P - Muito obrigado, Seu Manuel, por nos dar esse depoimento. Para começar, eu queria que o senhor dissesse o seu nome completo, o local e a data de seu nascimento. R - Meu nome é Ananias Mendes de Farias. Eu sou filho natural de Fortaleza e nasci no dia 20 de junho de 1955. P - De onde vem o “Manuel do Antão”? R - Manuel do Antão foi quando nós viemos para Quixadá. Viemos no ano de 72. O meu pai se instalou comprando essa fazenda aqui. Era um dos pecuaristas de bovinocultura leiteira. Por eu ser filho do Antão, botaram Manuel do Antão e acho que vou morrer com esse nome. O pessoal não me conhece por Ananias, aqui, me conhece por Manuel do Antão. P - Como era o nome do seu pai? R - O nome do meu pai era Antão Mendes de Farias. P - O que ele fazia? R - Meu pai era pecuarista. P - Leite, corte? R - Leite e corte. Porque nós tínhamos a facilidade, fazenda muito grande... Na época que nós compramos, essa fazenda era um mil e cem hectares. Então, nós trabalhávamos tanto com leite, quanto com gado de corte. P - E o nome da sua mãe? R - O nome da minha mãe é Isolda Lourenço de Farias. P - O que ela fazia? R - A minha mãe era agricultora, junto com meu pai. Desde que eu nasci, meu pai era dono de vacaria leiteira, em Fortaleza. Foi na época em que a cidade foi crescendo e ele teve que correr para o sertão para poder ter a agilidade de uma fazenda melhor, maior. P - O senhor conheceu os seus avós? R - Eu cheguei a conhecer o meu avô materno, mas os meus avós paternos eu não tive condições, nem a minha avó materna. P - Você lembra o nome deles? R - Do meu avô era Laurindo Lourenço. P - O paterno? R - O materno. O meu avô paterno era Francisco Mendes, minha avó paterna era Maria Cândida de Farias e a minha avó materna era Maria Rosalina. P - O senhor, quando criança, ou mesmo depois, adolescente, os seus pais ou o avô que o senhor conheceu comentavam de onde veio a família? Se a família é daqui...
Continuar leituraP - Muito obrigado, Seu Manuel, por nos dar esse depoimento. Para começar, eu queria que o senhor dissesse o seu nome completo, o local e a data de seu nascimento. R - Meu nome é Ananias Mendes de Farias. Eu sou filho natural de Fortaleza e nasci no dia 20 de junho de 1955. P - De onde vem o “Manuel do Antão”? R - Manuel do Antão foi quando nós viemos para Quixadá. Viemos no ano de 72. O meu pai se instalou comprando essa fazenda aqui. Era um dos pecuaristas de bovinocultura leiteira. Por eu ser filho do Antão, botaram Manuel do Antão e acho que vou morrer com esse nome. O pessoal não me conhece por Ananias, aqui, me conhece por Manuel do Antão. P - Como era o nome do seu pai? R - O nome do meu pai era Antão Mendes de Farias. P - O que ele fazia? R - Meu pai era pecuarista. P - Leite, corte? R - Leite e corte. Porque nós tínhamos a facilidade, fazenda muito grande... Na época que nós compramos, essa fazenda era um mil e cem hectares. Então, nós trabalhávamos tanto com leite, quanto com gado de corte. P - E o nome da sua mãe? R - O nome da minha mãe é Isolda Lourenço de Farias. P - O que ela fazia? R - A minha mãe era agricultora, junto com meu pai. Desde que eu nasci, meu pai era dono de vacaria leiteira, em Fortaleza. Foi na época em que a cidade foi crescendo e ele teve que correr para o sertão para poder ter a agilidade de uma fazenda melhor, maior. P - O senhor conheceu os seus avós? R - Eu cheguei a conhecer o meu avô materno, mas os meus avós paternos eu não tive condições, nem a minha avó materna. P - Você lembra o nome deles? R - Do meu avô era Laurindo Lourenço. P - O paterno? R - O materno. O meu avô paterno era Francisco Mendes, minha avó paterna era Maria Cândida de Farias e a minha avó materna era Maria Rosalina. P - O senhor, quando criança, ou mesmo depois, adolescente, os seus pais ou o avô que o senhor conheceu comentavam de onde veio a família? Se a família é daqui mesmo, se veio de outro lugar do Estado ou do país? R - O meu pai sempre contava que a minha avó paterna veio da Paraíba. O meu avô tinha uma linhagem de alemão. Naquela época, veio terminar em Boa Viagem, uma cidade do interior nordestino, que temos aqui. Logo após Quixeramobim, Madalena, e vem Boa Viagem. P - Isso foi no século passado, no século retrasado? R - Isso foi no século passado. Vieram ver as origens, e naquela época muitas pessoas imigraram das guerras. Meu avô veio baixar aqui, por essa região. P - O senhor tem irmãos? R - Tenho. P - Quantos são? R - Tenho dez irmãos homens e uma mulher. P - Vamos fazer a escadinha deles? R - O mais velho é o Raimundo, o segundo é a Eunice, o terceiro era o Oséas, que já faleceu. O quarto é o Ezequias, o quinto é o meu irmão Enemias e o sexto sou eu, Ananias. O sétimo era o Antão Filho, aí vem o Davi, o Miquias, o Eas e o Miquéias, que é o caçula. E a minha irmã, o nome dela era a Maria Eunice, a única irmã. P - Quando criança a sua fazenda era em Fortaleza? R - Era vacaria, porque, naquela época, a gente tinha vacaria. O papai tinha um sonho, veio menino de Boa Viagem, jogado para Fortaleza, naquela época da seca violenta, que morreram todos os seus irmãos. Ele contava isso chorando. Ele tinha um sonho de um dia voltar para o sertão, mas, devido àquela seca grande, ficou em Fortaleza e começou a trabalhar. Comprou uma vaquinha, outra e outra, e fez uma vacaria lá no bairro da Aldeota, em Fortaleza. Ele criava essa vacaria. Eram poucas casas naquela época, mas foi acochando, acochando e chegou a época, em que a própria Saúde Pública não deixou ele ter a vacaria lá. O que acontece? Aí, ele teve que migrar de volta para o sertão. P - A terra era dele lá? R - Era. O terreno era dele. P - Na Aldeota, quem diria, hein? R - Mesmo. Na Aldeota, ali em Fortaleza, nós morávamos. P - Como era ali a fazendinha, a... R - A vacaria, lá? P - É. Tinha nome, lá? R - Não. Eu me lembro, ainda muito pequeno, o papai estava com esse gado, tinha essa vacaria de pequeno porte. Lá, o nome que dava, o nome da rua era Rua Corrientes. Eu me lembro, até hoje, desse nome. Era muito pequeno, muito criança, ainda. Foi quando o papai disse: “Não, agora, nós vamos ter que migrar, para ir embora pro sertão”. P - Você se lembra como era a sua casa lá na Aldeota? R - Lembro. Eu tenho uma lembrança. Ela tinha três colunas juntas, como se fosse o contorno de uma trança de cabelo, as três. Eu me lembro do mosaico, ainda, que não era cerâmica, era um mosaico. Uma casa muito boazinha, estável, tinha tudo, era tudo muito bem feito. O papai tinha que fazer uma coisa e a Saúde Pública, tanto na parte do gado, quanto os currais do gado tinham que serem cercados, tudo calçado. Mas chegou a época em que começaram a subir os prédios, arranha-céus e outras coisas mais, e aí, nós tivemos que... Porque chegou a hora que decretaram que ele não podia mais viver lá. P - Que idade o senhor tinha quando precisaram vir, aqui, para Quixadá? R - Quando eu vim para Quixadá, eu