Petrolândia, final da década de 40. Uma sociedade local sem clube e sem sócios, preconceituosa, reacionária e pobre. Porém, a cada seis meses organizava um baile para se reunir e apresentar os filhos e novos parentes a sociedade. E, claro, confirmar entre si, e suas famílias, que só eles eram dignos de compor aquele grupo.
A família mais culta de Petrolândia era disparada a família Menezes. Eles não se envolviam abertamente em disputas, eram meio neutros e se mantinham a parte dos problemas locais. Evitavam conflitos, tipo assim: quando convidados para um velório não iam. Quando iam, nem choravam e nem sorriam. Desculpem-me , mas a rima me persegue.
Naquele ano o baile fora organizado no salão de espera da estação da rede ferroviária Federal (GREAT WESTERN). Um cidadão recém chegado em Petrolândia, entendeu que o baile era para todos. Então, se embonecou e foi à festa. Não sem antes passar na residência de um sapateiro ,também recém chegado na cidade, que apesar do pouco tempo já era conhecido pelo requinte em dar nó em gravata.
O baile corria dentro da normalidade, até que o desconhecido adentrou ao evento. Estatura media,loiro,trajava um terno de linho branco, sapatos bicolor,camisa azul clara e gravata listrada com um cheio e bem feito nó Windsor. Em pouco mais de dez minutos o cavalheiro em questão estava cercado por senhoras carolas,senhores arrogantes, rapazes ciumentos e donzelas ofegantes.
O barulho era geral, a bandinha tocava um fox e os casais dançavam um baião, mas quem se aproximou ouviu a conversa: “Ousadia,um estranho pé rapado,um mecânico sujo de graxa e óleo ousar macular um grupo sagrado como o nosso? Falta do devido respeito com a alta Sociedade de Petrolândia!".Então, cercaram o cidadão como se fosse um bandido e o convenceram, quer dizer, convidaram quase que coercitivamente a se retirar.
Depois disso, sobrou o arroubo dos senhores, a fofoca das senhoras, o alivio...
Continuar leitura
Petrolândia, final da década de 40. Uma sociedade local sem clube e sem sócios, preconceituosa, reacionária e pobre. Porém, a cada seis meses organizava um baile para se reunir e apresentar os filhos e novos parentes a sociedade. E, claro, confirmar entre si, e suas famílias, que só eles eram dignos de compor aquele grupo.
A família mais culta de Petrolândia era disparada a família Menezes. Eles não se envolviam abertamente em disputas, eram meio neutros e se mantinham a parte dos problemas locais. Evitavam conflitos, tipo assim: quando convidados para um velório não iam. Quando iam, nem choravam e nem sorriam. Desculpem-me , mas a rima me persegue.
Naquele ano o baile fora organizado no salão de espera da estação da rede ferroviária Federal (GREAT WESTERN). Um cidadão recém chegado em Petrolândia, entendeu que o baile era para todos. Então, se embonecou e foi à festa. Não sem antes passar na residência de um sapateiro ,também recém chegado na cidade, que apesar do pouco tempo já era conhecido pelo requinte em dar nó em gravata.
O baile corria dentro da normalidade, até que o desconhecido adentrou ao evento. Estatura media,loiro,trajava um terno de linho branco, sapatos bicolor,camisa azul clara e gravata listrada com um cheio e bem feito nó Windsor. Em pouco mais de dez minutos o cavalheiro em questão estava cercado por senhoras carolas,senhores arrogantes, rapazes ciumentos e donzelas ofegantes.
O barulho era geral, a bandinha tocava um fox e os casais dançavam um baião, mas quem se aproximou ouviu a conversa: “Ousadia,um estranho pé rapado,um mecânico sujo de graxa e óleo ousar macular um grupo sagrado como o nosso? Falta do devido respeito com a alta Sociedade de Petrolândia!".Então, cercaram o cidadão como se fosse um bandido e o convenceram, quer dizer, convidaram quase que coercitivamente a se retirar.
Depois disso, sobrou o arroubo dos senhores, a fofoca das senhoras, o alivio dos rapazes e a tristeza das moçoilas. Para o bem de todos, isso é , menos das donzelas, o homem foi embora. O baile foi reiniciado e a vida continuou, continuou e continuou...
Por fim, esse homem hoje empresta o seu nome e alcunha ao maior monumento da cidade. Ou seja, o estádio municipal de futebol de Petrolandia, ,palco de futebol local: ESTÁDIO MANUEL ANÍZIO DA MOTA , O GALEGÂO (¹).
OBS: THE GREAT WESTERN OF BRASIL RAILWAY COMPANY LIMITED foi uma empresa Ferroviária inglesa que construiu e explorou ferrovias no nordeste do Brasil .Em Petrolândia e talvez em parte do nordeste usava-se uma corruptela e todo mundo a conhecia como GRETUESTA.
Dimas Rodrigues. Petrolândia, 30.06.2021
(¹) MANOEL ANISIO DA MOTA , o Galego* - Nascido no município de Capela, Sergipe, em março de 1919, veio para Petrolândia, Pernambuco, trabalhar como soldador nas obras de irrigação do Núcleo Colonial Agroindustrial do São Francisco e, depois, nas obras hidrelétricas de Paulo Afonso, Bahia.
Empreendedor por natureza, logo construiu um galpão onde instalou a Oficina Mecânica Mota e um prédio para o seu Hotel Central na entrada da cidade, no lugar conhecido como Shell. Era a época em que ônibus não viajava à noite e os passageiros dormiam no hotel e se fartavam com biscoitos cream cracker no café da manhã, uma novidade.
Apaixonado por futebol, ao ponto de ir até o Rio de Janeiro só para ver Pelé jogar, resolveu construir um estádio e montar um time profissional formado por jovens da cidade e municípios vizinhos, com direito a salário e residência no hotel. O Central Futebol Clube de Petrolândia tornou-se referência na região e proporcionou grande movimentação ao Estádio (primeiro campo murado de tijolos da região), coroada com um jogo do Central X Santa Cruz do Recife
Em 1967 inaugura outra construção: o Clube Piçarrinha. Clube histórico por acolher todos os grupos, particularmente os jogadores, a torcida do Central e negros pobres. . Se desfaz dos seus bens e diz adeus a Petrolândia com destino a Paulo Afonso. "O Piçarrinha foi um arco de cidadania e civilidade em Petrolândia, embora, talvez não reconhecido “ ( Jose Izídio da Silva ,em A Serra e o Rio)
*No museudapessoa.org, visite a coleção Petrolândia e conheça a história de vida completa. *
Recolher