P1 - Clarissa Batalha
P2 - Luani Guarnieri Bueno
R - Ademar Seródio
P1 – Vamos começar então, seu Ademar.
R – Vamos.
P1 – O senhor pode me dizer o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Ademar [dos Santos] Seródio. Eu nasci no Brás, em São Paulo - no tempo em que o Brás era bairro boêmio. Nasci dia 8 de março de 1944.
P1 – E qual que é a sua atividade atual, seu Ademar?
R – Eu sou presidente do Conselho da ADVB, conselheiro vitalício da Associação Comercial, sou do Conselho Superior da FIESP e diretor do CIESP. E colaborador da Fundação Getúlio Vargas, FECAP e FAAP.
P1 – Qual que é o nome dos seus pais, seu Ademar?
R – Alberto dos Santos Seródio, que eu nem cheguei a conhecer direito porque ele faleceu quando eu tinha dois anos de idade. E minha mãe chama ________ Seródio - é viva até hoje, fez 86 anos agora. Tá tinindo, tá ótima.
P1 – Qual que era a atividade profissional deles?
R – Meu pai era vendedor de laboratório, visitador de laboratório. Depois, ele faleceu - eu era muito novo, tinha dois anos de idade. Minha mãe era pespontadeira de calçados, costurava sapatos. Fazia esse trabalho em casa pra poder cuidar dos dois rebentos lá e, graças a ela, eu estou aqui. E estudei, ela batalhou pra burro, nas melhores escolas de São Paulo, sempre. Ela era boa no que fazia.
P1 - O senhor tem irmãos então?
R – Eu tenho irmão gêmeo.
P1 – Um irmão gêmeo?
R – Tenho um irmão gêmeo que tem uma empresa de importação-exportação, uma “trade”.
P1 – E qual que é a origem da família, seu Ademar?
R – O Seródio todo mundo pensa que é italiano, né, mas não é. Serôdio é um nome português, uma palavra portuguesa que quer dizer fora do tempo - pode ser prematuro ou pode ser depois do tempo. Então é fora do tempo. E eles usam muito, em Portugal, tem muito Serôdio, eles usam muito pra...
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P2 - Luani Guarnieri Bueno
R - Ademar Seródio
P1 – Vamos começar então, seu Ademar.
R – Vamos.
P1 – O senhor pode me dizer o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Ademar [dos Santos] Seródio. Eu nasci no Brás, em São Paulo - no tempo em que o Brás era bairro boêmio. Nasci dia 8 de março de 1944.
P1 – E qual que é a sua atividade atual, seu Ademar?
R – Eu sou presidente do Conselho da ADVB, conselheiro vitalício da Associação Comercial, sou do Conselho Superior da FIESP e diretor do CIESP. E colaborador da Fundação Getúlio Vargas, FECAP e FAAP.
P1 – Qual que é o nome dos seus pais, seu Ademar?
R – Alberto dos Santos Seródio, que eu nem cheguei a conhecer direito porque ele faleceu quando eu tinha dois anos de idade. E minha mãe chama ________ Seródio - é viva até hoje, fez 86 anos agora. Tá tinindo, tá ótima.
P1 – Qual que era a atividade profissional deles?
R – Meu pai era vendedor de laboratório, visitador de laboratório. Depois, ele faleceu - eu era muito novo, tinha dois anos de idade. Minha mãe era pespontadeira de calçados, costurava sapatos. Fazia esse trabalho em casa pra poder cuidar dos dois rebentos lá e, graças a ela, eu estou aqui. E estudei, ela batalhou pra burro, nas melhores escolas de São Paulo, sempre. Ela era boa no que fazia.
P1 - O senhor tem irmãos então?
R – Eu tenho irmão gêmeo.
P1 – Um irmão gêmeo?
R – Tenho um irmão gêmeo que tem uma empresa de importação-exportação, uma “trade”.
P1 – E qual que é a origem da família, seu Ademar?
R – O Seródio todo mundo pensa que é italiano, né, mas não é. Serôdio é um nome português, uma palavra portuguesa que quer dizer fora do tempo - pode ser prematuro ou pode ser depois do tempo. Então é fora do tempo. E eles usam muito, em Portugal, tem muito Serôdio, eles usam muito pra falar da uva que passou do ponto pra fazer o vinho. Não é uva passa, a uva [que] passou do ponto pra fazer o vinho [é que] eles chamam de Serôdio. Nasceu uma criança prematura, eles chamam de Serôdio. E tem uma vila chamada Serôdio a 60 quilômetros do Porto, que eu estive nesse lugar pra conhecer.
P1 – Que ótimo.
R – Que a turma se assustou que achou que eu ia pedir herança lá.
P1 – (risos) Vamos falar um pouquinho da infância. O senhor falou que nasceu no Brás, né, morou lá?
R – Nasci no Brás, estudei no Grupo Escolar Roca Dordal, que é na rua Marajó, lá no Brás. Até lá... [Depois] fui na Álvares Penteado [FECAP], que é [a] escola de comércio onde eu me formei contador. Fiquei o tempo todo estudando lá - era no Largo São Francisco. De lá, fui pra PUC, que quando eu fiz exame de vestibular na PUC pra economia era no Liceu Coração de Jesus. E quando começaram as aulas, tiraram Ciências Sociais do campus lá da Monte Alegre e puseram Economia, deu uma briga do peru. Mas __________ estudos sociais pra São Joaquim e puseram Economia lá na PUC da Monte Alegre. Foi lá que eu estudei e me formei.
P1 – O senhor teve alguma influência na escolha dessa carreira?
R – Na verdade, eu era contador e a consequência natural era fazer economia, porque [está] ligado a área de finanças. Então, a carreira que eu tinha... Isso é importante você perguntar porque, às vezes, eu vou dar aula em universidades, pós-graduação, a turma quer saber o plano de carreira, né? Eu nunca fiz plano de carreira, estudei de acordo com o que eu já tinha começado. Então: “Vou terminar isso aqui, né?”. Mas, na verdade, eu nunca fiz plano de carreira. Nunca pensei: “Ah, eu vou ser isso, vou ser aquilo, vou...” Eu... A melhor carreira faz quem recebe um trabalho e faz o seu melhor pra realizar aquele trabalho. Foi assim que a minha carreira foi feita. Os chefes gostavam, tinha briga de chefe pra me ter, e isso acabou dando certo, né? Mas eu fiz de tudo na Avon. Pra vocês terem uma ideia, eu cheguei a entrar um dia na Avon às oito da manhã [e] sair no dia seguinte às dez da noite. Por quê? Porque, naquele tempo, eu trabalhava na contabilidade geral, então das oito às cinco era contabilidade geral [e] das cinco à meia-noite eu trabalhava no faturamento, porque a nota era emitida com a Facit [marca de calculadora mecânica] à mão, né? E depois tinha que separar os produtos da expedição, um ___________. Então participava de todas as fases, né? Não era só eu não, todo mundo. Existia um corpo de equipe que um ajudava o outro, então isso foi o __________ que era o comandante nosso que nos ensinou fazer. Então, a gente era pau pra toda obra, né, fazia de tudo. Você falar... Separei produto, fiz faturamento, tudo que tinha lá a gente acabou fazendo, apesar de ser contador e trabalhar na contabilidade geral. Mas depois das cinco tinha que fazer outra coisa, e era assim. De vez em quando, eu dava um banho pra acordar, né, porque ninguém é de ferro, pô.
P1 – Seu Ademar, antes de falar, então, mais um pouquinho da Avon, eu queria saber um pouco da infância do senhor. Como é que era a casa que você morava?
R – Ah, eu morei numa vila, uma dessas casas de vila, de antigamente. Tive uma vida... Não posso chamar de pobre, mas uma vida comum, de como hoje todo mundo vive na periferia. Apesar de ser Brás, naquela época, um bairro boêmio, essa coisa toda, a maioria das pessoas trabalhavam em tecelagem. Minha avó e minha tia eram tecelãs, trabalhavam no Matarazzo. Meu tio era motorista de praça, tinha um ponto na Praça da Sé. E minha mãe era pespontadeira de calçados. Então tive uma infância muito legal, mas muito simples, muito comum. O que me fez também aprender a ter humildade, a respeitar os outros - a coisa que eu aprendi mais na minha vida. É isso, nada de excepcional aconteceu. A não ser quando eu entrei, claro, quando eu entrei... Eu morava numa vila e tinha uma vizinha - isso é gozado, eu vou contar -, o apelido dela era grã-fininha [de grã-fina] porque ela andava com o nariz em pé. O marido dela era escrevente de um cartório e ela nem deixava eu falar com os filhos dela, porque ela achava que a gente era segunda classe. Eu entrei na faculdade e minha mãe fez uma festa, aí ela cismou que eu tinha [que] casar com a filha dela.
P1 – (risos)
R – Porque, naquele tempo, inclusive, tinha uma vizinha que minha mãe falou: “Pô, mas você fez a festa por quê?”, “Porque ele entrou na faculdade”, “Mas o que é que ele vai ser?”. Eu falei: “Economista”, “Comunista? Você é louca?”.
P1 – (risos)
R – E era assim. Então a simplicidade do lugar, de vez [em] quando, tinha um que destoava, né? E era uma amiga da minha mulher, eu conheci a minha mulher lá naquela casa. Era amiga da menina, da Maria José, que era filha dessa grã-fininha. E o pai da Maria José me adorava, ele me achava o máximo. E a Ivani era do Ipiranga - ia na casa dela fim de semana, acabei conhecendo. Eu conheci a minha mulher [quando] ela tinha 11 anos, mas eu não namorava ela, claro. Quando ela fez 14, eu comecei a namorar.
P1 – (risos) Tá certo. Seu Ademar, quais eram as brincadeiras favoritas?
R – Ah, futebol de rua, né? A gente jogava bola na rua e no campo do Caolho. Aí depois eu comecei a jogar, mais ou menos, e aí fui jogar em dois times que eu joguei lá na Mooca. No hipódromo lá tinha várzea e eu joguei no Bairro Chinês, que era um time bom que tinha lá, e no Tiradentes, que era outro time daquele lugar lá. E eu jogava bola. Aí, quando eu fui falar... Joguei basquete também durante um tempo por causa da universidade. Aí quando eu [fui] falar com o pai da minha mulher, nós tínhamos ido jogar em Santos e eu torci o pé, e inchou. Eu não podia pôr sapato, tive que entrar de chinelo. Aí a tia dela falou: “Porra, você foi namorar um bronco?”
P1 – (risos)
R – Eu fui embora, a mulher __________ “Você foi namorar um bronco?”, ”Você tá doida?”. Falou: “Não, é que ele machucou o pé”. Foi assim que aconteceu. Eu joguei basquete foi durante um tempo, muito pouco tempo. Eu jogava mesmo era futebol, gostava. Aí, depois de velho, eu peguei gosto pelas coisas do mar, então adoro navegar, viver no mar. É uma paz... eu vou toda quinta-feira - não trabalho de sexta. Então, toda quinta-feira, eu vou pra minha casa de praia - que eu tenho lá no computador, depois eu mostro pra vocês. Fico lá, tive um barco __________ no passado não usava mais, o barco, ninguém queria sair. Vou pra lá, fico. É um paraíso. Sou conselheiro do Iate Clube de Ubatuba, tenho casa na Domingas Dias, que é uma praia do lado __________, lá em Ubatuba. E toda quinta-feira eu tô lá. Tem um monte de amigos legais pra chuchu - a minha mulher diz que é o ‘Clube dos 500’ [porque] junta meia dúzia, dá 500 anos.
P1 – (risos)
R – Tudo velho, mas a gente se diverte, tem amizade. É muito legal.
P1 – E o senhor citou aí o grupo escolar que o senhor estudava, como é que era esse...
R – Grupo Escolar Roca Dordal.
P1 – Como é que era a escola? Que lembranças o senhor tem?
