Memória dos brasileiros
Depoimento de: Maria Barbosa da Silva (Bié)
Entrevistada por: Thiago Majolo e Antonia Domingues
Pé do Chão, 27/10/2007.
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista MB_HV069
Transcrito por: Edson O. R. Arruda.
P1 – Eu quero primeiro que a senhora fala o seu nome completo.
R – O meu nome? O meu nome é Maria Barbosa da Silva.
P1 – E o apelido?
R – É Bié, o meu pai se engraçou de me botar esse apelido de Bié, aí no mundo eu ainda não vi outra Bié.
P1 – E a senhora nasceu aonde?
R – Eu nasci no município de Timbira, eu não tinha um ano de idade meu pai mudou para o município de Codó e lá no município de Codó eu me criei, lá no município de quando eu me casei aí tive 3 filhos lá no município de Codó e de lá eu fui para município de Grajaú, passei dez anos, todo o tempo trabalhando de roça, quebrando coco todo o tempo. Quando cheguei no município de Grajaú lá eu encontrei o (Lindou?), meu pai não deixar de eu ir para brincadeira, mas o meu marido apoderou e aí eu achei o Lindou e aí lá eu comecei brincar o Lindou, aí quando eu passei dez anos lá eu vim para Roraima, meu irmão veio para os garimpos, chegou aqui gostou e foi lá, chamou a gente e a gente vendeu quase nada e viemos para Roraima. Cheguemos em Roraima aí eu continuei a vida trabalhando, criando os meus filhos e tem contarei com uma comadre, uma comadre minha a Maria Preta que (nós morava) lá no Grajaú, mas eu nunca vi ela, nós passava uma pela outra, mas não se conhecia quando chegou aqui Roraima conhecemos e eu festejava São Francisco, santo Antônio, Santa Luzia e aquela fileira... (lá nos mato) fazia uma animação, né, lembrar do santo e aí nós fazia eu brincava mais ela aí chamava o povo da redondeza todos e aí o povo ia, mas era festa, era festa de Lindou, aquelas brincadeiras mais para nós mesmos porque lá quase não tinha criança aí brincava. Aí quando o marido dela adoeceu, aí ela também adoeceu e já ficou mais difícil para a gente e por certo até que os filhos do marido dela, não é filho dela, a entender a de trazer eles para a vila aí ela veio, mas como ficou ruim para mim lá minha gente... aí foi, meu marido morreu, mas o que ficou ruim foi de mais, não saio daqui porque o lugar de gente pobre lá no mato porque está por ali assim vê uma cotia, mata, pescam peixe, pia uma galinha e a gente vai vivendo e aí brincar Lindou. E aí o menino, o Renato, Catarina achou ele e botou ele lá nesse griô de fazer teatro, né, e ia lá pelos meios dizendo umas brincadeiras e aí se agradou de mim também (para mim ensinar os meninos) lá brincar Lindou e a gente brinca. Só que os meninos lá não são muito interessados, eu digo: menino eu já estou velha, mas quando você quiser pode dizer que eu estou aqui para pular, para trabalhar sou uma aranha, mas para pular eu sou uma piranha, pode (RISOS) e aí a gente faz Lindou, a gente brinca como a gente representou já aqui é disso que eu vivo, gente, e a da roça, eu arrumei um empregozinho assim, mas aí eu trabalho lá na Sé, todo dia de manhã eu vou parar Sé, todo dia 6 quilômetros, aí a estrada ruim, o ônibus não vai aí eu pego a bicicleta e venho, quando não tem bicicleta venho de (bicipé) todo dia com chuva, mas eu venho porque eu preciso, né, meus filhos, eu tenho 2 filhos homem, tudo trabalha na roça. Essa gente que trabalha de roça nunca é assim para ter dinheiro na hora e nesse emprego eu ajudo em casa para comprar o açúcar, o óleo, coisa assim, mais caro... Cafezal tem plantado lá em casa, toda fruta a gente tem também, aí a gente vive disso.
P1 – Dona Bié, senhora não disse a data do aniversário. É um segredo?
R – Do meu?
P1 – É.
R – É no dia 2 de fevereiro, eu vou completar 66 anos de idade, já estou velha meu Deus do céu, tanto que eu não queria ficar velha.
P1 – E qual é o nome dos seus pais, dona Bié...
R – Hum?
P1 – O nome dos seus pais.
R – Dos meus pais? O nome da minha mãe e Maria Saldanha da Silva e o do meu pai é Joaquim Barbosa Alves.
P1 – E ele fazia o quê?
R – Trabalhava na roça, meu filho, era roçando, queimando nós carregando madeira, fazendo cerca, (encorvarando?), capinando, (prantando), colhendo, arrancando mandioca, fazendo farinha, quebrando coco, tirando azeite, é, nosso serviço era esse.
P1 – E os 2 são maranhenses?
R – Os 2 são maranhenses, todos os dois, agora os meus avós, o pai do meu pai, ele disse que era filho de cearense, agora minha mãe e a do Maranhão mesmo, de uma família azia de preto assim, só que ela era mais clara agora meu pai era desse povão branco.
P1 – Eles tiveram mais filhos ou só a senhora?
R – Não senhor, foi tiveram, minha mãe teve 10 filhos.
P1 – E como que era na sua casa com esse monte de filhos?
R – Com esse monte de filhos? Eram os mais pequenos ficando em casa e os maiorzinhos indo para roça trabalhar, é tudo unido, ninguém podia brigar, todo mundo era alegrezinho, sempre o meu pai, a gente era pobre assim para roupa, para calçado, porque a gente só possuía 3 mudas de roupa: uma para ir para roça, não, eram 4 mudas de roupa: uma para é para roça, outra para chegar em casa trocado, outra para sair para um lugarzinho e outra, vestidinho para ir para a missa porque para toda a missa gente ia, para a festa não porque ele não deixava, ele não deixava ir para a festa não. Aquela brincadeira, tudo que tinha no município de Codó, tentando tipo de brincadeira ele não deixava a gente ia, mas para a roça eu era aquela que da farinhada era do cabo de rodo para torrar mais e estou satisfeita de meu pai ter ensinado assim, não ter me deixado eu preguiçosa, porque assim eu ensinei meus filhos e todo mundo está vivendo. Não tem dinheiro para brincar e saltar, mas tenho que comer em casa, graças a Deus. Esse ano mesmo nós cortamos arroz, está lá o arrozão ainda está na roça para bota tudo comer o correr do ano todo enquanto chegou outro.
P1 – Quais que eram as brincadeiras?
R – Qual é que era brincadeira?
P1 – É.
