P/1 – Vamos lá! Para começar, eu gostaria que você se apresentasse, dizendo o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Renilda Maria Diniz de Souza.
P/1 – Nasceu em que cidade?
R – Paraíba.
P/1 – E a data?
R – Dezenove de janeiro de 1958.
P/1 – E quais os nomes dos seus pais?
R – Raul Aprígio Diniz e Tereza Maria de Oliveira.
P/1 – E o que eles faziam?
R – Meu pai era agricultor e minha mãe era costureira.
P/1 – Renilda, como você os descreveria, o jeito, o temperamento?
R – Meu pai era muito ciumento, minha mãe muito protetora, mas o meu pai era muito rigoroso com as filhas, porque ele tinha muito ciúmes e era a época, ele foi criado assim e passou pro seus filhos assim, mas graças a Deus a gente foi uma família muito feliz, morava em um sítio, em Malhada Grande. E a gente foi uma família muito feliz de 12 irmãos e eu tenho sete irmãs, comigo oito e os meus irmãos moraram com a gente um bom tempo, depois vieram para o Rio de Janeiro, moraram lá e ficaram três irmãos lá e agora morreu um e agora só tem mais um lá, o outro está no nordeste, mais dois no nordeste e as mulheres têm umas no nordeste e outras aqui, mas graças a Deus minha família nunca se envolveu com negócio de droga, eu não sei nem o que é isso, nunca, meu pai toda vida teve muito cuidado, eu acho que era por isso que ele cuidava tanto. A gente, às vezes, diz que era muito rigoroso, mas ele tinha um lado dele, que era proteger seus filhos. Então a gente aprendeu e somos uma família equilibrada, uma família eu acho muito boa, adoro minha família.
P/1 – E você é mais próxima dos filhos mais velhos ou mais novos?
R – De todos, eu gosto muito, eu tenho uma irmã que eu me apeguei muito, porque a gente estudava junto e ela ia agarrada comigo para escola, em um jumento, no cavalo. E ela mora no nordeste, é uma pena, mas a gente...
Continuar leituraP/1 – Vamos lá! Para começar, eu gostaria que você se apresentasse, dizendo o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Renilda Maria Diniz de Souza.
P/1 – Nasceu em que cidade?
R – Paraíba.
P/1 – E a data?
R – Dezenove de janeiro de 1958.
P/1 – E quais os nomes dos seus pais?
R – Raul Aprígio Diniz e Tereza Maria de Oliveira.
P/1 – E o que eles faziam?
R – Meu pai era agricultor e minha mãe era costureira.
P/1 – Renilda, como você os descreveria, o jeito, o temperamento?
R – Meu pai era muito ciumento, minha mãe muito protetora, mas o meu pai era muito rigoroso com as filhas, porque ele tinha muito ciúmes e era a época, ele foi criado assim e passou pro seus filhos assim, mas graças a Deus a gente foi uma família muito feliz, morava em um sítio, em Malhada Grande. E a gente foi uma família muito feliz de 12 irmãos e eu tenho sete irmãs, comigo oito e os meus irmãos moraram com a gente um bom tempo, depois vieram para o Rio de Janeiro, moraram lá e ficaram três irmãos lá e agora morreu um e agora só tem mais um lá, o outro está no nordeste, mais dois no nordeste e as mulheres têm umas no nordeste e outras aqui, mas graças a Deus minha família nunca se envolveu com negócio de droga, eu não sei nem o que é isso, nunca, meu pai toda vida teve muito cuidado, eu acho que era por isso que ele cuidava tanto. A gente, às vezes, diz que era muito rigoroso, mas ele tinha um lado dele, que era proteger seus filhos. Então a gente aprendeu e somos uma família equilibrada, uma família eu acho muito boa, adoro minha família.
P/1 – E você é mais próxima dos filhos mais velhos ou mais novos?
R – De todos, eu gosto muito, eu tenho uma irmã que eu me apeguei muito, porque a gente estudava junto e ela ia agarrada comigo para escola, em um jumento, no cavalo. E ela mora no nordeste, é uma pena, mas a gente conversa muito e a gente troca muita experiência.
P/1 – E como era sua relação com eles?
R – Aí eu tenho essa irmã, mas eu gosto muito também da minha irmã mais velha, ela é muito centrada no que ela faz e ela protege muito a gente, é muito boa de dar conselhos, sabe? Então, nós somos irmãs que uma ajuda às outras, é muito bom ter irmã, eu adoro ter irmã.
P/1 – E tem algum conselho que você lembra que ela tenha te dado e que te marcou?
R – A minha irmã? Ela sempre fala assim, quando eu estou muito preocupada, ela fala assim, principalmente agora que eu estava preocupada com meu filho, ela disse: “Mulher, se afasta um pouco dele, faça sua parte, mas não morra por ele, porque ele tem a vida dele e você tem a sua e você vai terminar se prejudicando e prejudicando a todo mundo, então tenha calma, tenha calma que isso é uma fase e isso vai passar. Eu sei que você está com medo, mas o medo faz parte da vida, você tem que conviver com ele o tempo todo”. Tem muitos conselhos bons que você, às vezes, está desesperado e você procura uma resposta e você não acha, mas você, às vezes, conversando com as pessoas que você acredita, você consegue se acalmar mais, passa mais confiança e você acredita que vai melhorar.
P/1 – E, Renilda, onde os seus pais nasceram?
R – Na Paraíba também, eles são da Paraíba, o meu marido também é da Paraíba, só meus filhos que nasceram aqui.
P/1 – E você sabe como seus pais se conheceram?
R – Eles são primos, conheceram lá mesmo, eles são primos e foi muito complicado, porque o meu avô tinha muita proteção com as filhas, não deixava chegar nem perto. Então, era complicado, os pais não deixavam eles estudarem, que era para os filhos não aprenderem a escrever carta para namorado, tudo isso tinha e meu pai passava isso para a gente, a gente só aprendeu alguma coisa por causa da minha mãe, porque meu pai tinha na cabeça que se você aprendesse a escrever ou ler, você ia namorar e sair de perto dele. Mas depois, com o tempo, quando ele foi envelhecendo, mas sempre que minha mãe procurava dizer assim: “Não, não é assim, não é porque você não estudou que você não tem que deixar suas filhas aprender, a vida não é assim”. Toda a vida lutou muito, muito mesmo para a gente estudar e ele mudou, ele trouxe até professora para dentro de casa, para a gente estudar. Então, com medo, mas ele fez a parte de pai, foi um pai assim: muito cuidadoso com a gente. Então, nenhum dos meus irmãos deu para bandido, são pessoas honestas, são pessoas que viveram do seu trabalho, porque teve um ensinamento, teve uma base bem feita e isso você passa, isso vai de geração em geração, você passa para os seus filhos e você passa para eles e os nossos filhos vão passando para as outras pessoas, porque você foi criada assim. Então, é muito gratificante saber que você é de uma família rigorosa de caráter, você não pode... eu disse para o meu filho: “Não”. Porque aqui, quando cresceu bastante, teve muita droga e a gente se mudou para São Paulo por causa das drogas, com medo e eu sempre falava: “Meu filho, não use droga, porque é uma coisa que você vai se perder e outra coisa, a gente nunca vai em uma cadeia, porque a gente não é acostumado com isso, não. Você vai sofrer, então preste atenção”. E ele, até com dezoito anos, o pai botava no colo e conversava, porque o meu filho mais velho é muito impossível, ele adora aventura, gosta de moto e é muito aventureiro. Então, eu tenho dois filhos, um totalmente diferente do outro, totalmente. Um é equilibrado, tem tudo do pai e o outro muito... é a alegria da casa, ama sua família, mas é muito aventureiro, adora aventura. Então isso faz com que você, assim, você cria os filhos para o mundo, né? Então, você tem que conversar, não é a escola, que você manda para escola pra ser gente. Não, começa de casa, você tem que dizer ‘sim’ e dizer também ‘não’, dizer ‘não’ para o seu filho. É muito importante isso também, na vida.
P/1 – E, Renilda, ainda na sua infância você lembra na sua casa se tinham costumes de datas comemorativas, vocês costumavam comemorar? Ou se você se lembra de cheiros, de comida?
R – De cheiro eu lembro demais, da comida também, cheiro de comida, cheiro do peixinho que minha mãe fazia no molho, com cimento de coentro, isso aí eu não esqueço, de uma sopa que ela fazia, que isso aí você grava. E o cheiro do perfume dela. Minha mãe era uma pessoa que gostava muito de tomar banho, então ela passou para mim isso, meu filho diz: “Mas essa velha é cheirosa”. E passou e eu lembro dela, o cheiro dela é muito bom. E os costumes de rezar depois do almoço, não comer assim... se você usar chapéu, tem que tirar na mesa, ter respeito, não levantar, está um monte de gente sentado e não levantar e passar no meio das pessoas, meu pai só olhava e a gente tinha esse respeito, é um costume que você passa. Só que é difícil você passar para os filhos, é outra vida agora, é outra vida, meu filho conversa com o pai como se não fosse pai, comigo não, eu já não deixo, eu digo: “Me respeita, eu não quero que você fala assim comigo”. Aí ele já... mas com o pai como se fosse irmão, porque ele deixou, ele conversou tanto que ele o deixou ser assim. O meu filho mais velho, nossa, eles são muito amigos.
P/1 – Você se lembra... você chegou a conhecer os seus avós?
R – Não. Teve uma velhinha que foi para minha casa, que eu a chamava de ‘Mãe velha’. Ela foi no meu nascimento e só saiu depois que morreu, depois de cem anos, ela não tinha família e a gente foi a família dela e ela me lembra muito, ela foi minha... a minha mãe era assim: tinha muito filho, ela ia ter os filhos em Recife, em Campina Grande e a gente ficava com ela, ela nunca bateu na gente, era uma coisa que eu lembro demais, me chama muita atenção e quando eu vim morar aqui em São Paulo ela ainda era viva. Eu tenho uma foto ainda do meu filho com ela no colo, ela o botou no colo, mas ela foi uma segunda mãe e ela me traz lembranças muito boas.
