Projeto Banco do Brasil - 200 anos de Brasil
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Rosemiro Pinheiro Pereira
Entrevistado por Nádia Lopes e Marta de Lelis
Belém, 05 de novembro de 2008
Código: BB200_HV027
Transcrito por Regina Paula de Souza
Revisado por Denise Bitati Penha
P/1 – Boa tarde, Seu Rosemiro!
R – Boa tarde.
P/1 – Para começar, eu queria que o senhor dissesse: o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Bem, o meu nome completo é Rosemiro Pinheiro Pereira, o meu local de nascimento... primeiro a data de nascimento?
P/1 – Do jeito que o senhor achar melhor.
R – Dia 16 de dezembro de 1936, o local do nascimento, foi nesta cidade de Icoaraci, nessa época, chamava Vila do Pinheiro, então, foi aqui que eu nasci, aqui que eu me criei também e é aqui que eu vivo até hoje.
P/1 – E que pertence a Belém?
R – Isso pertence a Belém, é um distrito de Belém, na época, quando eu nasci era dirigido por uma subprefeitura e hoje é um distrito.
P/1 – O senhor se lembra dos seus pais?
R – Lembro, lembro bastante! O meu pai chamava Pedro Celestino Pereira, ele era descendente também de um outro artesão, Marcos Jorge Pereira. Era filho dele. A data de nascimento do meu avô, que seria o Seu Marcos Jorge Pereira, eu não tenho, mas a data de nascimento do meu pai eu tenho, ele nasceu no dia 19 de maio de 1888, seis dias após a libertação dos escravos, da assinatura da Lei Áurea.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe chamava Apolônia Pinheiro Pereira, ela não nasceu aqui em Icoaraci, ela nasceu na cidade de Breves na Ilha do Marajó.
P/1 – E a avó o senhor se lembra?
R – Não, das minhas avós eu conheci uma da parte paterna, né, que seria a minha avó paterna, então, essa senhora, parecia que era de origem cigana, porque os trajes dela, a forma de se vestir, de pentear os cabelos, tudo era semelhante a dos ciganos, inclusive, ela usava a cabeça amarrada, né, aquela cabeça...
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Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Rosemiro Pinheiro Pereira
Entrevistado por Nádia Lopes e Marta de Lelis
Belém, 05 de novembro de 2008
Código: BB200_HV027
Transcrito por Regina Paula de Souza
Revisado por Denise Bitati Penha
P/1 – Boa tarde, Seu Rosemiro!
R – Boa tarde.
P/1 – Para começar, eu queria que o senhor dissesse: o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Bem, o meu nome completo é Rosemiro Pinheiro Pereira, o meu local de nascimento... primeiro a data de nascimento?
P/1 – Do jeito que o senhor achar melhor.
R – Dia 16 de dezembro de 1936, o local do nascimento, foi nesta cidade de Icoaraci, nessa época, chamava Vila do Pinheiro, então, foi aqui que eu nasci, aqui que eu me criei também e é aqui que eu vivo até hoje.
P/1 – E que pertence a Belém?
R – Isso pertence a Belém, é um distrito de Belém, na época, quando eu nasci era dirigido por uma subprefeitura e hoje é um distrito.
P/1 – O senhor se lembra dos seus pais?
R – Lembro, lembro bastante! O meu pai chamava Pedro Celestino Pereira, ele era descendente também de um outro artesão, Marcos Jorge Pereira. Era filho dele. A data de nascimento do meu avô, que seria o Seu Marcos Jorge Pereira, eu não tenho, mas a data de nascimento do meu pai eu tenho, ele nasceu no dia 19 de maio de 1888, seis dias após a libertação dos escravos, da assinatura da Lei Áurea.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe chamava Apolônia Pinheiro Pereira, ela não nasceu aqui em Icoaraci, ela nasceu na cidade de Breves na Ilha do Marajó.
P/1 – E a avó o senhor se lembra?
R – Não, das minhas avós eu conheci uma da parte paterna, né, que seria a minha avó paterna, então, essa senhora, parecia que era de origem cigana, porque os trajes dela, a forma de se vestir, de pentear os cabelos, tudo era semelhante a dos ciganos, inclusive, ela usava a cabeça amarrada, né, aquela cabeça amarrada que as mulheres ciganas usam, então, ela usava também. Eu tenho uma ligeira impressão de que ela era de origem cigana.
P/1 – Qual era a atividade profissional dos seus pais?
R – A atividade profissional do meu pai, quando o conheci, era de pescador artesanal, né? Era artesão, ceramista, era também tirador de leite de seringa, que chama látex e também viajante, que viajava pelos rios da Amazônia, então, era isso o que ele fazia, né? Quer dizer, tinha quatro opções pra eu seguir, que seria: ceramista, pescador, tirador de látex da Amazônia e navegador daqui dos rios da Amazônia. Então, eu preferi ser ceramista.
P/1 – Deixa eu entender um pouco. O seu pai, ele fez tudo isso, como é que foi isso?
R – Ah, ele fazia em períodos, né? Ele fazia em períodos, porque, nessa época, veja bem, as leis do trabalho, elas foram consolidadas a partir de 1950, então, até antes de 1950 não existia lei do trabalho consolidada no Brasil, então, cada um fazia aquilo que mandavam ele fazer, não existia salário mínimo, não existia nada disso, então, a partir do governo do Getúlio Vargas, de 1950 pra cá que as leis foram consolidadas. Então, ele podia fazer uma coisa, podia fazer outra, podia fazer uma terceira, compreendeu? Era o mercado informal, não existia a formalidade do mercado nessa época, então, por esse motivo ele trabalhava cada período em uma coisa, em outro, outra coisa, em outra. Ele dependia muito da época em que alguma coisa... como hoje, por exemplo... vamos comparar com os dias de hoje: Atualmente, se o dólar sobe, todo mundo deixa de comprá-lo, se o dólar abaixa, aí todo mundo compra. Compreendeu, porque é um período, né, que a pessoa aproveita a queda do dólar pra comprar o dólar, quando o dólar sobe o cara vende o dólar, compreendeu? Então, é a mesma coisa que naquela época, dava bastante peixe, então, ele largava tudo e ia pescar. Não está dando peixe? Ele voltava novamente pra outra atividade, e assim ele seguia a vida dele, né?
P/1 – E a sua mãe, o que ela fazia?
R – A minha mãe, geralmente, eram as prendas do lar e acompanhava o meu pai também quando ele ia pro interior. Nós vivemos bastante no interior aqui da redondeza, eu fui criado em uma boa parte no interior, eu não estudei, eu me transformei em autodidata dentro da minha profissão, lia livros, aprendia com os livros, lia placas de rua e assim por diante. Foi assim que eu comecei a aprender a ler.
P/1 – Deixa eu só voltar para uma coisa, é uma curiosidade. O senhor falou que umas das atividades que o seu pai tinha era de tirar o leite da seringa, né?
R – Da seringa, é.
P/1 – Mas em qual região que era isso?
R – Essa região toda tinha muita seringueira, porque naquela época, aqui tudo era uma floresta, quando eu nasci, só existia uma rua em Icoaraci, só uma rua! Que era a primeira rua e uma outra que era a Rua do Cruzeiro. Aí, na medida que o tempo foi passando, então, eles foram dividindo a cidade e foram abrindo as ruas, e também distribuindo os lotes para que as pessoas que vinham de outros lugares habitassem naquele local que estava sendo construída uma nova cidade, né. Assim que é feito em todo Brasil e foi feito aqui também, entendeu? Então, em Icoaraci, naquela época, quando ela foi delineada e Icoaraci é padronizada, então, ela tem sete ruas e nove travessas, as ruas todas com 20 metros de largura e as quadras todas com 198 metros em volta dela, 198 vezes quatro, assim que é Icoaraci todinha, ela é assim, desse jeito. E nessa época já existia o projeto, mas não tinha entrado em execução ainda, ele foi entrando em execução, assim, paulatinamente, até chegar ao ponto que chegou hoje, né?
P/1 – Quanto tempo de existência tem Icoaraci?
R – É, Icoaraci completou 139 anos, completou agora, este ano, dia 8 de outubro ela completou 139 anos.
P/1 – Então, vamos falar um pouco da sua infância, né, que o senhor se lembra muito do que o seu pai fazia, das atividades. O senhor se lembra como era a sua casa quando você era criança?
R – Ah, me lembro! Era uma casa humildezinha, assim, coberta de palhas, e era enxameada, enxameada de barro! E o chão era batido de terra mesmo, terra batida! O banheiro era um buraco no quintal, era feito no quintal o local de colocar os dejetos, né?
P/1 – E o senhor tinha muitos irmãos?
R – Nós tínhamos, em toda a nossa família, eram nove irmãos.
P/1 – Nove?
R – Nove irmãos.
P/1 – O senhor se lembra dos nomes deles?
R – Lembro o nome de todos eles!
P/1 – O senhor consegue fazer uma listinha, assim, do maior pro menor?
R – Consigo, eu consigo sim! A mais velha chamava Raimunda, depois da Raimunda, vinha o Pedro Celestino, que é o filho mais velho, né, depois, vinha a Maria de Lourdes, o Alvacir, a Natalina, o Maurício, o Raimundo e por último, eu.
P/1 – O caçula?
R – Isso! O caçula da família.
P/1 – E como eram as brincadeiras?
R – As relações entre nós. Eu, quando eu me entendi, eu só tinha um irmão que era aproximado de mim na idade, aliás, quando eu nasci eu já tinha dois ou três sobrinhos, que eram dos meus irmãos mais velhos e que já tinham família, dois por parte da irmã mais velha e um por parte do irmão mais velho e esses sobrinhos, eles serviram de colegas mesmo de brincadeiras, né? Além disso, tinham primos também pequenos e tinha o único irmão, que chamava-se Raimundo Pinheiro Pereira, que já faleceu também, né? Então aí, a gente tinha aquelas brincadeiras de criança, era pião, era peteca, era papagaio, compreendeu, era tomar banho no igarapé, era subir em árvore, era correr e brincar de pira, essas coisas, assim, que eram as brincadeiras da época, né? E bola! Futebol, que eu sempre gostei de futebol, né?
P/1 – O senhor falou que era uma região de floresta, o senhor chegou a pegar essa época?
R – Peguei! Peguei, eu conheci tudo!
P/1 – E vocês brincavam na floresta, como era?
R – Eu brincava na floresta, brincava no campo de futebol, brincava na rua e assim por diante. Tomava banho na praia também, tinha praia em Icoaraci, ainda tem até hoje, a gente ia tomar banho no igarapé, assim a gente vivia.
P/1 – E vocês tinham quintal na casa também?
R – Tinha quintal.
P/1 – E vocês plantavam alguma coisa no quintal?
R – É, no quintal geralmente era plantado, tinham plantações diversas...açaizeiro, que todo quintal tem aqui na região, né? Tinha abacabeira, pequizeiro, árvore de seringa também, seringueira, né, que dá o látex e tinha muitas outras frutas, aqui no quintal.
P/1 – E animais, vocês chegaram a ter animais? Tinham bichos diferentes aqui na região?
R – Cachorro, gato, né? Cachorro, gato que são os animais e depois de muito tempo é que eu vim também a possuir um boi! Eu criei uns cinco ou seis bois, por aí. Touro também, né? Que era pra minha atividade de trabalho. E também tive um cavalo, foram os animais que nós tivemos. Agora, quando eu era menino eu adorava criar gato, então, eu saía pescando no igarapé pra pegar peixe pra dar pros gatos se alimentarem, era um esporte que eu tinha, uma espécie de um esporte.
P/1 – Não sei se o senhor vai se lembrar, quando o senhor era criança, que era o caçulinha, né, como era o dia a dia na sua casa?