R – Lembrança eu tenho da diretora, chamava Dona Elvira. Eu lembro muito dela porque ela morava na rua que uma tia minha. E ela sempre foi muito legal comigo, tinha especial atenção com os dois gêmeos. Porque tudo que acontecia na escola, eram os dois gêmeos. Pô, ninguém era gêmeo, então você fica famoso de graça. Então ela gostava muito da gente, procurava ajudar. E a professora que eu tive no Grupo Escolar, que eu adorava, chamava-se Dona Olga, ela me orientava muito, sabe, de matéria de caprichar no estudo. Agora, eu era endiabrado, não era bonzinho. Comportamento não era legal, mas elas me controlavam e eu fui bem, nunca repeti de ano. Saí de lá, fui pro Álvares Penteado. Naquele tempo, tinha exame de admissão, né? Entrei direto e ainda a minha mãe pagava um só: os dois, pagava um. Fez um acordo com a escola, né, porque tinha pouca renda, e a escola reconheceu. [Para] os dois, ela pagava uma mensalidade só. E nos formamos lá. Da escola também, tenho... Eu nunca consegui manter os amigos da escola, [de] você falar: “Ah, você conhece alguém do primário, né?” Outro dia eu vi um, mas não... Foi difícil porque minha vida foi mudando muito, eu mudei... Casei, mudei pra Santo Amaro, onde que era a Avon. Depois fui morar no exterior muitos anos, morei nos Estados Unidos, morei na Argentina. Então sempre foi se desligando e cortando relação. Então, da universidade e das escolas, o que eu tenho mais hoje, ainda com alguns, intimidade, é por causa até da função na FECAP, na FAAP e na Getúlio, com professores. Alguns foram meus professores e hoje eu trabalho com eles, que é o caso do Marcos Cobra, é o caso do (Sapienza?), é o caso do (Talarico?), eram tudo professores, foram, alguns foram meus professores direto. E como trabalho com eles então são os únicos que, de vez em quando, a gente fica contando umas micagens daquele tempo. Os professores, eu mantive essa relação até por causa do trabalho. Agora estamos fazendo projeto do MEC, tal, e então tenho relação. Mas os alunos mesmo, puxa, não... Sumiu, desintegrou. Porque eu estudava à noite, então não tinha tempo - trabalhava de dia e estudava à noite. E de sábado eu tinha escritório de contabilidade, fazer a contabilidade de botequim, pra ajudar em casa, né? Então, pê, não tinha tempo de fazer nada. Não é por causa disso que eu deixei de me divertir, né? Mas eu dançava muito bem quando era moço, inclusive, essa é uma coisa que eu conto com maior orgulho, porque eu não tinha vergonha de falar, eu picotava cartão na Avenida Danças. Eu não sei se vocês sabem o que é a Avenida Danças - é um salão de baile. Você entra numa catraca, te dão um cartão que você põe na gravata e eu cuidava de cinco meninas com o picote. Então cada menina que sair, você tem que picotar o cartão do cara pro cara na saída pagar, entendeu? Então, de sexta-feira, eu saía da faculdade e ia pra lá pra ter dinheiro no fim de semana. (risos)
P1 – (risos)
R – Então saía de lá quatro da matina e ía comer sopa no (Espada Vecchia?), que é um lugar que tinha na rua Augusta. A gente ia em quatro lá, pedia uma sopa e duas coca-colas, e ia pra casa. E eu trabalhava, pô, estudava, não havia como. Por isso também que essa coisa de amigo, de... Foi se perdendo, porque eu não convivia, assim, não dava tempo.
P1 – Com quantos anos o senhor começou a trabalhar?
R – 12.
P1 – 12.
R – Eu... Na verdade, o primeiro trabalho que eu tive, tinha 7 anos de idade. Eu fazia parte do grupo de teatro da igreja São João Batista, lá no Brás, e tinha a Dona Rosinha, que é uma mulher que cuidava lá daquelas coisas de domingo de manhã, sabe? E ela fez uma peça lá, [que se] chamava “Os Três Bonequinhos de Pau”. Ela pôs eu, meu irmão e o Ênio Gonçalves, que ficou um cara famoso de cinema, teatro. E pôs o Ênio, eu e meu irmão nesse negócio aí, e nós fizemos. Aí foi lá o Júlio Gouveia, não sei se vocês ouviram falar sobre esse homem, que é uma injustiça que cometem com ele. É marido da Tatiana Belinky - foi marido, ele faleceu. E é uma injustiça porque ele criou a novela na televisão, ele criou o Sítio do Picapau. Outro dia, eu vi na televisão falando com um cara da Globo que adaptou pra televisão o Sítio do Picapau. Mentira. Ele fez o Sítio do Picapau durante oito anos na televisão, antes desse da Globo, na TV Tupi. Então, é [só] o cara morrer e a turma esquece. E ele foi lá e convenceu minha mãe a deixar eu fazer o teste pro teatro escola de São Paulo. Ele falou: “Não, os meninos têm jeito pra isso, deixa eu levar eles lá.” Minha mãe não queria de jeito nenhum. “Não, eu venho buscar, eu trago.” Ele era psiquiatra. “A senhora pode ficar sossegada.” No fim, me levou pra lá. Então fui trabalhar na TV Tupi, fiquei lá dos 7 aos 12 anos, mas sem contrato, nada disso, eu ganhava cachê. Terminava a coisa, ele chegava com a grana lá no camarim e pagava. Aí eu fiz teatro nessa época, um outro teatro aí, Maria Antonieta e outras peças, né?
P1 – O que o senhor fazia na televisão?
R – Na televisão, eu fazia teatro, eu fiz durante muitos anos Teatro da Juventude que era domingo de manhã, na televisão. Fiz o Nicolas... A “Pollyana”, que foi uma novela, que a Elizabeth Darcy, a Verinha Darcy é que fazia a Poliana. Fiz essa novela. Enfim, fiquei lá. Aí quando eu fiz 12 anos, precisava ganhar dinheiro, né? Esse negócio de só receber quando tem papel, eu era criança. Aí tinha um tal de Edmundo Monteiro, que não é o Edmundo Monteiro dos Associados, é um outro que era diretor lá na Tupi, falou: “Ó, Ademar, eu vou te dar um cartão, você vai falar...”. Que eu queria um contrato pra receber por mês, pô, porque... Ele falou: “Eu vou te dar um cartão escrito, você vai levar pro __________, na Rádio Nacional”, que era na Rua das Palmeiras. Cheguei lá com o cartão, tinha 12 anos, falei: “Ó, o Edmundo me mandou aqui pra falar com o senhor”. Ele falou: “Olha, tudo bem, você pode ficar aqui, a gente...”. Eu falei: “Não, mas eu quero um contrato”. Ele falou: “Não posso fazer contrato, você vai mudar a voz, pô, você tá numa fase que não dá pra fazer”. Mesmo porque eu trabalhava com o alvará do juizado. Nessa época, não tinha carteira de menor, né? Então ele falou: “Não dá, mas você vai com o Wálter Forster, na televisão, que talvez seja mais fácil. Como você já faz televisão, é mais fácil lá.” Puta, fui eu lá com o Wálter Forster, tô esperando lá... Ele era diretor artístico, né? Naquele tempo era TV Paulista, OVC. Tô lá esperando, aí aparece um tal de Borges de Barros, não sei se vocês conheceram, um que faz um papel de baiano aí - um sarro, o cara. “Pô, o que você ta fazendo aqui?” Eu: “Não, eu vim aí, tal, porque eu fui lá e [o] cara falou que eu vou mudar a voz”, “Que? Entra aí e fala que na sua família todo mundo tem a voz fina, não sei o quê”.
P1 – (risos)
R – Porra, falei: “Não, você tá louco”, “Fala, cara! Porque os caras vão acreditar”. Eu falei: “Tá bom”. Aí entrei no escritório do Wálter Forster, tinha umas quatro mulheres lá dentro dando risada e tudo uma festa, né, aí ele olhou pra mim: “O que você veio fazer aqui?”. Eu dei o cartão pra ele e falei: “O Edmundo Monteiro mandou falar com o senhor”. Ele falou: “Ah, mas você vai mudar a voz”. Eu falei: “Não, na minha família todo mundo tem a voz fina”. O cara caiu numa risada, as mulheres todas. Porra, fiz [um] puta papel de palhaço.
P1 – (risos)
R – Mas eu não tinha noção, né? E aí ele me contratou. Foi o primeiro contrato. Aí eu tirei a carteira de trabalho. E aí, por isso, que eu comecei oficialmente com 12 anos. Dos 12 aos 14, eu fiquei lá, mas levava três meses pra receber um, e não era só eu, era todo mundo. Naquele tempo, era o Golias, Moacyr Franco, toda aquela turma que tava lá, a turma que trabalhava com o Manuel de Nóbrega, tudo recebia, era tudo vale. Normal era tirar vale, porque não saía o ordenado. E aí eu me enchi e falei: “Ah, vou trabalhar, não dou pra isso aí”. E aí fui procurar emprego e arrumei esse emprego de auxiliar de contabilidade nessa empresa lá no Belém. E auxiliar de contabilidade era faturamento, sabe, era máquina de escrever. Você batia as notas - eu era datilógrafo, batia as notas à máquina. Aí fiquei auxiliar de contador, dirigia o escritório. Com 17 anos, eu dirigi um escritório de doze pessoas. E o gozado é que eu era meio recalcado, né, porque só tinha cara de idade e os caras não davam muita bola pra mim. Aí eu, quando tinha alguém conversando no escritório, queria que parasse... Tinha uma mesa com tampo de vidro, eu batia três vezes no vidro, assim, com o lápis [e] a turma ficava em silêncio. Era coisa de louco isso aí, mas era assim que eu me safava dos caras lá. E o dono da empresa adorava, ele ia lá só pra me ver bater o lápis. (risos)
P1 – (risos)
R – Ele falava: “Pô, eu bato o lápis, a minha mulher nem liga pra mim”. Eu falei: “Aqui o lápis funciona.” E aí, saí de lá pra Avon.
P1 – Ah, de lá já foi pra Avon?
R – Fui pra Avon.
P1 – Como é que surgiu a oportunidade da Avon?
R – Eu todo dia na hora do almoço lia o Estadão, aí eu vi um anúncio lá: “Técnico de Contabilidade”. Precisava na (Squib?) e na Avon, empresa internacional, com grande futuro. Falei: “Ah, o primo do cara aqui é contador e joga nos cavalos, eu não vou ser nunca nada aqui”. O cara não aparecia no escritório, ele era contador oficial, mas ele ia jogar nos cavalos - era uma figura, primo do parente do cara lá. Aí eu fui, e a primeira que eu fui na Avon, cheguei assim: peguei a ficha, cheguei em casa, deixei a ficha em cima da mesinha, escrivaninha que eu tinha lá de fazer contabilidade de botequim. A minha ____ viu a ficha de manhã: “Pô, você não vai levar esse negócio aí?”. Eu falei: “Vou mãe, mas é longe pra chuchu. Vou levar segunda-feira só”. Aí eu preenchi a ficha e fui lá levar, fui de manhã que é pra não perder a hora. E aí aconteceu que o ___________ me entrevistou, achou que eu era muito menino pra saber o que eu sabia, se encantou comigo, não sei [o] porquê, e me contratou. Aí eu vim pedir as contas, o cara me ofereceu ir pra lá, aí o __________ falou: “Eu te dou tanto e você vai ficar aqui, só que você tem que decidir agora, ________ mais do assunto”. Eu falei: “Tá bom”. Aí fiquei trabalhando um mês na outra empresa pra preparar alguém pra ficar no lugar e o __________ entendeu isso. Falei: “Ah, não posso deixar o cara na mão, não tem mais ninguém lá. Então tenho que contratar um cara, tenho que ficar com ele”. Ele falou: “Não, você ta certo, faça”. Aí, depois de um mês, voltei lá, assumi minha posição na contabilidade geral.
P1 – O senhor já conhecia a Avon antes disso, desse anúncio?
