talvez, amadora, bem diferente do que é hoje. Eu fui sem saber assim o que que ia fazer, aí, cheguei na porta da fábrica, lá peguei uma caminhonete junto com o pessoal que tava indo e eu fui. Sentei numa mesa, “ó sua mesa é aqui”, fiquei ali, “ó lê esse negócio aqui e dá uma… pra você se inteirar da coisa”; e fiquei uma hora, duas horas, três horas, aquela coisa de primeiro dia, aí fui pra uma mina bem pequenininha pra cinqüenta pessoas, aí, fui me apresentando pra alguns, outros veio conversar comigo tal, aí, fui, desci lá na mina, fui conhecendo os operadores e foi passando, mas foi uns dias assim, meio assim, aquela, não tinha uma coisa preparada pra me receber. Eu também não sabia exatamente o que iria fazer, aí foi que começaram a passar as coisas e tal. Eu fui correndo atrás de um programa, mas não era claro, eu vou... recém saído da faculdade, aí montei um planejamento, eu mesmo montei e comecei analisar os processos de mineração que tinham lá e fui implementando trabalhos e fui me desenvolvendo.
P/1: Esse planejamento de mineração?
R: Esse planejamento de trabalho de mineração, bem assim, tocado meio assim, não tinha uma gestão, um negócio assim mais organizado, mesmo tendo um engenheiro de minas lá, alguma coisa, não tinha assim, uma estruturação, uma organização do pessoal operacional, tinha a nível macro, da estratégia de processamento da fábrica, o mercado de brita, isso aí tinha, mas uma coisa assim, por exemplo, os processos unitário, perfuração, como é que a gente organiza? Qual que é o custo? Como que as pessoas estão organizadas? Elas estão treinadas, não estão? Estão capacitadas? Então eu comecei nessa parte de perfuração, de carregamento, transporte, a parte de britagem. Eu fui trabalhando nas pessoas porque eu queria aprender com elas, não sabia, tinha saído da faculdade, tinha visto como que é que perfurava, como é que detonava e tal, mas eu ia lá do lado de operador de perfuratriz e falava, como é o negócio aí? E ficava lá. Quando não tinha um negócio muito importante, você ficava lá o dia inteiro, conversando com ele, ajudava trocar a haste, ia ter carregamento de fogo, de explosivo de detonação; eu carregava caixa de explosivo, eu dirigia o caminhão, porque eu queria aprender e a gente ia… “eu vou aprender, como que eu vou aprender?” Eu vou aprender com as pessoas que tem a vivência, conhecem, aí, eu vou pegando a base prática e vou colocando... Por que a gente não carrega todas as caixas de uma vez? A gente vai fazer esse desmonte, por que a gente não leva tudo de uma vez? Ou dividimos ou vamos fazer assim? Aí, eu comecei a colocar essas coisas e fui, vamos dizer, entrando no meio do pessoal operacional e fui aprendendo com eles, né.
P/1: Tinha bastante gente antiga de quando você entrou?
R: Tinha, tinha baste gente antiga, nesta mineração tinha bastante gente antiga. A grande maioria do pessoal já estava bem próximo da aposentadoria, vamos dizer assim, os operadores antigos, os cabos de fogos, as pessoas que mexiam com explosivos, já bem antigas, os operadores de perfuratriz antigo, o pessoal de britagem, um pessoal bem antigo, mas que já trabalhava ali, já, há vinte anos, vinte poucos anos e aposentavam e continuavam trabalhando lá, ninguém queria sair. O pessoal aposentava com quarenta e cinco, cinqüenta anos, que eram aquelas leis antigas e mineração por ser área de risco, então, a aposentadoria antes, então as pessoas ficavam trabalhando até 65 anos, 60 anos, independente e tocavam legal.
P/1: Como que é a estrutura de uma mina? Assim o funcional? Em termos até de função das pessoas? Se tá falando que tem um operador de perfuratriz, tem...
R: A estrutura de mineração saindo na parte de baixo pra cima. Tem a parte de geologia e topografia que determina onde você vai executar os trabalhos, conforme, dependendo da questão de qualidade, processo, que tipo de material você vai fazer, tanto de geologia quanto topografia, aí, eles planejam, entra a parte de perfuração, isso é um processo ligado a fabricação de cimento calcário, tem vários processos de mineração, tem a parte de perfuração que executa os furos com equipamentos apropriados pra que sejam colocados explosivos e efetua a detonação, aí, é feito a detonação, entra a parte de carregamento, máquinas carregadeiras que colocam em cima dos caminhões apropriados, caminhões frota de estrada, normalmente, que levam pra parte industrial do processo, que é a parte de britagem e classificação do material, aí, isso é britado de acordo com a granulometria e o tipo de material que você quer produzir, classificado, físico e quimicamente, conforme você quer, empilhado e vai para os processos... Aí, a parte de mineração ela acaba, vamos dizer assim, aí, vai para os processos posteriores mesmo ou fabricação de cimento ou venda de britas e materiais pra construção civil.
P/1: E aí? E o engenheiro nesse processo?
R: E nisso tudo, toda essa parte de equipamentos, a parte de mineração, você as máquinas de perfuração, carregamento, caminhões, carregadeiras, perfuratriz, britadores e tal, associado a tudo isso aí, tem uma estrutura de manutenção, que também é gestão da mineração, os mecânicos de máquinas, os veículos, os britadores, peneiras, correias transportadoras, os equipamentos do processo, toda parte de manutenção, compras, planejamento, segurança e tal, tudo dentro da mineração.
P/1: E quem cuida disso? É o engenheiro? Qual é a participação dele?
R: Aí tem, isso que eu falei tudo é o pessoal operacional, aí você tem um corpo técnico, as pessoas que fazem, os líderes de produção, os líderes de manutenção, o corpo técnico, que tem a parte que a gente chama de chefias, a supervisão num nível hierárquico maior e normalmente cada mineração tem um coordenador, que seria tipo um, não existe um nome, mas seria tipo um gerente de tudo de todo aquele processo. Você tem lá, por exemplo, um chefe que cuida da parte de lavra, que é perfuração, carregamento, transporte, topografia, toda essa parte. Você tem um chefe de britagem, que cuida de todas as partes de instalação de britagem e por exemplo, um chefe de oficina de veículos e máquinas, aí, uma equipe de acessória e tudo isso é, essas pessoas respondem pra o coordenador de mineração, essa é a estrutura.
