P/1 – Vamos começar nossa entrevista? Eu vou pedir pro senhor falar de novo, nome completo, o local e data de nascimento.
R – Stelo Aleixo de Castro, nascido na cidade de Ouro Preto, 16 de julho de 1924, e fui criado na cidade de Nova Lima, onde eu estudei, fiz os meus cursos e já segui para Belo Horizonte. De Belo Horizonte eu fui transferido para Juiz de Fora, em Juiz de Fora fui convidado para trabalhar na Acesita, e esse é o orgulho maior que eu tenho.
P/1 – Mas vamos voltar um pouquinho, seu Stelo, o senhor falou que o pai do senhor era mineiro.
R – Isto.
P/1 – Trabalhava em que cidade que ele trabalhava?
R – Em Nova Lima.
P/1 – Nova Lima?
R – Nova Lima.
P/1 – O senhor lembra assim da atividade de mineração nessa época, como é que era?
R – Lembro, lembro. Na exploração do ouro as pessoas entravam pra mina pra poder fazer, explorar as pedras pra poder apurar o ouro. E ele trabalhou lá por muitos anos, e consequentemente eu perdi a minha mãe e acompanhei ele pra Nova Lima. E lá eu comecei a desenvolver a minha vida quando eu estava com sete anos, da família eu não tinha ninguém formado. E eu fui o primeiro a ser formado. E com muito orgulho eu digo que aproveitei muito esse incentivo de muitas pessoas que me ajudaram no sentido que eu pudesse ser um cidadão mais tarde, o que me originou a estar hoje aqui na cidade de Timóteo e trabalhar na Acesita, eu fichei na Acesita no dia 8 de dezembro de 1955.
P/1 – 1955.
R – 1955.
P/1 – O senhor fichou como o quê?
R – Eu fichei, eu vim pra trabalhar no setor de contabilidade, mas tendo falecido um cidadão, que era encarregado da Forjaria. Então o Doutor Ventura me indicou que eu fosse trabalhar lá até que conseguisse uma outra pessoa pra ocupar o meu lugar lá.
P/1 – O doutor Brás Ventura era o presidente na época.
R – Na época.
P/1 – Descreve como que ele era assim.
R –...
Continuar leituraP/1 – Vamos começar nossa entrevista? Eu vou pedir pro senhor falar de novo, nome completo, o local e data de nascimento.
R – Stelo Aleixo de Castro, nascido na cidade de Ouro Preto, 16 de julho de 1924, e fui criado na cidade de Nova Lima, onde eu estudei, fiz os meus cursos e já segui para Belo Horizonte. De Belo Horizonte eu fui transferido para Juiz de Fora, em Juiz de Fora fui convidado para trabalhar na Acesita, e esse é o orgulho maior que eu tenho.
P/1 – Mas vamos voltar um pouquinho, seu Stelo, o senhor falou que o pai do senhor era mineiro.
R – Isto.
P/1 – Trabalhava em que cidade que ele trabalhava?
R – Em Nova Lima.
P/1 – Nova Lima?
R – Nova Lima.
P/1 – O senhor lembra assim da atividade de mineração nessa época, como é que era?
R – Lembro, lembro. Na exploração do ouro as pessoas entravam pra mina pra poder fazer, explorar as pedras pra poder apurar o ouro. E ele trabalhou lá por muitos anos, e consequentemente eu perdi a minha mãe e acompanhei ele pra Nova Lima. E lá eu comecei a desenvolver a minha vida quando eu estava com sete anos, da família eu não tinha ninguém formado. E eu fui o primeiro a ser formado. E com muito orgulho eu digo que aproveitei muito esse incentivo de muitas pessoas que me ajudaram no sentido que eu pudesse ser um cidadão mais tarde, o que me originou a estar hoje aqui na cidade de Timóteo e trabalhar na Acesita, eu fichei na Acesita no dia 8 de dezembro de 1955.
P/1 – 1955.
R – 1955.
P/1 – O senhor fichou como o quê?
R – Eu fichei, eu vim pra trabalhar no setor de contabilidade, mas tendo falecido um cidadão, que era encarregado da Forjaria. Então o Doutor Ventura me indicou que eu fosse trabalhar lá até que conseguisse uma outra pessoa pra ocupar o meu lugar lá.
P/1 – O doutor Brás Ventura era o presidente na época.
R – Na época.
P/1 – Descreve como que ele era assim.
R – Ele era uma pessoa muito boa, muito interessante e muito voltada para a sociedade de Timóteo. Naquela época a cidade era fechada, e a Acesita dominava todo o processo social do município. Então eu, me chamaram pra eu vir aqui, não assim com o intuito de ocupar um cargo, mais pra fazer parte de uma orquestra que tinha aqui.
P/1 – Ah é?
R – Orquestra do... Como é que ele chama? Era... Eu esqueci mas vou lembrar, mas sendo que eu me apresentei a Acesita e nesse momento apareceu esse contratempo e eu fui pra ser encarregado escritório da Forjaria. E lá fui lá pra dois dias e fiquei lá dezoito anos. E de lá eu tive a felicidade de passar por vários presidentes e vários engenheiros e eu comandando aquela situação dentro da própria Forjaria. A Forjaria era um trabalho muito árduo, eu não sei se você conhece. A gente fabricava naquela época enxada, machado, foice, facão, e a estrutura, a segurança e a estrutura do homem nesse trabalho ainda era muito rude. Então havia muita dificuldade, e eu chegando, como já tinha passado por várias situações lá em Nova Lima. Então nós fomos criando um processo de educar o homem no sentido de que ele pudesse ter mais segurança no trabalho. E consequentemente a gente criou dentro da própria Forjaria um ambiente social. O que que eu fiz logo que cheguei notando aquela situação precária com o nosso colega, então nós reunimos lá e falamos assim: "ô gente vamos, por que que nós não fazemos aqui um meio social mais adequado que pudesse, nós estarmos reunidos toda semana, todo mês, comemorando aniversário, fundando um clube ou fazendo uma coisa qualquer?" Então primeira coisa que nós fizemos foi comemorar os aniversários dos colegas à americana, cada um levava alguma coisa, e consequentemente aquilo foi um algo que, uma coisa que foi muito importante pra nossa vivência lá dentro. Aí o pessoal já começou a ser mais amigo um do outro, e o serviço já partiu pra um desenvolvimento mais social e mais é de responsabilidade. E vindo aí nós tivemos em 1957 a transformação da Forjaria, da fabricação de enxada, foice, tudo pra fabricação de peças para automóvel.
P/1 – Ah, já nessa época.
R – É, aí foi muito importante nessa época na Acesita essa transformação, nós viemos, além disso, antes disso a gente queria dizer o seguinte, que Forjaria por todo meio de dificuldade que a ela tinha, nós tínhamos um problema muito grande aqui de sindicato, participação coisa e tal. E a Acesita tinha uma dificuldade de arrecadação muito grande, de ter uma dívida, porque você sabe que o Banco do Brasil que era o dono dela. E havia uma escassez de verbas pra, naquela época pra Acesita, então quê que nós planejamos, então reunidos com a diretoria industrial que naquela época era o diretor doutor Renato Machado e nós, ele falou: "Stelo, a Acesita está em dificuldade, não tem dinheiro, nós temos que fazer dinheiro daqui da Forjaria." O quê que nós fizemos, nós fizemos arrastado domingo de todo jeito e nós conseguimos equilibrar os pagamentos da Acesita saindo da Forjaria.
P/1 – Ah é?