R – Olha, o dia a dia na minha casa era sempre… sempre a gente tinha que ocupar o dia, né, fazendo mandado pra mãe pra cá, outro pro pai pra lá, fazendo um trabalhozinho pra cá, um outro trabalhozinho pra lá. Porque as crianças do interior elas começam muito cedo a vida profissional de trabalho, entendeu, elas começam a se desenvolver muito cedo, porque a escola, naquela época, era muito difícil para as crianças entrarem na escola, né, nós ainda estávamos vindo, nessa época, das colônias, do Brasil Colônia, onde ninguém queria que ninguém estudasse, que ninguém aprendesse nada, compreendeu? Só quem aprendia eram os religiosos e os políticos que aprendiam, né? Aqueles que já tinham curso superior é que colocavam os filhos pra estudar, mas o pobre não estudava, o pobre tinha que se criar mesmo trabalhando, então, eu venho dessa origem.
P/1 – Mas, assim, quando o senhor era pequenininho não tinha uma escola aqui na região?
R – Eu acho que só tinha uma escola, e essa escola existe até hoje, ela foi fundada em 1901, e eu nasci em 1936, não é? Então, só tinha essa escola pública, que hoje é Colégio Coronel Sarmento, é uma escola de primeiro e segundo grau, nessa época era só primeiro grau, que eu me lembre só tinha essa escola.
P/1 – E o senhor não conseguiu...
R – Não, a minha mãe nunca conseguiu me colocar nessa escola.
P/2 – E nenhum dos seus irmãos também?
R – Não. Alguns dos irmãos estudaram, mas pouco, né? Hoje em dia, não! Atualmente eu tenho uma sobrinha e um sobrinho que possuem formação em nível superior. Eu tenho um filho que é oficial da Marinha, compreendeu? Eu tenho outro filho, esse que nós viemos do restaurante dele, que é formado no segundo grau e tem uns dois ou três níveis de advocacia, compreendeu? Quer dizer, então, hoje as coisas já mudaram, né? Eu tenho filha que é professora também.
P/1 – Então, voltando lá na época que o senhor não teve condições de estudar, então, o que o senhor começou a fazer, porque o senhor falou que aprendeu a ler sozinho, como é que foi isso, com que idade começou isso?
R – Você está falando do quê? É sobre a vida profissional ou a vida de leitura?
P/1 – Não, quando o senhor era criança e que não teve condições de entrar na escola, né, então, o que o senhor fazia nessa época?
R – É, a gente praticava os trabalhos, que eram tarefa de casa, que sempre tem uma tarefa em casa pra fazer, vai ali, vai acolá.
P/1 – Que tipo de tarefa, por exemplo, que o senhor fazia?
R – Ah, por exemplo: “Vai lá no mercado comprar peixe. Vá lá no mercado comprar uma fruta. Vá lá no mercado comprar uma verdura”. Porque nessa época que eu me criei, também não existia feira de bairro, só existia o mercado central, então, tudo que a gente queria tinha que ir no mercado comprar ou: “Vai lá na taberna do português fulano de tal e vai comprar um quarto de açúcar, um quarto de café. Vai comprar um pão. Vai comprar uma bolacha”, lá no comércio do português fulano de tal. Então, essas eram as tarefas, que ainda hoje são feitas pelas crianças, né? Hoje, as crianças dizem assim, a mãe diz assim: “Vai pagar a luz. Vai pagar a água. Vai comprar um remédio na farmácia”, isso é tarefa deles fazerem e nessa época eu fazia essas tarefas que eram da época, né?
P/1 – E era longe?
R – Sempre era um pouco longe da Berredos, né, é que eu passei a morar na Berredos, né, eu nasci na primeira rua de Icoaraci, depois é que passei a viver na Berredos. Até lá tinha, mais ou menos, um quilômetro e meio, isso a gente tinha que ir andando a pé ia e voltava.
P/1 – E a arte da cerâmica já tinha nessa época que o senhor era criança?
R – Já, já!
P/1 – Como era?
R – A arte da cerâmica aqui em Icoaraci tem 380 anos, Belém foi fundada no dia 12 de janeiro de 1616, a partir de 1680 a cerâmica já chegou aqui e se estabeleceu, o foco maior, o principal foi a cerâmica colonial, que foi trazida pelos portugueses, foi aqui em Icoaraci que ela se desenvolveu e ela nunca parou até hoje.
P/2 – O senhor disse que o seu pai já fazia, ele aprendeu com quem?
R – O meu pai aprendeu com o pai dele. Agora, o pai dele eu não sei com quem ele aprendeu, mas eu sei que o meu pai aprendeu com o pai dele a trabalhar.
P/1 – E o senhor aprendeu com quantos anos, mais ou menos?
R – Eu comecei a aprender eu devia ter uns dez anos.
P/1 – O que o senhor começou a fazer inicialmente?
R – É, aquelas peças tortinhas, toda tortinha, assim, sabe? Eu não tinha força ainda pra equilibrar, pra centralizar um bolo no torno, né, tinha dificuldade, como toda pessoa tem, tanto criança quanto adulto tem essa dificuldade, aquilo depende muito da coordenação, mas como eu tinha muito tempo pela frente, então, eu praticava sempre e devido a eu praticar sempre, então, eu fui aprendendo. Quando eu cheguei com 15 anos de idade eu já era praticamente um profissional, porque com essa idade eu já ocupava uma roda, que é aquela máquina que a gente produz, né, eu já ocupava uma roda daquela e já trabalhava em produção, eu não produzia todas as peças, não fazia peças grandes, diversos modelos eu não produzia, mas eu tinha uma linha de trabalho que eu já fazia e já ganhava dinheiro com aquilo.
P/1 – Mas quando o seu pai começou a fazer e o senhor ainda era criança você fazia em casa mesmo ou tinha um lugar?
R – Não, a gente tinha uma pequena olaria, um pequeno barracãozinho aonde a gente fazia, e de lá, esse produto era todo levado para a Feira do Ver-o-Peso. Aí, tem uma história muito longa a respeito disso aí, né? Então, eu passei também, comercializei muita cerâmica na Feira do Ver-o-Peso, no chamado Cais Quebrado, que era um cais de madeira que o governo mandou fazer e a erosão quebrou o cais e aí ficou: Cais Quebrado, ficou conhecido durante muitos anos assim, a partir de 1970, por aí é que refizeram o cais e, agora, no ano de 1997, eles reconstruíram da forma que está hoje, quer dizer, aquele cais é recente, o mercado é antigo, mas o cais é recente.
P/2 – E algum dos seus irmãos se envolveu também nessa atividade do pai, de cerâmica?
R – É, olha, eu tinha nove irmãos, né, dos nove irmãos foi assim: o meu irmão mais velho, que chama-se Pedro Celestino Pereira Filho, então, esse irmão mais velho, seguiu a profissão do pai, navegou pelos rios da Amazônia, trabalhou como tirador de leite de seringa, também como ceramista e trabalhou como pescador. Só, que meu pai tinha uma outra atividade que ele não gostava muito, que era a música, o meu pai também era músico, ele tocava muito bem o violão, cantava, nessa época, eu não sei se lá por São Paulo se fala nisso, mas existiam as serenatas, quando a pessoa ia cantar pra namorada que estava em casa, o camarada cantava lá na porta da casa dela pra chamar a atenção, assim, entendeu, era uma mensagem de amor, né? Então, o meu pai era especialista nisso, tanto ele fazia isso pra ele, como fazia pros outros, então, esse meu irmão, que era o mais velho, ele aprendeu a tocar violão, aprendeu a cantar, depois, aprendeu a tocar sax, né, saxofone! E com isso, aí, ele entrou na vida militar, na polícia militar do Estado e ele ficou até o fim da vida dele, aliás, ele ainda vive, né, ele ficou até o fim das forças físicas dele, que ele podia enfrentar a vida trabalhando, como músico da banda da polícia, mas ele nunca abandonou a olaria dele, e nunca abandonou a canoa de pesca, sempre que ele tinha a oportunidade ele fazia as louças dele em casa e ia pescar, até hoje ele tem canoa e tem rede, ele não vai mais pro mar, mas ele tudo até hoje montado, esse foi o mais velho, né? Os demais irmãos, cada um foi seguindo um destino, quase todos eles foram pra indústria, trabalhar na indústria, né? E um outro irmão que eu tinha, que era mais velho que eu, esse aí, ele entrou na polícia civil como motorista, passou um período lá, mas antes ele foi militar da aeronáutica, depois, ele passou pra polícia civil, ficou num período de, mais ou menos, quatro, cinco anos, aí, ele conseguiu comprar um carro, né, pra fazer frete de material de construção e, depois, ele se tornou um médio empresário de material de construção, ele chegou a ter cinco carros de transporte de material de construção e depois, ele perdeu tudo por causa da bebida se tornou um ébrio, morreu sem ter nada. Só, que ele deixou a família em boa situação, né? Enquanto que uma outra irmã minha, a mais velha, que chamava Raimunda, faleceu ano passado, então, ela casou com um cidadão que também era ceramista, aí, a família dela se desenvolveu como ceramista, então hoje, a descendência dela, tem uma parte que é ceramista. O outro irmão do meu pai que chamava Raimundo Marques Pereira, esse também se enveredou pelo caminho da cerâmica, ele trabalhou com a cerâmica até morrer, ele deixou um filho e esse também caminhou para o ramo da cerâmica. A família dele está no ramo até hoje. Quer dizer, é uma família recheada de ceramistas, nós somos muitos.
P/1 – Deixa eu voltar lá pra casa do senhor, que o seu pai, então, ele trabalhava... E os instrumentos de trabalho, onde ele arrumava? Pra fazer a cerâmica?
R – Os instrumentos de trabalho da cerâmica são os mais rústicos possíveis, na época, as ferramenta eram feitas de madeira, de pedaço de tábua, né? E os espetos eram feitos de qualquer palitozinho, então, hoje, essas madeiras, elas foras substituídas por alumínio, por raio de bicicleta, por agulha de costura, compreendeu, são esses elementos que se usa na cerâmica, e, nessa época, era usado tudo, é, por exemplo, tecidos, nessa época era usado muito o tecido de, aquele tecido de flanela, conhecem flanela, né? O tecido de flanela era muito usado, era usado também o saco de sarrapilheira, conhecem a sarrapilheira? Não conhecem, não! A sarrapilha! Hoje foi substituída pelo saco plástico, aquele saco de amianto. Nessa época, a saca de sarrapilha era pra cobrir o material, eu não sei se vocês tiveram a oportunidade de olhar lá na minha olaria, que têm muitos sacos plásticos lá, têm muitas peças embrulhadas neles, não tem? Então, aquilo ali. Hoje, o plástico está substituindo a sarrapilha, são duas coisas que ele substitui, a sarrapilha e a folha da bananeira, que nessa época se usava muito, os instrumentos eram os mais rústicos possíveis.
P/2 – E pra que se usava essa folha que hoje o plástico substitui?
R – É pra conservar a matéria-prima, é pra ela manter-se úmida.
P/1 – Mas e aquela roda, como fui criada?
R – Aquela roda ali, ela tem uma história muito longa, né? Ela foi criada há cinco mil anos antes de Cristo, numa cidade chamada Anatólia na Ásia Menor. Então, eles criaram a roda, mas quando eles criaram, ela era movimentada por duas pessoas, um movimentava a roda e o outro fazia a peça em cima. Já na Europa, depois de muitos anos, em 500 anos depois de Cristo, eles fizeram uma modificação, criaram aquele espaço embaixo, que é chamado de saia, aonde a gente empurra com os pés, né, empurra com os pés e trabalha na cabeça dela. É que a roda é formada por três coisas, pelo eixo central, pela saia e pela cabeça e depois, tem a bancada, é só isso, tem o escora pé, que a gente precisa escorar nela, né, e a movimentação com o pé. Hoje, já tem até tornos elétricos. Mas a roda é isso, ela foi fundada há cinco mil anos antes de Cristo, isso aí é histórico, tem nos livros de ciências, cinco mil anos antes de Cristo e na cidade de Anatólia.
P/1 – E para conseguir, por exemplo, quando o senhor precisa de uma roda dessas como faz para conseguir, isso é vendido?