R – Não, e quando eu cheguei lá levei um susto, eu não sabia daquele negócio de perfume, vender perfume de porta em porta, falei: “Puta, será...” Eu tinha ido na Squib e a Squib também queria me contratar, que era um laboratório grande, tal. Eu fiquei meio na dúvida, mas a grana, né, tirou minha dúvida.
P1 – (risos)
R – E o _________ me mostrou a empresa toda, foi muito legal comigo e falou: “Aqui você vai tá bem, pá”. E aí eu fiz meu trabalho lá, tinha um chefe que era um amor, ficou meu compadre, mora no Rio de Janeiro, chama Carlos Augusto da Costa Lima, um cara excepcional, meu amigo - me ajudou muito. Porque a Avon, nessa época, o primeiro dia que eu tava na Avon, tava com uma _________ que era uma máquina. Eu fazia a razão, que é bater o crédito com o débito - você vai somando. Pô, quando a fita tava lá embaixo um tal de Aldo que trabalhava na minha frente, que era da contabilidade fiscal, arrancou a fita, pegou a máquina, pôs na mesa dele e começou a usar a máquina. Porra, eu já tinha trabalhado duas horas. Era assim, os caras eram tudo louco. Aí o Carlos Augusto falou: “Não esquenta, pô, nem liga, esse cara é louco”. Aí foi lá, deu um esculacho no cara. Fez ele fazer a fita pra mim, porque ele era chefe. O cara fez a fita. E esse cara foi muito amigo meu, casou com uma moça da Avon que trabalhava lá, a Maria, que é minha comadre. E eu fui indo, fui indo e me botaram no lugar do Décio, [que] era supervisor de orçamentos. Aí criaram uma área que era Orçamentos que fazia o “budget” da companhia, o orçamento da companhia, e __________ econômico, que era supervisionar “payback”. Eu era economista, sabia fazer isso e também me puseram nesse lugar, assumi o lugar do Decinho. E o Decinho foi ser gerente, eu fiquei Supervisor de Orçamentos e Estudos Econômicos. E vai daqui, vai de lá, fazia orçamento da companhia inteirinha. E, naquele tempo, era assim: a gente tava com um diretor, ficava duas horas e o que ele falava eu tinha que transformar em número. Era assim que funcionava o troço. Eu tinha _________ você vai fazer isso, vai fazer aquilo - era assim. E os caras me adoravam, né, porque os caras não sabiam fazer isso aí. E vinham os americanos, se não mostrasse isso... E aí um gerente geral que tinha, que era o Paul ______, um dia eu entro na sala dele, ele fala: “Ó, aqui, menino. Você vai trabalhar em vendas”. Falei: “Não, você tá louco? Eu sou economista, contador, pô”, trabalhar em finanças? Não sei nem falar. E não sabia mesmo, tinha uma dificuldade desgraçada, era um cara introvertido no trabalho que eu fazia. “Não, vai ser.” E custou, mas ele me convenceu. “Não, pelo menos vai lá e faz um teste. Se não der certo, você volta pro mesmo lugar.” Aí eu fui, fui ser gerente de vendas. Abri a Avon da Bahia. E durante cinco anos ganhei todos os prêmios de vendas da Avon. Eu não sabia trabalhar o primeiro ano, não sabia nada. Só que, naquele tempo, pra ser gerente de venda, tinha que ter 35 anos, casado, com filhos e eu era novinho, solteiro. Então as mulheres me adotaram, caí no colo delas. E eu nunca esqueço a primeira reunião que eu fiz, pedi desculpa porque não conhecia o trabalho, ia aprender com elas, tal. “Deixa com a gente.” E a partir daí, eu tinha dificuldade de falar, especialmente, quando ia elogiar alguém e que... Eu sempre tive muito sentimento, tal, e me emocionava. Aí não saía, pô, dava um nó na garganta e não saía. As mulheres batiam palma.
P1 – (risos)
R – Aí teve uma vez que fizeram uma conferência qualidade contra quantidade, era um negócio ridículo, coisa de americano. Você separava as mulheres ótimas, médias e ruins numa sala de conferência. Imagina você, com uma plaquinha pra sentar pra cá, pra sentar pra lá. E isso deu um xabu, nenhum gerente queria fazer isso, deu uma briga desgraçada. Uns fizeram outros não fizeram, sabe, uma encrenca. Eu fui fazer, minha primeira conferência foi essa, no Rio de Janeiro. Por que foi no Rio de Janeiro? Porque eu tinha Bahia e São Paulo e eu consegui fazer no Rio de Janeiro porque saía mais barato, todo mundo ficou com bronca porque todas as minhas mulheres iam viajar, era a única divisão que viajava todo mundo, mas era mais barato, não tinha problema. Chegou lá, no dia da conferência, fechou o aeroporto de Salvador; as mulheres não vieram, teve que adiar um dia a conferência. As que saíram de São Paulo pro aeroporto, como não viajavam nunca, foi até papagaio no aeroporto, né? A Marina ________, que hoje é distribuidora da Avon, ligou pra mim do aeroporto e falou: “Ademar, nós falamos com uma carioca amiga nossa, nós vamos viajar pro Rio. A turma tá até de papagaio aqui pra falar tchau, nós não vamos voltar pra casa. Nós não vamos pro hotel, mas vamos se virar aí com as nossas amigas, tal”, “Ah, tudo bem”. E o Paulo ________ tinha mandado o Ulisses, (Ulisses Gobi?), que se aposentou faz pouco tempo, no aeroporto, pra dizer pras mulheres não viajarem. (risos) Elas foram assim mesmo, não deram nem bola. Chegou lá no Rio, eu fui lá no aeroporto com uma florzinha pra cada uma, não sei o quê. Depois chegaram as baianas no dia seguinte e elas preparam um jantar, me convidaram para um jantar. Eu tava arrasado, a primeira conferência, eu não sabia falar direito em público, [uma] dificuldade desgraçada. Aí me convidaram pro jantar, fui lá no jantar, tal. Elas que pagaram o jantar, pô. “Nós convidamos você, você não vai pagar coisa nenhuma aqui, porque nós que convidamos, pá pá pá, pá pá pá. E tem uma coisa: você vai fazer a conferência de acordo com o livro”. Falei: “Pô, mas fica chato, ninguém tá fazendo assim porque tá um horror.”, “Você vai fazer igualzinho o livro! Pode fazer que nós estamos apoiando, vai dar certo, não se preocupa”. Bom, dia da conferência: foi lá o diretor de vendas, o Paulo ________, porque foi a última, né, e ainda atrasada, todo mundo foi lá ver. Puta merda, quando tava as plaquinhas, as mulheres começaram a sentar nas plaquinhas, o Gastão chegou pra mim, que era o diretor, falou: “Pô, você vai fazer da plaquinha?” ______________, ele falou: “Ué, mas não sei não, teve lugar aí que esse negócio... E aqui tem baiana, sabe? Baiana é do peru!”.Eu falei: “Não, pode deixar, elas tão de acordo”, “Como, de acordo?”. Eu falei: “Não, eu falei que vai ser assim.” Mas elas que tinham falado que ia ser assim. (risos). Puta, olha, toda vez que eu tinha dificuldade de falar, as mulheres batiam palma.
P1 – (risos)
R – Foi um estouro a conferência. O Gastão pegou, fez uma reunião com todos os gerentes de vendas e usou minha reunião pra dar exemplo de como se deve... Foi minha primeira! (risos) De como se deve fazer uma reunião. Os caras não acreditavam. Com razão, foi tudo armado pra agradar a “chefança” aí, entendeu, elas que arrumaram isso. E a partir daí, eu convivi e aprendi tudo com elas, o que era bom, o que era ruim, tudo. Tantos anos eu trabalhei com tanta mulher na Avon, eu nunca fui desrespeitado, nunca pra dizer: “Não, alguma mulher falou alguma coisa que tenha me deixado sem graça”. Nunca, nunca, nunca. E a adoração era recíproca, eu gostava delas, elas gostavam de mim e me trataram como filho delas mesmo, durante muito tempo. E o dia que eu fui embora, pra Argentina, foi uma comoção. O dia que eu voltei, tem um vídeo aí, o dia que eu voltei da Argentina, elas não me deixaram falar. Porque foi no Rio das Pedras, aqui no (Mediterrane?), e as mulheres se davam o braço, gritavam, pulavam. Tinham 800 mulheres gritando e pulando. (risos) E foi uma experiência inesquecível. Depois, elas criaram relação com as argentinas, e as argentinas provocavam a turma daqui, falavam: “Daqui ninguém tira ele, não sei o quê”. E elas: “Não, ele vai voltar pra cá”, “Não, ninguém vai tirar ele daqui”. Aí armaram uma viagem das brasileiras pra Argentina. Puta vida! Foi Brasil e México, foram pra Argentina numa dessas viagens de prêmio, né? Pra quê! As mexicanas, eu trabalhei com as mexicanas também, conheci elas. Juntou com as brasileiras, as argentinas com um ciúme desgraçado. (risos)
P1 – (risos)
R – Não deixavam encostar em mim! Elas me cercaram e [se] vinham encostar: “Ah, não. Si, si, si, si.” Não deixavam encostar. E essa era a relação, quer dizer, era uma relação gostosa de brincadeira, de amizade, né? E foi assim que foi construída a Avon. A Avon é uma empresa de pessoas, a Avon existe porque tem mais de um milhão de gente vendendo, não é por outra razão. E tem um produto que é o melhor produto do Brasil, é verdade também, né? Eu tô cansado de dizer isso nas entrevistas que eu dou, a turma da Natura me xinga, reclama, mas a Natura não tem tecnologia. Aliás, não é por falta de falar pro Luiz e pro Guilherme, não é falta de falar pra eles. Eles deviam ter, em vez de investido na fábrica, investido em tecnologia, eles não têm produto. A única coisa que eles sabem fazer é perfume, e perfume qualquer um faz, até eu. Então a Avon, como tecnologia, só perde pra Lancôme e ponto, né? E nunca... A Natura nunca vai ter um Renew, nunca vai ter... O Renew ficou uma marca, acumulou uma série de produtos porque a marca ficou forte, né? Mas foi um negócio de “brand” importante quando foi lançado. Então hoje o Renew é uma linha de produtos, não é um produto. Era um produto só, virou uma linha porque a imagem da marca ficou forte. E o Renew é da Avon. E nenhuma companhia no Brasil tem um produto como esse, não tem. Palavra de quem tá no ramo há cinquenta anos.
P1 – E nisso o senhor já tinha voltado pro Brasil, quando o Renew foi lançado?
R – Fui eu quem lancei, em 1993.
[Pausa]
P1 – Vamos começar, então, recomeçar. Então o senhor, conta um pouquinho, antes de ________________
R – Então, eu como gerente de vendas, como tava dizendo pra você, fiz muito sucesso aqui. O cara que era vice-presidente de vendas mundial da Avon me conheceu e quando... Em 1980, centralizaram todas decisões da Avon em Nova Iorque. Em outras palavras, não podia decidir nada em nenhum país, só lá. E aí me levaram pra lá, pra eu ser diretor de vendas pra América Latina, porque eu trabalhei muito no México, trabalhei em todo lugar. E aí, América Latina e Península Ibérica. E aí eu fui lá trabalhar e fiquei entre 1980 e 1983. Em 83, houve uma mudança na Avon. Na época, a Avon estava passando por maus bocados, a ação foi lá embaixo. Aí contrataram uma empresa chamada McKinsey, de consultoria, e eles começaram a estudar a companhia, tal, e a primeira coisa que decidiram foi descentralizar de novo, porque esse negócio de centralizar quem fez isso foi um cara que veio da General Electric, que chamava __________, que fez esse negócio de centralizar. E os caras da McKinsey mudaram isso aí. E aí eu voltei pro Brasil com uma função específica, de lançar lingerie. Por quê? Porque eu tinha trabalhado aqui no Brasil, no Paraná, e tinha... Eu sempre fui muito campeiro, de trabalhar com as mulheres do campo, então as mulheres vendiam lingerie de uma marca... Que uma vez eu falei isso numa reunião e a dona da empresa tava lá. Chamava Hiroshima, que não tem nada a ver com bomba. Isso eu falei numa reunião, a dona da empresa tava lá, numa conferência que eu fiz aí. Ela falou: “Eu sou a dona da bomba”. Eu falei: “Eu falei que não era bomba”, “Não, eu to brincando”. E aí nós decidimos lançar lingerie. Então o Brasil foi o primeiro país a vender coisas não-cosméticas nos seus catálogos, que, naquele tempo, a gente chamava de estratégia de ___________. E a coisa foi legal, deu certo. Deu muita briga porque não tava na estratégia da companhia, era crime falar em vender coisa que não era cosmético. Mas acabou dando certo, foi uma briga de leão, eu lembro disso. E aí deu certo, tal. Aí veio o ________ da companhia, que era o _________, teve aqui no Brasil com o “board”-_________, que era o “board” de acionistas da Avon. Ele me chamou lá pros caras me conhecerem e falou: “Ó, esse cara aqui é o que tá fazendo o negócio de lingerie”. Porque pra ele eu contei, falei: “Eu fiz debaixo do pano, pô, porque...”, e de acordo com o ______. Porque ele falou: “Faz e se alguém falar, foi você que fez, não fui eu”, era o vice-presidente lá. Ele falou: “Ó, você fez muito bem, tal”. Aí me apresentou pra eles lá, tal. Eu pensando que ele ia tá falando da lingerie, dessas coisas aí, ele falou: “Ele é o cara que nós vamos levar pra Argentina”. Falei: “Hein?”