R – Da Forjaria, nós equilibramos, e depois com isso ela, a Acesita também foi amortizando as dívidas, coisa e tal, e chegou lá na época que a Forjaria já não era muito importante na parte de agrícola, então nós partimos pra peças pra automóveis.
P/1 – Quê que fabricava pra automóvel?
R – Nós fabricávamos link pra trator, que foi a primeira no Brasil que fabricou link pra trator, foi na Forjaria daqui, foi a Acesita que fabricou, nós fabricávamos virabrequim.
P/1 – Virabrequim.
R – Nós fabricávamos luvas, é...
P/1 – Luva?
R – É, luvas pra encaixe de peças pra automóveis.
P/1 – Tá.
R – Nós fabricávamos, é, link, fabricávamos, é, suportes e várias peças pra automóveis e que e Forjaria ficou muito falada e procurada pelas pessoas pelas fábricas de automóveis. E consequentemente a gente ficou muito sentido na época pela transferência dela pra Betim, porque daqui ela era muito, tinha uma capacidade muito grande de desenvolvimento e atendimento ao mercado de peças.
P/1 – Mas o senhor trabalhava na contabilidade.
R – Não, eu trabalhava no escritório.
P/1 – No escritório. No escritório da forjas.
R – Da Forjaria.
P/1 – E como que era assim o relacionamento com o pessoal que tava na linha de produção?
R – É o que eu disse pra você, eu consegui dominar e concretizar um ambiente sadio dentro da própria Forjaria com os meus pequenos conhecimentos que eu trouxe de fora pra poder é... Fui aplicando aqui dentro. Porque eu vim de Juiz de Fora, Juiz de Fora apesar de ser uma cidade ainda que não tinha muitas indústrias. Mas eu tinha, eu trabalhei lá em várias oficinas, em várias coisas, então aprendi alguma coisa lá que a gente tinha muita aula e condições de trazer. Então eu trouxe pra aqui essa facilidade em dominar a condição de ambiente com o pessoal, além dos cursos que a Acesita nos promovia, teve a WO, a de segurança, o serviço, a assistência trabalhista. Eu fiz um, na minha vida na Acesita eu fiz uns quinze cursos, fiz desenho, e depois, aí eu, quando nós dentro da Forjaria nós, já estava um ambiente mais sadio eu criei lá um clube de futebol.
P/1 – Da Forjaria.
R – Da Forjaria. Ah isso aí acabou, o pessoal tornou-se uma sociedade mais ampla, mais amiga, no sábado, no domingo tinha futebol, no outro dia tinha aquela excursão na lagoa coisa e tal, e é, nós fomos campeões umas duas vezes.
P/1 – Você jogava contra quem?
R – Contra os clubes lá da cidade.
P/1 – Da Aciaria.
R – Aciaria, Laminação, escola profissional, a Coalhada que era a Laminação, a, o Primeiro de Maio e eram uns quinze clubes que nós disputávamos campeonato aqui.
P/1 – O senhor falou Coalhada?
R – Coalhada era Laminação.
P/1 – O quê que é isso?
R – Coalhada porque na laminação quando naquela época, a Acesita adotava um sistema de, quando as pessoas que trabalhavam no calor, ela fornecia coalhada. Você conhece coalhada, né? Ela fornecia todo dia dez horas e pouco passava uma carroça distribuindo coalhada pro pessoal que trabalhava aqui.
P/1 – Pro pessoal aguentar trabalhar.
R – No forno.
P/1 – No forno.
R – Porque lá na laminação, na chapa o pessoal pegava o tenaz, a chapa, a tenaz pra virar chapa cortava pra jogar no laminador, não tinha nada não. E eles tinham, eles trabalhavam quinze minutos e descansavam quinze minutos.
P/1 – Porque era muito quente.
R – Era muito quente, e mesmo na Forjaria nós tínhamos um grau lá de 1200 graus.
P/1 – Nossa.
R – Quer dizer, o calor lá era, além do barulho tinha mais o calor, então isso é, o pessoal já chamava o pessoal lá da Laminação de Coalhada.
P/1 – Ah, já ficava o nome do time.
R – É, mas além desse ambiente que a gente criou na Forjaria, eu criei também, a Acesita me ajudou a fazer uma quadra de malha pra disputar, mas não sei se você conhece que a gente joga malha. E a Acesita nos cedeu aquela de onde é que é hoje a escola profissional SESI, escola profissional Acesita, nós tínhamos um campo de malha ali. Ali nós disputamos disputava pra todos os estados aqui de Minas, nós íamos jogar ou trazia eles aqui, fazia e acabou nos concretizando aqui uma disputa do campeonato de mineiro, é tipo tão bom que era o ambiente que nós conseguimos trazer um campeonato mineiro pra aqui, e nós fomos campeões 14 anos. Só agora que depois que nós tínhamos o Chico Olimpíada que ele dava uma força muito grande pra nós na parte social.
P/1 – Chico Olimpíada?
R – É.
P/1 – Gostava?
R – Nossa, ele adorava também, fazia parte mesmo, e o presidente da Acesita, os presidentes da Acesita, né, também nos ajudavam muito, o coronel Moreira, o coronel Valter que era um apaixonado pelo esporte, é ele, nos ajudou muito. Então nós concretizamos uma amizade muito grande na Forjaria e aquilo foi passando pras demais repartições.
P/1 – Seu Stelo, como que era a cidade de Timóteo lá quando o senhor chegou aqui em mil novecentos e pouquinho?
R – Era uma cidade fechada.
P/1 – Fechada, né?
R – Era cidade fechada, predominada pela administração da Acesita. Lá na época, por exemplo, nós trabalhávamos na Acesita, nós tínhamos armazém, nós tínhamos leiteria, nós tínhamos açougue, nós tínhamos farmácia, tinha hospital, tudo da Acesita. Quer dizer, nós, por exemplo, na época de greve de qualquer coisa, nós não nos preocupávamos com nada porque nós estávamos lá dentro da usina, ficávamos às vezes uma semana, duas semanas, mas sabia que a nossa família estava sendo assistida. Não faltava nada, então a gente que era encarregado, geralmente era obrigado a ficar lá pra poder manter a obra, manter aquele ritmo de trabalho pra não parar de tudo. Então, é, mas a cidade era fechada, e nós tínhamos um problema, uma história muito importante é que o Timirim, Timirim das Cachaça.
P/1 – O bairro?
R – É, o bairro, aquela divisão que desce hoje que vai pra Primavera.
P/1 – Tá.
R – Pega ali na, não sei, aquele posto ali, ali a Acesita colocava ali vigilantes pra que as pessoas não atravessassem pra o Timirim Cachaça e não beber cachaça.
P/1 – Mas por quê que o pessoal bebia tanto cachaça?
R – Mas você sabe como o brasileiro ele gosta! E a Acesita trouxe pessoas de várias regiões, né, pra desenvolvimento da própria usina. Então é ali foi ainda assim, mas ela, a Acesita tem uma história muito importante porque ela é uma pioneira e madrinha de muitas empresas hoje aqui, inclusive as de Minas, que predominavam, a única coisa que eu tenho tristeza é de que nós não soubemos segurar aquilo que era nosso, porque nós aqui na região de Timóteo, nós predominávamos com o doutor Alderico, com o doutor Albuquerque, com o doutor Renato, doutor, é, na época doutor Brás Ventura que criou um colégio criou tudo, e nós predominávamos a região.
P/1 – A região toda?
R – Toda, tudo que se ia fazer até Teófilo Otoni o que tiver faltando era reunido aqui, entendeu? Então, a vivência aqui era muito importante, a gente tinha, eu, por exemplo, eu tinha muita facilidade, tive muita facilidade de contato com boas pessoas, com clubes, etc. Porque Lions Clube, Rotary Clube, maçonaria, tudo, eu era um garçom, trabalhava na usina de dia, à noite eu ia pra casa de hóspede, trabalhava como garçom, depois eles transformaram a casa de hóspede agora em fundação, né?
