Um século de desenvolvimento industrial no Brasil - 100 anos White Martins
Entrevistado por Monique Lordelo e Débora Querido
Depoimento de Paulo Roberto de Oliveira Bastos
São Paulo, 07 de novembro de 2011
Realização Museu da Pessoa
Depoimento WM_HV052
Transcrito por Albert Wong /MW Trans...Continuar leitura
Um século de desenvolvimento industrial no Brasil - 100 anos White Martins
Entrevistado por Monique Lordelo e Débora Querido
Depoimento de Paulo Roberto de Oliveira Bastos
São Paulo, 07 de novembro de 2011
Realização Museu da Pessoa
Depoimento WM_HV052
Transcrito por Albert Wong /MW Transcrições (Mariana Wolff)
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Paulo, muito obrigada pela sua presença, em nome do Museu da Pessoa e da White Martins.
R – É um prazer.
P/1 – Por favor, seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Paulo Roberto de Oliveira Bastos. Nascido em 14 de fevereiro de 1949.
P/1 – Onde?
R – No estado de Rio de Janeiro. Antigo estado da Guanabara.
P/1 – O nome dos seus pais?
R - Affonso de Oliveira Bastos e Uady Carvalho Bastos. Uady, nome indígena, na região lá de Pernambuco.
P/1 – Conta um pouquinho da história da sua família então.
R – Família? Bom. A nossa família é pai e mãe, três filhos. Eu sou o filho do meio. Tem o Afonso Filho que foi o primeiro, eu o segundo e o José Carlos o terceiro. É família lutadora, como toda família brasileira. E a gente teve, assim, percalço muito grande durante a fase de nós crianças, porque meu pai ficou doente quando ele tinha seus trinta e poucos anos, por isso, eu estudei interno ainda uns dois, três anos, meu irmão um pouco mais. E a vida foi melhorando e já o ginásio, parte do ginásio, eu já fiz do externato, e
depois conseguimos fazer o cursinho, fazer o pré-vestibular. Faculdade é também, foi outra lenha, porque, naquela época, vocês não conhecem o Rio de Janeiro, mas eu morava em Niterói, dava aula em Caxias, estudava em Cascadura, é um triângulo, assim de, sei lá, uns 30 quilômetros, mais ou menos. Para lá, para cá e voltar, eu saia cedo, cinco, cinco e meia, voltava meia-noite, meia-noite e meia e fechando esse ciclo, para poder me formar, sempre fui muito bom aluno. Fiz o curso numa faculdade paga, pô, ter que trabalhar durante o dia. E me formei, o meu irmão já tinha formado, ele fez na Federal, fez Engenharia Naval. É um excelente Engenheiro Naval, trabalha até hoje, eu me formei em Engenharia Mecânica na Faculdade Souza Marques, lá em Campinho, Cascadura. Eu formando consegui um emprego na companhia Soutex de roupas, que é a antiga DeMillus. O pessoal gozava muito na época e eu fui assistente de montagem de máquinas têxteis, aquelas máquinas importadas da Suíça. Assim, muito interessante em termos de engenharia. Fiz concurso para Petrobrás. Passei. Fiz o curso da Petrobrás durante um ano. Fiquei na Petrobras mais de dois anos. Época da ditadura, uma época difícil também, que vocês não viveram. Então os chefes eram todos Coronéis, Brigadeiros e Generais, então não tinha perspectiva de eu, jovem com vinte e poucos anos, galgar posições dentro da própria Petrobrás. E surgiu um anúncio da White Martins para um cargo de engenheiro mecânico, naquela época, uma vaga (risos) foi minha.
P/1 – Paulo, você está falando muita coisa importante, mas eu vou voltar um pouco. Tudo bem?
R – Pois não.
P/1 – Você falou, eu vou voltar para a sua família, você conheceu seus avós, a história deles, como é que seus pais se conheceram? Conta um pouquinho dos seus avós. Você teve contato com eles?
R – Não. A única avó que eu conheci foi a, que a gente chamava de Vovó Paulina, que era mãe do meu pai. E o pai da minha mãe também, mas, assim, porque, veja bem, a gente era criança e um pai doente. Você, criança, ninguém quer ficar com você. Então, tinha o problema dos tios, então os dois não podiam ficar juntos, porque, criança, eu tinha, sei lá, quatro ou cinco anos e meu irmão, sete ou oito, aquele negócio de briga de irmão, aquele negócio todo, ninguém queria ficar, então a gente ficava separado. Hora eu na casa de uma tia, ele na casa de outra. Até esta questão de minha mãe resolver colocar a gente em colégio interno, porque não estava dando certo. Então a gente tinha as tias, tinha o avô que é o Antônio, e tinha a Vovó Antônia, que era parte de mãe e a Vovó Paulina que era parte de pai. Mas, principalmente, a Paulina, muito pobre, sem recursos, e os filhos ajudando de alguma forma, é bem típica minha, assim, minha família, sofrida, precisando de ajuda. Hoje, a coisa multiplicou, mas naquela época tinham suas dificuldades também.
P/1 – Você falou de origem indígena do nome?
R – É no origem indígena do nome, mas é pernambucana, que a minha mãe falava: “Sou pernambucana de faca na cintura”, que ela enfrentava mesmo. Então, vamos dizer, todas as dificuldades que nós tivemos, toda vamos dizer, determinação, que hoje a gente tem, passou pela gente, para vencer na vida, isso é da minha mãe. Nisso ela foi guerreira. Meu pai é mais calmão, mas minha mãe foi guerreira, e isso ela passou para gente e é o que sustenta a gente e é o que eu passo para os meus filhos, também que é a determinação, a garra e perseverança, não se deixar vencer por qualquer besteira. Isso vem da família da parte da minha mãe, ela era filha desse meu avô Antônio, que a mãe morreu quando a mãe tinha sete anos. Você vê, só tragédia (risos), quando a mãe tinha sete anos e ela, ela, a Sônia e mais umas primas da época e meu avô casou de novo e ela virou a gata borralheira lá da família, ela que lavava, passava, tudo pequenininha, sete, oito, nove anos, ela foi tirada da escola para fazer as coisas em casa e ela trouxe essa amargura a vida toda. Graças a Deus não passou para gente.
P/1 – Mas ela é de Pernambuco?
R – Ela é de Pernambuco, Recife.
P/1 – Cresceu lá?
R – Cresceu lá e eles vieram pro Rio, todos. Acredito que uns 14, 15 anos, vieram todos para cá, ficaram aqui nessa região lá do Rio, de Vila Isabel, andar, por ali, que é a zona Norte do Rio, também. E ela conheceu meu pai. Meu pai era vendedor, vendedor de ilusões (risos), meu pai vendia livro, antigamente não tinha muita loja, vendia eletrodoméstico, que era vendido de porta em porta, coisas que hoje você liga e já está tudo resolvido (risos). Mas ele viveu nessa vida, vendia panela, até que ficou doente e a vida deu uma guinada. Então vieram as dificuldades, vamos dizer, tinha a sustentação da família, mas acabou a fonte, minha mãe o que ela fazia? Ela, à noite ela costurava, ela era uma boa costureira, costurava as cortinas dos teatros de revista, ia pros teatros à noite, virando lá, costurando aquelas cortinas imensas. E eu e meu irmão preso dentro de casa, que as tias não queriam ficar com a gente, teve acidente, meu irmão foi pegar um garrafão de água, o garrafão quebrou e cortou ele todo, tem umas histórias, tenho um queixo cortado pois a gente jogava sabão no chão, escorregava e a gente bateu.
Ela resolveu, então, já que tinha só dificuldade, arranjou bolsa de estudo e a gente foi pro colégio interno, que era muito difícil. Me lembro, por exemplo, uma vez que tocou um telefone, era coisa rara, mas colégio tinha, colégio Santa Lúcia eu devia ter uns seis anos, o telefone tocou, eu fui atender, você imagina, uma criança de seis anos, atendi de bobeira, passando para ver como é que é, o inspetor viu, não podia, foi lá, levei não sei quantas chapuletadas dessa escova de sapato, ela é de madeira. São coisas da formação, mas não fiquei sequela de batida, nem sequela mental, a gente conseguiu sobrepujar toda essa dificuldade.
P/1 – Você e seu irmão estudavam no mesmo colégio interno?
R – Era o mesmo colégio interno. Ele ficou mais tempo porque entrou antes e saiu depois. Ele sofreu mais, hoje tem os problema dele mas, ele também conseguiu suplantar. O mais novo não pegou nada disso. Já pegou outra geração, a distância entre nós é de oito anos. Então já pegou a fase boa de todo esse processo. Não viveu nada dessa situação. Meu irmão viveu muito, eu vivi parte e o outro não viveu nada.
P/1 – Mas você ficava interno o tempo todo, não tinha contato, como no fim de semana?
R – O tempo inteiro, não, minha mãe ia de quinze em quinze dias e era a vida mesmo, ali, como se fosse um, nem pensionato, era colégio mesmo, de manhã, de tarde e de noite preso ali dentro. A fase melhor que a gente teve foi no Salesiano Santa Rosa, que fui para um colégio de formação religiosa, quer dizer, tinha os padres, os inspetores que eram irmãos e à partir dali, a gente conseguiu crescer. Tem um detalhe que eu queria voltar um pouquinho, no colégio interno, a primeira fase, no meu caso, a primeira fase, aquela fase do primeiro ano até o quarto ano primário, que é o antigo, eu era muito doentinho, vamos dizer, a formação foi muito fraca.
Teve um ponto alto na minha vida, que foi, teve a tal da gripe espanhola na época, gripe asiática e eu peguei essa gripe asiática, e tive que sair do colégio e fui para casa onde eu morava lá em Mesquita. E eu tive a Dona Ilka, que era professora do colégio primário. Eu perdi um ano desse colégio primário, refiz a quinta série, e a partir daí nunca mais fui mau aluno. Então, quer dizer, tem esse ponto na vida da gente, que é o da reversão, que eu tive lá com dez anos de idade. E fui para um colégio interno de novo, que foi o Salesiano, que eu fiz parcialmente o ginásio, e dali para frente eu realmente reverti essa questão da formação, e que me trouxe até hoje. Foi um ponto positivo.
P/1 – Lá no colégio você tinha todas as disciplinas normais? Tinha aula de música, como é que era?
R – Todas. Todas, música, tocava na banda no Salesiano, lá na Fanfarra. O nosso mestre, Afonso Reis, que morreu agora, você vê, quantos anos depois, morreu tem umas duas semanas com 93 anos. E foi a vida toda o mestre, até agora, até o finalzinho, mestre Afonso.
P/1 – Além da Dona Ilka têm outros professores marcantes?