P/1 – Você sabe a história do seu nascimento? Como escolheram o seu nome?
R – Não, não sei, não sei não.
P/1 – E me conta, como era a sua casa?
R – Minha casa era grande, tinha quatro quartos, uma sala enorme, com chão batido antes, era chão assim: não tinha piso. Depois que colocou cimento, mas era, assim, uma das casas melhores que tinha lá, melhores. Meu pai era uma pessoa que gostava muito que, quando as pessoas passassem, ele chamar para tomar um café e ele é uma pessoa muito agradável. Então, a minha casa era um exemplo para todo mundo que passava.
P/1 – Como era antes? As casas eram próximas ou eram mais separadas?
R – Eram separadas, as casas não ficavam muito próximas uma da outra, não. Eram separadas, mas ali todo mundo conhecia a gente e principalmente quando você vai ficando mocinha, que vai chamando atenção, tinham muitas. Então a gente era umas pessoas que o povo dizia assim: “Nossa, você está namorando com a filha do Raul?” Então, era uma disputa (risos).
P/1 – E qual é a sua primeira lembrança da sua vida?
R – A primeira lembrança, assim, que eu gosto mesmo é de eu ficar correndo em um terreiro, de pega-pega, com as minhas... assim: adorava que vinha vizinho ficar com a gente, dormir de noite, mas meus pais nunca deixaram dormir para ficar no mesmo espaço, tinha que brincar e voltar para casa. Meu pai era muito durão, ele gostava muito que a gente trabalhasse sempre e brincasse pouco, mas minha mãe sempre fazia casinha para a gente e fazia campo de futebol para os meninos brincar, para eles terem o espaço deles na nossa casa mesmo, isso aí me lembra bastante.
P/1 – Quais que eram as brincadeiras favoritas da época?
R – Era a bolinha de gude para os homens e para as mulheres era pega-pega e a gente também brincava muito debaixo de casinha, ela fazia uma tenda e a gente brincava de casinha, ela fazia bolinho e levava lá para a gente, a minha mãe fazia isso. Umas brincadeiras também, brincar de... o povo chamava de toca, bater e prender (risos). De barra bandeira, eram essas brincadeiras.
P/1 – E o que você mais gostava de fazer, na infância?
R – De tomar banho de rio, eu amava, porque lá chovia bastante e eu era muito levada, nadava muito e apanhava muito do meu meu pai, porque eu levava a minha irmã mais nova sem saber nadar e ele tinha razão e eu não achava que ele tinha (risos). Adorava ir para o rio e nadar, era muito bom.
P/1 – E nessa época você pensava o que você queria ser, quando crescesse? Você sonhava com o que você queria ser?
R – Eu queria arranjar um trabalho, porque a vida do sítio era muito difícil, você pegava água com jumento, você pegava água no carro de boi, então eu queria sair dali e procurar crescer e fazer alguma coisa, só que eu não tinha uma coisa definida que eu queria ser, eu não tinha e foi aparecendo de repente, assim, vai aparecendo as oportunidades e você tem que pegar as oportunidades da vida.
P/1 – Como era lá, a vida? Vocês tinham energia elétrica?
R – Não. Antes, quando eu morava lá, não tinha energia, a água era distante, você tinha que pegar com muita dificuldade, era muito sofrido, muito sofrido, agora tem tudo: tem energia, tem internet, agora tem tudo e tem também asfalto perto, porque antes não tinha.
P/1 – Você se lembra de algum dia marcante na infância, com seus irmãos ou indo buscar água?
R – Eu lembro de tantas coisas que eu fazia, eu com minha irmã, a gente ria muito nós duas, a gente ia para o roçado pegar capim para botar para as vacas, a ração da vaca e chovia muito e a gente ia colocar o capim na cabeça e uma ficava olhando para outra, só rindo e caía, caía, aí eu dizia: “Meu pai vai vir, vamos embora”. Quando ia saindo, o meu pai estava atrás da gente e a gente passava no riacho com os negócios cheios de barro, com o capim cheio de barro e a vaca não comia, a gente pegava, entrava na água e lavava e saía, mas um peso danado, mas isso era muito gostoso, a gente ria demais (risos). Era muito bom na infância, assim, sabe? Você tem pouca coisa, mas você é feliz, você dá muita risada. A risada é tudo, na infância.
P/1 – Vocês tinham atividades que vocês tinham que fazer todos os dias?
R – Tinha. Todos os dias, você plantava, você apanhava algodão, você ia buscar água, apanhava feijão no roçado, você regava a horta da minha mãe, pegando água longe, não era perto, era longe. Uma coisa que me marca muito é você ir no açude com o jumento, com a roupa, com um monte de bacia para lavar roupa e você lavava aquela roupa bem rapidinho, para você depois tomar banho e deixava a sujeira todinha na roupa, a minha mãe dizia: “Pois você vai voltar, para você lavar essa roupa direito” (risos). Tinha tudo isso, a infância, nossa, você lembra muita coisa e também nos domingos você brinca de baralho, debaixo das plantas, com as primas de Campina Grande. Nossa lembro demais, muito bom.
P/1 – E da escola, quais são suas memórias?
R – A escola, quando eu estudava em Coxixola, ia muita gente do sítio, muita gente, a gente ia em umas quinze pessoas, mas meu pai sempre separava a gente, a gente tinha dois caminhos e a gente só queria ir junto com todo mundo, para ir na farra, e no jumento, correndo, contando as histórias da vida e foi logo no início que começou e chegou a televisão lá nessa cidadezinha e a gente ficava vendo as televisões de lá de fora, nas casas do povo, assistindo as novelas. Então, a gente fazia qualquer coisa para chegar na hora da novela, então o meu pai não gostava e a gente também assistia pelo rádio, a gente adorava a novela do rádio e meu pai era muito bravo e não deixava a gente ver. Depois que ele foi entender, mas no momento ele não deixava e a gente fugia, corria muito no jumento, que era para a gente assistir a novela primeiro, antes de começar a estudar. Você fazia muita coisa para ver as novelas, adorava.
P/1 – Você lembra qual era a novela?
R – Olha, eu lembro da A Viagem e também Éramos Seis, a novela da época lá, que tinha Eva Wilma, era muito bom.
P/1 – E da escola, teve algum professor marcante para você ou professora?
R – Teve, um professor de inglês, um negrinho, que quis namorar comigo e então marcou, bem pretinho e aí meu pai também não queria muito, meu pai disse: “Não, acho que...”. Meu pai tinha muito medo, mas marcou também.
P/1 – E a escola era em uma cidade próxima?
R – Próxima do sítio, uma hora a pé, puxado.
P/1 – E como foi seguindo a sua vida? Você ficou na escola até que idade?
R – Eu fiquei até dezesseis anos, eu e ele, ele já tinha terminado - o meu marido - o primeiro grau e eu fiquei estudando. Como não tinha espaço, a gente começou a estudar dentro de uma igreja e foi ali que começou a nossa história, a nossa vida. E eu terminei namorando com ele dentro dessa igreja e foi na oitava série, aí eu terminei e, quando eu terminei, não tinha mais, lá, como eu estudar. Aí meu tio tinha perdido a mulher, esse meu tio que mora em Campina Grande, aí falou se a gente não queria morar lá e aí fomos eu e mais a minha irmã que eu gosto muito e mais outra, morar lá. Eles acharam a escola, duas vagas para a minha irmã, minhas duas irmãs, só para mim que não achou, aí ele pagou um colégio particular. Sofri muito, sofri muito, porque a alfabetização… eu só sei acento de “café” e “você”, sou triste. Eu engulo muito as palavras, sofri muito para aprender, chorei muito, porque eu queria aprender e não conseguia, porque a alfabetização não foi bem-feita. Mas segui a vida em Campina Grande, ele pagou dois anos, mas eu repeti dois anos em Matemática, aí eu saí do colégio, eu disse: “Meu tio, eu não quero mais que você pague, eu quero estudar em colégio público”. Aí eu fui estudar no Colégio da Prata, em Campina Grande, que Elba Ramalho estudou. Aí estudei lá e fiquei mais ou menos uns cinco anos e o meu marido veio para São Paulo procurar emprego. Aí veio e empregou aqui e depois de uns dois anos ele voltou lá e a gente ficou namorando e depois ficou namorando por carta. Ficou escrevendo por carta. Aí, com três anos a gente noivou e depois a gente casou e eu fiquei em João Pessoa. Eu fiquei em João Pessoa, minha mãe ficou doente e eu voltei para o sítio, parei no terceiro ano do segundo grau, aí ela disse: “Minha filha, você não pode ficar aqui, você tem que procurar alguma coisa para fazer”. Aí minha tia, na época, estava precisando muito de uma pessoa para ficar com a filha dela, para ela trabalhar em João Pessoa. Aí eu fui pra lá e fiquei uns três anos mais ou menos, aí eu tomava conta da menina dela e ela me pagava e a gente ficou escrevendo carta uma para outra. Depois eu vim aqui, porque minha prima... eu não tinha dinheiro para vir aqui em São Paulo, aí eu tenho uma prima que tinha começado a trabalhar, o nome dela é Sônia e ela me deu a passagem, a primeira mensalidade dela ela me deu a passagem, comprou a passagem e disse: “Olha, comprei a passagem para você, vá”. E a gente tem um elo de amizade muito forte. Ela até perdeu, agora na pandemia, um filho dela, muito triste, então eu sofri muito. Mas aí eu vim noiva, conheci aqui, aqui era um terreno, eu conheci e fiquei mais ou menos uns quinze dias.
P/1 – Em São Paulo?
R - Em São Paulo, noiva. Aí eu voltei para o nordeste, aí fiquei na minha casa, lá no sítio, aí quando foi com dois anos, ele foi e a gente casou. Aí a gente veio, em 1984, para cá. Aí começa um novo ciclo da vida da nossa história aqui: eu fui morar em São Paulo, em uma casa do tamanho dessa, mas com a mãe e a irmã.