P/1 – Fundação.
R – Mas naquela época vinha todo mundo pra ali.
P/1 – Todo mundo quem assim, quem estava chegando?
R – Todas pessoas que vinham visitar a região ficavam ali, reuniões importantes, na reunião pra fundação da Usiminas, ela foi feita ali, Juscelino esteve aqui.
P/1 – Foi feita aqui na casa de hóspede?
R – Na casa de hóspede.
P/1 – Com Juscelino Kubitschek?
R – É, e nós tínhamos uma Escola Nacional de Guerra que predominava quase a estrutura do Banco do Brasil, né? E dali que partiam já os presidentes, coisa e tal. _____ o banco efetivado de lá e mandava pra cá. E eu tive muita felicidade porque eu acompanhava aquele desenvolvimento da Acesita, acompanhei até é 72, quando eu me aposentei, mas mesmo assim não esqueci da Acesita, e a minha vida era, fui muito importante dentro da Acesita, eu trabalhei na privatização dela.
P/1 – Depois de aposentado.
R – Depois de aposentado.
P/1 – Quê que o senhor fez durante privatização?
R – Eu era membro do conselho da formação de privatização do Ciga, do como é que fala.
P/1 – Dos funcionários?
R – É, dos funcionários, então eu fui indicado pra poder também participar, nós fomos ao Rio, nós fomos a São Paulo, nós fomos a várias cidades pra poder conhecer a como que foi feita a estrutura da privatização.
P/1 – Tinha um certo medo da época assim do quê que ia acontecer, receio?
R – A gente tinha. Nós na época quando nós sentamos pra analisar o grupo que poderia ser o denominador da privatização a gente tinha medo que a Usiminas encampasse a Acesita naquela época. Ela também entrou no grupo pra adquirir a produção da Acesita, e nós lutamos demais pra que isso não acontecesse.
P/1 – Vocês não queriam.
R – Não, inclusive na reunião que nós tivemos com o doutor presidente da Usiminas hoje, o...
P/1 – O Brummer?
R – Não, da Usiminas.
P/1 – Eu não sei quem é.
R – Ah é o, ô gente...
P/1 – Não tem problema não, depois eu pego.
R – Ele veio pra uma reunião conosco e quando nós dispusemos pra ele que nós estávamos trabalhando para que a Acesita não fosse predominada pela Usiminas, ele falou: "Pois é, mas vocês vão sentir isso na pele daqui mais alguns anos, vocês vão ver que a Acesita ainda vai ser um bairro da Usiminas." E nós falamos: "o senhor pode estar certo de que isso não vai acontecer não." E nós lutamos muito, nós fizemos todo o trabalho de conscientização dos funcionários, né? Fomos a Marandiba, viajamos pra todo quanto é cidade conscientizar as coisas pra fazer parte do conselho de privatização. E dali nós chegamos num denominador comum e nos foi colocada uma pessoa que pudesse, tinha toda a característica de que pudesse ser a pessoa que a Acesita precisava no momento que foi o Brummer, então nós trabalhamos em cima do Brummer.
P/1 – Tá.
R – Pra, e ele, nós conseguimos ver quando chegou na escolha, da escolha da diretoria, na escolha do grupo que seria dominador da Acesita, nós chegamos lá em São Paulo, nós ficamos lá na sede da IBM, né? E o Brummer ganhou, o grupo votou no Brummer que era o grupo que ele estava era o Banco do Brasil, era o grupo dele era Banco do Brasil, não era o Banco do Brasil, mas o grupo de seguridade do Banco do Brasil, a, como é que chama, eu poderia ter te trazido.
P/1 – Não, depois a gente pega, a gente tem a documentação desses nomes.
R – Eu tenho. Então, o quê que aconteceu? Nós saímos de São Paulo todo cheio de vida porque nós conseguimos dominar aquilo que nós queríamos. Então formou-se então a diretoria da Acesita, com o Brummer como presidente. E daí nós partimos pra desenvolvimento social da Acesita. Ele veio aqui com o doutor Vander, trouxe o doutor Vander Rigotto, o João Manoel, tinha o... Vieram uns quatro ou cinco elementos com ele e foi organizado, a diretoria da Acesita que era a coisa dominante. Então nós ficamos, os empregados da Acesita, ficou no segundo lugar como o grupo predominador, de maior cotas, porque todos nós, nós trabalhamos pra vender cotas para os empregados, né? E nós vendemos maior, nós fomos o segundo maior representante do grupo. Só aí foi muito importante porque nós pudemos indicar três elementos pra compor a diretoria, o conselho fiscal na diretoria social que foi o Francisco, e também na diretoria de comando direto da Acesita, onde que eu fui indicado pra conselho fiscal.
P/1 – Ah, e o senhor que está...
R – E o Francisco indicado pra diretoria da administração.
P/1 – Ah tá.
R – E nós ficamos lá, eu fiquei lá três anos, Francisco ficou mais tempo que eu, eu fiquei lá três anos. Mas foram três anos de big brother, aprendi muita coisa com os outros representantes do grupo, né? Que nós tínhamos grupo do Banco do Brasil, Bradesco, da, da como esquecendo o nome que eu não estou conseguindo me lembrar, o grupo da é, do Banco do Brasil foi o majoritário, ele tinha maior número de cotas, e nós ficamos em segundo lugar. Mas foi muito importante porque nós predominamos, tinha pessoas pra predominar na administração da Acesita.
P/1 – Com certeza.
R – Isso, daí pra frente a Acesita foi desenvolvendo o seu trabalho dela dentro da própria usina, modificando o sistema de trabalho e até onde a gente chegou hoje que viu a Acesita tendo um progresso muito grande, né?
P/1 – Vamos voltar um pouquinho?
R – Vamos.
P/1 – Deixa eu perguntar uma coisa pro senhor, lá na Forjaria apesar do senhor trabalhar no escritório, me fala uma coisa, como é que chegava o aço lá, o quê que chegava lá, assim bruto.
R – Nós recebíamos o aço na época de fabricação de material agrícola. Nós recebíamos o aço e ele era transformado num martelo de queda, nós tínhamos cinco martelos de queda, aquecia o aço, tinha, nós tínhamos a matriz que faziam as matrizes pra poder transformar nas peças e colocava ali, levava o aço a 1000 graus e era transformado em ou machado ou foice, ou qualquer coisa que seja, os machados aqui foram um dos primeiros machados do mercado.
P/1 – Saía peça de aço, mas já saía com cabo, tudo?
R – Não, não, não.
P/1 – Só.
R – Só a peça.
P/1 – Só a peça.
R – Só a peça. Tanto a enxada como a foice, como a pá, como o facão tudo saía a mesma coisa, depois era vendido e o cliente que...
P/1 – Ah, ele que...
R – Fazia os cabos, colava os cabos e tudo, nós só vendíamos as peças e pronto.
P/1 – Tá. E quem que era assim, quantas pessoas trabalhavam mais ou menos naquela época, só pra ter uma ideia.
R – Nós tínhamos lá na Forjaria naquela época 82 pessoas, 82 pessoas mais 26 na matriz.
P/1 – Tá. E trabalhava assim de dia e de noite ou só de dia?
R – Três turnos.
P/1 – Três turnos.
R – Três turnos.
P/1 – Uma produção grande.
R – É, nós trabalhávamos em três turnos. Trabalhávamos das 7 às 15, das 15 às 20 e 0 horas.