já tinha a idade de... Eu sou de 55, viemos para Quixadá em 72. Já tinha uma idade de, o quê, 15 anos?... P - 17 anos... R - É. Eu estou pulando uma história, aí. Porque, quando eu saí da Aldeota, eu tinha menos de cinco anos. Nós fomos para um sítio atrás da Universidade do Edson Queiroz, que na época não existia. Esse sítio, o nome dele é o mesmo nome da minha fazenda, hoje , era o Sítio Canaã. E lá também começou, veio a faculdade, essas outras coisas mais e, desse sítio, foi que o papai comprou essa fazenda, em 72. Aí, nós migramos de lá para cá. P - A sua primeira escola foi lá, então? R - Foi. Foi perto da Universidade do Edson Queiroz. Eu não estou lembrado do nome do convento, mas é um convento de freiras, onde nós estudávamos. P - O nome da escola o senhor lembra? R - Eu não tenho lembrança, se não me engano, era Vicentino. Eu estudei daquela época da cartilha, e do abc, até a terceira série, lá, porque foi a época em que nós saímos e viemos para cá. P - Nessa época, teve alguma professora que o senhor se lembra? R - Eu me lembro da irmã Luisinha que tocava violão, era uma pessoa tão agradável. Isso ficou gravado na minha memória, às vezes eu conto para minha esposa. Na classe ela tinha aquele afeto tão grande pelos alunos e os alunos por ela... A gente tinha prazer em ir para a aula, porque era uma professora única. Eu me lembro que eu juntava dos melhores cajus do sítio para poder levar para ela de presente, todo dia. A gente tinha aquele afeto, tinha o prazer de ir à escola. P - Que outra fruta tinha no sítio, além do caju? R - Nós tinhamos coco. Era uma produção muito boa, o sítio era muito bom, e, por incrível que pareça, hoje, o sítio está intacto. O Edson Queiroz parece que deixou, lá, como um monumento, não sei porque. Até os estábulos, a casa velha, tudo ainda existe, lá. Eu tenho um irmão que mora lá perto, meu irmão mais velho, e ainda existe esse sítio. P - Diga-me uma coisa, seu Manuel, como é que eram as brincadeiras da garotada, do garoto Manuel? R - Aquelas épocas, a adolescência, criança... Eu peguei um começo da adolescência que era muito diferente de hoje. Havia os parques de diversões, a gente ia para aquele parque para comer a batata cozinha, a gente comia aquele churrasco. Era uma diversão de brincadeira, de conhecer. Os bolsos, às vezes, cheios de bombons para dar às meninas, para poder às meninas se encostar. A diferença de hoje é muito grande, Às vezes, a gente se lembra disso e vê que é uma coisa que foi e não volta mais. Não sei como resgatar essas coisas que passaram na vida da gente. É por isso que a gente tem que viver o momento único na vida da gente. P - Quando o senhor veio para cá, qual foi a primeira impressão que teve do local? R - A gente vivia numa cidade, numa comunidade por nome Edson Queiroz, antes do Edson Queiroz chegar lá. Quando ele chegou, botou o nome do bairro para Edson Queiroz. Mas o nome lá era Dendê, e eu sei dizer o porquê. Tinha muito aquele coco que dava o óleo do dendê. O nome do lugar era Dendê, mas depois que veio a faculdade e tudo o mais, mudaram para Bairro Edson Queiroz. Era uma comunidade de muitas famílias e a gente vivia como se fosse uma irmandade. Quando viemos para Quixadá, em 72, não tinha esse asfalto que hoje tem aí. Essa fazenda, a casa era lá dentro, a casa velha. Isso era tudo mata e, para gente se adaptar, foi meio cruel, foi doloroso. Tem coisas que a gente se lembra que... P - Como é que foi esse processo? R - O processo foi de separação; ficou irmão em Fortaleza, os que estavam casados: minha irmã mais velha, meu irmão mais velho, com os sobrinhos. Isso foi muito doloroso, tanto para a gente, quanto para a mamãe. Para a gente se adaptar, aqui, foi muito violento. Foi uma coisa que parece que quis rasgar. Mas quando a gente se acostumou a gente vai se acostumando , vai querendo bem uma cidade. Eu acho que, hoje, Quixadá faz parte da minha vida. P - Nesse momento em que o senhor chegou, a Caatinga em volta estava mais intocada. Como era esse ambiente? R - Só para você ter idéia, essa fazenda, aqui, para a gente poder entrar era mata virgem, toda mata virgem , foi preciso cortar os galhos, pau, para poder entrar na casa, que essa fazenda era toda intacta. Aí, foi a modernização, aquela criação de gado foi aumentando. Em Fortaleza nós tínhamos uma vacaria de 50 cabeças de gado. Cá, chegamos a possuir 1050 cabeças. A devastação aqui começou devido ao progresso desenfreado, sem uma Educação Ambiental, em cima do homem, como era e, hoje, a Caatinga se limita a uma Jurema. P - O que é Jurema? R - A Jurema é uma planta que nasce até em cima da pedra, aqui. Não precisa de chuva para ela nascer. Você encontra ela verde toda hora. É uma coisa do sertão mesmo. É como se fosse uma praga. Não deixa de ser uma planta, mas a madeira dela não tem cultura nenhuma a não ser para queimar mesmo. P - Esse ambiente que o senhor ainda viu intacto, ele tinha algum tipo de beleza? R - Tinha uma beleza muito grande. A gente sente saudades. As chuvas eram mais constantes, não tinha esse calor que nós estamos tendo, hoje. Era um lugar muito agradável, muito bom. Hoje, nós estamos tendo um calor muito desenfreado, acho que tudo isso foi conseqüência da mata, que a nossa mata aqui era Pau Branco... Gente, aqui no Sertão, num linguajar do homem do sertão, nós tinhamos o Pau Branco, o Preto, o Louro, que era muito usado em benefício de móveis, portas e outras coisas mais. Hoje, a gente sente falta. Você procura um Pau Branco dentro de uma fazenda dessa, é uma raridade você encontrar para fazer uma linha de casa... Tem a Jurema, que nasce até em cima de pedra, ela parece uma praga, ela serve mesmo para queimar. P - Nessa vida vindo aqui para Quixadá, deu para fazer amizades, o senhor chegou a fazer amigos? Foi fácil também esse tipo de adaptação, ou foi tão difícil quanto a atividade da fazenda? R - A facilidade da gente fazer amizade, naquela época, era muito maior que hoje, porque o povo se comunicava muito. Aqui, no sertão, é aquela história de emprestar, ainda. Se você precisava do açúcar, ia na casa da fulana, se precisava do café, vai na casa de um e outro. Tinha aquele afeto, aquele achegamento que era fácil se fazer uma amizade. Chegava na casa de uma pessoa, você conhecia hoje, amanhã ele já estava lhe chamando para entrar, para jantar, para a gente ficar lá, conversar, conhecer um amigo; o amigo vinha para a casa da gente e a gente tinha... Não foi muito difícil não, nós aqui fizemos muita amizade, rápido. Nossa época foi muito boa. P - Tinha aqui alguma festa tradicional? R - Hoje, nós temos banda de forró de todo jeito. Que não é o forró. As festas tradicionais eram quando? Nós tínhamos o Seu Luis Afonso, a uns dez quilômetros, daqui, o lugar por nome Café Campestre. Tinha uma festa, de seis em seis meses, e era aquela festa, onde a banda de música era uma sanfona, um