P/1 – Boa tarde, Alice.
R – Boa tarde.
P/1 – Muito obrigada por estar aqui prestigiando o projeto com seu depoimento. Eu gostaria, então, de começar a nossa entrevista pedindo que você nos dê seu nome completo, o seu local e a sua data de nascimento, por favor.
R – Ok. Meu nome é Alice Santos Coelho, eu tenho 16 anos, nasci no dia Cinco de março de 1996 e no bairro Vidigal; moro no Morro do Vidigal.
P/1 – Em relação aos seus pais, o nome dos seus pais e você conhece um pouquinho a origem deles também, por favor?
R – Sim, o nome do meu pai é Marco Antônio Vieira Coelho, ele tem 39 anos; minha mãe é Marília Santos Coelho, tem 40 anos; minha irmã Andressa Santos Coelho, 13 anos e Aline Santos Emiliana, minha irmã mais velha que tem 23 anos.
P/1 – Você conhece um pouquinho a origem dos seus pais? Eles são cariocas? Eles são moradores e nascidos no Vidigal?
R – Bom, eles são cariocas e meu pai nasceu na Cruzada e minha mãe no Vidigal. E eles se conheceram assim num baile que minha ia lá na Cruzada, dançar agarradinho com meu pai, com ele estava namorando e acabou que ficou juntos e eu nasci. Eu e minha irmã. Que bom.
P/1 – Você conhece um pouquinho da história dos seus avós, tanto por parte de mãe quanto por parte de pai, Alice?
R – Bom, a minha avó da parte da minha mãe ela é baiana. Então, eu adoro as comidas que ela faz quando ela vai lá pra casa e ela é da Igreja e, sei lá, ela não gosta de muita brincadeira, não, funk, essas coisas, ela não gosta, não. Ela é bem séria mesmo. E da parte de pai já morreu.
P/1 – Como ela morreu? Como era o nome dessa sua vó?
R – É Marise. Marise. É Maria mas ela não gosta que chamam ela de Maria então ela gosta que é Marise e da parte do meu pai morreu minha avó.
P/1 – Avós, homem, os seus avôs você conheceu?
R – O meu avô continua na Cruzada; a parte do meu pai continua na Cruzada e da minha mãe tá morando em Nova Campinas.
P/1 – E essa avó da Bahia contava um pouquinho como é que foi, como é que ela veio, quando que ela veio, como é que era a vida lá, na Bahia?
R – É bem arretada. É bem difícil e minha mãe apanhou muito por ela porque, sei lá, nesse tempo era muito... Sei lá, o modo de bater era bastante sério assim. Mordida na cara, essas coisas assim. Minha mãe tem até marcas até hoje mas ela fala que tudo serviu pra poder ela ser uma pessoa como ela é agora.
P/1 – E em relação à profissão, seus pais trabalham?
R – Eles são diaristas.
P/1 – Fala um pouquinho do trabalho deles. Você conhece?
R – Eles trabalham juntos.
P/1 – Aonde?
R – Eles trabalham na casa dos clientes deles e tem uns artistas também que ele trabalha na casa e é bem legal que ele tira foto e coloca lá no Facebook dele, que eles tem. E eu tenho muito orgulho por eles, do meu pai e da minha mãe.
P/1 – Mas eles fazem o quê? Cuida do jardim, cuida de casa, cozinha? Como é que é?
R – Não, é tudo. Completo, a casa inteira.
P/1 – E é lá perto do Vidigal, como é que é?
R – Eles trabalham lá pra baixo também; não é só no Vidigal, não.
P/1 – Agora me fala um pouquinho, então, do lugar onde você nasceu, da escola que você frequentou, um pouquinho da sua infância. Você lembra da sua infância um pouquinho?
R – Ah, lembro um pouco. Onde que eu moro é maravilhoso, adoro morar lá, meus amigos, a praia que a gente mora de frente pra praia. E escola? Escola eu sempre estudei no Tamandaré, até hoje. Tô no primeiro ano, tô estudando de noite lá. E quanto eu era pequena, falar um pouco da minha infância, eu sempre tive ciúmes da minha irmã mais nova, de 13 anos, e a minha mãe me contava um história de quando ela tava fazendo xixi, sei lá, no pinico, no vaso, não lembro, que eu queria afogar ela por causa de ciúmes. E agora eu amo ela e vi que é só ciúme bobo da infância porque é muito bom ter uma irmã assim pra ficar do teu lado, conversar, sair. É bem bacana.
P/2 – Como é que era a infância lá, no Vidigal? Você brincava na rua? Que tipo de jogos vocês faziam?
R – Ah, de pique esconde, pique pega, pique fruta, várias coisas.
P/2 – Pique fruta? Como é que é isso?
R – É que você tem que falar uma fruta e abaixar. Tipo: laranja e abaixar. Se você não falar na hora a pessoa pode te pegar e vai tá com você. Tem que falar: “laranja” e abaixar. “Banana”. Era uma coisa que a gente curtia muito na época. Que a gente vai lembrando agora e a gente acha engraçado.
P/1 – Quem eram os seus colegas, quer dizer, eram os vizinhos?
R – Sim, os vizinhos.
P/1 – Fala um pouco dos seus amigos de lá, do Vidigal.
R – De infância?
P/1 – É.