P/1 – Nossa.
R – Trabalhava três turnos, mas era um serviço muito rude mas depois tornou-se um serviço muito importante.
P/1 – O senhor lembra assim de alguma, quem que o senhor era mais amigo ali, se tinha alguma pessoa mais engraçada.
R – Ah, nós tínhamos.
P/1 – Porque conta a lenda que as pessoas tinham que ser bem fortes, né, pra trabalhar assim, pra aguentar esse calor.
R – É, nós tínhamos sim, tinha uns colegas lá bastante importantes, que nos ajudavam formar o ambiente, nós tínhamos por exemplo o Tininho, que hoje é falecido que é uma pessoa bastante importante na comunicação. Tinha o Benildo Bravinho, que também já faleceu, que era o mestre de obras, mestre da empresa e por fim nós tivemos lá um presidente, um diretor lá, engenheiro diretor, tinha também, entrou na nossa, no nosso setor de vidro, é o Bruno, ele era o primo do doutor Jardel, que o doutor Jardel era o presidente naquela época da Acesita e ele era primo, ele nos ajudou muito a transformar a vida da Forjaria.
P/1 – Bruno?
R – Bruno.
P/1 – Quê que ele fazia assim, o quê que ele ajudou a transformar?
R – Ele era engenheiro, porque ele participou e ele além da, depois dos horários de trabalho, que isso é muito importante na vida das pessoas, ele se unia com a gente, ou seja, num barzinho, ou seja num clube, ou seja ele estava sempre junto conosco. Então aquilo sempre nos dava um conforto muito grande porque um engenheiro junto com os seus comandados, ele trazia assim uma liberdade e todo mundo tinha respeito dele. Todo mundo respeitava, mas respeitava, brincava, coitado, ele aceitava aquilo tudo, e ele de boa maneira e a gente conseguiu conviver muito bem com ele, conviveu mais doutor Manoel, todos outros que passaram por lá. O Manoel já era mais fechado, né, mas ele não era má pessoa não.
P/1 – E seu Stelo, o senhor tem assim alguma história engraçada assim, pitoresca que aconteceu ali?
R – Eu, a gente tem sim, tem, teve uma vez que nós estávamos é, forjando uma peça pra, uma peça não, fazendo um teste pra Acesita começar fazer o inox, então nós estávamos todos reunidos ali assim, e o inox você sabe que ele em baixa temperatura ele vira farinha.
P/1 – Ah é?
R – Então eles levaram no forno e deixou a peça chegar no, não fomos nós não, o engenheiro que vinha da Aciaria é que acompanhou, e falou: "não, já tá bom, tá bom, vamos fazer lá, vamos bater." Nós saímos lá um tal de Raulão que era, é muito gozado também. Então na hora que eles levaram a peça no martelo, que bateram no martelo, ela pegou fogo pra tudo quanto é canto. Ah minha filha, mas aquilo ali espalhou gente pra tudo quanto é lado, porque é aquela, aquele quente que ia.
P/1 – Quente?
R – Apesar de quê que nós tínhamos avental de ráfia, tinha, que protegia, aquilo batia e não queimava, mas aquilo lá é pá, aquele fogo pra todo lado todo mundo saiu correndo, aquilo foi gargalhada pra muito tempo de gozação, foi gozação pra muito tempo, mas a gente tem muita coisa pitoresca ali dentro da Forjaria.
P/1 – O senhor pode contar outras coisas? Isso é muito bacana.
R – Nós tivemos também por exemplo, lá no setor de forjamento ainda, que era a parte mais rudimentar lá da coisa, nós tivemos, nós trocamos o sistema de madeira, porque a madeira que nós usávamos era importada, e nós passamos a experimentar a madeira de eucalipto tratada. Então coisa tal e tal, ah menina, mas lá o martelo bateu depois na madeira que o martelo bateu, nós não tínhamos o costume de trabalhar com ela, né? Aí o Martelo disparou, disparou e fez "plaf." Aí todo mundo xingou, todo mundo falou, brigou, mas no fim acabou todo mundo rindo porque ninguém soube, ninguém teve a ideia de verificar que nós deveríamos ter intercalado uma madeira importada com um pouco da outra, falei: "mas por quê que nós não intercalamos?" Mas aí todo mundo achou graça. "Pois é, por quê que o senhor não falou antes?" Porque a gente trabalhava no escritório mas participava muito mais lá dentro.
P/1 – O senhor estava lá dentro direto.
R – Direto, porque nós não tínhamos, na época nós não tínhamos engenheiro diretamente pra Forjaria, a direção, a secretaria industrial, ela comunicava diretamente comigo e diretamente com a produção. Então é aonde que a gente tinha também uma liberdade muito grande com a diretoria, conhecia todo mundo porque não tinha engenheiro, tinha engenheiro que vinha, vinha de lá, pra dar as ordens, quer dizer tinha o João Moreira, o Valter, todos eles, o Renato Machado que era o primeiro que nós tínhamos lá, doutor Albuquerque. Mesmo o doutor Albuquerque muitas vezes passava lá que ele não mexia muito com essas coisas não que o negócio dele era mais de engenharia, mas ele e coisa.
P/1 – Ele passava lá de vez em quando?
R – Passava. Aí nós fizemos uma brincadeira muito grande, muito importante na época com doutor Albuquerque. O doutor Albuquerque, ele não deixava de trazer no bolsinho pãozinho, ele tava de vez em quando, tava...
P/1 – Comendo?
R – Comendo um pedacinho, um pãozinho dele, aí a turma foi, perguntou: "doutor, por quê que o senhor come esse pãozinho?" "É pra não ficar com fome, meu filho." "Mas toda hora?” Mas a gente era muito bom viu, muito bom. O doutor Alderico também, na parte de engenharia industrial, engenharia civil, ele teve muita participação na Acesita, porque a maioria dos terrenos, mesmo área, coisa e tudo foi adquirido por intermédio dele. Então era uma pessoa muito importante na vida da Acesita. E ele até eu acho que ele merecia aí um elogio muito grande por parte da Acesita.
P/1 – Como que é o nome dele?
R – Doutor Alderico.
P/1 – Ah, Alderico.
R – Doutor Alderico de Paula. Ele é um mentor de toda a negociação de terreno, de mata, gado, fazenda, tudo e mesmo terreno aqui dentro, tudo ele que era o mediador, e essa mediação dele foi muito importante, porque a Acesita na época ela não cuidava só da usina, ela cuidava de outras fazendas, outras coisas mais que hoje já não interessa mais pra Acesita, mas ele foi um mentor muito grande na conquista da Acesita pra...
P/1 – Dessa terra toda, extensão toda.
R – Pra colocar aqui dentro, colocar aqui dentro, eu não conheci o doutor, como é que ele chama, o que vem mesmo por aqui pra poder instalar,
P/1 – O Percival?
R – O Percival Farquhar.
P/1 – O senhor não conheceu.
R – Não cheguei a conhecer, eu conheci os outros depois.
P/1 – O Aminthas?
R – O Aminthas eu conheci.
P/1 – E o Athos.
R – O Athos, todos dois eu conheci porque eles estiveram aqui mais depois, né?
P/1 – Descreve pra gente como é que é que talvez o senhor seja a única pessoa que tenha conhecido o Aminthas e o Athos.
R – O doutor Aminthas era uma pessoa assim, muito importante, era do Banco do Brasil, ele de vez em quando ele teria que estar aqui porque, pra fazer a fiscalização. E ele como diretor da Acesita, ele era uma pessoa assim muito grata, né? Muito popular porque ele não era assim, ele não se tinha como um diretor, um presidente, ele estava sempre no meio da turma, ali, aquele hoje, o hotel fazenda...