triângulo, um zabumbo e um pandeiro. A gente passava a noite naquela festa. Começava às sete da noite e terminava às sete da manhã, muitas vezes, pegando o sol com a mão. Era muito importante, porque era a cultura de diversão e do povo se encontrar, os compadres. Geladeira não existia, cerveja era quente. Quando você abria, ela derramava a metade (risos). A tradição era muito boa. As festas de São João, São Pedro, São José e outras coisas mais. O sertão era muito animado, viu? O sertão era muito animado, porque o povo tinha mais convívio, um falar com o outro. Na época, antes da chegada do mês de inverno, eles saíam fazendo o que chamavam-se novenas, cada um levava um santo na casa de um, do outro. Todo dia era uma diversão para a gente; ir e conhecer alguém, conversar ou paquerar, voltava para casa. Esse era um modo das pessoas, das comunidades se relacionarem e eles viviam numa irmandade mais fácil. A criminalidade era uma coisa que, quando acontecia, ficava todo mundo estarrecido, porque era uma coisa que vivia entre amor, entre amigos. Era uma relação muito mais fácil. P - Era uma coisa mais solidária? R - Solidária Se achegava um ao outro, tinha amizade, tinha afeição mesmo, de um para com outro. O senhor entende que isso tudo, aqui, é como se fosse família? A gente chegava numa localidade, se chegar aqui no Café Campestre estou falando do Café porque é a localidade mais perto que tem aqui. Tudo era da família de Afonso. Os Afonso ali, quando se reuniam, era uma tribo grande de gente. A gente ia daqui para lá e fazia relações com ele, convivência e tudo o mais. Então interagia, vinha outro de cá, e era uma coisa mais gostosa, mais especial. Dá saudades na gente... Dá muita saudade. P - Quando o senhor veio para Quixadá, o senhor veio para escola também? Continuou a estudar aqui? R - Nós estudávamos na cidade. O meu primeiro colégio, eu estudei no colégio municipal, era um colégio que existia em Quixadá na época. Eu vim para cursar a quarta série. Mas, naquela época, a gente não tinha muita perspectiva, que dizia: “Vamos estudar, para gente ser um doutor”. A perspectiva era tão boa no sertão, a pecuária era tão boa, que, para a gente ter dinheiro, não precisava ser um doutor. Bastava a gente ter uma boa terra, uma boa mente, para poder ganhar dinheiro e viver bem, como rico. Fazendeiro Manuel do Antão, filho de um grande fazendeiro, É por isso que eu estudei muito pouco. P - A terra aqui era boa em que sentido? Era boa de plantar, boa de pasto, como era? R - Rapaz, era uma coisa inexplicável. Da agricultura, nós colhíamos, nesta fazenda, dois mil sacos de milho, três mil arrobas de algodão. Nós criávamos um mil e cinqüenta cabeças de gado. O papai vendia, anualmente, 200, 300 bois, de acordo com a recria das vacas que a gente tirava. Hoje, a gente vê como é a dificuldade, por que? Porque, com o tempo, parece que a coisa apertou de uma maneira, que a gente está se sustentando, estamos vivendo num sustento... Foi como se chegasse... Lá na frente, nós vamos poder cantar, para a gente poder ter sustentabilidade. P - O senhor começou a trabalhar desde cedo? R - Eu comecei a trabalhar com oito anos de idade. P - Quais foram suas primeiras responsabilidades? R - A minha responsabilidade, com oito anos de idade, era a de tirar leite de doze vacas. Nós não tínhamos vaca de dez litros de leite, não. A vaca que não desse na faixa de 15 quilos para cima o papai não possuía. P - Só papa fina? R - Só coisas boas mesmo. O papai era um dos maiores produtores de leite da região de Quixadá. P - Em Quixadá, adolescente, o que o senhor foi assumindo dentro do negócio de seu pai? R - Eu fui uma espécie de gerente. Papai, na época, tinha uma amizade muito grande com o governador, Virgílio Távora, e foi chamado para assumir uma certa posição no cais do porto, na Companhia Docas. Eu fiquei na parte da gerência; como adolescente, eu já comandava. Nós chegamos a possuir três fazendas em Quixadá. Tinha uma em Morada Nova, tinha uma aqui no Poço Verde, que é na Barra do Sitia, e tínhamos essa daqui. P - Além do gado, o que produzia? R - Produzia algodão. P - O algodão foi forte aqui? R - Foi forte. Não teve a história da Serra Pelada? O algodão, na época, era tido aqui como o “ouro branco”. Porque nós tínhamos, aqui em Quixadá, quatro indústrias de algodão. Elas eram: o Seu Renato Carneiro, o Seu Aziz Baquit, Seu Joaquim Ventura e a Cooperativa, que era dos agricultores. O algodão, tanto dava suporte para bovinocultura, como para o homem plantar no campo, produzir e ter uma vida bem folgada. Nós tínhamos 50 funcionários dentro dessa fazenda, que trabalhavam diariamente. P - O que aconteceu? R - Eu não sei o que houve. Apareceu um tal de bicudo. Bicudo é um besouro que dá no casulo do algodão. O casulo do algodão é fechado, a pluma dele só abre quando ele seca. Lá dentro mesmo, ele corroía o algodão todinho. Antes de abrir, ela caía, porque ele comia a prole, lá dentro do algodão, e o algodão não chegava a dar nada. A produção foi caindo. Nós mandávamos três mil arrobas de algodão para a fábrica do Seu Aziz Baquit. Nós trazíamos de lá, no mínimo, duzentos mil quilos de resíduo. P - De quê? R - De resíduo, o subproduto do algodão. P - Fazia o quê com isso? R - Era para dar ao gado. Nós recebíamos o restante do dinheiro, e ainda sustentava o nosso gado vendendo o produto do leite, quase sem gastar com ração. Porque nós tínhamos esse produto nas nossas mãos. Era como se nós voltássemos lá e o retroativo viesse para nós, para que pudéssemos ter uma renda boa no final de todo ano. E ainda tinha mais: o algodão era como se fosse uma bolsa de valores em Quixadá. Você podia depositar, lá, até o fim do ano. A safra do algodão era de agosto à dezembro. O algodão mocó, que tínhamos aqui, nesse espaço de agosto à dezembro, dava duas safras. Então, você botava lá, quando chegasse em dezembro, a arroba de algodão são 15 quilos. Quando chegasse lá, a arroba fosse dez cruzeiros e, se no final a exportação, tivesse dado o algodão a 20 cruzeiros, nós recebíamos o restante do dinheiro, aqui, no município. Para poder tratar aquela lavoura, que era permanente, não precisava você plantar todos os anos, você só fazia podagem dela, uma vez no ano e pronto. P - Então, quando quebrou o algodão, quebrou toda a cadeia produtiva? R - Toda a cadeira produtiva de Quixadá desceu, como se fosse água abaixo. Eu não entendo o que aconteceu. Todo dia, nós embarcávamos o nosso algodão para a Alemanha. O produto do óleo, e outras coisas mais, tudo isso era diretamente exportação. P - Que ano foi isso, seu Manuel? R - Nós tivemos uma decadência, mesmo. Para começar, o algodão a ter o fim foi de 81 para cá. Nos anos de 80, 81, a coisa começou amofinar e o algodão foi perdendo... P - Como surgiu essa praga? R - Até hoje não explicaram, não inventaram um remédio que possa dizer que a gente possa voltar a plantar