P/1: E quando você entrou, que você começou a ir nos lugares com as pessoas, as pessoas te recebiam bem? Porque eles eram pessoas antigas e você era muito novo. Não teve problema de relacionamento?
R: Não teve problema nenhum porque é a forma como as vezes você chega nas pessoas. Se eu chegar com arrogância e falar que você é um engenheiro e você sabe tudo, cê não vai saber nada na vida nunca, então, a gente chegava, “ó tô querendo aprender com você e tá tá tá, no que que eu o posso te ajudar?”; “Que que você pode me ajudar e tal”, e aí você ia, “como você anota aqui as paradas desse equipamento?”; “Ah, eu marco aqui. Vou fazer negócio aqui pra facilitar o negócio pra você e tal”, aí começava a trazer o cara pro meu lado e… que eu queria ajudar ele também e eu queria que ele me ajudasse, porque eu só tinha visto na teoria, só tinha visto no estágio, como que era, por exemplo, usando um exemplo de uma perfuratriz, eu ia ali, ajudava, o cara falava, pô, uma haste é pesada, você precisa de uma ajudante lá, aí, eu quando tava lá… Depois quando eu fui subindo na empresa, eu entendia que realmente era pesada, porque eu já tinha carregado, eu sabia que... tudo bem, que eu não tenha força como a pessoa que tá habituado, mas a gente pelo menos sabia… Então isso que quis, então andava com os operadores de caminhão, subia lá no caminhão, ia junto com eles, operava o caminhão. Eu fui aprendendo, fazendo, pra depois, sei lá, cê imagina, que eu vou orientando essas pessoas, eu vou tá sendo chefe delas, então, eu preciso saber, como o programa não tinha uma coisa muito bem estruturada, eu mesmo imaginei o que eu acharia bom pra minha carreira e fui atrás e fui então fazer.
P/1: E há mesmo essa troca Éder? Dá pra aprender mesmo?
R: Dá
P/1: Nesse processo que você fez de indo lá no último estágio?
R: Aprende andando de bicicleta, ninguém montou na bicicleta andando, eu imagino assim, eu imagino isso, por exemplo, eu sei como é que faz, eu aprendi na teoria, os melhores professores, a universidade que eu fiz muito boa, ia no estágio, ia fazer as visitas nas grandes mineradoras do Brasil e tal, mas eu só olhava, chegava lá e olhava, bom, será que esse cara tá fazendo certo? Será que não tá? Eu ia perguntar: “Por que você fez assim? Por que ontem você tava fazendo assim e hoje você mudou?”; “Não mudei porque aqui a rocha é diferente, tem uma situação assim, então eu preciso fazer isso”; então a gente foi pegando e orientando eles, “ó isso aqui se você fizer é melhor, só que custa mais caro, fica muito caro você fazer assim, vamos criar uma alternativa mais barata, vamos”... Aí eu fui juntando a escola com a prática lá com as pessoas.
P/1: Que bacana.Éder considerando tudo aquilo que você tinha visto e esse processo alguém aprovou?
R: Eu comecei fazendo e sugeri lá pra pessoa que era meu chefe, que era o coordenador de mineração, então, falei com ele, não vamos fazer, cada processo que eu fazia, cada trabalho que eu fazia, por exemplo, na perfuração ou no desmonte tal, eu montava um relatório, com os procedimentos, o que a pessoa deveria fazer, onde que tava legal, onde precisava melhorar, que tipo de controle a gente deveria colocar, mais dos que os que já tinha, que poderia agregar alguma coisa no custo, no próprio processo e fui passando, um ano, um ano e pouco e fui fazendo isso.
P/1: Esse coordenador de mineração quem era? Você lembra o nome dele?
R: João Roberto Mafra Dias
P/1: E essa, você falou da mina de Itapevi e tinha uma outra?
R: Era Araçariguama. É que a fábrica era em Itapevi e a mina em Araçariguama, elas ficavam 10 km uma da outra, o material vinha por teleférico pra abastecer a fábrica, só que era por questões de divisa de município, uma era numa cidade e a outra na outra.
P/1: Eu queria te perguntar sobre a questão de manutenção desses equipamentos? Porque são equipamentos muito grandes. Tem muito problema?
R: Tem, principalmente de grande porte, são máquinas de... importadas, pelo menos nas duas unidades que eu trabalhei, normalmente carregadeiras e caminhões são máquinas que vem dos Estados Unidos, as máquinas de perfuração são normalmente da Suécia e Finlândia. São dois países de ponta nessa área aí e exigem conhecimento bastante apropriado, então os próprios fabricantes desses equipamentos, a gente busca recurso nele de treinamento, de capacitação e de desenvolvimento das pessoas, tecnicamente também, pra poder fazer a manutenção da máquinas e também dessa parte que eu fiz , além da parte de lavra, eu fiz isso na parte de britadores. O pessoal ia desmontar o britado, eu tava lá junto pra entender porque demorava pra uma peça sair ou não e na parte veículo, máquinas pesadas, também, ajudava na parte de manutenção pra conhecer, pedia peça. Por que você vai trocar essa peça? O cara vai e mostrava um rolamento pra mim, ó, isso aqui eu vou trocar porque tá assim. Mas não dá pra rodar mais? Ele falava, não, se eu colocar esse rolamento no meio de tudo esse, componente, se essa máquina tiver de rodar cinco mil horas, ela vai rodar mil e esse rolamento vai quebrar e eu vou ter que arrumar tudo isso de novo, aí eu falava então… Ah, mas nós podemos deixar guardadinho se por acaso dá um..., não, a gente guarda aqui. Esse tipo de macete a gente foi pegando com os mecânicos, com os eletricistas de veículos e fui guardando isso comigo.
P/1: E depois você vai pra Santa Helena? Como é que foi depois de Itapevi?