R – Olha, esses dois foram marcantes. O Professor Valmor também, que era escuro, discriminado no Salesiano, era um professor daqueles estilos rigorosos, que não tem mais. Eram as línguas, latim... A gente estudou muito latim, francês, e ele realmente, o professor Venceslau do Salesiano também que faleceu há pouco tempo, parte da matemática. Então esses foram, vamos dizer, os focos da minha formação. O resto era padrão normal, sem grandes desvios com relação para muito bons ou para muito ruim, é normal. Mas dentro do Salesiano, por exemplo, eu sempre estive entre os dez melhores alunos de cada classe que eu passei, isso foi muito positivo. Faculdade também entre os cinco melhores alunos eu sempre entregue essa… Com toda essa dificuldade, estudando à noite, época de prova virando, chegando em casa e estudando um pouco mais, virando sábado e domingo, mas sempre me mantive dentro de uma classe que a gente pudesse dar um passo melhor a frente. A maioria do pessoal desleixa um pouquinho mas eu consegui manter o padrão.
P/1 – E do que você gostava de brincar quando criança?
R – Olha, brincadeiras nossas eram bolas de gude, pipa, não sei como é que chama aqui, se é papagaio, pião, bafo-bafo, que era figurinha, essas que eram as brincadeirinhas. Futebol desde sempre. Eram as brincadeiras normais de crianças da época. Para você ter uma ideia também, na época que a gente morou em Mesquita, meu pai conseguiu um emprego e as coisas melhoraram um pouquinho, eu voltei a estudar em colégio interno, mas naquela época papai comprou uma televisão, em 1960. A rua inteira ia ver televisão lá em casa (risos) e era assim, das oito às nove a mãe desligava tudo, das sete às nove, sei lá, tinha uns programas específicos para aquilo, a criançada toda enchia a casa, era assim. Hoje uma televisão em cada cômodo (risos). Mas teve essa bela dificuldade também.
P/1 – O que vocês assistam quando ia o pessoal todo para lá?
R – Olha, aquela época tinha “Vigilante Rodoviário”, que era o máximo (risos), tinha o “Zorro”, tinha… Eram esses os personagens principais, as novelas que já existiam na época, tudo ao vivo, interessante. O futebol já era videotape, os jogos nunca eram diretos, havia dificuldade tecnológica para isso, as limitações e rádio, nossa vida era rádio, futebol no radinho, me lembro da Copa de 1958 que o Brasil foi campeão pela primeira vez, no radinho, eu sentado com o meu pai. Meu pai é daquele estilo muito legal e minha mãe é do tipo repressora, então, esse era o estilo de vida que a gente levava. Um ponto interessante que eu me lembro também, minha mãe tinha uma criação de galinha no quintal, uma vez levei uma corrida de um galo até dentro de casa (risada), mexi lá em não sei o quê e saiu aquele galo correndo atrás de mim, eu devia ter, sei lá, uns nove, dez anos. Isso marcou um pouquinho.
P/1 – Você falou em Mesquita. É um bairro?
R – Mesquita hoje é um município próximo a Nova Iguaçu lá no estado do Rio de Janeiro, na zona, é mais que zona Norte, é mais interior do estado do Rio, hoje é uma região bastante violenta, nunca mais voltei, pretendo voltar. Certamente aqueles colegas que eram pobrinhos na época ainda moram por lá, pretendo voltar para Mesquita para ver a terceira geração do que a gente deixou lá.
P/1 – Fala um pouco desse bairro então onde você morava, sua casa.
R – Bom, o bairro Mesquita era muito pobre. A casa era uma que minha mãe conseguiu fazer com muita dificuldade, que o terreno ela ganhou de uma madrinha nossa, a Edna, ela ganhou esse terreno e foi construindo a casa com toda dificuldade, a casa se não me engano, tinha dois quartos, conseguiu levantar sala, telhado tudo direitinho, uma casa direitinho, mas estilo bem pobre. E a gente mudou para lá, eles se mudaram antes, tipo, 1958, e eu participei em 1960 daquela tal gripe asiática que eu peguei, mas em 1961 já estava no Colégio Salesiano, já interno. E a casa, casa pobre, a rua de terra, a vizinhança toda pretinha, morava ali, todos muito pobres e foi esse o meio que a gente viveu até ali. Não tinha grandes diferenças do que é um bairro pobre hoje, não miséria, bairro pobre. E a gente vivia nesse meio, e a gente era referência, sempre ajudando. Você sabe que a comunidade pobre se ajuda muito, a gente depois quando vem para classe média, ninguém se ajuda. Mas: “Dona Dida…”, o nome era Uadi, mas o apelido, Dida, “… dona Dida, me empresta um saco de arroz, um quilo de feijão?” e leva um leva doce, o outro leva não sei o quê, um salgado. A vida comunitária, ela ajuda nesse ponto, então, essa era a nossa vida naquela época.
P/1 – Sua mãe gostava de cozinhar?
R – Muito, aliás, umas comidas até… Enquanto esteve viva, a gente lembrava lá dos pratos, a gente comeu muito assim, angu com carne moída, a carne moída era carne de terceira (risos), era assim né? Fazia a plantação, a horta no fundo, colhia, comia alface da própria horta, tomate. Mas as carnes, muita carne seca, muito lombo, sempre comida barata. Para você ter ideia, não tomava Coca Cola, era Ki-Suco, que era o suco da época.
P/1 – Você ficou lá até ir para faculdade, nessa casa?
R – Não. Nessa casa eu fiquei só dois anos, eles ficaram mais, mas eu fui para lá em 1959 e em 1961 eu já estava interno de novo no Salesiano. Em 1962 eles se mudaram para Niterói, que essa madrinha tinha uma casa nos fundos da casa dela em Niterói e ela alugou para a gente, mudamos para lá, eu continuei interno e depois fui pro externato. De lá, saímos daquele cantinho dela e foi uma vida normal. Papai melhorou de vida, alugou uma outra casa e meu irmão já estava fazendo faculdade no Fundão. Para você ter uma ideia, não tinha ponte, ele passava a semana toda lá no alojamento do Fundão, sábado e domingo vinha para casa. Eu já transitava por Niterói, porque já não estava mais no internato. Depois, a ponte saiu em 1975? É, em 1971, 1972 eu me formei e já comecei a, vamos dizer, ter uma vida melhor, formado já, 1972 eu me casei e já guinou tudo para uma vida profissional diferente.
P/1 – Então você sabe a realidade de Niterói antes ponte e pós ponte?
R – Para você ter uma ideia, era barcaça, como acho que ainda tem em alguns pontos aqui em São Paulo. Para você atravessar Bertioga não era barcaça? Era ali, você entra numa fila, entra na barcaça e vai embora. Atravessava, levava meia hora, 40 minutos, mas a fila durava às vezes umas duas horas, senão você tinha que passar pelo fundo da baía, que tinha uma estrada que levava também duas horas para chegar ao outro lado. E depois que a ponte foi inaugurada em 1975, se não me engano, a vida melhorou. Hoje já está um inferno de novo (risos). Mas por muitos anos eu transitei pela ponte diariamente para fazer a ida e volta do trabalho. A vida normal.
P/1 – E por que Engenharia? Você já tinha algum gosto anterior por alguma matéria?
R – Na realidade, eu sempre gostei dessa parte mecânica, mais mecânica das coisas. Eu fiz aquelas avaliações, que se faz para se ter indicação de profissão e a indicação foi mais na parte de artes, mas não segui a indicação, preferi Engenharia. Meu irmão fez Engenharia Naval, eu fui para a Mecânica, porque uma das grandes oportunidades na época eram as fábricas de São Paulo, como a Volks, a Ford e a GM. Eu cheguei a fazer inscrição na Volks aqui, mas me surgiu na época um estágio bom no Rio e fui fazendo a carreira lá. O fundamento, na época dos anos 1970 era Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Eletricista e a Naval que estava começando, onde o meu irmão entrou. Mas eu sempre gostei de mecânica, sempre fui muito voltado para questão de carros. Hoje, por exemplo, tenho uns quatro carros antigos em casa, sempre mexendo, sempre dentro dessa linha. Eu tenho um neto, por exemplo, que ele é fissurado em mecânica, fissurado em tecnologia nova, também, e já está seguindo os passos, um pouquinho mais, do avô.
P/1 – E daí você entrou na faculdade, como é que foi, foi uma conquista?
R – Faculdade eu entrei nos anos 1960, 1965 ou 1966. Foi uma conquista, a gente deu uma grande guinada na vida. Você realmente se esforça, você chega lá. As oportunidades de emprego também eram talvez melhores do que estão agora, porque tem muita gente se formando, embora haja as oportunidades, hoje é um pouco mais exigido em termos de qualificação do que era no nosso tempo. A gente entrava no emprego e a gente tinha, vamos dizer, sequência da formação dentro do próprio emprego. Então tinha uma lei de formação e hoje em dia você tem que fazer um MBA, tem que fazer uma pós-graduação para poder ser competitivo, que na nossa época, não tinha esse tipo de exigência e as próprias empresas te ajudavam a formar. Quando eu passei para a Petrobrás, eu fiz o curso de um ano para ter a formação específica que a Petrobrás precisava na época, então as bases são um pouquinho diferentes. E nessa época, mesmo na Soutex, eu fui, vamos dizer, orientado por suíços que vinham lá. Meu chefe por exemplo era francês, seu Jaques, então tinha essa formação que as empresas davam para nós naquela época.
P/1 - A Soutex, que você falou, você chegou a fazer estágio lá, ou já era quando você saiu da faculdade?
R – Não, eu trabalhei dois anos, eu fiz estágio, trabalhei dois anos e fiz concurso para Petrobrás. Petrobrás, para você ter uma ideia, o concurso que era de Brasil inteiro, mas eram cem vagas, Brasil inteiro, não me lembro mais quantos fizeram na época, mas eram cem vagas, você faz o curso, dependendo da sua colocação você é espalhado no Brasil inteiro, então, eu consegui ir para Santos. Trabalhei em Cubatão nesta época.
P/1 – Você falou que estudava à noite. Como que era isso, como que era sua rotina?
R – A rotina, eu saí de casa… Eu fui professor do SENAI de desenho mecânico durante um ano, em Caxias, que era uma escola nova que saiu, eu fiz, vamos dizer, um concurso dentro do SENAI e consegui essa vaga. Então eu saia de Niterói, eu tinha de estar lá em Caxias às sete, sete e meia, saía de Niterói às cinco e meia da manhã, pegava um ônibus na rodoviária, ia para Caxias. Às sete e pouco estava lá e era aula, assim, o dia inteiro, três ou quatro vezes na semana, várias turmas. E saía de Caxias ia para Cascadura, que onde era a faculdade, eu também levava quase uma hora de ônibus.
Tinham as aulas que começavam às sete, sete e meia e iam até dez e meia, onze horas, aula de laboratório, faculdade normal. Existia muita restrição com relação a faculdade na época, hoje fala-se muito mais. Naquela época tinha muita restrição com relação a faculdades particulares, que estavam iniciando naquele período. E nesse ciclo, saia às cinco e meia, chegava às sete, dava aula o dia inteiro, nos tempos vagos, estudava, e a noite, ia para Cascadura, saia de lá e vinha para casa. Então, esse triângulo de 30 quilômetros, mais 15, 20, mais 30 para cá. Era meu dia a dia. E vou dizer para vocês, valeu a pena. Valeu a pena porque te enrijece um pouquinho a formação, mas dá uma couraça, assim, de enfrentar as coisas, que vocês não imaginam.