P/1 – A fazenda dona Angelina.
R – Não, na fazenda aqui da, onde é que é o hotel hoje,
P/1 – Hotel Acesita.
R – Acesita, ali que era o hotel, que era falado, da Acesita, né? Então recebia todo mundo aqui porque ali era uma fazenda antiga transformada em hotel. O Alderico comprou aquilo pra poder fazer um hotel ali pra receber as visitas. Então, esse caminho aqui da praça até aqui tudo era mata, tudo era colonião, a gente pra poder vir trabalhar, muitas vezes que estava chovendo, você tinha que empurrar a bicicleta até aqui na portaria aqui na ____, e mais.
P/1 – Porque era um barro só.
R – O Aminthas era uma pessoa muito, muito, muito popular nesse sentido.
P/1 – E me fala uma coisa, tinha que ter uma canoa pra atravessar o rio de um lado pra outro?
R – Tinha, tinha, nós não tínhamos uma comunicação, a não ser lá no bosque no barco, que era Mawaca que chamava lá em baixo, ou então você atravessava ali, lá balsa e na canoa pra ir pra Fabriciano, qualquer outro lugar você tinha que atravessar ali, e muita coisa que a Acesita adquiria, era transportada na balsa, era empurrada a coisa, esse rio aqui era cheio.
P/1 – É?
R – Era. Esse rio, ele inclusive na época ele era, eles estavam querendo fazer um sistema de navegação daqui pra Vitória.
P/1 – Olha.
R – Mas, é, aquilo foi ficando, aquela ideia acabou, eles fizeram a passagem ali da pontinha pra Fabriciano, e aquela ideia morreu. Mas tudo o que se fazia era naquela coisa que tinha ali na Fundação, aquela canoazinha, tudo era passado ali. Eu então, tinha lá no posto do bote, que eles chamam até hoje, na Quitandinha, no fundo da Quitandinha, do Cruzeirinho, ali que tinha um cara lá que em Fabriciano que tinha o bote pra transportar o pessoal por lá.
P/1 – Deixa eu perguntar uma outra coisa, o senhor conheceu um alemão chamado Hellbrugge?
R – É o que veio pra fazer o poço da laminação?
P/1 – Eu não sei se foi, mas...
R – É isso mesmo.
P/1 – É?
R – Conheci sim.
P/1 – Como que ele era? Ele era bravão?
R – Ele era, ele era o tipo da pessoa pra comandar, na hora do serviço ele gritava: "ô, como é, eles não fazem engenheiro aqui, é que lá na minha terra engenheiro não é só pra mandar não, tem que trabalhar!" Mesmo, mesma coisa foi o pessoal que veio pra montar a laminação de aço inox.
P/1 – Os americanos?
R – Americanos, tinha americanos, tinha alemão porque a Acesita adquiriu muitas peças da Alemanha, pra poder montar aqui da Forja tudo. E vieram o pessoal pra fazer a montagem, e nessa montagem o pessoal acabou com como é que o brasileiro não pegava, os engenheiros não pegavam no serviço, e eles gritavam mesmo, é, mas bebiam demais. Nossa senhora.
P/1 – Os americanos?
R – Tanto americano como alemão.
P/1 – É?
R – Chegava a noite, pouco depois, depois que foi criada a casa de hóspede lá, tinha dias que eu saía da casa de hóspede duas horas da madrugada com aquele pessoal lá porque não paravam de beber. E eu ficava lá, as sete horas tinha que estar na usina, entendeu? Mas é, eu tive uma vida muito importante, muito, é assim, socialmente depois de organizar, depois de aposentado e tudo, e mesmo quando trabalhava na Acesita, eu fazia parte de muitas sociedades, muito grupo social aqui dentro. E a gente pode aproveitar muita coisa em termos assim de fora, né? Aquilo que a gente ouvia também nas reuniões do Lion's, do Rotary, coisa e tal a gente foi guardando aquilo e aplicando depois, que eu apliquei na associação dos aposentados. Aí que eu pude desenvolver muita coisa porque eu aprendi lá com eles, e nós tivemos também no conselho fiscal. Mas depois da Acesita privatizada, com o doutor Paulo do Banco do Brasil de Brasília, era um homem extraordinário na contabilidade e na administração. É tanto que mudavam todos os membros do conselho, mas ele era sempre o presidente, porque ele era uma cabeça, e eu tinha uma amizade com ele terrível, eu fui até na casa dele lá em Brasília, coisa lá porque nós tínhamos reunião aqui e tinha reunião em Brasília ou no Rio de Janeiro, onde é que tivesse maior número de pessoas a gente fazia reunião do conselho. Então é muitas vezes eu fui a Brasília e ficava lá na casa dele, e ele ensinando. "Stelo, isso é assim, assim, assim, o conselho não é um bicho de coisa." Mas pra mim era, porque eu era apenas um contabilista, e ali, mas ele foi me ensinando, foi me lapidando, ensinando como é que eu trabalhava, como eu deveria trabalhar, e com isto eu fiquei três anos no conselho, eu e ele, e ele saiu, mas foi porque ele aposentou, entendeu?
P/1 – Seu Stelo, me fala uma coisa, a Acesita não foi o primeiro emprego do senhor?
R – Não.
P/1 – Qual que foi o primeiro emprego, quando o senhor começou a trabalhar na vida assim?
R – Foi na companhia do Morro Velho.
P/1 – Companhia do Morro Velho. Na mineração?
R – Não, eu trabalhava no hotel dos ingleses no Morro Velho.
P/1 – Que cidade que fica?
R – Nova Lima. Eu trabalhei nove anos lá. E lá depois que me formei para contador, como guarda livro, que naquela época chamava guarda livro,
P/1 – Guarda livro, é?
R – Eu formei lá em Nova Lima, eu falei: "eu quero outras coisas, eu quero mais." Aí eu não quis continuar na Companhia do Morro Velho que aí eu passaria pra dez anos, dez anos eu tinha que permanecer lá, então eu falei: "não, eu quero sair que eu quero desenvolver a minha vida." Foi aí então que eu larguei a Companhia do Morro Velho e fiquei um período mexendo com um biscate aqui, um biscate ali, depois tinha um tal de Fernando Contes, que ia muito em Nova Lima pra jogar tênis e coisa, e ele gostava muito, naquela época falava inglês, falava coisa, e ele falava...
P/1 – Com o senhor?
R – É.
P/1 – Ah, porque o senhor convivia com várias pessoas, né?
R – Justamente, lá eram dois colegas nossos que sobressaíram lá na pensão antiga, eu e um tal de Sabino. Porque nós aproveitamos e estudamos, né? É, nós fomos ouvir o conjunto lá, nós tínhamos um conjunto muito importante que apresentava em Belo Horizonte, em orquestra, lá os bailes de Nova Lima nós fazíamos, o nosso conjunto. Aí esse Fernando Contes soube que eu tava, tinha saído de Morro Velho, ele procurou: "Cadê o Stelo?" "O Stelo saiu." Aquela coisa e tal. "Aonde ele está? Fala pra ele que eu quero falar com ele." Aí ele me chamou pra eu trabalhar na firma dele lá em Belo Horizonte. Na empresa dele, que era uma empresa de terraplanagem.
P/1 – De terraplanagem.
R – Terraplanagem. Aí eu falei: "eu quero mudar de vida, quero aprender mais, quero estudar mais." Aí eu fui pra Belo Horizonte, lá em Belo Horizonte eu me instalei lá hoje naquele edifício Sul América não sei se você conhece, na entrada do viaduto Santa Efigênia.