R – Tinha brincadeira de roda, tinha muitos tipos de brincadeira, só que não ia e a brincadeira que eu resolvi brincar mesmo porque minha irmã levava, minha irmã mais velha levava uma turma de criança para ir brincar e quando era a outra, uma madrinha minha vinha e trazia uma turma, mas ele não andava deixando, mas quando ele deixava que a gente ia para uma reza, ele: "ah o Pedro gosta muito de festejar..." A gente ia para uma essa, gente aproveitava, brincar, e a gente brincava aquela brincadeira da ciranda: ciranda cirandinha vamos todos cirandar, vamos dar uma meia volta, volta e meia vamos dar... Aí que tinha tudo na roda rodando. Aí tinha uma menina e a pessoa dizia: "senhora dona Raimunda, que entrou na roda agora, diga um verso de bonito, diga a Deus e sai pra fora." Ali ela escolheu verso, né, ali ela dizia: "alecrim da beira d' água, corrente da ribanceira, menino casa comigo, me tira dessa cegueira." Ela cantava para outro: "ciranda cirandinha vamos todos cirandar, vamos dar uma meia volta, volta e meia vamos dar, aí ela tirava, há pessoas atiravam outro? Aí cantava outro verso assim: "menina, minha menina..." Errei, isso aí está errado, aí cantava outros, outros versos, eu sei que muitos versos diz assim: "querer bem não é bom não, querer mal ainda é pior, eu quero uma coisa e outra e querer bem sempre é melhor. " Às vezes a gente dizia: a garça bota o pé n' água e o bico no alagadiço, amor de rapaz solteiro mata mais do que feitiço. E assim vai dizendo, né?" Alfinetes são ciúmes, a agulha vai virar (lidade?), quem ama o rapaz solteiro não ama com falsidade. Essas brincadeiras, aí tem outra brincadeira também no Lindou, eu vou cantar um pouco para vocês verem, tá? A pessoa canta assim, chega fica um tanto de homem para ali e um tanto de mulher para acolá, aí vem o homem e vai tira a mulher, aí começa: rodo trocamos de pilão café, quero me casar, mas o papai não quer, rodo, trocamos de pilão café, quero me casar, mas o papai não quer. Rodou, trocou pilão café, quero me casar, mas o papai não quer, e continua dançando. Quando é a pessoa bota às vezes outra música, né, eu vou botar a música do sabiá: o sabiá é pássaro nobre, sabia data e o bico de nogueira. Sabiá rodou, trocou, sabiá lá na praça da igreja, sabiá o passarinho preso canta, sabiá preso deve de cantar, sabiá e iriam presos sem culpa, sabia aqui canta para não chorar. Sabia rodou, trocou, sabia lá na praça da igreja, sabia e quando ver eu cantar, não pense que eu estou alegre, sabiá que eu canto para não chorar, sabiá que choro não dá remédio. Sabiá rodou, trocou, sabia lá na praça da igreja, sabia, a gente tem que viver, sabiá, que nem o viver do passarinho, sabiá todo coberto de pena, sabiá, mas, porém ele é lisinho. Sabiá rodou, trocou, sabia lá na praça da igreja, sabiá... Essa é cantiga de Lindou, e tem mais, mas eu não vou cantar porque eu não vou passar o dia cantando, né, tem da chegada, que a gente chega para abrir salão para a gente brincar, para pedir licença para brincar o Lindou então a gente pede também que aí canta...
P1 – Com quem a senhora aprendeu?
R – Como?
P1 – Com tem que a senhora aprendeu essas cantigas?
R – Eu aprendi com aí Irene, com a menina que tinha lá no lugar que eu cheguei, aí fazia Lindou eu me atravessava pelo meio dela: "dona Bié..." E (nós ia): minha filha eu vi Lindou quando era criança, aí papai não deixava eu não vi mais, aí ela depois ia embora (e nós brincava, nós virava) meio mundo, chegava de tardinha da roça, de noite porque naquele tempo não tinha televisão, não tinha essas coisas, né, e sempre aquele povo do tempo, lá no Maranhão, (os povo) gostava de brincar todo, de festinhas, hoje em dia faz uma festa, o povo quase nem dança e lá para o Maranhão não, a gente quando pegava viola para tocar todo mundo estava dançando até pegava a (taboca?) para tocar todo mundo estava dançando, era assim. E inventava brincadeiras de roda, tinha uma brincadeira que era brincava que era do pião, o povo cantava a brincadeira do pião e saiu rodando que dizia: "meu pião veio de Teresina, ah pião, roda pião, roda pião, arrasta essa galha no chão o pião, roda pião, roda pião. Meu pião veio de Teresina meu pião, roda meu pião, roda no pião... e aquilo gente continuava, né, saía brincadeira de mil e quatorze modas, saía a brincadeira do (canavistim?), saía a brincadeira do – meu Deus como era – brincadeira do... Eu tava lembrado agora minha... A brincadeira do (canavistim?), daí era brincadeira da formiguinha e o povo cantava formiguinha, botava a mão: "a formiguinha da roça endoideceu com a dor de cabeça que ela deu, arrocha, arrocha, arrocha formiguinha, bota a mão nas cadeiras e faz assim. "Aí já saí a uma e entrava outra. Era muito tipo de brincadeira, mas aqui Roraima o povo não que é ia além de não querer as crianças não querem, porque ao invés de querer, naquele tempo que a gente ia assim para brincadeira porque era um tempo que dá para namorar porque a gente namorava escondido (RISOS) e agora não, o povo namora o presente, não tem precisão, não tem, o povo trabalhava assim a noite para trocar pilão, (nós ia), eu não ia, papai não deixava, mas tinha umas meninas, tinha as vezes que ele nem gostava, tem de trocar pilão, né, trocar pilão você não entende que é!
P1 – O que é?
R – Vinha um fulano com uma lata de arroz, outro vinha com uma lata de arroz e outro vinha tudo para uma casa para pisar, pegava a mãe indo pilão pisando de 3 de 4 tam, tam, tam, tam, que lava a lata de arroz do fulano, pisava lá todo o arroz do outro e aí chamava trocar pilão, pisando arroz era assim quero jeito da gente no outro tempo. Quando era tempo assim de pamonha sentava todo mundo ralando milho para fazer aquelas pamonhas. Não tinha geladeira, não tinha freezer, só dependurava assim, passava 4, 5 dias, 8 dias e não arruinava. Hoje em dia eu vejo o povo faz uma pamonha, 2, 3 dias já não presta mais, agora ou por quê é que eu não sei e naquele tempo não, as coisas eram tudo assim facinho, era difícil, mas era fácil, todo mundo tinha saúde, todo mundo tinha alegria, hoje não, só aparece mais bandidagem pelo mundo. O, gente, mas eu tenho tanto dó das crianças quando entram em gangue, eu tenho dó porque é um tempo tão bom para a gente aproveitar, naquele outro tempo a gente não via, a gente mandava era de a pé, quantas léguas a gente andava de a pé com menina no braço. Hoje em dia uma mãe minha criança não pega, bota criança que dentro do carrinho, faz a mamadeira que nem o bichinho mesmo chupa, é no outro tempo não, o menino não tinha um nada, ia andando e o menino fazer xixi aqui, sujava aqui, todo mundo viajava, não era? Vocês não alcançaram esse tempo, eu alcancei, gente pobre acontece essas coisas tudinho, dormir no (giral?), numa cama feita de talha de coco, bota uma esteira em cima, forma com pau de bananeira aí não tem jeito, até o dia amanhecer. Hoje ninguém não queria isso, né, porque o mundo bom não de hoje. Eu queria ter os meus doze anos na época de hoje, que eu virava o mundo às avessas, era o que eu fazia. Aí continuei Lindou e lá continuou para as crianças e lá é sempre ativo para elas brincar. Com esse negócio do griô da Catarina, aí ela escolheu a gente e a gente faz, aí eu quero fazer também a mangaba...
