Entrevista de Nelson Moreira Sobrinho
Entrevistada por Luiz Egypto
18/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV006
Transcrito por Aponte
Revisado por Luiz Egypto
00:00
P/1 - Boa tarde, professor Nelson! Muito obrigado por ter aceitado nosso convite. Eu queria que o senhor começasse dizendo, seu nome completo, local e a data do seu nascimento?
R - Bom, eu sou o professor Nelson Moreira Sobrinho, eu sou piauiense de Parnaíba, tive a felicidade de nascer do dia 13/02/1958, portanto tenho 63 anos agora, doido para tomar vacina.
01:15
P/1 - Qual o nome dos seus pais, senhor Nelson?
R - Meus pais eram ferroviários. Ferroviários da Estrada de Ferro Central do Piauí, antiga RFFSA que foi extinta pelo governo Collor. Papai era Celso Alves Moreira e minha mãe Terezinha de Jesus Nascimento Moreira, trabalhavam na Estrada de Ferro Central do Piauí, em Parnaíba.
01:39
P/1 - Qual era a função do seu pai na estrada de ferro?
R - Meu pai, ele era arquivista, ele só tinha o quarto ano primário na época, aquele quarto ano primário, e ele era arquivista, trabalhava como arquivista no arquivo da Estrada de Ferro Central do Piauí. E minha mãe era formada em contabilidade, era contadora da Estrada de Ferro Central do Piauí. Como já disse os dois ferroviários.
02:11
P/1 - O senhor conheceu os seus avós?
R - Eu conheci meus avós maternos que eram o senhor Raimundo Avenida Nascimento, “seu Dico”, também ferroviário, e também trabalhava na Estrada de Ferro central do Piauí, era técnico do Ferroviário Esporte Clube de Paranaíba, e a “dona Liloca”, Dona Eronildes, mas chamávamos de “Dona Liloca”, Seu Raimundo Adelino Nascimento “Seu Dico” e a Dona Liloca eram avós maternos; agora, os avós paternos eu não conheci. Aliás, tem um detalhe que eu preciso falar ainda, do meu pai e da minha mãe. Meu pai foi casado por duas vezes, eu sou mais velho do segundo matrimônio. Nós somos oito irmãos, são quatro do primeiro casamento e quatro do segundo casamento, somos quatro casais. Meu irmão mais velho, Sandes, depois vem a Sandra, ele é de 1949, depois vem a Sandra, depois vem o Celso e tem a Sueli. No nascimento da Sueli, minha irmã que é dois anos mais velha do que eu, no nascimento da Sueli, a mãe deles morreu no parto. Meu pai, que já conhecia a minha mãe, já era apaixonado pela minha mãe, antes de casar com a mãe dos meus quatro irmãos mais velhos. Essa história a gente só veio a saber depois, muito depois. depois que a Luzinha, a mãe dos meus quatro irmãos mais velhos morreu, ele voltou a procurar minha mãe. E qual era o impedimento para ele não casar com minha mãe? Porque meu avô conhecia meu pai de antes, por ele também ser ferroviário, e ele bebia e fumava e meu avô nunca deixou ele se aproximar da minha mãe porque ele bebia e fumava. E aí quando ele voltou a procurar minha mãe foi um dos imperativos que meu avô, Seu Dico, disse para ele: “Você só vai encostar na minha filha se você parar de beber e parar de fumar!” Pois ele parou de beber e parou de fumar, para poder chegar lá em casa, coincidentemente. Eu nunca vi meu pai beber e nunca vi meu pai fumar, mas dizem que ele era um fumante e beberrão inveterado, e quando bebia aprontava todas, por isso que meu avô não deixava ele chegar perto da mamãe. Quando ele casou com a minha mãe, teve mais, eu vim primeiro, dois anos depois da minha irmã mais velha, a última que ele teve com a vizinha. E aí teve que mais três irmãs, a Eronildes que veio depois de mim, aí veio Antônio Sérgio, que mora no Rio, e depois a Helóe, que é a mais nova. A mais nova nasceu em 1963. Então nós somos oito irmãos, são 4 homens e 4 mulheres. Um, infelizmente, morreu do coração, meu pai morreu do coração, eu já tenho três pontes no coração, fiz uma operação do coração em 2008, tenho três pontes, mas felizmente a minha cirurgia, graças a Deus, tem ido bem.
05:42
P/1 - Como é que era um monte de gente, essa criançada? Como é que era o dia a dia na sua casa?
R – Pauleira, bota pauleira nisso. Tem uma coisa mais louca, eram 8 irmãos dentro de casa, imagina, oito irmãos dentro de casa e tinha uma mãe muito, minha mãe era muito dura na criação da gente, dura mesmo. Ela, só para você ter ideia, chegava 6 horas da tarde do trabalho e dizia que faz a fila, e o que é fazer a fila? É cada um com o caderno na mão, exercício da mão, e aí ela corrigia o exercício de todo mundo, ela ia olhar os trabalhos que vinham da escola de todo mundo. A gente estudou em escola pública no Piauí. Ela corrigia o exercício de todo mundo e quem não fazia exercício do dia... Passa para fila de cá! Os que ela já tinha corrigido, agora você vai tomar banho para poder jantar e dormir, e os que não tinha feito exercício entrava na porrada, ela dava porrada na gente, mas batia com muita força, não aliviava a barra. Então, em relação à educação nossa, a gente foi muito, muito cuidado. Ela tinha uma certeza do que ela tinha. Felizmente formou os 8 filhos, todos nós hoje somos formados. Teve a felicidade, teve o orgulho, meu pai também apesar de não ter estudado, mas o orgulho dele. Uma coisa que não faltava lá em casa era comida, não faltava, podia faltar qualquer coisa, mas não faltava comida e nem faltava disposição para dizer para os filhos que a gente tinha que estudar, que só o estudo ia salvar cada um de nós e eu sempre tive essa certeza.
07:38
P/1 - E as crianças, a filharada, tinham tarefas em casa?
R - A gente como tinha uma condição de vida. Como eles eram funcionários públicos federais, que a estrada de ferro era da Rede Ferroviária Federal, a gente tinha uma condição de vida melhor. Em casa minha mãe sempre teve uma pessoa para cuidar da gente, por incrível que pareça essa pessoa é viva até hoje que a gente chama “mãe de criação”, ela mora aqui em Brasília, ela mora em Sobradinho. Quando minha irmã mais nova, que é a Helóe, nasceu em 1963, ela foi morar com a gente lá em casa, ela tinha 15 anos de idade, era mais velha que a gente. Foi morar com a gente lá em casa e nunca mais deixou a família, ela viveu com a gente a vida inteira e quando a Helóe veio para Brasília, ela veio junto. Inclusive a gente chama ela de “Mãe”, lá no Piauí a gente chamava de “Mãe de Criação” né, mas chamamos de “Mãe”. Ela veio para Brasília e mora com a gente até hoje, está com a gente até hoje. Já casou três vezes, infelizmente os maridos dela morreram, e ela continua com a gente até hoje, eu acho a coisa mais bacana do mundo, ela é uma negra belíssima. Aí tinha essa que cuidava da gente, e tinha uma outra que cuidava da casa, que fazia a comida, que limpava, que cuidava de tudo. Bom, a criação da gente foi assim. Agora minha mãe, apesar de ela ser ferroviária, para completar ainda a coisa, no final de semana, por incrível que pareça, ela ainda cortava cabelo das amigas, ainda fazia de um quarto lá em casa um salão de beleza. Costurava, ela sabia costurar, ainda fazia costura também para fora, vendia joia, a lembrança que a gente tem dela é dessa pauleira, ela nunca parava um minuto, ela sempre criou um suporte familiar em casa que não faltava nada para gente, essa estrutura eles sempre nos deram.
10:01
P/1 - E como é que eram as suas brincadeiras de infância como é que a garotada se divertir em Parnaíba?