R: Não, lá foi o seguinte em Araçariguama, eu entrei lá em novembro de 90, aí, em 92, meados de 92, eu tinha entrado na estrutura com traine e tinha um supervisor e tinha um chefe; aí o supervisor saiu da empresa, se desentendeu com o chefe, eu não sei qual foi o motivo que aconteceu, ele saiu e eu fui promovido a supervisor de mineração de Itapevi e Araçariguama, aí, fiquei como supervisor até meados de 94. Teve uma mudança na fábrica, mudou o gerente geral da fábrica, na época que tava a Votorantim e um monte empresa passando pelo processo de reengenharia, redefinição de funções de monte de coisa lá e aí, mudou o gerente geral da fábrica, algumas coisas e coincidiu que eu estava saindo de férias e eu ia casar, aí, fui casar, casei, tudo e tinha, assim, um ar de mudança no negócio, eu falei assim, ó isso aqui vai mudar e vai ter alguma coisa aqui que vai me afetar, na época eu já tava morando sozinho, eu tinha saído daquela república, eu tava morando em Osasco, mas tinha alugado uma quitinete eu e uma outra pessoa, aí, a pessoa saiu e eu como já tava programado pra casar, eu falei: “aqui vai ser meu mundinho, eu vou me organizar aqui, né”; aí, quando a gente tava voltando eu e a minha esposa, eu falei: “ó, é risco eu chegar lá segunda feira e um abraço, porque vai mudar alguma coisa, aí, o que nós vamos fazer? O que nós vamos fazer é que vamos tocar nossa vida, nós vamos ter que morar lá mesmo, vamos atrás, alguma coisa vai mudar, pode ser bom pra mim, como pode ser ruim pra mim, se sair da empresa pode ser bom, pode ser ruim, se eu ficar poder ser bom pode ser ruim”... Eu não sabia, vamos lá então, aí, cheguei, aquele negócio meio ,assim, ansioso, caixão, um abraço, aí, só fiquei esperando, chegou meu chefe tal, entrei na sala lá, fechou a porta e eu só fiquei esperando, ele falou: “eu fui demitido na empresa tal”; eu fiquei só escutando, “e você vai me… ficar no meu lugar, vamos fazer um processo de transição, uns vinte dias pra te passar as coisas”. Aí, aquela surpresa! fui promovido, aí, meio molecão, eu falei: “quem vai ficar no meu lugar?”; “você mesmo”. Eu falei: “pô, ter que virar dois aqui e tal”. Como eu tinha feito uma estrutura legal com o pessoal operacional, eles já entendiam as coisas que eu pedia, como que a gente trabalhava, eu não assustei muito e tinha uma quantidade de papelada de relatório que a gente ficava fazendo lá e mandava pra São Paulo, mandava pra não sei aonde, eu vi que o meu chefe ficava envolvido com aquilo a maior parte do tempo. Peguei, juntei aquilo lá tudo, falei, isso aqui tem coisa repetida, isso manda pra não sei quem... Aí peguei e falei: “não vou conseguir fazer”. Porque eu tinha que administrar toda a operação e fazer parte do gerenciamento da unidade, expedição, compra, gerenciamento de todo o processo, aí, falei: “ó, algumas coisas que eu acha que não é importante, eu não vou fazer, eu não vou mandar e vou esperar a pessoa me cobrar”; Aí, tinha uns relatórios, esse aqui já é meio repetido é quase igual esse, esse outro aqui é parecido, aí, eu peguei fiz uma catança lá, e falei: “vou fazer só um e pronto”. E resumiu e reduziu um monte coisa que era feita meio assim na...,
P/1: No risco, né...
R: Na porra louquice mesmo, a palavra é essa mesmo. Então vou mandar. Passou um mês ninguém reclamou, passou dois ninguém reclamou, eu falei: “ou o cara que eu mandava também saiu na reengenharia ou então, esse negócio aí, o cara recebia lá e não dava importância, né”; e aí, fui levando. Me dei muito bem com a pessoa que era gerente lá, doutor Nicanor Pereira, ele me ajudou, a gente foi acertando as informações e fui conduzindo assim, aí, isso foi de meados de 94 até início de 98, aí, em 98, a Fábrica de Salto passou em 96, 97, ela passou por um processo de expansão, ela aumentou a capacidade do forno de 3000t para 5000 e atividade de mineração ia aumentar muito, é uma mina muito complicada, com uma quantidade de estéreo muito... Estéreo é um material que não serve pra fazer (inaudível) de cimento, você tem que tirar e depositar fora pra poder liberar o calcário e pra você fazer o cimento. E, aí, eu fui convidado pra ser coordenador da mineração, em Salto de Pirapora.
P/1: Deixa eu voltar. Você foi pra lua de mel com a preocupação de ser demitido? É isso?
R: É, eu tive que mostrar serviço na lua de mel.
P/1: Meu Deus do céu...
R: Eu fui com essa preocupação, mas eu fiz a festa, fizemos tudo que a gente tinha que fazer, voltei com conta pra pagar, mas eu falei: “eu tenho que tocar minha vida normal se acontecer o que que eu posso fazer...Tenho minha família, as pessoas vão me ajudar”, eu tinha feito, lógico, solteiro, um pezinho de meia, mais do que precisava e menos do que merecia, mas era suficiente para eu viver bem, sobrava uma grana, ajudava meus pais lá, comprava alguma coisa, guardava… Meu pai na época tinha um sítio, comprava gado junto com ele e fiz um pezinho de meia lá, então eu vim imaginando, que eu achei que o mais fraco era eu e era naquela estrutura toda e aí, a empresa inverteu e botou eu.
P/1: Quando você começou a mandar relatório, você lembra pra que setor você mandava aqui em São Paulo? Quando você falou: “ah, esse eu não vou mandar…”, pra que setor?
R: Era aqui na, Savi era na Praça Ramos e tinha algumas coisas que agente mandava pra gerência que ficava em Itapevi, também, a gerência de fábrica. A base da Savi era na Praça Ramos, aí, eu fui reduzindo algumas coisas.
