P/1 – Gilberto, primeiro eu queria agradecer, em nome da Braskem, em nome do Museu da Pessoa, ter tirado um pouquinho do teu tempo para dar…
R – Imagina, eu que agradeço.
P/1 – … Essa entrevista para a gente. Para começar e nós deixarmos registrado, eu queria que você falasse seu nome completo, o local e data do seu nascimento.
R – Meu nome é Gilberto Wachtler, sou nascido em Santo André, em 1964.
P/1 – E qual que é o nome dos seus pais?
R – Meus pais. Sou filho de Mathias Wachtler Filho e Odilia Fiaschi Wachtler.
P/1 – E o nome dos seus avós, você sabe?
R – Sei. Durvalina Mogentale, Tomáz Fiaschi e Madalena Wachtler e Mathias Wachtler.
P/1 – Gilberto, conta um pouquinho da história da sua família.
R – Meus avós maternos nasceram no interior de São Paulo. A minha mãe nasceu no interior de São Paulo, mas veio muito pequena aqui para Santo André. O meu pai nasceu em Santo André e eu nasci em Santo André. E meus filhos nasceram em Santo André. Meus avós paternos, a minha avó Madalena e meu avô Mathias, vieram da Europa muito novos também. Novos, jovens. Vieram jovens, fugidos da guerra na Europa e minha avó veio da Iugoslávia, meu avô veio da Hungria. Eu sou neto de europeus, meu sobrenome é alemão. Eles vieram para trabalhar na indústria, vieram com proposta de emprego, o Brasil é um país que vinha emergindo e constituíram família aqui, se conheceram. Com muito sacrifício de juntar dinheiro naquela época, eles compraram dois terrenos no Parque Capuava, que, por ser uma área bem despovoada, bem desabitada, era o que o dinheiro poderia comprar. Era um terreno, assim, até alguns parentes falavam, comentavam: “Pô, você foi comprar um terreno no meio do mato.” Mas era o que eles poderiam comprar. Meu pai é filho único e eu também sou. Ele começou a trabalhar muito cedo, com 12 anos de idade ele era morador de Utinga. Eu...
Continuar leituraP/1 – Gilberto, primeiro eu queria agradecer, em nome da Braskem, em nome do Museu da Pessoa, ter tirado um pouquinho do teu tempo para dar…
R – Imagina, eu que agradeço.
P/1 – … Essa entrevista para a gente. Para começar e nós deixarmos registrado, eu queria que você falasse seu nome completo, o local e data do seu nascimento.
R – Meu nome é Gilberto Wachtler, sou nascido em Santo André, em 1964.
P/1 – E qual que é o nome dos seus pais?
R – Meus pais. Sou filho de Mathias Wachtler Filho e Odilia Fiaschi Wachtler.
P/1 – E o nome dos seus avós, você sabe?
R – Sei. Durvalina Mogentale, Tomáz Fiaschi e Madalena Wachtler e Mathias Wachtler.
P/1 – Gilberto, conta um pouquinho da história da sua família.