P1 – O que é mangaba?
R – Mangaba é uma dança também. O povo canta mangaba e eu lá de casa, meu pai não deixava eu ir, festejos de São João tinha um homem de festejava e passava mangaba aí eu passava a noite todinha sem dormir, eu não dormia porque eu não ia, mas lá de casa eu escutava o povo cantando: "o nega malvada, para que matou meu gavião. É mentira, não foi eu, não foi eu não, foi tu nega que eu te vi de pau na mão, é mentira, não foi eu, não foi eu não, foi tudo nele que eu te vi com o pau na mão. Aí colocava o rapaz acolá, o povo aqui, aí o rapaz vai e dança trocando assim, ó, uma dança que evite três vezes depois que casei, mas quando era moça eu não vi não, papai não deixava a gente ir, eu sofria sua raiva com vontade. Aí os tamborzão de crioula, é festejo, tambor de crioula. Vocês já viram tambor de crioula? Tambor de crioula é um festejos do tempo da feitoria, do tempo dos escravos, aí tem aquele tamborzão que o povo festeja o dentro de Codó quando eu tive lá era feito pelo sargento Estrela e pelo sargento Norberto e aí quando era no tempo, 13 de maio, quero dia da alforria dos pretos, aí ele saía com o carro, caminhão, naquele tempo o nome dos carros era, como era, meu Deus, ah, esqueci o nome dos carros que ia buscar (aquelas preta véia) lá no centro de Codó para trazer. Eu vi uma vez porque minha mãe adoeceu e foi para Codó e daí o meu pai deixou eu visitar ela lá no Codó e aí eu vi lá, mas é uma coisa muito linda, 3 dias, começa no dia doze, aí vai dia treze é o dia quatorze para ser no dia treze que o dia da alforria dos pretos. Aí eu vi, mas é muito lindo, gente, é julgado pela polícia mesmo, muito lindo porque lá tem várias brincadeiras, mas as meninas que quiser, se interessar eu vou botar muitas brincadeiras porque é para a gente brincar.
P1 – A senhora ouvia tudo, mas não podia fazer nada?
R – Eu ouvia, mas não poderia ficar alegre porque se ficasse muito alegre o meu pai batia. E que a alegria foi essa, o que é isso? E não podia se zangar, o meu pai era muito bom para a gente, gente almoçava, jantava, a gente era pobre, tempo que não tinha arroz para a gente comer, mas a farinha não faltava. Tinha carne, ele criava muito porco, ele caçava, nunca passei assim um dia sem comer na minha casa. Não tinha arroz, mas tinha farinha, tinha o milho aí a gente pisava, fazia o cuscuz como milho e comia com carne. Era assim, mas ele festejava São Francisco e fazia a festa em casa, mas eu ainda era criança, aí depois ele adoeceu, já ficou de idade, ele não fez mais festa e não deixavam a gente ir para as festas. Meu pai ficava boiada, aquelas boiadas, aquelas festas de reisado. Vocês já viram? A pessoa sai de noite, mas eu tinha vontade, eu pedia: papai... Eu não pedia não, e ficava só com a vontade ele dizia: "não vai não, eu já brinquei muito, já brinquei muito essa brincadeira, eu já brinquei por mim e por vocês." O reisado é uma brincadeira, é dia de Santo Reis, no dia 6 de janeiro. Aí sai, o povo sai nas casas de noite cantando no violão, aí chega numa casa, assim, que nem aqui, mas já é de noite, todo mundo já está deitado o que não estiver dormindo e quiser que a reisada vem, abre a porta, porque a lei é essa. Aí a pessoa chega na casa, aquele monte de gente, muita gente acompanhando, é um festejos, mas chega nas casas: o de casas, o de fora, menina vem ver quem é, menina vem ver quem é, é divino santos e rei, 2 homens e 4 mulher, o dois homens e 4 mulher. O dono dessa casa, ele rico que tem dinheiro, ele é rico e tem dinheiro. E venha receber o povo que estão aqui no seu terreiro, que estão aqui no seu terreiro... Ali a bater palmas e na viola até quando o dono saia a casa aqui, que recebe a gente, aí tudo quando a gente sai, a gente despede: vai buscar a (zaina?) de rosas que as costas eu vou te dando, que as costas eu vou te dando. Você fique em sua casa que Jesus estaria olhando, ô que Jesus está te olhando. A ele da esmola, né? Deus lhe pague a sua esmola, Deus lhe dê muita alegria, Deus lhe dê muita alegria, que no reino do céu se vê você com toda a família, você com toda a família. É assim, depois bota outra música na casa de um e na casa do outro, mas o meu pai não deixava a gente ir para a reisada, de jeito nenhum, porque queria só para safadeza, aí a gente não ia. Aí não ia nem para isso nem para a (Terecô?) eu nunca fui. Eu assisti brincadeira de Terecô, macumba depois de eu casada, eu fui assistir, nunca me interessei para brincar, nem nada porque, eu creio que existe macumba, mas não sou incutida, mais sei das músicas, da macumba, das coisas do povo tudo por lá, mas meu pai não deixava a gente ir.
P1 – Quando a senhora era pequenininha tinha história de assombração...
R – Se tinha história de assombração? Tinha assim, meu filho.
P1 – Conta para gente como a que era.
R – A história de assombração...
P1 – A senhora tinha medo?