P/1: Eu também ia te perguntar isso. Como é o relacionamento do pessoal que fica na mina com o pessoal da fábrica? Quem faz esse relacionamento ? Ele é operacional ou ele é num nível mais gerencial?
R: Ele tem um relacionamento em todos os níveis, mas ele é pequeno, ele não é... A fábrica ela é uma fornecedora; a mina é uma fornecedora da fábrica, assim, de matérias primas e os materiais pra fabricação do cimento e tal, mas ela tem assim, uma gestão, uma coisa quase que autônoma, assim, ela é bem... é um processo bem autônomo, tem as relações, por exemplo, de supervisão, algum operador, algum técnico no sentido “ó, a qualidade do material precisa ser ajustada aqui e ali, porque estamos com essa dificuldade, vamos mudar isso no processo, precisamos que vocês alterem alguma coisa na matéria prima”, a gente fala, mas a mina tem essa condição, podemos fazer, não podemos fazer tal, a gente participa das reuniões normais de rotina, das discussões da fábrica, porém, a empresa enxerga a fábrica, alta diretoria, os acionistas, então, eles vêem mais a fábrica, mineração é uma coisa que dá menos visibilidade, em termos assim, das pessoas, dos processos, dos EPI’s, os custos, as coisas mineração ela tem uma visibilidade menor, em relação a fábrica mesmo, o foco é forno, moagem de cimento é onde a alta direção olha com mais carinho vamos dizer assim.
P/1: Você tava falando também, essa questão de qualidade do calcário, isso você pode alterar ou isso?
R: Não. O processo de cimento tem suas faixas de trabalho, então, a gente fornece calcário, que vai ser misturado com a argila para formar a farinha, que vai entrar dentro do forno e vai produzir clínquer, ai, depois desse clínquer é adicionando alguns aditivos, gesso, escória, um pouco mais de calcário e faz o cimento. Aí, existem vários tipos de cimento e o próprio clínquer, dependendo da situação, você pode fazer ele, com fator de saturação mais alto, mais baixo, um modo de sílica mais alto, mais baixo, modo de alumínio, dependendo do tipo de cimento que você quer fazer, do que você ganhar no processo, se você quer reduzir calor no forno, aí, que vai fazendo essas adequações, mas sempre baseado no que a mina tem para oferecer, não adianta você querer uma coisa que a mina não tem ou ela tem de forma escassa. E aí, você pode falar: “tudo bem, nós podemos fazer isso, mas invés dessa mina durar trinta anos, vai durar dez, aí, é uma decisão estratégica”.
P/1: Daí, então, você foi pra Salto, na expansão em 98, que função exatamente você tinha em Itapevi? Que função você tinha em Araçariguama?
R: Eu era coordenador de mineração
P/1: Coordenador de mineração e foi pra Salto na mesma condição?
R: Com a mesma função, só que num cenário totalmente diferente em termos de volume de produção. Em Araçariguama era só produção de brita, um negócio com uma margem de lucro, uma margem operacional pra empresa bem menor, infinitamente menor e fui pra Salto, uma fábrica pólo, uma fábrica grande, com um volume de produção cinco vezes maior do que Araçariguama, quantidade de pessoas, o dobro da quantidade de pessoas praticamente e o envolvimento de equipamentos de maior porte, máquinas maiores e estrutura maior, então, foi uma ascensão legal.
P/1: A tua esposa como ela chama?
R: Vanice
P/1: A Vanice, como ela encarou esta mudança? Ou você não mudou, ficou no mesmo lugar?
R: Eu mudei, fui morar numa… uma das condições que foi nessa mudança minha, eu fui morar numa vila residencial que tem lá em Santa Helena, próximo a fábrica lá de Santa Helena, tem uma vila que foi construída quando começou a fábrica...
P/1: Isso em Sorocaba?
R: Em Votorantim.
P/1: Em Votorantim
R: No município de Votorantim. E eu fui morar nessa vila e tal...A minha esposa acabou acompanhando, mas ela tinha um trabalho legal aqui em São Paulo, ela tinha se formado em 94, começou a trabalhar no final de 94, aí, quando ela tava legal, tinha sido promovida em 98, aí, tivemos que mudar. A gente tentou, alguns meses ela fazer uma associação de vim pra São Paulo e ficar lá, a gente optou por não, muita viagem, aí, ela pediu pra sair da empresa dela, saiu, aí, ficou alguns meses sem trabalho em Sorocaba, procurando alguma coisa, aí, depois arrumou trabalho lá e continuou normalmente.
P/1: Mas vocês mudaram bem de vida, aí, vai morar na vila residencial, num esquema totalmente diferente...
R: A gente saiu assim de um... e nesse meio eu não contei, eu mudei de Osasco e fui morar em São Paulo, fui morar perto da USP, ali, aluguei um apartamento ali, então, a gente saiu de São Paulo e fui morar, você escutava buzina o dia inteiro, aí, depois você passa escutar só passarinho, aquela vilinha, tudo parado, uma coisa assim, mesmo estando perto de Sorocaba um grande centro, Votorantim é uma cidade grande também, bom, mas onde você dormia ali, onde você morava era um lugar totalmente zen, aí, nós animamos e começamos a fazer criança.
P/1: Ah, aproveitou o clima...
R: Ficou meio parado lá...
P/1: Não conseguia dormir, era muito silêncio...
R: Era muito parado...
P/1: Então em 98, aí, você vai... era um desafio que você disse tudo era o dobro, então, quer dizer o desafio também era dobrado, né, Eder?
R: Tudo era o dobro, a cobrança era o dobro, só o salário que não era, as outras coisas tudo era e foi importante na minha carreira, foi muito importante...
P/1: Primeira impressão que você teve quando você chegou?
R: Eu fiquei assim, nos primeiros dias assim, até... a gente tinha lá às vezes, de vez em quando, normalmente sempre pedi recurso por ser uma cidade pequena, Araçariguama é uma unidade muito pequena, então, às vezes a gente ia a Santa Helena ou Salto, recurso de peças, de pessoas pra ajudar lá e pessoal ia ajudar, então, eu já conhecia algumas coisas de lá, a mina eu já conhecia e tudo, então, foi mais conhecer as pessoas, entendeu, o processo, conhecer o novo gerente da fábrica, me adaptar, conhecer os demais coordenadores, as chefias e tal e começar o trabalho, a gente foi fazendo e foi legal.