R – Meus avós maternos nasceram no interior de São Paulo. A minha mãe nasceu no interior de São Paulo, mas veio muito pequena aqui para Santo André. O meu pai nasceu em Santo André e eu nasci em Santo André. E meus filhos nasceram em Santo André. Meus avós paternos, a minha avó Madalena e meu avô Mathias, vieram da Europa muito novos também. Novos, jovens. Vieram jovens, fugidos da guerra na Europa e minha avó veio da Iugoslávia, meu avô veio da Hungria. Eu sou neto de europeus, meu sobrenome é alemão. Eles vieram para trabalhar na indústria, vieram com proposta de emprego, o Brasil é um país que vinha emergindo e constituíram família aqui, se conheceram. Com muito sacrifício de juntar dinheiro naquela época, eles compraram dois terrenos no Parque Capuava, que, por ser uma área bem despovoada, bem desabitada, era o que o dinheiro poderia comprar. Era um terreno, assim, até alguns parentes falavam, comentavam: “Pô, você foi comprar um terreno no meio do mato.” Mas era o que eles poderiam comprar. Meu pai é filho único e eu também sou. Ele começou a trabalhar muito cedo, com 12 anos de idade ele era morador de Utinga. Eu nasci em Santo André, especificamente em Utinga e com 4 anos eu vim para cá, para Capuava. Meu pai, depois de 27 anos de trabalho em construção civil, ele era pedreiro com pouco estudo… O sonho dele era ter um negócio próprio, importava, porque ele não queria depender de trabalhar para ninguém e também não fazer um trabalho tão pesado como de pedreiro. E, daí, ele comprou… Nesses terrenos que meus avós compraram, construiu um salãozinho bem pequeno, ele montou um bar. A princípio um barzinho mesmo, bem pequeno, bem simples e com mais tempo, mais alguns anos, ele construiu uma mercearinhazinha. Então, primeiro, ele construiu em cima, trouxe meus avós para morarem aqui também, para ficar próximo porque ele era filho único. A partir daí, ele começou a aumentar um pouquinho o comércio, fez uma vendinha pequena. Ele não tinha carro, também não sabia dirigir, carro também, naquela época, era bem mais difícil do que hoje. Isso eu me lembro bem, eu ia atrás dele, ele fazia entrega no carrinho de pedreiro, isso quando virou a vendinha maior, porque antes não tinha nem mercadoria para entregar quase (risos). E daí ele fazia entrega no carrinho de pedreiro, eu ia atrás dele. Mas para mim foi uma maravilha quando nós viemos para cá, porque eu cheguei aqui com 4 anos, no Parque Capuava, então, você tinha uma residência aqui, outra lá distante, a maioria dos terrenos era tudo mato, não tinha esgoto, não tinha água encanada. Foi chegando, mais ou menos, naquela época. As ruas todas de terra, mas para criança não tinha ambiente melhor do que aquele, aquilo era uma delícia, na chuva, você voltava vermelho de barro e era só caçar passarinho, a nossa diversão, era a diversão de como se fosse um sítio. Tinham várias lagoas aqui embaixo, na Avenida das Nações e um pouco mais para baixo, ali, onde é, hoje a Coop [Cooperativa de Consumo], na Avenida das Nações, aqui em cima, mais próximo à petroquímica também era uma grande represa. A nossa vida era pescar, era ficar andando de pé no chão, foi uma infância maravilhosa. E o bairro foi crescendo, foi tomando vulto. O bacana, que nós sempre comentamos é que a nossa história, a nossa vida, como empreendedor, nós crescemos junto, na proporção exata do bairro, nós viemos crescendo junto. O bairro crescia, o nosso comércio também crescia. Começou sem nenhum funcionário e hoje nós temos aí, direto e indireto, praticamente, cem funcionários, cem colaboradores. Então, a nossa vida foi aqui, a nossa vida foi dentro, foi no entorno aqui do Parque Capuava, construímos amizades e nosso comércio prosperou. Nossa vida toda é alicerçada e nós somos extremamente agradecidos a essa região, esses moradores, essas pessoas, amizades que nós constituímos, nós somos muito gratos, principalmente, até falando da hoje Braskem, da Petroquímica União, que o meu pai falava sempre. Foi uma benção para nós, porque, a partir daí, veio todo um crescimento também, veio crescendo junto. Muitas pessoas que dependem dessas empresas, até satélites que foram criados ao redor e, na verdade, o ABC da época boa industrial, você descia um pouquinho aqui, já na divisa de Santo André e Mauá, você tinha a Cofap, que tinha milhares de empregos, você tinha a Philips, que tinha milhares de empregos. Aquilo parecia um formigueiro humano. As pessoas subindo e descendo e, a todo o momento, entrando na empresa, saindo, era a época do auge da indústria. Para nós foi bastante importante esse crescimento, vir junto com esse crescimento industrial e até hoje, graças a Deus, meus pais estão aí até hoje vivos, trabalhando no comércio, que é a vida deles, acho que a vida toda deles, praticamente, ali no comércio, eles adoram e conhecem todo mundo. Nós temos uma ligação bastante significativa com a população, tem uma ligação muito forte com o trabalho social que nós desenvolvemos há muitos anos, que o supermercado Primavera, ele participa de trabalho filantrópico em torno de umas vinte entidades, mais ou menos. Gera emprego, participa diretamente da vida social da região. Eu acho que, colocando as devidas proporções, mas acredito que as pequenas e médias empresas atuam muito mais efetivamente na vida social, no trabalho social da comunidade do que, propriamente, as grandes. Nós temos esse cacoete de entender melhor, de ter uma percepção melhor dos problemas sociais da região, até porque é muito próximo, muito mais próximo e muito menos burocrático. Então, eu me sinto, assim, bastante orgulhoso e bastante feliz de poder interagir, de poder ajudar tantas entidades, Igrejas, creches, asilos, da forma que nós sempre ajudamos, e agora, cada vez mais até, nós agregamos alguma coisa a mais. O social entrou muito na nossa vida, na vida da nossa empresa, na vida da nossa família.