P/1 – Sei.
R – Ali, ali eu trabalhava ali naquele Sul América ali, mas não era o Sul América, porque tem um grupo lá que era o escritório dele. E nessa eu fui trabalhando com ele, depois ele me transferiu para Juiz de Fora.
P/1 – Nossa.
R – Porque nós fomos fazer achatamento de Benfica à Matias Barbosa, lá em Juiz de Fora. E eu fiquei lá, eu fiquei lá com eles lá oito anos, depois eu falei, eu formei, eu trabalhava lá e estudei lá em Viana Júnior, lá em Juiz de Fora, aí eu falei: "ô gente, eu estou precisando de outras coisas." Esse aqui já não está dando pra mim, porque Juiz de Fora não tinha serviço.
P/1 – Não tinha serviço?
R – Não, se você não trabalhasse na FEA que era do exército, ou então nas fábricas de sapato, de roupa, coisa e tal, que tinha muito lá naquela época, tinha umas 140 fábricas pequenas lá que sobrevivia Juiz de Fora. Eu falei: "não, eu não vou ficar aqui não." Aí eu escrevi pro meu tio da minha patroa aqui e falei assim: "ó, eu vou conversar com o maestro aqui da banda do nossa aqui, e eu vou ver se ele, o quê que ele acha de trazer você pra cá."
P/1 – Ele já estava aqui em Timóteo.
R – Já, ele já morava aqui.
P/1 – O tio da sua esposa.
R – É, ele trabalhava aqui já, e ele era um dos membros da orquestra muito importante. Aí chegou, contou nós, no fim de semana deu: "Ventura pede o seu comparecimento na Acesita tal assim, assim" Aí eu vim embora, nem. Falei com minha patroa, se vira aí, arranja aí, fica aí que daqui a pouquinho a gente vai mandar buscar vocês aí, e vim embora pra cá.
P/1 – Veio sozinho.
R – Vim sozinho.
P/1 – Como que era o caminho assim, como que fazia pra vir de Belo Horizonte, o senhor estava em Juiz de Fora.
R – É.
P/1 – Como que foi essa viagem?
R – A viagem, nós vinha a Belo Horizonte, Belo Horizonte passava por São Domingos do Prata, São Domingos do Prata passava pra mata aqui e saía em Timóteo.
P/1 – Mas de trem?
R – De trem nada. Era no, chamava como é que chamava aquelas Ruralzinha.
P/1 – Ah, daquelas Rural.
R – É, mas tinha um outro nome, que eles tratavam aí.
P/1 – Willis?
R – Não, é Willis, mas era um outro nome. Aí vinha pra cá, a gente gastava oito horas pra chegar aqui em Timóteo.
P/1 – De Belo Horizonte a Timóteo?
R – Cheio de poeira até o cabelo, entendeu? Depois então que criou a ponte e que a gente aproveitava o trem e ia até Nova Era. Em Nova Era você pegava o outro trem e chegava a Belo Horizonte. Mas por muitos anos nós fizemos esse trajeto aqui por São Domingos do Prata, que saia lá pra baixo de Nova Era, não pra baixo de Monlevade, saía ali daí você pegava a estrada de chão, e ia embora pra Belo Horizonte. Mas aqui ela é muito importante, a Acesita nessa época agora de São João, dia 24 de junho a Acesita promovia a maior festa pros operários dela. Tinha quebra-coco, tinha aquele negócio lá, que era muito rude lá nas cidades pequenas. Tinha, ela fazia churrasco, quadrilha. Era excelente, que a vida aqui foi assim, foi uma família que foi criada aqui dentro. Então a Acesita foi adaptando isto. Ela foi colocando o pessoal no molde que ela queria. Então era só chegar naquele molde e coisa e tal. Aí, fazia aquela farrinha gostosa, sem nenhum barulho, sem nada. Aí foi transformando, a Acesita foi transformando a sociedade, foi transformando. A cidade foi criando outro aspecto, estava vindo pessoas mais de fora e dentro dessa movimentação, houve depois a abertura da cidade, que a Acesita colocou a cidade livre.
P/1 – Essa abertura como é que, porque assim, mesmo quando ela fechada tinha algumas casas pra fora da, entre aspas, da usina?
R – Tinha, nós tínhamos a morada, Acesita construiu morada pra todo mundo.
P/1 – Mas quando fala que era fechada, tinha alguma cerca ou não?
R – Tinha, eu não estou falando pra você, tinha a cerca do Timirim das Cachaças que ninguém passava e tinha a cerca lá embaixo no Algodoal onde que era vigiado por todo mundo, que o pessoal pra sair pra pegar o bote e coisa, tinha que se identificar porque senão a vigilância da Acesita não deixava você passar não.
P/1 – Ah não?
R – Não, e se você aprontasse lá você podia estar certo que no outro dia era mandado embora.
P/1 – Era só a passagem de ida de barco?
R – Era, chegava aqui a conta dele já estava pronta pra ir embora.
P/1 – É mesmo?
R – Nós temos uma história muito importante, que nós tínhamos um preto aqui que chamava Militão. Não se chegou a vim. Que era o chefe da vigilância, era subchefe da vigilância. Então Militão ele era muito chegado ao pessoal mas ele era muito cabeça dura, era pouco esclarecido e coisa e tal. Então chegava lá no Timirim: "você sabe que você está teso por ordem do seu coronel? Porque você não podia atravessar aqui? Você está teso." Ele não falava que tá preso não, você tá teso. Mas aquilo era a maior gozação até hoje na cidade. Ainda a pouco tempo eu encontrei em Brasília o filho dele. Mas nós rimos tanto da vida da Acesita nessa época, porque era tudo uma coisa assim social, né? Mas ele não conversava direito, não tinha condições dele conversar direito. Então aquilo ali foi a maior gozação depois pra o pessoal.
P/1 – Stelo, e o pessoal que trabalhava na Forjaria assim, vê se eu estou certa, o pessoal tinha um conhecimento que não era o dos engenheiros, né?
R – Isso.
P/1 – Eles sabiam fazer as coisas...
R – Sabiam fazer as peças.
P/1 – Pela experiência e como que eles sabiam que estava certo, se não ia?
R – Ah, mas nós tínhamos um italiano, o seu Guerrino, ele que fabricava as peças e ele que conferia as peças. Ele era engenheiro, mais que engenheiro. Porque o que ele fazia, o que ele me disse que ele podia fazer, eles faziam as matrizes, né, e conferia as peças. Podia até dizer que, ele foi até convidado muitas vezes pra sair daqui, pra trabalhar noutras empresas, na Crupe. Ele não aceitou, gostava muito daqui. Então ele conferia as peças, ele que dava pra nós. Tinha um outro italiano que trabalhava com ele, o senhor Moura, então eles dois organizavam a conferência das peças. E nós fazíamos as provas e mandávamos pro cliente. Aí você podia contar que o cliente aprovava mesmo. Se tivesse alguma correção é correção pequena. Esse era pra estar pronto. Nós fizemos isso aqui em 90 dias. Porque foi a primeira empresa que fabricou ruela pra trator foi a Acesita, na nossa época aqui. E nós estávamos evoluindo na fabricação de peças pra automóveis. Só que depois surgiu essa transferência pra, como é que chama, Santa Luzia. Mas eles não mediram que era muito mais fácil trabalhar aqui, porque o aço estava aqui. E daqui eles tinham que transportar o aço pra Santa Luzia. Aí aquilo foi morrendo, foi morrendo, que é a Crupe que dominou aí dentro daquilo ali.