P/1: Você levou alguma coisa ,assim, importante de experiência da mina anterior para Salto?
R: Sem dúvida, uma das coisas que a gente fazia aqui e levamos pra fazer lá... Lógico, adaptando as questões locais, adaptando a grandiosidade da operação que era maior, a qualificação das pessoas ou o que as pessoas esperavam, a gente foi adaptando sim, sem isso não dá, chegar e falar, tudo que faço aqui eu vou fazer lá e vai dar tudo igual, isso aí, não é assim não. Então eu tive que conhecer as pessoas, precisavam me conhecer, eu tinha vindo... É a mesma coisa do jogador de futebol que saiu lá de um time pequeno e foi jogar num time grande, no time pequeno ele era o master plus lá e no time grande ele era mais um, então, aqui eu tenho que me posicionar ver como é as coisas, então, aí, a gente fomos trabalhando e a coisa foi evoluindo.
P/1: Você hoje coordena a mineração em Salto e Santa Helena?
R: É
P/1: São minas diferentes?
R: Teve uma mudança nesse meio, eu fiquei de 98 até início de 2001, eu fiquei só em Salto, era coordenador só de Salto, aí, a Votorantim passou por uma unificação das regionais, diretoria Sul e diretoria Sudeste, aí, passou ter uma diretoria única. E aí, veio várias mudanças, passou a só ter um gerente técnico de mineração, várias mudanças de gerência e diretoria por aí a fora e nesse período iríamos trabalhar se pra unificar as duas fábricas, esse era um dos objetivos, unificar a gestão ou seja um gerente. Começou esse processo que demorou uns dois anos até ele ser consolidado, aí, o que que aconteceu? Tinha um coordenador em Salto e um coordenador em Santa Helena, aí, o coordenador de Santa Helena ficou sendo coordenador de Salto e Santa Helena e eu saí. Eu fui trabalhar na assessoria do cara que era gerente técnico, isso pra mim foi um coisa assim meio… não é que eu não queria, mas eu achei que foi uma coisa que eu falei, pô, eu acho que eu recuei, aí, porque, pô, porque a operação era sempre minha característica de tá com as pessoas demais ali, mas pelo contrário, pra mim, foi super interessante, porque eu fiquei dois anos fora da operação e fui fazer trabalhos corporativos pra Votorantim Cimentos, pra Companhia Regional Sudeste, fazer contratos com grandes fornecedores, de itens importantes de mineração, fui trabalhar com suprimentos e tal. Foi importante, mas eu fiquei meio cabrerão, eu falei: “esse negócio aí, sei não, esse cargo é meia boca, uma hora eu vou rodar”... Mas aí, na seqüência, a empresa teve um processo de seleção pra fazer um curso de MBA, na Fundação Getúlio Vargas, aqui em São Paulo, eu fui pré selecionado e passei na prova e fui fazer, aí, eu pensei comigo “os caras não vão gastar um curso que custa mais de R$ 50 mil, pra depois eu não ficar na empresa?”. Então, isso me tranqüilizou e foi bom eu tá na área de assessoria e não tá muito ligado a operação, aquela coisa, que se tem que tá, entre aspas, vinte quatro horas no ar, você tá dormindo e tem cinqüenta pessoas no seu quadro que tão lá trabalhando podem se acidentar, você acaba ficando com aquilo, essa preocupação nesses dois anos, entre aspas, eu não tinha, mesmo estando ligado a operação. Foi legal que deu pra eu estudar bem, deu pra eu aproveitar bem o curso, deu tempo pra mim me dedicar, fiz um curso legal. Quando foi em 2002, no final de 2002, a empresa resolveu mudar, ai, falou: “ó, agora você é a pessoa que tava sendo coordenador das duas, não sei se não deu certo, qual foi o motivo não me interessa, também não vem ao caso, essa pessoa foi dispensada”. Aí, eu fui convocado pra ser coordenador das duas fábricas, com culturas diferentes, processos diferentes, processo de unificação todo e aí, eu voltei e..., em Salto, que já conhecia as pessoas foi mais tranqüilo, mas com Santa Helena era duro. E a pessoa que era o antigo coordenador tinha mais de trinta anos de empresa, então, tinha toda uma base solidificada, uma estrutura de trabalho feito e a gente tinha que entrar pra justamente quebrar aquilo, implantar novos processos, novas mudanças, então, foi um desafio grande. Eu aceitei, acabou… Na mesma época a gente teve oportunidade de participar do processo de seleção pra ir pro Canadá e tal, ai, não fui escolhido também e acabei ficando em Santo e Santa Helena, mesmo...
P/1: O que que foi mais difícil enfrentar Santa Helena ou enfrentar a papelada na época da assessoria?
R: Qual foi mais...?
P/1: Difícil pra você?
R: Ah, enfrentar a Santa Helena. Santa Helena por causa da questão cultural, as pessoas me conheciam sempre..., a fábrica de Salto, ela é de uma origem diferente, era da Cimento Santa Rita e a Votorantim comprou, então, as questões culturais da Santa Rita e tal, elas estavam aqui e em 10Km estava a Santa Helena com toda a cultura da Votorantim, aí, teve que… E sempre ficava a Santa Helena como a maior fábrica, a primeira fábrica, aquela coisa, só que com o passar do tempo isso foi mudando e as pessoas de Santa Helena, nunca, vamos dizer assim, nunca queriam aceitar aquilo. Santa Helena sempre foi a fábrica pólo, a fábrica maior em termos de volume de cimento e produção e status e tudo. E a fábrica de Salto era uma fábrica que foi comprada que era os... nós invadimos aqui e aqui fica… E aí, o que aconteceu? Isso começou a mudar. A fábrica de Salto foi ampliada, a empresa começou a investir aqui, a fábrica de Salto começou a ter um custo menor ou já tinha menor que Santa Helena, aí, o volume de cimento aqui começou a aumentar, aqui começou a diminuir essa balança se inverteu e hoje ela é invertida em termos de volume de cimento, em produção, em investimento, foco da empresa e por aí a fora. Você tinha que administrar isso aí com as pessoas que estavam aqui, isso foi, tá sendo ainda é um processo que ele nunca acaba, eu já dei uma quebrada de 2002, basicamente 2003 e 2004, esses dois anos inteiros, porque 2002, eu entrei acho que foi outubro, acho que eu voltei e que a gente vem fazendo a coisa acontece e os resultados melhoram bastante, a gente tem alinhado bastante o que a empresa espera, então tá sendo bom.