P/1 – Sua mãe?
R - Não, a mãe dele e duas irmãs, mas não deu muito certo, porque ela tinha muito ciúmes dele, aí terminei pegando uma briga com ela e terminamos separando. Vim morar, fazer essa casa aqui. Aí fizemos essa casa aqui, porque o mesmo senhor que a gente morava, era uma casa desse tamanho, disse: “Quando vocês tiverem um terreno” – ele era pedreiro – “eu vou fazer a casa para vocês, do mesmo tamanho”. E fez do mesmo jeito da casa dele e fez embaixo para minha sogra, só que minha sogra é muito, muito boa, muito carinhosa com meus filhos e ela marcou muito na nossa vida. Então ficamos todos juntos aqui, cada um no seu canto e felizes para sempre (risos).
P/1 – Eu queria saber como foi o começo do namoro, as trocas de cartas, se teve alguma marcante para você?
R – Teve uma carta muito marcante, que minha irmã tinha casado, lá no nordeste e com três meses se separou e eu não queria mais casar, tive medo e minha mãe estava até aqui, em São Paulo e meu marido que é agora falou assim: “Olha, ou você quer ou você não quer. Se você não quiser, a gente vai acabar agora” (risos). Aí isso marcou, aí eu decidi, eu fui conversar até com o padre lá para perguntar, ele disse: “Não, as pessoas são diferentes, não faça isso, não”. E foi a melhor coisa que eu fiz até hoje, foi casar com esse homem, porque eu disse e eu falo para ele: “Eu casaria de novo” e ele diz: “Eu acho que eu não” (risos). Porque ele é muito paciente e eu sou muito agitada. E às vezes, assim, eu termino magoando-o, mas na mesma hora a gente pede desculpa um ao outro e casamento é assim: não tem casamento sem briga, isso é mentira. Mas é muito boa a vida, a nossa vida, muito boa, eu tenho muito medo de perdê-lo, muito.
P/1 – Vocês se casaram lá na Paraíba?
R – Na Paraíba.
P/1 – Como foi o seu casamento?
R – Meu casamento foi muito bom, porque o meu tio quem me deu o meu vestido de casamento, e ele quem foi meu padrinho e ele foi daqui com a mãe dele e a irmã, a gente casou e depois a gente veio de ônibus para cá, porque antes a gente não tinha dinheiro para vir de avião, a gente veio de ônibus. E aqui foi onde tudo começou, lá em São Paulo, com a família dele não deu certo, aí a gente construiu, depois que a gente construiu, a vida mudou, a vida foi melhorando cada dia mais. A gente comprou um carrinho, para levar os meninos lá em cima, eu aprendi a dirigir por causa disso mesmo, aí eu levava meu filho lá no Colégio Raposo Tavares, eu que levava e pegava meu marido, que ficava na casa de uma irmã que mora lá e pegava o meu marido na volta. A gente ficou fazendo isso.
P/1 – Qual é o nome do seu marido?
R – Manuel.
P/1 – E com o que ele trabalhava?
R – Ele trabalhava com mandril, fazia mandril de furadeira, aí depois ele passou a ser encarregado e eu acho que ele passou 33 anos na mesma empresa e saiu aposentado.
P/1 – E logo depois que vocês se casaram, você engravidou?
R – Não, eu fiquei quatro anos sem engravidar, aí tive meu primeiro filho e, para ter o segundo filho foi sete anos, mas não porque eu evitava, foi porque eu não engravidava e meu filho queria muito um irmão, muito, e foi de repente, aí eu fiquei grávida e ele ficou muito feliz. E ele quer muito, ele quer ter cinco filhos, mas a mulher dele não quer, não (risos).
P/1 – Como foi se tornar mãe?
R – Ser mãe é o prêmio maior da vida. Eu acho assim: ser mãe é uma realização sempre da mulher, eu acho que você casa e você quer ser mãe, eu acho uma loucura a pessoa não dar continuidade à vida, pelo menos de um filho ou dois. Eu acho que foi a alegria maior da minha vida, foram os meus filhos, é onde preenche, preenche a casa, ter criança é você... eu já visitei muito orfanato e muitos asilos, a diferença é enorme, porque o asilo você vê só tristeza, e orfanato, por mais tristeza que tenha, você vê alegria. Criança é tudo, é a realização de tudo, é muito bom ser mãe, sou muito realizada em ter meus dois filhos e serem filhos muito presentes.
P/1 – E nesse seu primeiro filho, como foi? Você teve algum apoio, uma rede de apoio, alguma ajuda ou você foi descobrindo tudo meio sozinha?
R – Eu descobri sozinha, descobri sozinha, eu fiquei enjoada e disse: “Eu acho que eu estou grávida”. E fui fazer um exame e estava. E do mesmo jeito do outro: de repente, descobri só. O outro eu fiz um exame, peguei um exame na farmácia e fiz e deu positivo, aí depois eu fiz no laboratório e deu positivo, aí foi descobrindo, mas só.
P/1 – Renilda, você se mudou para Cotia, para cá, quando você estava grávida?
R – Eu estava grávida do meu primeiro filho.
P/1 – Como foi para você chegar aqui em Cotia? Como foi a mudança?
R – Olha, a mudança da expectativa de você ter uma casa e morar só era boa, mas de medo também, porque aqui chovia muito e eu tinha medo de ficar grávida e ter meu filho. Eu tive meu filho lá em São Paulo e fiquei no apartamento da minha irmã, no Centro da cidade, perto da Praça da República, porque eu não saía daqui, não, se chovesse. Então, eu fui para lá, fiquei oito dias lá, aí o tive lá na maternidade, que hoje não existe mais, ali perto da Paulista, sabe? Maternidade São Paulo.
P/1 – Mas como foi a vida aqui? Como era o bairro, na época que você veio?
R – Eu adorava o bairro, depois foi chegando gente aqui na outra rua e a gente fez uma amizade muito sincera, verdadeira. Tem umas pessoas que a gente conhece e sabe da índole das pessoas, muito bom, só que o bairro cresceu muito e nos assustou. Porque aí, com crescimento melhora, mas vem também as dificuldades, as drogas, você tem a preocupação de cuidar dos seus filhos para não entrar nisso, você não conhece, eu não conheço nenhuma droga, eu só conheço álcool, mas droga mesmo eu nunca nem vi. Então, era conversa o tempo todo com os filhos, para ele não entrar, o pai conversando o tempo todo, porque eu acho que é o mais importante. E sempre muita conversa. Eu acho que a raiz de casa é que salva, a conversa o tempo todo faz uma boa família.
P/1 – E da vizinhança, você tinha amigos de bairro? Como era o bairro? Vocês se envolviam?
R – Se envolvia, ia na igreja católica, a gente participava e aí você ia vendo o crescimento do bairro, uma falando para outra para melhorar, não tinha correio, não tinha nada. Você ia atrás, se juntava e ia procurar ajuda com o prefeito. Então a Marly [Andrade] sempre correu muito atrás disso aí, para o bairro crescer.
P/1 – Quando que você conheceu a Marly?
R – Conheci a Marly na igreja, ela ia para igreja, que ela é muito católica, muito, muito, muito e ela ia para igreja, ela nunca faltava e ela me chamava atenção. E também por [tudo que] ela fazia para melhorar o bairro, me chamava atenção. Teve uma disputa de um vizinho aqui, que ele era candidato para presidente de bairro e teve a dela lá e eu votei no presidente que era da minha rua, só que ele era muito ruim, muito ruim e eu queria que ele ganhasse porque ele era da minha rua, mas só que eu via o jeito dela trabalhar no bairro diferente do dele e foi com que eu disse: “Não, mudei, vou votar nessa mulher agora, porque eu estou vendo que o que ela faz é verdadeiro, o que ela fala é de verdade e as ações dela são diferentes da dele, totalmente, é verdadeira”. Aí a gente se juntou depois disso, é muito gratificante em um bairro ter uma pessoa muito guerreira, como ela. E eu fiquei quinze anos na cooperativa, mas foi uma pessoa que me chamou muita atenção e eu não abandono a cooperativa por nada, eu sempre quero trabalhar voluntária, ficar lá e organizar, dar uma força para ela e ajudar, porque ela ainda está lá. Depois que ela sair, aí é diferente, não sei.
P/1 – Conta para a gente, a Marly que criou a cooperativa?
R – Foi, a Marly que criou.
P/1 – Como foi essa história?