algodão. Eu tentei, agora em 96. Eu plantei algodão, novamente, e tive um prejuízo grande de três mil reais, na época, porque o algodão ficou da altura de um homem. De manhã, você chorava apanhando os casulos. De, mais ou menos, uns oito hectares que eu plantei, eu tirei 19 quilos de pluma de algodão. Aí, eu desisti total. P - E como é que a comunidade aqui encarou esse problema? Porque foi uma coisa grave, pelo jeito, já que quebrou toda a cadeia... R - Eu mesmo fui embora. P - O senhor saiu daqui? R - Fui embora. Eu estava casado... P - Foi para onde? R - Eu fui tentar fazer alguma coisa em Fortaleza. Mas, quando a gente chega lá, com pouco estudo... A educação, naquela época, ou o pai tinha dinheiro para botar, ou não tinha. Porque a educação era muito precária. O colégio particular e outras coisas mais... Logo, não tive tempo de estudar. Então, o que aconteceu? Quando a coisa ficou ruim, eu fui trabalhar em Fortaleza. Ainda trabalhei pelo Porto, alguns tempos, mas sempre na esperança de voltar e resgatar minhas origens. Era aquilo que eu precisava. A gente nasceu nisso, então, tem isso dentro da gente; é uma coisa que mora na gente. Eu tinha certeza que ainda ia resgatar, para voltar para Quixadá. P - Nesse tempo lá em Fortaleza, o que foi feito das terras daqui? R - Acabou-se. P - Abandonou, simplesmente? R - Abandonou, simplesmente. Foi a época em que o papai veio morar aqui e minha mãe foi para Fortaleza, junto com a gente. Quando eu voltei, cheguei no dia 27 de abril de 1993, e eu encontrei 20 vaquinhas amarradas no estábulo, a fazenda toda abandonada, cerca caída... Ele disse: “Meu filho, vai morrer o burro e o que tange”. Eu não consigo entender, até hoje, o que ele queria dizer com aquilo. “Vai morrer o burro e vai morrer o que tange”. Porque o burro, se você não conhece, é o animal de mais resistência, que existe na face da Terra. Quando ele falou aquilo, é porque o negócio estava meio sem perspectiva. Eu voltei, comprei gado, tentei a bovinocultura de leite, pelejei, mas, todos os anos, prejuízo. Eu vim no sonho ainda do resíduo. Naquela época, a gente tirava o leite de graça, porque o resíduo era o subproduto do algodão e era o que dava o sustento para o gado e ter o dinheiro. O dinheiro do leite voltava para a gente limpo, para pagar o trabalhador, algumas coisas da fazenda, se alimentar e viver uma vida mais sossegada. Mas, foi ao contrário, o dinheiro do leite não dava para pagar ração, o trabalhador, nem dava para comer... P - Como é que se deu a volta por cima nessa situação tão complicada? R - A realidade é que nós fomos abandonados. O Nordeste, principalmente. Quando houve tudo isso, eu não sei qual foi a estratégia do Governo Federal, na época. Eu não entendo se tinha uma estratégia política, no meio disso, aí... Porque, para acabar o algodão, até hoje, eu não entendi. Como é que se tem uma praga e não se faz algo para querer que ele seja resistente? As têxteis do Ceará recebiam todo o algodão da Alemanha, para onde nós exportávamos. A gente ficava se perguntando, e nenhum dos governantes, até hoje, bateu nessa tecla ou trouxe à público o que aconteceu... O que acontece, é que hoje é que nós estamos tendo uma esperança de vida para o Nordeste. Se o senhor olhasse aqui, em Quixadá, nas fazendas vizinhas, os grandes fazendeiros, todos eles eram pessoas que tinham muitas posses... Fazendeiro em Quixadá era coisa de alto grau, é como se fosse um grande industrial. Nós tínhamos fazendeiros que eram pessoas de muito respeito perante a sociedade, em finanças e outras coisas mais. Mas começaram a descer, descer, descer. Teve deles que não suportou, a fazenda foi tomada pelo banco, até a casa que morava foi hipotecada, e muitos deles, até hoje, não se aprumaram. O que nós estamos vendo, hoje, é uma esperançazinha. P - Eu queria que o senhor atentasse sobre isso: nesse momento de situação econômica grave, qual foi o agente catalisador da mudança? O que aconteceu que as pessoa retomaram seus negócios e a coisa foi caminhando de um jeito menos complicado como esse? R - A cidade de Quixadá ficou de uma maneira, que funcionava até às onze horas. Era aquele dinheiro do velho, da aposentadoria, nada mais. Os comércios fechando... A gente não tinha perspectiva, o trabalho se acabando, muitas pessoas... O que aconteceu? O êxodo rural. Fortaleza. As pessoas foram embora. Fazendas e fazendas abandonadas. Quando entrou o presidente Lula, ele começou a olhar para o Nordeste. Chamou os bancos eu acredito que foi o único presidente que teve a coragem de fazer isso. O Banco do Brasil foi um dos parceiros, em Quixadá, e, hoje, a gente pode dizer que ele foi a alavanca de todo esse crescimento que nós temos na cidade. Eu queria que vocês tivessem vindo, ontem, à cidade, para vocês verem. Vocês não podiam sair, ontem, dessa cidade. Porque nós temos uma feira de animais e estava acabando. Ela era no meio da rua e ficou o ponto no meio da rua. Mas, hoje, temos uma feira que vem caminhão de todos os Estados e municípios vizinhos, para compra de ovino, caprino, suíno, galinho, boi, vaca, queijo de tudo que você procurar, nossa bolsa de valores tem aqui. E é de Quixadá. Então, começou a resgatar. Começou. Aquele que estava lá distante, eu fui um dos tais. Voltei e comecei na ovinocaprinocultura. Eu quis comigo: “Não, não posso só no ovino, eu tenho que partir para galinha caipira, para minha mulher ter o sustento. Eu tenho que partir para o gado do leite, porque eu vou botar um animal que seja resistente”. A Secretaria de Agricultura de Quixadá entrou na época que o Ilário Marques, o nosso prefeito, entrou, e disse: “Não, nós vamos aprender a criar no semi-árido. O que é que nós vamos fazer? Nós vamos ensinar esse povo a trabalhar com a silagem”. A silagem é guardar a ração que eu tenho no inverno. Eu tenho três meses de inverno; é o que nós temos em Quixadá. Então, nós vamos ter, praticamente, nove meses de seca. Em três meses, eu tenho que fazer forragem, pegar aquela forragem, cortá-la, botá-la dentro do chão, fechar com lama e cobrir de terra. Aquela forragem vai, mais tarde, nos dar o suporte. Então, o prefeito fez o quê? Ele disse: “Eu vou voltar o resgate de tudo isso junto ao Banco do Brasil, com incentivo do presidente”. O que aconteceu? Nós tivemos um incentivo de fazer silagem. O prefeito dava a hora de trator, o Banco do Brasil entrava com o custeio. O custeio é aquele empréstimo que você faz para plantar e, no fim do ano, você paga com arrebate de 25%, não tem juros, não tem nada. Você ainda tem o arrebate. Programa do Governo junto ao Banco do Brasil. Então, nós começamos a cultura de fazer a silagem. Começou todo mundo a voltar a criar, porque eu armazeno 60 toneladas de forragem. Infelizmente esse ano eu não fiz porque... PAUSA CAUSADA PELO VENTO P - Seu Manuel, o senhor estava falando da cultura da silagem, que foi disseminada