P1 – (risos)
R – “Você vai ser presidente da Argentina o mês que vem”, “Por que eu?”. (risos)
P1 – (risos)
R – Ele falou: “Porque você tem competência pra isso e a Argentina tá perdendo 5 milhões de dólares por ano. Nos últimos anos, perdemos 25 milhões de dólares. Tá aqui a chave, você tem um ano e meio pra recuperar. Não recuperou, fecha.” Puta, que servicinho, hein? Vou eu e minha mulher pra Argentina, mês de julho, nunca vou esquecer. Primeira reunião: os dois vice-presidentes lá dos Estados Unidos, eu, o que era presidente da Avon na Argentina, e toda a diretoria lá, fizeram uma reunião, tô lá. Os gringos: “A partir de agora o Ademar é presidente da Avon na Argentina”. Os caras, uma revolução: “Não, nós não aceitamos, não faz sentido. Como vocês vão fazer uma coisa dessas?”. Sabe o que aconteceu? Os gringos levantaram e foram embora: “Não, nós viemos aqui só pra comunicar”. Bom, aí eu mandei todo mundo sair da sala e falei: “Vou conversar com um por um. Com o grupo na sala, eu não vou conversar”. Aí conversei, expliquei a situação da companhia, expliquei o que eu tava fazendo lá. E eles, sabe: “Macaquito nem pensar”. E nós fomos para um jantar. Minha mulher, coitada, deu uma inflamação no dente, tava com a boca inchada, e a turma, puta, a gente ouvia, né: “O que é que esse macaco veio fazer aqui? Quanto tempo ele vai ficar?”. Um jantar de diretor, e a gente escutando aquilo, tal. Na boa, né, falei: “É, fazer o quê?”. E foi assim que começou. Aí eu fui sair no campo lá, conhecer as mulheres e aí percebi o drama, quer dizer, a Argentina é muito formal, muito símbolo de status na cabeça. E aconteceram umas coisas que eu vou contar pra você porque, que mudou, né? Eu saí no campo, conheci muita gente, gente boa que trabalhava, e comecei a formar um outro ambiente de campo, que nunca um presidente da Avon saiu no campo (lê?), nunca, muito menos no interior, nem pensar. A primeira conferência que foi feita, sabe o que os caras escolheram? Tucumã. Sabe o que é Tucumã? Jardim da República onde proclamou a independência da Argentina, pra me apresentar pras promotoras. E tudo tinha... Eles faziam tudo com duplo sentido. Eu não tô nem aí, falei: “Pô, pro cara, é, mas sabe...”. Que nada, só na boa. Fui lá, dei o recado que tinha que dar e pronto. E fui, trabalhei duro. Aí, a Argentina entrou num problema de inflação, de crise econômica violenta, e nós conseguimos manter a Avon sem demitir ninguém. Criei uma relação com... Lá, o sindicato era um negócio forte. Aqui, a relação com o sindicato... Criei relação com o campo. E aí fazia a reunião de sábado e domingo com a diretoria, pra tomar as decisões da semana. Lá tinha que ser assim, porque se não... Conclusão: passamos isso em um ano e meio, não, [em] um ano a Avon tava no ________ e no segundo ano, a Avon ganhou o _________ a empresa da Avon melhor administrada no mundo, da Avon, porque deu, a primeira vez em seis anos, deu lucro. (risos). E Argentino orgulhoso, não tem coisa melhor na vida, né? Então a coisa pegou e aí ficou todo mundo meu amigo. Eu tinha... eu começava a trabalhar às sete horas porque até sete e meia eu recebia quem quisesse ir na minha sala, seja delegado sindical, seja... Quem quisesse ir lá, eu recebia. A partir das oito eu entrava na função que eu tinha e não podia mais atender, tinha minha agenda. Começaram uma série de greves gerais na Argentina e os caras da CGT exigiram que a Avon entrasse em greve. Aí eu chamei os delegados e eles trouxeram lá o presidente do sindicato, eu falei: “Olha, eu topo fazer um acordo com vocês. Eu paro meia hora, vocês fazem o proselitismo político que vocês quiserem, mas depois volta a trabalhar, porque esse negócio, se parar, quebra. Então eu não posso parar. Eu dou chance pra vocês fazerem, vai, a greve do ponto de vista político que vocês precisam fazer, mas parar não”. Vai pra lá, vai pra cá, uma hora. A Avon não entrou em greve, parava e voltava a trabalhar. A Avon saiu dessa encrenca e se transformou na terceira companhia da Avon no mundo, mesmo com toda essa confusão aí. E ganhou outro ________, a Argentina ganhou dois _________, o Brasil ganhou três: um quando eu era diretor e dois quando eu era presidente. Não, o gerente geral já era o Decinho, o último que ganhou. E, depois, os caras ficaram meus amigos, né? Por exemplo, eu lembro que os delegados do sindicato me convidaram pra um churrasco. Eu falei: “Tudo bem, eu vou”. Fui eu e minha mulher, era perto de __________ lá, interior de Buenos Aires. E os caras: “Não, não vai cara, é uma encrenca pra você. Olha o que eu falo” Os diretores, lá, tinham... “Ah, não tem nada, pô, eu vou num churrasco”. Levei cerveja, caipirinha pra fazer pros caras. E aí minha mulher foi pro negócio lá ajudar a mulher a lavar as louças. Puta, os caras, eles ficaram horrorizados. (risos) É comum, né, você estar numa festa tudo de amigo, um ajuda o outro. Conclusão: caí nas graças dos empregados lá, que os caras me adoravam, não sabiam o que fazer pra me agradar. Aí, quando a Avon saiu da encrenca, sem demitir um funcionário na época de crise, nós conseguimos sair da encrenca, ganhar _______, toda essa história aí. Eu decidi que os delegados do sindicato... Vieram [em] uma comissão, na minha sala, agradecer. Eu falei: “Vocês vieram no lugar errado agradecer porque eu não fiz nada, tô dirigindo a companhia. Eu dei direção, mas não fui eu que fiz. Vocês vão no campo agradecer as mulheres, pô”. Os caras: “Você tá louco, eles vão sindicalizar as mulheres.”
P1 – (risos)
R – Os caras, a primeira vez que colocaram gravata e viajaram de avião, foram comigo, eu fui e acompanhei cada um deles. Tinha conferências, né, pelo interior da Argentina, eu fui com eles. O que eles fizeram as mulheres chorarem... Putz. Isso virou uma bola de neve e a Avon cresceu uma barbaridade. Até hoje é um mercado muito importante pra Avon mundial. Mas é o tal negócio, falar: “O que foi feito na Argentina?”. O que foi feito, assim, de mais grave, foi demitir um diretor só, não mais do que isso, e fechei uma porta, que era a porta de entrada dos diretores. Peguei um fim de semana comprido, chamei um engenheiro e mandei fechar a porta, porque eles não entravam pela porta normal. Quem era diretor chegava depois das nove e meia e pela porta de diretor. Eu achei que tava errado aquilo e olha, acredite ou não, minha sala ficava no canto e eu via a portaria, o guarda: os caras chegavam, não achavam a porta e não entravam. Você acredita? E o guarda falava pro cara: “Não, entra pela porta lá”, “Não, cadê a porta aqui?”. Estavam tão acostumados a entrar pela aquela porta e eu mandei derrubar a divisória entre a diretoria e o escritório, que é pra... Porque não fazia sentido, os caras viviam no isolamento, não sabia nem o que acontecia, pô. Tinha diretor que não sabia como [se] chamava os funcionários dele, porra. Então, o formalismo, a coisa do status, do... Sabe? Essa talvez foi a coisa mais grave e que depois acabou virando piada porque os guardas, todo mundo falava: “Porra, puseram um “mata-burro” aí e os caras não sabiam entrar mais.” (risos)
P1 – (risos)
R – E isso foi a coisa que eu achei como símbolo pra quebrar essa coisa do status. Só isso [que] eu fiz, e dirigi a empresa. Quem fez o trabalho foram eles, não foi eu, o corpo todo, o campo. Que a Avon é o campo, é as mulheres que saem vendendo, não é quem tá lá dentro, que dirige. A gente cria a estratégia da direção, mas quem faz o trabalho é o pessoal... São as pessoas. Por isso que a Avon, desde que foi fundada, pelo _________, quando ele não conseguiu vender perfume porque ele era homem. Em 1886, homem não vendia perfume pra mulher de jeito nenhum, livro vá lá, mas perfume não, ele teve que arrumar _________ pra ajudar ele, certo? Então, a partir daí, existiu a Avon - que era a Califórnia Perfume Corporation, não era nem Avon. Mas ele não foi, mesmo sendo idealizador, não foi competente em fazer. Quem fez a Avon foram as mulheres da Avon.
P1 – E como é que foi a volta ao Brasil?
R – Bom, aí me mandaram pra cá pra fazer negócio de lingerie, dos Estados Unidos. Lancei, foi um sucesso, a coisa foi muito bem. Fizeram meio por baixo do pano porque não tava na estratégia da companhia. Era a primeira vez que a Avon ia vender alguma coisa não-cosmética, que era um crime, nessa época, falar isso na Avon era um tabu, vai. E acabou acontecendo. Foi bem, o mundo todo vende lingerie hoje, passou a ser um negócio de bilhões de dólares pra Avon. E começou aqui no Brasil. Depois, veio o __________ aqui e me convidou pra ir pra Argentina, aí eu fui pra Argentina. Lá, na Argentina, no bem bom, porque todo mundo gostando de mim, eu vivendo uma vida espetacular - Buenos Aires é muito bom de viver, pena que não tem praia lá, mas o resto é bom. E aí me chamaram pra voltar pro Brasil pra reposicionar a companhia, sem dinheiro. Eu falei: “Mas sem dinheiro?”, “Mas você foi pra Argentina, tinha dinheiro?”. Falei: “Não”, “No Brasil, também não vai ter. Você vai lá e faz”.
P1 – E o senhor voltou como presidente?
R – Eu voltei como presidente. Voltei como gerente geral.
P1 – Gerente geral.