R – Se eu tinha medo? Não meu filho, eu nunca fui muito medrosa, não senhor, nunca foi medrosa de jeito nenhum. Um dia o meu pai, nós estava assim casa, aí quando a de noite veio uns gado livre , naquele tempo o gado era solto, aí veio o gado, aí meu pai chamava: "cheirosa, cheirosa acorda, que somam a esse? Vai tanger o boi para não ir para roça." Aí eu levantei para tanger aqueles bois, eu e minha irmã Chiquita porque ela teve dez filhos, mas aí morreu um com 3 anos de sarampo, com 10 dias que se um morreu, aí o outro morreu, com 2 anos, de sarampo também, aí tinha o outro que morreu com 9 anos, que cobra mordeu, aí tinha outro que morreu com 7 anos também, esses meninos morreram todos, quatro crianças morreram dentro de 2 anos, assim, aí ficou só eu e morreu outro também, ela teve uma peste aí outro nasceu e logo morreu, nasceu já morto e aí ficou só eu, comadre Chiquita e a Neusa e o compadre Augusto e aí a Neusa já era casada e só nós que era da batalha para trabalhar, para roça, para tudo. Aí eu me levantei. "Levanta, vai olhar o gado..." Levantei, meu filho, eu saí lá fora mais a minha irmã, eram uns tirão no mato, assim que nem aqui. Nós cheguemos lá o labsone, o labsone ___ ____ Chiquita ____ __ Chiquita correndo atrás, meu irmão, corremos que chegou em casa: "papai..." "Mamãe..." Não contamos para ele porque ele dizia que era mentira... E a mamãe: "ô, minha filha, o que é que faz..." Aí minha mãe levantou junto com a gente, aquele negócio blá, blá, blá, que o labsone, quando ele caminha, ele sai da estrada, ele corre e bate a canela no chão assim. Aí eu conheci depois, eu conheci um homem chamado Pulunaro, o Pulunaro tinha um filho chamado Domingo, aí o Pulunaro se abandonou, ele era um pretão, um preto velho, um pretão. Daí a mulher dele abandonou ele porque falou que ele virava lobisomem e aí ele foi morar num lugar, ele morava numa comparação que nem aqui num lugar chamado Barreira e a estrada para ir para a calçada e uma estrada para ir para o matozinho e ele foi morar lá na encruzilhada que ia ao outra estrada descendo pelo matozinho, ele foi morar lá. Eu vi o filho dele, o Domingo, já estavam rapazinho, aí o Domingos disse que de noite ele chegava com, chegava de noite e ia lá no quarto onde ele estava, laudo domingos estava chegava lá e ficava: erh... erh... Aquela onça, virado era numa onça, não era nem mais labsone: "orrr..." Aí o menino disse ficava quietinho e com medo e aí quando ele saía para fora e aí ele batia na porta e chamava: "Domingo..." Disse que ele chamava 2, 3 vezes e ele não falava para modo de pensar que ele estava dormindo, e aí ele assim: "ô, papai..." "levanta, meu filho, eu matei um porco." Ele virava uma onça e ia pegar os porco ali, porque naquele tempo o porco era criado solto, dormia no mato. Ia pegar os porco ali e trazia, trazia para dentro de casa ele morreu que o rapaz matou ele, encontrou com ele, mas dessa vez ele estava virado no labsone, aí o rapazinho montado num jumento aí encontrou com ele botou medo e aí ele foi e atirou nele e aí ele chegou em casa falando para o filho que tinha caído de cima de uma jumenta, aquele possuía uma jumenta e um toco furou assim, daquilo ele morreu e o filho dele bateu palmas com as mãos e com os pés de alegre, o filho dele porque naquele tempo filho era governado. E também tenho uma história que eu tenho um primo, eu tinha um primo que aí ele se encontrou se com uma mulher, ela era amiga para gente assim, já era uma velha, ela virava labsone. olha , meu filho, isso aqui fica tudo pelado porque caminha assim, ele faz: blac, blac, blac, blac, ele caminha batendo as mãos no chão. Aí o meu primo encontrou com ela e ela botou nele e ele foi de um tiro na ela, aí ela veio para casa, quando chegou em casa ela só falava nele, aí passou assim, quando foi com onze dias ele morreu. A família dela, os filhos dela sobre que foi ele aí jogaram com macumba nele morreu. Eu vi essas coisas tudinho lá, e lá na beira do Codozinho tinha uma assombração, o povo diz que era um dinheiro enterrado. era uma assombração, mesmo o meu marido chegou em casa quase correndo que diz que deram 13 porradas nele, vai que ele trazia um (covo?) nas costas, o povo era assombrado de ver aquelas coisas, mas eu mesmo ver, o que houve um tempo foi só um (isturnos?), o povo dizia que era um dinheiro enterrado que tinha, aí a gente ia lavar roupa com três léguas de distância, a gente o tempo era sofredor, aí soltavam os isturno que nem uma onça, aí lá nós saímos correndo assim, e muita gente correu, teve uma mulher, coitada, que saiu só de anáguas, no tempo usava anágua, correndo coitadinha. A foi um homem, chegou um dia ele estava lá quando ele se juntou aí ele disse: "hoje não vou sair daqui, hoje eu vou saber que onça é essa." já fazia anos, ele ficou sentado. Até num lugar chamado Buriti na beira do Codozinho, aí ele (suntou?) lá vem a onça (isturrando?) ele falou: "não saio, não saio, não saio..." Aquela onça: "ri, ri, ri..." chega estremecia o chão. Aí quando chegou a perto de um cemitério, ele disse que vê uma ventania tão grande que ele disse que tudo, disse mais que: "não saio..." E aquele negócio e nada dele ver a onça, só aquele (isturno?), até que aquele isturro parou lá naquele lugar, quando parou naquele lugar, aí ele disse que estava morrendo de medo, aí ele criou a arma logo, ele disse: "é aqui." Aí ele foi, pegou o enxadeco, cavou, ele tirou 2 malas de dinheiro enterrado lá naquele lugar e acabou–se a onça. A gente ia para lá para o Codozinho e vinha ninguém mais viu onça, mas disse que era o dinheiro enterrado que fazia aquelas marmota todo. Foi isso. O povo vê muita coisa naquele Maranhão, história antiga que só vê o jeito que nossa senhora. Uma mulher contava uma história também, ela contou para a gente, agora não estou lembrada onde é o lugar, se era no Miragáia, era lá perto. Aí estava numa farinhada, fazendo farinha e lá uma criança deitou em cima de uma esteira e aí foram dormir e aí a mulher: "deixa ele deitado aí..." E aí foram deitar numa casa que nem ali, né, casa do forno aqui. Quando amanheceu o dia de manhã estava só pé da criança, aí a mulher ficou desgostosa, ficou desgostosa, ficou desgostosa, tão tanto e aí o que nós faz? Aí passou uns quinze dias ela combinou mais o marido, disse: "nós vamos ver o que é." Disse: "é labsone que tem por ali." Aí foi. A aí fizeram outra farinhada e lá deixaram um menino dormindo e foram para casa que ela disse: "tu vai esperar. " E o marido foi, pegou a espingarda e foi esperar. Daí quando deu perto da madrugada, aí o labsone entrou, o labsone entrou ele meteu a espingarda: "pá!" Matou, aí chamou a mulher e vieram, só de dizer o mesmo rosto, era o pai da mulher que virou labsone e foi comer o menino dela. Tudo isso tinha eu acho que agora não existe mais, e esse negócio de labsone. Lá onde eu moro teu negócio de uma, até um dia apareceu, mais de antes era quase todo dia, uma luz que a gente via no caminho, a gente ia ali e via uma luz, a luz descia, aí: é uma moto, antes não tinha quase morte, era fulano que vem, chegava não via nada, e agora? Daqui para lá ao povo vê, é mais difícil, é mais numa ladeira, vê aquela luzona, aí vem vindo, vem vindo, vem vindo, vem aquela luz e quando chega perto, desaparece. (Visage?) É assim que é as coisas do... Mas agora quase não tem mais junto não, de antes tinha mais, acho que o povo estão mais sabido, estão mais besta, não sei, não estão mais virando labsone, nem virando onça e nem nada disso, as coisa está modificada assim. Em vez de virar uma onça, em vez de virar um labsone estão caindo tudo na gangue, é o que nós estamos vendo, essas coisas tudo, mas antes virava labsone, não era? Daí as coisas era melhor para a gente.
