Me chamo Cleuza Izabel Marques, nascida em 03/07/1981, filha de Neuza Melquiades Soares Marques e José Cipriano Marques. Nasci na cidade de Caeté, no bairro chamado Horto do Cutão. Uma parteira veio ajudar minha mãe no meu parto. Tive o imenso prazer de viver do lado de minha mãe até quase completar os 2 anos de vida, por isso não tenho lembranças de seu rosto. Minha mãe faleceu no dia 24 de Maio, bem no dia que meus irmãos iam fazer aniversário. Ela teve vários filhos, não sei quantos foram no total, mas o que sobreviveram eram 8, sendo 5 moças e 3 homens, sendo que desses 3 homens 2 eram gêmeos. Meu pai não era um pai bom. Judiava muito de minha mãe e de mim e dos meus irmãos. Não fazia compra e não deixava minha mãe sair nem sequer no terreiro. Então nós ficávamos o dia e a noite dentro de casa trancados. Minha mãe só de cama, já estava bem mal. Meu pai não gostava de ver minha mãe feliz, até cinza do fogão de lenha ele colocava nas portas do lado de fora. Se tivesse rastro de gente ele perguntava do rastro que estava lá na cinza. Às vezes estava aquele solão bem quente, as janelas não podiam ficar abertas. Meu pai saia pra todo lado e eu, meus irmãos e minha mãe ficávamos presos dentro da caso que nós morávamos. Os anos foram passando quando minha mãe veio a falecer na casa da minha avó que era a mãe da minha mãe, eu sem entender que não ia mais poder ouvir sua voz, chorava pra lá e pra cá, gritava minha mãe e nada dela mexer. Meu pai na maior covardia mandou o João olhar o defunto no caixão só pra ele ir pro boteco jogar truco. Chegando no boteco meu pai dava cada grito muito alto, "truco!","truco!", e seus filhos sem entender nada. Depois que minha mãe falecer eu e meus irmãos continuamos sofrendo. Minhas tias tanto por parte de pai quanto por parte de mãe nunca quiseram nos ajudar nem nos olhar. Mas tive que ir pra casa de uma delas, sem eu ter pra onde ir. Chegando na casa de minha tia eu tinha...
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Me chamo Cleuza Izabel Marques, nascida em 03/07/1981, filha de Neuza Melquiades Soares Marques e José Cipriano Marques. Nasci na cidade de Caeté, no bairro chamado Horto do Cutão. Uma parteira veio ajudar minha mãe no meu parto. Tive o imenso prazer de viver do lado de minha mãe até quase completar os 2 anos de vida, por isso não tenho lembranças de seu rosto. Minha mãe faleceu no dia 24 de Maio, bem no dia que meus irmãos iam fazer aniversário. Ela teve vários filhos, não sei quantos foram no total, mas o que sobreviveram eram 8, sendo 5 moças e 3 homens, sendo que desses 3 homens 2 eram gêmeos. Meu pai não era um pai bom. Judiava muito de minha mãe e de mim e dos meus irmãos. Não fazia compra e não deixava minha mãe sair nem sequer no terreiro. Então nós ficávamos o dia e a noite dentro de casa trancados. Minha mãe só de cama, já estava bem mal. Meu pai não gostava de ver minha mãe feliz, até cinza do fogão de lenha ele colocava nas portas do lado de fora. Se tivesse rastro de gente ele perguntava do rastro que estava lá na cinza. Às vezes estava aquele solão bem quente, as janelas não podiam ficar abertas. Meu pai saia pra todo lado e eu, meus irmãos e minha mãe ficávamos presos dentro da caso que nós morávamos. Os anos foram passando quando minha mãe veio a falecer na casa da minha avó que era a mãe da minha mãe, eu sem entender que não ia mais poder ouvir sua voz, chorava pra lá e pra cá, gritava minha mãe e nada dela mexer. Meu pai na maior covardia mandou o João olhar o defunto no caixão só pra ele ir pro boteco jogar truco. Chegando no boteco meu pai dava cada grito muito alto, "truco!","truco!", e seus filhos sem entender nada. Depois que minha mãe falecer eu e meus irmãos continuamos sofrendo. Minhas tias tanto por parte de pai quanto por parte de mãe nunca quiseram nos ajudar nem nos olhar. Mas tive que ir pra casa de uma delas, sem eu ter pra onde ir. Chegando na casa de minha tia eu tinha aí uns 2 pra 3 anos. Eu tinha que ajudar a cortar capim pra vaca, faça sol ou chuva eu e minha irmã tínhamos que buscar as vacas leiteiras no pasto, era muito mato, tratar dos porcos, lavar o chiqueiro, tratar de galinha, sendo que minhas primas tinham ar de madame. Já eu nem sei que vida eu tinha. Aí Deus ajudou que num belo dia o juiz de Caeté, que na época era juizado de menor, chegou na casa da minha tia e constatou que ela também judiava de mim. Aí na tentativa de me ajudar me entregou pro meu pai, mas eles ficaram de olho nele. Aí fui ficar