R – Mas com uma carta que em _________ meses eu era presidente. Senão, eu não voltaria. Porque tinha uma guerra política aí que eu não queria participar, falei: “Olha, vocês desculpem, mas não vou mexer num negócio que eu não sei ________. Então, se eu não tiver essa carta, eu não vou”. E não deu outra, tentaram mudar. Eu falei: “Olha, tá a carta aqui. Você quer mudar a carta, eu vou embora”. Depois que saiu essa reportagem que vocês vão ver no jornal, que eu não fiz com essa intenção, mas que o paquiderme ia ter que dançar lambada, muita gente se ofendeu. Não os que trabalhavam, viu, coisa de suscetibilidade. Eu tava falando de negócio, não tava falando de pessoas. E aí foi uma guerra, não foi fácil também, o começo. Esse negócio que eu mandei todo o departamento de compras embora e consegui economizar vinte milhões de dólares no inventário por causa de compras, compra... Os caras compravam de tudo e deixavam lá. E não é uma pessoa de você falar: “Não, foi fulano, foi sicrano, beltrano, não”. Era um grupo de pessoas que fazia isso. E aí, com esse dinheiro, eu recuperei a Avon e a Avon virou um “case” de marketing, nessa época, no Brasil. Que hoje na Getúlio Vargas tem o “case” da Avon, todas as faculdades tem, a ESPM, todos eles tem o case da Avon pra mostrar como se faz “brand”, que foi o caso do Renew, e como recuperar a imagem de uma companhia. Que ninguém acreditava que fosse possível recuperar a imagem. Por isso que eu disse pra você, né, que ___________ que a gente fazia e ficava atrás de espelho, o Dualib, que sempre foi um amigo meu, que é da DPZ. Então o Roberto falava: “Ademar, onde tem ódio, tem relação”. As mulheres falavam da Avon com tanta bronca, depois ela joga a bolsa em cima da mesa e tem coisa da Avon lá. Então, se essa bronca fosse verdadeira, não teria. Então é coisa de... Psíquica. Se tem ódio, tem relação, vamos transformar esse ódio em outra coisa.
P1 – E o que vocês fizeram?
R – Foi por onde nós começamos. E com muito cuidado, reformulamos toda a linha de produto, entramos na mídia. Primeiro, na mídia empresarial, depois na mídia televisiva e impressa, com muito cuidado, mudando a imagem. Então, eu tive... O primeiro anúncio da Avon está aí, vocês podem ver. Era contando a história da Avon, ninguém conhecia. Então nós gravamos com aquela menina que trabalhou bastante tempo no Fantástico, a...
P1 – Luiza Brunet?
R – Não, a Luiza Brunet era amiga pessoal, nada a ver. A... Acho que é Cibele o nome dela, eu não lembro agora, era uma moça que trabalhou no Fantástico muito tempo. Nós contratamos ela pra fazer essa primeira parte que foi a reintrodução da Avon na mídia, que contava a história da Avon. Que a Avon era uma empresa internacional, que tinha laboratórios, que tinha pá, pá, pá, ninguém sabia nada. E passou na Globo durante duas semanas em dois estágios, né? Passava uma fase, a primeira fase contando a história e a segunda fase contando de produto. E começou assim. Aos poucos, eu fui pessoalmente pro campo, me reuni com todas as mulheres no Brasil todo, lugar por lugar, explicando qual é a estratégia, o que estava por trás disso, qual era o objetivo, o que nós queríamos, com os desempregados dentro de casa a mesma coisa: “Ó, nós queremos chegar aqui. Agora, vocês tem que ajudar. Faz a tua parte que nós fazemos a nossa. Tudo que eu tiver fazendo, vou te contar, mas o que você fizer, conta também, porque ...” E a coisa pegou fogo: a Avon sextuplicou o faturamento em três anos, e a cada ano foi mais do que o dobro. Esses números tão aí num vídeo que fizeram aí pros ________, lá nos Estados Unidos. Em três anos, a Avon mandou mais lucro pros Estados Unidos do que os 33 anos que estava no Brasil.
P1 – Nossa.
R – E virou a cara da Avon brasileira nos Estados Unidos, mudou. E aí eu fui... A McKinsey terminou o raio do estudo deles lá. E a Avon tinha 84 vice-presidentes no mundo todo, a McKinsey transformou em oito presidentes e dividiu o mundo em oito partes. Recomendaram a mim pra ser um deles, e foi onde eu fiquei presidente pra América do Sul e do Conselho Global da Avon. Que no Conselho Global eu fui o único brasileiro participante, mesmo como presidente, o único brasileiro, de região assim, né? Até que os caras esqueceram que eu era brasileiro, acho. (risos)
P1 – (risos)
R – No começo, foi difícil pra mim lá também, “macaco”, pô. Mas a coisa andou bem pro Brasil [e] pra América do Sul. Hoje... A Avon sempre foi muito boa empresa, sempre teve uma preocupação legítima. Foi uma briga de muitos anos pra conseguir ter a mulher dirigindo a Avon, porque a Avon é uma empresa de mulheres e não fazia nenhum sentido ter clube do bolinha. Teve uma época na Avon que nenhuma mulher participava da direção, né? Eu pus a primeira diretora da Avon na Argentina, eu fiz a primeira diretora da Avon no Brasil. E nós contratamos a Andréa ________ que hoje é ________ da companhia, quer dizer, com esse objetivo. Como preparamos a Eneida com esse objetivo também - depois ela não se deu bem sei lá com o que. Mas a grande verdade é que essa relação de mulheres... Mulher não gosta de ter chefe mulher, é verdade, isso eu aprendi na vida, mas gosta de ter amiga mulher. Então, se a sua chefe é sua amiga, vai dar certo, só não vai dar certo se ela for só chefe. Com homem não é diferente: se você tiver um chefe que é só chefe, não vai dar certo; se tem um chefe que é seu amigo, vai dar certo. Então essa relação tem que existir de aproximação, de identidade, de amizade e de conhecimento mútuo, se não não vai dar certo nunca. Essa coisa de mulher _________ mulher é uma grande bobagem porque durante muito tempo as mulheres que ficavam de chefe pareciam eu no meu começo de carreira, com o lápis na mesa, entendeu? Não faz sentido. Agora, se tem uma mulher que é tua amiga e tua chefe, pô, a coisa rola, não tem problema. Agora, se ela for só chefe, aí é complicado; cria diferenças, ciúme, bronca, entendeu?
P1 – Hum.
R – Eu acho que eu sempre fui de uma escola de administração, que hoje já está superada também. Hoje a experiência é um pouco diferente, que é de “coaching”, quer dizer, você pega um grupo de estrelas, como foi no Brasil - tudo isso que aconteceu não foi eu que fiz não, foi o pessoal daqui, que era um grupo de estrelas, gente muito boa, de muito valor. Você faz a turma jogar, você é só “coaching”, pôe cada um, tira de cada um o seu lugar sem que ninguém seja mais estrela que o outro. Agora, pra isso, você não pode ser estrela: você tem que ser coaching, tem que ser o técnico, tem que arrumar o lugar de cada um, que cada um se sinta bem e que possa fazer seu melhor. Se você descobriu isso, você faz um grande trabalho. Hoje isso tá um pouco superado porque tem a eletrônica, tem outros processos mais avançados de dirigir, mas, no meu tempo, todo o sucesso que eu consegui na vida foi assim: foi observar, descobrir quem é bom no quê. E quem é bom no que é muito fácil descobrir: é só ver o que a pessoa gosta; se ela gosta disso, ela vai ser boa naquilo. [Se] você descobriu isso, já tem uma posição, se descobriu outro, tem outra posição, aí você arma seu time. E vai botando cada um no seu lugar, um dando a bola pro outro, sem encrenca, e a coisa sai maravilhosa. E não tem, seja aqui, seja na Argentina, seja na Espanha, que eu trabalhei, no Japão, na China, não tem nada melhor do que uma equipe vencedora.
P1 – Fala um pouquinho então do Renew, seu Ademar.
R – Bom, o Renew foi... Em 1993, a Avon lançou, nos Estados Unidos, nós estávamos tratando de fazer um lançamento global. Nessa época, eu já trabalhava pros Estados Unidos com a Andréa, que criou o Renew lá. E nós decidimos fazer um lançamento global, porque todo produto chegava dos Estados Unidos no Brasil depois de dois anos. Falei: “Não, já que tem esse, que eu tô recuperando a imagem da Avon, nós vamos usar esse”. Quando eu trouxe o produto pra cá, valia trinta dólares - naquela época, era uma fortuna. E a turma aqui era contra, mesmo porque tinha um grupo aqui que trabalhava com a ideia de criar uma Avon classe A, um negócio diferente. E eu sempre fui contra isso daí, eu era a favor de recuperar a empresa, e não criar outra empresa. Então eu falei: “Não, nós vamos lançar o produto”. E todo mundo era contra, todo mundo. Falei: “Não importa. Se não vender, eu assumo”. Aí lançamos o produto, no quarto trimestre de 1993. À trinta dólares, vendeu trezentas mil unidades. E eu depois na análise, que eu sempre depois disso pra ver onde... ver as vendas, tal. A Avon depois do Renew ficou com 51% da classe A/B, que antes era só Natura. Só que a Natura nunca teve produto desse nível. Então a Avon comeu o mercado deles de cosméticos - hoje eles vendem perfume, 70% do faturamento deles é perfume. Então a... Eles não gostam muito de mim lá não. (risos) E ficou um _________ da Avon muito bem posicionada no mercado. Tanto é assim que se transformou numa linha e que esse guarda-chuva desse _________ ficou com uma série de produtos, que ele, [se] pôr no mercado, a turma compra. A marca ficou forte, e é uma marca Avon, tá lá: “Renew Avon”. Não é Renew Classe A ou seja lá o que for, entendeu?
P1 – Mas como vocês fizeram pra atingir esse pessoal A e B?
R – Então, é o que eu ia falar pra vocês. Depois da análise que eu fazia, onde vendeu mais, tal, eu acabei descobrindo que Renew vendia em favela. Aí eu fui lá pro Rio de Janeiro, com a Marilena Brandão, pra ver a mulher lá que tinha vendido não sei quantos Renew lá. Sabe como elas vendiam? Consórcio. Juntava dez, comprava... Uma vez, por campanha, comprava um, todas pagavam. Era assim que vendia. Então, outra coisa que nunca deve ser esquecida na vida: quem trabalha com mercado, quem entende um pouquinho de mercado, é não definir mercado sem conhecer, né, como no caso da Amazônia. Na Amazônia, não tinha dinheiro, não existia... Não existia banco, não existia computador, mas a mulher sabia quantos ovos valia uma grama de ouro, quanto uma tora de madeira valia de produto da Avon, e só lá ela conhecia. E a Amazônia é um dos grandes vendedores Avon hoje, vende pra chuchu. Tem lugar que ninguém sabe nem que existe, mas por quê? Você tem que deixar o pessoal do lugar adaptar o mercado que eles têm, e respeitar isso. Se eu quisesse pôr computador na Amazônia pra controlar não sei o que, não ia vender nada, entendeu? Igual nas favelas lá, que eu fui lá... No Morro da Providência, foi. Fui lá conversar com a mulher, ela me levou lá pra eu conversar com ela e pra comprovar que foi assim. Você tem que aceitar a estrutura econômica, o lugar. Isso é mercado. O Ivan Zurita, que é presidente da Nestlé, que é meu amigo pessoal, me pediu pra fazer uma conferência lá na Nestlé exatamente sobre esses mercados, porque a Nestlé está perdendo mercado na periferia, mercado periférico - outras marcas invadem a marca Nestlé. Porque a Nestlé fica no cinturão e lá fora já não se vende Leite Moça como se vende aqui, você entendeu? E olhar o mercado, não é trabalhar com estatística de IBGE, essas coisas aí, é ir lá e ver como funciona. Quem trabalha com cosmético, eu sempre disse isso, deve ler revistas internacionais, essa coisa toda que faz parte; você conhece linguagem, produtos, é importante ler. Mas quem trabalha em marketing tem que ir no campo, saber como as pessoas agem, como pensam, e saber de que jeito elas compram. Quando eu abri a Bahia - ninguém queria abrir a Bahia porque a Bahia não tinha renda per capita, isso, em 1970, foi quando eu fiquei gerente de vendas. Nessa época, eu saí no campo aqui com as melhores... Eu pedi pro diretor aí que tava, pra conhecer as melhores revendedoras da Avon. Que eu não queria conhecer [qualquer] revendedora... Eu quero as melhores, pra ver como elas operam, trabalham. Aí eu caí no gasômetro ali no Brás, e tinham quatro mulheres que mandavam carretas pro Nordeste. Carretas de Avon pro Nordeste! Eu falei: “Tem que abrir lá, pô!” Que isso foi outra história gozada da minha vida na Avon, porque eu fui pra lá e aí eu comecei a usar o senso do IBGE pra ver quantas mulheres cabem em cada cidade, que não tinha nada, né, começar. Veio um americano aí, viu eu fazer aquilo: “Pó, o que você tá fazendo?”. Eu mostrei pra ele como eu fazia. Ele: “Ah, você não é um cara de vendas, você é um cara de marketing”. Eu falei: “Olha, eu era de finanças, me falaram que eu era de vendas. Agora eu sou de vendas, você vem falar que eu...”.