P1 – A senhora começou a trabalhar com 10 anos o povo ?
R – Eu?
P1 – É.
R – Olha, meu querido, eu me lembro que eu trabalhei de roça num lugar, num centro, que a gente trabalha num centro, apegam os terrenos alheio a gente trabalha no centro no lugar que se chamava (Bobento?) porque disse que tinha um igarapé, igarapé do Bobento, que o povo disse que tinha uma senhora de bobo, uma doença que se curasse, banha–se, lá chamava–se Bobento, eu não entende mais, isso era no tempo da feitoria, aí eu fui para a roça, mas minha irmã... Daí eu estava na roça, o papai não tratou da roça toda, não deu tempo porque lado muito mato aí a gente tirando ficou assim, (encruzadas?) aí eu me lembro de trabalho nesse tempo do mundo, aí eu fui mais minha irmã, minha irmã mais velha. A bicha era trabalhadeira, que sabia da conta de tudo, aí chegou lá ela dizia: "Bié, levanta Bié, tá com brincadeira eu vou dizer paro papai..." A Neusa, minha rede, deitada naquela retirana e eu ___ aqui e ela: "Bié, eu vou dizer para o papai." O papai estava bem assim cortando arroz eu aqui... Ela contou para ele lá e eu nem vi, ela contou para ele quando ele chegou: "cheirosa!" Eu disse: senhor papai, já com medo que eu ia apanhar. Daí ele disse: "tamanha moça que nem tu, minha filha, trabalha..." Aí ele tirou o cinturão e me deu uma tacada: "tammm." Aí disse assim: "cheirosa, trabalha, tu já está uma menina, com 6 anos de idade dentro de 7, minha filha,com preguiça de cortar arroz? olha, um cacho de arroz que tu corta..." eu me lembro direitinho... "um cacho de arroz que tu corta eu não corto, nem a Neusa, nem sua mãe..." Aí outra tacada, aí eu não agüentava mais, aí o mijo desceu nas pernas (RISOS). Aí ele disse: "olha, serviço de menina é pouco, mas quem perde é louco você já está dentro de sete anos." aí veio outra tacada, ele me deu três tacadas, meu pai, de lá para cá que eu vim conhecer serviço. Então eu digo que comecei a trabalhar cedo e eu tinha meu irmão que era mais novo do que eu e tudo ia para roça trabalhar, ele não judiava, mas botava para trabalhar. "A Chiquita ela não pode carregar esse pauzão não, ela leva um que tu leva 2." encostar madeira para fazer cerca e a gente fazia e assim mesmo eu agradeço meu pai que me ensinou a trabalhar e assim eu criei meus filhos tudo trabalha. Eu criei meus filhos lá em casa e, mais de lavar roupa para cima os meus filhos tudo faz, só não lava cueca de ninguém, cada qual ganhou, lavou, mas o resto... minha filha faz mandioca, faz farinha, coivar, cortar arroz, de 7 anos em diante já sabe fazer isso tudo e meus filhos também. Eu vou morrer de fome, eu sempre dizia para minha filha, uma menina que eu criei, eu digo: olha que Elisângela, bora para a roça trabalhar, é que quem trabalha Deus ajuda, nós somos pobres, se tiver sorte de casar com o filho do presidente para ele botar empregada para tu a sorte tua e se tudo tiver sorte de casar com o (Macoxi?) que não faz nada, tu sabe passar, tu sabe plantar e dar o que comer para ele, aí vai para sua sorte. Eu nunca empata e meus filhos estudar, não senhor, tudo estudou, mas todo trabalho e respeita o mais velho e uns aos outros, não tem briga dentro de casa não, porque se tiver briga vão se abraçar, vão se beijar e o que abraçar mais pouco apanha, já estão todo homem, mas não tem briga não, graças a Deus. Eu agradeço meus filhos ser pobre, mas ser uma pessoa unido e com os outros, os amigos tudo são unidos. Eu creio meus filhos numa base que os meus filhos iam para a escola que não chegava em casa contando história de professor não, porque se contasse apanhava: meu filho, quem quer professor bom, seja um bom aluno, brigar com outra criança lá não brigava não porque um que tentou brigar duas vezes apanhou, aí não brigou mais. Aí o povo diz: não, menino aqui em casa só conversa, eu digo: mas tem gente grande, tem professor, ele pode sair dali, agora vou criar meu filho se tu chegar em casa apanhado, tu apanha, agora se tu bater, não. Eu vou criar meus filhos, ensinar meus filhos? Não senhor, de jeito nenhum, ensino o meu filho a ser gente, mesmo que não são, mas eu ensino educação, respeitar todo mundo, será alegre, brincar, isso aí... Andar bebendo cachaça, não senhor, cachaça ficou para homem beber, não foi para jumento não, mas às vezes tem um homem que não sabe beber cachaça e deixa a cachaça beber dele, então não adianta, né? Meu filho, você vai por ali se você achar uma menina que lhe queira, que lhe queira, agarre, mas se não lhe quiser, pronto, faz de conta que você não viu, pronto não precisa ficar insistindo se pondo besta e nem agredindo, eu sou contra isso, assim que eu criei os meus filhos e me criei desse jeito, e gosto das brincadeiras.
P1 – A senhora casou com quantos anos?
R – Eu casei com 21 anos de idade.
P1 – Aí depois reencontrou essa Irene? Que ensinou a brincadeira...
R – Foi, a Irene que me ensinou a brincadeira, depois eu casei, bem deixa eu ver, bem já tinha uns 10 anos de casada eu me encontrei com aí Irene lá no...
P1 – Conta a história do casamento então...