P/1 – E você que pagava sua faculdade?
R – Eu que pagava. Eu que custeava meus estudos e foi bom, viu? Porque hoje os pais dão (risos), os filhos não reconhecem o valor e você não foca um sentimento de dificuldade, que tudo é muito fácil, né? Na minha época, o filho formava e ia à luta (risos). Então são níveis diferentes, dificuldades diferentes, a gente até entende isso, mas pro meu caso, me valeu muito. Hoje eu diria a você que eu não tenho sequelas de formação. Nem de relação com pais, enquanto eles estiveram vivos, nem em relação aos filhos, que são nossa sequência.
P/1 – E você e seu irmão também tinham que ajudar em casa?
R – Tinha, sempre ajudando.
P/1 – Quando seu pai melhorou, ele voltou a trabalhar?
R – Voltou a trabalhar, ele conseguiu lá, também dentro da formação dele, dentro do Ministério da Fazenda, ele conseguiu estudar, fazer vários cursos, subir na carreira dele. Conseguiu se aposentar lá dentro, conseguiu dar uma vida digna para minha mãe.
P/1 – E nesse trajeto de 60 quilômetros, mais a faculdade à noite, tinha tempo de lazer, de namorar, o que vocês faziam?
R – Tinham as festas, antigamente eram os Beatles. Beatles e Rolling Stones. Festinhas de fim de semana, namorar, normal. Mas o sapato era um só, tinha que dar (risos).
P/1 – Você lembra do seu sapato?
R – Eu tinha um sapato, que aquele sapatinho me levava para tudo quanto é lugar. Não tem mais esse tipo hoje, mas era solado de couro, e costurado assim, a borda, toda a volta, hoje é tipo o sapatênis. Mas só que o sapatênis é colado, esse não, era ponteado assim, toda a volta. E os pontinhos ruíam, a gente ia lá e costurava de novo e a vida continua. Às vezes, com muita vergonha, né? Namorar, com pouco dinheiro, com pouca roupa. Então a gente suplantava as dificuldades, mas não me queixo não.
P/1 – Tinha que ter muita lábia para conquistar as meninas (risos)?
R – Tinha, para conquistar, olha, e, para você ter uma ideia, os cinemas, tinha um cinema na nossa região, que para você entrar tinha que ir de paletó, sem gravata, mas entrava de paletó, sem paletó não entrava. E para juntar um dinheirinho para poder levar a namorada, para depois fazer um lanchinho, difícil. Então havia esse tipo de restrição, que os pais delas também eram duros (risos), até entendiam, mas havia um certo constrangimento, que é a palavra da moda de hoje. Mas estamos, me casei, sou muito feliz, até hoje, 39 anos de casado.
P/1 – Você conheceu sua esposa onde?
R – Nos bailinhos da época, ela participava, gostava de dançar. Eu sempre fui pé de valsa, até hoje e a gente dançava muito. Lá eram as turmas, você tinha baile da turma da rua tal, da rua tal. Todos os convidados eram, tipo panelinha, e eu frequentava algumas panelinhas por dançar bem. E a gente até hoje dança, quando vai nesses bailes da vida, a gente dança bastante. Mas eu conheci a Rosana nesse bailes, ela novinha, uns 13, 14 anos, eu também novo, 16, 17. Veio o namoro, toda a dificuldade, até falar pro pai dela, até a mãe dela falar pro pai dela que ela tinha um namorado levou um certo tempo, a gente namorava junto com a turma na rua, na praia, tempo bom, não reclamo não. Hoje talvez, a facilidade em excesso, você perde esse amor, essa dedicação de um para outro, o carinho de um para outro, que a gente tem até hoje. Eu amo minha mulher. Eu sei que ela me ama. E a gente está muito feliz.
P/1 – E daí você terminou a faculdade e deixou de dar aulas?
R – Deixei de dar aula e fui para Soutex né. Foi meu primeiro emprego como formado. Depois Petrobras, eu tive uma passagem, duas na Soutex na época, que eu tive um acidente de trabalho, novinho, eu tinha casado, eu casei em maio de 1972, maio não, julho de 1972. Tive a licença de casamento, voltei. Fui trabalhar um dia, passei, sempre fui muito “caxias” assim com o serviço, fui fazer uma verificação, que não devia ter feito na época, de um equipamento, prendi meu dedo, e perdi meu dedo lá. Fiquei afastado, essa licença para fazer a recuperação de acidente de trabalho. E ao mesmo tempo, esse afastamento me deu a chance de estudar e fazer a prova para Petrobrás, onde eu tive a chance de passar entre os cem. Então uma coisa levou a outra. Mas no início uma dificuldade grande, com várias cirurgias, que no momento inicial, eles queriam cortar, mas eu fui para um outro médico e ele conseguiu segurar o dedo numa posição numa posição que eu pudesse trabalhar. Não tenho sequelas, também, a cabeça boa, nada de emocional, nada de... Nada de nada. A vida continuou, as empresas sempre me aceitaram, a White me aceitou e minha vida foi sempre de campo, com equipamentos, montagens, sem problema, sem sequelas.
P/1 – Na Petrobrás, você também trabalhou na mesma área, com equipamento?
R – Mesma área. Na Petrobras eu fiz o treinamento durante aquele período e fui para Cubatão, na minha classificação eu fui para Cubatão. Cubatão, na época, não sei se vocês tiveram a informação, mas era tanta poluição que haviam crianças que nasciam sem cérebro nessa época. Nós moramos em Santos, minha filha mais velha, que está com 36 anos hoje, tinha dois meses de vida, toda dificuldade, teve muita alergia, nenezinha. Hoje ela tem os filhos que seguiram o mesmo processo alérgico. Mas lá foi uma fase muito boa, assim, na independência do casal. Saiu de pai e mãe, a gente foi vencer a dificuldade de viver sozinho lá, junto com outros que também tiveram a mesma dificuldade, que vieram do Rio Grande do Sul trabalhar em Cubatão e morar em Santos. Tinha uma proximidade maior entre casais com filhos pequenos, eu fiquei lá durante um ano e meio. Depois saí e vim para REDUC [Refinaria de Duque de Caxias]. Consegui uma transferência para REDUC, aqui no Rio de Janeiro... Lá no Rio de Janeiro, né? E depois eu consegui essa oportunidade na White Martins. A White foi na sequência da Petrobras. E por falta de oportunidade que eu vim pro mercado, como eu tinha já comentado com vocês, só o pessoal da área militar tinha chance de crescimento dentro da Petrobrás e eu vim tentar essa única vaga da White e fiquei até o final da carreira.
P/1 – Então você falou da Petrobrás, em Cubatão, você ficou em terra mesmo ou chegou a trabalhar em alto mar?
R – Não. Em Cubatão tem uma refinaria que é a Refinaria Presidente Bernardes, é uma das refinarias mais antigas da Petrobrás e nessa época, eu sou da segunda geração, fui da segunda geração de Cubatão, quer dizer, era a segunda turma que estava ocupando a refinaria e é onde eram os grandes mestres da Petrobrás. Então a gente aprendeu com as pessoas que tinham, vamos dizer, o conhecimento desde a fundação da Petrobrás. E isso para mim foi muito bom. Eu sempre tive sorte na vida. Então grandes mestres que eu tive na área de solda, na área de equipamentos. Eu trabalhei numa área de inspeção que tinha uma responsabilidade que tinha que estudar dia e noite, normas para não fazer a coisa errada. E isso me valeu muito e vale até hoje. Interessante, né? No caminho da gente tem os mestres, então, na época, eu tive o Saburo, que foi um inspetor de qualidade, o Nagibe, um dos inspetores de qualidade, o Bira, inspetor de qualidade. Então eu subia nos equipamentos com essas pessoas, eles mostravam os pontos, quais eram os problemas. Então esse ensinamento in loco foi muito importante dentro dessa visão da Petrobrás, dentro do que a Petrobrás queria da gente na época. Isso me deu, fortaleceu. O Zaitune, Silveira, são pessoas assim, que eu gravo, guardo o nome até hoje, tenho, vamos dizer, tratados técnicos deles até hoje em casa em relação a esse conhecimento vasto que eu tive em tempos de Petrobras. E passei esse período, final de 1974 até início de 1976, lá em Cubatão. Particularmente foi um ciclo de amizades duradouro, dali saíram pessoas para as novas refinarias da Petrobrás e eu como tinha a filha mais velha, na época com um aninho, dois aninhos, muito alérgica, tive o caminho de volta, surgiu uma oportunidade na REDUC, eu consegui a transferência e o caminho de volta pro Rio de Janeiro, onde os alergistas que a gente tratava na época, deram uma cobertura melhor pro tratamento dela. Então essa foi, vamos dizer, a logística que eu tive de caminho dentro da Petrobras. E na REDUC, também... Para você ter uma ideia, os engenheiros na REDUC ficavam nos escritórios fazendo os tratados técnicos para dar as recomendações de reparo, e eu continuei dentro da visão que eu tinha lá em Cubatão, que é voltando a subir equipamentos, me apoiando nos técnicos para ver os problemas in loco, os engenheiros da Petrobrás, na REDUC, não iam. E de certa forma fui até um pouco discriminado por me chamarem de “engenheiro pião” pelo fato de eu subir com os técnicos com os equipamentos, mas não tinha restrição nenhuma. O ensinamento a gente tem que ver, acompanhar onde está. E eu só tive benefício e que me ajudou muito na minha primeira fase da White Martins. Foi onde a White me trouxe e com esse ensinamento, com esse conhecimento, formar a nova base da parte mecânica, na White Martins. Já é uma passagem.
P/1 – Você falou dos militares, esse militares eram do alto escalão?