P/1 – Gilberto, só vou voltar um pouquinho. Você falou que o seu pai trouxe seus avós para morar junto. Como que foi a convivência com os seus avós?
R – Ah, a maior saudade do mundo é a convivência com os meus avós. Porque, imagina, o único neto, então, eu tinha dois puxa-sacos, assim, que, nossa, não tinha coisa melhor. Meu pai dava uma bronca, meu avô já vinha em cima, não deixava, era maravilhoso, o convívio. Meus avôs eram muito carinhosos, incapazes de dar uma bronca em mim, eu não me lembro de ter levado uma bronca sequer. O carinho que eles me tratavam, a forma amorosa, amistosa era tudo de bom. É uma saudade muito grande. Existem moradores aqui no Capuava que se lembram até hoje do meu avô me levando para, porque eu era muito pequeno, levava-me para passear. Nós falávamos o Morro Vermelho, era um morro que tinha na Avenida do Estado, ali próximo onde é o Walmart hoje, então, tinha um morro que era terra vermelha mesmo, nós falávamos, meu avô: “Hoje nós vamos (com aquele jeitão dele, o sotaque alemão), hoje eu vou levar Gilbertinho para passear no Morro Vermelho.” (Risos). A molecada ficava tudo esperando. Nós íamos com cachorro acompanhando, era uma farra. Nós íamos lá andando, no meio do mato, até chegar lá, e para nós era tudo de bom, porque ele nos levava para passear lá, tinha uma lagoa grande, eu lembro até o nome das lagoas, era Lagoa do Curi-curi, que era uma lagoa, aqui, próximo ao Polo. A lagoa, lá atrás, se eu não me engano, era Lagoa da Madalena, tinha os nomes, e tinha outra aqui embaixo que eu não me lembro o nome. Nós íamos até a lagoa e tinha peixe mesmo, eram lagoas grandes, tinham várias hortas, tinha como se fosse um sítio mesmo, do Curi-curi, era porque era um japonês, que tinha avicultura, tinha criação de aves, ali tudo, tinha galinheiro. Era muito bom, esses passeios, a criançada adorava. Era, para nós, quando nós éramos pequenos e era tudo de bom.
P/1 – Gilberto, o fato do seu avô ser alemão, você teve contato com a cultura alemã?
R – Sim.
P/1 – Comida na sua casa?
R – A comida. A comida era muito boa, dá saudade também da culinária da minha avó.
P/1 – Tem alguma, um prato especial?
R – Ah, tem vários.
P/1 – Que ela fazia que… ?
