Um século de desenvolvimento Industrial no Brasil
100 anos da White Martins
Depoimento de Senhor Gilberto Luiz Vimercati
Entrevistado por Consuelo Montero e Monique Lordelo
Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2011
Realização Museu da Pessoa
Código: WM_HV011
Transcrito por Victória Vecchi
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 – Senhor Gilberto, obrigada por vir.
R – Prazer.
P/1 – Muito prazer a sua presença aqui.
R – Agradeço a oportunidade também.
P/1 – Para começar então, nós vamos perguntar o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Gilberto Luiz Vimercati, nascido em Santos, em 25 de setembro de 1924.
P/1 – O nome dos seus pais, o senhor poderia dar para a gente?
R – Emílio Vimercati e, a mãe, Rosa Vimercati.
P/1 – O senhor disse que o senhor nasceu em Santos.
R – Nasci em Santos.
P/1 – A família toda é do Brasil?
R – Meus pais vieram da Itália. Eles se estabeleceram em Santos com uma confeitaria bastante avançada na época. Vieram de Milão e minha mãe, sempre com aquele espírito empreendedor, achou que os filhos deveriam estudar. Então mandou para São Paulo, porque naquele tempo em Santos não havia Curso Superior, e eu entrei na Politécnica de São Paulo (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e me formei Engenheiro Químico.
P/1 – Os seus pais, a atividade do seu pai?
R – Meu pai era o dono da confeitaria…
P/1 – Ele era o dono?
R – O que na França chamam de pâtisserie.
P/1 – Uhum.
R – E fomos tocando, criou a família. Deu uma chance para cada um dos filhos, eram três filhos. E, felizmente, fiz uma vida boa, muito trabalho, mas foi o que nos mostraram, o que nos intuíram desde criança de que havia, que sempre ia ter luta.
P/1 – Seu Gilberto... fala um pouco as idades e os nomes dos seus irmãos e o que que eles fazem.
R – Bom, eu tinha uma irmã que nasceu dois anos antes do que eu, que faleceu, e tenho um irmão que ainda mora em Santos, é...
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100 anos da White Martins
Depoimento de Senhor Gilberto Luiz Vimercati
Entrevistado por Consuelo Montero e Monique Lordelo
Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2011
Realização Museu da Pessoa
Código: WM_HV011
Transcrito por Victória Vecchi
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 – Senhor Gilberto, obrigada por vir.
R – Prazer.
P/1 – Muito prazer a sua presença aqui.
R – Agradeço a oportunidade também.
P/1 – Para começar então, nós vamos perguntar o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Gilberto Luiz Vimercati, nascido em Santos, em 25 de setembro de 1924.
P/1 – O nome dos seus pais, o senhor poderia dar para a gente?
R – Emílio Vimercati e, a mãe, Rosa Vimercati.
P/1 – O senhor disse que o senhor nasceu em Santos.
R – Nasci em Santos.
P/1 – A família toda é do Brasil?
R – Meus pais vieram da Itália. Eles se estabeleceram em Santos com uma confeitaria bastante avançada na época. Vieram de Milão e minha mãe, sempre com aquele espírito empreendedor, achou que os filhos deveriam estudar. Então mandou para São Paulo, porque naquele tempo em Santos não havia Curso Superior, e eu entrei na Politécnica de São Paulo (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e me formei Engenheiro Químico.
P/1 – Os seus pais, a atividade do seu pai?
R – Meu pai era o dono da confeitaria…
P/1 – Ele era o dono?
R – O que na França chamam de pâtisserie.
P/1 – Uhum.
R – E fomos tocando, criou a família. Deu uma chance para cada um dos filhos, eram três filhos. E, felizmente, fiz uma vida boa, muito trabalho, mas foi o que nos mostraram, o que nos intuíram desde criança de que havia, que sempre ia ter luta.
P/1 – Seu Gilberto... fala um pouco as idades e os nomes dos seus irmãos e o que que eles fazem.
R – Bom, eu tinha uma irmã que nasceu dois anos antes do que eu, que faleceu, e tenho um irmão que ainda mora em Santos, é um ano e meio mais novo do que eu, tem uns problemas de saúde sérios, mas ainda tá…
P/1 – Uhum…
R – Tá muito bom. Ele trabalhou durante cerca de trinta e dois anos em banco, bancário e infelizmente sofreu um acidente e ficou paralítico…
P/1 – Uhm…
R – Na cadeira de rodas, mas, é a vida.
P/1 – Como é que seus pais se conheceram, Seu Gilberto?
R – Hein, meus pais? Bom, isso é coisa muito antiga, né. Ahm... Eles são de Milão, minha mãe é da cidade de Milão, meu pai de, assim próximo, uns quinze, vinte quilômetros. Eu acho que através de família, porque eles têm uma relação de família e já se conheciam há muito tempo. E na Itália, na Europa logo depois da Primeira Guerra, a situação era um pouco difícil de empregos, e a própria vida, né? Então eles resolveram casar e fazer a viagem de núpcias pelo casamento para chegar no Brasil. E aí vieram e foi em 1920 e depois se estabeleceram em Santos em 1921.
P/1 – O Senhor saberia dizer o porquê que eles se estabeleceram aqui?