R – Eram. Os chefes, para você ter uma ideia, os militares eram do alto escalão, do médio escalão e do baixo escalão. Então qualquer função dentro de uma refinaria, ou eram pessoas muito antigas dentro da Petrobrás, ou eram militares que ocupavam aquelas funções. Então, por exemplo, para você galgar uma posição de um superintendente, a visão nossa é o quê? É de ser alguém muito importante dentro da cadeia, da carreira dos funcionários. Eu sempre fui muito arrojado e a gente olhava assim: “Eu quero daqui a dez ou 15 anos ser o superintendente da refinaria” e o superintendente era um militar, o gerente de divisão, era um militar, a parte de gerente de área era um militar. Qual era a visão de que... Entendeu, para escalar isso? Então eu não tinha essa visão com vinte, eu devia ter uns 26, 27 anos de idade, mais ou menos assim como vocês estão hoje (risos). Então eu quero chegar lá na frente, eu quero ser diretor de uma empresa, mas eu tenho que, além de eu viabilizar, tenho que enxergar que tem um caminho possível e esse caminho eu não enxergava como possível. Então fui buscar oportunidade fora. E quando eu tomei a grande decisão, meu chefe me chamou no canto, pensando “esse cara é maluco, você largar um emprego que você fez concurso, uma oportunidade grande ao longo da sua carreira, você buscar algo privado, que a taxa de risco era e ainda é, hoje, muito grande.” disse: “Você, vai pensar, vai para casa, pensa, conversa com sua esposa”, eu ia, conversava com a esposa, voltava: “Eu quero sair” e sai e o meu chefe é de cá, que eu nem sei os caminhos que ele tomou depois. Mas ele me chamava de maluco: “Não vai”, quis falar com minha esposa. Tomei a decisão e fui. Importante, quando a gente toma uma decisão na vida, eu nunca olhei para trás, foi minha nova bandeira. Sai da bandeira Petrobras, nova bandeira e foram 30 anos e um e pouquinho dentro da White, que eu nunca me arrependi. Voltando um pouquinho no passado, esse era o legado da minha mãe, vontade de vencer, “querer é poder”, o jargão da época era “querer é poder”. E eu quis e pude e fiz uma carreira sólida.
P/1 – Mas você já estava procurando outras coisas?
R – Não, não. Um anúncio de jornal, coisas que, a gente pensa, coisas que Deus bota no seu caminho. Anúncio de jornal de um fim de semana qualquer, “Oportunidade White Martins”, fiz a entrevista, foram não sei quantas entrevistas. Meu chefe na época era o Fernandes, não sei quantas entrevistas e eu consegui a vaga. Para você ter uma ideia, naquela época eram no departamento dois engenheiros mecânicos, o Edson, e essa vaga que eu ocupei. E partir dali toda a parte mecânica da White Martins cresceu em função dessa célula de dois engenheiros. Em função até do número de projetos que depois aconteceram no crescimento da White, que surgiu um departamento de engenharia lá, imenso.
P/1 – Quando você fez a entrevista já tinha decidido sair da Petrobrás, ou você estava na Petrobrás ainda?
R – Já tinha decidido. Fui. Na Petrobrás é interessante, eu estive na Petrobrás durante três anos. Você quando, na época, era concursado, você fazia uma ano de treinamento e a multa para sair você tinha que, ou pagar o que a Petrobrás investiu em você ou você passar mais de dois anos na Petrobrás. Passaram-se dois anos, e no dia seguinte eu já estava na White (risos), você vê, casou tudo direitinho, até o anúncio da White, na época, foi tudo casando certinho e eu não me arrependo, nunca me arrependi, nunca olhei para trás.
P/1 – E daí como é que foi, você entrou na White, foi para que área, como é que foram os primeiros dias no emprego?
R – Na White eu entrei no final do ano de 1976. Fui trabalhar no departamento de equipamentos mecânicos, engenharia do departamento de equipamentos mecânicos. Era eu e o Edson Guedes na parte mecânica e na parte elétrica tinham mais dois engenheiros, especificamente na área de Equipamentos. E começou, muita adaptação, porque a visão na Petrobrás era totalmente de campo , entra em equipamento, vê, repara como é que faz, substituição, como é que sugere, os materiais e na White não, a White era toda voltada para separação de ar. Então você tinha que fazer a especificação de equipamentos, coisas que eu habitualmente não fazia na Petrobrás e eu aprendi muito com o Edson na época e a White estava saindo de uma fase, de um determinado volume para um salto no mercado, talvez o segundo grande salto da White no mercado e eu entrei, justamente nisso, então, além da especificação a gente acompanhava toda a parte de suprimento, toda a parte de testes em fornecedores, depois ia para campo montar esse negócio todo, colocar para rodar. Então foi uma experiência, assim, maravilhosa, você pegar desde a origem, desde o zero, papel em branco, até colocar para rodar e a responsabilidade toda é nossa, dentro do departamento. E eram muitas viagens, muito envolvimento com as outras disciplinas, que tem a parte de tubulação, engenharia civil, tudo ali gerando desenhos para poder fazer os projetos de campo, o envolvimento com o pessoal também do campo, da própria operação, que iam operar depois esses equipamentos. Interessante. A formação da White é algo assim, que eu diria, importantíssimo para um engenheiro que tem assim, uma vontade de crescer e conhecer todo o ciclo do processo. Ela te dá essa oportunidade ainda hoje, que eu, em várias outras oportunidades eu consegui participar do mesmo perfil da mesma forma, e crescendo cada vez mais com interação externa, muito, muito importante isso. Então isso foi lá nos idos de 1976 até 1980. Toda essa, viagem, toda semana, vai em fornecedor, desenha, faz análise, isso daqui tá errado, discute com o fornecedor, vai suprimento, compra, tem que fazer os testes, aterra, leva para campo, tem que montar, a produção normalmente questionava muita coisa, depois não sei o quê... E pum! Fechou o ciclo. Em 1980…
P/1 – Onde isso?
R – No Brasil inteiro. Na White. Brasil inteiro.
P/1 – Você já entrou viajando?
R – Já entrei viajando. O Edson, é interessante, não sei se o Edson vai fazer depoimento, mas ele gostava de quê? De equipamentos estáticos, vasos de pressão. Se especializou e até hoje ele trabalha nessa área, tanques, vasos de pressão. Ele fez mestrado com relação a isso, pós-graduação, fez, acho, curso no exterior, dentro dessa linha e eu pegava todos os outros equipamentos, bombas, compressores, torres, trocadores de calor. Então eu tive uma chance de ouro, bater muita cabeça, que não sabia, muito específico, daí eu tinha que estudar muito. Mas com isso, o Edson me proporcionou (risos) um conhecimento vasto que eu tive que ter, por conta da exigência do processo. E realmente, eu fiquei bastante conhecido na White em função do meu envolvimento dentro desse processo todo. O Edson ficou, mais ou menos, segmentado em vasos de pressão e tanques, eu fiquei segmentado no resto do equipamento, seja quais forem os tamanhos e investimentos. A gente pegava desde um equipamento de, sei lá, reais, até milhões de dólares, muitos equipamentos de milhões de dólares e a responsabilidade toda nossa em cima desse processo. E que a gente cresceu dentro do departamento, precisou começar a precisar de mais engenheiros e em 1980, eu fui convidado a ocupar a posição de supervisor desse grupo de equipamentos mecânicos, consegui uma nova leva de contratação de engenheiros mecânicos, para dar sequência no processo.
P/1 – Daí fechou o ciclo...
R – É o primeiro ciclo, vamos dizer, da minha formação dentro da White, foi de 1976 a 1980, essa específica de engenharia mecânica. E a partir de 1980, com a supervisão, eu comecei a ter uma interação um pouco maior com a Praxair, na época, especificação de equipamentos, testes internacionais, testes nos fornecedores fora do país. Eu participava desses testes ou ia o engenheiro do grupo participar desses testes. As montagens e partidas de equipamentos, que a gente fala em partida é colocar em marcha, colocar em operação, vinham os técnicos estrangeiros, a gente já tinha um engenheiro nosso junto, com máquinas, sei lá, de dois ou três milhões de dólares, uma responsabilidade incrível para colocar tudo isso para rodar, essa fase à partir do processo. Então de 1980 a 1985, eu participei muito do crescimento da White, Rio de Janeiro, foi São Paulo, foi Pernambuco, foi Rio Grande do Sul, não sei o número de unidades que a gente precisou dar assistência e através desse grupo que essa assistência foi dada, os equipamentos tão rodando, muitos deles até hoje na operação da unidade. E em 1984, já dando sequência a esse processo, em 1983, dentro desse mesmo cargo, eu fui solicitado a ser um que se chama de coordenador de check out, o que é isso? Você tem uma planta toda sendo montada por um grupo de pessoas, engenheiros, empresa normalmente externa, contratada, chega na fase do projeto que tem que começar a ver: será que isso realmente roda? Isso já era feito dentro dos padrões, vamos dizer, dispensa de determinadas pessoas da White. Mais especificamente, essa função foi criada, o coordenador de check out, para poder começar a dar um punho mais técnico e mais à imagem do que era feito lá fora na Praxair. Então eu gerenciei cerca de, em Copesul, cerca de 150 a duzentas pessoas para fazer todos esses testes, limpeza de equipamento, começar a rodar, importar técnico específico de empresas externas para fazer, tanto da Alemanha quanto dos Estados Unidos, colocar em marcha esses equipamentos que as unidades já eram muito maiores, requeriam esse suporte muito forte. Eu virei esse check out, o check out coordinator, foi especificamente em 1982 que eu comecei com essa função agregada também com a supervisão de equipamentos mecânicos. No meio de 1983, a operação foi bem sucedida, não tivemos grandes problemas, a operação era uma operação importante lá pro Pólo Petroquímico de Triunfo, lá no sul. E eu vim para casa para descansar, meu terceiro filho nasceu e esse ciclo é quase que quebrado, porque eu trabalhava tudo na parte de criogenia, parte de baixa temperatura, que você, para fazer a separação do ar, você reduz a temperaturas muito baixas, 181 graus Celsius negativos, 190 graus Celsius negativos, separa nitrogênio, oxigênio, e esse troço sofre todo um processo de purificação e vai para tancagem, tudo por criogenia, de materiais, que são totalmente diversos do uso normal. Quando eu volto em 1983, o meu terceiro filho estava nascendo, minha mulher, fiquei lá no sul praticamente uns seis ou sete meses, minha mulher grávida, ele nasceu em abril e me chamaram para fazer a coordenação do check out da fábrica de carbureto de cálcio em Iguatama, interior de Minas Gerais, que não tem nada a ver com criogenia, tudo alta temperatura, que não era minha especialização. E eu montei um outro grupo para estudar todos esses equipamentos, voltando ainda a fornecedor e tudo, que é o grupo de partida, de check, a gente montou todos os manuais e à partir do segundo semestre de 1984, foi esse grupo para lá para superação de partida dessa fábrica de carbureto de cálcio e foi bem sucedida. Foi o gancho para eu mudar de vida ainda mais (risos), da relação, quer dizer, a relação continuou, mas eu consegui dar um salto na minha carreira. Foi dali que eu virei gerente de uma área, eu estava lá em Iguatama, lá no meio do mato, quando veio o convite: “Paulo você quer ocupar a posição para...” o meu chefe, que era o Fernandes, que foi quem me entrevistou, ele não gostou muito não (risos).