R – Em Parnaíba a gente jogava pião, tinha época do pião. Pião você sabe o que é? Aquele pião que a gente enrola, enrola, e joga no chão, e aí para jogar no chão a gente fazia aquele círculo no chão, então o outro que perdia botava o pião e a gente tinha que tirar o pinhão da roda. Soltava pipa, a gente fazia pipa, vendia pipa. Jogava espeto, não sei se você sabe o que é jogar espeto, jogar espeto é aquele ferrão que a gente cria, bota um ferro e joga o ferro no chão, numa linha, ganha o mais próximo da linha. Jogava tampa na calçada, não sei se você já viu o que é jogo de tampa, jogo de tampa a gente fazia uma distância de uns 5, 6, 7 metros de distância na calçada, procurava uma calçada lisa e fazia uns quadradinhos e enchia os quadradinhos de número e aí empurrava a tampa com dedo. Jogava bola, e Paraíba perto da praia né, aí de vez em quando a gente ia para praia também. Não é tão perto não, é 12 km de distância de Luís Correia que era a praia, mas sempre nas férias nossas a gente passava na Pedra de Sal, papai alugava uma casa na Pedra do Sal, a gente ia e tudo, eu lembro disso, tem foto da gente de infância, a gente preto, a gente já é negro, passava 30 dias de praia, então imagina, aí você voltava igual a um carvãozinho, mas era uma beleza.
11:42
P/1 - E a sua primeira escola, qual foi a sua primeira escola?
R – A minha primeira escola é a Escolinha Pitoresca, olha o nome da escola, Escolinha Pitoresca. Eu fui alfabetizado na Escolinha Pitoresca, que era a escola de uma vizinha que dava aula na própria casa dela. Ela dava aula na própria casa dela e aí alfabetizava os filhos dela, e aí era todo mundo junto. E aí a gente estudou na Escolinha Pitoresca e a partir da Escolinha Pitoresca nós ingressamos na escola pública. Fomos para escola pública, em Parnaíba, no Ginásio São Luiz Gonzaga. Ginásio São Luiz Gonzaga era um ginásio de padres, era um ginásio católico, mas era da rede pública, não era pago. Não sei como é que era aquilo, não sei se era o estado que pagava para eles a matrícula da gente, eu não lembro muito bem como é que era, mas era uma escola pública, apesar de ser uma escola de padre, era dirigida por padres e era pública com certeza, uma excelente escola. Eram três, aliás eram cinco as escolas que eu lembro aqui em Parnaíba. Tinha o Colégio Estadual, que era o antigo Liceu, era uma espécie de Liceus, que era o sonho de todo mundo estudar no Colégio Estadual, lá era o estudo científico. Que na minha época era primário, ginasial e científico. Eram cinco anos primário, depois a gente fazia quatro anos de ginasial e depois fazia o científico, que era o ensino médio hoje, três anos. Quem não quisesse fazer científico, ou você ia para escola normal, que era a escola das mulheres, e esse colégio o Colégio Estadual era um colégio de homem, não tinha mulher nesse colégio. A Escola Técnica que formava técnico comercial, e tinha um outro ginásio que era agente de formação de técnicos também. Aí tinha o SENAI, mas eu também nunca consegui ir para o SENAI, nunca consegui me matricular no SENAI, e olha que eu morava do lado do SENAI, mas a gente não conseguia vaga, era uma concorrência muito grande, eu acho que também tinha uns preconceitos, tinha umas coisas meio malucas lá que a gente nunca conseguiu as vagas nunca lá.
14:06
P/1 - Tem algum professor, ou alguma professora, que estivesse marcado a sua lembrança desse seu primeiro período na escola?
R - Tem, eu sofri. Ser negro, negro realmente, nesse país sempre teve problema. Eu tive uma passagem minha que foi simplesmente estúpida, eu tenho que contar aqui, foi na 2° série ginasial, tinha uma turma que a gente vinha estudando junto, a gente estudava juntos desde o 4º ano primário, aí passamos para o 5°, e aí 1° ano ginasial, 2° ano ginasial e tinha uma galera com a qual a gente estudava. Pela mãe da gente exigir muito da gente, a gente estudava muito, a gente não aliviava a barra. Você está entendendo? A gente não perdia, os livros nossos eram muito bem estudados. E eu sempre nessa turma, que a gente foi passando juntos, passando juntos, passando juntos, dos três melhores alunos da turma que era o Manoel Preto, que era filho do melhor médico de Parnaíba e estudava na escola pública. Naquele tempo, na minha década não existia escola particular, eram raríssimas as escolas particulares e nas escolas públicas a gente convivia com todo mundo. Então tinha o Manoel Preto que era filho do Dr. Manoel, tinha o Luciano Dutra que era filho de um outro alto funcionário dos Correios e Telégrafos de Parnaíba e eu, e a gente revezava: uma vez eu era o primeiro, ou era segundo, ou era terceiro aí o Manoel Preto era o primeiro, ou era o segundo, ou terceiro, Luciano Dutra era o primeiro, segundo ou terceiro. E teve uma prova, do professor de Geografia que a gente chamava de Souzinha, ele era negro, por incrível que pareça ele era um negro, só que ele era homossexual naquela época, imagina, homossexual em 1960, que isso foi na década de 60. E aí a gente fez uma prova de Geografia e ele veio trouxe o resultado da prova, entregou as provas e tudo. Aí a prova do Manoel Preto estava 10, a prova do Luciano Dutra 10 e a minha 9,5, aí foi aquela gozação, né. Porque todo mundo achava que eu também ia tirar 10, aí foi aquela gozação, o Nelson só tirou 9,5. Aí eu peguei a prova do Manoel Preto e li a prova, falei: “Manoel me empresta a prova aí”. Olhei a prova dele todinha e estava exatamente igual a minha, aí peguei a prova do Luciano Dutra, falei: “Me dá a tua aí também”. Fui olhar e a prova dos dois estava exatamente igual a minha, aí eu pensei que tem alguma coisa errada aqui. Eu falei: “Manoel dá uma olhada nessa minha prova”; ele olhou a prova, estava exatamente igual à dele, o Luciano também confirmou. “Por que vocês tiraram 10 e eu tirei 9,5?” Aí falei: me dá aqui tua prova! Peguei as provas deles, e aquela suspensão, e o professor lá na mesa, de cabeça baixa fazendo diário dele, lá e tal, diário de classe dele, conferindo as notas. Eu peguei a prova de nós três fui à mesa dele e joguei as provas em cima da mesa, joguei e falei: “Professor, eu queria saber qual é a diferença da prova do Luciano e do Manoel Preto para minha?” E aquela suspensão na sala. Ele não olhou na minha cara, simplesmente não olhou na minha cara e disse a seguinte frase, que eu tenho até hoje, ele disse assim: “A diferença não está na prova”. Quando ele falou assim, “a diferença não está na prova”, a turma inteira riu, todo mundo riu, quando a turma inteira riu, foi aí que caiu a ficha, quando caiu a ficha eu virei para ele, também, eu virei para ele muito irado que eu já estava e falei para ele o seguinte, “Então você pega esse meio ponto que você tirou da minha prova e enfia no cu”. Aí foi maluquice, foi loucura total, foi aquela risada na sala de aula, aquela confusão toda e ele não disse nada, ele simplesmente não disse nada, ele simplesmente levantou da mesa, botou os negócios dele debaixo do braço e foi na sala da direção da escola. Foi na sala da direção da escola e reclamou, disse ao diretor o que eu tinha feito. Dali a pouco ele voltou, quando ele voltou falou assim: “Aluno Nelson Maria da Silva se apresente na sala da direção”. Eu cheguei lá na sala da direção, o diretor da escola, Alexandre, esse cara, inclusive, acho que foi prefeito de Parnaíba, ou já tinha sido antes, ele já tinha redigido a minha suspensão e eu levei 30 dias de suspensão. Não tinha o que fazer, eu peguei a suspensão levei para casa, cheguei em casa, quando meu pai chegou do trabalho e chegou a minha mãe trabalho também, eu fui lá e falei para eles, aconteceu isso e isso, aí meu pai vira para mim fala assim: “Infelizmente você perdeu