R – É através dos carpinteiros, nas carpintarias. Você vê, que na Bíblia diz que São José era carpinteiro, né, ele era carpinteiro, já existia isso bem antes de Cristo, se você for ver as histórias antigas, daquelas cidades antigas, daqueles impérios, lá já tem o carpinteiro, aparece o oleiro, aparece o ferreiro, aparece o funileiro, já existia tudo isso naquela época, então, um ia auxiliando o outro, até, que chegava o ponto em que a gente conseguia aquilo que a gente queria.
P/1 – O senhor encomenda para o carpinteiro, e ele sabe fazer, ele entende disso?
R – Têm muitos que não, têm muitos que não sabem, mas, aí, a gente desenha pra ele e ele faz, a gente fala pra ele: “Oh, me corta essa peça com tantos centímetros, eu quero com tantos centímetros”. Ele tem um metro lá e ele mede e corta em tantos centímetros: “E o que que vou fazer aqui?”. “Você fura aqui a tantos centímetros pra cima, tantos pra baixo, você dá um furo aí”. Aí, ele dá um furo: “Aqui você corta essa outra, vai sair uma… são verticais, outras horizontais, né, aí, você vai, vai até formar a roda”. Isso eu formo sempre no interior, quando eu vou trabalhar no interior, constantemente a gente está fazendo roda no interior.
P/1 – E o senhor instrui o carpinteiro?
R – Eu instruo o carpinteiro, nesse caso, não é o carpinteiro, nesse caso, é o moveleiro, que ele pode ser chamado de moveleiro ou pode de um outro nome também que se dá – não é moveleiro, é outro nome que se dá e eu me esqueci no momento, né?
P/1 – Eu queria que o senhor contasse um pouco, então, como a gente chega na cerâmica pronta, desde quando a gente retira a argila, de onde vem esse material, tá, e como é feito pra se chegar no que a gente está vendo?
R – Bom, a argila é um produto natural, né, a natureza nos dá a argila, inclusive, tem nos livros de ciências, aqui nós temos livros de ciências, eu já estudei a ciência nessa parte, eu venho estudando há muitos anos e tem alguns geólogos que dizem que a argila é o produto que mais existe em toda a crosta terrestre, em qualquer lugar do mundo se você cavar um buraco você vai achar argila, em alguns lugares ela está superficial, em outros ela está subterrânea. Aqui, na nossa área, ela está superficial, então, facilita a produção, a extração dela, então, ela é extraída, né, e conduzida para o beneficiamento, depois que é feito o beneficiamento através de uma máquina, fazemos a produção do trabalho, quando ela já está beneficiada, então, está pronta pra...
P/1 – Só um minutinho, o senhor vai buscar num determinado lugar essa argila?
R – É, normalmente nós compramos a argila, existe aqui em Icoaraci, até, uma associação de barreirenses, que são as pessoas que trabalham em busca da argila pra vender para as olarias, então, nós temos cerca de 20 a 30 pessoas que fazem esse trabalho e que vivem disso, sustentam a família deles fazendo esse tipo de atividade. Aí, nós compramos deles e depois que a gente compra, a gente entra no processamento de limpeza dela, depois da limpeza, que é feita com arame, cortado com arame, a gente dá até 300 cortes com o arame em seguida, em todas as posições: horizontal, vertical, diagonal, corta de todo jeito pra ir saindo as raízes, depois que sai as raízes, aí, produzimos a peça, mas antes de produzi-la é necessário entrar num processo que nós chamamos compactação ou solvação, que é bater a massa pra expelir as bolhas de ar e, também, pra ela ficar bem compacta, a partir disso são feitos os bolos e, a partir dos bolos, então, que fazemos a peça. Quando ela é feita de uma só vez ela vai para o repouso e, em seguida, ela vai para os trabalhos de pintura ou desenho, que tem duas formas de pintar, se pinta a peça antes de queimar, e a outra, depois de queimada. Por exemplo, essas peças aqui foram pintadas antes de queimar, mas nós devemos ter alguma aqui, ali pra trás, aquelas ali de trás, que foram pintadas depois de queimadas, quer dizer, há uma diferença entre uma relação e outra, né, são duas relações de trabalho diferentes, aí, a pessoa vai optar se ele quer primeiro pintar pra depois desenhar ou se ele quer primeiro desenhar pra depois queimar a peça e pintar, compreendeu? Então, o processo todo gira em torno disso aí. A peça, quando ela é produzida, ela ostenta no seu interior 35% de água, a matéria-prima, o barro mesmo, a argila é apenas 65%, então, esses 35% de água, ele tem que expelir todinho, e é por isso que se coloca no sol. Lá, hoje na minha olaria, devido a necessidade que a gente está tendo de umas peças, estavam colocando dentro do forno, cobrimos o forno fazendo um calor pra elas secarem até amanhã, porque amanhã tem que queimar, então, tem que expelir essa água todinha que tem dentro dela, aí, depois que ela expele toda essa água, aí é que é feito o acabamento, é dado um polimento pra depois ir ao forno. A nossa queimação aqui é entre 800ºC. A temperatura mínima é 800ºC e a máxima é 1000ºC. Mas têm pessoas que trabalham com 600ºC a 800ºC também. Aqui na escola a nossa temperatura é 900ºC, porque é forno elétrico, lá na olaria é forno a lenha, então, por isso que há uma variação de 200ºC, entre 800ºC e 1000ºC graus, entre 600ºC e 800ºC graus e entre 700ºC e 900ºC, quer dizer, numa fornada só a gente têm peças de 200ºC graus de diferença de uma pra outra. Aqui no forno elétrico, não, no forno elétrico se queima a 1000ºC, ele queima 100%, se a queima é de 900ºC é 100% 900ºC, entendeu como é? Então, esse produto é denominado de cerâmica, antes de entrar no forno chamamos de peça de barro ou peça de argila, quando ele passa por esse processo existe uma transformação e uma mutação, essa mutação é a cerâmica e com essa mutação, nós queremos explicar bem para aqueles que vão nos ouvir, que não existe na produção, existe na transformação barro-cerâmica, é uma transformação que acontece dentro do forno.
P/1 – Então, são várias etapas de trabalho?
R – São várias etapas.
P/1 – Assim, se eu fosse aprender, se eu fosse aprendiz, como o senhor me ensinaria? Qual é a primeira etapa?
R – Primeiro de tudo, eu vou lhe dizer que você tem que se dispor de cinco anos pra aprender, compreendeu? E você vai começar pela etapa mais fácil que tem, o polimento, a brunição da peça, essa é a etapa mais fácil, por quê? Porque trabalha com a lixa, né, a lixa de lixar parede, madeira... depois, trabalha com um pano molhado com água e por último com uma escova ou com uma tela plástica, ou ainda, com uma flanela pra polir a peça. Essa é a primeira etapa, é a mais fácil que tem, num dia só a pessoa aprende. Mas as etapas de produção de peças são as mais difíceis, como o levantamento da peça, esse é o mais difícil, essa é uma etapa que a pessoa aprende em cinco anos.
P/1 – Eu queria que o senhor contasse um pouco a própria origem, o porquê Icoaraci é uma referência em relação à cerâmica marajoara, né, essa origem, esse nome, o senhor pode falar um pouco sobre isso?
R – Bom, aqui em Icoaraci é o seguinte: nós temos aqui a cerâmica marajoara como adoção, né, porque você sabe, a Ilha de Marajó, ela está… pra quem vai nos ouvir mais adiante, vai tomar isso como uma informação correta, a Ilha de Marajó, ela está distante de Belém cerca de 600km, né? Essa área foi onde surgiu os sítios arqueológicos, onde viveu essa população, essa civilização que não existe há mais de 500DC anos depois de Cristo (D.C.), 2.000, 4.000 anos! A história conta que foram cinco fases: 1) Ananatuba, 2) Mangueiras, 3) Formiga, 4) Marajoara e 5) Aruã. Então, entre essas cinco fases houve uma diferença de quase 3.000 anos de ocupação na região de Marajó, entre a primeira e a última fase, né? Então, lá eles produziram a cerâmica, tiveram a oportunidade, porque naquela época era uma civilização muito adiantada e eles produziam muito, então, essa cerâmica, com a colonização do Brasil, a partir de 1.500 anos pra cá, o que aconteceu? Houve uma invasão das terras deles, dos índios, pelos colonizadores, uma divisão de terras e com isso aí, houve uma dizimação completa das tribos indígenas, uns morreram, outros se fundiram, outros fugiram, de forma que com isso, a arte deles desapareceu. Ela veio a ressurgir em 1964, em Icoaraci, através do Antônio Farias Vieira, o Mestre Cabeludo, que foi o renascentista da arte marajoara, a partir daí muitas pessoas começaram a trabalhar com a arte, né? Mas ela já existia em Icoaraci há 300 anos, compreendeu? Então, ela veio incrementar o trabalho da cerâmica de Icoaraci, a cerâmica marajoara, tanto que hoje se chama cerâmica marajoara pra tudo quanto é peça, mas na realidade não é assim, a realidade é que tem cerâmica marajoara, tem cerâmica marajoara estilizada e tem cerâmica de Icoaraci com desenhos marajoara, compreendeu? Então, a maioria das cerâmicas que se vê aqui em Icoaraci são cerâmicas de arte icoaraciense com desenhos de influência marajoara, é lógico! Mas, nós já estamos... como eu disse, a 600Km distantes da Ilha de Marajó, né?
P/1 – Só para eu entender um pouco isso, essa característica dos desenhos marajoara, qual é a particularidade desses desenhos para que eu possa reconhecer, como eu identifico?
R – Bom, você pode reconhecer através das peças, né, também, através dos desenhos que têm na peça, por exemplo, existem muitos tipos de desenhos que são marajoara, existem muitos tipos de desenhos que já são marajoara estilizados, por quê estilizado? Porque a pessoa que foi desenhar ela, criou em cima daquele desenho com riscos, ele deu um risco que estilizou a peça, compreendeu? Não descaracterizou, ele estilizou, compreendeu?
P/1 – E como é o desenho marajoara?
R – O desenho marajoara é muito simples. As peças marajoaras mais detalhadas que têm são os pratos. Os pratos, as bandejas marajoara são muito bem detalhados, assim como as tigelas, também são muito bem detalhadas, mas a maioria das peças não são muito. Aquela peça que está atrás de mim, aquela urna é uma urna com influência marajoara, tem alguma coisa estilizada nela, mas as influências são mais ou menos parecidas com a marajoara, inclusive, as cores que eles utilizavam eram: preto, vermelho e branco.
P/1 – E como se passa essa cultura para os mais jovens?
R – De geração para geração? Geralmente as pessoas aprendem nas oficinas, eles vão como trabalhador comum e vão aprendendo, vão aprendendo, vão aprendendo! Tanto que em Icoaraci, hoje, nós temos uma colônia muito forte de ceramistas que vieram do interior do estado. Atualmente, nós temos mais ou menos 20 famílias tradicionais, mas nós temos umas outras 20, 30, 40 ou 50 que não são tradicionais, são pessoas que vieram, inclusive, de outros estados. Nós temos uma família de pernambucanos aqui, que vieram há uns 20 anos ou 30 anos, que são todos ceramistas, aprenderam aqui e hoje em dia são ceramistas. Nós temos pessoas que vieram do interior, nós temos cearenses que são ceramistas e que aprenderam com a gente, nós temos macapaenses. Assim como nós trouxemos… eles vieram de lá pra cá aprender. Também, saíam muitos daqui pra outros estados trabalhar, tem oleiro paraense em todos os estados brasileiros, que aprenderam aqui e estão trabalhando pra lá.
P/1 – Qual é a importância da cerâmica, no caso, para Belém e para o Pará?
R – É... a importância pra cá? Pra Icoaraci?
(interrupção na entrevista)
P/1 – Seu Rosemiro, deixa só eu voltar um pouquinho na história do senhor. Então, o senhor aprendeu a trabalhar com a cerâmica quando o senhor tinha uns dez anos, né?
R – Foi quando eu comecei a aprender.