P/1 – Seu nome foi citado já algumas vezes nesse momento de Iguatama, mas…
R – É, Iguatama foi um grande salto. Mas, olha... Meu Deus do céu, eu deixei algumas mudas de pele ali, mas foi bom, foi bom porque, além, vamos dizer, do desafio, você só cresce se tiver desafio na vida, fazer o normal, todo mundo faz, eu sempre falo pros meus filhos: “Você para ser diferente tem que quer fazer coisas diferentes e arrojadas. Senão fica na média”. Na média vai qualquer um. Mas em Iguatama, a gente… Enquanto o pessoal, final de semana, sábado ou domingo, ia para casa para descansar, eu voltava para preparar a semana seguinte, que é a área imensa, o forno, para você ter uma ideia, o forno era um prédio de altura, sei lá, de dez, 12 andares. Uma base de 50 metros por 50 metros cheia de equipamento lá por dentro, fora as áreas periféricas. Então eu ia lá, sozinho, não tinha ninguém, tem hora que o gestor, ou líder, é um cara sempre sozinho. Que ele se junta ao grupo, faz o grupo mover, mas ele tem que se retirar para olhar o grupo de fora, então essa característica eu sempre tive. Eu sempre soube estar dentro e estar fora, estando dentro sendo respeitado e estar fora, respeitando. Eu fazia todo o mapeamento que eu precisava para semana e foi um sucesso. Puxa vida, foi um dos grandes pontos da, a gente estava falando em marco, da minha vida profissional, foi Iguatama. Tiveram outros, mas Iguatama foi o salto.
P/1 – Me conta mais de como foi sua rotina lá, a equipe que você coordenou?
R – A rotina, a equipe… o sistema, como é que era? Tinha a Union Carbide que tinha influência, porque tinha tecnologia, existia um grupo da engenharia da White que tocava o projeto e vem tocando esse projeto durante anos, existia o grupo da operação, que era aqui em Barra Mansa, que tocava o processo e esse grupo, de certa forma, ele era um grupo isolado, por que a White era reconhecida como mercado? Oxigênio, nitrogênio, argônio, o carbureto de cálcio, qual era o papel do carbureto de cálcio? Gerar acetileno, que era uma outra área de mercado, então, você estar bem na empresa, é trabalhar do lado do criogênico, então aquele grupo era um grupo isolado. E quando aconteceu desse projeto novo ser implantado na White, que foi um projeto de milhões e milhões de dólares, e que, vamos dizer, toda a engenharia da White também começou a ser movimentada para fazer a implantação, o grupo da operação, que sempre andou sozinho, queria também levar mais esse projeto, então, tinha uma certa disputa dentro dessa área de Implementação. Muito gringo e nós, que era um outro grupo que entrava ali para fazer todo esse check da partida e a unidade do projeto tinha parado durante um ano, quer dizer, tudo parado, a implantação mesmo do projeto parou por questão de mercado, e entrou nosso grupo junto com esse outro grupo que já tinha uma certa animosidade ali, mas foi muito bom porque a gente conseguiu juntar a galera toda. Juntou gringo, gringos e troianos (risos), juntamos a turma toda e conseguimos fazer a integração dos grupos, que foi o maior, o maior desafio era o relacionamento e a gente conseguiu se relacionar, porque o conhecimento, todos tinham e foi aparar impasse, dava um problema no equipamento, voltava para fornecedor e mandava um engenheiro junto, tirava o problema, voltava. Para vocês terem uma ideia, teve um determinado equipamento que foi mal fornecido, não vou nem dizer especificado, foi mal fornecido, foi um redutor de velocidade para empurrar o carboneto, empurrar as pedras de cal. De uma tacada só a gente precisou trocar 27 equipamentos, coisinha desse tamanhinho, assim, mas eram 27 que precisaram ser fabricados de novo, dentro de um prazo que a gente tinha, sei lá, 30, 60 dias, então voltava pro fornecedor: “Mas vocês já aprovaram”, “Mas o material que vocês me forneceram não era esse. Tem que ser um material mais duro para poder suplantar aquela dificuldade”. Então tive a especificação do aço. Foi indo, foi indo, conserta aqui, conserta ali, melhora ali, melhora lá, vem a integração, que era tudo que eu queria na vida. Passou um tempo, fomos para lá em julho de 1984 e em março de 1985 a unidade tava rodando e produzindo. E foi palma para todo mundo, que houve a integração, as dificuldades foram vencidas, para você ter uma ideia, a área era imensa, uns sei lá, 30 a 40 mil metros quadrados de área, não me lembro mais assim, captando água do rio, tratando a água, fazendo a análise da água o tempo todo, você pegando as pedras da mina, essa pedra, vai para um determinado forno que vira cal, vai pro estoque, comprando o carvão que já era fornecido na época. A White tem plantação de eucalipto, que gerava carvão lá na fonte, que vinha para cá, que secava esse carvão, que ia para silo. Então isso tudo monstruoso para gerar o raio do carbureto de cálcio, que tinha lá seus problemas também, depois quebrar isso tudo em determinado tamanho de pedra, para poder selecionar para mercado, para consumo interno. E o consumo interno era a fábrica de acetileno e venda de carbureto, que muita gente ainda usa carbureto até hoje. E foi o sucesso total. Então havia uma perspectiva até para uma segunda fábrica, tem um espaço lá para isso, não aconteceu, o mercado caiu, mas a fábrica é mundial, essa fábrica de carbureto aqui de Iguatama. Daquele grupo, hoje, saíram diretores, tem o vice-presidente hoje, então você vê que a importância do fato, tem o Carlos Macedo que hoje é o diretor de Segurança, tem o próprio Gilson Menezes, que hoje é o gerente da fábrica, vindo desse grupo também. E todos os outros também fizeram por onde para poder ter as oportunidades também do mercado.
P/1 – E nesse quase um ano que você ficou por lá você voltou para casa quantas vezes?
R – Na realidade eu aluguei um apartamento em Formiga, que fica a 50 quilômetros. Eu morava em Formiga até para ficar um pouco afastado do grupo para poder pensar sozinho. Sempre tive esse negócio da responsabilidade do líder. E a minha esposa esteve comigo nesse apartamento por um ou dois meses nesse período todo e eu devo ter vindo em casa uma vez a cada mês. O grupo ia a cada 15 dias, mas a responsabilidade era muito grande e o meu menor tinha meses, passou umas temporadas com a gente, os filhos ficavam com a avó, época de férias, ela trazia para Iguatama, não foi fácil não (risos), a cobrança também sempre muito grande, hoje eu curto meus netos, mas meus filhos eu curto também, mas já nessa fase adulta, não curti na fase que eu deveria, de repente, ter dado mais assistência. E hoje eu curto mesmo, hoje eu gasto tempo com eles, fazendo, não tenho feito serviços profissionais, tenho tido até convites, mas é aquele período sabático que eu não quero ser encontrado (risos). Mas é muito bom, aquele negócio da família, você reencontrar a família, é muito bom. Agora voltando a Iguatama, Iguatama foi até março de 1985, que foi o grande salto, daí eu voltei para área, já uma área de apoio aos negócios da empresa em 1985. Saí choroso de Iguatama (risos), que eu queria ter ficado um pouco mais, mas a oportunidade vem, a gente tem que agarrar.
P/1 – E você voltou para onde?
R – Eu fui convidado a gerenciar uma área que era uma área suporte às operações de gases da empresa. E toda essa de enchimento de gás e vazamento de gás, e gases em cilindros, os usos do carbureto de Iguatama para produção de acetileno, as fábricas de acetileno, essa área já era uma área de matriz, que apoiava as antigas divisões do campo. Eram quatro divisões de negócios. Essas divisões tinham autonomia de fazer toda Operação e vendas e Marketing. E esse grupo, que era liderado pelo Sérgio Salomão, dava todo o apoio técnico e fazia a suportação de Marketing e Vendas onde fosse necessário ter um técnico para dar apoio a uma negociação. Esse grupo do Sérgio Salomão dava essa sustentação. Então tinha esse grupo comigo, que era de Operações, tinha o grupo da Distribuição, tinha o grupo da parte de Marketing, então várias células que apoiavam diretamente o campo. E eu fiz muita negociação também, na área de negócios, foi onde conheci o Domingos Bulus que era o estagiário do grupo que eu assumi em 1985. E o Domingos já tinha um perfil assim, guerreiro, bastante focado na operação, na época que era uma operação que a gente chamava de Filling Station em fábricas de acetileno, instalações de enchimento, e esse grupo estava gerando toda informação técnica de suportação para essa operação do campo, tipo, produzindo manuais, dando treinamento, fazendo auditorias operacionais para criar uma mesma forma de operar no Brasil inteiro. Acho que foi um grande passo que foi dado nessa época para poder uniformizar essa operação, porque de certa forma, cada um fazia operação da sua forma, da sua experiência e a gente começou a uniformizar, foi quando a gente gerou, e o Domingos participou muito disso, do manual de cilindros de alta pressão, um manual que eu acho que ainda tem até hoje em algumas unidades no campo. Então foi o primeiro grande passo que a gente deu de uniformização e isso foi até o final de, entre 1985 até o final de 1986, acho que houve uma verdadeira revolução na empresa com a troca da presidência.
P/1 – Nessa experiência toda você precisou fazer algum treinamento fora ou era aprender na prática, mesmo?
R – Ali na realidade, o treinamento foi mais voltado… A gente começou a ter um envolvimento com a Praxair nas auditorias internacionais de segurança e operação. Então, por exemplo, na parte operacional eu era o foco dessas visitas internacionais e a gente começou a se desenvolver lateralmente com relação a isso. O pessoal vinha, fazia reuniões de preparação de auditorias, iam juntos ao campo, fazíamos juntos essas auditorias, eram prescritas várias recomendações e a partir daí, então, começava a melhorar e expandir para outras unidades esse conhecimento. Foi um grande marco para a empresa a nível de uniformização mundial, esses primeiros passos foram ainda no tempo do Sérgio Salomão, mais no final de 1985, começo de 1986. E os aspectos de segurança eram muito fortalecidos com a vinda desse pessoal, que tinham uma experiência muito forte de Carbide, da Linde, Linde
Division, realmente foi um passo muito grande com a White Martins, quer dizer, da Linde Division com a Praxair, com a White Martins, um grande passo.
P/1 – E dessa fase você foi para qual área?