a razão quando mandou ele enfiar o negócio”. Aí a mamãe falou assim: “Negativo, ele não perdeu a razão não, ele também sofreu o ataque do professor, nós vamos ter que ir lá na escola conversar com a direção da escola”. E aí nós fomos. No outro dia mamãe, não nós vamos ter que ir lá. E aí minha mãe foi com muita força, minha mãe era uma negrinha menor do que eu, magrinha, mas era brava “igual siri numa lata”. Ela para defender a prole dela, defender os filhos dela, defender a razão que ela tinha, ela não media esforços. E a gente aprendeu muito com ela sobre isso. E nós fomos na escola, nós fomos na escola e ela encarou o diretor da escola, botou para lenhar nele, não aceitou, “não aceito isso aqui, meu filho não”. Porque se eu ficasse 30 dias fora da escola eu ia ser reprovado. Eu perdia as provas, perdia avaliação, naquele tempo a gente fazia prova todo mês, tinha uma média e tal. Resumo, o diretor da escola suspendeu a suspensão, mas me impôs uma penalidade, e a penalidade foi mais danada ainda. O que foi que ele fez. Na escola estavam fazendo uma quadra, a escola estava fazendo uma quadra e a quadra estava sendo feita com aqueles mosaicos, lá no Piauí chamam de mosaico, é a laje, uma lajota. Ele virou para o papai e falou: ele vai trazer trinta lajotas daquelas, todo dia ele traz uma lajota, entra na escola com essa lajota debaixo do braço e me entrega aqui na minha mesa. Meu amigo, essa notícia correu na escola, pensa na bagaceira que foi isso. A notícia surgiu na escola que eu tinha revertido a suspensão, mas que tinha sofrido essa punição. Quando eu cheguei no outro dia na escola, rapaz, da entrada do portão da escola para a entrada da escola, devia ter assim uns 80, 100m de distância, quando eu cheguei tinha um corredor polonês assim, de um lado e do outro, tinha corredor polonês de um lado e do outro e eu tinha que passar no meio desse corredor polonês para chegar até a sala da direção da escola, e entregar essa lajota. Eu chorava, eu chorava que as lágrimas caiam, com a lajota de baixo do braço e os caras batendo na minha cabeça, sacaneando, sabe, aquela bagaceira toda. Mas isso é marcante na vida da gente, isso a gente não esquece né. Está entendendo? Não esquece. Aliás, impulsiona a gente a brigar mesmo, a ser brigador. Foi com a Dona Terezinha que eu aprendi a ser o que eu sou hoje, não tenho dúvida nenhuma. Apanhei muito nessa vida, meu pai não batia na gente, mas a Dona Terezinha botava para lenhar, e ela não aliviava a barra não. Mas ela deu conta dos oito, com certeza, hoje no céu, ela continua de lá guiando cada um de nós. Hoje nós somos só sete, um já morreu do coração inclusive. Aliás, seis ano passado morreu a Sueli, morreu de mal de Parkinson, ela tinha um problema. Mas, estamos aí.
24:37
P/1 - O que é que esse garoto Nelson, queria ser quando crescesse?
R – Rapaz, eu confesso para você que eu gostava muito assim, de avião, também gostava muito de foguete, imaginava as coisas assim, meio de voar e tal, você tá entendendo? Mas fui mudando, foi mudando, foi mudando e terminei sendo uma coisa que eu nem sabia que ia ser tá entendendo? Bom, aí essa criança aí. Num determinado momento da minha vida eu tive um problema com meu irmão, esse que morreu. Eu estava chegando da escola, já fazendo o primeiro ano científico né, já estava no primeiro ano do ensino médio hoje, que era o científico, e já estudava no colégio estadual que era o colégio top de Parnaíba. Nessa época que eu fui estudar no Colégio Estadual, era o primeiro ano em que o Colégio Estadual trouxe as mulheres para estudarem no colégio estadual. Mas era assim, tinha o primeiro ano “A” de homem, o primeiro ano “B” de mulher, o primeiro ano C de homens, o primeiro ano D de mulheres, não era junto as classes não. Já eram reivindicações nossas, para juntar as turmas, tirar as paredes que dividiam as salas. Mas no intervalo se juntava todo mundo. Um dia eu estava voltando da educação física e quando eu cheguei em casa estava esse meu irmão, que morreu, batendo na minha irmã, estava dando um couro nela. Por quê? Porque ela chamou ele de corno, porque levou um chifre e tal, e na realidade ele tinha levado um chifre da namorada. E levar chifre você sabe como é que é a parada. E ele parece que cutucou ela, e ela soltou essa na cara dele, aí virou um salseiro. Quando eu vi, quando eu cheguei em casa ele estava batendo nela, e eu perguntei: por que você está batendo nela? “Por isso.” “Ah, então você só bate em mulher.” Aí eu parti para cima dele, mas eu dei um coro nele, tão bem dado. Eu com sangue quente, voltando da educação física, da escola, a gente voltava correndo, quando eu chegai em casa que vi, já entrei de sola, já entrei dando as minhas. Só que o problema foi maior, porque foi na hora que meu pai e minha mãe estavam chegando do trabalho. Aí meu pai parou o carro lá na garagem, era um Jeep que ele tinha, quando ele entrou em casa que ele viu a confusão, ele já tirou o cinto, já ia tirando o cinto assim da calça para me pegar. Aí eu falei para ele: “Papai, acho que é melhor o senhor tomar conhecimento do que está acontecendo aqui, porque eu não vou aceitar o que o senhor está pretendendo fazer. Não me responsabilizo no que vai acontecer, o que pode acontecer com o senhor se o senhor não fizer isso antes”. Eu joguei duro com ele, mas na hora que eu falei isso, a Dona Teresinha vinha atrás dele. Aí a Dona Teresinha entrou entre ele e eu, aí virou para mim e falou assim: e o senhor, vá lá para o quartinho e me espere lá que eu chego jájá para conversar com você. O quartinho era onde ela pegava a gente, lá no fundo do quintal. Lá no fundo do quintal tinha um quartinho que era a sala da tortura, quando ela chegasse lá a gente já tinha que estar ajoelhado, sem camisa, e de braços abertos, aí ela ia lá e. Só que nesse dia, ela ficou tão brava comigo porque eu enfrentei o papai, que quando eu cheguei lá, ela chegou com uma acorda, sabe corda de botar rede, corda de imbira, ela chegou com uma corda daquela dobrada. Ela chegou lá falou assim: Você vai levar 12 “cipoadas” para você aprender a respeitar seu pai, e a sua mãe também. Ai eu falei: Ah é? Tá! Aí ela começou a bater, e tinha mais essa, a gente tinha que contar. Ela ia batendo e eu contando 1, 2, 3, 4 quando chegou em 12 ela via que eu não chorava, eu estava tão bravo que eu não chorava. Ela batia e eu lá, 13, 14, quando chegou em 26 e ela batendo, quando chegou em 26 que eu não chorava ela jogou a corda no chão, sentou em um tamborete que tinha de lado, virou para mim e falou assim: foi a última vez que você apanhou meu filho, eu já tinha 13 anos de idade, ela virou para mim e falou, assim: foi a última vez você apanhou, você nunca mais vai apanhar. E eu ali puto da vida como eu estava, virei para ela e perguntei: Mamãe eu posso sair? “Pode.” Virei as costas e fui embora. Só que quem vai passar o sal nas costas? Quem é? Ela mesmo. Vai lá, pega o salzinho e passa nas costas, no ferimento né. Mas, nesse mesmo ano, meu avô estava completando bodas de ouro, com a esposa de 50 anos de casados ou era 60 anos de casados, sei lá. Aí a festa foi em Parnaíba, então foi todo mundo para Parnaíba e foi um tio meu que morava aqui em Brasília, aí eu pedi a ele para morar com ele, para estudar aqui em Brasília, aí ele falou: eu vou falar com seu pai e sua mãe. Na hora que ele falou com o papai e mamãe eles deixaram eu vir. Aí eu vim, isso foi em 1974, eu fiz o primeiro ano no Colégio Estadual, primeiro ano científico, e vim fazer o segundo ano aqui. Fui matriculado no Ginásio Setor Noroeste que é uma escola pública também, o Ginásio Setor Noroeste que também era uma escola pública. Aí terminei o segundo grau... Sim?