P/1: Essa questão do Meio Ambiente, Éder, como é possível conciliar esta atividade de mineração com Meio Ambiente?
R: Isso é uma questão bastante assim... a mineração ela não é… Ela tem a imagem hoje perante a sociedade de ser uma atividade poluidora, porque o que sai na mídia de mineração que os grandes centros vêem é garimpo essas coisas, onde realmente existe uma ataque que é mais forte ao meio ambiente, mas nas grandes mineradoras, Votorantim, Vale do Rio Doce, Samarco e por ai a fora. Ela tem uma outra preocupação, a área ela é muito grande, então, ela dá uma impressão... Pô, se tinha lá um morro e você vem e arranca tudo aquele morro e fica um buraco lá, você tirou parte daquilo você transformou em produto e parte daquilo que é o externo, aquilo que eu te falei aquela hora, você depositou num outro lugar e tal, mas hoje tem tudo, como você deposita sem você agredir o meio ambiente, com reflorestamento, plantagem das coisas, plantio de árvores, recuperação, tratamento de água, então, hoje tem uma preocupação bastante forte em relação a isso, mas na minha visão perante a sociedade, a mineração é uma das atividades que mais agride o Meio ambiente, mas realidade não é, tem outras atividades, aí, muito mais danosa que a mineração. Porque a mineração, ela envolve uma área muito grande, então, isso causa essa impressão.
P/1: Você também de certa forma tá ligado a isso. Na sua função você tem que...
R: Sim, na minha função a gente tem que, por exemplo, contaminação de óleo em água, em rio, emissão de particulados, emissão de pó em sistema de britagem, sistema de umectação de pistas , onde os caminhões trafegam e as máquinas andam, a gente tem sempre que manter úmidos, então, tem todo um trabalho ou seja, não agredir rios, derrubar árvores, coisas todas aí, a gente atua diretamente com isso.
P/1: Em questão de Meio Ambiente as duas estão no mesmo nível: Salto e Santa Helena?
R: Acredito que sim, basicamente sim, não tem muita diferença não. Santa Helena por ser uma fábrica maior e mais antiga, ela tem mais passivos do que Salto que é uma fábrica da década de 70 e da Votorantim é da década de 40. Ela tem mais passivos com evolução das leis ambientais, da conscientização da própria empresa e da própria sociedade em relação ao Meio Ambiente, então, tem coisas ainda antigas, mas a partir de 80, 90, década de 80, década de noventa a empresa já começou a levar uma coisa mais organizada em relação a Meio Ambiente, tratando as coisas de forma mais sustentada, mais... então foi... Elas ficaram equiparadas, mas aí tem um passivo, por isso que Santa Helena tem coisas que ainda a gente precisa resolver em relação a isso.
P/2: Agora, a vida de uma fábrica de cimento ela é finita, não é? Porque acabou a mina ela não tem mais sentido ficar lá.
R: Exatamente. A fábrica tem dois processos: tem o processo de calcinação que é forno, que está diretamente ligado a atividade de mineração e tem a parte de moagem, algumas moagens elas operam sem a parte de formas, elas precisam de receber o clínquer de algum lugar que tem mineração, então, tá, associado, o grande desafio da mineração é maximizar ao máximo até ao máximo mesmo repetitivo a reserva mineral, pra aumentar a vida da fábrica, você não jogar material nobre fora, você arriscar mais e... Nós vamos colocar esse material aqui que a gente poderia jogar fora, mas vamos colocar um pouquinho aqui, que se a gente colocar um pouquinho aqui toda vez no final vai ser significativo, ao longo de vinte, trinta anos, então, esse é o trabalho, vamos… Não dá pra entrar agora no processo, vamos colocar do lado, num depósito aqui, porque na hora que dá vamos aproveitar, isso é o trabalho que a gente prega e coloca no sentido de que? Pra que o empreendimento tenha maior vida útil possível, porque no dia que acabou a mina, aquele forno ali, eu vai ter que vim calcário de outro lugar de longe ou descobrir uma nova mina próxima, alguma coisa parecida para aquele empreendimento continuar, essa é a relação.
P/1: E o fato do calcário vir de longe não é bom, né, pra uma fábrica de cimento?
R: Questão de custo. Normalmente a fábrica tá do lado da mina, normalmente em caso 90 e tantos porcento, não sei, não tenho esta estatística, sempre a mina... o artista tem que ir onde o povo está, então a mina da fábrica tem de ir onde está o calcário.
P/1: Eder, quantos filhos você tem?
R: Eu tenho duas meninas
P/1: Como chamam?
R: Eu tenho Ana Laura de cinco anos e meio e tenho a Marina Vitória de dois anos e meio.
P/1: E a Ana Laura curte o que o pai faz? Ela sabe o que o pai faz?
R: Sabe. Já levei elas na mina pra ver, bota capacete, põe a botina pra ir trabalhar, elas..., ah, foi na mina! A gente conversa, brinca, explica, a pequenininha é mais na brincadeira ainda, mas a Ana Laura já entende um pouco sim.
P/1: Você tava dizendo que você não se arrependeu de ter feito Engenharia de Minas?
R: Não, jamais, eu não me arrependo não, uma coisa que às vezes a gente fica um pouco na empresa assim é que, a mineração não tem essa visibilidade que tem a fábrica, mas é uma coisa que eu acho que se fosse também...eu ia tá olhando mais na (inaudível), então não é nada… Eu não vejo nada de anormal nisso e também grande pessoas na empresa, diretores, presidente, acionista se formaram em Engenharia de Minas também, então, pra gente é até um orgulho.