R – É o seguinte, eles vieram para cá, vieram por conta própria, ele tinha algum recurso, mas ele parou uns seis meses em São Paulo, era, tipo assim, muito trabalhador, mas não arrojado, então ele achou melhor se estabelecer em Santos e veio para Santos, se estabeleceu lá e ficou durante trinta anos tomando conta do negócio.
P/1 – Deixa eu ver se eu entendi bem. O Senhor disse que eles se casaram em Milão, se conheceram em Milão e vieram de lua de mel para o Brasil…
R – De navio.
P/1 – E voltaram para Milão…
R – Não, não…
P/1 – Depois voltaram para se estabelecer aqui…
R – Não, eles chegaram no Brasil, ficaram seis meses em São Paulo, ele trabalhando já. E, talvez não tenha gostado ou talvez outro motivo, eles resolveram se estabelecer em Santos e deixar São Paulo. Inclusive porque, em São Paulo, ele trabalhava empregado e, em Santos, ele foi o dono…
P/1 – Ah…
R – Arriscou, porque, para começar um negócio, sempre há um risco. E foi isso. Eles trabalharam muito, os dois, trabalharam muito, mas graças a Deus conseguiram vencer.
P/1 – Por que será que eles teriam escolhido o Brasil para passar a lua de mel, o senhor se lembra?
R – Não, porque o que eu expliquei para a senhora, lá na Europa a situação estava ruim…
P/1 – Sei…
R – Então eles tinham que sair e procurar outra maneira de viver, e estavam para casar e tal, disse então: “Vamos casar e vamos para o...”, e aí coincidiu a data da viagem, então ficou a viagem da lua de mel.
P/1 – Vieram de navio?
R – De navio.
P/1 – Uhum.
R – Aquele tempo não, não tinha... 1920, mas não tinha, não tinha…
P/1 – E a sua mãe trabalhava na pâtisserie?
R – Trabalhava…
P/1 – Ahm... O que que ela fazia lá?
R – Ah, tudo. Era a gerente e atendente de cliente, era tudo. Via tudo que se passava, tomava ponto de empregada, ela era muito dinâmica…
P/1 – Sei…
R – Era desses tipos europeus mesmo de “a mamma”.
P/1 – É, né…
R – E assim foi.
P/1 – E vocês chegaram a trabalhar lá? Vocês chegaram a ficar por lá?
R – Bom, trabalhar... Eu fiz o, terminei o Ginásio, naquele tempo eram cinco anos de Ginásio. Terminei em 1940 e aí fui para São Paulo para preparar para o Vestibular e tinha que fazer alguma coisa lá... Quando eu já era engenheiro, sábado à tarde voltava para Santos, dava uma mãozinha, “fica aí trabalhando”, e trabalhava. Aquilo foi o, vamos dizer, a cultura da família foi o trabalho. Todo mundo tinha que trabalhar, meu irmão, minha irmã, todos. Era, vamos dizer, a cultura daquela época do começo do século vinte, e que o mundo já estava se dividindo, a parte rica, a parte capitalista de uma maneira, e o pessoal de classe média tinha que se adequar, ajeitar, adotar o que viesse porque terminou a guerra realmente numa situação difícil.
P/1 – Você estudou em escola pública lá em Santos?
R – Em Santos eu fiz o Primário em escola pública. Minha mãe dizia: “Eu sou italiana, falo italiano, mas vocês têm que ir em escola brasileira e aprender em pública”. Mas depois não havia muita chance naquela época, em Santos, não havia nem Ginásio Estadual, então eu fui fazer o Ginásio nos Maristas, até me formei em 1940. E daí eu vim para São Paulo porque eu tinha quinze para dezesseis anos quando vim para São Paulo.
P/1 – Você falava em Italiano com seus pais?
R – Falava, falava porque eles achavam que era maneira de aprender, de ter vantagem de conhecer outra língua, e a gente falava o Italiano.
P/1 – E era natural? Não teve problema falar Italiano com os pais e Português na escola com os amigos?
R – Não, não, ainda corrigia a aula do Primário, ela ia ver se eu fazia a lição direito, mesmo em Português, realmente tinha uma perspicácia das coisas básicas para o futuro, então ela tinha aquele... para frente.
P/1 – Como é que era sua relação com os colegas na escola, como foi a sua infância?
R – Nunca foi assim muito expansiva, sou do tipo mais, vamos dizer recolhido. Mas eu tinha coisas boas, tinha colegas bons e a amizade assim de escola, né? Mas foi muito bem, graças a Deus, não tive problema nenhum, foi muito bom. Me dei bem com os irmãos maristas também, porque aquilo também era puxado, mas a gente foi muito bem.
P/1 – Era uma formação religiosa que vocês tinham também na escola?
R – Bem, os padres Maristas tinham, tinham aquela obrigação de ir à missa todo domingo, tinha cerimônias do... Assim, das festas religiosas, e tinha o desfile, que eles gostavam muito de fazer desfile em 7 de Setembro, em 15 de Novembro porque animava os alunos, mas também era um bom marketing para eles.
P/1 – O Senhor está dizendo dessas festas cívicas também? Cívicas, o 7 de Setembro…
R – 7 de Setembro fazia a parada.
P/1 – Como é que era? Conta um pouco esse preparativo para as festas de 7 Setembro.