aqui, de construir silos para garantir no inverno a forragem dos animais, durante todo o resto do ano. Como era isso mesmo? R - Nós tínhamos uma cultura de plantar o capim, passar na forrageira e tudo o mais. Mas, isso não tinha mais, porque a água acabou, os invernos têm sido muito poucos, entendeu? Quando o Prefeito Ilário assumiu aqui, ele assumiu a responsabilidade de resgatar a ovinocaprinocultura e a bovinocultura de leite, que tinham praticamente acabado. A nossa bacia leiteira era das maiores do Estado do Ceará, e ela estava praticamente liqüidada. Ele entrou num processo junto, foi aos bancos, trouxe recursos para que a gente pudesse ter o custeio de plantar essa silagem. Ele entrava com o trator, com a lona e pagava máquinas, porque muitos pequenos produtores não tinham máquinas, quem tinha eram os grandes produtores. Mas, ao pequeno produtor ele mandava a máquina pela Prefeitura para fazer essa silagem. Eu, mesmo aqui, todos os anos silava umas 60 toneladas de ração. Esse ano, infelizmente, eu não fiz, porque nós não tivemos chuva que desse para a gente... Plantei 80 quilos de semente, mas não chegou a germinar; ficou muito pequena; não deu a altura certa e seria prejuízo se eu fosse fazer. P - É semente de quê? R - Milho, o sôrgo e a caninha da Índia, que é uma planta muito boa para silagem, porque ela tem açúcar. Não é a cana original do álcool, é caninha da Índia, que veio da banda da Índia, foi uma semente que trouxeram. Então, aqui, nós fazemos a silagem. Com trinta dias, ela está fermentada e, se abrir o silo, você sente o cheiro de longe. O animal come muito bem. Ela guarda muitos nutrientes, como se tivesse tirando aquela hora do campo. P - E a mamona, o senhor chegou a plantar? R - Eu plantei mamona, também, esse ano. Eu plantei a mamona, mas a minha colheita foi muito pouca, porque, na época em que eu plantei, a chuva foi muito escassa. Era época de plantar; quando plantei, não tivemos mais chuva. Mas a mamona, hoje, vai ter o resgate do algodão. Essa indústria, que você está vendo aí, que o presidente Lula apostou, junto à Petrobrás, aqui em Quixadá, ainda vai ser a maior riqueza. Vocês ainda vão vir, aqui, para verem o tamanho da riqueza que vai virar Quixadá com esse programa da oleaginosa. Porque ele vai trazer a bovinocultura de volta. Nós vamos ter que plantar um produto também, não só a mamona, mas outros produtos que dêem o subproduto para alimentação do gado, como girassol que dá muito bem. Do que sobrar da mamona, eles vão fazer algum fertilizante orgânico para a gente poder botar na terra, para poder vir a produção. Eu vejo a mamona como o resgate do algodão. Eu vejo tudo isso aí, como se Quixadá passasse a funcionar, a longo prazo... O presidente da Petrobrás deu dois anos para começarmos a funcionar a todo vapor. Esse ano foi fraco, mas, onde choveu, onde caiu a chuva, que a chuva foi irregular... Teve canto aqui que foi chuva, que sangrou. Aqui mesmo, na sede, não teve chuva nem para criar nos açudes. Nós estamos sendo abastecidos por carro pipa, programa do Governo Federal. P - Essa indústria em Quixadá, é a indústria de biodiesel? R - É, de biodiesel. P - Na verdade, a indústria quando começar a operar vai animar a cadeia produtiva, R - Eles estão educando, porque tudo é reeducação. Vai entrar o Banco do Brasil, como já entrou esse ano para muitos produtores, fez uma análise. Aqueles que plantaram na hora certa, no momento exato, veio o incentivo do Governo do Estado, da Petrobrás. Eles estão pagando para o agricultor; dão um bônus de 150 reais por hectare. Se eu plantar seis hectares, eu tenho, praticamente, 900 reais de bônus que dá para eu fazer e colher essa planta, enquanto estamos nos organizando. Tudo isso vai ser se educar, porque o homem do campo tinha o costume de plantar algodão, uma cultura, e, de repente, vai ter que plantar, hoje, a mamona. A mamona que o cara diz: “Não dá certo, ela é daninha pro gado”, e tudo o mais. Mas eu não vejo nada disso. Eu vejo que, se nós nos educarmos a plantar, porque nós vamos plantar gergelim, girassol, mamona e o próprio algodão. Eu acredito que está saindo um algodão, aí. Não é o permanente que nós tinhamos, mas vai sair um algodão que vai ser muito bom. Ele já vem com a semente preparada contra o bicudo. Assim, a Petrobrás está relatando, que vai fazer dessa forma. P - Seu Manuel, como essa reciclagem se dá? São os fazendeiros, individualmente, que aderem a isso, ou há alguma associação que reúna o coletivo desses produtores? R - Nós temos como parceiros a Emater e a Secretaria de Agricultura Familiar, que estão entrando com muita força com a técnica, o técnico para orientar o agricultor em como plantar, o momento exato de plantar, como devemos fazer, que cultura... Se a minha terra não dá para plantar mamona, vamos ter que plantar o girassol; se não dá para plantar o girassol, vamos ter que plantar o gergelim. Tudo isso vai ter que ser na técnica, porque aquele tempo dos nossos pais, eu tenho certeza que devido ao próprio tempo, a conseqüência do crescimento global, esse aquecimento violento, estamos no tempo da técnica nos orientar, plantar na hora certa. Eu tenho certeza que vai dar tudo certo. P - Os produtores que o senhor conhece também estão com essa visão? Têm aderido a esses projetos de forma mais intensa? R - Eu tenho um amigo, num lugar por nome Vertente. Lá, foi boa a chuva. Ele tirou 1800 quilos de semente de girassol, num pedacinho que ele plantou. Este ano, ele me disse que, se esse ano ele plantou dois hectares, ele vai plantar dez. Tudo vai ser uma reeducação de cultura. Eu mesmo, este ano, vou tirar seis hectares e plantar. Estou preparando o esterco da ovelha, do gado, e tudo o mais, para eu poder adubar a terra e plantar na hora certa. Eu mesmo, este ano, vou plantar seis hectares de girassol e mamona. P - Como aparece o Banco do Brasil nessa história, sobretudo com relação a sua atividade? R - O gerente, aqui, está saindo, está fazendo reuniões junto com as associações. O Tarcísio está trabalhando muito bem. Ele não fica no banco, ele está saindo nas comunidades. Tarcísio sai à comunidade, vai educar, vai mostrar como deve tirar. Mostra àquele agricultor o que ele pode fazer. O agricultor pensa que pode precisar de uma quantia x, ele vai, analisa e diz: “Não, você precisa dessa quantia x, que é para você poder ser um parceiro no banco, e, mais tarde, o banco não ser um peso nas suas costas”. Nas épocas passadas, o banco não estava nem aí. Se você tivesse posses, ele jogava na sua mão: “Se vira”. Não tinha uma educação, não mostrava como era o sistema de colheita retroativo. Então, o banco entrou com a parceria de lhe educar. Da mesma forma como foi na ovinocaprinocultura. Para podermos vencer na ovinocaprino não foi fácil, não. Porque a gente entrou num sonho e, de repente, a coisa não deu certo. Só que o banco reeducou os fazendeiros