R – Eu já tinha vinte anos de idade, aí quando apareceu esse rapaz lá, ele casou com dezessete anos, aí arrumou uma mulher com dois anos a mulher caçou outro homem, aí ficou, o povo dele disse que ele é que não prestava e ainda fizeram ele ido buscar a mulher, quando ele chegou aí acharam mulher com outro rapaz mesmo, até da casa aí ele largou. Naquele tempo homem não... a ele foi se (ajuntou) com outra menina, acho outra moça e ficou com ela e aí ainda viveu cinco anos com ela e aí com esse cinco anos, quando ele pensa que não, ela está com outro. Aí ele arrumou que tinha e foi embora e aí apareceu lá em casa. Apareceu por lá e ficou, ficou, ficou, ele apareceu em janeiro, no começo de Janeiro e aí quando foi dando o mês de, no fim de julho eu fui me agradando dele, eu fui me agradando deles até que, mas meu povo não queria que eu morasse com ele, meu pai era contra porque ele já tinha sido casado, não prestava. a minha irmã, esse irmã mais velha era contra, tudo, só não minha mãe, minha mãe ficava calada. e ficou, o namoro rolou e lá vai escondido, escondido, nunca vi coisa boa escondido (RISOS) escondido, escondido até que um dia a madrinha chegou em casa eu falei para ela que eu ia me casar com ele, eu queria. Ela disse: "você quer?" Eu digo: eu quero, meu povo nenhum quer eu não mandei ele pedir, porque nenhum quer, mas eu estou dizendo para senhora e ela disse: "está bom." Ela falou com eles aí me levou para Codó. Aí eu o padre veio desobrigar, no interior, aí nós foi para a cidade, aí deixa... Naquele tempo quando se namorava com um rapaz, com outro, com outro assim, porque só era mesmo, porque não podia nem beijar, assim, aí eu fui para Codó. Cheguei lá passei 6 dias e a gente casou e aí eu vim para casa, vim para dentro da casa de meus pais e aí quando eu cheguei, o presente que eu ganhei de meu casamento a minha irmã me deu uma dúzia de bolo em cada uma mão, de uma dúzia de bolo em cada uma mão, a Neusa, minha irmã, zangada, chorando, me bateu e eu fiquei calada, só respondi para ela assim, eu digo: Neusa, você está satisfeita de ter debatido? Ela disse: "eu estou." Mas não desmanchou o casamento, mas isso eu disse lá longe dela. Meu filho, quando passou assim uns 3 , 4 meses esse povo tirava a minha razão e dava para o meu marido, se ele falasse alguma coisa e não dizia nesse instantinho não que era para ele errada. Ave Maria, vivemos quarenta e quatro anos esse povo gostando desse homem mais do que de mim. Ele fez os possível só para mim sofrer menos. Um dia eu disse para minha irmã: eu digo, Neusa, eu fico olhando que tu, ele foi pescar e aí eu, o fogo era no chão assim, na lenha aí eu vi a menina assim se arrastando, aí a menina com a (babúia?) de catapora. Você sabe o que a catapora? De catapora, ele entendeu, disse que o que não me importei, faiscou e aí queimou a menina e aí eu disse: não foi, rapaz! "Foi!" Eu digo: ah, minha nossa senhora, pois agora vai acontecer, você vai ficar trabalhando na cozinha eu vou procurar a minha irmã chegou... "Cala boca, Bié." Eu digo: Neusa, a coisa é assim: quando foi para eu casar com Ambrósio que eu não tinha direito, para com o Ambrósio, o Ambrósio é que tem direito, eu não sei quanto, vocês não gostam de mim, eu acho que não. Era assim, mas gostavam dele, graças a Deus. Mas para mim casas, menino, foi um precipício de vida para mim poder casar. Não conversava com ele, não falava com ele, ia para a festa e não dançava com ele, foi horrível, mas graças a Deus foi um amor eternamente porque eu achei um marido do jeitinho que eu queria. O meu marido não tinha essa coisa de chegar e eu estar conversando com uma pessoa, ter uma festa e eu me arrumar e ir para a festa, dele chegar e brigar não. E ele era do mesmo jeito. Eu sempre dizia: Ambrósio, porque lá era no meio das gatas, das prostitutas e tinha muita menina para todo lado, a minha casa era cheia. Eu dizia: Ambrósio, um dia – comparação – que chegar num lugar, tiver agarrado com uma mulher, não corre não meu filho, pode deixar que eu saio, eu não vou preterir a tua vida não, ela sendo solteira, agora se ser casada não agarra não porque o maior gosto que eu tive, eu dizia para ele: o maior gosto que tenho e de ser casada e ter o meu marido. Para mim ser feia, pobre e ser uma mulher sem marido doida por homem como é, que marca não passava? Eu sei que sofria muito, mas sempre vivemos combinados graças a Deus. Até quando ele morreu e até hoje sinto falta dele que para mim que eu tivesse morrido ele tivesse ficado para mim era melhor, mas Deus não quis assim. Aí eu parei, eu também acompanho o MMC, vocês conhecem? O Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rural. Sempre acompanho aí eu parei, mais de um ano sem o ir porque ficou ruim, aí agora que eu já estou continuando de novo. Eu sempre gosto de sair, o gosto de brincadeira, o gosto de estar no meio da folia porque a gente é bom a gente estar no meio da folia, não é? Tem as brincadeiras, não todas as brincadeiras de canalhice. Essa brincadeira que nem essa que nós estamos reunidos é muito bom, pessoa todas alegres, todas satisfeitas e isso porque a gente tem que viver assim que nem o viver do passarinho todo coberto de pena, porém alegrezinho, né, porque raso não tem, chega aqui todo mundo está... aí o povo: "o que foi? Quiá, quiá, quiá..." Já começa sorrindo, né, então se eu sou conformada com minha vida é por isso. Não sou uma mulher doentia, graças a Deus, sou mãe de quatorze filhos, mas não sou uma mulher doentia de dizer: ah, está doendo, ah estou com isso, não senhor, graças a Deus. Eu dentro dessa idade que tenho eu conto os exames que já fiz. Já fiz exame de fezes e de urina 3 vezes, agora exame de sangue eu já fiz por causa de malária, mais outro exame eu não fiz, de jeito nenhum e não é porque eu queira ser boa não, é porque eu nunca tive precisão porque uma coisa, eu estando doente, negativo, eu digo logo: estava doendo isso, está me doendo aquilo, não escondo não, mas não teve essa precisão ainda?
P1 – Bié, como era a Irene? Conta um pouco dela para a gente.
R – A Irene?
P1 – É.
R – A Irene, criatura, era uma menina assim moreninha, meia gordinha, alegre, satisfeita ver os cabelos bem crespinhos, bonita a Irene, para lá no Barra Grande, no município de Grajaú, hoje em dia está sendo município do Arame, porque Arame passou para cidade, mas naquele outro tempo era Grajaú, cidade longe, mas era município de Grajaú. Aí Irene, mas era alegre, trabalhadeira, quebradeira de coco, tira de azeite, cortar arroz, era a Irene, que era o Zé da Cruz que era o irmão dela, de chover meu Deus como quer o nome da outra menina... está esquecida do nome da outra irmã dela, ela tinha mais 2 irmãs, mas faz muitos anos a Irene... aí a gente ia brincar, aquelas coisas, eu me lembro da Irene ela gostava de uma brincadeira, toda vez que ia brincar Lindou ela cantava, ela cantava uma música assim: "quando eu canto no Lindou que de longe se conhece, as águas." Não, eu vou começar do começo. Quando chegava no lugar para brincar ela começava assim: "senhora me dê licença no seu terreiro eu brincar eu sento junto e em terra fazendo pelo sinal. E a barra quilariou aba quilariou abá, quilariou, quilariou, quilariá. O nome do pai é na terra e do filho é no umbigo, eu vou me benzer primeiro para livrar do inimigo, e abarrá quilariou, abarra quilariou, abarra quilariou, qulariou, quilariá. quando eu canto no Lindou, que de longe se conhece, as águas no Marabá e as pedras do morro desces, e abarra quilariou aba quilariou abá, quilariou, quilariou, quilariá." Aí que ela começavam os versos, né? "Menina, se queres não, não se põe a imaginar, quem imagina cria medo, quem tem medo não vai lá, a barra quilariou, abarra quilariou abá quilariou, qulariou quilariá. A siri cora quando canta, fica na ponta do pé, está cantando e está dizendo homem a paixão de mulher,a barra quilariou, abarra quilariou abá quilariou, qulariou quilariá." a primeira música que ela tirava essa daí, aí para depois continuava as outras, outras músicas que canta, do Lindou.