R – A história começou para limpar o bairro, porque tem um rio que passa ali e antes tinha peixe, quando a gente chegou aqui, porque não tinha quase ninguém, aí de repente fizeram as casinhas populares aí e veio um monte de gente. E as garrafas pet eles jogavam tudo dentro do rio, aí terminou poluindo e a gente tentando salvar o rio de qualquer maneira, ia tirar a garrafa pet de lá, porque a gente passava na ponte perto da casa dela e a gente tentava tirar. E depois ela viu que estava juntando aquelas garrafas e ela tinha que dar uma destinação para elas. Aí ela foi procurando informações e encontrou gente para comprar, por um preço baixíssimo, mas ela foi muito persistente, eu só ficava aqui na minha casa e ia lá de vez em quando, ajudar assim, como voluntária, porque eu vendia as coisas do bazar, eu vendia as coisas que vinham, muitas vezes ela achava na rua, pedia para gente fazer associação amigos de bairro. Tinha criança lá que estudava no galpão que a gente fez e ela lutava muito para essas crianças ficarem lá, para não ficar na rua depois. Então, arranjava professora, ia lá pedir ao prefeito para botar professor voluntário lá e ela segurava a barra com as crianças, fazia até comida, arrecadava coisa para dar comida para eles. Eu acho que ela fez um trabalho muito lindo na Associação Amigos de Bairro, mas depois ela se envolveu mais com a cooperativa. A cooperativa foi crescendo e ela formou uma cooperativa de verdade. Ela começou a juntar pessoas, porque para formar a cooperativa teria que ter vinte pessoas, aí ela me envolveu, me colocou, só de papel. Ela colocou depois meu filho, porque ele já estava com dezesseis anos, aí ela formou a cooperativa, formou a cooperativa e foi indo. Depois apareceu uma senhora da Alemanha, parece, que deu o pontapé inicial e ajudou a montar a cooperativa. Só que era um local que eles tinham separado, era lá na Santa Maria, aí a gente tomava conta do andamento da cooperativa. E a gente tomava conta, só que a cooperativa, na época, era lá em Santa Maria. Aí, com o tempo, foi passando, a cooperativa se transformou em Coopernova e Marly toda a vida foi a presidenta, até hoje, porque ninguém quer outra pessoa, só quer ela. Quando fala em colocar outra pessoa, a gente não vota e não pode de dois em dois anos tem que trocar, mas ninguém quer, aí ela nunca saiu da cooperativa e ela toda a vida é quem é a presidenta. É um trabalho muito desgastante, ela trabalha no escritório, ela e a outra menina somente, e ela toma conta de um monte de coisa, ela não fica só no escritório, ela vai para a prensa, olha, até psicóloga ela é, de tanto que ela trabalha com esse povo, mas é uma pessoa muito centrada no que ela quer fazer, todos os que vem para cooperativa ela faz e bota em prática. Eu acho que por isso que mudou a história da cooperativa, porque os cursos que eu fiz da Tetra Pak e da USP, foram uns cursos que me chamaram muita atenção. O da Tetra Pak me chamou a atenção que era para você ser um líder e na cooperativa você trabalha muito e quando eu estava fazendo um trabalho lá, eu achei tão interessante essa dinâmica deles. Você está fazendo um trabalho lá na Tetra Pak, ela dando uma aula lá, aí você desenhando a cooperativa, ela foi lá e rabiscou todinho meu desenho, eu disse: “Por que você fez isso?” Ela disse: “Porque na cooperativa é isso: você está trabalhando e de repente você tem que sair e fazer outra coisa”. Então você tem que ter equilíbrio de se manter calma e dizer: “Vou parar tudo e vou fazer, porque o caminho certo é esse”. Aí eu achei muito interessante esse curso e o outro foi do eletrônico que, para mim, foi o pontapé inicial para a cooperativa crescer, que eu aprendi que os resíduos eletrônicos que você, além de você ganhar dinheiro com a separação, você aprendeu a se proteger, porque a gente, na cooperativa, não se protegia, não sabia o que era isso, não usava os EPIs, você trabalhava inocente, pegando nas coisas que não sabia se ia se contaminar. Então isso foi um pontapé inicial para a cooperativa andar na linha, você se encontrar com a realidade da cooperativa, dizer assim: “Não, eu estou trabalhando adequadamente como tem que ser”. Se você não trabalhava é porque você não sabia, porque tudo no mundo que a gente aprendeu, a gente botou em prática na cooperativa, tudo. Então, eu acho muito importante: a cooperativa cresceu porque ela bota em prática [o que aprendeu nos] cursos que ela fez, eu acho os cursos muito interessantes, o curso do Sebrae é excelente, as dinâmicas que eles fazem é muito legal, você aprende muito. Às vezes tem um monte de gente e você acha que as pessoas não vão aprender, mas dá uma lição do Sebrae, é lindo os cursos do Sebrae, eu amo fazer os cursos, porque passa muita segurança para você. É um trabalho que você acha que não vai sair daquilo e você só está ali para separar e não é isso. Você está ali para você ter conhecimento, você passar para as outras pessoas, para você ter uma qualidade de vida melhor, você tem que se cuidar, cuidar do seu corpo e cuidar da cooperativa como se fosse a sua casa. Você aprende que a separação dos resíduos… eu disse para vocês, eu dizia para as meninas lá: “Gente, se você não separar, como você pode dar uma explicação para uma pessoa, se você trabalha na cooperativa só pelo dinheiro? Você tem que trabalhar na cooperativa para você aprender que você trabalha e você faz um trabalho lindo de cidadania, de limpar o meio ambiente e você ganhar dinheiro com isso, tem coisa mais gratificante, mulher? Tem não, não tem coisa mais gratificante”. Para mim foi tudo. Eu, antes, ia de ônibus para o nordeste e depois que eu [comecei a trabalhar] na cooperativa, eu ganhei dinheiro e ia de avião, gente. Eu fiz implante dentário com dinheiro da cooperativa. Isso é muito gratificante: quando você trabalha e você tira do seu trabalho. Muita gente está na rua porque não quer trabalhar, não quer, porque tem trabalho, é você ser persistente no que você quer fazer, seja o que for, porque eu saí do nordeste e eu não sabia de nada, não, o que era reciclagem, eu não sabia de nada e a cooperativa abriu horizontes para mim: eu aprendi dirigir caminhão, eu aprendi a empilhar, a dirigir empilhadeira, eu fiz os cursos. Marly disse: “Toma, vai, faça o que você achar melhor”. E eu me achei, trabalhar na cooperativa foi um espelho de vida, é um trabalho lindo, que as pessoas, às vezes, não dão valor. Mas só em saber que você é pobre, não tem nada para comer e você tirar seu dinheiro ali e de voltar para casa e dizer: “Olha, eu tenho como comer, eu tenho como me alimentar direitinho, eu trabalho em uma cooperativa organizada, preparada e que eu sou um ser humano como outro qualquer, como qualquer outra profissão”. Que muitas vezes você trabalhar em cooperativa é muito triste, porque as pessoas discriminam. Você, às vezes, vai pegar um material de um condomínio e eles fazem você catar da grama, eu já fui, mas é porque eu não deixo. O homem fez eu catar o plástico picadinho na grama e de repente sai um rato perto da casa dele, eu disse: “Por que você está mandando eu catar aqui? Não vou catar, porque você não cuidou da sua reciclagem, criou rato porque você não cuidou, então vou não vou catar, se você quiser você ligue para a presidente de bairro e se ela quiser vir falar com você, ela pode vir, mas eu não vou catar o que você está pedindo”. Que discrimina, você não pode deixar as outras pessoas [te] discriminar. Você tem que [se] impor, por isso que você tem que ir limpar para esses cantos porque, se você for fedido, sujo para um lugar desse, ele pisa em você, caramba, eles pisam, tenho certeza. Se você for uma pessoa limpa, pode ser humilde, uma roupinha humilde, mas seja limpo, que as pessoas lhe valorizam. Eu, toda a vida, fui para a cooperativa muito simples, porque eu fui uma das pessoas que mais podiam um pouquinho e as pessoas me olhavam com outro olhar e eu sempre falei que eu morava na favela, falo: “Eu moro na favela”. Eu moro em uma favela, que o povo aqui é uma favela, que virou uma favela. Não é porque você tem uma casa boa que você quer pisar nos outros. Você não cresce com isso, não, gente, você não cresce, não. Para você valorizar as pessoas, você tem que juntar-se a ela. Quando eu fiz o curso na USP tinha um senhor que era morador de rua e eu não sabia, era morador de rua e ele era de Ribeirão Preto e ele veio e eu queria mostrar minha cooperativa para ele. E ele veio para minha casa e eu o coloquei no melhor lugar para ele dormir e ele chorou que nunca ninguém tinha feito isso. E eu não sabia de onde ele tinha saído, mas você tem que acreditar nas pessoas, porque às vezes a pessoa está ali e você não dá valor, mas são as pessoas inteligentes e que querem crescer. Você não vê o Silvio Santos? A história de vida dele é linda, ele começou do zero e hoje em dia é o que é. A pessoa, se ela não roubar, se ela não usar droga, ela tem meio mundo de conhecimento, gente. Estude, tenha conhecimento, que você vai longe. É isso que a gente fala para os nossos filhos, é a lição. A gente não teve uma infância rica, fui pobre, mas com dignidade e chegar aonde você quiser, é só querer. É isso que eu gosto de passar para as pessoas e passar minha sementinha de esperança nesse mundo de ilusão da vida, porque está muito difícil viver nesse mundo agora, principalmente depois dessa pandemia, que a gente está descrente, com um presidente tão miserável como esse. A gente tem que - principalmente vocês, jovens - mudar a história, pelo menos votar e dar um voto de liberdade, de um carinho mesmo, com confiança, para uma pessoa que preste, porque um homem daquele, que vai... não dá nem para falar.
P/1 – Renilda, como você começou, como foi o seu início na cooperativa?