R – Ah, eles moram, continuam no lugar onde que a gente brincava, que é no 14 lá, o nome lá. Bem de boy. E eu estou morando na rua agora que é do lado do “Nós do Morro” o Teatro que eu faço as aulas lá.
P/1 – Mas vamos lembrar um pouquinho mais da infância. Como é que era a vizinhança?
R – Ah, tinha umas vizinha chata.
P/1 – Tinha festas de rua?
R – Sempre tem sempre tem aquela pessoa pra perturbar. Tinha vizinha chata que a gente não podia gritar que elas tacavam água gelada na gente. Ela tacou água quente no meu primo pequeno, tudo mau humor assim. Mas isso não deixava da gente brincar, não. E tinhas umas que era legal também, que dava doce ou pedia pra gente comprar cerveja e dava cachê, dinheirinho pra gente quando a gente voltava. A gente comprava tudo de bala e dividia, fazia piquenique na rua, comprava biscoito Fofura, essas coisas, Guaravita e ficava na rua.
P/1 – Tinha festas que vocês faziam e comemoravam juntos lá?
R – A festa de lama. Que quando era aniversário de alguém tinha que fazer um “bolo de chocolate” com lama. Desenhava, fazia a fôrma, assim, pegava aquelas flores mais bonitas, vermelha, assim, e enfeitava. E era o aniversário de um coleguinha e esse era o nosso bolo porque às vezes a nossa mãe não tinha dinheiro, essas coisas, pra poder fazer uma festinha pra gente.
P/1 – Você lembra de alguma coisa assim, de alguma festa junina? Era comemorado?
R – Era, sim, na rua.
P/1 – Então conta um pouquinho como era uma comemoração dessas.
R – Ah, era muito estalinho, muito cabeção de negro que jogava assim. Era canjica, a gente se arrumava, botava aquelas pintinhas, assim. Ah, cara, é muito legal; era muito legal. Eu lembro até hoje.
P/1 – Você tinha uma vida de comunidade, de grupo, de...
R – Sim, sim. Era tipo família ali naquela rua que eu morava. Na comunidade um ajudava o outro, assim. Se não tinha arroz, o outro emprestava ou até dava pro outro, era sempre uma união, um ajudando o outro.
P/2 – Tem algum aniversário seu que tenha te marcado mais? Você se lembra de alguma festa de aniversário, festinha ou comemoração?
R – Não, só me lembro dos 15 anos da minha irmã.
P/2 – Como é que foi? Você teve festa de 15 anos.
R – Eu não sabia dançar, não. Eu vim com a aliança mas eu me lembro um pouco; eu não sabia dançar, não.. Foi minha escola que foi feito os 15 anos da minha irmã.
P/2 – Como é que foi comemorado esses 15 anos?
R – Bom, a roupa tá até lá em casa que eu vesti e o vestido da minha irmã também. Eu não me lembro muito; só lembro dos meus primo, a gente correndo no lugar todo lá, da escola. E não me lembro muito, não, que faz um bom tempo.
P/2 – E você teve festa de 15 anos?
R – Não, eu não quis.
P/2 – Não quis?
R – Não quis, sei lá. Eu não quis. Coisa de namoradinho, de garoto que... Ai, eu não gosto. Não gosto não e não quis. Não quis, não.
P/1 – Em relação a esse tema, de namorado, caso, ficante, como é que é isso, assim, na tua vida? Como é que é?
R – Ah, eu já tive um namoradinho. É, a gente se ama até hoje. A gente fica naquela troca de olhares. Mas sei lá, a gente briga muito, essas coisas. Eu não sei se a gente deve ficar juntos, mas sabe quando você passa por aquela pessoa e dá aquele frio na barriga?
P/1 – Sei.
R – Ainda continua mas deixe que Deus faz o quê que ele quer, o quê que é melhor pra nós.
P/1 – Em relação à escola: como é que você vai na escola, qual é a matéria que você curte mais, que não gosta mais?
R – Ah, eu adoro estudar. Eu gosto mais de Ciências, sempre gostei de Ciências e não sei, ah, é isso. Gosto muito de Ciências e nunca repeti, eu sempre fui aquela menina dedicada da escola. E já colei, já, assumo. Já colei na escola, normal, mas também já passei cola. É a vida faz parte da vida.
P/1 – E você foi pra escola com quantos anos, Alice?
R – Eu não me lembro. A minha mãe deve saber. Eu não me lembro.
P/1 – Mas quando vocês eram pequenas vocês iam pra escola, ficam em creche no Vidigal, alguém tomava conta de vocês?
R – Sim, tudo lá no Vidigal. Já teve uma mulher que tomava conta da minha irmã e maltratou a minha irmã porque ele não dava as comidas que a minha mãe entregava pra poder ela dar pra minha irmã. Aí, minha irmã passou uma fase que ela ficou muito seca, muito seca. E ela vinha pra casa com várias marcas, assim, no corpo e acabou que minha mãe tirou ela de lá mas ela não sabia que estavam acontecendo essas coisas; depois que ela foi descobrir. Mas eu nunca... Ninguém nunca tomou conta de mim, não, só minha avó mesmo.
P/1 – A sua avó que mora perto de vocês? Como é que é?
R – Não, que mora em Campo Grande, por parte da minha mãe.