R – A panqueca, que era “palantinca”, que era chamado, a panqueca dela era fantástica. E fora toda aquela culinária alemã, essencialmente alemã, torta de maçã. Nossa! Tinham doces, assim, fantásticos, comida fantástica, era muito bom. E a minha avó era um pureza em pessoa, era incapaz de fazer mal a qualquer, nada, incapaz de criticar, de falar mal de uma pessoa, era impossível, era incapaz disso. Ela e meu avô eram, um vivia para o outro, tanto é que quando, na morte da minha avó, o meu avô, faltando dois dias para completar um ano da morte dela, ele faleceu, ele sentiu demais a falta dela, a morte dela. Mas, foi uma vida muito bacana, foi uma convivência muito bonita, família super pequena, porque meu pai filho único, eu filho único, mas era, foi pequena, mas bastante intensa a vivência nossa. O meu pai, a vida inteira foi trabalho, até então, até 20 anos atrás, por exemplo, o Primavera agora está indo para 45 anos, até 20 anos atrás, ele não sabia nem o que eram férias, não tirava férias. O máximo que acontecia era uma ida até o litoral, nós tínhamos casa na praia, tudo, então, era algum dia de folga, não tinha mais que isso. De lá para cá que vem mudando um pouco o aspecto, a vida dele, de ter um pouco mais de folga. Agora, também, ele já não administra mais o supermercado, mas ele fica lá, abre, fecha, está de domingo a domingo. Mas, pelo menos, tira um pouco de férias, tira um pouco de descanso, mas a vida inteira foi uma vida focada no trabalho.
P/1 – Gilberto, me conta uma coisa, como que eram as festas na sua casa e as festas do pessoal do bairro? Como era a relação com os vizinhos?
R – Era diferente, era tudo diferente de hoje. Festa junina era a época que nós talvez esperássemos mais, quando era criança, nós esperávamos muito. Eu lembro até que meu pai juntava madeira para a festa junina. Então, às vezes, juntava o ano inteiro, para a festa junina, para fazer fogueira, fazia aquela fogueira, assim, monstruosa de grande. Nós nos divertíamos muito em festa junina, que eu lembro bastante, as festas também de casamento, aniversário era tudo muito comunitário, então envolvia muito as pessoas ali da vizinhança, a região. Era uma proximidade, era muito maior, o carinho das pessoas. Era uma época bastante diferente, que os costumes mudaram bastante de lá para cá. O nosso vínculo com a sociedade, com os vizinhos era muito maior. Essa região aqui do Capuava, era como se fosse uma cidadezinha do interior mesmo, propriamente, tinha todo aspecto de uma cidade do interior.
P/1 – Gilberto, teve algum amigo seu de infância que tenha marcado?
R – Tem, vários. Tem vários amigos. Alguns até, um bem próximo trabalha hoje comigo, começou a trabalhar com 13 anos no Primavera. Hoje é nosso gerente, o Reinaldo. O Lauro, que era nosso vizinho, ele se mudou depois e, às vezes, eu tenho contato com ele, encontro o Lauro por aí. Mas são muito amigos, nossa! Tem uma infinidade de amigos para lembrar. Uns, infelizmente, até morreram, mas tem muita gente ainda que permanece aqui até hoje, tem alguns amigos de infância aí que não saíram daqui até hoje.
P/1 – Gilberto, como era ir para a escola? Você lembra quando que você começou a ir para a escola? Como que você ia, tinha uniforme?