R – Meu início na cooperativa foi ajudando a Marly, eu sempre trabalhei como voluntária, comecei ajudando-as lá como voluntária e chegou a oportunidade de fazer os cursos e a Marly disse: “Ah, Renilda, você já está sabendo fazer tudo, vem ganhar um dinheirinho”. Aí pronto, foi o que eu quis. E o meu conhecimento com material foi no dia a dia na cooperativa, separando… e os cursos, porque os cursos foram a base do negócio. Depois que eu fiz os cursos na USP eu aprendi que não só eram os resíduos eletrônicos que você tem que separar, eram todos os resíduos que chegavam na cooperativa. Eu fui uma cooperada que me destaquei no curso da USP, que eles me levaram para a Bahia, para o Rio de Janeiro, para Brasília, para eu mostrar a minha experiência que eu tive, de conhecimento. Porque muitas vezes eles estavam passando por cima do alumínio, por cima do papel, que a gente aqui dava muito valor e eles, lá, não. E eu falava: “Por que vocês passam por cima e vocês não pegam, não separam?” Você foi mostrando, com os erros, que você pode separar. Aí eu cheguei depois e a cooperativa foi crescendo, crescendo e a gente teve que alugar outro galpão, porque esse aqui já não cabia mais, pelo grande conhecimento que ela teve, na vivência, o dia a dia na rua. Aí foi aprendendo e hoje em dia tem um monte de condomínios com ela, que eles doam. Então, tem bastante, parece que são três ou quatro caminhões próprios e um terceirizado e tem uns caminhões da prefeitura que ajudam a coletar a reciclagem. Então, tem bastante reciclagem, não falta, mas precisa melhorar muito, tem que ter um grande incentivo. A gente paga, no galpão, acho que é nove ou onze mil e, se você tivesse próprio, você ganharia bem, a cooperativa arranjava mais gente para trabalhar. Quando fica o Poder Público maior de uma cidade junto com as cooperativas, porque antes, mudando de presidente... presidente eu conheci, eles iam no debate, o Lula ia nos debates das cooperativas. Então, a gente tinha um poder e a gente tinha muita ajuda, o curso da USP ajudou bastante. Então, agora você está esquecida, as cooperativas estão esquecidas. Quando você tem o Poder Público junto, dizendo: “vamos”, a coisa melhora para todo mundo. A coisa anda, desenvolve. Eu acho que eles deveriam dar mais valor, agora principalmente, que está precisando tanto de mudanças, mudança em tudo: mudança de pensamento, mudança de mudar mesmo a realidade, de você separar as suas reciclagens em casa, não mandar para o aterro, tem cooperativa precisando disso aí, a minha é uma delas. Tem cooperativas preparadas para receber esses resíduos e a minha é uma delas, se preparou, não só para qualquer resíduo, pelos resíduos eletrônicos, que é um dos que mais contamina e ele dá a destinação correta, a gente tem parceria com HP. A nossa cooperativa está preparada, só não está mais preparada ainda porque não tem um local próprio, que ela precisa dessa ajuda para crescimento, mas conhecimento sobre a reciclagem a gente tem, a gente trabalha como se fosse empresa, com muita coragem e vendo o mundo bem melhor, porque você não pode só pensar no dinheiro, você tem que olhar ao seu redor, você tem que mostrar que você faz a coisa diferente e você pode mudar a história, é só começar e querer, porque eu vi o trabalho que Marly fez nesse bairro, ela mudou a história do bairro, gente. Ela dá trabalho para mais de cinquenta pessoas e isso é muito bom, ver isso, você vê a pessoa chegar de cabeça baixa lá e de repente... está como uma florzinha murcha e de repente você ver florir, ficar cheia de flores e frutificar. Tem coisa mais gratificante que isso? De você ter um trabalho e você ter um resultado e dizer... você passar dez, vinte, quinze anos, nove anos, as pessoas não querem sair da Coopernova, porque tem um trabalho sério, tem um trabalho de honestidade, é isso. Para você não querer sair da cooperativa é porque alguma coisa boa tem. Lá tem convênio médico, paga o Inss, você tem comida, cozinha, que foi com muito sacrifício que a gente tem a cozinha, que eu passei três dias fazendo mais o senhor lá, botando piso, mas nós conseguimos. E para você eu vou mostrar o que a gente consegue quando a gente quer. Eu vim da Paraíba não foi para sofrer aqui, não (risos). Eu vim para dar leite, não foi para tirar leite, não. Quando você tem garra, você vai a qualquer lugar, é só dizer: “Eu quero!” E ter saúde, porque saúde é o mais importante, se cuidar.
P/1 – Renilda, vocês tiveram que enfrentar desafios, no começo? Como vocês captavam esses resíduos? A comunidade, o bairro se envolviam ou vocês tiveram que fazer um trabalho de conscientização para as pessoas começarem a reciclar?
R – Olha, as pessoas que conheciam o trabalho da Marly aqui, no início, eram as pessoas que mais ajudavam. Agora, as pessoas que entraram, as pessoas que mais precisam são as pessoas mais difíceis da gente conquistar, mas foram essas pessoas que foram chegando e que foram arranjando trabalho lá, mas, mesmo assim, dentro do bairro a gente tem mais dificuldade que em outros, você acredita que podia ser diferente, que podia ser linda a história? Mas a história não é tão bonita assim, porque as pessoas não mudam o seu pensamento e o seu raciocínio, elas vão dizer assim: “Eu vou dar esse meu resíduo para a cooperativa, para os outros ganharem dinheiro em cima de mim?” Eles pensam assim. Eles não pensam de limpar a sua vida, de limpar o seu bairro, eles pensam que estão dando dinheiro para outras pessoas, é simplesmente assim, simples assim para a pessoa entender. É muito triste, você olha para esse lado e você diz: “Meu Deus, eu não vou conseguir, não”.
P/1 – Você estava contando do bairro, que antes eles não ajudavam muito, que eles acham que vão dar dinheiro para os outros, né?
R – É. Eu acho que tem muito esse pensamento, sabe? E quando você envolve a pessoa e leva na cooperativa, você mostra outro mundo. Tem muita gente que vai na cooperativa e vê o nosso trabalho, como é lindo e são umas pessoas guerreiras, trabalham muito, muito, muito, para conseguir ganhar o que eles ganham, não é brincadeira não, aquelas mulheres são muito rápidas, essas mulheres que trabalham na esteira. Esses dias eu fui fazer um teste lá semana passada, eu disse: “Marly, eu quero voltar a trabalhar”. Eu fui fazer um teste, mas eu não aguento, não, porque estou velhinha e eles têm uma energia diferente da minha e eles não aceitam que você não produz. Por isso que a Marly não leva gente que tenha dificuldade de droga, é porque a pessoa tem que fazer o tratamento e depois ir, porque ela não consegue competir com aquelas pessoas. Só que eles me aceitam, porque eu mostrei para eles que os cursos que eu fazia na cooperativa, como do eletrônico, da Tetra Pak, fazem a diferença, eu cresci com esses cursos e eu não fiquei lá, só na separação, eu procurei aprender para passar para eles, porque antes eles sofriam muito, não tinha curso e eu fui fazer um curso de empilhadeira no Senai, eu paguei do meu próprio bolso, porque eles não tinham condições e eu disse: “Eu quero ir, gente, vou fazer esse curso”. Cheguei em casa e falei com meu marido e fui. Tem apoio, quando você tem apoio em casa é diferente, você cresce, porque assim: você tem muita dificuldade na cooperativa, mas quando você chega em casa, você tem apoio e você tem um abraço, você vai embora. Porque eu não precisava ir trabalhar lá, porque o meu marido ganhava o que dava para nós nos virarmos, mas eu queria ajudar esse povo, eu queria mostrar para eles que a gente podia fazer diferente e que a gente podia ganhar dinheiro com isso. E fui atrás dos cursos e dizer assim: a empilhadeira, eu fiz o curso de empilhadeira e ninguém acreditava em mim. Quando eu fui empilhar pela primeira vez, todas as mulheres me deixaram sozinha, eu fui carregar o caminhão e eles morreram de medo e foram embora. Então eu fui discriminada dentro da cooperativa, só que quando eu carreguei o caminhão, eu lavei a alma, eu desci, as chamei e disse: “Eu quero saber se vocês acreditam em mim agora? Porque todas nós carregávamos, todo mundo parava para carregar o caminhão e agora eu sozinha carrego o caminhão, será que vocês não vão dar valor a esse trabalho? Eu quero que vocês parem, não só é a separação, vocês têm que fazer os cursos para vocês poderem crescer, gente. Não é só a separação que você vai poder botar a cooperativa para andar, não só é braçalmente, vocês têm que pensar e fazer diferente”. Aí eu fui mostrando para eles, mostrando, mostrando e agora eles acreditam muito no meu trabalho, querem que eu vá para a cooperativa só pra mandar neles, mas eu não nasci para comandar assim, de ficar parado. “Mas, Renilda, manda organizarem, fica só para organizar”. Eu não nasci para isso, eu boto a mão na massa, porque eu sou de fazer, eu sou de ver uma parede suja e ir lá e pintar, eu não sou de ficar parada. Então não dá certo para mim, falei para ela: “Não dá, você sabe que eu sou assim, mulher”. Aí a gente vai se entendendo, desse jeito. Eu ainda estou pagando o meu convênio, que eles têm um convênio médico, ela ainda paga o meu convênio, porque eu faço essas coisas para a cooperativa. E ela não quis me tirar ainda, não sei porque, porque de certo ainda gosta do meu trabalho (risos). E vou vivendo, até ela dizer assim: “Olha, agora não dá mais”. Aí eu fico no meu cantinho, quieta.
P/1 – Renilda, como as pessoas podem ajudar, na separação de resíduo, que aconteça, de fato, a reciclagem? Como as pessoas do bairro ou as pessoas, de modo geral, podem ajudar?
R – Olha, em casa a melhor coisa que tem é você separar o lixo orgânico, lixo de banheiro, que não pode, mas o resto pode ir tudo misturado em um saco só. Pode vidro, pode papel, pode tudo. Só as coisas assim, comparação: você tirou um Danone, está muito sujo? Você não vai gastar água com isso, você lava uma panela e deixa aquele Danoninho ali do lado, depois você vai lá e aproveita aquela água que ficou e lava, não vai gastar. Você tem que aproveitar a água, você tem que ter olho vivo, porque também a água você não pode gastar, porque às vezes você... eu e Marly, sabe o que nós fazíamos? No início a gente lavava os plásticos, mulher, que vinham com resíduo de carne; lavava o leite, para não feder e não existe isso, como você ajudava uma coisa, mas atrapalhava outra, se você não tinha o conhecimento, a gente não tinha conhecimento, mas você pode fazer isso: você pode lavar uma coisa de leite, se você está lavando os pratos, às vezes fica na panela a água e você lava aquelas coisas e vai limpar, é só isso que você tem que fazer e entrar em contato com uma cooperativa mais próxima e fazer a coisa certa. E fazer esse mundo girar, gente, vamos botar isso para frente.
P/1 – Que materiais que a Coopernova trabalha? Quais são?
R – Tem muito material. O principal da cooperativa é o papelão, a latinha e todas as coisas que vem na cooperativa são separadas e vão pro seu devido lugar e vende para as pessoas certas, diretamente para a fábrica de recicladores, ela não vende para atravessadores, graças a Deus que a gente chegou nesse patamar. Por causa do conhecimento, porque a gente lutou muito para chegar até esse ponto, fizemos curso e [fomos] pegando experiência com outras cooperativas, com outras pessoas.