P/1: E você não contou nenhuma história de trabalho, causos, acho que você é bom contador!
R: Ah, não sei se sei contar, não sei contar piada, sou sério, não sei contar as histórias não, mas sempre a gente...
P/1: Alguma que você tenha vivida na empresa?
R: Lembra de alguma coisa estranha, assim?... Ah, uma coisa engraçada que lembro foi em Araçariguama ainda, por ser uma unidade pequena, a gente não trabalhava de domingo, né, só às vezes, quando tinha alguma manutenção, alguma coisa maior. E na época os vigilantes, o pessoal que fazia segurança patrimonial, ainda eram funcionários da empresa, não tinham passado pelo processo de terceirização, isso foi 93, 94, por aí... E aí, no domingo a gente tinha combinado de fazer manutenção numa máquina lá, num caminhão tal aí, eu passei na casa do mecânico tal, fui com os caras pra tá junto com eles lá, aí, chegamos lá, “pô, cadê o guarda?... Nada”. Não tinha chave, aí, ficamos procurando, procurando e a gente tava fazendo na mina, a gente tava fazendo na mina um rebaixo. O que é rebaixo? Rebaixo é, você lavando, você que tem as bancadas uma hora você que fazer uma rampa, pra você começar a explorar aqui. Esse rebaixo tava cheio de água. Tava uma época assim de verão, janeiro, fevereiro e a gente tava bombeando e não tava conseguindo vencer a chuva, então, tava uma lagoa assim, bonitona, aí, chegamos lá, olhei lá de cima da mina, tá lá o guarda, tranqüilão, nadando num domingo a tarde, só curtindo lá, eu falei, puta, e aqui? Segurança zero. Eu fiquei calado, deixa, eu não vou lá atrapalhar o cara, deixa, aí, entramos lá, fizemos o negócio e o guarda lá. Nós ficamos uma três horas trabalhando lá e guarda lá, domingão, tomando sol, aí, tranqüilo, fui eu, acho que o Bezerra e o Luiz, acho que essas três pessoas, aí, na segunda feira, o guarda lá trabalhando pá...
P/1: Queimadinho...
R: Queimadinho, tal, numa boa, ai, tudo bem, aí, almoçamos lá, sentamos, tipo numa mesinha assim, o cara tava igual ale assim, o Bezerra, gozador pra caramba, falou: “puta, rapaz você se lembra do, falou o nome de um cara lá, o cara trabalhou aqui, o cara tá internado no hospital lá... tá em situação lastimável, acho que o cara vai morrer, disse que o cara tá com um problema na pele, deu um negócio nele lá, tal”; E aí, eu perguntei... eu não tinha combinado foi meio assim, né: “O que que foi que aconteceu cara?”; “Essa mina aqui nós já fizemos uns dez rebaixo, sempre ele ficava nadando lá, na mina e com a química do explosivo, ela libera um monte de agentes químicos lá e produtos e deu um negócio de um câncer no cara, o cara tá pra morrer”, aí, o guarda, pá, arregalou o olho e começou a perguntar, o cara nadava muito? Como é que era? E tal, e pá, pá...e nós fomos dando corda pro cara, né, aí, no final, eu tinha que chama a atenção dele, eu era o chefe lá, aí, eu cheguei e falei: “ó, ontem você tava nadando ai, tal...”. E aí, um dia a gente tivemos que substituir o vigilante e foi uma coisa que veio na cabeça agora e foi engraçado, o cara começou a perguntar, ficou nervoso e foi uma história assim, não sou muito bom de contar história, mas eu... a que veio na cabeça foi essa.
P/1: Não, essa é ótima! Éder, pra gente encerrar, o que você acha desse Projeto Memória Votorantim?
R: Eu acho bastante interessante, eu acho legal, eu já tinha...,eu fiz um trabalho, o trabalho meu final de MBA que fiz lá, a gente fez um trabalho sobre a cultura organizacional da empresa, os valores que são perpetuados ao longo das gerações, a humildade, a perseverança, a dedicação, a responsabilidade social, coisa que começou desde do Senador e a gente foi... a Doutora Celia Picon era orientadora do nosso trabalho, eu e a Ana Paz estávamos fazendo esse trabalho, aí, ela sugeriu que nós fossemos no Museu da Pessoa, aí, nós fomos lá, ficamos um dia todo lá, aí, conversamos com as pessoas, eles explicaram e aí comentaram sobre esse projeto que tava ainda, isso foi em 2001, 2002, eu acho... E aí, ela comentou que a Votorantim ia fazer esse trabalho, que isso ia criar uma magnitude, uma coisa ampla, que ia envolver as pessoas. Eu achei interessante porque, hoje, a gente como administrador, como coordenador a gente olha só pra frente, olha muito pouco pro passado, o passado que você olha é o mês passado, o ano passado ou dois anos atrás e sempre pra frente e tem coisas interessantes, histórias, o passado da empresa ele é muito rico, muito bonito, muito... Como a empresa começou do nada hoje é um império praticamente, indústria nacional e até hoje internacional tudo, atuando em várias áreas e se isso não tiver uma coisa profissional suportando isso, pra ter essa história, contar como que é, pra que isso não vá perdendo ao longo das gerações, né, e uma pessoa que tiver trabalhando na empresa daqui a cinqüenta anos sabe que tudo o que já passou, por que que a empresa é assim, por que ela cobra algumas coisa, por que ela não cobra outras e entender de onde a coisa nasceu. Aí, eu acho, que é só através da história é que isso vai ser preservado e no Brasil, eu acho isso extremamente interessante porque a gente não tem memória, não tem história, não tem nada, eu tenho isso um dentro de mim por ter estudado lá em Ouro Preto e entendido, gente descia naqueles lugar, ó, os caras, aqui que ficou o Tiradentes, aqui que ficou o traidor, esqueci o nome do cara lá, o cara que dedurou Tiradentes lá, aqui que os escravos fugiam, então a gente acaba associando isso um pouco com a história do Brasil , porque que aconteceu, ó, tal decisão foi tomada nessa sala aqui, no dia lá da escravatura, foi aqui nesse lugar, então, é… Pra gente que trabalha na Votorantim e associando isso com o próprio Brasil, a cultura, a história, ela tem que ser preservada, ela tem que ser contada, ela tem que ser valorizada, tem que tá em constante movimento e acompanhando pra que as pessoas que vão entrando e vão saindo e vão participando da história dessa empresa sabe da onde surgiu as coisas e como que as coisas estão acontecendo.