P/1 – Aí tua vó ia pro Vidigal, ficava com vocês, como é que era?
R – É, ela morava lá. Agora que ela foi morar em Campo Grande com a minha irmã... Com a minha irmã, com a minha tia; tia Rita!
P/1 – Como é que é essa vida de praia. A gente que é carioca. Quer dizer, como é que era a praia, vocês iam muito, iam com os amigos, com os pais?
R – Ah, a gente continua com os pais, assim com os pais mas com os amigos também de vez em quando porque meu pai não libera muito a gente ir pra rua sozinha, que ele tem medo. Mas a gente sempre fica lá na favela, “Nós do Morro” lá, que a gente faz as aulas. Lá tem muito amigos meus. É isso.
P/1 – Como é que é um dia teu, hoje, por exemplo?
R – Um dia meu? Ah, é escutando música. Que é nós temos um grupo de rap, eu e mais duas garotas que tá fazendo também a minissérie. E as outras garotas têm 15 anos; eu tenho 16 e cantamos rap, tudo um pouco de cada coisa: amor; protesto; aonde que a gente mora a gente fala um pouco disso também. É isso.
P/1 – Quem escreve as letras?
R – É nós mesmo. Nós mesmo escrevemos e cantamos nossas próprias letras.
P/1 – Canta um trechinho pra mim, pode ser?
R – De uma música?
P/1 – É, sua.
R – Minha? Pera aí. É: (Cantando) “É necessário acreditar que o sonho sempre é possível; nunca desista do seu objetivo; me desculpe se eu sou muito indiscreta; estar aqui no ‘Nós do Morro’ é minha coisa predileta; quando estou com as pérolas fica bem íntimo; quando a gente chega aumenta o ritmo; eu mando o meu rap no momento ‘Teatro Nós do Morro’ divulgando os talentos; somos como irmãs, bonitas e com saúde; eu vou levar pra vida toda a nossa juventude; estamos aqui pra te alertar; é as pérolas nunca desista de tentar; você vai conseguir, então vamos lá; mantenha a sua fé, tem que acreditar” aí vai e vem o refrão.
P/1 – Muito legal.
R – .
P/1 – Então a gente vai voltar a isso. Mas, então, vamos retomar, como é que começou isso na sua vida? Quer dizer, essa tua... você perceber em você essa vontade de fazer de teatro. Como é que foi?
R – Por causa da minha mãe. Ela já estava um bom tempo no teatro e falava que era bom, que era pra gente entrar e a gente entrou.
P/1 – Mas o quê que você ouvia primeiro do “Nós do Morro”?
R – Ah, uns falava que era só louco que tinha no “Nós do Morro”, que era uns caras maluco por conhecer a arte, assim, né. Aí: “Ah, são loucos, tem que ver as peças, o cara fez um gay, a mulher fez uma coisa” isso e aquilo. E eles acabava levando isso; eles não percebiam que aquilo era teatro, que era só uma peça, entende? Mas tinha um lado bom que eles via que as coisas tava acontecendo, tinha umas pessoas que fazia “Malhação”, uma coisa, participação de um comercial, uma novela assim. E aí eles percebiam que não era só esse lado aí maluco que eles falavam, do teatro. Eu entrei por causa da minha mãe e eu fiz a minha primeira peça, que eu morri de vergonha. Tava com muita vergonha porque era todo mundo da favela lá, da comunidade, me olhando. Umas pessoas rindo, falando: “Olha lá a Alice”, isso, aquilo. E eu: “Deus do Céu”. Mas eu respirei fundo e consegui fazer. E eu até queria sair com essa vergonha que eu tive desse primeiro espetáculo que eu fiz mas eu consegui e tô há seis anos no “Nós do Morro”.
P/1 – Como é que foi pra sua mãe que te levou pra lá, porque ela fazia, ela frequentava...
R – Fazia.
P/1 – A tua mãe já fazia “Nós do Morro”, é isso?
R – Já.
P/1 – Conta um pouquinho sobre isso.
R – Ela acho que tem oito ou nove anos lá, no Teatro e a gente sempre ia ver os espetáculos dela. E a gente gostava, ficava interessada, assim, mas a gente tinha vergonha e a gente perguntava: “Pô, mãe, como que você fazer isso?” isso e aquilo “Todo mundo te olhando”... Ela pediu pra gente fazer e a gente: “Ah, a gente vai fazer” e gente acabou que fez a inscrição lá e a gente passou num teste – tem um teste que a gente faz – que é um texto que ele coloca pra gente ler e improvisar na hora e eu consegui passar. Eu tinha medo do Guti... Tinha medo do Guti Fraga, que é o diretor lá do “Nós do Morro” porque ele ficava olhando sério pra mim e eu falando o texto, Deus do Céu. Ai, e agora ele é um super pai, assim, uma pessoa bem especial em nossas vidas lá no “Nós do Morro”.
P/1 – Você lembra qual era esse primeiro texto que você leu ou alguma coisa assim?