P/2 – Dona Renilda, como foi quando vocês foram descobrindo também que certos materiais podem ser reciclados? Porque teve novidade.
R – Muita novidade.
P/2 – No começo a caixinha do Longa Vida não podia e aí, depois, pôde. No começo...
R – Através dos cursos.
P/2 - Fala para gente, então, sobre essa questão dos materiais novos. Quais foram, o que foi mudando?
R – O que foi mais importante foi o dos resíduos eletrônicos, porque antes ó... e o fio e motor da geladeira, o alumínio e o cobre do motor, todos os motores iam junto da caçamba da sucata e a sucata era vendida por 25 centavos, por vinte centavos. Você não sabia nada que ali tem uma separação e eu só vim saber depois, da separação, depois dos cursos que você faz, eu fiz os cursos e passei para a cooperativa, que a separação era a base do negócio, que você tinha que separar, para você ganhar dinheiro, senão você trabalhava muito só para as pessoas ganharem nas suas costas. Aí, depois disso, pronto, você foi achando o seu caminho, achando compradores novos, você foi se achando e o mundo hoje gira em torno de reciclagem, gente. O povo sabe muito sobre reciclagem, as cooperativas sabem muito de preço e pesquisam muito. Então, é isso que acontece: você vai aprendendo, a cada dia.
P/1 – E como funciona o ciclo da cooperativa, vocês recebem e vendem, separam e vendem? Conta para gente esse ciclo.
R – A gente tem os caminhões na rua, é marcado, todos os dias tem marcação de itinerário e eles fazem a coleta, tem uma esteira com as mulheres separando, tem gente na prensa prensando, para armazenar, tem no eletrônico que a gente não ficou só com eletrônico, porque o eletrônico é pouco, a gente teve que encaixar outras coisas como os fios, como cobre, como acrílico, que era antes tudo jogado no lixo. Muita coisa como chumbo, como alumínio bloco, tem todo tipo de coisa para separar. Agora você começou vendo que aquilo... eu não sei não, que pareceu que clareou o mundo depois que eu fiz o curso, que eu vi que o povo estava ganhando muito dinheiro nas nossas custas. O povo ia lá, pegava as coisas e iam embora e nem pesava. Não tinha dinheiro para comprar uma balança, porque não sobrava. E depois dos cursos, depois do conhecimento, você teve a separação, a separação abriu as portas. A separação é base de tudo. Aí você vende para empresas mesmo recicladoras, aí você dá um salto, porque você teve o conhecimento, quando você não tem o conhecimento, você não sai daqui. E esse pessoal que fica catando na rua, porque eles querem ser independentes, eles querem trabalhar para eles, não querem que ninguém mande neles, porque as cooperativas você acha que tem gente que manda. Tem que mandar, porque senão a pessoa não vai para linha. Tem que ter uma presidente, tem que ter uma vice, tem que ter um tesoureiro e tem que ter uma pessoa que trabalhe no RH, para poder orientar as pessoas. Porque ali a pessoa trabalha para si, mas tem gente que entra ali e acha que é empresa e não é uma empresa, você está trabalhando para você próprio, você tem que dar valor àquele trabalho e saber que aquilo dali é tudo para vocês, paga as despesas e divide entre as pessoas. Então, é explicar o tempo todo isso e muitas vezes as pessoas fazem curso de cooperativismo, porque não sabem as leis, você tem que entender as leis como funcionam, para uma cooperativa poder funcionar adequadamente. Porque muitas vezes você sofre com multas, porque você não sabe, você trabalha em uma cooperativa e você trabalhava sem EPI, você trabalhava sem saber de nada, você trabalhava numa prensa sem usar protetor. Hoje em dia tem um profissional do trabalho que orienta você. Então você faz a coisa errada se você quiser, mas tem tudo uma orientação e tem uma pessoa que estuda o cooperativismo, que está com a Marly desde quando abriu, ela trabalhava na outra, orientando e agora ela está com a gente. Então, é um caminho longo de ser cumprido, não é chegar e eu vou montar uma cooperativa, porque você tem que ter muita força de vontade, muita... dizer assim: “Eu quero crescer e vou e eu quero”. Quando você ganha um pouquinho a mais, você não quer sair desse local, você trabalha muito, mas você ganha. É um trabalho assim: no Natal não tem... não tem domingo, não tem feriado, não tem nada e você trabalha. Eu já trabalhei em um domingo e meu marido fez a janta de Natal e a gente se casou no dia do Natal. Então era uma data muito especial para mim e eu fiquei na cooperativa, porque era um trabalho que no Natal aumenta muito e você tinha um espaço pequeno, você tinha que ficar lá, porque senão, no outro dia não podia entrar os caminhões. Então, você tinha que trabalhar domingo, feriado e tudo. Então, você trabalhava muito e você não tinha um grande resultado, porque você não tinha um trabalho de base bem-feita e agora, depois dos cursos, você tem, você é orientado para você seguir uma coisa certa. Quando você trabalha com os olhos fechados com uma venda você não vai para lugar nenhum, você não enxerga, você está ali vendo e tem tudo para você crescer, mas você não enxerga. E só os cursos é o que salvam, os cursos do Sebrae também, eu sou louca para fazer os cursos do Sebrae (risos). É da hora, gente. Eu quero fazer de horta, sabe? Quero.
P/1 – Renilda, quais eram as suas funções, as suas atividades, dentro da cooperativa?
R – Olha, dentro da cooperativa eu me destaquei em vários momentos, eu me destaquei porque eu não tinha medo de enfrentar, assim, dirigir um caminhão, um caminhão está na frente e o outro não entra, porque não tem ninguém para tirar da frente e eu fui lá e tirava, porque eu aprendi a dirigir, eu digo: “Mas, rapaz, eu sei dirigir um carro, porque eu não sei dirigir uma peste de um caminhão desse?” Dava os meus erros, mas ia, não tinha medo. Assim, você não ter medo e você também ter uma carteira de motorista, você ter feito um curso no Senai e isso você fica mais forte. Quando você não tem ajuda de ninguém, você não vai muito longe, não, porque dizer… você trabalhar com um coletivo é muito gratificante, é todo mundo junto, é uma engrenagem só, quando quebra uma peça, o outro cai. E cooperativa é todo mundo dar as mãos porque, se eu disser para você: “Ah, eu não vou catar isso, não”... Marly faz o teste assim: quando o cara chega e vai fazer um teste lá, se ele passou por cima da vassoura e não a pegou... ela bota no chão de propósito porque, se ele não pegou, ele não passou no teste, porque a cooperativa você tem que ir para lá com uma coisa e voltar com outra, para funcionar, é uma engrenagem interligada entre todos, todo mundo junto, quando um está querendo prejudicar o outro, você olha e diz: “Epa, vem aqui, você está vendo que você está querendo prejudicar, você está vendo que a cooperativa terminou o seu trabalho no sábado e você tem que lavá-la, não tem? Por que você foi embora, se você faz parte e se você ganha o mesmo que eu, se é dividido igual? Não faça isso, não. Você está errado, você não quer ficar na cooperativa?” Tem que chamar e conversar com calma. Eu não sou muito de conversar, mas eu aprendi muito com o curso da Tetra Pak, porque eu achava que eu não era capaz, ela disse: “Você é, você é capaz, porque você tem uma direção certa, você só tem que manter a calma do jeito de falar”. Porque eu sou muito estourada para falar. Quando eu quero um negócio, eu digo: “Vai dar certo, mulher, vai dar certo”. Eu e Marly somos assim, por isso que o negócio andou com a gente, nós duas, é muito bom trabalhar com ela, porque ela não é uma pessoa mole, ela ficou sozinha, saiu um menino que trabalhava com ela e eu saí e a cooperativa não parou na pandemia, foi uma das cooperativas que não fechou. Ela não teve ajuda de ninguém para dar vacina, mas ela fazia teste tirado deles, tirado de todo mundo, fazia teste da covid e a cooperativa não fechou. É lindo esse trabalho demais, mulher, é muito lindo o trabalho dela. Eu falo muito, muito, muito desse trabalho dela. Eu estou fora, mas eu valorizo muito esse trabalho que ela tem. A responsabilidade que ela tem com a cidade, é muito lindo.
P/1 – Nesses anos todos de trabalho você deve ter conhecido muita gente, tem alguma história marcante de alguém que você conheceu, que passou na sua vida, lá na cooperativa?
R – Tem muita história de gente que chega lá de cabeça baixa e triste e que você acha que ele não vai se destacar e você dá oportunidade e ele trabalha e ele vira a história. É isso que eu quero, eu quero ganhar dinheiro com isso. E cresce, porque ele vê sinceridade, vê clareza e honestidade no trabalho da Marly. Tudo o que se faz na cooperativa é comentado entre eles, tudo. Ela é um tipo de psicóloga lá, é muito bonito o trabalho dela: chama para conversar, tem hora que grita. Ninguém nunca tinha colocado a cooperativa ‘no pau’. O menino que trabalhava lá era um rapaz novo, bonito, trabalhava, só que ele falava muito no telefone, fazia as coisas, ficava por trás das coisas e a gente falando, falando e falando com ele. Aí um rapaz se juntou, um rapaz que trabalhava na prensa, disse: “A gente vai se juntar e vamos tirar esses caras que não querem trabalhar”. Nunca tinha acontecido isso. Aí tiraram três pessoas, o povo votou quem queria e tirou três pessoas, só que ele pegou e colocou a cooperativa ‘no pau’. Só que ele mentiu tanto, dizendo que a cooperativa não pagava, não dava férias, que a gente tem descanso, quinze dias de descanso, não fazia isso, só que ela tem tudo por escrito e ele deu muito trabalho e a gente escrevia e relatava o que ele estava falando e ele assinava, mas o rapaz não ganhou nada, ele pediu 150 mil. Não ganhou nada, não teve nem volta, porque anda certo, a cooperativa anda certo, não adianta colocar, não. Não adianta, não, porque ela faz coisa certa demais, porque tem muita gente em cooperativa que rouba. Os presidentes passam a mão, minha filha. Então, lá não tem isso, lá o povo não quer sair, pode perguntar, a maioria do povo lá é de dois anos para lá, muito difícil sair da cooperativa, muito difícil, não sai. E não vou dizer para você que não trabalha, não. Trabalha, mas também ganha o seu dinheiro honestamente e com dignidade e isso que importa para mim.
