Introdução
Para algumas famílias o cenário de amor e respeito existe, já em outros lares não. Desta forma, considerações delicadas o leitor deve possuir ao entrar neste universo que será compartilhado na esperança de que se redobrem os cuidados com os pequenos gigantes de novas gera...Continuar leitura
Introdução
Para algumas famílias o cenário de amor e respeito existe, já em outros lares não. Desta forma, considerações delicadas o leitor deve possuir ao entrar neste universo que será compartilhado na esperança de que se redobrem os cuidados com os pequenos gigantes de novas gerações.
Porém, neste livro não quero olhares catastróficos e nem de vitimização, muito menos preconceituosos ao analisar o meu passado. Quero o contrário e desejo, com toda força que existe em mim, que cada história tenha efeito de alerta ao leitor.
Ajudar pessoas, esse é o intuito, de todas as idades, principalmente as que estão sendo confrontadas com pensamentos e lembranças dos abusos e as que estão sendo abusadas. Para que não desistam de viver livre de dores, não percam a coragem e busquem seus direitos. Espero que não pare a busca de encontrar a esperança de se reconstruir a cada etapa nova da vida a ti entregue.
Eu não quero falar apenas do abuso sexual infantil que sofri, mas sim de todas as crises e transtornos causados por ele. Expondo todas as dificuldades que tive no âmbito familiar, de tristezas, fraquezas, curiosidades e vícios, lembrando que cada ser humano lida de forma diferente com os traumas recebidos.
A ciência e a psicologia também têm importância neste livro, uma vez que através de estudos se explicam a mente e os comportamentos desses doentes e o desenvolvimento e alterações dos abusados.
Encorajar é a palavra-chave desse livro, a ser entregue a todos aqueles que estão envolvidos no cenário de abuso sexual, seja na primeira, segunda ou terceira pessoa. Lembrando também da grande importância das políticas sociais em escolas e em capacitações de professores.
Caro leitor, entenda que cada abusado precisa da força de todos para encontrar a sua própria, uma vez roubada covardemente.
Assim, gostaria de associar a minha superação diária e constante à fé. Sim, não encontrei ela em nenhum lugar senão nos braços de Jesus. Foi lendo suas histórias que me alimentava de esperança e valor, me enchia de criatividade para encontrar novos caminhos sem temer a vida solitária, este é uns dos temas abordados.
Com a imaginação e lealdade me cerquei de pessoas que me inspiravam, prática que sigo até os dias de hoje. Para me manter firme e confiante.
“Sempre tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, não o atormentado.”
Elie Wiesel
Repreensão e abuso
Passos e barulhos de chaves ressoavam aos meus ouvidos, me fazendo
esconder debaixo das cobertas, parecia uma múmia, o suor tomava conta do meu corpo e junto, o temor da minha alma.
Pesadelos me levavam para um mundo sombrio e solitário. Tinha pesadelos, visões ilusórias, fios se tornavam cobras, o balançar das cortinas em pessoas, era como se todos os objetos que estavam a minha volta tivessem vida. Acordava gritando ou andando pela casa, sempre abria a porta de saída no desejo interno de ir embora, minha mãe passou a esconder a chave de casa, desde o dia que me pegou descendo as escadas sonâmbula. Sentia-me ameaçada, sem forças e sem chance de escapar, pensava deitada em minha cama olhando para a coberta que cobria meu corpo dos pés à cabeça “tomara que ele esteja tão bêbado que a única coisa que ele se lembre e consiga fazer é vomitar”.
Nem sempre esse pensamento me ajudava, na maioria das vezes ouvia ele me chamar da sala em voz alta: “Jakeline, pegue água para mim.”
Quando ouvia a tv ligada e a voz do Jô Soares entrar aos meus ouvidos
sabia que tinha ordens a cumprir, chorava baixinho debaixo das cobertas fingindo estar dormindo e não estar escutando, nada adiantava, ele gritava meu nome da sala e muitas vezes me xingava. Minha mãe já deitada em seu quarto, repetia o pedido dele e me chamava gritando: “Jakeline, não está ouvindo? Obedeça a seu pai!”.
E lá ia eu, morrer mais um pouco, sim, era sim uma morte, me sentia suja e impotente. Em passos pequenos e acelerados de cabeça baixa chegava à cozinha, pegava o copo com água, com as mãos trêmulas o entregava, ao pegar o copo ele puxava minhas pernas e ali se satisfazia, fazia sexo oral em mim deitado no sofá, eu em pé. Ele me machucava, esfregava o dedo em minha vagina e depois me empurrava para longe e cuspia no canto da parede, minha mãe costumava deixar um pano na quina da parede, penso para ficar mais fácil para ela limpar no dia seguinte aquela nojeira e mania dele.