30:37
P/1 - Como é que foi sair de Parnaíba e chegar numa cidade nova?
R – Meu amigo, primeiro foi uma loucura a viagem. A viagem assim, eu saí de Parnaíba em uma segunda-feira de carnaval, na realidade eu saí no finalzinho de fevereiro, porque eu cheguei aqui primeiro de março de 1974, eu saí de lá numa segunda-feira de carnaval, quando foi terça-feira de carnaval, a gente viajando, sai de Teresina, porque vai de Parnaíba para Teresina e pegava o ônibus de Teresina para Brasília, que era o ônibus da Araguaína. Aí quando a gente pegou o ônibus em Teresina que saiu de Teresina para cá, para Brasília, quando chegou no meio do Maranhão, lá em Presidente Dutra, que era um entroncamento que tinha, quando a gente chegou em Presidente Dutra esse ônibus já estava viajando sem freio de mão, sem freio de pé e sem embreagem. Olha o absurdo que é isso. O cara ligava o ônibus e o ônibus saia andando. E esse cara queria sair de Presidente Dutra para chegar em Araguaína, que é uns 500 km depois, para chegar em Araguaína no Goiás, que era para trocar de ônibus. O cara viajando sem freio de mão, sem freio de pé e sem embreagem. Ele ligava o ônibus e sai andando, ele controlava a parada do ônibus na marcha, aquelas maluquices toda. Quando foi 10 horas da noite de terça-feira de carnaval, em uma dessas subidas e descidas, o ônibus chegou lá em cima não conseguiu passar para o outro lado, aí começou a voltar na subida, e um cara mais imbecil ainda, o motorista, tentou levar esse ônibus até lá embaixo, aí o ônibus caiu na ribanceira e capotou quatro vezes. Pensa na confusão que foi isso. O ônibus tombou quatro vezes ribanceira abaixo. Felizmente não morreu ninguém, só duas senhoras que estavam dormindo, cortaram a orelha, na primeira batida que ele deu. Bom, ficamos lá de terça-feira a quarta-feira, só foi passar o primeiro carro próximo da gente na quarta-feira à tarde, foi um caminhão do correio, que aí levou a notícia até Araguaína. Aí na quinta-feira o ônibus veio resgatar a gente. Aí foi a primeira assembleia que eu participei, porque, na primeira assembleia que eu participei eles iam mandar um ônibus usado, aí assembleia que a gente reuniu falou, nós só vamos sair daqui agora no ônibus novo, nós não vamos sair daqui em ônibus usado, só vamos sair se a empresa mandar um ônibus novo. Aí virou a confusão toda, porque chegou para eles a notícia que só iríamos sair de lá em um ônibus novo, aí eles mandaram ônibus novo para resgatar a gente. E aí eu saí de Teresina na segunda-feira, quando eu cheguei aqui em Brasília era sábado, 7 horas da manhã a gente estava desembarcando na Rodoviária Central, que antigamente era rodoviária central aqui no Plano Piloto. Eu lembro da primeira imagem que eu vi quando eu desembarquei na rodoviária em Brasília, eu olhava aquela Esplanada dos Ministérios, aquele monte de ministério, aquela coisa infinita com o Congresso Nacional no fundo. Eu lembro até a frase que eu pensei: “Meu Deus do céu! É igualzinho aos postais que a gente recebe de Brasília”. Aqueles postais que tinha antigamente, postal da catedral, postal da Esplanada dos Ministérios, isso aqui é exatamente igual. Isso era dia primeiro de março de 1974, quando eu cheguei em Brasília, e aí já vim para estudar, fui estudar no GISNO como eu falei, fui estudar no Ginásio Noroeste que é uma escola pública.
35:07
P/1 - Professor, qual foi a Brasília que o senhor encontrou, foi morar aonde, foi viver como?
R - A sim, eu fui morar com esse meu tio, que mora na 410 Norte, por incrível que pareça ele já ele já tinha quatro filhos né, meu tio e minha tia tinham quatro filhos, e eu o quinto, e tudo na mesma idade, a gente tinha a mesma idade, tinha uns mais novos que eu, o João que era o mais velho era, também, mais novo que eu. Aí eu fui morar em um apartamento de 2 quartos, era um apartamento funcional porque ele era funcionário do MEC, trabalhava como chefe da garagem do MEC, era mecânico. E aí fui morar com eles, eu dormia na sala e os outros primos dormiam no quarto, ele e a esposa, minha Tia Cecília, dormiam num quarto e os filhos no outro, e eu dormia na sala. Felizmente, morei lá, fiz o primeiro ano do ensino médio, fiz o segundo ano ensino médio em 1975, quando foi em 1976, em janeiro 1976 fiz o primeiro vestibular da UnB, não passei, porque eu queria engenharia mecânica, os pontos que eu tinha dava para ser aprovado em outras áreas, mas eu só queria se fosse engenharia mecânica, aí fiz vestibular em janeiro de 1976, em julho de 1976 e janeiro de 1977, levei bomba nos três vestibulares da UnB. Aí fiz vestibular na universidade particular, no CEUB, aí passei, fiz vestibular para Matemática, aí passei em primeiro lugar no vestibular do CEUB, aí o CEUB me deu uma bolsa de estudos, eu ganhei uma bolsa integral do MEC, era uma bolsa de uma dívida que o CEUB, essa universidade particular, tinha com o MEC, aí eles forneciam bolsa de estudo para os melhores alunos universitários. Aí eu ganhei essa bolsa de estudo, e até a matrícula que eu tinha pago o CEUB devolveu, a matrícula. E, coincidentemente, também os meus primos todos ganharam também bolsa de estudo para estudar no Colégio Universitário, era o pré-universitário que tinha aqui em Brasília, é um colégio que hoje é o Sigma, os três primos que também já estavam na escola ganharam as bolsas também, o MEC também deu. Eu escrevi que eu morava com os primos e tudo, que era uma família carente e tal, aí os primos também ganharam bolsa de estudo na escola particular que já tinha aqui em Brasília. E aí me formei em Matemática, formei em 1980. Só que em 1977, aí é outra história, 1977 quando eu estava aqui quando eu estava aqui em Brasília, em 1977 que eu já tinha me formado no ensino médio né, eu fiz um concurso público aqui, do DASP. O DASP era o Departamento Administrativo do Serviço Público, que quando o Collor entrou, extinguiu o DASP, acabou com o DASP. E o DASP era o órgão que cuidava da administração pública federal. Em Brasília era ele quem definia todos os cargos públicos dos ministérios, era ele que fazia aqueles apartamentos funcionais, que nos apartamentos funcionais era o DASP que tomava conta, também dos servidores públicos. Eu passei no concurso do DASP para agente administrativo, só que quando eu passei no concurso, que eu recebi o telegrama, quando o telegrama veio para casa da minha tia era janeiro de 1978, não, janeiro de 1977, eu passei em 1976. Eu estava de férias em Parnaíba, tinha tirado férias e fui para Parnaíba, quando eu cheguei minha tia falou, tem um telegrama aí para você. Quando eu fui ver o telegrama, era uma convocação para eu assumir como agente administrativo do DASP. Aí eu cheguei lá o cara falou que já tinham sido chamados mais de 3.000 pessoas, tinham sido distribuídos na Esplanada dos Ministérios toda, mais de 3.000 pessoas. E o cara virou para mim e falou assim: “Ó, agora só existe vaga no DPF, eu falei: DPF, o que é DPF? E o cara falou: Departamento de Polícia Federal. Aí eu falei: Lascou! No auge da ditadura vocês vão me mandar para o DPF? Ele falou: Não, você vai lá, você vai ser administrativo, não vai trabalhar de polícia. Inclusive, estão inaugurando um prédio novo do DPF, aqui em Brasília tem a sede Nacional do Departamento de Polícia Federal, que o povo chama de máscara negra, que é um prédio Preto lá no Setor de Autarquias, você vai trabalhar lá, é um prédio novo, tudo novo, lá no terceiro andar, que é definido como administração da polícia federal, você vai trabalhar com eles, você não vai ter ligação nenhuma com a polícia, apesar de estar lá dentro. Aí eu falei, bom tem que ir né, independe, tem que trabalhar, tem que pegar o dinheiro e tudo, e fui. Aí eu trabalhava no DPF de dia, e a noite ia para universidade, estava fazendo Matemática no CEUB, que era uma universidade particular. Só que em 1979, eu fiz o concurso público para agente federal, eu fiz o concurso para agente federal e passei no concurso de agente federal, fui chamado para fazer Academia Nacional de Polícia, Academia Nacional de Polícia que é o estágio de agentes federais. Aí eu fui fazer o curso de agente Federal, eu fiz um curso de agente federal na Academia Nacional de Polícia, era um curso com 495 agentes do país inteiro, e eu fui o primeiro colocado do curso, e aí na polícia quando você termina o curso, a distribuição no país inteiro é de acordo com a sua a sua classificação no curso, como eu era o primeiro colocado, eu falei: eu quero ficar em Brasília, minha locação vai ser em Brasília. Eu estava terminando o curso de matemática e já estava me escrevendo para fazer pós-graduação em matemática, aí fiquei em Brasília. Mas trabalhei na Polícia Federal de 80 à 84 como agente de Polícia Federal.
42:04
P/1 - Como é que se deu a sua aproximação com o professorado, isto é, como é que o senhor se transformou em um professor?
R – Bom, aí é a parte seguinte. Quando eu trabalhei na Polícia Federal eu tinha horror de ser policial, apesar de ter sido primeiro colocado na Academia Nacional de Polícia, de atirar para caramba, eu atirei muito, eu tinha horror à arma, aliás, tinha não, tenho horror à arma. Agora imagina um policial que tem horror à arma. Eu botava um revólver na cintura e ficava, quando era uma arma automática então, aí eu ficava mais perdido ainda. Quando foi em outubro de 1983 eu fiz o concurso público para professor, abriu um concurso público para professor no Distrito Federal e eu fiz esse concurso e passei no concurso. Acho que foi em agosto de 1983, eu passei nesse concurso, nesse concurso que teve para professor em Brasília eu passei em 14º lugar, quando foi em outubro desse mesmo ano eu fui fazer um trabalho de policial, teve uma equipe que foi pega, muito grande aqui no Distrito Federal, da superintendência da Polícia Federal em Brasília para a gente fazer um trabalho. Nós ficamos 45 dias no Mato Grosso, no Pantanal do Mato Grosso, andando de helicóptero para cima para baixo, era um trabalho estritamente policial e estritamente pesado, muito pesado, muito pesado. Mas me serviu de uma coisa, quando eu voltei de lá eu voltei com a certeza que eu não era policial. Falei bom, eu não tenho que ficar aqui mais, eu não posso ficar aqui, porque eu não estou sendo feliz nesse lugar, eu não quero mais ser mais ser um policial. Como eu já tinha passado no concurso, eu fui chamado em 15 de março de 1984 eu fui chamado. Cheguei em casa a secretaria, não, antigamente não era secretaria, era a Fundação Educacional do Distrito Federal, eu fui chamado pela Fundação para assumir como professor de Matemática. E aí quando eu cheguei que vi a convocação, eu falei: Opa! É aqui! Eu nem comuniquei no departamento, eu fui de manhã, no outro eu fui de manhã, assumi a Secretaria de Educação, tomei posse né, tomei posse na Ação Educacional, assinei o meu contrato na Ação Educacional e quando foi à tarde fui no departamento pessoal, que eu trabalhava né, fui lá e pedi exoneração do cargo de Agente Federal. Ninguém acreditou, todo mundo, “Sobrinho você é maluco, você vai deixar de ser servidor federal para ser servidor do Distrito Federal?” Sabe aquelas coisas. “Você vai deixar de ser um policial?” Eu falei: ó gente, eu sei o que eu estou fazendo, aí eu saí, larguei e assumi a Secretaria de Educação. Aí eu larguei a polícia, e tive certeza que eu não era policial, aí eu larguei a polícia e assumi a Secretaria de Educação.
45:45
P/1 - Como é que se deu os seus primeiros movimentos, suas primeiras aproximações do movimento social, como é que se deu isso?
R – Bom, quando eu cheguei aqui em 1984 eu fui destacado para vir, eu morava no plano piloto em Brasília e vim assumir como professor aqui na Ceilândia, aqui no P Norte da Ceilândia, que era um setor novo na Ceilândia, Ceilândia quando eu assumi em 1984, Ceilândia só tinha nove ou dez anos de vida, era uma cidade nova. Aliás, a Ceilândia é de 1971, já tinha 13 anos de vida, eu vim assumir no P Norte, e quando eu cheguei aqui tinha um movimento muito grande de professores, tinha um movimento de professores, um movimento político, de uma ascensão política muito grande e eu me engajei nesse movimento. A partir da escola a gente já tinha uma disputa política, aí fui, me filiei ao Sindicato dos Professores logo em 1984 quando eu entrei, tinham uma associação de professores, tinha o sindicato e associação de professores e eu me filiei aos dois. Me filiei ao Sindicato dos Professores no Distrito Federal e me filiei, também, à Associação dos Servidores da Fundação Educacional, que era a ASEFE, essa associação infelizmente faliu, o sindicato continuou, um sindicato fortíssimo, e hoje representa, depois nós vamos falar sobre isso. E aí quando eu engajei no movimento social aqui, já tinha bastante amigos da Ceilândia, que a gente tem até hoje contato. Eu tenho amigos de 30, de 40 anos, eu tenho, tenho amigos de 30 a 40 anos atrás, que são amigos dessa época, amigos de força, muitos deles com a barba branca, cabeça branca, mas a gente continua na luta, e foi nesse momento que a gente engajou. Quando eu cheguei na secretaria 1984, em 1986 a gente já vinha no embate né, já vinha no momento político. A gente criou um grupo aqui na Ceilândia chamado “Grupo de Ceilândia”, esse grupo é constituído até hoje como o grupo “Grupo de Ceilândia" com professores da antiga do movimento político-social, boa parte de nós filiados ao Partido dos Trabalhadores, e quando foi em 1986 teve a primeira eleição democrática no Sindicato dos Professores, porque o Sindicato dos Professores teve uma intervenção militar, aí teve uma intervenção militar e depois teve uma nomeação, e a primeira eleição direta foi essa, e nós em 1986, em julho de 1986, a gente formou uma chapa de esquerda, uma chapa discutida com representação de todas as cidades, na época chamava cidades satélites, e a gente ganhou a eleição do Sindicato dos Professores e foi a primeira direção de esquerda. E eu fui, aqui do movimento de Ceilândia, dos professores Ceilândia, fui escalado e escolhido aqui na Ceilândia para ser o representante desse grupo de professores nessa chapa, que a gente conseguiu eleição. Foi aí a minha chegada para o movimento, quero dizer oficialmente, por que antes eu já vinha como delegado sindical, como disputa política aqui na Ceilândia a gente já fazia. Quando foi 1986, em julho de 1986 a gente foi para a direção do sindicato.
49:35
P/1 - Você conheceu Olímpio Gonçalves Mendes?
R - Conheci.
49:40
P/1 - Como é que ele era?
R – Ele tinha uma diferença política na época em relação a gente, mas tinha relação política, tinha relação política, mas não era do nosso grupo, a gente não tinha uma convivência, eu conhecia a sua mobilidade política aqui no Distrito Federal, mas como a gente era daqui, aqui da Ceilândia a gente não tinha muita relação. Quando a gente foi para a direção do sindicato ele já não era do sindicato mais. O Olímpio ele foi um dos primeiros a fundar a Associação de Professores. Ele é bem antes, bem antes do sindicato. Ele foi um dos fundadores da Associação dos Professores do Distrito Federal que deu origem ao Sindicato dos Professores, depois do Olímpio, tinha o tal do Libério Pimentel, que foi o presidente, acho que ele foi nomeado pela junta militar, eu não tenho essa certeza de dizer isso. Entre o Olímpio e a gente, que nós fomos diretores a partir de 1986, tinha essa direção do presidente Libério Pimentel, foi dessa direção que a gente ganhou a eleição em 1986, a do Olímpio foi antes desse.
51:42
P/1 - Eu não ouvi o final da sua resposta.
R - O que eu falei para você é o seguinte, o Olímpio, ele é da Associação de Professores, ele é da Fundação da Associação de Professores que é o movimento de 1979, 1975, 1976. O sindicato é depois do Olímpio, Associação de Professores que deu origem ao Sindicato dos Professores, quando a gente ganhou a eleição, já não ganhamos a eleição do Olímpio, eu acho que houve uma intervenção na primeira eleição, na primeira gestão do sindicato, e aí colocaram José Libério Pimentel que era o presidente do Sindicato dos Professores quando a gente ganhou a eleição dele, você está entendendo? Não tenho muita certeza de dizer se essa direção do Libério Pimentel, que acho que foi a primeira direção do Sindicato dos Professores, foi nomeada.
52:57
P/1 – Professor, como é que o senhor avalia o momento atual da atuação do SINPRO? Como é que o senhor ver o SINPRO atuando nesse momento que nós estamos vivendo?
R – Eu só precisava dizer uma coisa antes disso, eu precisava dizer que essa minha primeira passagem na direção do sindicato foi de 1986 a 1989, no final da eleição, no final de 1989 a gente teve uma divergência política entre a própria direção do Sindicato dos Professores, e a direção rachou, como a gente diz jargão do movimento sindical, a direção rachou e aí nós tivemos a formação de duas chapas, e a chapa que eu participava, nessa chapa que a gente ganhou, se chamava Renovar é Preciso, com essa chapa Renovar é Preciso que a gente ganhou a eleição do Libério Pimentel, que ganhamos essa primeira eleição. E aí, no final do mandato, em 1989, a gente perdeu, nossa ala, a ala que disputou, a chapa 2 que era nossa, a gente perdeu a eleição e eu saí da direção do Sindicato dos Professores. Aí voltei para a escola, voltei para Ceilândia, continuei no movimento político aqui na Ceilândia junto aos professores, fui delegado sindical, fui representante da comissão de negociação que é eleito em assembleia, aí participei de todos os movimentos como base. Quando foi em 2001 teve uma nova eleição, teve uma outra eleição que eu fui convidado a voltar para a direção do sindicato, esse nosso grupo político aqui da Ceilândia, foi convidado a voltar. A gente voltou, ganhou a eleição de 2001, a gente voltou para a direção do sindicato, ficamos dois mandatos, esse nosso grupo político, ficamos de 2001 a 2003 e depois de 2004 a 2007, ficamos mais dois mandatos. Então eu fiquei três mandatos na direção do sindicato, quando foi em 2007 a gente saiu de novo, esse mesmo grupo político saiu da direção do sindicato, e aí fomos cuidar da vida. Quando foi em 2010 a gente ganhou a eleição aqui no Distrito Federal, e aí quando a gente ganhou a eleição aqui no Distrito Federal eu fui nomeado como diretor da Regional de Ensino de Ceilândia, o cargo de diretor da Regional de Ensino da Ceilândia é como se fosse o secretário municipal de uma cidade, o cara que vai tomar conta de educação na cidade. E aí fiquei de 2011 a 2014 como Diretor Regional de Ceilândia e atuando como professor. E aí quando foi em 2014 a gente perdeu a eleição no Distrito Federal, voltamos de novo para escola, continuamos a dar aula. Quando foi 2017 eu me aposentei, em greve! A última greve que eu participei na categoria foi em janeiro, aliás, a greve começou em 5 de março de 2017 e a greve terminou em 13 de abril de 2017. O Diário Oficial que publicou a minha aposentadoria, ele publicado no dia 11 de abril de 2017, quero dizer, publicou a minha aposentadoria eu em greve, e aí o que o governo federal fez na época? Apesar de eu ter o direito de estar em greve. Eles cortaram meus pontos e me deram 28 faltas, aí os meus 41 anos de servidor público, primeiros 8 anos de Servidor Federal e depois 33 anos de Servidor Publico Distrital, sem interstício, porque no mesmo dia que eu tomei posse na Secretaria de Educação eu pedi exoneração da polícia, então não tive nem interstício. Então eu tive 41 ano de servidor público, os 28 últimos dias da minha carreira de servidor publico eu levei falta injustificada, e não só levei falta injustificada, mas também levei um desconto no meu contracheque de R$10.600,00. Felizmente esse ano, esse ano não, agora em 2020 eu recebi uma notícia. Aí eu entrei na justiça pelo sindicato e tudo, aí o advogado do sindicato me ligou e disse: Nelson ganhamos a ação! Que dizer, a Secretaria de Educação reconheceu que erro, e eu sabia que ele estava errada, porque eu continuei na escola mesmo aposentado, eu continuei na escola cumprindo o calendário de reposição, fiz tudo como calendário manda, o diretor da escola me deu a declaração de que eu fiz o calendário de reposição. Mas a secretaria passou o rodo e eu entrei na justiça e agora, no ano de 2020, a gente teve um êxito em que o advogado sindicato ganhou ação na justiça e a secretaria vai, além de devolver o dinheiro, ainda vai corrigir os meus 28 dias na minha folha de trabalho. Porque eu mereço, honrosamente, 41 anos, nunca faltei. Eu tinha o direito de greve a cumprir, e isso me honra muito.
58:29
P/1 - Está certo. Eu queria voltar um pouco e lhe perguntar, como é que se dá a militância sindical quando o governo, em princípio, é um governo aliado? Como é o caso de Cristovam Buarque de um lado e Agnelo Queiroz?
R – É assim, como é que um sindicalista vai para o governo? Como que um sindicalista passa a ser governo? É uma coisa muito contrastante. A primeira coisa, enquanto ainda na Regional de Ensino, a primeira coisa que eu tinha na minha cabeça era de que eu não posso, em hipótese nenhuma, deixar os meus princípios que eu tive enquanto sindicalista, enquanto dirigente sindical. Tenho que lutar, mesmo no lugar que eu estou eu vou ter que lutar sempre, para o benefício da categoria, ao beneficio da nossa categoria, e também o reconhecimento da escola pública de qualidade, que mesmo sindicalista, a gente brigou a vida inteira para que os filhos dos trabalhadores tivessem uma educação de primeira, uma educação de qualidade, uma educação de respeito. E esse era o princípio que me norteava como dirigente, como coordenador da Regional de Ensino. Que dizer, se eu conseguisse, como coordenador regional de ensino, nunca prejudicar ninguém, e isso aí eu tenho a consciência tranquila, que nenhum dos trabalhadores, quero dizer, que todos os trabalhadores da educação, seja ele professor, seja ele servidor da secretaria, o merendeiro e qualquer outro, a gente sempre defendeu com muita força, e mais ainda, tivemos a certeza de colocar o aluno como centro da escola. Colocar o aluno como centro da escola e dizer, a escola vive em função desse aqui que é o ator principal da educação como um todo. Para mim é o aluno e sempre foi assim. O foco nosso era fazer uma educação de qualidade acontecer no Distrito Federal, e isso a gente brigou e eu tenho certeza que a gente conseguiu na época que foi coordenador, e na época do governo do PT aqui no Distrito Federal. A educação pública foi tratada com muito respeito, com muita qualidade, com muita garra e compromisso, acho que isso a gente conseguiu fazer.
1:01:07
P/1 - Perfeito professor. Qual que o senhor considera que são os desafios mais importantes que se colocam hoje para o SINPRO?
R – Eu acho que o desafio que se colocam hoje, primeiro, no meio dessa pandemia toda né, a categoria nossa teve que ser reinventar. Minha esposa é professora, ainda está em atividade, é professora, eu a vejo aqui no dia a dia dela, a reinvenção que ela faz de todo dia fazer uma aula, que é uma aula, é online, imagina, ela dá aula para alunos do 2º ano, imagina você alfabetizar através da tela, através de uma aula online. Como é que você alfabetiza uma criança de 7, 8 anos de idade em uma tela, com ajuda dos pais? Eu vejo a dificuldade que é dia a dia dela aqui. Então é essa reinvenção nossa tem trazido muita, assim, uma dificuldade grande, mas um desafio maior ainda. Tem uma dificuldade de fazer a coisa, mas o desafio é maior ainda. Eu vejo que nenhum de nós professores se perde em relação a isso, quando eu digo se perde é no sentido de fazer, tentar fazer, tentar acreditar que está dando certo e que vai dar certo, sim. Então no meio dessa pandemia isso é maior. Fora isso, tem a questão política do momento, além da pandemia, você tem um governo que cassa o direito de todos, que cassa os direitos trabalhista, que cassa os direitos da aposentadoria. Nós sofremos recentemente uma reforma da Previdência aqui no Distrito Federal, que nós professores levamos a porrada maior. Não é só o desconto da previdência que cresceu no contracheque de cada um de nós, foi em torno de R$800,00, e isso não é pouco no orçamento de uma família de um servidor público. Imagine você, cada professor do Distrito Federal, tendo que de um momento para o outro, além de não ter o aumento salarial, você ainda perder R$ 800,00 no seu contracheque. Então, tem desafios muito grandes o movimento sindical, ele tem uma responsabilidade grande de estar devolvendo, de estar lutando para devolver os direitos todos que nós perdemos, e não foram poucos os direitos que as categorias de trabalhadores perderam, direitos a aposentadoria, direito ao salário decente, direito a aumento salarial, e todos o dia esse governo que está aí inventa uma coisa nova para tirar mais direito, para roubar, para confiscar, para prejudicar, para diminuir o serviço público. Nós estamos em um momento muito difícil e requer um debate muito grande, um debate firme, um debate acirrado, e trazer de volta aos trabalhadores aquilo que nós fizemos do passado, que foi conquistar tudo aquilo com muita luta, com muita disposição de força de cada um de nós, mas agora vai ser mais ainda, que a paulada o trabalhador tem recebido, não tem sido muito fácil.
1:04:32
P/1 - Professor, o que o senhor diria para um garoto, ou para uma garota, que resolvesse ser professor, que optou por ser professor, o que o senhor diria para essa pessoa?
R – Eu tenho a felicidade, de nesses meus 33 anos de professor que fui, e modéstia à parte, eu acredito que fui um excelente professor. Porque o aluno só se lembra do professor que fez parte da vida dele de certa forma, esse professor contribuiu de alguma forma para a vida dele. Eu tenho encontrado, nessa minha caminhada, muitos ex-alunos meus que são professores, inclusive professor de Matemática. Eu fico muito feliz, porque eu sempre mostrei, sempre respeite e sempre estimulei aqueles meus alunos. Professor em sala de aula ele sabe rapidamente quem é aquele que gosta, quem é aquele que não está nem aí, quem é aquele que está a fim de fazer a coisa acontecer, inclusive gosta e diz até para o professor que quer ser professor, e você investe muito, e eu investi muito, e eu digo sempre que não é fácil. Agora, como eu falei agora pouco para vocês eu fui policial, mas a minha felicidade foi esses 33 anos de secretaria de educação, eu fui muito feliz sendo educador, sendo professor, eu fiz tudo que você pode imaginar para ajudar as pessoas. Nessa escola aqui, Centro Educacional 11 P Norte, eu fui diretor dessa escola e eu peguei essa escola como escola classe, eu transformei essa escola classe, que era uma escola que dava aula de 1º ao 5º ano e eu transformei essa escola em um Centro de Ensino Fundamental, que atende do 6º ano ao 9º ano, e depois transformei no Centro Educacional 11, que é uma escola de ensino médio. Em uma comunidade em que eu trabalhei durante 33 anos, eu até brinco com eles lá, quem nasceu no P Norte que não foi meu aluno é porque não nasceu ainda, eu digo isso para eles. É uma comunidade belíssima, é uma comunidade maravilhosa, periferia do Distrito Federal em que eu tenho a honra de ter trabalhado. Poucos professores no Distrito Federal fazem o que eu fiz. É entrar e sair, é tomar posse e ser aposentado na mesma escola. Até porque a gente tem oportunidade de estar mudando de cidade, de estar pedindo remoção para ir trabalhar em outra e tudo, eu nunca nem entrei em um concurso de remoção, só para você ter ideia. Sempre trabalhei nessa escola, sempre tive muito orgulho dela e da comunidade em que a gente trabalhou, e nessa escola aqui hoje, sem exagero nenhum, tem uns 6, 7, 8 professores que foram meus alunos nessa escola, você está entendendo? São professores lá na escola, professora de Português, professor de Química, professor de Matemática, professor de Inglês. Tem uma, que é a professora de Inglês nessa escola, que eu fui professor depois do filho dela na mesma escola, só para você ter ideia, o negócio mais bacana do mundo. Ela estudou comigo e eu fui o professor do filho dela também quando ela já era professora junto comigo.
1:08:10
P/1 - Professor, sem lhe pedir nenhuma bola de cristal, mas como é que o senhor enxerga o futuro da educação no Brasil?
R – Eu enxergo com o esperançar de Paulo Freire, para mim, o esperançar de Paulo Freire é dizer que é na educação que a gente vai construir a melhoria desse país. Eu acredito muito na educação pública, com investimento público, com respeito aos filhos dos trabalhadores, a gente ainda vai chegar nesse ponto. Eu tenho certeza absoluta que a gente vai retomar tudo isso que a gente perdeu, todo o estímulo que a gente perdeu, a gente vai retomar e vai trazer a escola pública para o patamar que ela merece, que os filhos dos trabalhadores tenham uma escola pública de qualidade, uma escola pública de respeito. A gente já tem muitas escolas públicas aqui no Distrito Federal, que tem trabalhos belíssimos acontecendo, muitas, não são poucas não. Trabalho belíssimo acontecendo, trabalho de incentivo à educação, a arte, a cultura, a política. Temos uma aprovação já imensa de alunos da Escola Pública do Distrito Federal para o vestibular da Universidade de Brasília. Então eu tenho certeza absoluta que a gente vai retomar a esse patamar. Eu não tenho nenhuma dúvida em relação a isso.
1:08:43
P/1 - Vamos voltar para um lado um pouco mais pessoal, o senhor é casado? Tem filhos?