R – Lembro. Tinha uniforme. Na Escola Estadual de Primeiro Grau do Alto Capuava. Nós íamos a pé, de chinelo (risos). Era muito legal, era uma caminhadinha não muito longa. Eu me lembro bem quando voltava da escola, sabe? Voltava correndo, eu jogava o material lá, mais ou menos, e rua. A minha infância foi na rua, moleque de rua mesmo porque naquela época permitia, ainda consegui fazer isso com meu filho aqui no Parque Capuava também. Hoje ele tem, está indo para 20 anos, tem 19 anos, quase 20 anos. Há 15 anos atrás ele com 5, 6 anos de idade, ainda consegui deixar ele na rua, um pouco, eu acho que a rua dá um antídoto, dá um pouco de… É uma vacina natural, dá um pouco de esperteza na criança. Infelizmente, hoje está cada dia mais difícil de você manter uma criança na rua, mas eu comparo a um cachorro, você pega um cachorro de raça, você deixa em casa o dia inteiro, quando você solta, ele fica bobo, ele não sabe para onde vai. Enquanto o vira-lata se vira de toda forma, porque ele já está acostumado com o ambiente de rua, nós temos que soltar. Você não pode criar uma criança, criar os filhos a vida inteira dentro de casa. Então, eu sinto, hoje eu fico muito sentido, de ver como as pessoas criam os filhos hoje, totalmente fechados, infelizmente não dá para ter a liberdade que tinha antes. E, naquela época, nós conseguíamos. Difícil você ter os filhos, na época, os amigos ficavam dentro de casa, presos pelos pais, a maioria dos pais deixava na rua mesmo. Quer dizer, deixavam na rua é uma forma de dizer, tinha essa liberdade de sair à vontade, de não ter tanto problema de segurança, tudo. Era muito bacana. Ainda eu consegui fazer um pouco com o meu filho, dar um pouco dessa liberdade para ele.
P/1 –Gilberto, você lembra a primeira coisa que você quis ser, pensou em ser quando você crescesse? O que você queria ser quando era criança?
R – Eu falava que eu queria ser médico, depois eu queria ser engenheiro, tinha essas coisas. Daí eu não estudei, virei político (risos). Não, eu estou brincando. Fiz, acabei, me identificando bastante com Biologia, acabei, sinalizei que faria Biologia mesmo, me formei, sou biólogo. Então, tem algumas paixões na minha vida, uma delas é o varejo que entra na veia mesmo, uma coisa que eu acho que nunca mais você se livra do varejo, dessa paixão pelo varejo, ele é muito contagiante. Outra paixão é a Biologia, que eu sou apaixonado mesmo pela Biologia. E agora uma terceira, que, quem diria, eu já não esperava muito isso de mim, até porque sempre era colocado meu nome para entrar na vida pública e eu nunca tive essa intenção e, de repente, há quatro anos eu me envolvi, me candidatei, fui eleito vereador pela primeira vez que eu me candidato. Participo, hoje, também da vida pública, eu tinha uma expectativa também que via política, teria condição de fazer, de realizar muito mais trabalhos sociais e não estava errado, estava certo, porque realmente as portas se abrem bastante. O duro está sendo conciliar a vida pública com a privada, isso está difícil, está muito difícil, mas me sinto satisfeito e muito grato por ter sido criado nessa região. Eu sinto, eu não me vejo fora daqui, eu não consigo me ver fora do Parque Capuava, fora dessa região aqui, essencialmente de Santo André. Eu não consigo me ver fora.
P/1 –Gilberto, por que Biologia? Teve algum professor que te marcou? Você lembra quando que começou essa paixão?
R – Eu ia bem em Biologia, eu gostava, desde pequeno. Eu tive professor, eram as professoras, tinha uma professora que, agora, como que é o nome dela? Era uma professora loira que ela dava aula de Biologia para mim, vou me lembrar o nome dela. E eu me lembro que era a aula que eu acho que eu mais gostava mesmo, então tinha essa identificação. E por ter uma vida, assim, muito ligada à natureza, o Parque Capuava era natureza pura, tinha lagoa, tinha passarinho, tinha de tudo, era bem bacana.E acho que vem daí o gosto pela Biologia.
P/1 – Gilberto, eu queria pedir para você nos contar alguma história marcante, assim, dessa infância. Pode ser uma molecagem ou uma coisa que tenha ficado com você, da escola ou de brincar na rua.
R – Molecagem tinha uma por minuto, era assim (risos), era terrível, nós aprontávamos bastante. Histórias marcantes. Eram muitas histórias marcantes, eu acho que, o que ficou muito, que nós não esquecemos, eu não me esqueço e até os amigos da época sempre lembram, tudo, eram as festas juninas. Quando fazíamos aquelas fogueiras, meu pai fazia aquela fogueira gigante, até as pessoas aqui de cima do Parque Capuava iam ver porque formava um clarão, era uma fogueira gigante mesmo. Isso era bastante significativo, nós aguardávamos este momento, todo ano aguardávamos essa época. Mas tinha, nossa! Muita coisa na memória que nós tínhamos, de lembranças boas, porque tinha aquela convivência muito sadia, aquela brincadeira mesmo, muita brincadeira de rua mesmo. Era muito gostoso.