R – Era o seguinte, o colégio era bastante grande, assim, devia ter perto de mil alunos, então os dias, nos feriados nacionais preparavam a parada. A gente fazia um treinamento no colégio, às vezes saía até pela rua em volta do colégio, e no dia da parada, porque havia uniforme, o colégio tinha uniforme, então a gente saía e fazia a parada. Quando tinha a parada de 7 de Setembro, do exército, depois a gente aparecia também…
P/1 – Ah…
R – E era... A vida de estudante antigamente era bem diferente. A gente tinha uma responsabilidade, cobravam da gente coisas que, vamos dizer de sociedade da época. Assim não era uma coisa fora do normal na oportunidade. Na época... As coisas mudam muito, né?
P/1 – O senhor tinha que se levantar quando o professor entrava na sala de aula? Vocês levantavam?
R – Levantávamos.
P/1 – Quando ele entrava, tinha que levantar da mesa. Tinha que rezar antes?
R – Em geral era Padre que entrava, porque no Colégio Marista eram os próprios irmãos lá que davam as aulas.
P/1 – Ah tá.
R – Colégio Católico, né. Mas foi muito bom, deu uma base muito boa. E aí eu fui para São Paulo, fiz o pré-vestibular e depois fiz o vestibular.
P/1 – O senhor, voltando, o senhor disse que o senhor veio aos quinze anos para São Paulo?
R – De quinze para dezesseis anos.
P/1 – Mas, seus pais estavam em Santos?
R – Ficaram em Santos, e ai eu fui para a casa de um amigo dele. Fiquei lá dois anos, três anos. Depois fui para uma pensão…
P/1 – O senhor era bem jovem…
R – Fui com um colega para uma pensão, e fui convivendo até me formar. Me formei em 1948 em Engenharia Química e ali a frente, né. Antiga escola Politécnica, depois da Estação do Jardim da Luz. Então era um lugar muito concorrido e tal, mas ia bem.
P/1 – O senhor tinha quinze anos, né, quando o Senhor veio. Como é que foi essa separação dos seus pais, conta um pouco.
R – É, a velha disse assim: “Tu vai para São Paulo”. Ela mesmo me levou na casa do amigo do meu pai, naquele dia mesmo ela já pegou, que eu me formei em fins de dezembro de 1940, e aí logo depois, no meio de janeiro, ela me levou lá para São Paulo na casa do amigo e ela voltou para Santos, daí eu tive que ir aprendendo sozinho. E fui, graças a Deus fui bem.
P/1 – Quer fazer uma pergunta?
P/2 – Eu fiquei curiosa, Seu Gilberto, como era Santos na sua época de infância? Vocês iam para praia, como eram as ruas? Como é que era?
R – Santos em 1924 era, devia ter umas sessenta, oitenta mil pessoas, a população era pequena. O valor de Santos era exportação do café, então realmente o movimento em dinheiro financeiro, parte econômica, mas como população... E aí não existia praia. A praia era um capinzal, então a vida era mais no centro da cidade. Nós vivíamos no centro da cidade, no Largo do Rosário, depois Rui Barbosa. E como é que a gente ia viver? A praia tinha uma linha de bonde que ia até a ponta da praia e tinha uma linha de bonde que ia até São Vicente então... Tinha umas conchas e algumas casas muitos boas que já eram consideradas um lugar de futuro, um lugar de luxo. Mas não tinha nem calçamento, não tinha nada. Era mato e areia. E aí, depois, isso começou a mudar, por volta de 1940 por aí, aí começou a praia mesmo e a explorar essa área. Imobiliária fez então um crescimento muito bom, e Santos desenvolveu bem quando chegou a duzentos mil habitantes, 1960 por aí. Agora está crescendo mais porque a Petrobras está com um programa grande lá em Santos e a cidade tem cerca de quatrocentos mil.
P/1 – Voltando para a infância, que nós estamos muito interessados, como é que era o cotidiano na sua casa? O dia a dia na sua casa mesmo?
R – Quando era criança?
P/1 – É, antes de o senhor vir pra São Paulo aos quinze anos.
R – O negócio lá em casa era o seguinte, os dois trabalhavam, minha irmã quando cresceu trabalhava também. E a gente ia para escola quando voltava, se não tinha nada para fazer, estudava e ficava, porque a confeitaria, a pâtisserie era muito grande, ficava embaixo, e em cima tinha a moradia. Então a gente fazia, eu com meu irmão jogávamos até futebol, era muito bom. E passava assim sempre preparando as lições e ia para a escola, passava à tarde toda na escola, agora nem sempre para refeição, por exemplo, às vezes tinha que fazer com a empregada porque os dois trabalhavam lá na confeitaria não tinha horário certo. E a gente foi vivendo assim, foi crescendo, de vez em quando fazia um extra. Gostava muito de montagem mecânica tal, tinha uma avó na Europa lá em Milão que me mandou um jogo de montagem, hoje não usa mais, antigamente tinha eram umas peças de ferro estampadas que vinham com parafuso e uns desenhos. Então você armava um prédio, uma ponte, um avião, coisas assim.
P/1 – Peças de Ferro?
R – É, um negócio que, vamos dizer, estimulava a gente a pensar e a criar.
P/1 – Quais eram os outros brinquedos que…
R – Hein?