R – Bom, em 1986, o Félix de Bulhões assumiu a presidência. A presidência anterior era do Pedro Coelho. O Félix assumiu e essas divisões de campo foram extintas. Houve um redesenho na organização, essa área de apoio foi extinta e com isso, no redesenho, eu fui convidado a assumir a fábrica de carretas, que era lá no pé da serra de Petrópolis, sempre assim a distância, eu morava em Niterói (risos) e eu sei lá, dali dá uns 40, 50 quilômetros de casa e eu não tinha carro, tinha que ir de ônibus, fase difícil também de transição da empresa. E eu fui convidado e fui assumir lá. Era fabricação de carretas, essas carretas grandes que você vê fazendo transporte de produtos liquefeitos e fazia também a manutenção das antigas. Eu fiquei lá durante três meses, porque logo em seguida, eu fui convidado a implantar um processo que já tinha sido iniciado desde a mudança, da entrada do Félix, o Félix acho que entrou em outubro, em novembro e dezembro tinha um projeto de aumento de capacidade, quer dizer, mais gás em seguida, a gente vendia 9,3 metros cúbicos, com a mudança no processo no Brasil inteiro foram mais 0,7 metros cúbicos, formar mais dez metros cúbicos dentro do cilindro e com isso, a projeção de vendas era muito boa. Mas para isso precisava fazer umas adaptações no Brasil inteiro, para você ter uma ideia, eram 55 unidades que precisavam fazer essa adaptação e é um grupo que tinha iniciado e logo em seguida me chamaram e mandaram uma Kombi lá no pé da serra de Petrópolis, lá não me falaram muito o que era não, entrei já numa reunião quente e a partir dali, voltei para matriz com a responsabilidade de assumir um grupo na engenharia, mas com a responsabilidade de fazer a implantação desse ciclo de aumento de capacidade no Brasil inteiro. Foi interessante, que eu comecei a permear a organização porque eu precisava, por exemplo, do grupo de soldagem uma série de fabricação de itens que era inerente a essas modificações que tinham de ser feitas nas unidades para conseguir ter uma pressão maior de enchimento, que é o famoso 200 Bar, então troca disco de segurança, reseta a válvula de segurança, faz modificação dos painéis de enchimento e com isso, eu consegui conhecer muito mais gente, consegui influenciar muito mais gente também e a gente fez esse trabalho, foi um trabalho assim... O Domingos participou ativamente da modificação dessas unidades junto com os outros responsáveis, também, a gente conseguiu fazer isso dentro de um prazo de seis meses no Brasil inteiro. E a White com isso conseguiu fazer um faturamento bem melhor nesse aumento de capacidade de cilindro de alta pressão. E, dentro da própria engenharia, eu estava com engenharia específica dessa área, eu peguei a engenharia também civil e mais a parte de tubulação, das grandes plantas, e com isso já foi um novo ciclo dentro de engenharia também, qual era a missão? Fui chamado num canto e falei: “Nossas áreas de instalação das plantas estão muito grandes, nós precisamos reduzir, compactar nessas áreas”, consegui mais um novo desafio que era compactação das áreas instaladas e com isso, a gente tinha um ganho muito grande em materiais, você coloca equipamento distante, a tubulação que liga um a outro é “x”, nessa eu consigo reduzir, diminui, você levando para uma unidade como um todo, a redução de custos é violenta. Então com isso, foi a época que começou o CAD [Computer-aided design], como um instrumento para gente poder fazer, que até então a gente trabalhava com maquete, que levava um tempo danado, nessa fase da engenharia, a gente começou a trabalhar com o CAD e foi um novo ciclo da formatação das plantas, daí já estou falando da separação de ar.
(pausa)
P/1 – Paulo você estava falando do CAD, explica melhor para gente o que foi isso?
R – O CAD é um programa... Só voltando um pouquinho, os projetos da White, de uma forma geral, no mercado, as empresas de engenharia tinham como diferencial a maquete, que era você pegar todos os desenhos, colocava isso em escala numa determinada maquete para você ver principalmente interfaces entre equipamentos, ou o melhor arranjo daquela unidade entendeu, então você gastava um tempo muito grande, pois tinha que produzir um modelo, tinha que fazer tudo numa escala reduzida, montar aquele negócio todo, “Ah não quero assim”, vai lá e tem que refazer tudo, entendeu? Dependendo da localização de cada equipamento para aquele determinado processo e o CAD é uma ferramenta, quero dizer, um avanço na tecnologia, que é um programa onde você faz isso no computador, em 3D, 2D, e em 1988, 1989, foi quando a gente começou a estudar isso dentro da engenharia, até então a responsabilidade da geração da maquete era minha. Com um grupo de tubulação, a gente começou a visitar empresas de engenharia como a Natron, como a Promon, que tinham já um CAD instalado e já operacional, quer dizer, já tinham passado da fase da maquete e já estavam um pouco mais avançados. Então tive que trazer essa tecnologia para dentro da White e fazer investimento e treinar o pessoal e você sair da maquete para tecnologia via programa de computador, tinha uma resistência muito grande, o pessoal queria continuar fazendo desenho na prancheta, entendeu? Era assim: “Apaga esse disco. Agora não é mais num play, agora é CD”. Entendeu? Então era uma mudança totalmente de visão e havia uma reação muito forte por parte dos projetistas de aceitar a nova ferramenta. Então foi um grande passo para a White fazer essa mudança de conceito e a partir daí até hoje, os novos programas vieram, e até hoje então, a gente consegue reduzir em muito tempo de projeto, com a ferramenta, quer dizer, mudança do passado pro presente e já estamos no futuro, esses programas vêm sendo gerados à medida que aparece alguém que consiga desenvolver um processo melhor, essa coisa vai ser implantada no mercado e vai ser bem sucedido. Essa que é a mudança de mentalidade e filosofia de projeto, então eu participei dessa mudança também. Então, dentro daquilo que a gente vem conversando, eu tive a oportunidade dentro da White de passar por grandes mudanças de conceito e até o fim da minha carreira com grandes mudanças e grandes desafios. Eu consegui passar dois ou três anos em cada área então minha vida foi sempre uma empresa nova a cada dois ou três anos, eu não tive uma sequência em determinada área por 30 anos, essa oportunidade agarrei com unhas e dentes e consegui fazer o que tinha sido definido e determinado para ser feito.
P/1 – Conta para gente outros projetos que você acha que foram marcantes na sua carreira.
R – Nos anos 1980, a gente passou essa parte de Iguatama, depois a volta para engenharia, esse novo incremento de projetos, que já veio em Jacareí, que uma planta muito grande aqui em São Paulo e depois começaram a vir...
Em 1990, isso, em 1989, a engenharia, em 1990, foi um outro grande salto na minha carreira, 1990 eu fui convidado a sair da engenharia e assumir uma operação nacional, nas unidades de enchimento de gases e gases em cilindros, envasados em cilindros e acetileno, eram 23 fábricas de acetileno, 55 unidades de enchimento, e cerca de mil e seiscentos funcionários no Brasil inteiro. Então foi assim, a grande exposição que eu tive a nível Brasil, e eu tinha vários regionais, então, vivia o tempo todo acompanhando as operações, uma interface muito maior com a Praxair, dentro dessa fase então, a gente conseguiu implantar o ISO 9000, o ISO 14000 também, a parte de meio ambiente, a gente fez toda uma reformulação de quadros, a gente fez toda uma melhoria operacional com equipamentos novos, padrão de qualidade aferido. A White teve uma oportunidade de mercado para mudar a visão dela totalmente com relação à qualidade do seu produto, a gente fez isso. Treinamento de pessoal também era a tempo todo, todo o tempo o tempo todo, que a gente só queria gente qualificada e conseguimos. Então passamos a ser um referencial em produtos envasados em cilindros no mercado. Então os gases de solda, por exemplo, eram certificados, a gente tem isso até hoje, a parte de gases especiais que sempre foi uma área nobre da empresa evoluiu em paralelo, já tinha uma qualidade melhor, mas ela evoluiu ainda mais, produtos importados, misturas importadas, um grande avanço lá e dentro dos gases industriais, então, a gente conseguiu melhorar essa capacitação de pessoal, melhorar as condições de segurança, melhorar o comportamento das pessoas, porque a visão não é de pião, é de funcionário comprometido. Então o tempo todo trabalhando isso, que exigia o quê? Uma presença física, desde lá nos tempos de Petrobrás, a presença física, subindo equipamento, esse modelo veio trazido também para White o tempo todo junto com o pessoal. Anos 1990, então foi uma integração e interação maior com a Praxair, conceitos de segurança fortíssimos, auditorias internacionais, reuniões mundiais, reuniões de tecnologia na área de Gases Comprimidos, muitas reuniões, tive reuniões na Bélgica, Itália. Massa porosa do cilindro, o cilindro de acetileno tem, internamente, uma massa porosa que contém o acetileno junto com a acetona, porque é um gás muito instável, então essa massa porosa tinha que ter uma nova forma, fomos para Itália, revisamos isso, implantamos a massa porosa, sempre na visão e missão e do desafio, então a massa porosa está hoje, já foi até reformulada de novo para trazer uma condição de segurança ainda maior por processo. Em 1992, me veio o grupo de instalações em clientes, todos esses tanques são instalados em hospitais, ou cilindros em cliente ou indústrias, de uma forma geral, esse grupo de umas trezentas pessoas, também foram agregados ao meu grupo. No final de um período eu tinha quase dois mil funcionários, você pode imaginar a loucura que era, e tudo funcionando bem, funcionários comprometidos, fazendo o que tinha de ser dentro desse processo, manuais, treinamento, comprometimento, conscientização, segurança, todo esse processo no detalhe, sempre fui muito de ir ao detalhe junto a clientela, junto ao pessoal operacional. Isso foi até 1995. Viramos a página e eu fui convidado a ser gerente da área de que a gente chama de Líquidos, que