P/1 – Essa parte de Forjaria.
R – De forja, a Crupe é hoje mandatária do grupo de _______. Mas a gente, nós fomos até São Paulo, que a Acesita comprou várias empresas em São Paulo. E nós fomos lá visitar e pra poder ver se, fazer virabrequim deste tamanho pra máquinas. Lá em São Paulo na empresa que ela comprou. Mas a Villares, estava muito interessada também, a Acesita muito interessada na Villares. Mas eu acho que a Acesita está certa, ela teve um ritmo, agora tomou uma posição, só fabricar aço inox e silício, né? Mas as barras finas da Acesita eram de primeira qualidade. Não ficava depositava aqui, aço voltava pra Acesita. Se voltava era uma jogada lá, o quê que aconteceu muitas vezes aí, uma coisa lá que o depósito lá combinando lá com o coisa pra comprar aquela peça como sucata. Mas não era sucata, até que depois que a gente descobriu isso aí, eles poderiam ter perdido muita coisa. Mas nossa, eu tive muita alegria, muita satisfação, porque eu faço parte hoje de uma sociedade sadia. Eu sou delegado regional dos contadores aqui.
P/1 – O senhor não parou, né?
R – Não, não parei não, nem paro. Só paro o dia que falar: “ele morreu.” Eu estar ali naquela época pra você ver contar a história da Acesita. Porque tem muita gente que tem história importante.
P/1 – O senhor conheceu o médico da Acesita
R – O doutor Jefferson, na hora que eu cheguei pra fichar, ele falou: "senta aqui." Ele não tinha nem o medidor de pressão nem nada não. "Senta aqui." Pá pá no meu joelho, pá pá no coisa. "Ah, pode ir embora." Era um açougueiro, danado. Mas ele aguentou muita coisa, mas quando tinha alguma coisa grave as pessoas iam ou pra Fabriciano ou então ia pra Belo Horizonte.
P/1 – Porque aqui o hospital foi inaugurado depois, né?
R – Foi organizado depois.
P/1 – Chegou a ter algum acidente grave ali na Forjaria de ter que machucar alguém infelizmente.
R – Nós tivemos um colega que ele numa prensa ali ele cortou o braço assim, perdeu a mão toda. Não tinha nem jeito de transplante porque naquela época não tinha quem fizesse transplante. E outra, muitas coisas graves que nós assistimos foi um engenheiro, o Reinaldo, o doutor Reinaldo, o pessoal estava fazendo uma limpeza na canalização de aço sulfúrico que vinha do alto-forno pra Aciaria e ele foi pego, CBO, a gás carbônico, morreu na hora. Esqueceram ou ele também foi muito infantil, ele chegou na boca da tubulação pra olhar se tinha coisa e o gás pegou ele. Essa pra mim foi umas das maiores perdas. E depois também nós no alto-forno uma caçamba desprendeu matou um punhado de gente, ficou enterrado lá dentro. Virou tudo cinza.
P/1 – Nossa nem deu...
R – Aproveitar nada.
P/1 – Era perigoso, né?
R – Era, o serviço era um serviço de, a Acesita não tinha uma meta de segurança forte. Depois que foi ver, foi educando o pessoal, nós fomos tomando aula, passamos pra parte de segurança, parte trabalhista, coisa e tal. aí que foi desenvolvendo até chegar a Cipa.
P/1 – Ah, o senhor acompanhou a instalação da Cipa.
R – Acompanhamos. Depois que foi criada a Cipa, então a Acesita fez vários grupos pra fiscalizar os trabalhos das pessoas, entendeu? Aí que foi desenvolver essa parte de segurança da Acesita. Mas aqui tem histórias importantíssimas. Mesmo a parte social, além da operacional da Acesita. Nós tínhamos o Elite Clube, que era o maior clube da região. E ali vinha aqui os maiores conjuntos do Brasil, vinham aqui tocar.
P/1 – Tinha bailinho, festa?
R – Tinha tudo, era, todo mês nós tínhamos um baile importante aqui dentro da Acesita. Então eu trabalhava lá como garçom. E a gente acompanhava aquilo tudo. Mas foi uma pena acabar o Elite, porque, tinha o Campestre, não tinha o Clube do Olaria, que foi criado depois. Então as festas eram criadas ali no Elite Clube. Carnaval ali, a gente virava a noite ali com o pessoal.
P/1 – Carnaval?
R – Ih, só você vendo.
P/1 – É, era bom?
R – Muito bom, muito forte. Os bailarinos da região vinham tudo pra cá. Nova Era, Monlevade, Teófilo Otoni, Caratinga, o pessoal vinha tudo pra o baile daqui. Eu estou falando com você que era bom a política que acabou com o nosso interesse de ser a região centralizada na conduta social aqui, no desenvolvimento. Que depois partiu pra PT, não sei quê lá, PMDB, PSDB, sindicato, é padre Abdala, é tudo, foi acabando. Nós tivemos uma época aqui que o prefeito não combinava com o sindicato, não combinava com o padre Abdala e não combinava com a sociedade. Ele é esquerdista, então aí nós perdemos muita coisa aqui. Inclusive a instalação da cidadania do município, o Fórum, nós levamos oito anos pra instalar o Fórum aqui. Sendo que nós já tínhamos o direito de formação do Fórum. Por quê? Faltava uma casa pro juiz. É incrível de se falar isso aí.
P/1 – Faltava casa pro juiz.
R – Casa pro juiz, não tinha casa pro juiz. Porque não havia interesse das pessoas de criar essa conduta. Até que a gente foi pressionando o prefeito. Pressionando, pressionando até que foi instalado o Fórum dentro da Acesita. Nós trabalhamos pra fabricar o Fórum, a comarca de Timóteo.
P/1 – E quando teve o plebiscito pra saber se a cidade ia chamar Timóteo ou Acesita, quê que o senhor lembra dessa época?
R – Nossa mãe, isso aí foi a maior briga, porque tinha antigamente, nós queríamos acabar com a Timóteo lá e passar a cidade pra aqui pra Acesita. Mas tem um problema que a Acesita era uma companhia. O nome Acesita era uma companhia, mas nós queríamos de qualquer jeito que fosse instalada, transferida a comarca pra aqui pro centro. Aí foi a julgamento. Mas como lá tinha o Emílio Geisel era contra, que ele era a favor de Timóteo. Porque Timóteo, ele tinha tudo o parentesco dele lá em Timóteo e ele quem criou a comarca Timóteo. Aí ele tinha muita força, que o tio dele era presidente da Câmara e tudo, ele tinha uma força danada em Belo Horizonte. E nós fomos derrubados lá por cinco votos contra dois, perdemos. E realmente se você for analisar, não podia chamar Acesita.
P/1 – Por quê?
R – Porque a Acesita é uma empresa, porque aqui chamava Companhia de Aços Especiais Acesita, não é? Então Acesita é uma empresa. Onde é que é Acesita? Acesita é uma empresa. Então Timóteo era melhor. Podia mudar pra um outro nome qualquer sem ser Acesita. Mas nós pedimos Acesita. Até hoje existe essa rivalidade de Timóteo e Acesita. Você vê que Timóteo custou a desenvolver. Agora que está desenvolvendo.
P/1 – Que lado que era mais assim Timóteo antes?
R – Timóteo? Timóteo a parte de Timóteo, você conhece Primavera?
P/1 – Mais ou menos.
R – Córrego, como é que fala, que é a reserva de mata ali?
P/1 – Tá.
R – Dali pra lá era Timóteo.