P/1 – E como foi isso, o senhor foi aprendendo, apurando... e a sua vida nisso tudo? Como foi indo?
R – É, foi assim, eu tive a oportunidade em casa, porque em casa era uma olaria, né, então, eu comecei a aprender, a praticar, como toda criança tem vontade de praticar. E meu pai me incentivou e eu através desse incentivo fui continuando, continuando, aprendendo, até que… Tem uma história, assim, que eu até gosto de falar que é foi sobre a época em que eu estava aprendendo a fazer peças, eu já fazia tigelinha, eu já fazia alguidazinho, eu já fazia peniquinho, né, essas peças pequenas eu já fazia e já tinha comércio para elas, o meu pai já vendia essas peças no Ver-o-Peso, né? Mas o meu pai, quando chegava o tempo de pesca, o tempo que dava muito peixe ele abandonava tudo e ia pescar, e quando ele ia ele levava a gente, eu era menino, naquela altura eu tinha uns 12, 13 anos, por aí assim e ele, numa certa ocasião que nós fomos pescar lá dentro do Rio da Vigia, que você falou Vigia hoje pra mim, não foi? É uma cidade chamada Vigia, que é a cidade mais velha aqui em Belém, Vigia, né? E é uma cidade boa, é uma cidade, que lá é uma colônia de pescadores que cresceu e hoje é uma cidade grande, a primeira do estado do Pará e que recebe as influências do Oceano Atlântico. Ela está a aproximadamente 30km de distância do Oceano Atlântico, da boca do Amazonas, né, da saída, onde o Amazonas desemboca na água do Oceano Atlântico. Então, ao entrarmos no Rio da Vigia, a gente vinha do mar, né, e ao entrar no Rio da Vigia a nossa canoa naufragou e nós perdemos tudo, só não perdemos a canoa e não perdemos a vida, porque outros colegas socorreram a gente, era dentro de um rio. Quando nós chegamos em Vigia, um certo cidadão chamou o meu pai e disse pra ele assim: “Pedro “Eu me lembro bem, como se fosse hoje”. Pedro, olha, eu acho melhor que tu convide um homem pra trabalhar contigo, porque tu vai enfrentar esse mar com essas duas crianças?” - que era eu e o meu outro irmão dois anos mais velho que eu: “ Tu vai enfrentar esse mar com essas crianças, um dia vai acontecer da tua canoa naufragar no mar, fora, onde não tem ninguém pra te socorrer, seus filhos vão morrer e tu vai ficar com isso pro resto da tua vida, com esse arrependimento no teu pensamento, no teu sentimento, né? Então, eu acho melhor tu convidar um homem pra trabalhar contigo”. Quando nós chegamos de lá, ele não quis mais que eu fosse com ele, eu acho que foi em razão do conselho dado por esse homem. Aí, quando ele voltou pra pesca novamente, ele me deixou trabalhando com um cunhado que eu tinha, que é o marido da minha irmã mais velha, que eu falei que eu já tinha inclusive sobrinhos, né, que eram oriundos da família dela. Aí, ele tinha uma olaria e o meu pai me deixou com ele pra dar continuidade ao meu aprendizado. Um tempo depois, passei a ser produtor mesmo, de centenas de peças, milhares de peças e assim por diante, o princípio de tudo foi assim.
P/1 – E os amigos, porque o senhor já era um jovenzinho, né?
R – Isso, a essas alturas já!
P/1 – O senhor conseguia ter um grupo de amigos?
R – Tinha, eu tinha amigos! Eu tinha colegas na época, né, porque todo rapaz têm colegas e eu tinha.
P/1 – E eram ceramistas também?
R – Eu tinha muitos colegas, eu gostava muito de festas, eu gostava muito de jogar bola, eu gostava muito de bicicleta e ainda gosto até hoje, eu gostava muito de namorar também, ainda gosto até hoje, ainda estou vivo, né, [risos] e assim por diante.
P/1 – E nessa região, que sempre foi, assim, o foco aqui sempre foi a cerâmica, né? Tinha, assim, algum evento ligado à cerâmica, alguma festa em função da cerâmica, alguma coisa?
R – Não, não. Inclusive, é uma das coisas que eu tenho vontade de fazer, porque Icoaraci tem 300 anos de cerâmica e nunca teve, assim, uma época determinada pra cerâmica, já tiveram alguns salões de cerâmica aqui, já tiveram uns dois ou três salões de cerâmica, inclusive, teve um aqui no Liceu que foi efetuado, se não me engano em 1988, né? E já teve em outros locais de Icoaraci, se não me engano, já tiveram três salões, teve um na Agência Distrital de Icoaraci, que é na prefeitura, né, teve outro na Praça da Matriz e o terceiro aqui no Liceu, fora isso não teve outros eventos que a gente considere, assim: “Aconteceu o evento!”, têm os eventos permanentes, que são as lojas, né e a Feira do Paracuri! Mas eventos, assim, mesmo de cerâmica não tem, como o dia do ceramista, o dia da cerâmica, onde poderia acontecer uma feira de cerâmica, de ceramistas, como uma festa, vamos dizer: vamos promover um festival de feijoada com peças de cerâmica, entendeu? Ou um festival de açaí com peças de cerâmica, compreendeu, a festa da cerâmica em Icoaraci, que isso poderia, até, atrair pessoas de outros estados pra cá, mas até hoje ninguém nunca se imobilizou nessa parte.
P/2 – Seu Rosemiro, o senhor falou que o senhor gostava muito de namorar, como era esse namoro dessa época aqui, nessa região?
R – Eu acho que o namoro daquela época mudava um pouco do de hoje, porque hoje, o namoro está muito, assim, liberal, né, existe uma liberalidade. Ontem eu vinha passando e tinha dois meninos, mais ou menos, assim, com a idade de 12 anos, os dois, aí… quando eu vi eles se agarrando e se beijando, o pessoal passando e eles ficaram se beijando. Na minha época não acontecia assim, né, era diferente. Era diferente, porque geralmente os namoros, os pais, eles sempre privavam mais as filhas, né? Os filhos, não, sempre eram mais liberados, mas as filhas eram menos liberadas, né? Mas existia sempre aqueles pulinhos e com isso aí conseguia levar vantagem, né?
P/1 – Mas como foi que o senhor conheceu a sua esposa?
R – A minha esposa eu conheci… ela era de uma família perto da minha, eram casas próximas, inclusive, ela era também filha de ceramista, na época eu tinha algumas namoradas e essas namoradas que eu tinha, né, umas quatro ou cinco, por aí assim. Então, eu achava que, não sei, eu acho que isso é uma atração que existe na gente, que quando chega aquela época, naquela determinada época, eu acho que é o momento que tem da gente fazer questão do casamento, né? Os animais, eles são determinados, nós não somos determinados, a gente escolhe o período, o animal não, ele tem o período dele, né, o período é aquele, é aquela época que é de ano a ano, é de mês a mês, é de dois em dois anos, é de seis em seis meses, então, tem essa época. Mas, o humano não tem época, desde que a pessoa esteja naquela idade, mas não existe mais época, a questão do namoro, a questão sexual, é um negócio que acontece sempre, não existe um período, um período eterno, é todo tempo, né, é todo o tempo que a pessoa está com vontade e faz, né, se tem com quem fazer, faz. Então, aconteceu assim, eu tinha umas namoradas, mas entre essas namoradas eu tive, acho que pelo destino, também um pouquinho de influência, aí eu comecei a gostar da minha mulher e fiquei com ela.
P/1 – Como é o nome dela?
R – Maria de Nazaré dos Santos Pereira.
P/1 – E ela também gosta de cerâmica?
R – Ela é ceramista também, é filha de ceramista e trabalha também. Agora, hoje ela não está trabalhando, que ela está doente, né?
P/1 – Mas ela trabalha com o senhor?
R – Sim, sim, sim! Mas ela passou a administrar também, depois que eu passei a trabalhar aqui na escola ela passou a administrar os trabalhos lá, mas ela tinha a produção dela também e que existe até hoje. Apesar de estar doente, ela ainda têm os fregueses dela, pra quem ela vende as cerâmicas.
P/1 – Eu queria que o senhor contasse um pouco essa história de como que o senhor montou a sua olaria, como foi isso?
R – Ah, como eu montei a minha olaria, foi assim: em 1964, no princípio do ano de 1964 eu trabalhava com um cunhado meu chamado Antônio Costa, e eu, tinha um amigo chamado Nascimento, esse amigo estava interessado em me ajudar a montar uma olaria, então, nós compramos um barraco bem pequeno, bem pequenininho mesmo e a partir dali, nós começamos a montar a olaria, foi a partir de 1964. Aí, eu fui trabalhando, trabalhando... Eu trabalhava muito, 14h, 15h por dia, às vezes, até 24h por dia para conquistar recursos e montar a olaria. Com dez anos de trabalho eu estava com a olaria daquele tamanho, eu comecei sem capital, eu comecei sem nenhum centavo no bolso, mas eu construí só com o trabalho.
P/1 – Sozinho?
R – Não, sozinho! Sozinho e com a família, né? Ainda estava criando os filhos, nove filhos! Eu estava criando os filhos, mas eu consegui vencer!
P/1 – Mas os filhos do senhor trabalhavam na olaria?
R – Ainda eram pequenos. Meus filhos tinham um espaço de um ano, de um ano e meio, dois anos um pro outro, todos eram pequenos.
P/1 – Eram todos pequenininhos? E como o senhor foi ensinando os seus filhos? O senhor os colocava na roda?
R – Bom, nós criamos a oportunidade pra aprenderem, né, não precisava da gente ensinar. É bom que se dê oportunidades, então, eles foram aprendendo e todo mundo aprendeu a trabalhar, né?
P/1 – Então, o senhor adquiriu a olaria, e como foi o crescimento dela?
R – O crescimento dela foi, assim, como eu estou dizendo, né, foi lentamente, foi um crescimento lento, porque em dez anos, eu consegui fazer aquela olaria.
P/1 – Quantas pessoas trabalham? Quantas famílias estão envolvidas?
R – Ah, eu já tive muitas pessoas trabalhando comigo, eu já cheguei a ter 40 pessoas trabalhando e de lá eu vim reduzindo. Atualmente, nós temos entre 20, 22 pessoas, família e não família, da comunidade, né?
P/1 – Tem muita gente da comunidade?
R – Muita gente da comunidade.
P/1 – Eu ouvi uma história: que tinham várias áreas ali que o senhor doou e que, hoje, são outras olarias, ali nas proximidades, como é que foi isso?
R – Não, foi assim, porque quando eu cheguei pra tomar conta daquela área lá, ela era absoluta, não tinha ninguém. Então, eu tomei conta de toda a área, eu não era o dono mas eu tomei conta, né, passei a tomar conta, passei a limpar, já que, tinha muita cobra lá, nós matamos nove cobras na limpeza do terreno, né, cobras bravas: surucucu, cascavel, jararaca, tinha lá! Então, eu mandei fazer a limpeza, matamos nove cobras na limpeza, e eu fiquei tomando conta de toda aquela área, era uma área muito grande, né? Depois, as pessoas foram chegando e queriam o local pra fazer a sua casinha e falavam comigo: “Faz a tua casa ali”, e eu: “Vá fazendo a tua casa! Vá fazendo a tua casa! Vá fazendo a tua casa!”, aí, ficou reduzido o meu terreno, né? A partir dali, então, eu não doei mais pra ninguém, ficou só pra família.
P/1 – Então, deixa eu voltar agora pra olaria do senhor. Assim, quantas peças são produzidas por dia?