P1 – Ela passou para a senhora?
R – Como?
P1 – Ensinou para a senhora...
R – Ensinou, aí ela saiu e ficou outras meninas, a gente começou e aí eu vim para cá para Roraima e encontrei com a comadre, comadre preta, e a preta, o João Preto, rapaz, nós fazia bagunça, nós dançava o Lindou de fartura, aí depois que o João Preto morreu, preta ficou viúva que era o marido dela, a comadre Maria preta... menino, uma perdição maior quando a Maria Preta saiu lá de perto de casa e o meu Ambrósio morrer, foi a maior perdição, aí pronto porque foi uma vizinha que... Eu criei meus filhinhos tudinho e ela não tinha nenhum filho de tudo respeitar ela, tudo gosta dela e os meus filhos nunca fizeram raiva para ela assim dela de nós bater boca, nós discutir, nunca meu irmão, ela não tinha filho eu a casa cheia com 9 filhos, ainda hoje ela põe por eles, ela era tão assim por eles que lá na casa dela tinham pé de tamarindo eu ia e quebrava ou cipó de tamarindo para, e aí como ela chegava em casa, ela achava, ela achava ela quebrava tudinho que jogava no mato, ficava com raiva, mas não dizia nada: " comadre, não pode fazer isso com os bichinhos, não pode, por mim ela põe meus filhos até hoje, ela pune por eles. Eu digo: comadre, você está perdendo... "Não, os bichinhos não merece, os bichinho não merece. É assim. Hoje mora lá no Martins Pereira, o marido dela não levanta para ir para um banheiro, é preciso a levar, toda precisão precisa ela fazer, ô, rapaz chega a dar um desgosto na minha vida, dela viver assim.
P1 – Me fala uma coisa, dona Bié, quando foi que foi que a senhora virou mestra Griô?
R – Quando foi que eu virei mestra? Agora?
P1 – É.
R – Faz poucos meses, meu filho, foi agora no... eu não estou nem mais alembrada porque depois que o meu marido morreu eu fiquei toda assim, uma pessoa assim que faz uma coisa já não lembra, faz outra e já não lembra, mas já foi esse ano mesmo já.
P1 – E a senhora gostou?
R – Eu gostei, minha Catarina não queria então gostei, tem achado tanta gente amigo que... Um prazer agora com vocês aqui, meu Deus do céu... Ter paciência de estar olhando para mim e eu conversando... Eu para mim é o maior gosto da minha vida, fazendo tudo (possivi).
P1 – E a senhora vai para a escola, cantas para as crianças...
R – Canto para as crianças, música lá no Malocão, chamo eles para nós brincar, tudo, já disse para eles, eu digo: ó, agora no fim do ano eu vou lá no Maranhão aí eu vou caçar umas pessoas que são próprias pessoas que iam com um tanto de meninos para brincadeira, para recordar as brincadeiras para nós brincar, meus filhos, porque é tão bom a gente brincar... Tem um menino lá que esse bichinho é tão aceso, tão contente para brincar, é o Lucas, filho do foi mas da nega, mas o bichinho é tão contente para brincar... Eu digo: vamos embora brincar. Tem meu filho, o Renato, que já tá homem que brincou o teatro, que ajuda, mas ele já saiu do contato, ele só ajuda a orientar os menino para a brincadeira. E eu quero que lá no Martins Pereira vai ser uma coisa bem boa, se depender de mim eu quero ajudar na brincadeira (ni todas as brincadeiras) eu só não quero a brincadeira do Tum, tum cabaça porque Tum tum cabaça era naquele tempo que as moças não podiam namorar então tinha aquela brincadeira e aí: tum, tum cabaça, tu vai e tu não me acha, aí ela corria e se escondia e aí ela já tratava com o rapaz que ela queria para modo de dar um beijinho lá escondida, agora não precisa... se beija a mesma na praça, né, essa brincadeira eu não vou mostrar para elas não, vou mostrar as outras, do canavistim, do, da mangaba, se eles quiserem que eu já falei com a menina que tem lá também que ela é mais orientada para nós fazer, brincadeira de roda, da formiguinha, dos casamentos: eu caí no posso, quem te tira meu bem... Meu bem... Aí a gente diz: é o José e mais ninguém e aí, vocês já viram a brincadeira do poço? Aí é uma brincadeira... Tem muitos tipos de brincadeira, gente, dos outros tempos têm muitos tipos de brincadeira.
P1 – E a senhora sabe tudo?
R – Eu não sei bem por que meu pai não deixava, mas aí eu quero ir no Maranhão para essa minha madrinha me dar orientação, a minha irmã eu quero fazer lá com elas tudo direitinho, que faz muitos anos, aí eu vou ensaiar. Aí tem a brincadeira, tem a brincadeira do lobo mal, tem muitas brincadeiras eu só não faço lembrar mesmo como é que a gente continua fazendo, mas eu quero continuar.
P2 – É muito diferente Roraima do Maranhão?
R – Eu acho, eu acho muita diferença, muita diferença e não devia ser diferente porque a maioria do povo que tem Roraima é maranhense, porque maranhense que nem precisam em todo lugar ele está (RISOS), pois é, e não devia ter essas diferenças porque mesmo lá no Codó tem pouca gente, mas temos os lugar. Mas eu já vi gente assim e lá onde eu morava, lá não tinha essas brincadeiras, não tem isso, mas lá no Codó – minha filha – todo tipo de brincadeira tem, tem sim senhora, todo tipo e brincadeira. Tem a divindade, não sei se vocês conhecem... o povo faz uma caixa assim com o tambor e sai com o divino Espírito Santo nas casas cantando: tangolangotango, pedindo esmola tanto na casa dum, na casa do outro para poder fazer festejos, aí o povo faz. Aí tenho festejo de São Benedito, o povo sai também com a festa de São Benedito. Tem outra brincadeira também que o povo faz, da renda até de dinheiro, o senhor Piquinite, você já ouviram falar em Piquinite? O povo se (arreune), o povo faz, tudo isso é brincadeira no Maranhão, mas chega aqui ninguém quer fazer, não tem precisão de nada, tem televisão, tem aquilo tudo, para namorar está ali perto, então não quer, mas tudo isso no Maranhão tem, eu acho que mais diferente assim. Outra aqui no Maranhão, os maranhenses tudo trabalha, quando chega em Roraima trabalha o primeiro ano é outro ano já... porque lá na nossa Roraima é assim: "em Roraima não precisa trabalhar, a comida vem do céu, Jesus Cristo vem deixar." Lá no Maranhão se não trabalhar não come, vai morrer de fome e os parentes vão chorar. Lá em Roraima é tudo em cima da terra, se a pessoa quiser tem, fica aí, não trabalha nem nada, mas tenho que comer dando graças a Deus. Lá no Maranhão é (dependeoso?).