R – Era sobre... Eu tava fazendo uma árvore. Meu personagem era uma árvore, eu tava contando que eu não gosto das pessoas, que elas jogam lixo em mim, isso, aquilo assim. Aí eu sem coragem, olhando pro Guti, assim, ó, olhando pro chão: “As pessoas jogam lixo em mim” e ele olha pra mim e, Deus do Céu, quase mijei na hora. Eu tava com muito medo; o Guti tem um rosto, assim, bem sério. Que eu ficava com muito medo mas agora já se tornou um “amigasso” mas eu tinha muito medo nessa época, do Guti. Às vezes quando eu passava pelo “Nós do Morro” até saía correndo pra poder não falar com ele que eu tinha muito, muito medo. Muito medo dele.
P/1 – Então como é que você foi crescendo dentro do “Nós do Morro”? Como é que eram as aulas? O quê que você ia sentindo? Bom, esse é lugar, é isso que eu gosto de fazer, isso que eu quero fazer, tô melhorando?
R – Bom, lá é a gente faz arte improvisação, capoeira também, jongo, essas coisas de dança, assim... É tem uma... Esqueci a aula. Tem audiovisual que a gente aprende os planos, plano médio, plano geral, e tem a biblioteca onde que a gente aprende lá e aprende um pouquinho sobre arte.
P/1 – E um texto, um livro que você tenha lido lá, que você tenha curtido e que tenha te marcado mais? Você tem essa lembrança?
R – Ah, eu gosto de “Crepúsculo”. Eu gosto muito, interessante.
P/1 – Você tá lendo?
R – Agora não. Tô lendo uns textos mas eu curto muito.
P/1 – E, assim, como é que foi esse convite pra você participar dessa minissérie?
R – Bom, quando eu fui fazer o teste foi muito complicado porque as minhas duas amigas que são do meu grupo de rap elas fizeram comigo e era o mesmo texto. Aí, a Mariana foi a primeira; ela fez excelente, o Nelson Rodrigues adorou: “Lindo, lindo, lindo”. Aí foi a Jeniffer e ele falou: “Olha mais pra câmera” isso, aquilo. A Jeniffer fez; lindo, lindo também. Quando foi o meu, o Nelson começou a falar: “Ai, olha pra cá”, “Sentimento”, isso e aquilo. Aí eu: Deus do Céu, esse cara não tá gostando de mim; esse cara tá cobrando demais de mim; eu não vou passar nisso. Aí ele: faz isso, faz aquilo. Aí eu: Deus do Céu! Olhava pro Nelson assim, tipo, ele tá tirando onda com a minha cara, pediu pra mim fazer várias vezes aí eu fiz. Aí eu já sabia que eu não ia passar no teste. Eu: Ah, não vou passar nisso; não vou, não; tá, o cara não gostou, pediu pra eu fazer várias vezes. Aí eu peguei e fui pra casa, com a esperança que eu não ia passar no teste, isso e aquilo. E acabou que depois eu fui no Polo Cine, na Barra, fazer um teste.
P/1 – Mas como é que foi esses teste? O quê que você tinha que improvisar? Qual era o texto que você leu pro teste; era pra que personagem?
R – Era falando com a Conceição pra gente comprar roupa em Madureira e eu tava muito nervosa porque o Nelson também tava lá e ele tava cobrando de mim. “Deus do Céu: o quê que esse cara quer comigo?” Aí, acabou que ele ligou pra mim quando a gente tava em casa, no computador, falando que eu tinha passado no teste. Aí eu fiquei: “Como assim, se o cara ficou cobrando de mim, falando que tava errado, isso e aquilo, que não tava legal?” Aí eu: “Deus do céu!” Pulei, me joguei em cima do sofá, fiquei toda feliz, eu não acreditei porque ele cobrou muito de mim quando eu tava fazendo o teste e achava que a menina que foi direitinho -que é a Mariana, que também tá fazendo a minissérie- que ia passar nesse teste aí pra irmã da Conceição, que é a Maria Rosa.
P/1 – Como é que foi, então, a segunda etapa? Fazer o teste, aí você foi pro Polo Vídeo, foi?
R – Foi com outro texto. Mas eu também não tava na minha cabeça que eu tinha passado, não. Eu estava achando que ele ia me perturbar mais um pouquinho porque ele cobrou legal mas eu agradeço ele até hoje, fico feliz, olho assim pra ele tipo, por que você fez isso, Nelson, comigo lá naquela hora lá? Porque, sei lá, cara, foi assim bem legal passar por essa experiência de achar que tava tudo perdido, que não foi legal e aconteceu essa surpresa pra mim que foi maravilhosa.
P/1 – Qual foi o personagem que você ganhou?
R – Maria Rosa, irmã da Conceição.
P/1 – Quem é Maria Rosa?
R – Maria Rosa é uma menina que curte muito funk, baile, sair com a Conceição e se arrumar, maquiagem, batom... É, gosta de um garotinho também, que é o Carlinhos. E é isso. Ajuda um pouco em casa também, faz cabelo essas coisas com a Amelinha, que é minha irmã mais velha. E ela é mais da curtição, de sair, maquiagem, se arrumar, essas coisas assim. E é uma irmã...
P/1 – O quê que a Alice tem a ver com a Maria Rosa?
R – Ah, tudo! Tudo, eu sou muito a Maria Rosa; gosto de me arrumar, essas coisas. O quê que Maria Rosa é eu também sou.
P/1 – Pois é, fala um pouquinho que você tá maquiada, seu cabelo é transado, sua unha toda transada...