Tinha medo de ir ao banheiro e ser atacada durante a madrugada, então tudo o que tinha que fazer, fazia antes de estar sozinha, era como se estivesse em uma maratona. Quando sentia vontade, chamava minha meia-irmã, quando ela não acordava eu aguentava até amanhecer; ou quando eu não tinha mais forças, fazia xixi pela janela do quarto, para não correr o risco de encontrá-lo, era torturador.
Havia noites pesadas que chorava com medo de tudo e ela me acalmava e me fazia dormir, achando que eu tinha medo do escuro, deitava-se comigo em minha cama, cantava uma canção bem baixinho passando a mão em meus cabelos: “Jesus está aqui, aleluia, tão certo como que eu respiro, tão certo como o amanhã que se levanta, tão certo como eu te falo e podes me ouvir...” Embora ela não fosse uma pessoa que falasse de Deus ou demostrasse crença em algo, sempre cantava essa canção em momentos de angústia e dor.
Chorar adiantaria?
falar?
fugir?
Pedir ajuda?
Sem orientação
Nada foi possível
E por isso pulverizar
Essa questão é urgente.
Falar de dor, o que adianta agora?
Eu precisava e preciso de um pai. Junto a esse abuso ele me levou outras pessoas que amava impensadamente.
Tirou minha identidade por anos, fiquei perdida, e o principal: roubou o amor fraterno e afetuoso muito cedo.
Ainda hoje preciso de um pai, mas sei que infelizmente jamais terei.
A dor é imensurável, ela machuca os meus passos, meus sonos, meus planos, meu viver.
Falar de dor que vivi na hora dos abusos agora, o que adiantaria?
Sou órfã de pai vivo, isso é tudo e não sou a única, essa é realidade de muitas Jakelines: o não ter em quem se apoiar, dividir medos, planejar viagens, reunir a família finais de semana e em datas comemorativas, tudo isso foi retirado de \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"NÓS\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\" de forma brutal e cruel.
O que mais dói é saber que essa reconstrução não será feita, e que sempre terei que me conformar com este destino triste e ausente da figura paterna.
Minha dor machuca hoje em dia meus filhos, pois aqui em casa eles não me veem comemorar o Dia dos Pais, e nem eles o dia do avô, pois seu avô paterno amado faleceu.
Marcas que ninguém irá tirar, nem a justiça divina, nem a terrena, nem políticas sociais.
Uma forma de prevenir este sentimento que machuca as vítimas de abusos sexuais será sempre o da prevenção, o grito de alerta por todas as autoridades competentes, dar o grande passo que o mundo precisa. Precisamos falar sobre isso com as crianças e com toda sociedade e punir com severidade estes doentes criminosos.
Hoje em mim, além da dor carrego revolta, pois não desejo que outras vítimas vivam o meu presente.
Meu intuito aqui não é criar um personagem, eu sou real. Minha história de vida também é em cada detalhe. Estou descrevendo situações de vida em experiências das quais não me envergonho, e de algumas não me orgulho, porém são histórias que meus filhos desconhecem. Mas um dia irão ler e me conhecer melhor.
Minha dor está desde quando menciono o ano de 94 com exatidão e clareza dos abusos e traumas que vivi.
Talvez eu não consiga fazer com que todos os leitores entendam ou sintam minha dor. Mas se servir de alerta para a relação disso e do desvio de personalidade, isso para mim já é o suficiente.
Muitas pessoas vivem presas às drogas, outros se matam, outros mudam de sexo, outros se tornam abusadores, \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"outros\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\", entre uma infinidade de \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"outros\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\" desencadeiam dentro do indivíduo diversos transtornos, tudo causado pelos horrores vividos.
Minha dor está na alma e em cada palavra deste livro.
O quarto andar
Lembro-me do quarto andar, lá morava um senhor negro, baixo, que trabalhava desenhando casas, tinha uma noiva que vendia joias e planejavam se casar. Isso o motivou a reformar seu apartamento. Como minha mãe era a faxineira do prédio, ele recorreu a ela para manter a ordem de seu apartamento diante da bagunça causada pela reforma.
Eu ajudava a minha mãe a lavar o prédio toda semana. Enquanto ela esfregava o chão e as escadas, eu segurava a mangueira, depois eu puxava a água com o rodo e ela ia jogando água, assim seguíamos. Para finalizar tínhamos que passar pano, enrolar as mangueiras e guardar os materiais de limpeza, era cansativo e durante o trabalho não conversávamos.