não é mais o enchimento de cilindros e sim a produção do oxigênio, nitrogênio e argônio nas grandes unidades, eram mais ou menos seiscentos funcionários no Brasil inteiro, já o envolvimento grande de América do Sul, porque a gente passou a dar um apoio, mesmo na área de gases nos anos 1990, final dos anos 1990, um envolvimento com a América do Sul, mas principalmente 1995, 1996, 1997. Então um envolvimento fortíssimo com a Praxair, fortíssimo com a América do Sul e a visão sempre dessa de operação, redução de custos, projetos de produtividade, eram projetos de produtividade dia e noite, para você ter uma ideia, as unidades, como Volta Redonda, a gente tem uma bombinha de cada tem um hp, os compressores que a gente teve com os processos de aquisição de planta, compressores de 25 a 26 mil hps, então equipamentos muito antigos, estamos falando do ano de 1995, 1996, 1994, os equipamentos dos anos 1970, já tinha um gap de tecnologia muito forte e fora o conhecimento específico de cada máquina então, e o grupo também de manutenção a nível Brasil e América do Sul também tava comigo nessa época, então uma integração muito forte com a Praxair, muitos projetos que eram réplicas de projetos que eles tinham lá de redução de custos a gente implantou aqui, então sempre com excelência. A gente teve, no grupo dos americanos, especificamente nessa área de gases do ar, planta e separação de ar, o nosso nível sempre foi de excelência na visão deles, e ia e vinha, tirava a réplica daqui, jogava para a Europa, jogava para Ásia, pro próprio Estados Unidos e Canadá, então havia, vamos dizer, a mão e a contra-mão, é sempre com muita reunião, seja por videoconferência, seja conferência por telefone, ou presença física aqui ou lá, várias vezes eu estive lá, várias vezes eles estiveram aqui, então eles se sentiam à vontade aqui, a gente se sentia à vontade lá, eles falavam o que quisessem, mas sempre no sentido construtivo. A gente quebrou a barreira da “malhação”, então, isso foi uma época assim, muito positiva. Em 2000 houve uma mudança de modelo, as unidades voltaram a incorporar as áreas de negócios, e me coube à diretoria industrial, fui promovido a diretor nessa época. Então eu dava um apoio total técnico a toda essa operação, tinha um grupo restrito aqui na matriz, mas a responsabilidade era total nas plantas que foram, no processo de aquisição dos anos 1990 até o ano 2000 da siderurgia, foi CSN, foi Ouro Branco, foi Usiminas e mais algumas. Na cabeça vai passando (risos) interior de Minas também e com isso, vamos dizer, foi fortalecida a questão do conhecimento, de equipamentos aos quais a gente tinha experiência específica, foi se desenvolvendo um grupo com relação a isso embora equipamentos, até muitas menos obsoletos, mas a gente foi adquirindo a tecnologia, até com a ajuda também do pessoal da Praxair e fortaleceu então, um grupo de manutenção tanto elétrica quanto mecânica se fortaleceu muito e foi uma época que houve um processo de automação industrial muito forte, essas plantas precisavam ser automatizadas para, num futuro próximo, serem geridas à distância, operadas remotamente. Então veio o ciclo das plantas operadas remotamente, chamadas de VPSA [Fábrica Operada à Distância], as membranas, você já deve ter ouvido falar aqui em depoimentos anteriores. E eu tive a sorte de liderar também um grupo, que foi o grande salto, que era fazer o Centro de Operações Remoto de Unidades, que é o IMPAC Center, foi durante minha gestão, foi o José Luiz Moraes teve responsabilidade direta, junto com todo o apoio da Praxair também. Houve uma interação de ir e vir daqui pros Estados Unidos, todo apoio da diretoria da época para gente aqui, fizemos no prédio matriz, no centro, foi inaugurado em 2002, se não me engano, com a presença do presidente mundial e foi muito bom. Esse projeto então, foi saboroso, foi o primeiro IMPAC center
fora dos Estados Unidos. Passamos na frente da Europa, passamos na frente da Ásia, do México e era uma barreira ter esse tipo de operação, a operação assistida à distância. Num primeiro momento, a gente trouxe as VPSAs, que já tinham, de certa forma, núcleos operacionais no campo, que a gente já tinha desenvolvido isso para quando entrasse o IMPAC já puxar tudo isso aqui e a gente viu uma planta sendo operada do Rio de Janeiro, lá em Caracas, por exemplo, é uma satisfação muito grande, tanto na Venezuela, aqui no Brasil algumas unidades, hoje não sei quantas tem. Tem bastante e eu sempre exigindo cada vez mais, mais, mais, esse é um projeto vitorioso. A gente conseguiu colocar o Hilário, Fernando Hilário lá nos Estados Unidos, Hilário está lá até hoje, é o guardião daquele processo. Um dos projetos que eu fiquei muito feliz foi o IMPAC, foi uma quebra de paradigma fortíssimo na época, e a gente conseguiu convencer com argumentos e está lá, cada vez melhor. 2002 então diretoria industrial, IMPAC e nessa época eu acumulei também as funções da Diretoria de Segurança, Saúde e Meio Ambiente, em 2001, segundo semestre de 2001 virada de ano, janeiro, aconteceu um acidente com duas fatalidades em Salvador, os funcionários treinados, capacitados, conscientes, mas fizeram uma operação indevida porque era um sábado e talvez eles tivessem marcado para sair com a esposa, houve esse que a gente chama de gap, essa falta de consciência, essa falta de percepção, essa falta de cuidado. E, eu assumi essa… E foi difícil pois tinha uma cobrança em cima da presidência, que na época era o Ricardo Malfitano e a gente fez um trabalho conjunto, a primeira fase, nos foi solicitada por conta de uma empresa externa para fazer esse serviço, que era todo um redesenho da segurança dentro da empresa, mas o valor era muito alto, então montamos um grupo multidisciplinar dentro da empresa, reavaliamos todos os processos, refizemos normas para tudo, qualquer operação que tivesse dentro da empresa, a gente refez normas através desse grupo operacional e diversas áreas assim, Jurídico, RH, Operação, Engenharia, Contabilidade, juntamos essa tropa toda e a missão era sair com algo consistente que mudasse a forma da empresa encarar a questão da segurança, isso foi em maio de 2002 e uma cobrança assim, sistemática da Praxair com reuniões, conferências assim, semanais, vindas mensais de alguém para acompanhar o processo, e a gente conseguiu fazer uma verdadeira revolução dentro da empresa num prazo assim muito curto. E pegava os grupos: “Você vai para lá, você vai para lá” e re-treinando, requalificamos toda a mão de obra dentro da empresa e era meu foco principal. Eu viajei, quer dizer, mais ainda para poder estar presente para dar exemplo. E eu sempre falava aqui com o pessoal nosso da matriz: “É um dos cuidados que a gente tem, nós vamos atravessar a rua, a gente atravessa sinal, “…o sinal está virando, pára! Não vá!”. Eu, por exemplo, tinha que ser o exemplo de tudo, me olhando, chegava na rua, atravessava a rua, no centro da cidade, no Rio. Ih, deixa, verde para mim, elas atravessavam com toda calma, elas começavam a virar, não paravam e todo mundo querendo que eu errasse, né? Então eu sempre me policiei muito com relação, vamos dizer, as ações, às atitudes, dirigir, o braço já vem para puxar o cinto, a velocidade controlada. Então isso tudo de ensinamento até para você ser a referência para alguém porque a gente é o “cara”, a gente não é o Paulo (risos), a gente é o diretor, o diretor é uma figura, uma iminência, eu sempre fui assim, sempre me policiando muito para não ser a má referência para ninguém, até em casa, até hoje eu faço tudo direitinho. A fábrica de acetileno, que foi a geradora do problema maior daquela explosão, de uma falha operacional, esse mesmo grupo, a gente a automação da fábrica, que é um processo dos anos, sei lá, 20, 30, 40, a gente automatizou, a gente tirou o risco da mão do homem, no processo de geração do acetileno, isso virou referência mundial. Vinham, vamos dizer, grupos externos tanto da Europa quanto dos Estados Unidos ver o que foi feito aqui. Pessoal estava achando que era um projeto de redução de custo, ia tirar gente e deixar a operação automatizada, mas não, os funcionários continuaram e a operação foi totalmente automatizada e está
até hoje. Daquelas 23 fábricas de acetileno e hoje devem ter umas oito ou nove funcionando, mas todas automatizadas, que o processo de acetileno, por questão de mercado, reduziu bastante, e essa proposta foi levada também pro pessoal da Distribuição, tanto a Distribuição de gases, que essa distribuição é feita totalmente por terceiros, quanto a Distribuição dos líquidos, que são aquelas carretas enormes que hoje, parcialmente, é interna, são motoristas nossos e a externa, de terceiros. Realmente, houve esse processo de conscientização e não tivemos fatalidade durante um certo tempo, hoje as coisas estão sob controle, a raiz foi bem plantada e o processo está hoje, não tenho acompanhado, mas tenho certeza de que o
legado ficou para essa operação, que foi uma operação importantíssima para nós. Estamos em 2002, 2003 quando chega em 2004, eu estava com um processo, esse de implantação e conscientização da segurança, cerca de 60% e houve um novo projeto, tinha um novo projeto em andamento na White que é o projeto Gás Liquefeito de Petróleo, GNL, então, esse projeto vinha sendo feito por um grupo da engenharia e houve uma visita de um grupo da Praxair para fazer o acompanhamento desse projeto. Esse projeto, qual era esse projeto basicamente? Pegar o gás da Bolívia, da Bolívia vinha próximo a Replan, aqui em Paulínia, e era pegar um corrente desse gás e fazer liquefação, processo criogênico, liquefazer, estocar e qual era o grande ganho desse projeto? Onde não tinha gasoduto e não havia, vamos dizer, previsão de se instalar tão cedo, quer dizer, unidades distantes, pegava esse gás liquefeito, levava pela carreta lá no cliente um tanque para conter esse gás, que saísse da carreta e lá vaporizar de novo, como se fosse um gasoduto. Então esse era o grande, grande projeto e assim foi o projeto já foi aprovado, os estudos já tinham sido feitos e eu estou lá na segurança. Um belo dia veio uma comissão para fazer a avaliação desse projeto e nós fomos até o terreno lá ver o de Paulínia, que eles quiseram ver, fomos para uma unidade próxima e fomos ver o terreno de Paulínia e dois ficaram na engenharia avaliando o projeto, como estava o andamento, e sempre que voltavam se sentavam com o Domingos, o presidente, e tinham um papo para ver o que eles viram lá, o que eles acham, qual a sugestão, não sei o quê. E eu não participei dessa conversa, só apresentei, falamos rapidamente. O pessoal ficou lá com o Domingos. No dia seguinte alguém me chama e diz: “O Domingos quer conversar contigo”, “É, o que é?”, pensei: “Ih, vem coisa”, (risos), “O Domingos ficou de conversar contigo, ele está querendo que você pegue um projeto”, “Não, para mim não tem condição, todo processo da conscientização da segurança, ainda falta muito”, “Bom, ele quer conversar contigo, te preparar”, passou uma semana, Domingos me chama, não adiantou argumentar, eu virei o novo diretor técnico do GNL. Então o Ricardo Macedo assumiu a Segurança de Saúde e Meio Ambiente para continuar o projeto e eu assumi o GNL que já estava em andamento, não comecei do zero. E a minha missão, qual era a minha missão? Tirar o atraso que o projeto já vinha; consolidar o fornecedor do processo; implementar a produção; implementar distribuição e implementar instalações em clientes. Toma a folha branca e faça e o prazo final é tal (risos). Então o que eu fiz? Eu não sabia de nada, mais uma vez, igual ao processo lá do carbureto, que eu não sabia de nada, e a gente montou um grupo, uma equipe tarefa para fazer. Ainda me lembro hoje, eu montei todo um grupo dentro do auditório, todas as áreas da empresa que tivessem envolvimento nesse projeto. Peguei as pessoas que sabiam acerca do projeto, cada um fez uma apresentação para esse grande público e de novo o Jurídico, Contábil, Suprimento, Engenharia, Distribuição, Produção, todo mundo que tinha envolvimento naquele projeto e à partir dali a gente fez uma grande ata com responsabilidades e a cada mês a gente sentava com esse publicão lá no mesmo auditório, e
fomos começando a trazer o grupo junto, todo mundo com a mesma finalidade. Então a meta era uma só, não mais as suas metas individuais. Com isso montei um grupo de trabalho pequeno, a gente definiu com a Engenharia quem seria o fornecedor da unidade; entendemos um pouco mais da engenharia; fomos aos Estados Unidos ver essa unidade rodando lá com fornecedores de equipamento; fomos aos clientes ver como é que eles recebiam esse produto e como é que eles faziam a distribuição lá do seu consumo local; vimos quem fornecia carretas pro processo, para fazer essa transferência; os tanques, como é que eram; as instalações, como é que eram, montamos esse grupo. Fomos aos Estados Unidos umas duas ou três vezes e a grande meta qual era? Era montar um grupo operacional, quer dizer, gerar manuais, mais uma vez, gerar manuais; procedimentos operacionais; estabelecer as regras. A Praxair não tinha esse banco de dados, entramos no banco de dados da Praxair para gerar todo esse volume de informações, toda parte de segurança; contratamos uma empresa externa para fazer toda essa gestão de segurança conosco, análise de risco e todas as fases do processo. E fomos montando o quebra cabeça. O resultado disso envolvia a Petrobrás também, que era parceira nesse projeto, o gás saia de lá, tinha um percurso para dentro da unidade.