R – Também. Eu gosto muito de me arrumar, ficar no meu quarto um tempo, assim, pra mim, só pra me arrumar. Ah, coisa de adolescente. Roupas e coisas assim.
P/1 – Onde é que você compra roupa?
R – Ah, eu compro na Rocinha que também tem um lugar que eu gosto muito e às vezes eu vou na Zara, na Marisa, shoppings assim de vez em quando, com as amigas.
P/1 – E esse cabelo transado? Quem faz esse cabelo?
R – É a mulher da caraterização da “Subúrbia” também, que ela trançou meu cabelo.
P/1 – Foi a primeira vez que você trançou o cabelo?
R – Sim, foi a primeira vez e eu adorei; gostei muito. Ficou bem legal.
P/1 – E aí você vai pra escola com o cabelo trançado?
R – Sim, vou. Todo mundo fala que ficou bacana; que ficou legal. Todo mundo fala: Ficou maneiro o cabelo”, quero continuar, gostei... E daqui há pouquinho mesmo ela vai lá, trança o meu cabelo, que tem umas trancinhas aqui que tá meio soltinhas.
P/1 – E esse piercingzinho aí?
R – Bom, tem uma história muito engraçada esse piercing aqui que foi minha amiga que furou, em casa. Ela pegou lá um brinco, assim, normal, pegou e ficou no chão e ficou assim, assim, ó, até ficar afiadinho. Ficou lá. E eu falei: “Quando eu falar pra você furar, você fura”. Você acredita que quando eu fui respirar a menina: Pum, já foi logo! Deus do Céu! Eu dei um grito e aí comecei a brigar. E o pior foi tirar o brinco que já estava lá dentro, já grudado com a carne. Aí, eu puxava assim, aí quando saiu, puf, assim, com a carne e tudo, meu Deus do Céu! Não quero nem lembrar, doeu muito esse piercing . Mas hoje nem dói mais.
P/1 – Mas é pro personagem Maria Rosa também?
R – Não, não, tem que tirar um pouco da Alice pra poder entrar um pouco a Maria Rosa. Por mais que a gente tenha muita coisa em comum, algumas coisas, essas coisas de piercing, que tem agora não tinha antigamente.
P/1 – Você é super afinada de voz. Fala um pouquinho do teu grupo, quem são as amigas? Quem deu o nome pro rap que vocês fazem?
R – É a Mariana Alves e a Jeniffer Loiola. Quem deu o nome foi a Jack, a nossa professora que deu o nome. Veio vários nomes estranho, lá, “Ás do RAP”, sei lá, uns negócio estranho que agora, a gente lembrando, a gente até ri. Acabou que foi “Pérolas Negras” e tem o grupo dos garotos também que são “Os Panteras Negras”. Se elas tivessem aqui a gente ia cantar uma musiquinha, aqui, pra vocês.
P/1 – Como é que é o ensaio? Como vocês escrevem as letras? Como é que vocês ensaiam, dançam?
R – Bom, vem assim a criatividade vem na hora. A gente olhando o visual também, lá do morro, vem e a gente escreve.
P/1 – Vocês escrevem juntas?
R – Não, separadas também.
P/1 – E você tem uma que você goste mais; que você considera como uma música que você tenha escrito que você curta mais?
R – Ah, teve uma música nova que eu acabei de fazer mas só que ela eu treinei muito porque eu tô bem focada nos textos. Mas tem o refrão dela.
P/1 – Qual é?
R – “Eu sou guerreira passando por vários obstáculos; com as aliadas do lado não tenho nada a temer; cantando o meu rap, fazendo os trouxas correr; só com pensamento de luta para vencer” aí vai indo, tem a continuação mas tem que pegar essa música ainda pra botar pro CD, que a gente tem um CDzinho nosso.
P/1 – Ah, vocês têm um CD?
R – Mas não tá pronto: é só pra gente ouvir e decorar as músicas, treinar assim, só.
P/1 – Mas qual é a situação que vocês cantam? Vocês fazem show, como é que é?
R – Sim, no Vidigal também, lá pra baixo a gente também faz show. A gente já fez na cidade; teve um que a gente fez na Red Bull já também.
P/1 – E o quê que você gosta mais, cantar ou atuar?
R – Ah, cantar e atuar; os dois ficam lado a lado.
P/1 – É a tua primeira experiência na televisão?
R – A gente já fez comercial no Governo do Estado também e já fiz uma participação da Record também mas, de coisa assim, de minissérie, essas coisas, novela assim, é a primeira vez que eu tô participando. Por isso eu tô bem feliz de estar participando.
P/1 – Você contou como foi a tua seleção mas como é que foi o dia que você recebeu a notícia que você foi convidada? Quem te indicou? Quem te falou da minissérie?
R – Quem me falou que eu passei foi o Nelson...
P/1 – Não: quem te falou “olha, tem uma minissérie, você não quer entrar?”... Quem te falou primeiramente da minissérie?
R – Foi a Carole, do “Nós do Morro”, da produção. Ela me deu o texto, falou como era e o Luiz Fernando, diretor, pra ele conhecer a gente ele viu a gente cantando. Aí, depois que a gente foi fazer o teste. Acho que a gente cantou a música pra ele e ele curtiu pela cara dele e depois a gente foi fazer o teste.
P/1 – E o quê que tua mãe e teu pai estão achando disso?