P/1 – Gilberto, como que foi se desenrolando as decisões da sua vida? Quando que você começou a trabalhar? Foi com o seu pai?
R – Olha, eu comecei a trabalhar muito cedo, muito pequeno, com 12 anos de idade eu já trabalhava, não era aquele trabalho intenso, mas era um trabalho já no varejo, ali no comércio. Então, bastante cedo. Era um trabalho meio que brincadeira também, porque gostava daquilo e por isso que eu falo, o varejo acaba entrando na vida da gente de uma forma viciante mesmo, você se apaixona muito por ele. Para mim, que era criança, ali com 12 anos eu era grandão, que eu sou alto, e já pesar feijão, tinha todo aquele negócio, o óleo de soja era na bomba. Vocês nem sabem o que é isso, enfia a bomba lá no tambor, tirava o óleo ali no garrafão. Então, para nós era quase que uma brincadeira aquilo, era um trabalho, eu acostumei muito pequeno no trabalho, descarregar caminhão, descarregar, ir fazer entrega, fazer compra, era tudo, tudo gostoso, tudo era uma diversão e não deixava de ser um trabalho. Então, eu comecei bastante novo no trabalho, com 20 anos de idade eu estava administrando a loja, já tinha administração, com 23, 24 anos, de lá para cá, eu a loja ficou 100% na minha mão, então foi por aí que eu comecei.
P/1 – E você falou dessa coisa da relação do crescimento da região com o próprio crescimento, desenvolvimento do seu comércio. Eu queria que você nos falasse, além do crescimento também, do Polo, como que foi esse desenvolvimento? Como que você sentiu os anos passando, mais clientes, foi chegando mais gente na região?
R – Sim. O Parque Capuava foi sofrendo um processo inteiro de modernidade, ele foi aumentando. Hoje, você vê, hoje não tem praticamente terrenos vazios na região, um ou outro caso aí de terreno vazio, desocupado. Eu acho que chegou praticamente no limite. Agora, eu acho que daqui para frente é verticalização, eu acho que o bairro, se você pega há 40 anos atrás para hoje, a mudança foi total, foi uma mudança extremamente radical. Era uma área verde, de mata mesmo, com ruas de terra, daí passou para o que é hoje. Teve uma evolução muito grande no bairro, na vida das pessoas e, sem contar a quantidade de pequenas empresas que essa região aqui, a Avenida das Nações ,Costa e Silva, é uma área bastante comercial, com vários pontos industriais, pequenas empresas. O desenvolvimento foi muito grande, foi em uma velocidade bastante grande.
P/1 –Gilberto, como se deu a sua decisão de você entrar para o mundo da política? Você já tinha essa vontade de trabalhar com a área social?
R – Começou de brincadeira, as pessoas me provocavam muito que eu tinha que participar da política, tudo. E, eu sempre tive um lado bastante político mesmo, não partidário, mas político, sempre fui de articular, de mexer, de correr atrás das coisas. Depois eu vim me envolver bastante na vida dos supermercados pequenos, do varejo, do pequeno varejo, na proteção do varejo e eu tinha uma ligação muito forte com essas pequenas empresas. Isso comecei a fazer muitos anos atrás e daí para a política partidária foi um pulo. Eu ensaiei algumas vezes, rejeitando convites que surgiam. E até 2007, 2006, mais ou menos, eu tinha a convicção de que eu partiria, eu tentaria entrar na política. E daí, em 2008, foi a eleição, eu me candidatei e entrei. Foi muito simples, muito automático e daí eu não sei, acho que agora, eu parto para uma reeleição, acho que agora é um pouco difícil, até de sair. É uma coisa que também é bastante envolvente na vida da gente. Mas o que motivou mesmo, que foi um grande motivador, foi, eu acredito que eu tenho, tinha essa perspectiva de que via política partidária, as questões de trabalho social, que envolvem trabalhos sociais, tudo, acho que elas ficariam muito mais fáceis de eu me envolver. E realmente, eu estava certo, isso aconteceu de fato, embora um monte de outras frustrações na vida pública, que acho que mais frustrações até do que coisas boas, que nós acabamos vivenciando, quando nós vivenciamos algumas questões sociais, que temos a condição de melhorar, fazer na vida das pessoas, eu acho que é um ganho muito grande.