P/1 – Os outros brinquedos do senhor…
R – Brinquedos eu tive poucos, não era muito não. A gente tinha aqueles brinquedos antigos, né, era lata dobrada porque não existia plástico naquela época. Quando eu era criança não existia brinquedo de plástico, então a gente que fazia um trenzinho, fazia um avião, mas tudo assim estampado.
P/1 – Aham.
R – E a gente ia tocando para frente e sempre olhando para o futuro. “Passou, quero ver o boletim”, levava um livrinho e tal, tá tudo bem, quando estava ruim, levava também uma chamada feia.
P/1 – E o que significava ruim Seu Gilberto?
R – Hein?
P/1 – O que que era ruim no boletim?
R – Quando fosse abaixo de cinco.
P/1 – Ah…
R – Antigamente era assim, até dez. Quando abaixo de cinco, abaixo de seis minha mãe já achava ruim, mas cinco e depois não porque tinha que estar tudo cem por cento. A gente tirava boa nota, né, não era assim difícil. Porque eu peguei no Primário, logo no segundo ano, eu no Primário, a mudança de ortografia, passou para fonética, que antigamente a ortográfica era assimilada do latim e do grego. Então a maneira da gente escrever era com “ph” era com “y”... Ginásio era “gymnasio” quer dizer, eram coisas assim, mas depois de 1933 passou à fonética, aí escrevia como escrevemos até hoje.
P/1 – Quais eram as matérias que tinha na escola que hoje não têm mais, o senhor lembra?
R – Bom, no Primário, praticamente era a mesma coisa: História, Português, Matemática; no Primário. Agora, no Ginásio era outra coisa, a gente aprendia, viu, aprendia de fato porque tinha Latim, História da Civilização, Física e Química com laboratório e a gente tinha que participar porque sempre tinha alguma pergunta, alguma coisa em relação à experiência feita. Então essa era a evolução, e, fora isso, a precisão da língua, quer dizer, Português tinha que escrever corretamente, se não pusesse o acento, se não pusesse o “s” duas vezes, o “cê-cedilha”, tinha que saber.
P/1 – O senhor gostava de ditado?
R – Ditado, gostava. Havia uma maneira de interpretar o ensino, era diferente, hoje está tudo modernizado, mas a criança com seis, sete anos começa o Primário é da criança copiar, a ver o que é e guardar na cabeça e copiar. Então a gente fazia muita cópia de Português para gravar como se escreve as palavras e aí a gente conhecia e saía do Ginásio sabendo o Português. Hoje já não, é mais difícil, né. Mas cada coisa é... A vida é diferente, vai evoluindo graças a Deus.
P/1 – E o senhor percebia as diferenças da cultura europeia e da brasileira? Isso afetava o senhor de alguma forma?
R – Afetava. Minha mãe em casa era tudo brasileiro. Ela falava mais, tudo que era referente ao Brasil tinha prioridade, jornais, tudo era brasileiro.
P/1 – Vocês iam à missa então domingo, todo domingo?
R – Não, trabalhava o domingo todo, a casa não fechava. A gente trabalhava o domingo todo.
P/1 – E o senhor fez Primeira Comunhão, Catecismo?
R – Eu era criança e tal. Primeira Comunhão, deixa eu ver, eu acho, eu não lembro bem se eu já estava no primeiro ano de Ginásio ou foi no último ano do colégio, mas teve Primeira Comunhão, teve a Crisma, teve que ir lá e tal aquela coisa toda.
P/1 – Hum, e vocês iam a pé para a escola?
R – Não, a escola era um pouco longe. Mas Santos era pequena e tinha uma linha de bonde, a linha número seis, que passava ali na praça lá do Rosário perto de casa, a gente pegava o seis e ia até o colégio. Mas a coisa era tão metódica que, na volta, eu tinha que pegar o bonde que passava lá às dez para as cinco porque tinha que chegar em casa cinco e cinco e a velha olhava no relógio, se chegava cinco e dez: “O que que aconteceu? Por que você veio mais tarde?”, era um controle danado. Mas era a vida, fomos criados assim, muita responsabilidade.
P/1 – Uhum.
R – E foi a vida da gente.
P/1 – Como é que era, voltando para São Paulo agora, como é que era a vida na pensão?
R – Fomos estudantes né, era a vida assim, a gente estava bem, tínhamos amigos. Sempre selecionava um pouco porque teve de tudo, né? E aí estive com um rapaz que era de Itapetininga se não me engano, também ficava dois, três anos lá estudando na pensão, depois ele saiu e veio um outro e assim vai, mas coisa bem pensada, não era bagunçado não.
P/1 – Era uma pensão de religiosos também?
R – Não, não. Era uma pensão comum lá perto da Politécnica.
P/1 – Sei. E o senhor lembra do dia que o senhor fez a mala para ir embora? Quem que arrumou a mala, quem que estava em volta?
R – Não, não.
P/1 – O senhor veio de ônibus?