R – Nós produzimos uma quantidade de peças dependendo muito da demanda de pedidos que tem, né? Porque, às vezes, a gente tem uma demanda de pedidos grande e, às vezes, a gente tem uma demanda de pedidos pequenos, então, isso depende da época também, às vezes, tem uma época por exemplo, quando é inverno aqui, no sul é verão, então, nós temos lá no sul fregueses que compram da gente, então, nessa época eles pedem muito a cerâmica e a gente manda pra lá. Final de ano a gente tem um comércio que abastece: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Brasília e assim por diante, Salvador, Bahia, né? E a gente vai produzindo e vai mandando pra lá a cerâmica, tem época que para. Para e não tem pedido de lugar nenhum! Então, quando não tem pedido de lugar nenhum a gente produz menos, vai produzindo menos. Mas entre a capacidade máxima de produção e a mínima, eu posso garantir pra vocês que a capacidade máxima da nossa produção é cinco mil peças mês, e a capacidade mínima é aquela que a gente quer fazer.
P/1 – E assim, tem mercado externo?
R – Em algumas ocasiões, sim! Nós já trabalhamos, já vendemos pra diversos países: Portugal, Argentina, Paraguai, Uruguai, já vendemos pros Estados Unidos, já vendemos pro México, eu já vendi, até, pro Egito e pra Israel, já vendi pra aquele outro próximo de Israel, Beirute! Já vendi pra Beirute, entendeu, pra Alemanha.
P/1 – E como é esse acesso, como eles têm contato com o trabalho do senhor pra poder fazer essas encomendas?
R – Geralmente as pessoas que vêm, é através de outra pessoa, normalmente são assim, são pessoas que conhecem a gente, por exemplo, aqui na cidade de Belém, tem uma casa chamada Casa das Noivas. A Casa das Noivas é de uma família israelense, a família deles mora lá em Israel e eles moram aqui em Belém, uma parte da família mora pra lá e uma parte mora pra cá, né? Essa parte que mora aqui em Belém conheceu o nosso produto, alguém veio de lá visitar aqui e eles trouxeram pra conhecer, se interessaram e compraram um container, um container de mercadoria, né, pra levar pra Israel. Em Beirute aconteceu a mesma coisa, uma pessoa que mora em São Paulo também veio, veio de lá de Beirute pra São Paulo, de São Paulo veio a Belém, conheceu a gente e também encomendou e comprou um outro container. Pros Estados Unidos, foi uma pessoa daqui de Belém que levou pros Estados Unidos pra vender lá outro container. Pra Alemanha, pessoas que vêm da Alemanha, que têm parentes aqui. Você sabe, intercâmbio familiar hoje, ele é mundial, não é? Você está aqui, mas você têm parentes sabe-se lá por onde! É como eu, estou aqui, mas tenho parentes sei lá por onde, conhecidos, amigos e pessoas que já me conheceram, né, então, uma dessas pessoas diz um dia: “Ah, eu vou lá em Icoaraci, eu vou conhecer lá como é Icoaraci, como é que está Icoaraci”, vem aqui, chega e se interessa, aí, leva o nosso endereço, a gente começa a intercambiar, não demora eles fazem uma compra, é assim que acontece.
P/2 – Qual é a peça que mais sai? Quais são as peças que são mais pedidas?
R – A peça que mais se vende aqui hoje e, que sempre se vendeu, é o conjunto de feijoada, o conjunto é composto de 43 peças, que é pra servir feijoada, inclusive, nós comemos feijão servido em peça de cerâmica lá no Pará Pai D’Égua, não foi? Pois é, no Restaurante Pará Pai D’Égua, que é da família, né, então, está em peças de cerâmica.
P/1 – Uma curiosidade. Assim, vendendo pra tantos lugares, mas e o senhor? Já foi apresentar as peças em outros lugares, viajou pelo país, como é isso?
R – Já, já viajei muito pelo país, quase todas as cidades, as capitais do sul, né, do sudeste e do centro-oeste, no nordeste em algumas capitais, no norte somente Macapá e Belém que é a minha cidade, né? Agora, eu já estive na Argentina fazendo exposição de cerâmica e já estive em Santiago no Chile também fazendo exposição, em Santiago eu passei 19 dias, em uma cidade chamada Córdoba, na Argentina, eu passei quatro dias.
P/1 – E nessa experiência toda que o senhor teve, assim, o senhor se lembra de ter acontecido alguma coisa, um caso curioso?
R – Anormal, não. Sempre normal.
P/1 – Um comentário?
R – É, por exemplo, na Argentina, não, não! Em Santiago do Chile, é, eu estive lá sob a responsabilidade... porque, lá nós fomos representando o estado do Pará e o Brasil, né, nós fomos em cinco estados brasileiros, com as bandeiras dos estados e a bandeira central do Brasil, né? Então foi: Pará, Maranhão, Piauí, Alagoas e Pernambuco, os estados que foram, né? Então, nós representávamos o Brasil, no pavilhão brasileiro, estávamos embaixo da bandeira do Brasil, né, e as nossas bandeiras em volta, então, lá, nós tivemos, assim, curiosidade de pessoas que gostavam da cerâmica e pessoas que não gostavam da cerâmica. O fato mais curioso, que eu gosto de contar inclusive, é que chegou um casal de chilenos e a esposa, quando ela botou o olho em cima do conjunto de feijoada, ela disse: “Eu quero esse...”, perguntou o que era, eu disse pra ela, aí, ela pegou e disse: “Eu quero, quanto custa?”, eu disse quanto custava e ela disse: “Eu quero”, aí, o marido dela olhou pra ela, olhou pra mim, né, e perguntou pra ela se ela queria: “Você quer comprar?”, ela disse que queria, aí, ele pegou e perguntou pra mim: “Isso é de greda?”, greda é barro na língua deles, eu disse: “É greda”, aí, ele pegou e falou assim: “Não, não compra, rompe fácil. Rompe fácil e quebra fácil”, aí, eu peguei e falei: “Não, não rompe fácil, não quebra fácil”, ele disse: “Não, quebra fácil”, eu peguei as combucas de feijoada, 12 combucas, coloquei todinhas, assim, de boca pra baixo e saí andando por cima delas, assim, ó, de ponta a ponta, fui lá e voltei.
(interrupção da entrevista)
P/1 – Então, o senhor pode voltar naquele pedacinho do caso, eu lembro que senhor colocou as cerâmicas...
R – Posso falar?
P/1 – Pode.
R – Bom, então, lá em Santiago, é, aproximou-se um casal, e o casal estava interessado no conjunto de feijoada, mas o esposo achou que não deveria comprar, porque as peças eram de greda, greda é barro, né, na língua deles é greda. Aí eu, como já entendia, já sabia o que era, eu mostrei pra ele que não, que não era frágil da forma que ele falava, né, que ele falava que quebrava fácil, e eu, então, coloquei as combucas todas, assim, de boca pra baixo no chão e saí andando por cima delas, eu fiz uma ponte delas e voltei novamente pra primeira, por onde eu saí eu fui, fiz o círculo e voltei pra ela de novo e, depois, eu saí e entreguei na mão dele e mandei que ele conferisse, aí, ele conferiu e comprou o conjunto.
P/1 – Eu vou fazer uma pergunta, assim, meio besta, tá? Assim, qual é o segredo, assim, pra ser um bom oleiro?
R – Eu acho que pra ser um bom oleiro tem que ter conhecimentos, tem que ter conhecimento da matéria-prima, do mercado também, de todo o segmento da olaria… porque têm oleiros proprietários e têm oleiros empregados, né, prestadores de serviço. Então, há uma diferença entre o oleiro proprietário e o oleiro prestador de serviço, geralmente o proprietário, ele faz o serviço dele mais bem acabado, o oleiro que é prestador de serviço, ele quer saber de fazer a peça, quanto mais rápido ele fizer melhor, porque ele estará ganhando pela produção dele, então, ele tem que ser, assim, atencioso, cuidadoso, ter uma coordenação perfeita do corpo, porque senão as peças vão sair tortas, ele tem que saber formar uma peça, é, com uma leveza natural, né, não pode ser uma leveza muito acentuada e, também, não pode ser uma muito baixa, porque senão a peça fica muito grosseira, né? Se a leveza for alta a peça fica fina demais, aí, ela quebra com maior facilidade, então, geralmente o oleiro, ele tem que ter uma coordenação boa, porque a coordenação motora do corpo dele é que vai ajudar ele a fazer a peça do jeito que ele precisa fazer, então, isso tudo a gente aprende com o passar do tempo, pra ele ser um bom oleiro tem que ser dessa forma. Isso eu estou falando em termos de produção, e não em termos pessoais, né, a pessoa é outra coisa.
P/1 – A pessoa, no caso, seria o quê?
R – A pessoa, seria a forma de tratar, a forma de se atuar, né, seria uma outra coisa diferente.
P/1 – E essa leveza seria o quê? O que é essa leveza?
R – A leveza da peça.
P/1 – É o peso mesmo?
R – É o peso da peça, porque, é de acordo com a espessura da peça, se eu tenho uma peça com uma leveza acentuada, uma leveza altíssima, então, ela está com uma espessura muito lenta, muito fina, né, é pequena a espessura pra ela se tornar grande e leve, se ela está pequena e pesada, ela está com uma leveza muito baixa, quer dizer, ela está com um peso muito alto, e com isso o que aconteceu? A peça, está grosseira, ela deveria crescer mais e ela cresceu menos do que ela deveria, ela não cresceu o suficiente. Uma outra coisa, é que a peça, ela tem que ser distribuída em toda ela, a espessura dela tem que ser distribuída 100% na peça, não em 10%, ou 5%, ou 20% da peça, ela tem que ser distribuída a 100%, é do momento da base até no alto, na parte final dela, ela tem que ter normalmente a mesma espessura, sendo que a espessura de cima, da borda dela sempre deve ser um pouco maior do que a espessura do corpo dela, porque a parte mais fragilizada é a borda da peça.
P/1 – E como é que se consegue controlar a espessura, assim, a parte interna?
R – É, isso é como eu estou falando, é com a coordenação da pessoa, né, e também, além da coordenação existe uma outra coisa, que é o controle que a pessoa vai exercer em cima da dureza da matéria-prima, porque a dureza da matéria-prima é controlada por aquilo que eu falei no princípio, a questão da água, por exemplo, se você trabalha com 35% de água na matéria-prima, a matéria-prima está boa, está sólida, se você vai trabalhar com 40% de água na matéria-prima, a matéria-prima está mole, está encharcada, nós chamamos de encharcada, né, tem muita água dentro dela, então, se você vai trabalhar com 30% de água, ela já está muito seca, as peças já não sobem direito, elas largam pedaços na mão da gente, ela racha com facilidade, então, tem que ter aquele ponto ideal, então, o oleiro, quando ele vai fazer a peça, normalmente ele tem que saber o ponto da argila, esse é o ponto que a argila tem, né?
P/1 – Deixa eu voltar uma coisa. O senhor falou que também faz trabalhos comunitários, o que são esses trabalhos comunitários?
R – Não, trabalhos comunitários são aqueles que a gente trabalha para o círculo da nossa comunidade, né? Por exemplo, a semana passada eu reuni aqui no Liceu, cerca de 200 a 250 pessoas no auditório daqui da escola, pra tratar de um assunto, sobre questão de moradia, as pessoas estão precisando melhorar as suas casas, então, eu intercambiei com a Cohab [Companhia de Habitação], consegui trazer um pessoal aqui pra eles darem explicações, do que significa a Cohab e como se pode chegar junto a Cohab para se obter reparos na sua casa, ou a casa própria, ou se obter um terreno e assim por diante. Então, esses são exemplos do tipo de serviços comunitários que eu faço. Um outro serviço comunitário que eu faço constantemente é adquirir pedidos de peças junto ao Banco do Brasil e distribuir com a minha comunidade, isso aí eu faço, desde muitos anos atrás que eu venho fazendo isso, inclusive, o Valmir falou que nós já vendemos cerca de 20 mil peças pro Banco do Brasil, né? Ele falou ainda agora, falou a pouco, não foi gravado, mas ele falou! Então, essas 20 mil peças, todas elas passaram por onde? Passaram pelo meu trabalho comunitário, que eu trago pra cá, pra dentro da comunidade, então, esses são os trabalhos comunitários que eu faço. Isso falando, assim, passando rapidamente em cima de dois trabalhos apenas que eu fiz, fora esses, têm inúmeros outros que eu faço.