Quanto a não gostar do quarto andar, havia momentos durante aquela construção nos quais o meu genitor me levava até lá, acredito hoje ao pensar sobre esses momentos de tortura, que ele devia pegar a chave escondido. Quando ele me chamava para acompanhá-lo eu já sabia o que aconteceria comigo, ele geralmente me colocava em cima da pia da cozinha, em um anglo que não desse para o vizinho do prédio da frente ver. Recordo-me de ele ir à janela e sempre olhar naquela direção, para depois me pegar no colo e me sentar na pia. Depois dele realizar o que queria, ia ao banheiro, lavava seu rosto e mexia em algo. E eu ficava paralisada perto da porta da sala esperando-o deixar eu descer. Sentia ardência porque na maioria das vezes a barba crescendo me machucava, ele sempre ejaculava se masturbando, as vezes só olhando ou mexendo em mim ao mesmo tempo.
Talvez tudo tenha começado antes de eu andar. Tenho lembranças vagas, lembro-me de que quando íamos dormir ele me levava para um quarto separado da casa, lá era sujo, fedia e tinha uma madeira cor de rosa que separava dois cômodos. Também lembro dele me colocar no pescoço e me levar em um parquinho e eu sempre estava chorando muito, pedindo que me levasse embora para minha mãe. Certa vez recordo-me dele mandar eu tirar a calcinha porque já estava de pijama e não precisava, neste mesmo dia entrei em desespero, chorava tanto que a própria mãe dele mandou que ele me levasse embora. Ao chegar em casa batemos na porta e minha mãe não atendia, em desespero, corri para o apartamento da vizinha, assim que ela abriu a porta eu a abracei, ela tinha cabelo alaranjado, cacheado e longo. Nesta época meus pais não moravam juntos.
Infância roubada
Sempre brinquei na rua e nos finais de semana era como se eu não tivesse casa, ficava o máximo que podia brincando, chegava a comer nas casas das vizinhas. várias vezes minha mãe e Manuela saiam sem que eu percebesse, uma ia para a casa de amigas, a outra à casa de sua mãe ou amigas também. Quando ele me chamava aos gritos e assoviava pendurado na sacada “Jakeline, sobe agora”, eu já sabia que estava sozinha e eu não tinha outra opção a não ser obedecê-lo. Subia as escadas nervosa e sem paciência.
Tudo o que eu tinha que fazer era ficar quieta e realizar tudo o que ele me
mandava. Geralmente quando eu entrava em casa ele dizia: “tranca a porta e vem aqui”.
Às vezes estava no banheiro se masturbando ou sentado no sofá com uma bermuda deixando aparecer seu pênis pela lateral, ele me obrigava a mexer em seu pênis e o colocava em minha boca, lembro-me de que tinha ânsias de vômito.
Se estivesse no banheiro, colocava-me deitada no chão e me lavava com força, me machucando. Sorrindo falava: “sempre cuidei de você”, e me perguntava: “você está gostando?”.
Eu respondia perguntando onde estava minha mãe e pedindo: “eu quero brincar, me deixa descer para brincar.”
Ele dizia: “sim, deixo agorinha”; e continuava. Levava-me para o quarto, para a sala, mas antes eu tinha de ir à frente fechando as cortinas.
Por muitas vezes me posicionava classificando os nomes sexuais e dizendo: “estou te ensinando isso porque vai fazer com seu marido”.
A televisão sempre estava ligada, eu fechava os olhos e ouvia Jeca tatu, ou alguma narrativa de documentário sobre natureza dos programas que passavam geralmente aos finais de semana. Sentia um desespero que me deixava sem ar, não gostava do cheiro que sentia.
Quando eu voltava para brincar, era a pior companhia que poderia existir, sinceramente não sei como minhas amiguinhas me toleravam. Eu que tomava as decisões, se não me obedecessem, parava com a brincadeira de todos, fazia as regras e uma delas era ninguém mandar eu fazer nada.
Trago um exemplo para deixar mais claro como eram as minhas atitudes: se fôssemos brincar de queimada e a bola me atingisse eu simplesmente não aceitava, brigava e ameaçava acabar com a brincadeira, furando a bola ou levando ela embora, tudo era dessa forma e fiz isso algumas vezes com muita raiva.