R – Não. Era o seguinte, isso é tudo do passado se quiser eu conto, mas... Havia um trem que fazia Santos São Paulo, era uma limusine e era um grande progresso porque a serra de São Paulo para Santos foi construída pelos ingleses em 1860 qualquer coisa, então era um sistema de cabos para puxar a composição. Mas essa limusine que eles chamavam era especial, então ela ia completa e tinha uma máquina que puxava. Então era assim, a gente saía de Santos, chegava em São Paulo duas horas depois e aí já tomava o rumo. Quando eu cheguei com a minha mãe, a primeira vez, eu não conhecia São Paulo, aí foi a coisa mais interessante, ela me levou lá no amigo que eu devia me hospedar e depois disse “Vamos ver o Pacaembu”. O Pacaembu tinha sido inaugurado naquele ano, 1940 e fui conhecer o Pacaembu. Depois ela veio para Santos e eu fiquei.
P/1 – (risos) No mesmo dia da chegada já foram ver o Pacaembu?
R – É no mesmo dia ou no dia seguinte, porque ela ficou um dia ou dois comigo..
P/1 – Ah tá…
R – … isso já faz setenta anos, é um bocado, né.
P/2 – Esse trem, ele chegava onde aqui em São Paulo, você lembra?
R – Estação da Luz.
P/2 – Como é que era a Estação da Luz?
R – A Estação da Luz é uma construção inglesa fabulosa que os ingleses fizeram também naquela época, fim do século dezenove. E era grande, bastante grande, e havia um encontro dos que vinham de São Paulo e depois a Companhia Paulista de Estrada de Ferro ia para o interior do Estado de São Paulo. Então ali a gente fazia baldeação, mas era grande, tanto que hoje tem lá aquele Museu da Palavra, né…
P/2 – Isso…
R – Só que o Museu era no primeiro andar e embaixo era... Mas era enorme, uma estação muito bem feita. Estilo inglês, até tijolinho aparecia, à vista e tal, um negócio muito bem feito. Arquitetura inglesa mesmo.
P/1 – O Senhor lembra o bairro do amigo da sua mãe onde o senhor morou os primeiros tempos em São Paulo?
R – Era, agora deixa eu ver, acho que era Bairro da Luz mesmo porque eu não lembro assim o nome do bairro, mas era quase que centro também, né…
P/1 – Uhum…
R – Era a Rua dos Andrades, agora eu não sei o bairro... era Centro, Luz, porque era tudo…
P/1 – O Senhor se instalou na casa desse amigo da sua mãe e já teve que, era férias ou já era ano letivo?
R – Não, ainda ia começar a fazer um curso preparatório. Lá na Rua da Liberdade, um Liceu Pan-americano, aí fiz um, quer dizer, na Rua da Liberdade mesmo. E aí eu fiz dois anos de preparatório, isso era obrigatório. Quem ia para Medicina fazia preparatório de Medicina, quem era Advocacia para o preparatório da Advocacia, e quem é Engenharia fazia preparatório para Engenharia. Depois disso eu fiz um ano de cursinho, como se faz hoje e aí fiz o vestibular e passei lá na Politécnica e me formei Engenheiro Químico lá.
P/1 – Na Politécnica?
R – Aham.
P/1 – Mas o Senhor tinha quinze anos quando veio para São Paulo?
R – Quinze para dezesseis.
P/1 – Mas aí o senhor tinha que fazer o Ginásio ainda?
R – Não, já saí do Ginásio, antigamente era assim: quatro de Primário e cinco de Ginásio, nove anos.
P/1 – Uhum. E o colegial?
R – Eu comecei a estudar com seis para sete anos.
P/1 – Certo…
R – E aí formei e fui embora.
P/1 – Mas dezesseis, dezessete, dezoito... Com que idade o senhor prestou o vestibular?
R – Foi em 1944, estava com vinte anos.
P/1 – Então, mas a minha pergunta é, o senhor dos quinze aos vinte, como é que foi esse período então?
R – Tinha quinze para dezesseis, vamos dizer, o fim do ano foi dezesseis. Dezessete e dezoito eu fiz o pré. Dezenove eu fiz o cursinho e vinte eu entrei na faculdade.
P/1 – Hum... o senhor já sabia…
R – Eu entrei em 1944, que eu tinha, quer dizer, tinha dezenove, ia fazer vinte. Entrei em março e ia fazer vinte só em setembro, era dezenove. E depois saí em 1948.
P/1 – E seus pais conversaram sobre o seu futuro com o senhor?
R – Olha, era um pouco... Queriam saber se eu ia bem, isso é importante. Porque a minha mãe, tinha uma senhora que tinha uma livraria em São Paulo, Loja do Livro Italiano, e ela confiava muito nela, então de vez em quando eu ia na livraria para ver, para conversar, ela perguntar e realmente era uma pessoa de confiança que minha mãe acreditava; agora, de Santos, quando ia no fim de semana não, ali era trabalhando porque eles não paravam, né. Eles não tinham muita escolha.
P/1 – Uhum. Mas em relação à sua profissão, o que que o senhor acha que determinou essa sua escolha de profissão?
R – Agora eu tenho que falar a verdade. Eu sempre tive uma tendência por Ciência desde pequeno com aquela montagem que eu tinha seis, sete anos, já fazia minhas montagens, depois o rádio estava começando na época, comecei a estudar rádio por minha conta, fiz aqueles radiozinhos de galena que põe no ouvido, então era assim, coisa de Primário mesmo, mas dava para fazer. Então minha mãe disse: “Olha, você não dá para comércio não, você vai estudar Engenharia”, e resolveu. E realmente era uma tendência natural, paciência. Sempre foi, né, Literatura e sempre coisas de ciências, coisas assim. E fui crescendo dessa forma, formei ainda, parei no programa da White Martins e só, apliquei só isso.