P/1 – Gilberto, eu estou já só encaminhando para o final, mas eu queria que você nos contasse um pouquinho do seu dia a dia. Você falou que tem umas paixões. Você falou que tem um filho.
R – Meu dia a dia é uma intensidade bastante grande, eu corro muito, trabalho muito, então, eu durmo pouco, trabalho de domingo a domingo (risos), tiro férias com pouquíssimas oportunidades eu tiro uma semana, normalmente, eu tiro, consigo tirar duas semanas separadas, por ano. Sou apaixonado por assistir uma partida de futebol com meu filho, nós vamos assistir os jogos do Corinthians. Isso é uma alegria muito grande na nossa vida. Assistimos os jogos no Estádio do Pacaembu. E a convivência com os meus filhos é muito boa, tenho uma filha que é arquiteta e está encaminhada já, essa daí acho que não tem muita pegada com o varejo, está se dando bem, está indo bem. O meu filho tá começando um trabalho comigo, tá fazendo Administração de Empresas, faz à noite e durante o dia ele tá começando um trabalho no supermercado, estou contente até com o resultado que ele vem já conseguindo desempenhar, está devagarinho, mas está chegando. Meus pais estão ali, eu tenho essa convivência diária com os meus pais até hoje, então é uma relação até meio que dependente, pai e mãe estão muito próximos, até hoje, não conseguimos… A família é pequena, mas ela não se desgarrou. Ela continua muito unida. Meu trabalho é esse, eu trabalho, normalmente, até dez e meia, onze horas, meia noite, uma hora da manhã todos os dias. O normal mesmo até meia noite, eu trabalho, ou em um evento, alguma coisa, ou no meu computador. Os dias que eu tenho Câmara, duas vezes por semana, eu tenho a parte da tarde, eu estou na Câmara Municipal de Santo André. A política, o trabalho que ela gera para você quando você entrou na vida pública, o teu trabalho passa a ser domingo, feriado, dia, noite, não tem horário, as pessoas te procuram em todo momento para projeto, para uma conversa, para um problema, alguma coisa sempre acontece. E o mercado nos envolve, toma tempo também, todo o tempo que você tiver para ele, ele cobra de você, o meu dia é bastante, muito corrido, extremamente corrido. Tenho uma vida bastante agitada.
P/1 –Gilberto, de todos esses anos, essa relação com o Parque Capuava, o que significa tudo isso para você? Qual a importância de tudo isso?
R – Eu sou um apaixonado pelo Parque Capuava, eu acho que minha vida está aqui. Uma das coisas que eu gostaria, também, via política, é transformar esse bairro aqui num bairro referência, inclusive, eu tinha até, eu cheguei a rascunhar esse projeto. Nós conseguimos agora fazer uma revitalização na Praça Elis Regina, muito próximo daqui do Polo e a ideia era transformar esse bairro, continua ainda, transformar esse bairro num bairro ecologicamente correto, até em virtude de toda essa pressão contrária que parece que as pessoas têm, essa impressão contrária, melhor dizendo, que as pessoas têm do bairro ter essa qualidade de indústria, do Polo Petroquímico todo. Eu acredito nesse projeto ainda, que nós possamos desenvolver até uma política pública privada, uma parceria público-privada com o Polo e mais a Prefeitura e transformar isso aqui em um grande corredor verde, fazer alguma coisa, realmente, de impacto. Nós temos algum sonho ainda de transformar a região, de fazer uma região melhor, embora ela, da forma que ela se desenvolveu foi muito bacana isso, muito produtivo, muito envolvente na nossa vida.