Quando eu me cansava de mandar nas brincadeiras e de brigar com meus amigos, eu me isolava, morava em um prédio de quatro andares e cada degrau das escadas que subia era um universo, a música se tornava a minha melhor companhia junto com a paisagem que buscava ver, subia até o porão para atingir o telhado e lá ficava até escurecer. Havia morcegos e essa era a única parte de que tinha medo, mesmo assim sempre os enfrentava, abaixava minha cabeça e não os olhava. Quando chegava no topo via tudo pequeno, me sentia gigante, inatingível, andava em volta do prédio com muito equilíbrio, qualquer descuido eu cairia e a morte seria certa, repetia a mesma música como se fosse um disco furado.
A Montanha
Nos momentos alegres, subia em companhia de minha amiga inseparável
Rosa, raros momentos de esquecimento da minha realidade que ao pisar em casa se desfazia.
Talvez eu viva em um mundo o qual Nietsche descreve como aquele em que somente os incapazes acreditam no céu.
Sim declaradamente abraço esse pensamento dele, porque eu realmente sou incapaz de viver um dia sequer sem depositar minha esperança nas coisas do céu.
Controvérsia sobre sua morte ainda pousa entre dúvidas em vias que se diz sobre suicídio ou demência. Atrevo-me a dizer o que penso a RESPEITO dele e de todos os outros filósofos existentes. Não há como falar de algo que não desafia ou frusta, encanta entre o amor e a diversão, aromas e sabores. A curiosidade é a válvula propulsora para a descoberta, que por si depende de dois resultados: o fracasso ou o sucesso, a felicidade e a tristeza, satisfação ou repúdio. O pensador, em suma sempre descreve seu desejo interno de algo que teve ou de algo que espera, um universo de possibilidades entre esses dois paralelos: o real e o ilusório.
Existe um ditado muito usado e eu fico desestabilizada ao ver que quase todas as pessoas veem nele coerência, ao que Maquiavel pontua;
“Os fins não justificam os meios\\\\\\\"
Hamm... como assim?
Os fins \\\\\\\"dos quens\\\\\\\" que aqui nesta frase se indicam?
Os fins sempre terão correlação ao início e, principalmente, ao meio. Eles se atrelam com conjuntura em todos os campos sociais, sem desviar do campo individual de cada ser humano.
Vamos lá, como será o meu fim baseado em meu início e o meio VIVIDO até o dia de hoje? Anexando-se a isso o descaso e falta de consciência com a dignidade e caráter, entregue pela própria família, uma vez que quem se transformou em mostro errante sou eu, a abusada.
Quem responde?
Será que a falta de acolhimento dos professores me tornaria uma pessoa sem estudo e vulgar?
Será que a falta de crença Divina me tornaria uma pessoa sem perspectiva e esperança, me reduzindo a um pária?
Será que a falta de amigos leais me tornaria uma pessoa falsa e cruel?
Tantos dentre tantos “serás”, minha vida poderia ter tomado rumos diferentes, com desvio de conduta, sem retorno paro o Eu original, ou ficaria à mercê dos traumas que me afligiram e, sendo assim, assumindo uma conduta errônea permanente?
Agora vamos Paquistão, Somália, Estados Unidos, Egito e por vários países que abraçam a pena de morte. Será que um condenado à morte por ter realizado um crime bárbaro não teve um fim justificado pelo seu começo e meio, revestido de traumas, ausências misérias e todas as mazelas que o mundo nos entrega sem piedade?
E devido a essas desgraças, existe um grupo de Niilismo que vem crescendo a cada nova geração, de forma significativa e assustadora por falta de resistência individual e interior que transcende e aflora ao entendimento advindo da interpretação errante das boas novas, coisa que se torna cada vez mais escasso. E é neste momento que a descrença em tudo nasce, gerada através da decepção.
Em algo
Por algo
De alguém
A alguém
De coisas
Ou para coisas
De certezas
Ou ilusões
Niilismo a nova moda
Que a geração futura irá
Pregar
Agora, pensemos sobre atitudes. Elas correspondem a ausências e nada vai alterar isso... nem a filosofia, ciência, justiça e religião, nada irá separar o que há de ruim e sem luz dentro de um ser.
A não ser o seu querer... somente ele é o libertador de incógnitas e ignorância residente em cada pensar, que a cada passo se revela em suas decisões.
E eu decidi acreditar que a luz não cessaria em meu caminhar por entender a minha insignificância diante do universo. E assim subentendo que não posso subtrair a vontade do outro, seja para o bem, seja para o mal.
Mister é salientar que os estupradores devem ter a chance de se reencontrar e, através de punições e cuidados médicos, assim tentar viver sua vida sem interferir na de outrem de forma criminosa.