P1 – (risos)
R – E eu ainda falei pro cara: “Marketing eu nunca vou ser porque eu não sei falar inglês.” Eu não sabia falar inglês. “Isso é o de menos.” Me mandaram pro ________ lá em Nova York, junto com o Pelé e o Junior Maselli, tava na mesma escola, a gente não podia conversar. Eles trocavam [de] professor [a] cada 45 minutos porque eles se cansavam, imagina a gente. E na Avon tinha tido uma experiência aqui do Brasil que mandaram um cara lá, o cara ficou meio pancada e voltou correndo. Eu falei: “Porra, isso aqui vai sobrar pra mim”. Mas deu certo, no fim. Aí eu fiquei diretor de marketing, antes de ser diretor de vendas. Quando mudaram o João pra gerente geral, me chamaram em Nova York, eu não sabia de nada. Recebo um... Aquele tempo era telex, pra estar, na quinta-feira, em Nova York no domingo. Falei: “Cassete, o que será que aconteceu?”, né? Eu era diretor de marketing e o telex era do _______ Lima, que era chefe do... ________ que era o gerente geral na época. Aí fui falar com o Bueno, falei: “Você tá sabendo o que aconteceu?”. Sabe o que o Bueno falou pra mim: “Você que é amigo dos americanos, você que sabe”. Eu falei: “Eu não sei nada, pô, recebi isso aqui”, ”Eu muito menos”. Chegou lá, fui almoçar com o cara, me falou: “Vai acontecer isso, isso [e] isso. Se você aceitar ser o diretor de vendas, porque o campo, você tem liderança sobre o campo no Brasil. Se você aceitar ser diretor de vendas, o João fica gerente geral. E eu topei. Aí eu tinha um chefe que chamava ________ e o presidente da Avon na época era o ___________, que depois ficou dono da Tiffany. O __________ chamou a reunião lá, eu tava com o __________ que era meu chefe, né, __________, só cobra tinha lá. Aí os caras falaram... O ________ falou: “Nós chamamos a reunião pra comunicar que a partir de agora o Ademar é diretor de vendas lá no Brasil e o João vai ser gerente geral”. Aí o meu chefe falou: “Não, peraí. O Ademar é diretor de marketing lá no Brasil, mas ele colabora pra América Latina inteira, eu não posso perder o Ademar”. O __________ virou pra ele e falou: “Nós chamamos aqui pra comunicar, não é pra você dar sua opinião”. Eu fiquei com uma vergonha! Não sabia onde meter a cara. (risos)
P1 – (risos)
R – E tava mudado já, pô, porque o cara também não tinha sido consultado, com certeza, né. Eles decidiram isso lá e pronto. A mesma coisa quando decidiram me trazer pro Brasil, que eu sabia que não ia ser fácil porque o João não queria sair. Aí eu só vim com uma carta, que em seis meses eu assumia e ele saía, se não, não viria. E, olha, foi difícil, não foi fácil. E não por causa dele, ele é boa pessoa, não tenho nada contra ele, mas é coisa pessoal, sei lá, o cara... Eu costumo dizer que a gente quando está numa posição dessa, o cara deve ser ele mesmo, nunca ser a cadeira, sabe? Cadeira não é gente, presidente da Avon é uma cadeira. Eu sou Ademar, eu posso sentar na cadeira, mas eu não sou a cadeira, você entendeu? E tem gente que não tem consciência disso, tem gente que acha que virou a cadeira. (risos) Ou mistura, não sabe quando é a cadeira, quando é ele. Eu acho que a coisa mais correta num administrador, especialmente, quando atinge níveis muito elevados de posição de mando, é ele saber que quando olham pra ele, a grande maioria das pessoas veem a cadeira, não veem ele. Eu era conhecido como presidente da Avon, não como Ademar. Muita gente me conhecia, eu tenho uma relação simples, tal, tudo bem. Mas a grande maioria das pessoas quando me viam, viam a cadeira, a posição, não viam o Ademar. E você tem que assumir a cadeira, você está lá pra assumir. Só que você tem que ter consciência que não é a cadeira. (risos) E assim sempre foi a minha vida, plena consciência de qualquer... Desde o conselho global, que foi a posição mais alta que eu ocupei na Avon, por todos presidentes de país que eu fui e tal, a cadeira é o que mais a turma via. E foi bacana, por isso eu me emocionei na Argentina, cada um vir com uma garrafa de vinho. 650 empregados, 650 garrafas de vinho. Então é uma coisa que o pessoal separou, a cadeira da pessoa. Eu aprendi a tomar vinho lá. Tomava cerveja, caipirinha, pô, [mas] nunca tomei vinho, eu aprendi a tomar vinho lá. Isso pra mim me tocou, porque eu sempre tive consciência que a maioria das pessoas sempre veem a cadeira. E é verdade isso. Uma pessoa tenha afinidade, é normal, mas é uma grande bobagem... Eu gosto do Fernando Henrique porque a relação que eu tive com ele, todas as vezes que estive com esse cara, ele falava: “Eu estou presidente, eu não sou presidente”. É outro que tem consciência de que a turma olhava pra ele como uma cadeira, pô. (risos) Entendeu? Por isso eu admiro o cara que tem essa consciência de separar ele, como pessoa, que é um cara competente, como é o Lula, como pode ser qualquer um, da cadeira que ocupa no lugar. A cadeira é o que todo mundo vê, a posição. E você faz uma cadeira ser respeitada, mas você não faz uma cadeira respeitar você, não tem jeito.
P1 – Vamos fazer uma pausinha.
[Pausa]
R – As mulheres... Quando você fazia assim com o mecanismo e saía a bala, elas: “Ah!” Parece que foi uma mágica, pô. (risos)
P1 – (risos) Como é que foi isso então, a sua experiência na China?
R – Foi em 88.
P1 – 88.
R – Foi legal.
P1 – Vocês foram implantar lá?
R – Foi o “board” da Avon. A reunião do “board” da Avon foi na China. O Conselho Global e o “Board Director”, e foi o “start” da China.
P1 – Antes não tinha fábrica lá?
R – Começou [a] construir em 88. Em 90, parou tudo, porque teve aquele cara da frente do canhão, lembra, na Praça Celestial. Lá, os caras proibiram tudo. Que a lei continua, [é] bravo o negócio. Hoje é mais fácil, naquele tempo não. Depois retomou a Avon, mas bem. Mas é... Outra hora eles pararam porque tinha mais revendedora do que filiado do Partido em alguns lugares, então eles controlam, né, pararam. A coisa lá é assim, vai e vem. A fábrica da Avon é em ________, no sul da China.
P1 – Certo. E essa questão das mulheres não conhecerem ____________
R – Não tinha, não havia. Eu tava com a minha mulher, a gente naquela Praça Celestial lá, os caras pegando no cabelo dela pra ver como é que era. Acredite ou não, mas era assim mesmo, a gente parecia bicho, pô.
P1 – (risos)
R - É gozado, mas era assim. Hoje não, mudou tudo, né, mas naquela época era assim. Eu nunca esqueço, neguinho se aproximava da minha mulher e começava a alisar o cabelo dela pra ver se era de verdade.
P1 – (risos)
R – Eu falava: “Deixa, deixa. Tudo bem.”
P1 – Entendi.
R – Ou mulheres pegavam no cabelo pra ver. É uma coisa... E aquilo evoluiu com uma rapidez inacreditável! Naquela época, Beijing [Pequim], em março de 88, Beijing é a capital da China, 60% da população tinha hepatite porque a água era contaminada. Quando nós fomos viajar, ainda não tinham inaugurado o tal do hotel que nós ficamos, então a solução nossa era levar papel higiênico, sabonete, porque lá não tinha. Quando nós chegamos, um puta hotel, tudo de marfim, cristal, uma coisa luxuosíssima, e lá dentro trabalhavam filhos dos caras do governo e ninguém tinha comunicação com o mundo exterior. Uma coisa impressionante. Os palitinhos de marfim, coisa do arco da velha. E uma hora chegou ao ponto, tinha uma mulher que me enchia o saco, que era quem me acompanhava. Aonde eu ia, até no banheiro, ela ficava na porta, pô. Era uma moça. Aí eu tava com ela numa van e passou uma limusine Mercedes, com um cara de cinza, que ainda nem existia, com aquele terninho aqui, é um bam-bam-bam, um cobra. Aí passou um cara desses numa limusine Mercedes. Aí eu... Uma pergunta tonta, mas eu queria saber: “No teu país quem anda num carro desses?”. Falando inglês porque não... A mulher vira pra mim e fala: “E no teu?”, “O meu pai é muito pobre, não tem esse carro. Eu sou brasileiro”, “Como, brasileiro?”, “Eu sou brasileiro”, “Mas é convidado do governo chinês, americano”. Eu falei: “Não, sou brasileiro. Olha o meu passaporte. No meu país não tem esse carro”. E não tinha mesmo, nunca vi uma limusine novinha Mercedes aqui, pô. E a mulher não falou mais comigo. Politizada, né? Eu não falei nesse sentido, só quis saber, pode ser que o cara é ministro, pode ser sei lá. Devia ser um ricaço chinês. (risos)
P1 – (risos) Com certeza.
R – E era assim a China.
P1 – Tá certo. Seu Ademar, vamos falar um pouquinho então da venda direta. Qual a importância da venda direta pra Avon?
R – Bom, a venda direta na Avon é a razão da fundação da Avon, né? A venda direta tem uma vantagem imensa sobre os competidores tradicionais. Por quê? Porque é uma venda que chega direto no consumidor: número um. Número dois: cria uma relação de confiança, que a revendedora cria com o consumidor. Terceiro: o custo de distribuição não tem ________, ou seja, uma revendedora guarda os produtos tudo na casa dela, na garagem, na cozinha, no... Quando as outras empresas precisam de depósito, computador, iluminação, guarda. E na Avon tem mais de um milhão de pessoas vendendo e que guardam os produtos nesses lugares, é o sistema de distribuição mais perfeito que existe. Essas são algumas das vantagens da venda direta, mas a maior vantagem da venda direta é a relação consumidor-cliente. Uma mulher, quando compra um produto, especialmente, de beleza, tem uma aspiração, vamos dizer, que as pessoas têm necessidades, desejos e aspirações. Se você descobrir uma delas, dá negócio. (risos)
P1 – (risos)
R – E as mulheres têm uma aspiração de ter a pele bonita, não importa a idade. De ter a pele bonita, bem tratada, que as pessoas olhem e gostem. E não tem nada melhor do que quando você compra um produto e com essa aspiração, depois de uma semana, passa alguém na tua casa e fala: “Porra, ficou melhor, hein? Deu certo”. E aí cria uma relação que não mais desaparece. Então essa é o fundamento da venda direta, e muita gente não percebe isso. A venda por impulso, por comunicação, hoje tem o neuromarketing que a turma faz pesquisa qualitativa, que é uma das matérias que eu trabalho aí, com... Que não tem mais pesquisa qualitativa. O MIT, lá nos Estados Unidos, descobriu a qualitativa feito com tomografia de cérebro. Então eles põem um filme na tua frente, põe aquele troço lá e o teu cérebro... Conforme o teu cérebro reage... Não é o que você fala, é o que eles veem no teu cérebro reagir, é o que funciona. Então mudou muito, a tecnologia cada dia avança, muda. Agora, essa relação ninguém quebra, que é uma relação entre pessoas. Então, no caso da Avon, muita gente fala [de] venda direta [e] se preocupa muito com um negócio que chama “turnover” [rotatividade de pessoal], né? _________________. E é uma grande bobagem, porque quem sai, vira consumidor. (risos) Quem entra, fica consumidor. Logo, não termina nunca essa relação. Quando você fala que tem um milhão e poucas mil revendedoras vendendo, saíram um milhão, entraram um milhão, e tem outros milhões atrás ou aqui dentro, aí fora, mas tem uma relação. Então não tem lugar que você vá, em nenhum lugar, aqui no Brasil, especialmente... Eu ainda estive na minha médica ontem e a secretária dela tava com o folheto da Avon.