P/1 – E como é que eram os anos da faculdade? O Senhor teve algum professor que marcou, uma lembrança, alguma conquista?
R – Tinha, o professor de Cálculo que ninguém passava, já por princípio, ele era professor do primeiro e segundo ano, e ele fazia exame escrito e oral. Então ele julgava o camarada e ficava na dependência e tal, esse era o pior, mas teve gente muito boa, por exemplo, o professor de Física, isso em 1943, não, 1945. Mas gente boa mesmo, daqueles professores muito bons, assim era conhecido já, até na praça já sabiam que ele era assim.
R – E, assim, que livros marcaram a sua formação até entrar na faculdade, e durante a faculdade fora as disciplinas mesmo obrigatórias.
P/1 – Não, olha... Na escola que eu peguei, tinha uma biblioteca boa, mas a fase que eu peguei foi a fase da guerra, então no Brasil não chegava livros do exterior. Então eu ia na biblioteca da escola e era Francês e Italiano, e uma vez ou outra estudava ali na livraria da amiga da minha mãe, eu comprava um livro, eram livros típicos da época. Depois, Química tinha um livro americano de Química e Orgânica de características. Mas assim livros mesmo, liberdade de comprar livros estava difícil por causa da liberdade de importação, por causa da guerra né, a guerra terminou em 1945.
P/1 – Está me dizendo então que o senhor sabe o Inglês, Francês e o Italiano?
R – Desde criança minha mãe mandava eu estudar o Inglês, mas era aquela coisa que... Depois eu peguei, mais quando eu entrei na White Martins. Não é um Inglês correto, é um Inglês técnico para entender as instruções que tinha que fazer, depois ficou um pouco melhor, já dava para falar, é simples. É, o Italiano eu falava em casa, o Francês eu tinha um amigo que me mandava falar com ele, então ele fazia questão da gente falar em Francês com ele, aí na hora do recreio as pessoas aproveitavam para falar em Francês com ele, mas assim, em estética, foi mais essa época dele, e depois em 1944, 45 começaram a ter livros estrangeiros, americanos.
P/1 – E dava para o senhor entender para continuar a faculdade com aquela bibliografia.
R – Dava para entender tudo.
P/1 – Mas, os livros de infância, o senhor lembra algum, literatura?
R – Não.
P/1 – A sua mãe lia para o senhor antes de dormir?
R – Não... Não dava, eles trabalhavam, cada um cuidava da sua vida. Não tinha essa relação de pai para filho. A gente sentia que era controlado. Mas eles trabalhavam muito, né, então a gente dormia antes, jantava antes, então aquela relação de família de pai para filho, era o espírito da família que existia tanto.
P/2 – Senhor Gilberto, e na faculdade, você lembra de como os alunos eram na sala de aula, eram meninos meninas?
R – Não, naquele tempo era só menino no Primário, era só menino na faculdade, eram poucas mulheres. Na minha turma tinha uma, a Grace, ela que é de família tradicional, e era a única que estava estudando Engenharia Química também…
P/1 – Ela era a única menina da sua sala?
R – Da turma, era a única, mas depois foi evoluindo, mas não havia…
P/1 – Quantos homens tinham na sala?
R – Cerca de quarenta. Era bastante gente, laboratório dividia em turnos porque não cabia gente, mas eram... Bem, o estudo no Brasil era sempre apertado, não tem estudo que não a questão precisar melhorar…
P/1 – É, Seu Gilberto então o senhor entrou na faculdade e viu que era isso que o senhor queria fazer da vida.
R – É, porque o vestibular era duro, que nem hoje, se você quiser seguir uma carreira vai em frente porque começar de novo é muito difícil. Depois que eu estava na White Martins há alguns anos, eu cheguei a me inscrever mais uma vez em Engenharia Mecânica, eu era Engenheiro Químico, mas não deu, não podia sair da White Martins na hora que eu precisava, então foi assim... Mas fiquei satisfeito…
P/1 – O senhor fez estágio, era como fazer estágio naquela época?
R – Naquela época não fiz estágio, não fiz estágio, mas em compensação me formei em 15 de dezembro de 1948, e em janeiro eu entrei na White Martins.
P/1 – E como é que a White Martins apareceu na sua vida?
R – Bem, eu estava sentado na porta da escola, no chão, ai apareceu um colega de turma e falou: “Gilberto, tem uma firma ali na Florêncio de Abreu procurando engenheiros, você não quer ir lá?”. E fui, e tinha um senhor inglês e um senhor americano. Então eles fizeram uma entrevista, meu Inglês naquela época não era muito bom, mas deu para entender o que eles estavam falando. “Então está bom, amanhã você vai lá na vila e preenche a ficha.” E comecei. Fui lá no dia quatro, no dia cinco eu estava empregado.
R – Você lembra da entrevista como foi, o que eles perguntaram?
P/1 – Ah... Eu não sei te dizer, escola, formação, essas coisas básicas de entrevista, foi uma entrevista rápida, coisa de meia hora.