Liberdade prisioneira
Era 23:00 e a felicidade era minha companhia, estava entusiasmada com
a notícia que tinha recebido. Fazia parte de um grupo de teatro ‘vida’, estávamos apresentando uma peça, seu nome era Raça. Naine, a diretora, nos comunicou que apresentaríamos em Curitiba, a nossa peça tinha sido selecionada.
Saí do ensaio querendo conversar com quem passasse por mim, estava entusiasmada e ao chegar em casa, gritei: “mãe, mãe!”
Ela veio desesperada dizendo: “o que foi, menina?”.
Respondi: “mãe, vamos para Curitiba, o grupo vida foi selecionado, não estou nem acreditando”.
Não tive tempo de saber a opinião dela, só lembro que me olhava sorrindo.
Como um vendaval derruba tudo que está a sua volta, assim fez o genitor de minha vida, pegou em meu braço, e gritando disse: “daqui você não sai por**”, dentre outros palavrões, quebrou a porta e objetos do meu quarto que a anos tinha. Era zelosa com minhas coisas, mantinha tudo bem-organizado, ele me deu vários murros nas costas, me tiraram o fôlego. Assim que minha mãe conseguiu me salvar dele, o levou para a cozinha e o sentou na cadeira à força. Assim que conseguiu, ele desferiu um soco na mesa que a rachou até a metade. Durante anos aquela marca fazia todos relembrarem desse episódio.
Dias depois pequei algumas roupas, livros, cds e mudei de cidade, tinha doze anos, não foi difícil me adaptar, estava perto dos meus irmãos do coração, lugar que me entregava segurança e felicidade de verdade.
Lembro que um amigo me encorajou dizendo: “agora dá para você ir para Curitiba, ninguém vai te impedir, vai viver o teu sonho”. Estava destruída, não queria tocar no assunto e desperdicei aquela oportunidade que tanto havia me dado alegria.
Por ironia do destino, no meu primeiro dia de aula estava acontecendo uma divisão de grupos para a apresentação de um trabalho, e cada tema teria que desenvolver um teatro, a professora de artes me apresentou para a turma e me colocou em um grupo. O tema era drogas, estava machucada por tudo que havia me levado para aquela cidade no interior do Matogrosso, tudo o que eu queria era chorar na frente de todos, queria ir embora da sala e dizer que não queria fazer aquele trabalho.
Fiquei ouvindo as ideias de todos, naquela aula, sem me manifestar e eles
foram educados, respeitaram meu silêncio, talvez eles pensassem: “ela está tímida, acabou de chegar na cidade”.
O trajeto da escola para casa era distante e durante a caminhada já estava elaborando o trabalho de artes.
Ao Chegar em casa escrevi a peça com todos os palpites que ouvi, no outro
dia cheguei para o grupo e apresentei a que tinha elaborado, eles se animaram, deram sugestões, ensaiamos várias vezes.
Lembro que no encerramento havia colocado uma canção para todos cantarem: “É preciso saber viver”, titãs, e para nossa alegria tinha um menino chamado Orlando que tocava violão.
A peça teatral chamou a atenção do diretor da escola Gaudêncio, no dia seguinte me chamou em sua sala e quis saber sobre minha vida, de onde vim e o que gostava de fazer, se eu tinha envolvimento com drogas ou com usuários. Embora tivesse ficado muito constrangida, entendi que ele zelava pelos seus alunos e aquele ato era para preservar sua escola.
Assim que ele terminou o interrogatório, respondi a ele as perguntas e o expliquei que fazia teatro em Cuiabá e que simplesmente havia estudado o personagem que representei e o incorporei.
O diretor disse-me: “estou feliz, sua preocupação mostra que pareceu real e essa é a meta”. Ele sorriu, bateu palmas e me pediu desculpas, falando: “tive uma ideia, o que você acha de ensinar o que sabe para os estudantes da sua nova escola?”.
Sorrindo respondi: “sim, eu topo”.
Ele levantou-se de sua cadeira, apertou a minha mão e disse: “então vamos!”,
Eu assustada falei: “como assim?”. Ao passo que ele respondeu: “sim, vamos agora passar nas salas avisando os alunos de que você será a professora de tetro, aqueles que tiverem interesse anotam o nome em uma lista que vai correr enquanto damos o recado”.