P/1: Já que você estudou esta questão de valores, você acha que também passa por esse processo, os valores permanecem numa empresa ou não dependendo valor que se dê a história?
R: Passam, a gente tem pouco contato assim, mas... A gente às vezes em algumas visitas, coisa assim, a gente tem conto com os acionistas, isso é, pra mim é claro, eu consigo enxergar, não sei se as outras pessoas vêem, você não vê aquela… uma coisa que eu considero extremamente importante é questão da humildade, você não vê aquela ostentação, você vê, o cara vem num carro, entre aspas, normal, vamos dizer: “puts, o cara poderia ter um super carro, com segurança ali”; o cara desce, entra na fábrica, entra com você, às vezes o Doutor Fábio vem aqui, eles não gostam que chamem de doutor, a nova geração, o Fábio Ermírio, pô, entra no meu golzinho, vamos lá ver tal coisa e você fala: “pô, com é que pode eu dirigindo aqui com um cara aqui que poderia...”; dirigi até mais devagar, tomar cuidado aqui e tal, uma pessoa, filho de um acionista, que hoje comanda a empresa aí, um exemplo que às vezes acontece com a gente e o cara desce ali, conversa com as pessoas e normal, anda a pé pela fábrica, vai, tudo bem, o cara vai de helicóptero, mas isso é normal da função do cara pelo que ele faz pela empresa, mas é essa questão sim de estar andando, indo nos lugares é lógico que isso hoje é cada vez menos, a empresa vai crescendo, coisa vai... O próprio Zé Roberto às vezes vai lá pouco, foi algumas vezes, doutor José quando era vivo, a gente via lá. Isso marca a vida de uma pessoa, por exemplo, você pega lá um cara operador, o cara chega e dá a mão pra um acionista, isso cria... o cara vai ficar sem lavar a mão uma três semanas ali, vai contar pra esposa, pro vizinho, pro neto, pro bisneto e isso, talvez sem eles perceberem, é importante. Uma coisa que sei que é difícil, se eles andassem e fossem mais próximos da pessoa e envolve passar esses valores de dedicação, da perseverança, pô, um cara rico desse pra caramba, o cara fica trabalhando todo dia até às dez da noite, se fosse eu, entre aspas, eu ia tá só na… Porque a gente vê, pô, tá na revista tal, na outra revista, o cara “playboyzinho”, outro...Você não vê um Ermírio de Moraes nestas revistas, Caras, esses baratos que tem, Contigo, não aparecem , não tem nada deles, porque, é uma coisa que eu acho que veio da origem, da humildade, da perseverança, do trabalho, do comprometimento com as coisa. O cara faz as coisas, não queremos benção, não queremos aparecer, não queremos marketing com as coisas, a empresa mesmo faz muita coisa na área social, muita ajuda, lá em Votorantim, a gente ajuda escola, a APAE, não queremos que saia no jornal, não queremos que tira foto, não queremos nada, tô aqui o ônibus, tô aqui..., pronto, tchau, obrigado e vamos embora. Ë uma coisa que vai passando, só que quem tá entrando hoje no grupo, vamos chamar os novos trainees, vamos dizer assim, na minha visão já tão um diferente da minha geração, um pouco mais antiga vamos dizer, de tá perdendo esses valores aí.
P/1: Só finalizando...
R: Então as pessoas que tão entrando, os novos, eles precisam conhecer essas coisas, a gente às vezes até brinca, pô, chegava aqui, pegava ônibus, ia fazer uma entrevista nem sabia do que ia e se virava e corria atrás, hoje não, eu quero ficar no hotel tal, eu quero taxista me pegando, eu só vou pra tá lugar se for de avião ou seja, o mundo mudou, a exigências das pessoas mudaram, talvez o errado seja a gente, mas isso na minha visão sobre os acionistas pensam é um pouco diferente, a empresa tá mudando, talvez seja uma evolução e seja necessária. Mas é aí que entra a história dos valores e da história, que as pessoas entenderem que a empresa tá onde ela tá, mas não precisa ficar abusando, ostentando, não precisa ficar querendo… faz o básico, com simples, com o humilde que faz do mesmo jeito, vai no mesmo lugar faz as coisas sem... Eu acredito que esse trabalho deveria ter uma visão nesta questão pra nova geração que tá entrando não se deslumbrar com a Votorantim que sai na novela Senhora do Destino e achar que tudo é festa e esquecer da base, do pessoal de operação. Então, principalmente na questão da humildade, dá dedicação e fazer antes de pedir, acho que a gente tem que mostrar primeiro um trabalho ante de: “ah, eu quero ir de avião, eu quero ganhar tanto, eu quero ter isso, todo mundo quer, eu quero ter casa, eu ter melhor carro”. Todo mundo quer, mas só que mostrar primeiro que você tem capacidade, que você faz, tem capacidade e fazer também, só mostrar que tem capacidade não adianta, fazer e depois a empresa vai reconhecer e você vai buscar os seus objetivo, né. Então essa relação com a história e com os valores foi o que gente estudou bastante e eu estou colocando com comentário final.
P/1: Super bacana. Obrigado por dá entrevista. Gostou de dar entrevista? Você já tinha dado cabine, né?
R: Não, não tinha, eu só parei lá. Nunca tinha feito não, foi legal, eu achei que ia ficar mais assim, mas foi tranqüilo...
P/2: Nossa, foi tranqüilo!
R: Normal.
P/1: Éder, muito obrigado por sua entrevista.
R: Foi um prazer
P/1: Valeu
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