À partir disso a gente montou o arcabouço, definimos as metas e perseguimos, correções de rumo. Com isso nós formamos um grupo operacional, que eu acho que é o melhor do mundo, os operadores tinham um treinamento aqui, tinha uma planta que também serviu de base de treinamento para gente, que é a única planta na América do Sul que a gente tinha notícia, nós fomos para lá. Instalações e clientes, eu diria para vocês que é das melhores do mundo, tanto na parte conceitual, técnica, quanto na parte de segurança do processo. E com isso a gente montou a malha, fizemos análise de risco disso tudo com essa empresa contratada fora, juntamente a análise de risco e os três ou quatro americanos da área de Segurança, Saúde e Meio Ambiente de lá também participaram, aprovaram junto. Não tem aquele negócio de “Eu fiz. Você..”, não, aprovaram junto o processo, fizemos várias auditorias aqui conjuntamente no Brasil, quer dizer, o produto final foi uno, tanto White quanto Praxair, é um projeto vencedor e referência pro mundo inteiro. A quantidade de gente que já veio de fora para ir a Paulínia, que eu recomendo a vocês também, se você tiver a curiosidade para ver como é que é, que é a única planta no Brasil de GNL. É só marcar com alguém da White que facilite a ida de vocês lá. Projeto bonito, limpo, consistente. Eu vou te dizer, é referência mundial. Que do próprio fornecedor dos equipamentos da planta a gente fez algumas modificações de melhoria, também foi beneficiado com isso, com um prazo um pouco defasado porque na época a gente teve furacão, daquele negócio da costa dos Estados Unidos, os navios que nos traziam os equipamentos tinham que ir para Europa, África e voltar e isso atrasou um pouquinho o percurso. E algumas aprovações de licenças aqui de operações por parte da CETESB [Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental] também levou um pouco mais de tempo. Mas eu diria a vocês o seguinte, que não temos senões na unidade, a unidade um está na mão do Ozy, que foi treinado para isso desde o início. Os operadores conscientes, operação limpa, referência mundial. E eu fiquei nessa operação e depois dei uma assistência na instalação em clientes, muitos clientes na região, fazer primeiro perder o medo, porque estar com gás liquefeito, é um outro produto. E fizemos as instalações e no final de 2006, início de 2007 eu voltei para área de gases, porque houve um convite por parte do Bortoleto, que é o diretor executivo dessa área. E eu acho que dezembro ou janeiro, eu peguei essa área em 2007, mais uma vez, novos desafios, uma interação muito forte com a Praxair, porque a Praxair estava precisando de uma rejuvenescida em algumas áreas, muita reunião internacional e a gente com a tarimba, já vai com mais facilidade, já consegue convencer mais a diretoria e a presidência para fazer os investimentos. E eu fiquei nessa área mais um ano e pouquinho, até março, mas conseguimos fazer muita coisa em pouquíssimo tempo, consolidamos de vez a questão da segurança, também e eu diria a vocês que eu consegui me satisfazer profissionalmente e tenho meus filhos criados, formados. Dois casados já, o terceiro é funcionário da empresa, ele só entrou depois que eu sair, eu nunca quis misturar as coisas, hoje ele é gerente da área de negócios, nessa área de Packaged e eu digo à vocês que eu estou feliz da vida. Um ciclo assim de 31, minha carreira na realidade, eu tenho 37 anos de carteira assinada, mas 31 anos e alguns meses de White Martins. Ainda hoje eu tenho muitos amigos dentro da White, me ligam, não me deixam esquecer e a troca de e-mails, que hoje é uma facilidade que a gente tem. Eu estou muito feliz com a continuidade da empresa, a formação da mão de obra atual, que tem oportunidade de ouro para dar continuidade com ferramentas novas. E é chance para todo mundo, o tempo todo.
P/1 – Explica resumido para gente, Paulo, só o que seria o ISO 9000 e o ISO 14000.
R – A ISO 9000 é um standard europeu que trata, basicamente, no nosso caso, da qualificação dos procedimentos que finalizam uma qualidade do produto. Por exemplo, qualquer produto que você faça, seja uma folha de papel, você faz dentro de determinadas normas, da mesma forma, o tempo todo e há pontos de aferição, se estão realmente sendo feitos, tanto na aferição operacional, quanto na aferição tipo uma auditoria. No caso dos nossos gases, você tem que ter 99.8% de pureza, então dentro do processo, tudo é montado para que lá no final, a gente garanta, no mínimo 99.8% de pureza ou 99.9% de pureza. Então é feita a limpeza do cilindro da mesma forma, a limpeza de todo o processo sem vazamentos da mesma forma, a evacuação, que é o uso da bomba de vácuo dentro da mesma forma, o enchimento, a própria bomba de enchimento, sem vazamentos, da mesma forma. Cilindro cheio fechado, faz a aferição da qualidade, essa qualidade vai se repetir ao longo do processo, entendeu? Isso tudo é marcado e certificado. Clientes que pedem o certificado, é gerado um certificado. Qualquer processo, vai fabricar uma lâmpada, vai dentro da mesma forma, então é um processo. São procedimentos, isso gera treinamento de pessoal, qualificação dessa mão de obra que deve ser aferida periodicamente para garantir que o produto tenha 99.8% ou 99.9% de pureza. Basicamente é isso que a ISO trata. E dentro do meio ambiente, também, para que garanta que não haja agressões, quer dizer, todo um procedimento, tratamento de resíduo, como é que ele é feito, não é jogado no rio, ele é coletado, dentro dessa coleta ele é reprocessado para não ferir o meio ambiente ou ele é jogado então em uma outra indústria para ser modificado e não ferir o meio ambiente. E isso também é acompanhado pela própria Praxair, porque vem ela e quer saber o seguinte, o resíduo que foi jogado aqui nesse processo, aonde que está indo? Ah, está na empresa tal, eu quero ir lá para ver se estão fazendo exatamente o que eles estão dizendo que estão fazendo. E faz auditorias no local do envio ou do descarte desse resíduo. Então essa que é a visão, é uma garantia. Agora, para isso, você tem que pegar processo a processo, gerar toda essa informação, manualizar isso tudo, procedimento por procedimento. Tem que estar dentro de um standard da empresa, tem que estar ao alcance do órgão aferidor, tem que estar ao alcance de uma auditoria de um órgão independente, além da Praxair, de forma que a gente garanta a pureza, o não resíduo, o não... Entendeu? E a gente sofre auditorias periódicas para constatar e validar todo esse procedimento.
P/1 – Já finalizando, Paulo, o que você aprendeu nesses trinta e poucos anos de White Martins?
R – Bom. Eu sempre fui um funcionário dentro da White muito comprometido com o resultado final da empresa, sempre focado, também, junto com as áreas de Negócios, o que eu estou fazendo, o que afeta no resultado final e sempre buscando o melhor pro resultado final, seja na redução de custos, que se faça uma redução de custos de uma forma que garanta o processo e que traga o benefício, tantos foram os processos de produtividade que a gente teve, passamos pelo Bug do milênio, que eu também não falei nada, que eu fiquei responsável por toda a área Industrial, a gente teve erro zero no Bug do milênio, uma operação de milhares e milhares de máquinas, entendeu, milhares de informações que transitam. O maior legado que eu trago para mim e que eu deixo para empresa também é a questão do relacionamento, do trabalho em equipe, do trabalho conjunto e acreditando nas pessoas. Eu diria para você que essa que é a visão macro que eu fiquei, eu contribui e fiz as pessoas crescerem a minha volta também e o resultado final sempre foi muito bom, a empresa sempre ganhou e ganhou muito e a gente sempre contribuiu de uma forma eficiente. Mas o grande legado é esse relacionamento, esse agrupamento de intenções dentro da mesma direção. É isso que a White delineia para gente e que a gente persegue, que eu persegui no meu período e que agora as novas gerações têm que buscar, porque sem o trabalho em equipe a gente não chega a lugar nenhum. E outra coisa, é que nem a gente está fazendo aqui, é olho no olho, não adianta mandar recado, você tem que chegar e falar frente a frente, é a melhor forma de resolver problema, isso serve para dentro de casa e fora de casa (risos), essa que é a forma, vamos dizer, que eu encontrei, correta, para mim, de resolver os percalços ou sorrir conjuntamente, fundamental, porque a vida realmente é curta. Agora você estica a vida um pouquinho fazendo mais amigos, gastando mais tempo com os amigos, curtindo um pouco mais do que ficando na solidão. A solidão é um tempo muito longo, no relacionamento com as pessoas, o tempo encurta, mas é um encurtamento gostoso.
P/1 – O que você achou desse projeto da White Martins em parceria com o Museu da pessoa de contar a história da White, da industrialização do Brasil através dessas pessoas?
R – O projeto da White é, primeiramente, um projeto feliz porque engrandece, dá uma chance de mais uma contribuição nossa para empresa, eu sempre fui muito feliz com a White, a gente teve percalços mas a gente conseguiu vencer. E essa oportunidade, a gente vê fazer uma leitura dinâmica de todo esse passado, presente e já vislumbrando o futuro. E a alegria que traz para gente, mais um reconhecimento da nossa contribuição a esse projeto, um projeto feliz. Se a gente traz isso, as famílias que vieram, desde 1912, as cinco famílias que originaram todos esse processo, já através dos descendentes, e virem todo esse processo, da célula até a situação atual, eu diria para vocês o seguinte, é muito gostoso, é saboroso. E a gente contribuindo no meio do caminho, que a White vai tranquilamente a mais cem dentro desse processo de mercado. A gente fica muito feliz de ter contribuído durante esse período e agora através das pessoas que conduzem o processo, através do Domingos, através de toda a diretoria. Eu tenho a certeza que vai engrandecer cada vez mais a empresa e trazendo resultados cada vez mais promissores para toda a organização. Eu respeito muito a corporação, sempre tive um relacionamento muito forte com a Praxair no mundo inteiro e a corporação é muito forte, é muito competente. Independente de ter brasileiro lá, independente ter americano, gente do mundo inteiro, mas ela é muito consistente, eu assino embaixo.
P/1 – Ok, muito obrigada pela sua participação.
R – De nada. Agradeço a oportunidade, que essa é uma oportunidade de ouro, a gente deixar um pouco mais de informação acerca daquilo que você viveu e pode contribuir com o crescimento de alguém. Muito obrigado a vocês também.
P/1 – Parabéns pela história.
R – Obrigado.
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