Perguntei onde iria dar as aulas, ele respondeu que dependendo da quantidade começaria na sala da biblioteca, mas “depois me fale os dias das aulas para eu resolver isso”, e assim fizemos. Começamos pelo 3° ano, era a primeira sala, dava direto no corredor de sua sala. Quando chegamos na sala eu vi todos os alunos maiores do que, confesso que me senti com um pouco de vergonha e nervoso, mas estava feliz, mesmo com meu coração saindo pela boca. Gaudêncio passou comigo apresentando o projeto sala por sala.
Aquele gesto dele na minha vida fez toda a diferença para meu futuro, me senti respeitada e valorizada, ele me salvou sem saber o que acontecia dentro de mim. Ele me ensinou a encorajar pessoas pelos seus talentos, me ensinou a elogiar com sinceridade, e o mais importante, a ser companheiro. Foi um ano marcante, surreal. Gratidão eterna terei por esse professor lindo e sensível que me puxou à beira do precipício
As aulas eram no horário vespertino, tinha poucos alunos, todos comprometidos em participar e aprender, lembro que tinham muita criatividade. Aprendi ali a dificuldade e a responsabilidade em estar na frente liderando pessoas, fui desrespeitada duas vezes por uma menina e senti na pele o que fazia com os professores que tive. Arrependi-me e a partir daquele momento mudei meu comportamento com os professores que tinha, deixei de confrontar e de ficar dando minhas opiniões de modo agressivo.
Aquela menina me fez ver como o meu comportamento era indelicado, sabia como cuidar dela e, de certa forma, me vi nela, passei a dar atenção e carinho, além de muitos incentivos, em vez de “bater boca”. Assim ela passou a chegar e me abraçar e respeitar depois de algum tempo.
A satisfação em ser aceito com respeito na sociedade, escola, casa etc., traz a nós o conforto de novas experiências, e quando isso ocorre devemos entender que a autoavaliação aplicada no dia-dia nos entrega resultados positivos. No entanto é necessário ter a sinceridade de compreender que somente você tem o controle para conhecer o novo a sua volta.
O mundo nos machuca, quando ligamos nossos aparelhos e nos conectamos nas mídias, sentimos e vemos muitas injustiças, pessoas nos machucam e na maioria das vezes são as que deveriam nos dar suporte e ensinamento. Se isso infelizmente aconteceu com você, perceba o que precisa ser feito!
Analisar novas possibilidades, excluir o medo e a insegurança para que prevaleça a autoestima e boa convivência.
A questão não está no eu vou TENTAR e sim no eu vou CONSEGUIR.
Quando a vida te entrega o nada em companhia do desprezo, é irreparável pelos olhos humanos sermos bons em todas as nossas ações, sempre haverá momentos em que iremos descarregar nossas frustações.
Se sua dor estiver associada à submissão, complica ainda mais o modo de encarar o cotidiano.
Quero que respire fundo e pense em tudo que te faz sofrer, faça uma auto-
análise. Agora entenda que nem sempre agimos de acordo com a forma com que gostaríamos que que as pessoas nos abordassem, e é nos pequenos constrangimentos que você pode mudar seu modo de ver, fique atento a isso.
Não deixe que seus dias nublados tirem a cor de seu viver. É na tempestade
que descobrimos o quanto somos capazes de suportar os imprevistos. Se proteger daquilo que não vem de você é uma forma inteligente de aprender a lidar com sua dor.
Então, ser DISCIPLINÁVEL é o melhor caminho.
Perseverança imatura
Na escola fazia questão de ser adiantada e de falar sempre minhas opiniões, não aceitava levar bronca de professores, eles nunca conseguiam me deixar de castigo ou me punir, este comportamento sempre me levava para a diretoria, e lá ia eu com muitos argumentos para me defender, sempre convencia tanto os diretores como os professores sobre o assunto que teria me levado à direção. Era incrível e ao mesmo tempo muito desagradável, porque eu descontava todas as minhas frustações nos professores e na escola.
No recreio sempre me isolava, era de pouca conversa, muitos não me suportavam e me achavam invocada e esquisita, na realidade era assim. Se alguém me olhava eu me virava e falava: “está olhando o quê? As palavras vinham com desaforo, nem eu me aguentava e por isso preferia ficar sozinha.
Em cada escola que estudei tinha um canto de refúgio, os quais foram bibliotecas, em cima de árvores ou a quadra poliesportiva.
Durante o colegial tive amigas para quem contei sobre os abusos que passei, foram três.
Estudei na escola Liceu Cuiabano, tinha uma banda de fanfarra, aquilo me deixou maravilhada, a música era tudo que amava. A nota de educação física era substituída se você fizesse parte da banda. Corri para me inscrever e infelizmente não tinha vagas, o que tinha era uma lista de espera.