R – É, eles estão super felizes; muito felizes. Sempre perguntam como tá sendo as gravações.
P/1 – E como tá sendo pra você? Você tá direto em Paquetá ou tá indo pra casa? Tá tendo uma imersão totalmente nessa minissérie? Como é que tá sendo?
R – Bom, eu tô duas semanas aqui gravando aqui. Tá sendo muito legal, aqui é bem bonito. E é isso, né. Eu hoje ia tomar um banho de piscina mas não deu. Amanhã eu vou tomar porque é bem correria. Às vezes não tem nem tempo pra gente ficar curtindo assim. Tem que focar no texto, no set.
P/1 – Como é que você estuda seu texto?
R – Bom fico lá no apartamento que eu estou e fico lá, lendo o texto lá, viajando. Trocando o texto às vezes com um amigo, assim, pra poder ver se tá legal.
P/1 – Mas você ensaia, fala sozinha, treina?
R – Falo sozinha e às vezes treino com alguém.
P/1 – Como é que você acha que você tá se saindo?
R – Ah, eu acho que eu tô me saindo bem, sim! Acho que tá bem legal mesmo. Tô super feliz.
P/1 – Alice, a gente mais ou menos tá encerrando.
P/2 – Deixa só eu fazer uma pergunta? Como que é atuar com os outros atores; contracenar com pessoas que têm mais experiência? Como é que tá sendo pra você atuar com eles?
R – Como assim? As pessoas?
P/2 – Como é que tá? Assim, você não contracena com outros atores?
R – Sim.
P/2 – Que já são atores há mais tempo?
R – Bom, não. Todo mundo está no meio ali. Não é tão assim, não. E é bom porque a gente vai trabalhando, assim, lado a lado, um ajudando o outro. E eu acho que é isso; mas não tem isso, não. Acho que eu me vejo como todo mundo que está lá, entende? Nessa mesma linha.
P/1 – Quer dizer, no grupo de vocês de atores, a maior parte também tá começando sua vida profissional, é isso?
R – Sim, começando agora na vida profissional. Não são aqueles atores que já tá assim, na mídia, essas coisas, não. Mas são uns atores que são bem experientes nessas coisas também de arte, e são uns bons atores também.
P/1 – E o quê que você acha, assim, eu acho que essa minissérie traz um tema bacana, traz juventude, traz o tema da negritude, da violência... Como é que você sobre isso e se pensa trabalhando numa minissérie que trata desse assunto tão atual da vida da gente, que você conhece por conta da sua história de vida, morando numa comunidade?
R – Tudo é um pouco que acontece com a gente na minissérie. De estar feliz, triste, ter aquela casinha que não é tão, assim, boa mas é uma casinha que a gente se sente feliz... Que tem uma família unida. As comidas também que a gente lembra. E é isso. Mas é bem bacana trabalhar com essas coisas e voltar, por mais que eu não lembro dessa década de 90, que eu também não tinha nem nascido. E é bem interessante; essas roupas, modo de botar a roupa até aqui em cima. Umas coisas bem estranha. Mas tá sendo legal. Que é uma experiência nova. Short, essas coisas, vocês usavam isso, antigamente! Deus do Céu! Que isso, gente?
P/1 – A gente usava.
R – É. Mas é bem legal, bem legal.
P/1 – Você tá curtindo essa parte de vestimenta?
R – Sim, sim, das roupas antigas, sapatos.
P/1 – E de música; música nessa minissérie?
R – Musica, eu sempre curti esse tempo aí do meu pai, sempre curti. Acho mó onda, as músicas são bem trabalhada, os pinos, as batidas... E a gente tá até tendo aula com o Fly também com isso, de coisa de dança.
P/1 – Sua personagem vai muito a baile?
R – Sim, não perde um baile.
P/1 – E são bailes de quê?
R – Baile funk mesmo. Baile de funk.
P/1 – E você já sabia dançar funk?
R – Sim, por causa do meu pai que fica me ensinando em casa.
P/1 – Mas ensinava antes da minissérie?
R – Antes da minissérie.
P/1 – Teu pai tem CD de música funk?
R – Tem! Tudo que passa na minissérie de música meu pai tem lá em casa. A gente fica até dançando com ele lá, curtindo.
P/1 – Você falou sobre comida, que comida que tem na minissérie, por exemplo, que você não conhecia?
R – Acho que aqueles peixes; um peixe bem grandão que é pra dividir pra família... É uns negócio que a minha mãe fazia antigamente, que eu até me lembro, que está sendo feito agora, e fico, assim ‘caramba!’ Lembrando... A minha mãe fazia muito isso. Um modo de amarrar, assim. Que bota a panela aí pega um lenço pra amarrar, acho que pra não esfriar; não sei o quê que é. E minha mãe fazia muito isso. Cuscuz que bota no pano de prato e, assim, amarra, não é? E bota de cabeça pra baixo, assim, com um prato, bem interessante. Minha mãe fazia muito isso pra gente, muito...
P/1 – E você falou em Madureira, você conhece o bairro de Madureira?
R – Não. Por mais que a minha tia mora lá, conheço muito, não.
P/1 – E a minissérie se passa lá, em Madureira?
R – Sim, já gravamos lá também. Foi bem legal mas é muito calor.
P/1 – Você gostaria de comentar mais alguma coisa pra gente, de contar mais alguma coisa?