e nós estamos tendo a ovelha de qualidade para o nosso semi-árido. Não adianta eu querer comprar, hoje, uma ovelha Santa Inês e jogar aqui dentro da minha fazenda. Ela vai morrer, ela e o borrego. Eu tenho que comprar a ovelha que é a nossa antiga Morada Nova, a Somalis, que a gente aqui chama Cabeça Preta. Rabulá, que é um animal da África, resistente, cria um cabrito, mas cria bem direitinho. P - O senhor, que era uma pessoa de tradição familiar na bovinocultura, como foi descobrir a ovinocaprinocultura? Por que se dedicou a ela? R - Foi, justamente, quando o Banco abriu esse programa. Eu tinha vontade de criar o ovino, mas eu tinha receio, porque, é como eu digo, para a gente sair de uma cultura para ir para outra, você começa a medir as conseqüências. A pancada já estava grande em cima do bovino. É como um lutador que está lá no último round, perdendo os nove já, (risos). Então, para ir para outra, você tinha medo de entrar nisso. Só que o Banco chegou e disse: “Não, nós vamos dar o suporte, o dinheiro não vai ser juros, vai ter um arrebate. No lugar de você pagar mais, vai pagar menos”. Esse programa junto ao Governo e ao Banco foi o que me atraiu a ir ao Banco, porque, antes, só podia entrar no Banco quem tinha escritura pública. Eu só tinha o ITR, o Imposto Territorial, que é um documento que só mostra que é meu juridicamente, ele não mostra que devo, que é hipotecado, nem nada. Foi muita credibilidade do Banco do Brasil. Foi muita boa vontade, tanto do Governo Federal, como do Banco do Brasil, investir no homem, mas investir com responsabilidade. É aquela diferença: o cara era dono da fazenda, chegava lá, deixava a escritura penhorada, o Banco não perdia. Hoje, é o contrário, o Banco está querendo resgatar do homem, aquilo que o homem tinha perdido, que é a sua dignidade, a sua moral. Quando a pessoa está sem nenhum centavo no bolso, ela está lisa, sem ter com que se sustentar, não existe coisa pior, não. Não existe. Você caça no bolso. Um filho deseja comprar uma coisa, você não tem um crédito, não tem com que criar. É difícil. Você fica desestimulado. É por isso que o país está enfrentando esse problema de presídios. Nos presídios não cabe mais ninguém, e sabe por quê? Porque se tivesse tido um governo que tivesse olhado para isso, como o Lula está fazendo no sertão, na educação, chegando junto, o Banco do Brasil hoje trabalha... Nós temos muitos jovens aqui, porque o Pronaf Jovens de Quixadá, hoje, tem vários jovens que são produtores de ovinocaprinocultura. Por que? Porque resgatou, trouxeram esse jovem, com o “incra” do pai. O pai: “Olha, o Banco do Brasil faz isso”. O pai tirou a sua parcela, o filho também tirou. A gente faz um sistema de arrendamento. Tanto o filho, como o pai, passam a ser produtores. Aquele filho não vai mais para longe de casa, fica todo mundo junto, em comunidade, e passa todo mundo a produzir. A gente tira por Quixadá. Quixadá, quando nós chegamos aqui, tinha uma loja, do seu Edir. Hoje, as grandes lojas estão dentro de Quixadá. Por que? Atraídas através de... Hoje, nós temos uma feira, como eu estava lhe dizendo. Hoje, se contar, tem mil caminhões vindo de fora. É muita coisa. P - Caminhão de gado? R - De gado. E nós vamos, agora, inaugurar a Original. Não inaugurou antes, por causa da política, vai inaugurar agora. P - Eu vou lhe fazer uma pergunta óbvia, mas que eu queria que o senhor pensasse e dissesse para nós. Como é que o senhor enxerga tudo isso? A presença do Banco e qual o significado dele nessa animação do espírito comunitário? Eu não estou falando do seu caso específico, mas do grupo, dos seus companheiros produtores. Como o Banco está agindo nesse aspecto? R - O Banco veio para acender o que estava apagado. Você sabe? Uma fogueira que a gente tenta acender e está cheia d´água. Ele veio lá, botou a gasolina e a fogueira está acesa e está todo mundo com vontade de produzir. O que eu vejo é cada um se animar, terminar o seu empréstimo e já estar preparando outro. A gente tira pela movimentação no Banco do Brasil de Quixadá, hoje, que vive muito cheio. O pequeno e o grande agricultor, todos eles, tendo espaço dentro do Banco. A gente não vê mais o gerente trancado dentro de uma redoma de vidro, como a gente via primeiro. O gerente é como se fosse o guarda. A primeira mesa é a do gerente, no meio de todo o público, para a gente chegar, fazer a proposta. Essa inovação, quem trouxe, foi o Banco do Brasil. Pode ter certeza disso. Quem trouxe foi o Banco do Brasil, para que pudesse resgatar o homem que estava sem estímulo. O que eu vejo, o meu pensamento, que vejo em todas as pessoas, tanta movimentação de pessoas terminando o seu empréstimo e chegando no Banco. Olha, o Pronaf é um programa tão especial: você tira mil e quinhentos reais, hoje; em um ano, você está pagando uma parcela de 560 reais. No outro ano, outra parcela de 560. Então, você pagou 1100, vamos dizer, em dois anos, que o qual que fez foi fazer crescer. Aquele dinheiro foi para a mão do produtor, ele investiu, porque ele tem a técnica. O Banco está fazendo com responsabilidade. Ele vem na minha fazenda, olha como é que está, como é que está o meu programa, o que está faltando. A Secretaria de Agricultura Familiar, junto aos Bancos, está fazendo um programa de reeducar: qual ovelha eu devo que criar, qual animal de porte para cá; como eu devo fazer esse animal, tanto na vacinação, como na época do inverno para não ter perda, para não morrer animal. Então, tudo isso com a cadeia, junto à revolução do Banco. O que eu vejo foi isso, porque só do homem do campo não vinha nunca isso. Se chegava e morria dez, vinte, trinta bovinos, já era: “Mas tem que morrer”. Não, não existe isso. Nós temos um técnico dentro, orientando: qual o remédio, a vacinação, o sal que devemos usar, o suporte. A alimentação, quando chega numa época dessa, é muito fraca. Se tivermos o suporte de uma técnica, como devemos alimentar, dar aquele sal certo, aquela vacina certa... O Banco interagiu nisso, entrou nisso, aí, com parceiros e, nessa parceria, a gente está tendo uma sustentabilidade. P - Acaba fazendo um jogo que é bom para todo mundo, R - Para todo mundo, porque ele traz a comunidade, resgata aquilo que estava faltando, que não existia mais. Era cada um por si e Deus por todos. O cara enfiava a cabeça aqui, se desse certo, bem. Enfiava a cabeça ali, se desse certo, não. Então, o Banco está juntando todo mundo, conversando, trazendo, interagindo, para que a gente possa viver em comunidade. Os assentamentos. A gente vê hoje os assentamentos. Ontem à noite, eu estive em um assentamento. Eu sou evangélico, e a gente esteve lá, juntou assim, mais ou menos, a coisa que a gente não via no sertão, cem pessoas, de repente. A gente fez um culto evangélico, lá. Tinha umas cem pessoas no assentamento, que tem logo aí. Acho que dá uns 40 quilômetros. A gente vê que