P/1 – E como você enxerga o trabalho da cooperativa e de todo mundo, todos os membros, todo mundo que faz a engrenagem funcionar? É um trabalho que tem relação com a preservação do meio ambiente e tem esse cuidado com o planeta? Como você vê isso?
R – Tem, porque todos os lugares que a gente vai coletar, a Marly faz com que as coisas... toda vez que vai lá, ela pega as coisas e tem que varrer o local, sabe? Tem que deixar limpinho, não pode só escolher o que você quer, tem que trazer tudo. Então, eu vejo um trabalho diferenciado das outras cooperativas, um trabalho que eles se juntaram e eles não se juntaram só para ganhar o dinheiro, porque tem muitas pessoas que eles só querem ganhar dinheiro e não querem nem saber do mundo. E na cooperativa a Marly já tem esse jeito especial de falar para eles, que não é assim que se ganha dinheiro e que você pode também ajudar o planeta nesse sentido, você pode ganhar dinheiro e pode também salvar muita coisa. Porque antes da reciclagem a maioria das coisas era jogado nas lixeiras e hoje em dia você não vê tanto lixo por aí, porque já tem muita gente sabendo que a reciclagem é um monte de reviravolta, ela vai e volta para o mercado de trabalho. Ela é uma coisa de transformação, ela transforma, ela volta para o ciclo novamente. Então, quando você vai na cooperativa, muita gente tem esse olhar diferenciado, você leva criança que olha, pergunta. Então a gente também dá essa visão para as crianças de colégio, então a gente mostra o caminho e, quando ele vai na cooperativa, ele acha diferente. Antes, quando você entrava, quando as crianças entravam na cooperativa, eles ficavam tudo querendo botar máscara, com nojo de tudo que chega na cooperativa, mas quando ele ia na Coopernova, ele disse: “Ué, como aqui não fede? Como aqui é diferente e aqui está aparecendo uma empresa?” Muita gente pergunta isso, porque tem um cuidado de você botar as coisas tudo no lugar, não é jogar de qualquer jeito, tem um momento quando chega os caminhões para descarregar, que vira bagunça, mas depois a cooperativa fica brilhando, no final do dia. O importante é isso: é organização, é o jeito sério de trabalhar, é o jeito de querer mudar e você só muda se você quiser; se você não quiser, você não fica lá não, se você não quiser mudar você não fica lá na cooperativa, porque o trabalho nosso é diferente, é de um grande conhecimento que a gente quer pôr para frente e quer dizer: “Nós vamos mudar essa história”. E o povo tem consciência que a Coopernova levanta a bandeira dela e dá uma lição em qualquer lugar que ela passa e eu fico muito feliz de fazer parte dela, é muito gratificante dizer que eu sou uma catadora e sou muito orgulhosa disso, que eu não tive só a profissão de dona de casa e de mãe, teve uma profissão de ajudar o mundo a melhorar e ganhar dinheiro com isso, que é o mais gratificante ainda é você dizer: “Eu posso melhorar não só a minha vida, mas tantas outras que ficaram ao meu redor, que eu pude ajudar”. É muito bom. E você vê a pessoa desanimada e ali você vê florir e ter frutos e não é fruta azeda, não, é bem docinho e bom, hein? (risos) A história é muito boa, eu passo o dia inteiro (risos).
P/1 – Renilda, como você enxergava a reciclagem e como isso mudou o seu modo de enxergar, após começar a trabalhar com isso, nessa área?
R – Eu enxergava a reciclagem como um lixo, lixo comum, lixo, eu só queria me desfazer dele. Sabia lá o que era aquilo? Sabia de nada. A cooperativa mudou minha cabeça, mudou minha história e eu passo para as outras pessoas isso, eu planto e eu acho que eu colho bastante fruto. E se eu for em um colégio, uma faculdade, eu colho bastante fruto. É muito bom você sair de lá do nordeste sem saber de nada, de nada e saber que isso é uma profissão, que isso virou uma profissão e que você pode sustentar a sua casa com isso aí, pode, tem muita família com isso e você vive feliz. Para você ser feliz não precisa ser um doutor, porque o povo dá muito valor à profissão e eu acho linda essa profissão, essa profissão acho que tem mais valor do que doutor, porque só em você salvar um pouquinho do planeta, você fez muito. Você dá uma lição de vida, gente. Eu já fui dar uma palestra com um monte de doutor, eu lá do nordeste, lá na USP, porque eu falo muito nordestino e eu nunca quis mudar minhas origens e meu jeito de falar. Então quando eu começava a falar, todo mundo ria e eu dizia assim: “Mas, rapaz, eu saí lá do nordeste sem saber de nada e um monte de doutor e eu dando uma lição de vida dessa?” Eles morriam de rir, é muito bom, é muito bom quando você conta a sua história e que você está feliz com ela e que você passa para as pessoas a sua sinceridade e dizer que você pode ser o que é com essa profissão. E você pode ser gente, você pode andar de coração aberto e dizer assim: “Nossa, eu consegui com meu próprio suor”. É muito bom, meu pai me ensinou isso, minha mãe me ensinou isso, minha base é isso: é com honestidade que você vai longe, sincero e verdadeiro sempre. Por isso que eu acho que eu tenho uma família tão centrada e tão boa, muito bom ver no meio da minha família e ter esse marido que eu tenho e meus filhos, para mim é tudo. E só encontrei gente boa na vida, como uma Marly da vida, adoro essa história. É muito bacana contar essa história da cooperativa, eu amo contar essa história, tem muita história por aí minha, tem no Globo Natureza, tem um monte, no SPTV, eu catando aqui no bairro televisão nas caçambas, tem e é uma história da hora, hein?
P/1 – E quais que foram os maiores aprendizados, para você?
R – É você conviver com as pessoas que você acha que eles não vão a lugar nenhum, você vê assim, a pessoa tão humilde e quando você dá uma oportunidade a ele, ele cresce. Você só deu a oportunidade. Se você deu conhecimento, porque o conhecimento é tudo, se você estudou… pena que, quando você é jovem, você não pensa assim, é muito difícil. Eu tenho dois filhos, um totalmente diferente do outro e os dois são engenheiros, mas um passou porque estudou, ele vinha lá de São Bernardo do Campo e estudava aqui em Cotia, ele levava multa em cima da outra, porque ele tinha que chegar na hora. E ele, com a verdade dele, os policiais o deixavam vir, porque ele dizia assim: “Olha, eu estou saindo da Scania, com a roupa da Scania”. E eles: “Por que você botou a corrente na moto?” E ele: “Porque eu não chego lá e eu levo multa em cima de multa, então é melhor o senhor prender a moto, porque eu compro outra, porque eu não consigo pagar as multas e andar com a corrente, para eu chegar lá”. E ele disse: “Então, olha, só não tira corrente aqui perto de mim, mas tire longe e vá se embora”. Muitas vezes é isso, porque a verdade, quando você fala e é sincero, você vai longe também com a verdade. Porque ele conseguiu, porque foi muito sufoco, mas ele fez o que ele queria, estudou e agora estão morando tudo lá, comprou a casa dele e está morando lá. E é só com conhecimento, se você não tiver conhecimento e você estudar mesmo, querendo, porque ele agora fez um curso de inglês e ele agora vai até para Suécia, por causa desses cursos. Se você não estudar, você não consegue, porque você não tem conhecimento. Eu acho que a cooperativa é do mesmo jeito: você vai passando para outras pessoas e as pessoas... é um grande aprendizado, a vida. Você aprende e passa para as outras pessoas. Eu montei aquele ponto e ficava eu e a outra menina, escuta mesmo, aí a menina nunca vendeu as coisas lá e tudo era eu que fazia, que empilhava, que carregava na empilhadeira, que carregava o caminhão para HP, tudo. Aí, quando eu saí da pandemia, a Marly disse: “Siga, aprenda”. E ela aprendeu. Quando eu voltei na cooperativa, para visitar e eu levava uma carta, escrevi uma carta para Marly, agradecendo tudo, só que eu não falei nada para ela, eu disse: “Marly, eu vou falar para ela que ela vai...” e eu falei isso, ela não olhou na minha cara, mas você acha que passarinho que sabe voar tem medo de arame farpado? Não tem, filha, porque eu aprendi, aí eu disse para ela: “Minha filha, jamais eu ia tomar seu lugar, porque eu sei o esforço que você teve para você conquistá-lo. Você também sofreu, mas eu fiquei muito triste do jeito como você me recebeu”. Aí depois ela chorou e me pediu desculpas (risos). Porque só tinha aquele ponto por causa de mim, porque eu fui à luta, mas jamais eu queria tomar esse espaço dela, porque ela também sofreu, era pobre, mas ela ficou com medo. Eu digo: “Você não é capaz?” Marly queria que eu ficasse lá em cima e ela descesse e ela não queria descer, para ficar na esteira, ela se acostumou, só. Aí eu disse: “Não, jamais quero tirar... eu vou para casa, mas não tiro o local dela, não vou fazer isso”. E foi exatamente o que eu fiz. Se você quiser arranjar alguma coisa que eu faça fora, eu faço, mas senão eu não quero tirar, não. Então essa é a história.
P/1 – Renilda, como a pandemia impactou sua vida? Pensando na questão do seu trabalho e também nos aspectos pessoais.