R – Ah, eu tenho dois cachorrinhos também: Lion e Ariel.
P/1 – Como é o nome?
R – Lion, que é o macho e Ariel. Ah, não, eles são bem perturbados... Bem perturbados. Mas eu gostaria de trazer eles pra cá, pra essa viagem em Paquetá também. Mas não ia ser legal, não, porque eles são bem bagunceiros.
P/1 – Tá bom, Alice. É, em relação a sonhos, você tem sonhos?
R – Demais!
P/1 – E você pode contar um ou dois ou três pra gente?
R – Ih, se pedir pra contar eu vou contar vários sonhos e não é legal. Aí a gente vai ficar um bom tempo aqui.
P/1 – Então conta dois!
R – É... Eu quero ser uma cantora famosa e quero ser uma atriz, também famosa. Eu quero esses dois sonhos pra minha vida.
P/1 – Tá fazendo por onde. Já tá nisso.
R – Sim, sim.
P/1 – Você tem um ídolo? De música, tem um ídolo como ator ou atriz, uma pessoa que você...
R – Bom, de música eu curto mais os americanos.
P/1 – Quem, por exemplo, Alice?
R – Tem o Drake, o Eminem, Nicki Minaj também. E ator eu gosto da Taís Araújo... Ah, tem várias que eu curto muito. Às vezes eu fico até imitando elas em casa e dançando as “Empreguetes” também. É bem legal; eu curto muito os atores.
P/1 – Você é noveleira? Você vê televisão bastante?
R – Bastante. Novelas... Gosto muito.
P/1 – Na tua infância tem algum programa de TV que você lembre, que te marcava?
R – “Chiquititas”, “Alegrifes e Rabujos”, acho que era isso, era “Mochila Azul” e tem outros aí que eu não me lembro. Tem os desenhos animados também, “Tom e Jerry”, essas coisas. Às vezes tem coisa que eu não me lembro; não sei porquê. Fotos... Se a minha carteira tivesse aqui eu ia mostrar uma foto minha com a minha irmã que a gente tá com as roupas iguais. Eu não me lembro muito da minha infância, assim, eu só me lembro do dez ou do nove pra lá. De pequenininha, assim, eu não lembro muito, não.
P/1 – Mas alguma coisa que tenha te marcado mais na vida, que você tenha isso como uma memória marcante? Um encontro com alguém, alguma situação?
R – Quando eu fui pra casa da minha avó, em Campo Grande, que eu me lembro que foi muito bom. Eu me lembro que a gente tinha feito churrasco, a família toda tava lá. E é isso; não me lembro muito mesmo da minha infância. E eu tenho meus amigos também, lá no Vidigal, como homens, como mulheres também e eu gosto muito deles. Que tudo a gente precisa de amigos pra viver. Como precisamos de Deus, em primeiro lugar, família e amigos.
P/1 – E essa questão da religião na sua família? Vocês são religiosos? A avó era religiosa; sua mãe? Como é que é isso?
R – Minha avó é bem pegada nesse negócio de Deus, na Igreja. Todo mundo lá é tranquilo mas só a minha avó que é bem assim... Ela não gosta de funk, essas coisas, ela começa a orar: “Oh, Glória” isso e aquilo “Tira essas músicas do Diabo” essas coisas, começa a falar lá. Eu: “Ih, vó, para com isso!” isso e aquilo. Mas esses funks de agora não estão legal.
P/1 – Por que, Alice?
R – Porque é muita baixaria, Jesus amado, Cruz Credo! Muita baixaria, muita baixaria. Vai se ligar numa letra só já falou, 20 ou 30 ou trezentos palavrões e desvalorizando as mulheres também. Ridículo, entende? Prefiro curtir mesmo essas coisas da época do meu pai, das dancinhas, com a cabeça, essas coisas aí. Por mais que eu ache meio louco essas danças mas prefiro curtir essas danças aí que são bem feliz, bem mais legais do que essas da minha época agora. Por isso que eu curto mais hip hop, essas coisas, não o funk.
P/1 – E você vai a baile lá no Vidigal?
R – Não. De jeito nenhum. Não é legal; não curto funk.
P/1 – Mas já foi?
R – Não, nunca na minha vida eu fui num baile funk. Por mais que lá no Vidigal tem muito também mas agora tá pacificado; tá com a UPP lá e só tem um lugar que tem baile mas só que tem um horário pra acabar também. E às vezes tem briga também porque os caras não quer que acaba com a festa e acaba brigando com policial... Aí, já teve um cara que morreu lá porque acho que foi pra cima do policial. Aí, o policial atirou lá e a rua tava no dia seguinte cheia de sangue... Não foi legal, por isso que eu não gosto de curtir essas coisas porque tem pessoas que não sabe curtir e não sabe que tem uma certa hora e tudo é um limite, entende? Não era pra ter baile porque baile funk só rola coisa que não presta, entende? É uma coisa que não é legal, por isso meu pai não deixa e eu também eu não sou a fim de ir. Os caras não são legal, tem pessoas que vai em cima das mulheres que o funk não é legal. Eles não respeita as polícias; as polícias também às vezes não consegue, tipo, perceber às vezes e acaba se irritando com eles. E o negócio não é matar; o negócio é a conversa. Não é atirar porque não dá nada, não vai conseguir nada com isso, entende? Só vai trazer mais raiva, mais ódio, entende? Mas lá tá tranquilo mas teve duas mortes esses dias, entende? E eu fico muito triste porque é o nosso lugar que tá sendo assim. E teve uma morte de um amigo do Artur (emoção)…
P/1 – A gente se emociona quando lembra.