R – Mas não tinha casa, só tinha uma fazenda. Que ali Timóteo era passagem dos viajantes que vinham da Bahia, que vinham do Rio de Janeiro pra o interior e tal, passava aqui pra ir pra Valadares, pra essas regiões. Ou então eles aqui pra Rio de Janeiro, pegar Conselheiro Lafaiete, coisa e tal, Ouro Preto e ia embora. Aqui era passagem, em Timóteo tinha uma casa aqui, que era a casa, chamava de estalagem de viajantes, entendeu? Aí tinha o cara que chama, que a cidade Timóteo eles deram o nome, ele era dono
dessa estalagem.
R – O tal o do Timóteo?
R – Ele era dono dessa estalagem, você entendeu? Então aquilo era passagem. Passava no barco aqui, ou então o pessoal vinha de viajante, trocava de tropa aqui, na beirada do rio e daqui ele seguia viagem e o outro voltava, entendeu? Isso aqui era uma linha de passagem de viajantes, negociantes, tudo que vinha pra região aqui pra baixo passava aqui, pegava a balsa aqui e ia embora. Tem história aqui muito importante aqui. Se a gente ficar...
P/1 – E a igrejinha?
R – A gente tem que recordar porque você vai indo você vai mexendo com outras coisas, muitas coisas fugiram. Mas eu tenho muita história lá comigo, que eu escrevia, né? Quando eu saía do serviço eu ia anotar porque eu sabia que mais tarde eu ia precisar daquilo pra eu poder desenvolver a minha vida. Então na casa de obras acabava o serviço, eu sentava ali uma meia hora ou então ia pra casa. A minha patroa falava: "você não vai dormir não?" "Deixa eu só anotar um negócio aqui que aí depois eu vou dormir."
P/1 – Coisa que o senhor ficava sabendo?
R – Ficava sabendo, conhecendo a região. Do Rio de Janeiro, como era o Rio, como era a coisa.
P/1 – O senhor conversava com as pessoas?
R – Conversava, porque geralmente eu era chefe dos garçons, eu era chefe e era chefe do bar. Então ali sentava todo mundo ali e ia bater papo, entendeu? Acabava o almoço, acabava o jantar ou qualquer coisa, ele sentava aí no bar e iam bater papo. Ali chegava um e falava: "Ô, Stelo, como é que está." "Ah, bem coisa e tal, ah, mas de onde o senhor é?” “Ah, eu sou daqui e coisa e tal." Porque se eu falasse. Aí eu ia perguntando e ia gravando aquele negócio, ia guardando.
P/1 – Então o senhor tem tudo escrito?
R – Tenho muita escrita.
P/1 – Depois a gente vai dar uma olhada. Deixa eu perguntar uma coisa pro senhor, da época que o pai do senhor trabalhava na mina, o quê que o senhor lembra? Ele levantava que horas?
R – Lá trabalhava três turnos também.
P/1 – Era mina de ouro?
R – Mina de ouro, a extração de ouro do Morro Velho. Era a maior mina de ouro do Brasil. E lá teve uma vez lá que a gente tem uma recordação muito triste. Que tinha duas entradas da mina. Tem uma entrada oficial que chama Chácara e tinha uma outra entrada de um outro que eles fizeram, que era pra em caso de acidente, qualquer coisa usar aquela coisa. Só que eles deram numa mina de água e ela inundou e matou muita gente. Então eles fecharam aquilo lá. Não teve nem jeito de tirar o pessoal. Então meu pai trabalhou lá muitos anos. E ele morreu de silicose. Porque o mineiro, ele tem uma desvantagem muito grande, que no decorrer dos anos, ele aposentou e tudo, mas viveu pouco tempo.
P/1 – Por que ele respira?
R – Ele respira o ar, aquele ar vai pro pulmão e aquilo não tem cura. Hoje você pode até fazer transplante e coisa e tal, mas antigamente não tinha cura mesmo. O sujeito que trabalhava na mina estava condenado a morte. Então como ele ganhava bem lá, ele tinha uma família grande. Ele aguentou aquilo lá pro resto da vida dele.
P/1 – Quantos irmãos o senhor tinha?
R – Eu tinha onze irmãos.
P/1 – Onze? Mas seu pai casou de novo?
R – É, casou uma segunda vez. Eu tenho sete irmãos da primeira esposa e tenho mais quatro da segunda esposa.
P/1 – O senhor foi um dos últimos da primeira esposa?
R – Eu sou o primeiro da primeira esposa. Sou o primeiro. Eu que ajudei educar meus irmãos, depois que eu saí. Também pra ajudar meu pai, eu ajudei muito meu pai, muito mesmo. Quando eu empreguei lá no hotel, eu dividia o meu salário com ele. Então lá naquela época a gente não tinha desse negócio não, né? Você chegava: "pai o salário meu é esse." Ele falava assim: "então tira o seu, me dá o meu." Você entendeu? Antigamente tinha esse negócio, os filhos não descuidavam daquilo que o pai fez.
P/1 – Época de brincadeira, essas coisas com esse monte de irmão, como é que era, quê que vocês brincavam?
R – Não tivemos muito tempo pra isso. Sabe por quê? Nós vivíamos numa família de, mais uma outra família, da minha tia, nós vivíamos muito junto. Mas logo que eu perdi a minha mãe eu mudei. De lá de Ouro Preto mesmo, ela foi enterrada em Ouro Preto, de lá mesmo eu vim embora pra Nova Lima. Então não tive muito tempo, depois é que eu levei meus irmãos tudo pra lá. Fui levando um por um.
P/1 – Com quem que eles ficaram enquanto isso?
R – Eles ficavam com a madrasta, né? A nossa madrasta. Que aí quando eu fui pra lá eu já aluguei casa pro meu pai e tudo e nós...
P/1 – Foi você e ele?
R – Eu e ele. E lá eu estudei, fui estudando e ajudando meus irmãos estudarem, né? E hoje eles, porque minha família é tudo do exército. Toda da polícia e exército. Eu tenho seis coronéis, capitão, tenente, não sei quê lá. Minha família tudo é militar. E meu irmão ingressou muito rápido no serviço militar como investigador. Ele era do Dops, o outro também foi do Dops. Hoje ele é aposentado. Mas só eu que nunca quis mexer. Sempre mexi com a política. Nós tínhamos uma facilidade muito grande na política. Que meu tio lá era capanga do Pedro Aleixo.
P/1 – Ah é?
R – Era, e o Pedro Aleixo tinha um carinho muito grande por mim. O primeiro emprego público que eu tive, foi ele que me deu. Só que aquilo, eu não fiquei satisfeito com aquilo que ele me deu.
P/1 – Que primeiro emprego foi esse?
R – Foi trabalhar na secretaria de Raposos, Secretaria do Estado lá em Raposos. Eu não achei que aquilo era o bastante pra mim. Que eu não queria ir pro mato, eu queria era um lugar maior, pra mim desenvolver a minha vida. E eu fui lutando. E Eu tenho esse orgulho muito grande, porque eu saí da roça, estudei por minha auto criação, por minha vontade. Sempre achando os meus amigos, que me ajudavam. E estou no estágio que eu estou hoje, graças a Deus. Com minha família toda criada, três filhos aposentados. Só o Stelinho trabalhando.
P/1 – O Stelo trabalha aqui na Acesita, o quê que ele faz?
R – Ele é encarregado do meio ambiente. Lá embaixo, na coisa do meio ambiente aqui. Ele que faz, ele está até pra Juiz de Fora agora, foi fazer um curso lá em Juiz de Fora. A Acesita o mandou fazer um curso lá em Juiz de Fora.
P/1 – E o senhor esperava assim, quantos filhos o senhor tem?
R – