Meus pais se conheceram aqui no Brasil. Casaram e tiveram três filhos: Manuel José Gomes Vilas Boas, Carlos Alberto Gomes Vilas Boas e eu, Alexandre Gomes Vilas Boas. Portanto, sou o filho mais novo desse casal de imigrantes. Minha mãe diz que veio para o Brasil por causa da pobreza em que vivia ...Continuar leitura
Meus pais se conheceram aqui no Brasil. Casaram e tiveram três filhos: Manuel José Gomes Vilas Boas, Carlos Alberto Gomes Vilas Boas e eu, Alexandre Gomes Vilas Boas. Portanto, sou o filho mais novo desse casal de imigrantes. Minha mãe diz que veio para o Brasil por causa da pobreza em que vivia em Portugal. Já meu pai vinha de uma família de lavradores e tinha um pouco mais de recursos; mesmo assim, teve um desentendimento com minha tia e, também por causa dos temores do pós-guerra e dos conflitos com a colônia na África, resolveu deixar Portugal.
Eles chegaram aqui no período de grande efervescência. São Paulo ainda estava crescendo muito e acolhia a todos que chegavam; havia emprego e promessas dos governantes (muitas vezes populistas, é claro). Mesmo assim, era um período de ditadura e eles não chegaram a sentir muita diferença, uma vez que Portugal também era governado por um ditador.
Além disso, meu pai sempre considerou o fato de ser estrangeiro. Por mais acolhido que sempre tenha se sentido, ele sempre me fala que tinha medo de dizer qualquer coisa e ser preso e/ou deportado – medo esse que se enraizou definitivamente nos anos 60/70.
Eu nasci em 1973, o ano em que Pablo Picasso morreu. Por incrível que pareça, lembro de muitas coisas, desde roupas que as pessoas usavam, carros, objetos de casa, até alguns programas de TV e músicas que se ouviam.
Mamãe ouvia muito o rádio (parece que todo o Brasil nessa época, apesar do advento da televisão, ouvia). Ela cuidava de casa e ajudava meu pai no bar, que ele tem até hoje. Meus irmãos estudavam (temos uma diferença de idade de 10 e 11 anos entre o Manuel, o Carlos e eu). Sendo assim, eu seria a criança pequena da família por muito tempo.
Eu lembro que, nos anos 70, muito se falava de astronomia, foguetes, ficção científica, exploração espacial etc., e isso povoava meus pensamentos de criança.
Mamãe e papai não falavam de política, mas reclamavam às vezes da situação da economia, de forma que tivemos todos uma vida modesta, sem luxos, mas eu sabia e sentia que podia ter algumas coisas que meu pai às vezes se negava a ter. Sabia que para ele "conforto" era algo meio esquisito. Então, tínhamos quase sempre o básico. Nada de desnecessário. Isso foi bom. Fez com que eu e meus irmãos tivéssemos uma visão mais responsável.Recolher