R – Porque (chorando) é onde que a gente vive. O nosso lugar. E com essas coisas acontecendo não é legal; não gosto de morte. Essas coisas não são legais e eu espero que o mundo mude, que pare com essas matanças e negócio assim de briga. Vamos conversar, se entender melhor porque não adianta nada isso. E eu perdi já também um amigo meu porque ele era viciado. Não era amigo, amigo, mas eu conhecia porque a gente foi amigo quando era pequeno; a gente brincava juntos. E ele era viciado em drogas e acabou que a polícia pegou ele lá no Vidigal e ele morreu e isso é muito chato (choro emocionado) porque por mais que a gente converse com as pessoas, tem pessoas que não ouvem e se ele tivesse escutado o que eu falei com ele hoje, talvez ele não estaria morto, entende? Que foi um dos meus amigos que eu tive na minha infância (chorando)... E é isso.
(Pausa)
P/1 – Você acha que o “Nós do Morro” tem um papel importante ali, na comunidade do Vidigal?
R – Sim.
P/1 – Você fala um pouquinho sobre isso?
R – Tem um papel importante porque a gente divulga o nosso trabalho. Eles ficam observando a peça, esses espetáculos nossos, e eles acabam ficando interessados e querendo entrar no “Nós do Morro” e o “Nós do Morro” ajuda muito na comunidade porque tem pessoas que estava nessa vida, aí, que não é legal e hoje tá no “Nós do Morro”, entende? E a gente olha, assim, que legal que o “Nós do Morro” conseguiu trazer essa pessoa dessa vida que não era legal pra estar agora nessa arte, fazendo peça, isso e aquilo. Tem muita gente lá e muita gente que tava na rua e que, tipo, sabia que ia para aquele caminho e acabou conhecendo o “Nós do Morro”, gostou e tá lá até hoje e isso é muito bom pra comunidade, sabia? Pra comunidade ter um lugar, um lazer, entende? Um lugar pra gente ficar que seja legal, por mais que lá não tenha nada, entende? É muito bom isso.
P/1 – E no “Nós do Morro”, além de Teatro, vocês fazem aula com outras atividades?
R – Tem Percussão também. Como eu falei, tem Capoeira, Audiovisual... Tem leitura, tem muita coisa. Tem criança que depois da escola vai pra lá e só fica lendo livros de lá. É isso.
P/1 – Você tinha quantos anos quando você entrou no “Nós no Morro”?
R – Não me lembro... Seis anos. Só contando.
P/1 – Dez anos!
R – Dez anos.
P/1 – Dez anos; você tem 16. Bom, a gente então tá encerrando, Alice. Eu queria te perguntar o que você achou de contar um pouquinho, compartilhar com a gente um pouco da sua história de vida?
R – Ah, foi bom porque às vezes a gente precisa desse tempo pra relembrar um pouco a nossa vida. Porque, ah, foi bem legal. Às vezes a gente nem tem tempo pra poder ver como é que foi nossa vida inteira, assim, entende? Perguntar um pouco, conversar é legal, entende? Eu gostei.
P/1 – E algum dia, na sua cabeça, você podia imaginar que estaria fazendo uma minissérie na Globo?
R – Não, não. Nunca imaginava.
P/1 – Como é que está sendo então isso pra você?
R – Ah, tá sendo muito bom. Trabalhar com o Luiz Fernando também é maravilhoso. Tá sendo maravilhoso, muito bom.
P/1 – E o coleguismo entre vocês do grupo?
R – Ah, só tem gente maluca lá, pessoas legais, do bem. A gente estamos no mesmo apartamento. Então, de manhã a gente fica na piscina ou fica conversando, lendo o texto juntos. Isso ajuda muito quando a gente vai pro set, que já tá tudo preparadinho. E isso é legal. Tem pessoas que eu já conhecia também, que eu já via no “Nós do Morro”, entende? Que está fazendo agora a minissérie também.
P/1 – Você pode prever como é que vai ser no dia que for o primeiro dia do “Subúrbia” na televisão? Como é que vai ser isso?
R – Ah, eu quero que isso chegue logo. Que às vezes eu fico até olhando assim, na câmera. Porque tem a câmera e tem um negocinho que mostra o que está sendo gravado lá. Aí, eu fico olhando assim, pra poder ver como que tá ficando a imagem, as coisas, assim. Aí, o Tiaguinho lá até deixa eu ver, assim. Mas eu quero muito; eu quero muito ver como ficou o trabalho. Quero muito.
P/1 – Você já pode imaginar como é que vai ser isso na tua casa?
R – Ah, vai ser muito bom. Com a família toda! Ah, não tem como falar; vai ser muito bom.
P/1 – Bom, então, você gostaria de colocar mais alguma coisa?
R –Não, não. Acho que foi.
P/1 – Então legal. Super obrigada, Alice, de você ter compartilhado um pouco da sua história de vida. Super obrigada!
R – Obrigada vocês, tá?
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