com meu pai, não demorou muito e ele começou a me maltratar e dar eu pra quem quisesse. Com essa brincadeira do meu pai, eu fui parar na cidade de Três Corações. Chegando na cidade de Três Corações a mulher que me pegou só queria que eu e sua filha pedíssemos dinheiro pra ela encher a cara de pinga. Nisso nós fomos curtir o que tinha lá na cidade de Três Corações e pra mim brincar nos brinquedos tinha que comprar ingresso. Eu já estava muito cansada e queria dormir um pouco mas a mulher só queria mais dinheiro e como eu não queria mais pedir dinheiro ela queria me bater, e pra eu não apanhar dela comecei a correr porque eu até corria bem. Corri tanto que saí de onde ficava o gado que ia participar do rodeio, e como a mulher não conseguia me pegar ela falou com os policiais pra irem atrás de mim, mas nem a polícia conseguiu me pegar. Só conseguiram me pegar porque eu escorreguei no cocô do boi. Aí já foi juntando gente ao redor e a mulher que estava comigo os policiais viram que estava alcoolizada. Aí me deixaram lá na festa e levaram a mulher pra prestar depoimento na delegacia e eu lá na festa sozinha. Por sorte eu estava com dois ingressos no bolso. Eu peguei e fui brincar nos brinquedos pra eu distrair um pouco. Quando acabei de brincar fui procurar a mulher, mas pra minha surpresa eu não consegui encontrar mais ela. Então fiquei sozinha até que escureceu e realmente eu estava sozinha em um rodeio, numa cidade na qual eu não conhecia ninguém. Já era noite quando o sono ficou mais pesado e mais frio. Eu ali no rodeio sem saber o que fazer, foi então que olhei ao meu redor e pude ver várias caixas de papelão jogadas e eu tive a ideia de pegar algumas caixas e ir num canto da igreja e forrar as caixas no chão pra eu dormir ali mesmo. Mas Jesus estava comigo, e antes de eu encostar a cabeça no papelão Deus enviou um homem moreno, alto e forte. Ele veio em minha direção, e eu sem entender nada, ele aproximou e falou: "levanta daí". Como eu não o conhecia tive muito medo dele ser uma outra pessoa má e até querer judiar de mim, mas mesmo assim eu fui. Esse homem ganhou a minha confiança. Eu acompanhei ele até a barraca onde ele estava vendendo cachorro quente. Nisso ele me deu de comer e de beber, e os ingressos para brincar mais. Isso já era altas horas da noite, quando ele fechou a barraca e juntou seus familiares para ir embora e viu que eu estava mesmo sozinha, e também me chamou pra eu ir com eles. Chegando em sua casa, eu fiquei muito feliz, percebi que ele só queria o meu bem. Na cada tinha mulheres idosas, crianças e jovens. Então todos me tratavam bem, até que meu pai fica sabendo que a mulher que ele tinha me dado não estava mais comigo. Aí meu pai colocou o juizado de menor pra me procurar no mundo inteiro, até que me acharam nesse casa no centro de Três Corações. Aí me buscaram e me levaram pra Caeté. Aí resolveram me levar pra FEBEM e lá eu fiquei até completar a idade dos 14 anos. Aí sai e fui morar com minha tia que é irmã do meu pai. Como era só maus-tratos, eu e minha irmã fomos morar no André do Mato Dentro, distrito de Santa Bárbara. Minha vó, mãe de minha mãe, pediu ajuda da prefeitura de Santa Bárbara para fazer uma casa pra mim e pros meus irmãos, assim que eu sai da casa de minha tia fui morar lá na casa. Lá tinha 9 irmãos e uma irmão. Aí chegou eu e a minha irmã, eu fiquei morando lá até casar. Ainda na FEBEM estudei, pude ter bonecas, roupas novas e sapatos bonitos. Saí da FEBEM parei de estudar e roupas novas era raridade de ter, mas meus irmãos trabalhavam e faziam compras, coisa que meu pai jamais fazia. A comida não faltava, mas sapatos, roupas, era só se eu pegasse um bico e recebesse pra comprar, mas não deixo de agradecer meus irmãos até hoje. Eu fazia tudo que podia pra meus irmãos deixarem eu ficar na casa. E o tempo foi passando, eu completei 17 anos. Eu já era uma moça, mal sabia o que estava por vir. Quando eu mal sabia que era hora de eu casar, mas eu não casei até hoje. O João lembra que ficou olhando o corpo de minha mãe no caixão, ele me carregou no colo no dia que minha mãe falecer. Hoje nós somos amigados e temos três filhos, sendo um menino e duas meninas. Nós vivemos bem e ele me ajuda com as coisas de casa e eu também ajudo ele muito. Pro meu futuro, assim que fizer a cirurgia, arrumar um trabalho e assim viver bem melhor e até fazer uma viagem onde eu tenho vontade de ir, e assim só curtir a felicidade.
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