P1 – (risos)
P2 – (risos)
R – A minha médica chama __________. E ela é uma das pessoas que esteve envolvida com a Avon, nesse negócio de câncer e tal. É uma papa desse assunto aí. Ela tem um prêmio lá da Avon que ela ganhou, uma mulher muito competente. E a secretária dela tava com o folheto da Avon. Ela não tava lá ontem, mas as secretárias dela tavam tudo olhando o folheto da Avon lá.
P1 – (risos)
R – Então... E aconteceu: você vai na Natura e tem gente que tem o folheto Avon. No banheiro, entendeu? Então a coisa cria uma relação e aí eu poderia tá falando pra vocês porque, às vezes, eu faço apresentação disso durante duas horas, mas, na verdade, a mídia impressa da Avon é mais forte do que a mídia eletrônica do líder de audiência do Globo, que atinge 70 milhões de pessoas. A mídia da Avon atinge 140 milhões de pessoas, o dobro. E é mídia impressa, grava mais. Então é esse processo, não tem volta. Quando chegou aí não tem mais volta. A turma... Muita gente, durante muito tempo, dentro da Avon, lá no Conselho Global, eles discutiam muito isso, porque na Europa é diferente, cada lugar é diferente. E a turma questiona muito venda direta, que é um negócio de gente pobre, não é uma coisa glamurosa, e com marca glamurosa não funciona, sabe, esse tipo de coisa. É tudo uma grande bobagem, tanto é que a Nestlé está atrás disso. (risos) Na verdade, é um sistema de distribuição inigualável. Se uma empresa como o Submarino, por exemplo, descobrisse como ter venda direta com eles, seriam a maior empresa do mundo, porque se é uma venda extraordinária, custa uma nota altíssima pra entregar os produtos deles, entendeu? E pra Avon sabe quanto custa a entrega? Até a casa da mulher, depois nada. Essa a relação custo-benefício do sistema, né, é um sistema barato e eficiente. Então é uma coisa que funciona mesmo, e funciona em qualquer país do mundo. Eu abri muitas Avons por aí. A da Hungria, por exemplo, e na época era, [fazia parte da] Cortina de Ferro, porque eles viam naquela época a Avon como uma empresa que eliminava o intermediário, o grande comércio. Eles eram comunistas, eles achavam que esse era o modelo comunista de negócio. (risos)
P1 – (risos)
P2 – (risos)
R – E eu fui abrir a Avon lá. E isso é verdade, o sistema de distribuição é um sistema de distribuição aberto, não, é fechado. Não superqualifica ninguém. Ninguém precisava ser qualificado pra entrar, basta gostar, entendeu? Parte desse princípio: é uma grande besteira tentar qualificar gente, nunca se qualifica gente antes de conhecê-la, né? Teste psicológico, esses negócios, é pra profissional de alto nível, mas não pra consumidor e revendedora. E tem umas que dão pro negócio e enriquecem fazendo isso, e tem outras que tão lá pra se divertir. Eu conheço uma senhora no ABC, ela tinha 84 anos, acho que a (Albertina?) conhece ela também. E ela toda vez que me via, que eu ia nessas festas, tal, ela me via, ficava do meu lado o tempo todo, sabe por quê?
P1 – Hum?
R – Porque eu mandava um cartãozinho pra ela de aniversário e nem os filhos dela lembravam do aniversário dela. E a mesma coisa era uma outra [mulher] de Santa Catarina. Quer dizer, é um tipo de gente que tem uma carência afetiva às vezes que você tem condição de suprir sem custar nada, só mostrando à pessoa. Não custa nada. E tem gente que não percebe isso, e venda direta não é um negócio qualquer, é um negócio de pessoas - essa é a estrutura da venda direta. E quem pensa que é um negócio qualquer, não vai dar certo. Existem empresas, que por razão ética eu nem quero citar, mas que acham que, por exemplo, o pessoal de vendas é um mal necessário. Quando eu acho que o pessoal de vendas é o coração da empresa, né? Isso são as diferenças de quem enxerga as coisas.
P1 – Uhum.
R – Então, hoje, nas universidades... Eu vou escrever um livro agora com o Marcos Cobra, vamos ver se eu consigo tempo pra fazer, mas sobre isso: como estruturar a venda direta como partindo... Porque não tem nenhum livro escrito [sobre isso]. O Marcos escreveu um livro sobre administração de vendas em 1984, que eu ajudei ele, colaborei pro livro dele. E agora ele quer escrever um livro sobre isso, e vamos ver se dá tempo de fazer isso aí. Mas o pessoal precisa conhecer melhor isso antes de definir como uma... A Avon é líder de mercado no Brasil, tinha perdido pra Natura ano passado, recuperou a posição. O Luís Felipe é um cara sensacional, eu treinei ele na Venezuela, ele veio pro Brasil, treinei ele aqui como diretor de vendas. É um bom moço, conhece o assunto, é um cara bem relacionado, gosta de gente, é um cara que se relaciona legal e o Brasil ganhou muito com a vinda dele, tanto é que recuperou a posição de líder. E a ação da Natura que valia 42 dólares, tá valendo 16. Então ele fez uma mudança importante, recuperou a posição da Avon desde o ano passado. Agora que vai aparecer mesmo, que os analistas aí da bolsa vão encher o saco da turma da Natura, querer saber porque que eles deixaram a Avon passar na frente deles desse jeito, né? Eles não vão saber explicar. (risos)
P1 – (risos)
R – Mas isso é trabalho do moço que tá aí fazendo um bom trabalho.
P1 – Seu Ademar, eu queria que o senhor falasse um pouquinho dessa oportunidade que a Avon dá e sempre deu pras mulheres, inserir as mulheres no mercado de trabalho.
R – Bom, o fundamento da Avon é mulher, o produto é de mulher. A história da Avon começou porque homem não conseguia vender perfume pra mulher, em 1986. Vender livro, vá lá, mas perfume nem pensar. Então aí começou a história e a partir daí sempre foi mulher a estrutura de vendas da Avon, né. E o que aconteceu na Avon durante muitos anos é que administradores, desde os meus tempos de formando, na escola de economia tinha [só] uma mulher na classe. Isso mudou muito, tem muita profissional competente. E as coisas começaram a surgir, e eu acabei, por força da minha atuação no assunto, acabei amigo da Rosa Maria _______, não sei se vocês conhecem, e da Marta Suplicy, que, na época, eram feministas e trabalhavam sério nesse assunto de profissionalização da mulher. E começa no negócio de salário e termina no negócio de posição, né? Porque tem cargo diretor, mulher nem pensar. Esse carimbo que mulher não gostava de chefe mulher, isso é uma grande mentira, ninguém gosta de chefe ruim, todo mundo gosta de chefe amigo, seja homem ou mulher. Então nós conseguimos começar a estruturar isso lá na Avon, a Avon no Conselho Global, nós tínhamos decidido que o sonho nosso era ter uma mulher de ________ na companhia. Eu lembro que a gente até escrevia sobre isso, pra discutir nas reuniões do Conselho Global, fizemos nosso sonho, a nossa visão interna. E acabou acontecendo, para a felicidade geral da nação. Antes disso, começaram a acontecer em outros cargos menores, né? Na Argentina, a primeira diretora mulher foi (Amélia Bascal?), que foi a primeira que ficou diretora de vendas. Tinha também uma outra pecha, que a turma... “As mulheres gostavam de homem e não de mulher”, é uma bobagem. Então puseram uma diretora, foi uma grande diretora de vendas, viemos aqui pro Brasil, também pusemos diretoras: a Eneida foi [a] que coloquei como diretora de planejamento estratégico, a que era uma moça que trabalhava em contabilidade e passou a trabalhar nesse campo - foi uma das primeiras diretoras que aconteceram aqui. Nós começamos a abrir espaço em várias áreas pras mulheres e a coisa se saiu muito bem. No caso da Avon, em especial, é um fundamento: você não pode ter uma empresa de mulheres em que mulher não participa da direção. Não é por questão de sexo, isso ou aquilo, não é, a sensibilidade feminina é exigida quando se trata de corpo muito grande de mulheres, quer dizer, as mulheres entendem mais as mulheres do que... Homem não entende de mulher de jeito nenhum, às vezes, um pouquinho, mas a maior parte das vezes ficam desesperados porque não dá pra entender. Agora, mulher entende mulher, e é muito justo que isso aconteça, e graças a Deus aconteceu. Hoje, a _________ da companhia é uma mulher, no mundo tivemos a Cristina, que foi presidente dos Estados Unidos, tem agora a Susan Croft, que é a presidente operacional da empresa lá nos Estados Unidos. Temos um bando de mulheres no mundo todo dirigindo a empresa e que vai muito bem, gente muito competente, de grande valor e que tem mais sensibilidade com o negócio. E quando eu falo sensibilidade é ter a capacidade de entender, né, sem colocar na frente obstáculos pessoais. E volto a dizer pra vocês, existia ainda um mercado e nas universidades eu tenho sempre que escutar a mesma coisa e repetir sempre a mesma coisa: se você fala que mulher não gosta de chefe mulher é porque você não sabe nem o que é chefe e nem o que é mulher. Se você tem chefe homem, a mesma coisa. Ninguém gosta de ter chefe, pra começar. Agora, se for chefe e teu amigo, você vai gostar, se for chefe e sua amiga, você vai gostar. Uma pessoa interessada em você, que trabalha pra que você progrida, que te vê com bons olhos, que tem tua amizade, você não vai gostar de uma pessoa dessa? Por quê? Por que ela é teu chefe? Não faz sentido, né? Chefe é orientador, não é comandante. Comandante é coisa de navio, de militar, não é de empresa. Então isso é importante, é importante acabar com essas (pechas?). Talvez o estado brasileiro mais difícil é o Rio Grande do Sul, que ali mulher tem faca na bota, mas quando vê homem, tira a faca da bota e joga a bota fora. Então, a grande verdade é que lá tem uma resistência, mas desse tipo, diferentes. “Porque eu vou ter chefe mulher, o que vai pensar meu marido? O que vai pensar fulano, o que vai pensar...” É tudo coisa desse tipo. E quando, na verdade, não é verdade isso, é uma grande bobagem, é cultural. Hoje, no Rio Grande do Sul, eu espero que mude, eles têm lá uma governadora pelo menos, sei lá se vai bem ou mal, mas pelo menos tem, é mulher. E isso é bom, é bom pro país, é bom pro lugar. As oportunidades têm que ser abertas a todos, né, homens e mulheres - não tem também nenhuma restrição a ter homem no comando de nada, né? Aos tipos de ação e de comando sim. Acabei de falar pra você, o cara começou a se sentir cadeira, é melhor tirar o cara de lá porque senão ele vai virar cadeira mesmo e não vai ver nada, é madeira pura, entendeu?