P/1 – Não teve psicotécnica, dinâmica de grupo? Não tinha psicólogo na entrevista?
R – Não, não tinha ninguém para trabalhar, botaram eu mesmo.
P/1 – (risos)
P/2 – Você lembra quem eram essas pessoas?
R – Bem, deixa eu ver, um era o um inglês, era um americano que era uma pessoa muito correta, que depois dez anos ele ainda lembrou de mim. E eu tô ficando velho, mas era uma pessoa muito boa, era o Roger. É, ele fez a entrevista e tal, depois de dez anos, “Como está lá na White Martins?”, ele queria saber se a entrevista dele valeu em alguma coisa.
P/1 – Então o senhor está me dizendo que o senhor fez essa entrevista em Inglês?
R – Bem, o americano estava de viagem, e o inglês era um camarada, é, bem não sei, depois o senhor Guilherme o mandou embora. Ele era um camarada que veio da Inglaterra depois da Primeira Guerra, quis se estabelecer no Brasil, antigamente tinha aquela questão de terra, acabou indo trabalhar na White Martins.
P/1 – E como é que foi o seu primeiro dia na White Martins, você lembra?
R – Bom, deixa eu ver... Primeira semana.
P/1 – Primeira semana.
R – Eu cheguei vestindo o macacão. Porque ali... E aí comecei, porque a indústria naquele tempo não tinha um desenvolvimento tecnológico que tem hoje então, por exemplo, o gás era vendido em cilindros, e o cilindro precisa de uma manutenção contínua, então essa manutenção em expansão no interior do cilindro, limpar o centro, tirar a água, então depois de seis meses eu passei para as máquinas…
R – O senhor pode ficar à vontade, se quiser dar uma paradinha.
[Pausa]
P/1 – Então nós estávamos na primeira semana da White Martins, o senhor fazendo a manutenção de equipamentos…
R – Hidráulicas, cilíndrica, e depois de seis meses eu passei para produção, inclusive de cilindro, sempre trabalho de baterista, trabalho mais pesado da usina era o baterista, mais aí para treinar, era meio assim. E aí fomos treinar, mas tinha que resolver, né.
P/1 – Esse treinar? Eu queria entender um pouco melhor esse treinar que o senhor está falando…
R – Essa operação, essa parte do cilindro era uma operação, desde reparo de válvulas como de cilindros, então tem aqueles cilindros que eram cerca de trinta cilindros de uma vez e era só no local para perceber o gás.
P/1 – E o local onde você fazia isso…
R – É em Água Branca. Antes de construir o prédio, começou lá em São Paulo. Era um terreno que tinha sido construído... Um terreno que tinha sido um galpão para alguma outra indústria, e o Seu Guilherme comprou. E, primeiro foi em Jundiaí e aqui do Rio foi em 1912 e em Jundiaí foi em 1915 e em São Paulo foi em 1916. Depois que eu entrei, já estava mais evoluído, mas no mesmo local, com as mesmas coisas. Depois é que se fez o prédio.
P/1 – Eu estava dizendo da época, é essa primeira semana de trabalho, na época que o senhor ainda estava morando com o amigo?
R – Na primeira semana, eu já morava sozinho.
P/1 – Ah, já morava sozinho.
R – Eu já morava, antes de me formar, porque eu já morava na pensão, depois, quando eu já estava na Engenharia, eu achei uma pensão melhor. Eu já estava sozinho nessa pensão, na casa de uma portuguesa, uma senhora que me alugou o quarto, aí eu fiquei na casa dessa senhora até eu me formar. Eu me formei logo depois, uns dois anos depois, aí eu podia manter um apartamento.
P/1 – Então, voltando para White Martins, vou tentar “linkar” a sua vida um pouco pessoal com também a profissional. Na White Martins, o senhor ficou na mesma área...
R – Aí eu fiquei na produção.
P/1 – Vamos parar um pouquinho porque a fita acabou.
[pausa]
P/1 – Então nós estávamos em Água Branca.
R – Sim, em Água Branca eu fiquei até 1960, até eu construir a usina em Osasco, então na época eu trabalhava em Osasco, que é uma usina, uma das maiores da América do Sul. Era o que havia de melhor na época, hoje não está mais lá. Era uma planta que produzia cerca de mil metros cúbicos por hora. E foi bom, foi uma experiência muito marcante, para White Martins e para mim. Porque eu participei, praticamente dividi a obra, para White Martins foi um grande passo, porque essa planta produzia muito líquido, foi onde começamos a distribuir e criar muitos clientes, isso daí foi um marco muito grande para White Martins.
P/1 – Você lembra quais clientes tinham na White Martins na época?
R – Hein?
P/1 – Os clientes, o senhor lembra quais eram na época?
R – Ah os clientes da White Martins era o mundo.
P/1 – Eram muitos.
R – É, porque todo mundo era cliente da White Martins, eram indústrias, firmas, empresas, eu preparava os caminhões para ir atender os fregueses, tinham hospitais pequenos, tinham hospitais grandes, então foi uma evolução. Porque, realmente, o processo na White Martins já nessa época representava o que há de melhor em transporte e distribuição de produto. É, o produto chega na casa do cliente nas medidas necessárias de quantidades, e também em um custo mais baixo de transporte, essa que é a finalidade desse processo que começou na década de ou na década de trinta nos Estados Unidos.