P/1 – Mas a relação do senhor, por exemplo, com essa escola aqui, como apareceu essa relação?
R – É boa, é ótima a relação!
P/1 – Como surgiu essa relação?
R – Eu tenho uma relação com a escola tão boa, que nós estamos aqui dentro da escola, né, não tem ninguém perturbando a gente aqui graças a o quê? A influência que eu tenho.
P/2 – Mas qual é a história desse Liceu, como que essa cerâmica veio parar aqui?
R – Porque aqui é o seguinte: se você quiser saber da história dele, tem uma parte dela colocada ali na parede, tem um folder lá que tem uma parte da história da história do Liceu, né? Foi uma escola construída para a orientação e ensino dos filhos dos artesãos, para que os filhos dos artesãos pudessem ter facilidade de estudar o pedagógico e também fazer as oficinas, porque eu falei pra vocês: que quando eu era menino eu tive dificuldade para entrar na escola e hoje em dia não, porque tem a escola aqui que pode servir à comunidade, não só pros filhos dos artesãos, como pra comunidade de modo geral.
P/1 – O senhor falou que fica um pouco aqui e um pouco na olaria, né?
R – Isso!
P/1 – Mas a partir de que ano que o senhor passou a atuar aqui no Liceu?
R – A partir de 1996, foi quando a escola foi inaugurada. Pra entrar aqui na escola eu tive que fazer um curso de capacitação, aliás, dois cursos de capacitação: um, pra trabalhar com as crianças e outro pra trabalhar com a parte prática que eu já conhecia. Isso foi dado por uma professora que veio de São Paulo e outra que veio do Rio de Janeiro, elas que deram esses cursos aqui. Eu sou capacitado e tenho o certificado que foi dado pela escola na época, né? Aí, o que aconteceu foi assim: 28 pessoas se candidataram pra ser mestre da escola, 28! Fizemos o curso em 28 pessoas, e dessas pessoas – interessante, essa parte eu não vou deixar de contar – que eu a essas alturas, eu era só autodidata, eu não tinha nenhum título de escolaridade e eu concorri aqui com pessoas que tinham o nível superior, pessoas que tinham o segundo grau e pessoas que tinham o primeiro grau, e eu tirei o primeiro lugar de todos os 28. Taí, deve ter algum documento aí na escola que diz isso.
P/1 – Aí, o senhor ingressou e como foi a partir daí?
R – Eu ingressei na escola pra trabalhar e a partir daí, eu fiquei trabalhando com crianças de cinco, seis anos, trabalho dois dias com sexta série, dois dias com crianças de cinco anos, seis anos e um dia com a comunidade - jovens de 11 anos, que é a idade que eu considero pra entrar na minha oficina - até 60, 70 anos. Quem queira, né?
P/1 – E nesse tempo todo que o senhor tem trabalhado com essas pessoas, tem ensinado esse trabalho, o senhor se lembra de alguma história, um caso?
R – São muitas histórias, né, mas histórias, assim, boas? Eu acho que dentro da minha oficina nunca houve, assim, um fato a lamentar, né, nunca aconteceu um incidente dentro da oficina, nunca aconteceu! Não teve um incidente, sempre nas oficinas, às vezes, acontece: bate um dedo, quebra um dedo, ou fere uma parte do corpo, mas isso nunca aconteceu! Nunca aconteceu também briga, atrito, desentendimento, também nunca aconteceu, entendeu?
P/1 – E coisas boas, assim, que o senhor lembre?
R – Agora, não tem sido bom na parte produtiva, né, porque eu queria que um dia um mestre dissesse assim. Um mestre! Dissesse assim: ”O meu mestre foi o Seu Rosemiro lá do Liceu!”, eu ainda não tenho o privilégio de dizer isso, um dia eu quero chegar a ouvir isso.
P/1 – Seu Rosemiro...
R – Agora, com o respeito, só pra completar essa parte aqui. A respeito, lá, da minha oficina, eu já formei 28 mestres que estão espalhados até no exterior. Nós temos no Amapá, nós temos no Amazonas, nós temos... Em Brasília e Goiás têm a maior quantidade, os dois centros ali, o centro-oeste brasileiro, temos em São Paulo, também tem no Rio de Janeiro e tem também um filho meu em Santa Catarina, que aprendeu com a gente, né, que saiu de lá da nossa olaria. E têm muitos aqui em Icoaraci que aprenderam, desses 28 são proprietários e eu me orgulho muito disso. São proprietários de oficinas, compreendeu, criaram as famílias deles... Tem gente que já tem filho até formado em universidade, que aprendeu comigo e hoje em dia o filho dele já se formou, compreendeu?
P/1 – E como é que uma pessoa chega até essa denominação “mestre”? Qual é o significado disso e como é que se chega a isso?
R – É, eu ontem, até, a propósito desse assunto. Anteontem eu fui lá no Iphan que é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, né, fui pegar lá um cadastro do mestre artífice, que é pra eu me cadastrar, mandar pra Brasília pra eles me mandarem um título de mestre de ofício, compreendeu? Porque não existe nas universidades, pelo menos aqui não existe uma universidade que dê esse título pra pessoa, de mestre. Então, o mestre é conhecido pelo quê? Existem uns quesitos para o mestre, entre os quesitos que existem: um, é ele ter 25 anos de atividade, agora, são muitos os quesitos, então, existe o quesito dele conhecer o processo que ele faz, como é feito, existe o quesito dele conhecer a família dele, saber de onde veio, as origens da família, existe o quesito de como ele deve reaproveitar a matéria-prima que ele trabalha, compreendeu? São vários, talvez, uns 20 ou 30. Então, eu já preenchi uma ficha uma vez, mas não deu em nada, que seria encaminhado pra Universidade Federal do Pará, pra estudar e logo depois, ela passar pra gente os títulos de mestre, né, de mestres oficineiros. Mas agora eu consegui a ficha e eu vou mandar pra Brasília, pra depois eles me certificarem como mestre, mas entre aspas, né, porque eu não sou mestre, na realidade, formalmente, eu sou mestre informalmente.
P/1 – É, mas é reconhecido por aí, né?
R – Isso!
P/1 – Mas deixa eu aproveitar, então, um dos quesitos. Como é reaproveitada a matéria-prima?
R – A matéria-prima nossa, no nosso caso as peças secam, e muitas vezes, por uma avaria qualquer, cai uma chuva dentro e estraga uma peça, ou alguém vai passando correndo, bate e quebra a peça, então, aquela matéria-prima é colocada dentro de um tanque com água em cima dela, ela vai absorver aquela água e vai ser hidratada novamente, quando ela se hidrata, aí, ela volta a ser matéria-prima outra vez, assim que é reaproveitada. Aí, ela vai ter que passar pelo processo de amassar de novo, amassar tudinho pra compactar a massa e pra evitar que tenha no meio caroços, barro seco pelo meio, tudo isso tem que ser feito, é o processo pro reaproveitamento da matéria-prima.
P/1 – Seu Rosemiro, como é que apareceu o Banco do Brasil nessa história?
R – Bom, o Banco do Brasil, eu, na realidade, eu sou cliente do Banco do Brasil desde 1985, né? Eu já participo do Banco do Brasil como cliente e, desde essa época, quando foi aberta a agência aqui em 1984, em 1985 eu abri a minha conta, a minha é menos de 1.000, hoje em dia têm 40 e tantos mil correntistas. Mas na época, a minha conta era o número 850, do banco, né? No dia que eles completaram 1.000 contas aqui no banco, eles fizeram uma festa na agência, completaram 1.000 clientes, o cliente 1.000, né, que pra eles era uma meta a alcançar, hoje em dia está com mais de 40.000, atualmente não existe mais meta, o pessoal vai abrindo conta todo dia, todo dia tem gente abrindo conta, né? Naquela época era restrito. Mais adiante um pouco, uns dois, talvez uns meses depois eles abriram a conta 1.000, nesse dia, como eu estou dizendo, houve uma festa lá e comemoraram, os que chegaram, lá, tomaram refrigerante, comeram bolo e assim por diante, né? Então, a minha relação começou por aí, mas nós tivemos um gerente aqui do banco, que foi um gerente chamado Antônio não sei do quê. Ele conheceu um outro chamado Antônio Farias Vieira, o Cabeludo, que foi o renascentista da cerâmica marajoara aqui na região, então, por intermédio do Antônio Cabeludo ele abriu uma linha de crédito para o artesão, essa linha de crédito era equivalente, hoje, a R$500, hoje, né? Aí, o artesão começou a ir lá no banco, começou a tirar dinheiro, então, a emprestar dinheiro, a pegar dinheiro, mas houveram umas inadimplências, e devido essas inadimplências, então, ele fechou a linha. Ficou fechada, o tempo foi passando, passando, passando e a linha ficou fechada, né? Alguns artesãos ficaram devendo pro banco, outros conseguiram pagar, eu consegui pagar, depois, ainda outros pagaram conta de outros, como eu ainda paguei a conta de um colega, fui lá com ele, então, negociamos, fomos no banco, negociamos e pagamos a conta a juros zero, quer dizer, depois que dispensou todo o juros nós pagamos, eu paguei a metade e ele pagou a outra metade da conta, pra limpar o nome dele e limpar o meu nome também, que estava sujo, que eu era o fiador dele, né? E o sistema, era o sistema que hoje é usado no governo, é, comunitário, né, o sistema comunitário, então, um avalizava o outro, né, eu era avalista dele, ele era meu e assim por diante. Mas a partir de 1994, aliás, não foi nem em 1994, foi em 1993! Em 93 tinha uma gerente aqui no banco chamada Doutora Léia, Doutora Léia Caruso, hoje ela está em São José dos Campos, em São Paulo, então, a Doutora Léia, ela me conheceu no banco, conversou comigo lá, e depois que eu conversei com ela, quando foi um dia, que eu chego na minha olaria, eu vou chegando lá e encontrei aquela senhora, eu olhei pra ela, assim, eu disse: “Parece que eu conheço essa senhora. Eu acho que eu já vi ela um dia”. Aí, eu cheguei, dei boa tarde pra ela e perguntei se ela estava interessada em alguma coisa, ela disse: “Eu estou interessada. Eu estou interessada em conversar com o senhor”, eu disse: “É”, ela disse: “É. O senhor está lembrado de mim?”. Eu olhei, assim, pra ela e disse: “Eu me lembro que já lhe vi em algum lugar”. “Eu sou a Doutora Léia”. Ela não chamou doutora: “Eu sou a Léia, eu sou a gerente do Banco do Brasil aqui de Icoaraci, eu vim conversar com o senhor”. “Bom, que bom, né, então, vamos sentar, vamos conversar”, aí, começamos a conversar, ela começou a me contar a história e tal, que estava começando a surgir a estratégia bancária DRS [Desenvolvimento Regional Sustentável] e que eles estavam interessados em fazer aqui em Icoaraci uma linha, abrir uma linha de assistência para um dos segmentos de Icoaraci, então, tinham três segmentos, e eles podiam pegar um dos três pra abrir essa linha, que seria: a hotelaria, né, nem era hotelaria, era restaurante, aí, a outra seria, a área do turismo e cerâmica, mas como ela já tinha lido a história da cerâmica, sabia que a cerâmica aqui era muito antiga, então, ela ia preferir trabalhar com os ceramistas, aí, ela pegou e falou pra mim assim: “O senhor está interessado ‘depois que ela me contou a história’ só, que tem um detalhe, eu não posso trabalhar só com o senhor, eu tenho que trabalhar com todos os seus associados”, eu era presidente de uma entidade, aí, eu peguei e falei: “Não tem problema, eu vou reunir o pessoal, e dessa reunião surgirá uma outra reunião”, aí, eu reuni o pessoal e passei pra eles o que ela queria e, depois, nós nos reunimos aqui no auditório do Liceu, que tudo que acontece aqui é no auditório, aí, eu pedi o auditório, nós realizamos aqui uma reunião com, mais ou menos, umas 150 pessoas, de associados das entidades que ficaram interessados no programa, né? Então, a partir daí, nós começamos a trabalhar, a reunir e aí, o DRS na realidade, veio com algumas propostas pra Icoaraci, as primeiras delas, em um primeiro momento, seriam assim: congregar a comunidade através das entidades, né, depois, congregar as entidades com a agência distrital de Icoaraci, depois, com o Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas], né, depois, com o Setps [Secretaria Executiva de Trabalho e Promoção Social] , que é um órgão do governo do estado, e aí, foi se formando essa cadeia, né, e a partir daí, então, surgiram as necessidades, e quais foram as maiores necessidades? “Olha, as maiores necessidades que nós temos, é a questão da infraestrutura do bairro, o bairro está com uma infraestrutura abalada”. Isso aqui era só lama, essa rua que vocês foram, lá, era só lama, a Rua Soledade e assim por diante. A iluminação era precária, não era boa. Então, nós começamos a fazer essa corrente forte entre a agência distrital de Icoaraci, o Banco do Brasil e as associações: Sebrae, Seteps, a Belemtur [Coordenadoria Municipal de Turismo do município de Belém], tudo isso fez parte do grupo, né? Então, começamos através das reuniões a atacar as necessidades, aí, então, se fazia uma ata: “E qual é a necessidade que nós vamos atacar?”. “Vamos atacar a necessidade da infraestrutura”, aí, encaminhamos os ofícios pra Sesan [Secretaria Municipal de Saneamento] através da prefeitura, pedindo o melhoramento na infraestrutura do bairro que estava com uma estrutura precária, né? Fomos atendidos! Então, linha de crédito, outras e assim por diante, capacitação através do Sebrae, curso de design.