R – Olha, foi um impacto tão grande a pandemia! Eu estava trabalhando na cooperativa, um dia e os casos estavam aumentando bastante, aí meu filho ligou da Scania e disse: “Mãe, pare tudo aí, vai para a chácara mais o pai”. A gente ficou na chácara quinze dias, só que a gente tem a mãe dele aqui, não quer ir para lá e a gente tinha que vir, mas também a gente usava máscara e vinha para ficar com ela, passa o dia lá e vem à noite, porque a gente paga uma pessoa para ficar. E na cooperativa fiquei muito triste em sair, sem saber quando voltava. Eu pensei que ia voltar logo, uns três meses já voltava e até hoje estou aqui, estou em casa e não voltei ainda, porque eu tenho muito medo, tenho muito medo. Muitas vezes o povo queria fazer entrevista comigo e eu não aceitei. Então eu disse a ela: “Se for por telefone, por live, pode me mandar, que eu até ajudo, mas se for para presencial eu não fico, por causa da preocupação”. Eu também tive muito problema com meu filho, que a mulher dele engravidou exatamente na época da pandemia e eu fiquei tão desesperada, porque ela é enfermeira, mas mesmo assim ela não tinha medo e nem ele. Queria chamar a gente para ficar na chácara, que tudo era novidade. Eu ficava muito triste brigando com ele, porque eu não queria. Adoeci de um jeito, que eu tive que procurar um psiquiatra, porque eu já não controlava mais, minha pressão subia e eu tremia, eu não controlava mais a minha emoção por causa que eu via meu filho, que eu tanto amo, fazendo tanta coisa errada. E fui procurar ajuda, não teve outro jeito, não. E até hoje estou tomando remédio controlado por causa disso e eu disse que é por causa dele e ele não acredita que é. Eu disse: “Tudo isso é amor, mas você não acredita e eu posso fazer o quê?” E aconteceu e estou assim. Ele faz muita amizade, ele gosta muito de gente humilde e, como ele morou aqui e ele toda a vida teve mais oportunidade que as outras pessoas, ele quer para levar para piscina. Os meninos da favela gostam muito dele e ele tem aquelas motonas grandes, aí os meninos vêm tudo para andar, ele anda com esses meninos e ele quer levar para lá. Ele faz isso, só que agora a gente não deixou e ele ficava bravo, por causa da pandemia eu não deixava, aí fomos controlando, mas graças a Deus estamos saindo fora e eu não sei quando eu vou parar de tomar esse remédio, porque quando eu penso em parar, o meu coração começa a acelerar e eu não estou boa ainda para parar. Foi esse papo horrível, uma situação que jamais eu pensava em perder do controle e perdi totalmente, não consigo, não. Aí eu passei no médico e ele disse que eu tinha que procurar um psiquiatra e psicólogo, para você preparar sua cabeça para enfrentar essa vida porque, se não tiver ajuda também, se você encucou, você não vai tirar fácil, não. Estou assim, aqui, sem eles, eles vêm direto e vamos para a chácara lá, mas eu peguei e escolhi uma - tem três casas - casinha para ficar bem afastado. Quando eles estão juntos, todo mundo lá perto, eu fico sempre afastada, meu marido e eu também temos muito cuidado e vamos levando a vida, até Deus saber quando, porque o medo é grande de perdê-lo, porque eu perdi o meu cunhado, que toda vez passava o Natal com a gente e perdi esse menino da minha prima, muito, muito, muito triste e era bem novinho. Aí isso aí, o medo faz com que você, às vezes, perca muita coisa, você fica até doente. O medo faz parte da vida, mas nem tanto. Aí eu estou assim.
P/1 – E o que você gosta de fazer nas horas de lazer?
R – Eu gosto de mexer com minhas plantas, adoro plantar, mexer com jardim, fazer negócio de jardinagem, eu adoro. E gosto de pintar parede, gosto de botar piso no chão (risos). Se ver uma casa bagunçada, eu adoro arrumar, para deixar tudo limpo, gosto de ver que tudo organizado, não gosto de muita coisa, não. Só uma geladeira, eu digo: “Meu Deus, não quero mais nada para limpar!” Pano velho, só uma geladeira e um sofá para deitar e uma cama, está bom demais, não quero mais nada, só isso e a gente está feliz. E paz e saúde.
P/1 – E qual é a importância da reciclagem na sua vida?
R – Tudo. Ave Maria! A reciclagem, para mim, foi o que abriu os horizontes do conhecimento, porque eu não tinha conhecimento de nada. Saber que você pode contribuir para salvar o planeta, você é uma peça principal. E você pode ajudar a salvar o planeta, é só você querer e se juntar às pessoas que querem e fazer a diferença. Falei muito, estou cansada (risos).
P/1 – Já está acabando (risos). Eu queria te perguntar quais são os seus sonhos?
R – Olha, agora meu sonho é ficar com meu velho, na minha chácara e ter meus netos lá. Somente, só quero isso: ficar na minha chácara, curtindo minha vida, caminhando, tomando um café da manhã conversando, olhando no olho do meu marido, que ele gosta muito de ser exibido (risos). Brigando com ele e voltando a vida normal, que é uma delícia porque, se ele disser: “Não faz isso, que está errado” e eu faço e dá errado mesmo, não é ele, sempre reclamando, mas sempre para o bem. A vida a dois é muito complicada, mas é muito gostosa (risos).
P/1 – Renilda, que mensagem você gostaria de deixar sobre a importância da reciclagem, da separação de resíduo, da coleta seletiva, para as pessoas?
R – Que as pessoas olhem com carinho, que a reciclagem é uma fonte de trabalho, ela não é lixo, é uma fonte de trabalho e muita gente ganha a vida e sustenta sua família com isso. Vamos reciclar, gente. É o mais importante que você faça como dona de casa, você separar os seus resíduos e mandar para uma cooperativa como a nossa, a Coopernova, que faz um trabalho tão lindo e bem-feito. Isso é muito importante.
P/1 – Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa, contar de alguma passagem da sua vida que eu não tenha te perguntado ou deixar uma mensagem?
R – A mensagem que eu gostaria de deixar é que o povo valorizasse. Agora está um debate sobre o impacto do meio ambiente, do efeito estufa e o Brasil é felizardo de ter a floresta amazônica, só que a gente não tem um presidente preparado para divulgar nosso Brasil, nosso Brasil é muito rico. Eu acho que quando você é consciente, você tem o poder maior, com uma consciência dessa, ele pode mudar a história do seu país. Quando você tem um presidente que faz a diferença, claro que as outras pessoas vão seguir e muitas pessoas vão segui-lo. É como a nossa cooperativa: a nossa cooperativa tem uma presidente que você se espelha nela e você pode mudar a história só naquele ambientezinho que você está, quanto mais o Presidente da República! A gente é dono da maior floresta do mundo e, se você tivesse gente séria, que quer trabalhar de verdade, você mudava tudo isso. Porque eu acho que a cooperativa mudou, porque tem gente querendo mudar e isso você só muda se todos quiserem, se todos estiverem juntos, você consegue chegar lá, eu tenho certeza. Se a gente votar em uma pessoa certa, eu acho que a gente tem muita chance de salvar o planeta, com pequenos gestos, consciente do que você quer fazer e passando para as pessoas mais jovens, que só assim, todo mundo junto, você salva. É isso que eu espero das pessoas, daqui para frente, que pensem diferente. Porque o nosso presidente está deixando a desejar muita coisa e deixa muito triste, porque o Brasil é um lugar que não tem terremoto, não tem vulcão, não tem nada disso e você está vendo que está transformando. O efeito estufa está tão grande, que agora os redemoinhos estão virando poeira, que as casas estão enchendo de poeira, que você nunca viu isso, enchente, tudo diferente. A seca no sul, não tinha isso e está diferente e, se a gente não se juntar, o planeta vai afundar, gente. Nós temos que começar, como a gente começou a cooperativa, querendo limpar o rio e a gente vai chegar lá só se todo mundo estiver junto e um passando a consciência para o outro, [só assim] vamos mudar essa história. Vamos mudar pelo menos no Brasil, né? Que o mundo a gente não pode.
P/2 – Mas a senhora acha que as cooperativas têm um papel nisso?
R – Tem, as cooperativas... não é grande, porque eu acho que eles têm que se juntar ao poder maior. Ter mais apoio, ter mais cursos para o povo aprender, que ela é um trabalho como outro qualquer e as pessoas... é um trabalho de cidadania, de consciência e é um trabalho que a pessoa pode ganhar dinheiro com isso e pode salvar o planeta, se todo mundo tiver junto e as cooperativas são muitas, principalmente aqui em São Paulo, tem bastante cooperativas que podem ajudar nisso.
P/1 – Você gostaria de deixar alguma mensagem ou contar de alguma passagem?
R – A minha mensagem é que todo mundo se una nesse Brasil que a gente está vivendo cheio de tristeza, por causa da pandemia e por causa de tudo que está acontecendo no clima, por causa do efeito estufa. Como a gente é um país rico em floresta, que a gente, pelo menos das cooperativas, tenha a consciência de não só trabalhar para ganhar o dinheiro, mas sim de limpar o mundo, limpar o meio ambiente e se juntar com as outras cooperativas, sabendo que isso é um trabalho que você pode sobreviver dele, mas também você pode salvar o planeta. Essa é a minha mensagem de ânimo e de esperança para todos nós.
P/1 – Como foi, para você, dividir um pouquinho da sua história com a gente, ter lembrado da infância, de toda trajetória, como foi?
R – Eu adorei contar a minha história, porque eu já contei minha história em um livro, mas eu não contei... eu comecei a contar na cidade de Campina Grande, eu não contei do sítio de Malhada Grande. Eu comecei a contar e depois virou livro e eu nem sabia que ia virar (risos). E agora eu comecei a contar minha história da raiz, de onde eu nasci e da onde eu cheguei. Então é muito gratificante, foi muito gratificante para mim saber que isso vai ficar em um local, para todo mundo ver a minha história e dizer e aprender com ela. E botar para a frente, assim: eu posso salvar o planeta também e me juntar com quem quer fazer isso.
P/1 – Nossa, que lindo! Muito obrigada!
R – De nada! (risos)
P/2 – Muito legal!
Recolher