Fiquei triste e uma amiga perguntou o motivo, falou-me “não fique assim, vamos tentar falar com o professor”, eu me animei. Chegamos para conversar com ele, nem parou para nos ouvir, ficou dando as coordenadas para a banda, estávamos atrapalhando o trabalho dele e “não” foi a resposta bem curta e grossa que recebemos.
Não me conformei com o não, decidi acompanhar a marcha, repetindo os passos de forma correta atrás da última fileira, minha amiga riu e me acompanhou. Era como se fôssemos duas loucas, ele gostou da iniciativa que tomamos, dava para ver o sorriso no canto da boca dele, acompanhamos a marcha por meses sem instrumento, com muita diversão.
Quando menos esperamos ele mudou as fileiras de posição para não desalinhar, nos chamou na sala de instrumentos, nos explicou tudo sobre a fanfarra e nos apresentou todos os instrumentos e aquele que iríamos tocar. Iniciamos com ‘pratos’, e depois caixa. Passamos a ser as queridinhas dele, ele era bravo, mas conseguíamos fazer ele rir. Ganhamos vários troféus de 1° lugar, a fanfarra que participávamos era a melhor do Mato-Grosso.
Com o professor Sampaio aprendi muito sobre resistência, ele testou minha vontade através da minha dedicação, ele me dava afazeres na tentativa de testar minha paciência, era ríspido, quase sem prosa comigo, tudo para ver até onde eu chegaria. Quando ele viu que fui a fundo, seu olhar dizia que estava escolhendo o que era certo a fazer. Vendíamos flores na sinaleira durante um período do ano, inclusive foi a época durante a qual mais ganhei flores, às vezes as pessoas compravam e me davam, eu as vendia novamente, tudo pela arrecadação da fanfarra. Tudo que era imposto para realizarmos era maravilhoso. Em um dia desses de sinaleira, ao pegar mais rosas o professor me disse: “Jakeline, sabia que não ia desistir, bela lição deu a todos, começado pela sua amiga”, sem sorriso se virou. Na verdade, quem aprendeu naquele ano foi eu a testar meus limites, tinha dia que antes de ir à escola chorava em lembrar que no fim da aula teria que me humilhar perante toda a escola, numa tentativa que, aparentemente nunca seria bem-sucedida, uma vez que eu estava tentando burlar a lista. Mas aos olhos daquele professor ele não viu erro pelo contrário.
Ainda na escola Liceu Cuiabano tive outra grande professora que muito me incentivou na música, professora Cláudia de história, mais conhecida por todos como prof. Claudinha, amorosa, divertida e humana. Eu sempre costumava ir cedo para escola e geralmente saía muito tarde. Quando acabavam às aulas, na maioria das vezes ficava na biblioteca, caso não fosse para a casa de minhas amigas. Em um dia desses que havia chegado cedo sem ninguém na escola praticamente, entrei no banheiro cantando alto, me divertindo na frente do espelho, quando menos percebi a professora Claudinha saiu de dentro de uns dos banheiros e me disse: “Jakeline, não sabia desse seu dom”. Eu envergonhada parei na mesma hora. Ela então disse: “amanhã tem apresentação na câmara dos vereadores de tarde e sarau de noite aqui no anfiteatro, você vai apresentar”. Respondi que não tinha músico e que tinha vergonha. Ela riu e disse: “Olha, você vai cantar, tenho dois alunos do primeiro ano que podem te acompanhar”. Os alunos que ela mencionou, porventura eram meus amigos e de noite haveria um professor. “Deixe comigo, arrume teu repertório” - disse a professora para mim.
Sabe? Foi maravilhoso ouvir aquilo, embora minhas amigas me dissessem que eu cantava bem, pois ainda assim não acreditava porque minha mãe sempre me dizia “você não sabe cantar, nem sabe falar as palavras, e como exemplo ela cantava um pedaço de uma canção de Roberto Carlos que eu sempre cantava, “força estranha”; e falava: “você fala fossa ao invés de força”. Durante muito tempo não cantei nem no banheiro. Ainda assim até hoje não canto com pessoas perto de mim, só consigo se estiverem longe. Talvez seja um bloqueio, mas enfim, professora Claudinha abriu um horizonte em minha vida. Na noite do sarau um produtor, também dono de uma gravadora, e um cantor regional, hoje apresentador de um programa de entretenimento em Cuiabá-MT, quiseram gravar músicas autorais comigo. Depois daquele dia, minha realidade mudou, trabalhei com música daquele ano em diante, só parei aos 22 anos, por medo da profissão incerta. Decidi estudar e deixar esse amor pela música para quando estivesse velha e estabilizada.