P1 – (risos)
R – Agora, se o cara é um cara que tá com o intuito de fazer “coaching”, de fazer a coisa funcionar, de saber trabalhar em grupo, isso é fundamento no trabalho de quem comanda, de quem tá dirigindo alguma coisa. O meu êxito nunca foi pessoal de ser gênio pra alguma coisa, nunca fui não, a minha genialidade foi descobrir o valor das pessoas e fazer dessas pessoas um grupo que trabalha bem. Esse é o êxito que eu tive na minha vida, que como eu disse pra você, eu nunca pensei em carreira, em nunca pensei: “Vou ser isso, vou ser aquilo”. Hoje eu vou nas universidades, a primeira coisa... Na Getúlio, que eu dou duas vezes por ano aula lá no _______, que é um curso de pós-graduação, eu vou lá e a primeira coisa que os moleques perguntam lá, as moças são... Que é tudo cara formado, fica fazendo dez cursos de mestrado que não vale pra nada. O cara tem que aprender a trabalhar, não a fazer curso, né? Então falavam: “Como foi seu plano de carreira?”, os caras querem saber. Eu falei: “Nenhum”, “Como, nenhum?”. Falei: “Fiz o melhor que podia o que me deram pra fazer.” E é verdade isso. Olha, tô falando do fundo do meu coração, eu nunca bolei um lugar pra sentar, falar: “Vou ser isso, vou ser aquilo”. Verdade, nunca passou pela minha cabeça, por exemplo, na Avon, ser gerente, quanto mais presidente das Américas, Conselho Global, nunca na minha vida. Só o que me davam pra fazer eu fazia o melhor que podia e aí fui indo, quer dizer, a coisa rolou e porque os caras gostaram, porque chefe brigava pra me ter ou porque não sei o que, e a coisa foi rolando. Eu, por exemplo, fui fazer... Eu nunca esqueço na Avon quando introduziram computador, a IBM, mandaram fazer, fizeram lá uns testes da IBM pra ver quem podia trabalhar com isso, né, e tinha que fazer um curso que na época chamava B01, e desgraçadamente eu passei no raio do curso, no curso não, no teste lá. Testaram um monte de gente, era um teste psicológico lá, de lógica - eu passei no raio do teste e me mandaram fazer o curso B01. Meu chefe tava de férias. Eu fui fazer o B01 e passei, fiquei programador, aí quando eu voltei, o meu chefe criou a maior briga com o _________, não deixou eu sair de lá de jeito nenhum. Ele falou: “Não, não, vocês fizeram sujeira porque eu tava de férias, levaram o menino pra fazer um negócio que não é a dele, nós estamos preparando ele pro lugar do ________, vocês vão meter ele de programador de computador. Ele não tem nada a ver com isso”. O Carlos Augusto __________, e o Irineu foram responsáveis pela introdução do computador na Avon, Irineu Ruffo. E ele era meu amigo também, ele que me arrumou essa tralha aí, e eles criaram uma briga e não me deixaram sair de jeito nenhum. Pra você ver. Então, falar: “Bom, eu fiquei lá e deu certo”. Podia ter ido pra outro lugar e também dado certo, não dado, sabe lá. Eu não escolhia lugar, eu nunca escolhi, plano de carreira bom é fazer o teu melhor, e o melhor que você pode, fazer com gosto e gostar do que você faz; esse é um plano de carreira certo. Vai dar certo, faz com alegria.
P1 – Seu Ademar, eu queria perguntar: foram 35 anos de Avon no total?
R – É, 35 e uns quebrado aí. (risos)
P1 – Tá certo. Desses 35 anos, então, quais foram os maiores aprendizados de vida que o senhor tirou?
R – Ah, sei lá, tudo que eu tenho na vida eu aprendi na Avon, minha formação como profissional é inteirinha na Avon, fiz universidades fora do Brasil patrocinada pela Avon - eu fiz Harvard, fiz Columbia, fiz... Enquanto no Conselho Global duas por ano era internado em uma universidade americana, pra reciclar, essas coisas aí - fiz muito curso. Mas o maior aprendizado na Avon foi humano, a Avon é uma empresa de gente, de pessoas, e essa é a maior experiência que você pode ganhar. E qual é essa experiência? Fica pensando e fala: “Bom, tem alguma específica?”. Não, é você virar gente também, porque é aquilo que eu tava dizendo pra você: muitas vezes por questões até de atividade, você vira uma cadeira, uma pessoa qualquer e esquece que é gente, né? E na Avon, a turma não faz você esquecer disso. Quem frequenta o campo - quem se interna não, mas quem frequenta o campo... As pessoas são adoráveis! Você não imagina o carinho, a boa vontade que as pessoas tem com você, quer dizer, coisa de reação que sei lá, podia contar mil coisas aqui, mas é coisa de, por exemplo, você ir num lugar, sentar num chão com um grupo de mulheres. E tá lá sentado com um grupo de mulher, o cara chega lá - o ________ tinha uma fotografia dessa uma vez. E eu tava conversando, elas tavam lá sentadas e eu sentei junto. O __________ veio, tirou uma fotografia e botou numa revista: “O harém do Ademar”.
P1 – (risos)
P2 – (risos)
R – Esse tipo de relação é a que a Avon dá de melhor às pessoas, a formação humana, a relação humana. [De] você não esquecer de seja o que você fizer, você é gente, antes de fazer alguma coisa. E é aprender a ser humilde, né, porque tem muita gente que não tem uma formação, assim, muito bacana, mas tem uma sabedoria que vocês não podem imaginar - você ver coisa como eu vi na Amazônia, ou mesmo lá no Japão. A sabedoria das pessoas é algo que vem da cultura, uma coisa muito inteira que você não vai aprender nunca num livro ou numa escola. Isso, quem frequenta o campo aprende. Você vai acumulando informação e isso vai transformando numa pessoa melhor, mais equilibrada, que sabe respeitar os outros, que tem uma consciência absoluta que nunca é o rei da cocada preta. Então, essas coisas na vida da gente, tem gente que vai perceber isso depois de muito velho - eu tive a sorte de descobrir isso moço. Isso que a Avon faz com as pessoas. Então, se eu pudesse dizer a minha experiência melhor que eu tive na Avon foi me transformar numa pessoa íntegra e boa, se é que eu sou bom assim como eu falo.
P1 – (risos)
P2 – (risos)
R – Mas é o que eu mais aprendi. Eu converso em qualquer nível com qualquer pessoa sem nenhum problema nem de compreensão, nem de entendimento e nem de valorização. As pessoas valem o que elas são como pessoas, não é o que elas parecem, a maioria das pessoas parecem ser, algumas pessoas são. Eu prefiro estar com as pessoas [que] são e não com as que parecem ser. Então isso você aprende muito na Avon, você é o que é. Eu falo do jeito que eu falo, não tenho nenhuma forma de falar mais sofisticada ou menos, é o jeito que eu falo e isso me transformou num cara que subiu na vida. Tudo, sem necessariamente ter um enquadramento, vai. O melhor enquadramento que eu tive é ser gente, ponto. Isso que a Avon ensina, isso que a Avon deve manter, que isso é estrutura desde que ela começou a existir, que é uma empresa de pessoas pra pessoas, isso que a Avon deve manter, a valorização do ser humano através do negócio lucrativo e harmonioso, isso que a Avon deve ser. E muita gente progrediu na vida, muita gente melhorou na vida através dessa empresa, e foi tudo trabalho delas, claro, mas a oportunidade foi dada por uma empresa que valoriza as pessoas. A Avon nunca pode perder isso, o dia que perder e se transformar numa empresa mecânica, eletrônica, perde totalmente esse valor. Essa é minha opinião.
P1 – Seu Ademar, o que o senhor acha da Avon estar resgatando seus 50 anos através desse projeto?
R – Eu acho muito bacana. Aliás, uma coisa que devia ter sido começada antes, porque hoje você tem dificuldade de achar fotos e coisa desse tipo, e por quê? Porque ninguém guardou. Tinha lá, mas alguém sumiu com isso. Eu tinha coleção de todas as revistas da Avon, desde a primeira, tava lá na Avon, que tinha a foto da inauguração. Infelizmente, isso acabou desaparecendo, sei lá. Por quê? O brasileiro tem um problema de memória, quer dizer, tudo o que é velho joga fora, né? Se fosse assim, meus filhos já tinham me jogado fora faz tempo.
P1 – (risos)
R – Então, a grande verdade é que não pode ser assim, tem coisas que tem que preservar. [Se] você viu algumas coisas da Avon muito antigas, aqui, que são coisas pessoais e que eu guardei. A Avon, como empresa, nos Estados Unidos, já fez isso, quer dizer, tem lá um museu [e] aqui nunca fizeram. Eu acho uma iniciativa formidável, vou trabalhar pra recuperar algumas coisas, investigar onde estão as fotos, que eu tenho uma caixa cheinha - ainda vou descobrir onde está, com certeza tá por aí. E a Avon não pode perder essa memória, que é uma história bonita. É uma história que nasceu do nada, eu mesmo quando fui trabalhar na empresa: “Ih, vender perfume porta em porta? Será que é isso que vai ser meu futuro?”’, né? E olha a empresa que saiu, que aconteceu. E a Avon começou pequenininha com um grupo de abnegados, que muitos deles _______ se conheceu e que formou essa empresa. Eu digo que o alicerce da Avon está no homem chamado _________ que conseguiu formar um grupo inigualável dentro da Avon, esse grupo participava eu, o Décio ________, Carlos Augusto da Costa Lima, que não está mais na Avon, faz tempo, Irineu Ruffo. Esse grupo foi o grupo que fez... O João ______ era outro do grupo, trabalhava em contabilidade de custo. Esse grupo fez a companhia acontecer, foi o grupo de abnegados, de entrar 8 horas da manhã e sair 10 da noite do dia seguinte e ninguém ganhava hora extra, quer dizer, a turma era no malho mesmo. E essa turma fez a Avon acontecer e foi muito bacana, foi uma coisa de... Muita coisa de história, risada, mas aconteceu uma belíssima empresa que tá aí, é líder de mercado no Brasil, é uma das maiores empresas do mundo. E não é só o Brasil, tem outros países que participam disso, mas o Brasil é o número [um] fora os Estados Unidos, nós temos muito orgulho de falar isso. Durante muito tempo foi o México, depois do dólar baixo, é nós mesmo.
P1 – (risos)
R – A Argentina é o terceiro, pra vocês saberem. Esse tipo de empresa vale muito, pra nós todos que começamos na empresa muito cedo, tudo garotada, tudo estudante e que participamos de uma fase lindíssima, crescemos com a empresa, uns mais outros menos, mas não importa, né? Estamos todos felizes, e tudo que eu tenho devo à Avon. A minha formação, como pessoa e profissional, [e] a minha estabilidade financeira, eu devo a Avon. Se não fosse a Avon, não teria nada disso. Por isso, sou eternamente grato a companhia que fez de mim um homem e um pai de família.
P1 – O senhor gostou de dar a entrevista?
R – Lógico. A Avon é tudo na minha vida, é o que eu aprendi [a] gostar. (choro) Desculpa, mas não tem como fazer isso.
P1 – Certo.
R – A Avon fez a minha vida e eu sou grato, e o que a Avon precisar de mim, sempre vai ter, não importa o quê. Uma grande empresa.
P1 – Tá certo. (risos)
P2 – (risos)
R – Desculpa.
P1 – O senhor quer falar mais alguma coisa...?
R – Eu quero agradecer a vocês que estiveram aqui, ao Luís Felipe que criou esse projeto, ao _________ que tá, acho que, coordenando o projeto, a todas as pessoas que já participaram desse tipo de coisa. A acolhida que eu tive quando me convidaram a voltar na Avon e comemorar os 50 anos, quer dizer, eu tô numa fase de vida complicada, de doença, mas que eu tô vencendo porque sou guerreiro mesmo, mas isso que eu to vivendo tá fazendo muito bem pra mim. E a Avon, quando eu menos esperava, entrou na jogada de novo! Eu tô muito feliz por isso, só isso.
P1 – Tá certo. Em nome da Avon e do Museu da Pessoa a gente agradece muito a sua participação. Obrigado, seu Ademar.
R – Obrigado vocês.
P1 – Foi ótimo.
[Fim do depoimento]
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