voltou a resgatar o jovem, muita gente jovem estudando, trabalhando e tendo incentivo. Isso é muito bom. P - Quer dizer, além do resultado econômico, material, tem um resultado imaterial, de relação comunitária importante, o senhor não acha? R - Sem dúvida. É importante, porque você sabe que para a gente poder viver numa terra, tem que ter sustento. O Banco entrou com o sustento. Uma reeducação do homem ir ao banco, ter direito de tirar o seu empréstimo, pagar direito e ter novamente. Porque é um programa que empresta o dinheiro, você devolve menos e temos mais crédito, está entendendo? Então, o cara não vai pensar em sair daqui para São Paulo. O cara não vai botar a família em cima, aí, como a música do Luiz Gonzaga: “vender o jumento, burro e o cavalo e até o galo para ir embora para São Paulo”. Quando ele tem aonde chegar no Banco, contar a sua história, ter a sua vaquinha, sua ovelha... Porque o cara diz: “Mas você tem a ovelha”. A ovelha é aquilo ali. Você está aperreado, aqui, hoje, pega cinco cabritos, cinco carneiros. Você chegou na feira e apurou o dinheiro para fazer aquilo que você estava precisando. É incrível. A gente olha assim, olhou e diz: “como é que tem a produção”? Mas é desse jeito. Na hora que você precisa, você vai no curral e diz: vai você, vai você, vai você. Leva para a feira. Por que? Porque nós temos uma feira de suporte. É aquela diferença, nós não tínhamos isso. O Banco chegou junto nisso, reorganizou, politizou a coisa, deixou bem preparada para que a gente pudesse... P - Perfeito. Na verdade tem um resultado maior que o econômico, apenas. Porque tem renda sendo gerada, auto-estima sendo preservada... As pessoas acabam ficando mais vinculadas ao seu negócio, à sua produção, R - Sem dúvida. Nós temos vários distritos em Quixadá. Os distritos não tinham sequer uma bodega. A gente andava na tristeza. Você chega, hoje, num distritozinho, tem mercantilzinho. Distritozinho de 100, 200 famílias, tem um mercantil, lá dentro do mercantil tem uma lojinha de moto. Por que? Porque ele sabe que aquele agricultor está tendo dinheiro. Se não tivesse, não tinha, não. Tinha acabado, como acabou aquele. PAUSA POR PROBLEMAS (?) P - Senhor Manuel, nós estávamos falando desse resultado, além do resultado econômico, de resgate de auto-estima, de geração de sentimento comunitário, que toda essa atividade acaba provocando na atividade econômica de vocês... R - É, para você ter idéia, quando o Marcelo Maranhão, presidente do Banco do Brasil esteve aqui, eu comparei: o Banco é como se um pai chegasse para o filho e dissesse: “Meu filho, do que você está precisando?” Assim, foi o Banco. O Banco do Brasil chegou para nós na hora necessária, na hora que estávamos mesmo... Você sabe quando o cara dá o último mergulho e está afundando? Chegou, pegou-o na mão e levantou. Então, para a comunidade, isso foi um resgate. Porque as famílias passaram a... Os distritos, os assentamentos... Então, hoje, nós temos grandes assentamentos dentro de Quixadá, através de todo esse programa. O Banco tem dado essa sustentabilidade, financeiramente, por aconselhamento técnico e tudo. Tem interagido na vida das pessoas, não só na parte financeira, mas também na parte de resgate às famílias, à cultura e outras coisas mais, que a gente estava precisando resgatar. P - Principalmente, talvez, essa fixação do homem na terra... R - É. Vou ficar aqui, pronto. A música do Luiz Gonzaga dizia que: “eu só deixo o meu Ceará no último pau-de-arara”, não é? Mas, eu acredito que o último pau-de-arara não precisou vir, não. Nós temos, hoje, boas perspectivas. O Nordeste está se elevando de uma maneira que... A gente mesmo se admira, aqui, em Quixadá, o desenvolvimento, em uma cidade que não tem indústria. Em Quixadá, nós temos uma indústria de calçados que emprega 300 pessoas, e nós temos 86 mil moradores. Esse povo vive da cultura, da piscicultura, da ovinocaprino. Esse povo vive da apicultura, que é a criação de abelhas. O Banco do Brasil também chegou e teve esse programa da Apicultura, da Ovinocaprino. Foi um resgate, não só numa situação, foi em vários setores. Chegou com uma cadeia de programas para dizer: “Onde der para o homem criar abelha, ele vai criar abelha. Onde der para o homem criar o peixe, ele vai criar o peixe. Onde der para ele criar a ovelha, ele vai criar, a cabra ele vai criar”. Esse foi o sistema de como sustentar o homem. O DRS [Desenvolvimento Regional Sustentável, programa do Banco do Brasil] veio. Foi numa hora em que estava tudo perdido. Então, resgatou a comunidade para esse trabalho. P - E o futuro, Seu Manuel, como o senhor enxerga o futuro? R - Rapaz, o futuro é promissor. Quando a gente fala do Banco do Brasil, a gente não esquece de dizer que teve um homem que chegou para injetar isso junto ao Banco, que foi o nosso presidente Lula. Uma cidade como Quixadá, hoje, mesmo, eu tenho uma filha que está fazendo uma faculdade, à tarde, e fazendo outra, à noite. Tudo isso, esse presidente trouxe para nós aqui, e tenho certeza que o Banco do Brasil está junto, em alguma coisa. Pode ter certeza. Está interagindo no meio disso aí. Porque ele interagiu na minha vida me sustentando no campo. E, também, com esses programas de educação do Governo Federal para os alunos, para faculdade. Hoje, nós temos duas faculdades federais dentro de Quixadá, sem as quais a minha filha não podia estudar. Onde ia estudar? Por isso que eu digo, Quixadá vai crescer. Se vocês voltarem daqui a dez anos... Hoje nós temos 86 mil, daqui a dez anos, nós teremos 190 mil, com certeza. Porque a coisa vai começar a melhorar. Eu penso que o nosso futuro é crescente, porque essa indústria de biodiesel tem tudo para dar certo. São 150 mil toneladas de óleo, produção anual. Eu vou ter que ter terra e vou ter que produzir, porque onde eu posso produzir, eu posso vender. Tenho certeza que vou ter o incentivo do Banco. Tenho certeza que vou ter o incentivo de chegar, plantar, colher e vender aquilo. Por que nós não podemos ter um futuro? Está se acendendo um futuro muito grande. O meu olhar é esse. P - Construído agora, R - Construído agora. P - Seu Manuel, o senhor é casado, R - Sou. P - O nome da sua esposa... R - Fátima Amélia. P - E como é que o senhor conheceu a Dona Amélia? R - Rapaz, eu conheci a Dona Amélia, foi a coisa mais invocada do mundo Eu era muito... Um jovem, assim, meio... Cabelo grande... Ela era uma pessoa muito calada, como é, até hoje. Nós temos 33 anos de casado, ela conversa muito pouco, eu converso muito. Nós estudávamos juntos. Ela veio do sertão, mora daqui a 46 quilômetros e veio para casa de uma tia para poder estudar. Nós nos conhecemos no colégio e, por causa de uma picuinhazinha... Ela perguntou por mim ao meu irmão, eu não tinha ido ao colégio uns três dias, e ela perguntou para o meu irmão: “Cadê o teu irmão? Não vai mais para aula, não?”