Quando apresentamos na câmara dos vereadores foi emocionante, todos se levantaram, dançaram e bateram palmas alegres, a fanfarra também apresentou. De noite no sarau foi mais tenso, fiquei muito nervosa, mesmo assim tive gratidão pela professora e felicidade por ter conseguido algo tão desafiador. Conversando esses dias com um amigo da fanfarra, ele disse que professora Claudinha também o encorajou a prestar vestibular, sabendo de sua situação financeira, pagou sua matrícula, porque acreditava no potencial dele.
Maravilhoso né gente! Precisamos de pessoas motivadores que veem o que há de bom em nós e nos ajudam sem ter inveja ou instinto de competição. Por mais Claudinhas, Gaudêncios, Naines, Sampaios no mundo.
Essas Pessoas me apoiaram sem saber o que se passava em minha vida, talvez a tristeza tomasse conta de meu viver se esses seres iluminados por Deus não tivessem me direcionado para lugares onde tive utilidade.
E assim também existem milhares de JAKELINES que sofrem como eu e se sentem sem valor diante dos maus-tratos e abusos recebidos de alguém ou até mesmo como meu caso, do próprio genitor ou de pessoas próximas da família.
Hei, você professor, sabia que pode mudar destinos?
Que pode fazer a diferença na vida inteira de um aluno?
Sou fruto disso, fora de casa a única autoridade que cuidava de mim eram os professores, sorte minha ter os que me acolhiam me incentivando a ser melhor naquilo que eu gostava de fazer. Sem me cobrar, mas me direcionando com amor e paciência, e o melhor, tendo credibilidade por eles.
Nas escolas que estudei, em quase todas tive professores que me colocavam para ser apresentadora, eu era muito questionadora, desaforada e desinibida, então eles exploravam esse meu lado de comunicadora me dando espaço e me encorajando quando eu recuava por achar que não era capaz.
Tudo isso que vivi no âmbito escolar me fez ver que tinha respeito dos outros e me fez ter sonhos de ser ainda mais respeitada, de forma gentil e não de forma imposta com grosseria. Essa transformação devo aos professores lindos, competentes e amados que tive.
RESISTÊNCIA
Da saudade
Me Desvio
Das lágrimas
Faço rimas
Das dores
Nascem palavras
Dos desaforos
Faço versos
Para falta de respeito
Entrego à ausência
Tudo de ruim que chegar
Até você
Os transforme
Em luz de encontros
Pois...
Não há resposta à altura
Porque ENTRE o baixo e o alto
não existe nivelamento
Busque falar bem pouco
Para dar espaço à audição
O som das vozes
São bússolas
Que direcionam a intenção
O timbre sempre
Indica o oculto
Ame sorrisos
Porque mesmo tristes
São persistentes
Lutam com o mal
Sem manifestar o ódio
De gesto em gesto
Transforme tudo
Que encontrar
Em algo que possa
Alimentar mentes
Para satisfazer
O querer bem
Poucos se importam
Enquanto muitos
Só desejam paz
Resistência entregue à coscuvilhice
Grandes sofismas nos rondam
Insistindo a enganar
De forma superficial o próximo
Para animar sua alma
Vazia de vida própria
Honestidade está quando
Se sabe de mentiras soltas
Gratuitamente sem revidar
E ter sinceridade para entender
Que o problema não é seu
E resistir à vontade de tirar
Satisfação de caraminholas insanas
E ter que superar o ERRO do outro
Dentro de SI em primeiro lugar
Ignorando essas ações
E ter prontidão para atender
Com compaixão o viperino
Devemos ser luz que ilumina passos
Mãos e braços que acolhem
Boca que entrega orientação ao vão
A resistência
Nos libera A Paz
Que excede
Todo entendimento humano
Aquele que vive nas trevas
Nunca sentiu
E não aceita essa PAZ
Porque acostumou ser mal
Às vezes sem saber
E às vezes sabendo
Resistência é tudo
Para nos afastar
Dos infames
Resistência precisamos
Todo dia e todo segundo
A resistência
Nos Guia
Nos entrega o Controle
A Direção
E não nos deixa parar...
A resistência
Renova nossas esperanças
Fazendo nos enxergar
O destino que almejamos
Tenha Resistência para não perder
De vista O Propósito
Tenha Resistência para entender
Os fofoqueiros, maldosos
Invejosos e mentirosos...
Resistência para ser incrivelmente Leve
Resistência para ser verdadeiramente Livre...
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