P/1 – Em 1970 qual era a sua função?
R – Em 1970 eu era Gerente de Produção, depois em 1972 eu fui transferido para o Rio também, como Gerente.
P/1 – E como que eram essas funções?
R – O negócio antigamente era difícil porque não tinha comunicação, era difícil. Em Belém do Pará tinha um problema com a máquina, aí tinha que mandar um telegrama para chegar no Rio comunicando, era mais coisa de operação ou coisa de comunicação. Era um trabalho contínuo em que a preocupação era em operação, isso é o que o Seu Guilherme Martins falava: “Faz qualquer coisa, mas deixa essa máquina mirando”.
P/1 – E isso eram esses maquinários? Quais eram exatamente?
R – Eram compressores, compressões enormes, também tinha uma coluna isolada dos equipamentos que fazia a separação oxigênio de nitrogênio, hoje tem tudo muito mais eficiente…
P/1 – Mas esse maquinário era fabricado no Brasil?
R – Bom, esse maquinário, a White Martins sempre foi cliente de uma empresa alemã, isso em 1962. É o seguinte, foi depois que a Praxair passou a ser sócia da White Martins, cerca de 1947. Então a gente começou a aproveitar a tecnologia que eles tinham, mas não era essa tecnologia do oxigênio, quando foi em 1954, a tecnologia de transporte de oxigênio nitrogênio, veio com eles. Mas aí naturalmente valeu a pena porque a Praxair deu assistência para gente. Agora nós tínhamos em engenharia, construção que é a montagem, que é feita por nós mesmos.
P/1 – Ah tá…
R – A parte das primeiras máquinas que eram feitas na Alemanha e em Osasco eram montadoras alemãs, da orientação. Mas aí começou a história. Isso foi em 1962, 65. Aí começou uma história, o Governo começou a bloquear a importação no Brasil, tinha coisas que não tinha como, as turbinas... Mas a mecânica da coisa, o transporte, tinha caminhões, carros, e começamos a fazer aqui na Avenida Brasil. E assim fomos evoluindo. No fim da década de setenta, já fabricávamos aqui no Brasil.
P/1 – E qual era a matéria-prima básica para construir esses equipamentos?
R – O básico era (corte de áudio).
P/1 – (corte de áudio) de produção de cobre e alumínio brasileiro?
R – Não, nós comprávamos, já vinha pronto da Alemanha.
P/1 – Então vinha um navio, e vocês tinham que esperar fazer um pedido?
R – Era um contato grande. Então fazia o contrato, fazia o planejamento. O que vamos fazer? Quando vamos fazer o planejamento das bases? Tinha um planejamento de fabricação da fabricação de transporte, e tudo era…
P/1 – Você falou que tinham uns engenheiros alemães que vinham para cá…
R – Montadores…
P/1 – E tem mais alguma curiosidade aí?
R – Naquele tempo não havia satélite, telefone direto assim, na década de sessenta que as coisas de comunicações melhoraram, antes era muito difícil. Acho que em 1957 eu tive um acidente com um cilindro e para comunicar foi uma dificuldade. Era difícil, mas a fábrica não parava não.
P/1 – Hoje a segurança da White Martins é prioridade, como é que era naquela época?
R – A gente mesmo que fazia as coisas, não havia organização de segurança, mas também naquele tempo não havia um grande movimento, as coisas eram menores. Então era arriscado, mas não havia... Isso começou com um camarada que começou com isso. Ele começou com essa parte de parâmetros americanos de segurança.
P/1 – Seu Gilberto e a estrutura da White Martins daqui a cem anos, como ela será?
R – A estrutura da White Martins é acompanhar a essas ideias novas, que vão levando a diferentes tipos de operação e assim vai, daqui a cem anos a tecnologia vai ser muito diferente.
P/1 – O senhor acha que então a cadeia produtiva do gás tem uma longa vida?
R – Tem, bastante, tem porque é uma necessidade, você vê o industrial, lá na Bahia, por exemplo, você tem uma série de gases do petróleo, mas você precisa do nitrogênio, oxigênio…
P/1 – E se eu dissesse assim, volta tudo para trás, e olhar, fazer um retrato geral, o antes e os depois, quais foram as suas conquistas e o que você acha que foi uma conquista no Brasil. O antes e depois.
R – Bom, cinco milhões para dois milhões. Então esse é o impacto de criatividade, o arrojo de estalar, de ir para frente, e da força de vendas que a companhia teve, então esse trato de vendas que a companhia fez. Eu entrei trabalhando na produção e muitas vezes eu via esse crescimento, via, “esse lugar vai ficar bacana”. Mas, com o tempo, eu vi crescendo e a White Martins sempre crescendo.
P/1 – Quer fazer alguma pergunta? Senhor Gilberto, o que o senhor achou dessa entrevista?
R – Bem, eu não tenho saído muito, e não tenho visto tanta coisa, aí todo mundo ficou falando “vai, você vai ver que é bom participar”. Mas eu nunca esperei que fosse assim, foi uma confissão em que eu falei toda a verdade do que eu sentia e o que eu sinto hoje. Essa oportunidade de reviver a vida.
P/1 – Muito obrigado, foi muito importante para a gente a sua presença aqui, muito obrigado.
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