(troca de fita)
P/1 – O senhor tinha parado, então, que estava congregando as entidades.
R – Exato, congregando. Cada órgão, cada entidade, na realidade, ela entrava com aquilo que ela podia fazer, né? Então, o Sebrae, ele entrou com os cursos: curso de capacitação, cursos sobre comercialização, sobre design,vários cursos foram realizados pelo Sebrae, né, para a comunidade de oleiros. Então, a agência distrital de Icoaraci fez a infraestrutura, ela entrou com a iluminação pública e assim por diante, né? A parte que cabia ao Banco do Brasil seria exatamente a questão financeira, que seria o melhoramento da infra-estrutura das lojas e também, dos estabelecimentos de produção, então, com isso aí o Banco do Brasil fez uma encomenda pra nós que chegou a 20 mil peças, como o Valmir falou, dá 20 mil peças. Essas 20 mil peças nós vendemos para o Banco do Brasil de Brasília, de Brasília pra São Paulo e distribuímos pra todo o Brasil. Isso aí trouxe um lucro acentuado no ano de 1995 para todos os artesãos de Icoaraci, de toda a comunidade. Então, nós trabalhamos, eu fico orgulhoso de dizer isso: que eu trabalhei muito pra conseguir tudo isso, mas consegui pra nossa comunidade, né, e conseguimos! E com isso aí cada órgão foi trabalhando dentro daquilo que era a necessidade da classe de artesãos, né? O Liceu também entrou nessa parte, cedendo os espaços pra gente se reunir, a agência distrital cedia espaço, o Sebrae cedia o espaço dele ali, e nós fomos nos reunindo a cada tempo. Teve curso que o Sebrae deu que demorou dois anos, só um curso, né, que era um curso sobre comércio, então, esse curso foi muito demorado, muita gente fez e desistiu pelo meio do caminho, eu fui um que desisti, mas outros chegaram até o final, né? Então, o Banco do Brasil, como eu estou dizendo, cabia a ele a responsabilidade da questão financeira, porque os outros entravam com a infraestrutura ou capacitação, o Banco do Brasil teria que entrar com os recursos financeiros, na época, né, pra melhorar alguns estabelecimentos, inclusive o meu, melhorei também. Só que eu tenho uma queixa pra fazer do Banco do Brasil, porque quando nós recebemos o DRS aqui, nós tivemos algumas propostas que não chegaram pra nós, é verdade que as portas foram abertas, nós tivemos acesso, temos acesso até hoje no banco, mas nós não conseguimos receber aquilo que o banco havia proposto: elaborarmos um projeto dentro daquilo que a gente precisava, enquanto que o Banco do Brasil analisava e financiava, agora, o pagamento, o ressarcimento disso poderia chegar até 48 meses. Outra coisa, o juros seriam de 1,5% ao mês, uma outra parte seria o seguinte: se você não quisesse fazer um orçamento para melhorar o seu estabelecimento comercial, então você poderia aprimorar na parte das vendas, vender mais, outros, produzir mais, melhorar a sua própria residência também, que foi uma parte que cabia também aí, né. Porque não adianta ter uma loja bonita e ter uma casa caindo aos pedaços, então, o banco também propôs, nesta ocasião, em ajudar com a melhoria das residências. Isso, foi feito através de empréstimos, né? Então, muita gente, naquela época, emprestou. Eu vou falar por mim, nessa época, o Banco do Brasil colocou à minha disposição R$ 15 mil eu teria o direito de usar pra quê? Pra material de construção, fazer um turismo, comprar um veículo, comprar um computador, compreendeu? Então, seria, mais ou menos, pra isso, comprar matéria-prima, capital de giro, né, eu poderia usar esse dinheiro pra isso. Mas eu não usei, eu usei apenas R$ 3 mil de tudo isso que o banco colocou à minha disposição, já outras pessoas colocaram R$ 5 mil, R$ 4 mil, R$ 3 mil, dependendo do tipo de negócio que a pessoa tinha, né, cada caso é um caso e, então, quando nós percebemos que, na realidade, a proposta do banco era uma, mas a realidade era outra e a realidade era o seguinte: é que nós estávamos absorvendo produtos de prateleira do Banco do Brasil, aquilo que o banco tem pra todo mundo, pra qualquer pessoa, quer dizer, os juros de comércio, os juros de mercado, compreendeu? Então, eu até hoje tenho uma pendência no Banco do Brasil, nós estamos pagando todo mês um pouquinho, pagamos os juros... eu estou pagando R$ 150, R$ 200 reais de juros por mês, compreendeu? Se realmente a proposta fosse aquela que foi feita pra nós, então, a gente estaria muito mais adiantado do que nós estamos hoje, né? Eu não reclamo, eu acho bom, porque se não fosse, eu não tinha feito o que eu fiz, eu não teria tido condições de fazer, né? A Dona Lina fala muito bem do Banco do Brasil, o Anísio fala muito bem, o Doca fala muito bem e outros muitos falam bem do Banco do Brasil, como eu falo, eu falo bem, eu não falo mal, eu falo bem. Eu acho que foi uma porta que se abriu pra nós, só que teve esse detalhe, né, que foi um detalhe negativo até hoje. Eu, inclusive, estive em Brasília numa reunião com o Presidente do Banco do Brasil, o Lima Neto, eu estive lá com ele e eu falei pra ele: “Doutor, nós precisamos que a linha de crédito que foi oferecida para os artesãos de Icoaraci, que ela chegue até lá, porque o artesão está interessado na linha de crédito, mas, com os juros da forma que eles estão processados, nós não podemos aguentar, eles são muito altos, compreendeu, são juros de comércio, são juros pra quem já está estabelecido, nós não estamos estabelecidos, nós somos uma comunidade carente, não podemos entrar num tipo de mercado desse jeito aí”. Então, o resultado, que a linha de crédito foi aberta pra todos nós, pra todos aqueles que se interessaram: da cooperativa, da Soamar [Sociedade Amigos da Marinha do Pará], do Cosanpa [Companhia de Saneamento do Pará] que foi quem mais usou a linha de crédito, é a associação que eu pertenço, né. Fomos, mais ou menos, uns 20 a 30 associados que pleitearam e conseguiram o dinheiro, inclusive, alguns tiveram uma linha de crédito muito baixa, um limite de R$ 200, R$ 300, mas mesmo assim, ficaram satisfeitos, né, com a importância pequena que colocaram como linha de crédito pra eles, que era abertura de crédito, então, mais adiante o camarada ia movimentando a conta, e ia chegando mais dinheiro, né, dependia da credibilidade que o banco e dependia da responsabilidade de cada pessoa. Então, como eu estou dizendo, eu retirei nessa época, cerca de R$ 3 mil, e até hoje não completei o pagamento, estou pagando todo mês os juros e fica sempre pendurado pra eu pagar no outro mês, quando eu posso eu deixo R$ 200, R$ 300 na conta e assim por diante. Mas, o Banco do Brasil ajudou muito a gente, principalmente na questão das vendas, ajudou muito também, nos colocou no site deles do comércio internacional, tem gente que já vendeu através da linha de crédito do Banco do Brasil. Eu nunca vendi, porque eu não tenho computador, eu opero só com a mão mesmo, com os dedos, mas os dedos são pra tocar no dinheiro da pessoa, quando é dinheiro, né, e assim por diante. Então, eu acho que eu tenho que dizer: que os 200 anos do Banco do Brasil, que ele seja comemorado no mundo todo, porque na realidade, ele veio pra favorecer os mais desfavorecidos, né? E também pra favorecer os favorecidos já, aquelas pessoas, como diz o ditado: “ Dinheiro, só ganha quem tem dinheiro, quem não tem dinheiro, não ganha dinheiro”, então, quem tem dinheiro, ganha dinheiro, porque vai lá e o camarada serve, o gerente do banco abre as portas pra ele e ele tira um crédito alto. Eu tenho uma amiga que ela vai lá no banco pegar R$ 20 mil no dia de sexta-feira, compreendeu? Agora, a conta dela tem uma linha de crédito com um movimento bom. Eu, se eu for lá dia de sexta-feira e pedir R$ 500 é difícil eu conseguir. Por quê? Porque é mais difícil que um outro colega qualquer. Mas o que a gente pede hoje, por exemplo, pra comemorar esses 200 anos do Banco do Brasil, é que essa linha de crédito do DRS que foi aberta, foi exclusivamente para o pequeno agricultor familiar, para a pesca também, mas para o artesão ela não teve uma adaptação, então, se ela pudesse ter essa adaptação, porque o artesão também precisa movimentar mais um pouquinho de dinheiro, mas como ele pode movimentar mais um pouco se os juros são muito altos? Então, o banco do governo do estado oferece o mesmo crédito com os juros de 1,5% ao mês, né, o banco da prefeitura também oferece uma linha de crédito bem mais baixa, mas com um volume de pagamento de juros de 1,5% ao mês, mulheres solteiras, até, 1% ao mês, compreendeu? E o artesão, eu acho que se ficasse em 2% ao mês, ficaria ótimo, mas a linha de crédito com o valor que nós temos hoje,é muito alta. Então, a gente repassa isso aí, que isso a gente tem certeza que vai chegar lá para as autoridades do banco, que ele olhe, não só pro artesão de Icoaraci, não, para o Brasil todo, pra todo artesão brasileiro que precisa pegar uma linha de crédito, porque a linha de crédito é vida! É vida, é comércio, é negócio, movimenta a classe artesanal, então, o artesão precisa também comprar a sua matéria-prima, ele precisa pagar quem lhe ajuda a trabalhar, ele precisa sustentar a sua família, então com uma linha de crédito alta se torna difícil, né? Por isso é que eu digo: o Banco do Brasil, pra nós, foi um empreendimento muito bom, foi ótimo, eu não tenho o que falar contra, eu tenho só que falar a favor, porém, eu gostaria de mandar essa mensagem pra lá, isso é uma mensagem, não é uma reclamação, que eu estou mandando pro banco, dizendo que nós estamos esperando essa linha, o dia que ela chegar aqui ela será muito bem recebida por todos os artesãos de Icoaraci.
P/2 – Está mandado o seu recado.
P/1 – Só uma coisinha. O senhor falou que é presidente de uma entidade?
R – Isso!
P/1 – Qual é a entidade?
R – Conselho Superior do Artesão do Pará, o Cosapa.