P2 – O que é que é, o que tem de comer assim que dá?
R – Aonde?
P2 – Em Roraima.
R – Em Roraima tudo é farto porque se a pessoa vai no mato acha o tucumam, acha o buriti, acha bacaba, acha o açaí, chega numa casa tem tudo para comer se quiser, assim é aquela coisa, o povo faz brincadeira, tem festa, tem tudo se quiser. Agora que está mais o difícil porque o ano passado acho que o povo nas política não quiseram dar comida, mas nas política carne de boi estraga, minha filha! Aquela festona, cada um político e é carne ali e vai fazer um comício e é carne para acolá, o fulano leva, é tanta coisa boa que eu quero que a senhora veja. Aí o ano passado disseram que aí encerrou, não tem, mas nas política era desse jeito... Nem tinha precisão, fulano pegava um tanto de carne levava para casa, aquele tudo que sobra, que vende, arroz, de tudo e é farto, tudo é fácil lá em Roraima, lhe digo perante a Deus.
P2 – E perto da cidade da senhora tem ________?
R – (Terrendismo?) Tem não, minha querida, só lá mesmo, tem perto assim porque só lá para mesmo para a capital, Boa Vista que o ______ mora para lá. Aí também na Caracaraí, na Caracaraí e a 210 também tinha uns, mas aí acharam combinaram com o povo assim e pronto, ficaram tudo uma pessoa só. Mas são um povo tudo legal, tudo fartura, ninguém tem essas maior tanta precisão não. E (argum) que sofre precisão é porque quer, porque tem muito mato para se trabalhar... Se planta feijão ele dá, se planta batata dá, se planta o milho dá, se planta o arroz dá, tudo enquanto com fartura e pode continuar uma horta porque a chuva não para. o verão é muito pouco em Roraima, é tudo... por isso é que eu digo que lá não temos esse tanto de precisão de estar trabalhando assim porque para fora os terrenos tudo é de dono, né, ninguém não pode, e ali não, cada qual tem seus terreno, quem não tem é porque não quer. Que nem agora, agora estragou muito arroz, o povo não foram apanhar arroz de meia porque não quis, as roçona grande e os donos não dá conta de apanhar e o arroz estraga. Chega a fazer dó assim, aqueles cachos de arrozão estragando e o povo não vai. Por isso que eu digo que lá em Roraima o povo é de fartura, por isso, quem passa mal a porque quer. Agora no dinheiro não, está certo porque aí a gente tem que vender muita coisa para arrumar um dinheirinho, mas para comer, não senhora, é muito farto na Roraima.
P2 – E a senhora vai para o Maranhão ainda, de vez em quando?
R – Eu quero ir para o Maranhão agora no fim de dezembro, que eu tenho uma cunhada que ela veio de lá, abandonou a família dela já tem mais de, eu acho que ela tem mais de quarenta anos, não, só que em Roraima nós já vamos fazer, ela vai fazer trinta anos que mora aqui. Elas não sabe de uma prima, ela não sabe de mãe, não sabe de parente nenhum lá, sempre chama e ela não vai, quando é esse ano ela diz que quer ir, mas queria comigo, eu digo: nós vamos lá eu vou te levar, cassar seus parentes tudinho para te ver, porque o marido dela, meu irmão morreu já, já tem uns 5 anos que morreu e ela abandonou a família toda por ele e veio para cá eu quero ir lá no Maranhão, pegar o navio aí de ser de água abaixo, eu quero ir até no Canindé, lá onde São Francisco, se Deus quiser quando eu passar de lá aí eu vou passar no Juazeiro lá no padre Cícero, aí eu venho para Codó, aí eu vou para a chapa de minha, que eu tinha uns irmãos lá, eu vi um ainda uma vez, mas a não vi mais, mais velho do que eu, um bocado de ano, que é filha do primeiro casamento do meu pai, o meu pai casou, mulher morreu aí ficou 2 filhos, a Miroca e o José eu quero conhecer esse povo lá. A minha irmã mora perto de lá, que ela mora no Codó, no Coroaté, mas minha irmã não sai, não anda, não sei como é um povo assim que não manda... eu não sei se era assim não. Eu sou de todo o lugar do mundo, eu vou onde me chamam, onde não me chamam onde dar de eu ir eu vou, é assim.
P2 – E a senhora já fez essa viagem? Saiu de lá de Roraima e ir até o Maranhão?
R – Eu já fez 3 viagens lá, eu fui uma, foi pagar uma promessa de São Francisco, que é a primeira que eu fui, eu fui com duas crianças, eu fui lá no Canindé e aí voltei parcelado os meus parentes em Codó. (Adepois) eu fui com um rapaz doente, o senhor Domingos, era só amigo da gente, era professor, aí não tinha acompanhar a aí eu acompanhei ele, aí passei dois meses em Teresina. Aí vim, aí quando foi 1 ano, que agora dia 16 de novembro vai fazer 2 anos, aí eu levei, que meu marido estava doente levar e ele em Teresina e aí de lá eu fui pagar uma promessa, foi até em Canindé, ele não foi, ficou em Codó na casa de uma sobrinha minha porque ele estava ruim, não deu de ele ir e tinha um doutor de Teresina, o doutor José Francisco e ele se consultou com ele lá, aí não foi preciso eu levar, esse ano eu quero ir de novo. Se Deus quiser eu vou, também se Deus não quiseram não vou não, não me zango não, que eu só faço o que Deus quer.
P1 – Eu queria perguntar mais uma coisa dona Bié...
R – Pode perguntar, meu filho.
P1 – O que achou de estar falando com a gente aqui?
R – Heim?
P1 – O que achou de ter falado com a gente... Essas entrevistas...
R – Amm, eu achei bom porque estar conversando com vocês, umas pessoas tudo bem educada, umas pessoas tudo amado com a gente, que vem de acolá para conversar com a gente, porque tem gente que tem a saber, a gente vê o que ele está fazendo, mas está assim, vocês não, está de coração aberto, estão tudo da parte de Deus aqui com a gente eu gostei de estar conversando aqui com vocês, dando essa entrevista porque vocês estavam, querem que eu dê a entrevista, pois... Gostam de ver conversas feia, né, aí...
P1 – Obrigado...
R – A gente estar falando assim, pois é aí da outra vez eu já vou mostrar meu ensaio mesmo de Lindou, de mangaba, de São Benedito de tudo em conta e nós tudinho dançando e o rapaz gravando acolá.
P1 – Tá bom.
R – Vamos fazer isso.
P1 – Obrigado.
R – Olha, o sabiazinho coberto de pena, mas está alegrezinho...
Recolher