. Aí, quando foi à noite, disseram a mamãe, aqui, e eu fui vê-la na rua e digo... eu nem sabia que ela estudava na mesma classe comigo. Ela falava tão pouco que eu não conhecia ela. Então, eu disse: “E aí, o que é que tu tem com a minha vida?” P - Ah, isso é jeito de chegar Seu Manuel? R - Não é? “O quê que tu tem a ver com a minha vida?” Mas, eu acho que ela tinha um amorzinho guardado por mim. Veio uma amizade, começamos a nos conhecer. Ela disse: “Não, eu só fiz perguntar por você, não foi nada demais”. Nasceu a amizade e perguntei a ela, fui logo dizendo, também: “Você quer namorar comigo?” Ela disse: “Eu quero”. Então, começamos a namorar, namoramos seis meses e casamos. Com seis meses, nós casamos. P - Eita, isso é que é amor (risos). R - Até hoje, graças a Deus. P - Quantos filhos o senhor tem? R - Eu tenho quatro filhos. P - Qual o nome deles? R - O primeiro é Antão Neto, porque é um resgate do nome do meu pai, A segunda é a Neli Calvanti, que é resgate também ao nome da avó materna. A outra é a Isolda, resgate também do nome da avó paterna. A mais nova é Aline. P - Seu Manuel, o que o senhor diria que tenha sido o maior aprendizado de toda essa sua vida de trabalho, de luta, coragem, desafio... Qual o maior aprendizado que o senhor guarda no fundo da sua alma? R - A Bíblia é muito completa. Eu acho que é um dos livros mais completos, não menosprezando os outros. Mas, espiritualmente, é. A Bíblia diz, no capítulo cinco de Romanos, que nós não devemos nos gloriar só nas bençãos, mas devemos também nos gloriar nas atribulações, porque ela produz a paciência; a paciência, a experiência; a experiência, a esperança. Na esperança, nasce o amor de Deus. O que eu tiro de lição na minha vida, até hoje, de tudo o que passou, de todas as lutas que a gente passou, o que eu queria, para a família, se essa minha voz chegar, aonde chegar, para alguém, eu queria que as famílias se voltassem mais para Deus. Voltassem a amar mais o próximo, companheirismo e todas as lutas e dificuldades que a gente passar, a gente tirasse uma aprendizagem, não se revoltar. Porque o que está liquidando, hoje, é porque o homem, no meio das adversidades, está se revoltando. Ele está se revoltando, numa maneira, contra o seu próximo, contra o seu amigo. Ele está vendo seu amigo como adversário, seu irmão carnal. Todos nós somos irmãos, somos família. Nós somos uma geração de um pai e uma mãe. Um pai chamado Adão e uma mãe chamada Eva. É o que eu queria, o que eu desejaria, o que eu tiro na lição de vida. Eu sou um homem feliz, sou um homem realizado na minha vida. P - O senhor falou que o pai do senhor tinha o sonho de voltar para o sertão. O que significa para o senhor também ter voltado pro sertão? O que significa o sertão para o senhor? R - Você acredita que eu já sonhei duas vezes que estava indo embora e acordava chorando? Chorando, desesperado. Porque eu vejo o sertão, hoje, como um resgate de uma grande cidade, de uma grande metrópole, como é Fortaleza, onde eu morava. Eu não gosto nem de andar, porque o sertão é isso que você está vendo. A noite é calma, é a tranqüilidade. É mais fácil você criar uma família. Eu tenho quatro filhos, graças a Deus. Tenho filho com 32 anos, que é o Antão Neto, que teve que fazer uma viagem à Fortaleza, hoje, umas obrigações nossas. Mas eu vou lhe dizer uma coisa: eu louvo a Deus ter criado meus filhos aqui, porque os colegas do meu filho, faz pena até a gente falar. Droga, bebida, crack, miséria. Então, o sertão ainda tem muitos valores. O sertão tem tantos valores, que é uma coisa que é até cultura, mas no sertão as moças ainda se preservam para que não dê mal exemplo, não sejam faladas. Isso é uma coisa que não acontece em grandes cidades. A volta ao sertão era essa. Meu desejo era voltar, criar meus filhos num ambiente, e que a gente pudesse produzir, tirar da terra, ter o gosto de sair de manhã, olhar... Eu me sinto muito feliz. De manhã, quando eu saiu para dar de comer às minhas galinhas, aos meus porcos, às minhas ovelhas, dar o milho, sair para ver minhas vacas no curral... É uma terapia. Se eu vivesse numa grande cidade é perigoso até um suicídio, lhe garanto, falando de coração, não estou falando só para aparecer. Essa era a minha vontade, meu desejo era esse. Eu pensava era nisso. P - O que senhor acha do Banco ter adotado essa idéia de comemorar os 200 anos contando a história de pessoas que têm a ver, direta e inderetamente, com o banco, nas suas atividades, com suas especificidades... O que lhe parece isso? R - Eu acredito que todo homem que chega à idade de 70, 80 anos, tem muita história para contar. Duzentos anos que o Banco do Brasil tem, eu acredito que ele tem muito para contar, muito que fez, e há muito, ainda, a fazer pelo país. Eu acho que para nós é um orgulho. Não só para nós nordestinos, para quem foi criado o DRS, esses programas para os mais desassistidos, mas também para todo o Brasil, na grande indústria, no progresso, no crescimento econômico e tudo o mais. Eu acho que nós, os brasileiros, devemos nos orgulhar por isso. Seria o carro chefe, os brasileiros se orgulharem por ter um Banco como o Banco do Brasil. P - Seu Manuel, tem alguma coisa que o senhor gostaria de ter dito e a gente não estimulou o senhor a dizer? R - Não, está muito boa. Eu só teria a acrescentar ainda, era dizer que nós estamos realizando sonhos, que na vida nós pensávamos que não ia mais acontecer. A grande verdade é essa. Nós estamos passando por um processo de crescimento de economia nesse país, através do nosso presidente. Não posso esquecer, que amo a ele, mesmo, de coração. Nordestino igual a mim e, por isso, eu tenho esse prazer de dizer. O que eu gostaria de falar e dizer é que, quando muitos pensaram que não tinha jeito, o Brasil, hoje, nos orgulha, tanto aqui no Nordeste que era tão desassistido, como no mundo, lá fora. Isso aí é um dos relatos que eu sempre quero falar e me orgulhar de ser um brasileiro e um nordestino cearense, viu? Da cabeça bem chata. P - Está certo, Seu Manuel. E o que o senhor achou de ter participado dessa entrevista? Como o senhor se sentiu dando esse depoimento para nós? R - Para mim é muito bom. Um homem do sertão, numa cidade de Quixadá, tem uma televisão poder vir aqui, uma pessoa me entrevistar, contar minha história, desde a minha infância e os meus sonhos, ainda a realizar. Por isso, eu me sinto muito feliz, eu queria dar um abraço, tanto em vocês, como no Banco do Brasil, e, de bom coração, dizer que estou muito feliz por isso. A gente se sente orgulhoso, até. A realidade é essa, de poder estar dando uma entrevista. A minha esposa disse: “Ele, hoje, está todo assanhado” (risos). Mas é por isso mesmo. P - Está certo. P - Muito obrigada. P - Muito obrigado, Seu Manuel. Foi um prazer ouvir o senhor, viu? R - Nada. O prazer foi meu. P - A gente aprendeu muito.
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