P/1 – Cosapa?
R – É, Cosapa.
P/1 – E faz tempo que o senhor atua nessa entidade?
R – Eu atuei de 2000 até 2006, aí, em 2007 eu fiz uma eleição e elegi o meu sucessor que foi o meu candidato. Ele está mantendo até hoje, termina o mandato dele em janeiro de 2009.
P/1 – E essa entidade, ela é de todo o estado ou é só da região?
R – Não, ela é uma entidade. O estatuto dela pra associar, né, é congregar filiados de todo o estado do Pará, a ramificação dela é em todo o estado. Mas nós temos associados de Marajó, de Vigia, de Castanhal, temos associados de Bragança, compreendeu, temos vários associados de outros municípios, mas a maior parte são mesmo ceramistas de Icoaraci, a maior parte.
P/1 – Bom, agora a gente vai mudar um pouco o foco. Eu queria voltar um pouco, porque o senhor já falou um pouco da sua esposa, né, como é mesmo o nome dela?
R – Maria de Nazaré dos Santos Pereira.
P/1 – E os filhos do senhor, quantos filhos o senhor tem?
R – Nós temos, eu com o matrimonial com ela, nós temos oito.
P/1 – Qual é o nome deles?
R – O mais velho é Rosevan, tudo dos Santos Pereira: Rosevan, Roseval, Rose Maria, Rosevalda, Rosemauro, Rosevagner, Roselene e Rosevelton
P/1 – E o que eles fazem?
R – Bom, o Rosevan, hoje, é oficial da marinha, né, da Marinha de Guerra do Brasil, e eu não falei de um que eu tenho e que não é de matrimônio, esse é o mais velho de todos, ele é operador de máquinas pesadas, ele trabalha com máquinas pesadas em madeireira, sabe, negócio de tratores, assim, ele opera...
P/1 – Qual é o nome dele?
R – É, o nome dele é Paulo Sérgio, ele não leva Pereira, porque ele não foi reconhecido, né? E os filhos, o que fazem hoje? O meu mais velho é oficial da Marinha e mora em Salvador, o segundo filho é artesão, ceramista, e mora em Florianópolis, Santa Catarina, aí, a Rosemaria, tem o segundo grau e continua na arte de artesã e também é feirante na Feira do Paracuri e o marido dela é ligado à pesca artesanal aqui na Amazônia, né, próximo das nossas águas, do Oceano Atlântico, ele trabalha nessa região aí. Agora, depois nós temos o Rosemauro, que é o meu companheiro de trabalho, ele que faz as peças maiores, né, tem o Rosemauro, nós temos a Rosevalda, que também está trabalhando com artesanato, está tocando pra frente, nós temos a Roselene que agora, no momento, pegou um emprego de secretária numa escola municipal e, também, toca o artesanato, e nós temos o Rosevelton, que achou por bem ir trabalhar como cobrador de ônibus e toca nas folgas o artesanato, e nós temos finalmente, o Rosevelton, né, o último é esse que eu falei, né?
P/1 – Então, o senhor está passando pra próxima geração a...
R – É, nós já passamos pra eles, porque todos já são profissionais, hoje em dia todos eles sabem trabalhar. Agora, o que é mais interessante de tudo isso é que eu consegui… eu juro que eu não pensava que fosse acontecer isso, criar um estabelecimento que deu pra abrigar todo mundo lá dentro, quer dizer, todo mundo que quer trabalhar lá, trabalha, eu acho também que é uma questão de orgulho meu, que eu tenho muito orgulho disso, eu gosto de dizer: que eu nunca bati na porta de uma só pessoa pedindo emprego, nunca na minha vida! Trabalhei pra cinco pessoas até eu ser proprietário, pra cinco pessoas! Mas todas as cinco pessoas que eu fui trabalhar, foi que me chamaram e depois disso eu já trabalhei com muitas comunidades do interior do estado, né, eu sempre trabalho como mestre orientador, como mestre professor, como mestre instrutor e assim por diante, né? Tenho trabalhado fora do estado e já trabalhei em outros municípios dentro do estado do Pará, né, onde já, inclusive, formei gerações de oleiros nesses municípios, no município de Vizeu no estado do Pará, tem o município de Juruti, e tem o município de Limoeiro do Ajuru, que lá eu também formei um grupo de artesãos.
P/1 – O senhor, olhando a sua trajetória de vida, o que o senhor diria, assim, que foram as suas maiores lições?
R – As maiores de todas? Olha, eu tenho, assim, muita coisa pra dizer...foi uma visão muito boa que eu consegui, né? Mas eu acho que entre todas, assim, as maiores de todas foram, por exemplo, com a imprensa, eu tenho uma...com a mídia, né, eu tenho um acesso, até certo ponto, com a mídia, eu sempre sou visitado pela mídia. As universidades e as faculdades de Belém, todas elas me procuram, eu tenho um bom relacionamento aqui na escola, com o Banco do Brasil, então, eu acho que são tantas coisas que eu tenho, que eu posso dizer, assim, que foram bons momentos na minha vida que passei e estou passando até hoje, né? Eu já tive a oportunidade de passar no “Valores do Brasil”, do Fantástico, da Rede Globo e em 2006 fui um expoente do “Valores do Brasil”.
P/1 – Com a cerâmica, o senhor mostrou o seu trabalho?
R – Isso, isso! Mostrando o meu trabalho e, também, falando a respeito do DRS.
P/1 – No Fantástico?
R – Foram bons momentos, né? E além disso, os bons momentos com a família, né, que a gente não pode deixar de lado. Também já fui religioso, eu também tenho alguma coisa com religião, sou envolvido também com política, tenho alguma coisa com política, com comunidade, que dizer, eu sou uma pessoa voltada pra muitos lados.
P/1 – E futuro, assim, o que o senhor pensa em termos de futuro, o que o senhor poderia dizer em relação às atividades?
R – Bom, eu acho que de futuro, hoje, eu tenho pouca coisa para falar de futuro, porque eu estou com 71 anos, eu vou fazer 72, então, eu acho que eu não sei o que o futuro reserva pra mim, né? Mas eu ainda tenho esperança de chegar mais adiante, dentro do meu próprio trabalho, pretendo, né, chegar mais adiante um pouco. Eu acho que o que eu ensinei pras pessoas também não foi em vão, eles não aprenderam em vão, porque hoje em dia todos eles, quando têm oportunidade, eles dizem: “Olha, meu mestre foi o Seu Rosemiro, eu aprendi com ele”, compreendeu, isso aí também valoriza a gente, né, da pessoa dizer assim: “Olha, o meu mestre foi o Seu Rosemiro, eu aprendi com ele, foi ele que foi o meu mestre”. Trabalhei, também pro governo do estado durante muitos anos, no Curro Velho, na Fundação Curro Velho, trabalhei como instrutor também, de formas que a vida é assim... indo pro futuro. Como eu estou dizendo: eu espero no futuro fazer alguma coisa, não só pela minha comunidade, não só pela minha família, mas eu ainda pretendo fazer alguma coisa pelo próprio país.
P/1 – E pela atividade da cerâmica aqui, o que o senhor vê de futuro, assim, pra essa atividade? O que o senhor consegue imaginar pra frente, como é que vai ser?
R – Bom, nós temos que avançar, né? Nós temos que avançar porque o mercado nacional, esse mercado que nós estamos trabalhando com ele há muitos anos, já está um pouco retraído hoje, né, então, nós temos que avançar para o exterior, para o mercado internacional, isso está se fazendo, quando a gente não avança, assim, por nossa própria conta, a gente avança por intermédio de algumas outras pessoas, por exemplo, nós temos um freguês em Salvador, na Bahia, que ele está vendendo pro exterior, sabe, nós temos outro freguês em Natal, que vende pra Alemanha os nossos produtos, sai da nossa olaria pra lá, daí de lá, ele manda pra Alemanha, compreendeu? É isso que nós queremos. Eu não quero ir vender na Alemanha, porque eu não tenho condições de vender lá, se eu for vender lá eu deixo de produzir aqui, eu quero produzir! O que eu quero? Eu quero produzir, eu quero que tenha mercado! E quem é que vai fazer mercado, sou eu? Não, eu não vou fazer mercado, eu não tenho como, alguém tem que fazer o mercado, eu tenho que usar o mercado como resultado, e o fulano de tal tem que fazer o mercado pra resultado dele, né, no final, no âmbito geral todo mundo ganha, eu ganho, ele ganha, o outro ganha, o outro comerciante lá na outra ponta vai ganhar também e assim por diante, né, e com isso, a tendência do comércio é crescer. Então é isso que eu espero, a minha esperança é nisso, já que dentro do comércio brasileiro, o comércio nacional, acredito que esteja muito saturado, principalmente, o estado de vocês, o Estado de São Paulo. O Estado de São Paulo recebe toda semana entre três e quatro caminhões, carretas de mercadorias que vão pra lá, daqui do Paracuri sai toda semana duas, três, quatro carretas de cerâmica. Ainda essa semana, já saiu uma carreta, no fim dessa semana vai sair uma outra e na semana que vem já estão previstas mais duas pra sair e todas com destino para São Paulo. E a gente também vende, de vez em quando, quando está saindo container dos colegas, quando não sai nenhum, mas sai dos meus colegas, pra outros lugares, pro exterior, né? Saída de container é sempre pro exterior, não sai pra dentro, pro nacional, é só pro exterior. Então, a gente espera isso, que aconteça isso, é isso aí, né, é isso que eu espero.
P/1 – Bom, a gente está fechando, é que eu dei um tempinho por causa da musiquinha ali fora. Esse trabalho que a gente está fazendo, como eu tinha colocado pro senhor, tem a ver com a comemoração dos 200 anos do Banco do Brasil, o que o senhor acha do Banco do Brasil, esse trabalho de resgate da história do banco, a partir da história das pessoas que fazem a história do país?
R – Olha, eu acho que é uma lembrança ótima, compreendeu, porque essa narrativa é a minha, eu estou dando aqui neste momento e que em outros lugares vão conhecer, assim como vão conhecer as narrativas de outras pessoas que vocês estão entrevistando e que, por sua vez, conhecerão os nossos relatos também. Se eu não passar o relato daquilo que eu faço ninguém vai saber no futuro, só vai saber assim. É uma iniciativa que a gente pode chamar de louvável, é uma louvável iniciativa, parabéns ao Banco do Brasil pela iniciativa. Pena que 100 anos no passado, 80 anos no passado, até 50 anos no passado não houve essa iniciativa, é como hoje eu vi, no final do ano 2000, não! No final do ano de 1999, eu ouvi dizer que elegeram uma mulher, a mulher mais bonita do século, será que isso é verdade? Como, se ela viveu no fim do século? E as outras que viveram antes, não é? Então, as outras foram penalizadas, né, foram penalizadas por uma que vive no final do século, que ultrapassou de um século para o outro século, como eu ultrapassei o século, né, nós ultrapassamos do século 20 para o século 21 e tivemos essa felicidade de ver o Brasil tricampeão, pentacampeão e assim por diante, né? Quer dizer então que essa felicidade, outras pessoas não tiveram lá atrás, pessoas que usaram o Banco do Brasil, que o Banco do Brasil ajudou, pessoas que também ajudaram o banco, porque a ajuda é mútua, né, um ajuda o outro, e essas pessoas não tiveram essa oportunidade que eu estou tendo aqui, de dizer que o banco me ajudou, de dizer que eu quero mais do banco, que eu espero que o banco me dê mais para poder fazer o quê? Para retribuir a entidade também, né? Então, é isso que eu acho, a iniciativa é ótima, parabéns pro pessoal do Banco do Brasil. Parabéns senhores! Parabéns seu presidente, parabéns!
P/1 – O que o senhor acha de ter dado o seu depoimento?
R – Eu achei bom.
P/2 – Como o senhor se sentiu?
R – Só uma palavra, bom. [risos]
P/2 – Obrigada!
P/1 – Bom, então, a gente agradece o seu depoimento.
R – De nada, está ótimo.
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