R - Eu estou no terceiro casamento. Eu tive um primeiro casamento com a professora dessa escola, eu casei com a professora da escola, e aí tive meus dois filhos gêmeos, que estudaram na escola pública e depois foram para Universidade de Brasília, são formados na Universidade de Brasília, inclusive meu filho Lucas, ele se formou em Ciência da Computação, depois passou no concurso de analista de TI da FUB, da fundação Universidade de Brasília, e trabalha hoje na Universidade de Brasília, nos computadores da Universidade de Brasília e já tá fazendo mestrado, me deu o primeiro neto agora. E a irmã dele, que é a Laura, que é irmã gêmea, também se formou na Universidade de Brasília. Tive a felicidade dela participar do programa, daquele programa que tinha no governo da Dilma, que os alunos viajavam, como era? Ela foi estudar na Inglaterra, ela ficou um ano e quatro meses na Inglaterra, naquele programa que tinha dos alunos universitários... Não lembro! “Meu bem, aquele programa que a Laura foi, você lembra o nome?” Ciência sem Fronteiras. Ela foi, tinham 75 mil alunos do Brasil inteiro né, indo para estudar fora do país, eram 75 mil alunos, e ela foi uma daquelas alunas que foi estudar numa cidade perto de Londres, ela ficou lá um ano e quatro meses né, voltou maravilhosamente bem, tá entendendo? Deve tudo isso à presidente Dilma e ao presidente Lula, de ter dado essa oportunidade, porque se fosse depender do pai dela ela não iria... No máximo ia passar as férias no Piauí comigo, como ia quase sempre né. Mas jamais iria estudar em uma Universidade fora do país. Mas está bem, formada, passou no concurso público também, está formada. Eu tive um segundo casamento, que não tive filhos, e agora estou casado de novo com a terceira professora, maravilhosa, uma pessoa que eu tenho certeza absoluta que não vai ter a quarta. Ela é professora de ensino fundamental para os alunos de alfabetização. Uma negra maravilhosa, que eu amo muito, professora Iamara. E aí a gente mora aqui na Ceilândia, ela foi diretora de escola também, ela foi diretora eleita, diretora de escola. Mas agora ela está em sala de aula, está dando aula e adorando, quero dizer, se reinventando, aquilo que eu falei para você, a nossa sala agora é aqui, a nossa copa, aliás, virou uma sala de aula, um estúdio de sala de aula, é um negócio muito bacana.
1:13:47
P/1 - Tem alguma coisa que o senhor gostaria de ter dito e eu não lhe estimulei a dizer?
R - Assim, em relação ao próprio sindicato eu tenho orgulho, eu tenho orgulho de dizer que fui da direção dessa entidade, acho que a maior entidade de trabalhadores, devo dizer, do Distrito Federal é a maior entidade de trabalhadores sindicalizados, talvez só perca para o sindicato dos comerciários, mas mesmo assim arrecadação que o SINPRO-DF tem, apesar de um número menor de filiados do que o sindicato comerciário, a arrecadação do SINPRO é muito maior e um Sindicato de força, é um sindicato em que todas as histórias políticas que existem no Distrito Federal ele esteve junto, o sindicato interferiu, o sindicato deu o tom. Seja a redemocratização da política no Distrito Federal, seja a luta pela representatividade no Distrito Federal, seja a luta pela melhoria salarial nossa, pela condição de escola pública de qualidade, tudo isso o sindicato, e quando eu digo sindicato quero dizer sindicalizados que são o próprio sindicato, nós participamos, nós estivemos juntos, nós lutamos, nós brigamos, nós sofremos, nós invadimos, nós levamos porrada, nós fizemos tudo que você imaginar que um trabalhador e um militante sindical possa fazer, você tenha certeza que eu fiz, e tenho a honra de dizer que fiz com muita força, muita responsabilidade, com muito compromisso. Tenho orgulho de dizer que sou filiado ao Sindicato dos Professores, serei o tempo que estiver vivo, serei sindicalizado, serei representante do SINPRO-DF no Distrito Federal, é uma honra ser dessa entidade.
1:15:59
P/1 - Muito bem, muito bem.
R - Aliás, eu tenho a honra de dizer também, que sou professor e só fui professor na escola pública, nunca dei aula na escola particular, nunca tive experiência de dar aula na particular, porque nunca me entendi como professor de escola particular, eu sempre me entendi como professor da rede pública de ensino, de trabalhar com os filhos dos trabalhadores para os filhos dos trabalhadores e fazer a escola acontecer para os filhos dos trabalhadores, empregados e muitas vezes desempregados. Essa foi a minha luta.
1:16:42
P/1 - Como é que o senhor se sentiu tendo participado dessa entrevista?
R - Primeiro surpreso, surpreso porque a direção do sindicato, quantas direções já aconteceram, na direção do Sindicato dos Professores? São inúmeros companheiros que estiveram lá. Quando eu recebi a notícia da companheira Rosilene, que me ligou dizendo que eu tinha sido, no debate que aconteceu, um dos nomes que foi escolhidos para dar essa entrevista, eu primeiro fiquei honrado, e segundo eu fiquei assim, como eu disse para você, estou aqui feliz, com muita disposição de falar, falar, falar e falar, pena que já está é acabando, mas confesso para você que eu adorei, gostei, é uma experiência bacana falar nesse telefone aqui, ver minha cara falando é mais engraçado ainda, primeiro que eu cheguei a conclusão que Dona Terezinha, minha mãe, que ela caprichou. Não é qualquer um que está nessa fase com essa imagem aqui né, então fico muito feliz de saber disso, Terezinha e o Seu Celso capricharam, aliás, ela sempre pediu para ter um filho bonito e exagerou, certeza que ela exagerou.
1:18:07
P/1 - Professor, para finalizar. Quais são os seus sonhos?
R - Eu atualmente trabalho, eu sou assessor do deputado distrital na Câmara Legislativa do Distrito Federal, eu sou assessor do deputado Chico vigilante, companheiro que eu tive o imenso prazer, conheço desde 1986. Quando eu fui dirigente do Sindicato dos Professores ele era o presidente do sindicato dos vigilantes do Distrito Federal e presidente da CUT-DF, então a gente tem uma relação bem antiga, uma relação consolidada. E quando ele ganhou a última eleição, e eu trabalhei na eleição dele, ele me convidou, eu já estava aposentado, ele me convidou para ir trabalhar junto com ele e eu estou gostando do trabalho. Estou cuidando da parte da área de educação e cuidando dessa região toda. Depois também fui eleito, aqui na Ceilândia, como presidente do PT daqui de Ceilândia, a maior cidade do Distrito Federal. Claro que nessa pandemia tem sido muito difícil a gente fazer o trabalho, ainda mais eu que sou cheio de comorbidade, eu tenho três pontes no coração, já operei o rim, já fiz 10 cirurgias. Para você ter ideia, Deus já me deu 10 oportunidades e eu quero continuar tendo, por isso que eu estou aqui, escondidinho, aqui quietinho no meu canto, escondido desse vírus. Deus anda muito ocupado ultimamente e eu tenho que fazer minha parte e mesmo fazendo minha parte, se eu precisar, eu vou ter que pedir a ele de novo. Assim, eu quero continuar vivendo, eu quero continuar trabalhando bastante, eu quero continuar porque a gente tem muito o que fazer ainda, pela Ceilândia, pela nossa querida cidade de Ceilândia, que eu já estou aqui desde 1984, quando eu cheguei aqui para dar aula. Quero fazer muito ainda pelo Distrito Federal, pela nossa categoria de professores. Bom, tenho disposição, estou igual ao Lula, 63 anos mas com carinha de trinta e tesão de 20.
1:20:25
P/1 - Perfeito professor, muitíssimo obrigado pelo seu tempo, pela sua atenção.
R – Pois não.
Recolher