P/1 – E o que você identifica como as principais necessidades do Parque Capuava hoje?
R – Eu acho que o Parque Capuava, ele ficou o Triângulo das Bermudas, ele ficou na divisa com Mauá e divisa com São Paulo, então, essa divisa, eu acho que ela é muito, de certa forma, um pouco pejorativa. Eu entendo que você partindo para transformar essa região aqui numa região realmente ecologicamente correta, e você cuidar de um aspecto que é primordial aqui, por ser uma região dessa, de divisas tão radicais, que é cuidar da parte de segurança hoje. Então, ela se tornou uma rota de fuga muito fácil, o Capuava se tornou uma rota de fuga muito fácil, o que eu acho que é a pior parte hoje, a parte mais negativa dessa região nossa, que ficou essa questão da segurança, por ser uma região de divisa. Então é um sonho, se essa região for uma região melhor cuidada no aspecto de segurança, segurança pública especificamente e ela se transformar numa região contrastando com o que o Polo Petroquímico oferece, que é uma região ecologicamente correta. Eu acho que tem tudo para isso, até para desmistificar essa coisa de que é uma região muito poluída, com esse aspecto industrial muito forte. Eu acho que ela daria um contraste muito bonito, meu sonho ainda é ver essa região dessa forma.
P/1 – Tenho só mais duas perguntinhas finais. Você quer perguntar alguma coisa, Lau?
P/2 – Não.
P/1 – O que você acha de nós resgatarmos, contar a história do Parque Capuava através das pessoas que cresceram nele, que participaram do desenvolvimento do bairro? O que você acha dessa ideia?
R – Eu acho fantástico.Eu acho que nós renascemos mais um pouquinho, nós buscamos, eu acho que cada resgate desse, cada movimentação histórica dessa, eu acho muito importante. Eu queria até acompanhar tudo isso de perto, quero ter acesso a tudo isso porque, realmente, foi um marco muito forte na vida dessas pessoas daqui, foi uma história muito bonita, nada mais, nada menos, do que uma cidade, Santo André que tem quase a idade do Brasil, é uma cidade mais velha do que, diga-se de passagem, mais velha do que São Paulo. Então, eu acho que é bastante significativo buscar resgatar essa história e trazer para a população, eu acho que vai enriquecer, vai trazer, vai valorizar, vai aumentar a autoestima das pessoas daqui do bairro. Eu acho importantíssimo, vocês estão de parabéns pelo trabalho. Obrigado por me proporcionar a participação nele e eu fico muito feliz, eu tenho certeza que meus pais, as pessoas mais velhas aí que ajudaram no crescimento dessa região aqui vão ficar muitos satisfeitos em saber que tem uma história contada aqui no Capuava.
P/1 – Então, para nós encerrarmos, nos conte como é que foi contar sua história, voltar lá atrás, lembrar da infância.
R – Estou até um pouco emocionado aqui, porque nós vamos lembrando, vamos revivendo, vai passando um filme na nossa cabeça. E tanta coisa que passou, tanta coisa que ficou e dá vontade de voltar no tempo, voltar lá e viver tudo de novo, porque foi muito bom, realmente. É uma região que nós vivemos intensamente mesmo, tem muita história para contar, então foi muito gostoso. Eu acho que só tenho que agradecer a vocês por estarem permitindo, estarem me dando essa oportunidade, mais uma vez de estar aqui com vocês e contar essa história, um pouco, um pouquinho da minha história. Muito obrigado.
P/1 – Nós que agradecemos. Muito obrigada, Gilberto.
R – Considerações finais?
P/1 – Você quer deixar alguma mensagem?
R – Está bom?
R – Está.
P/1 – Obrigada.
--- FIM DA ENTREVISTA ---
Recolher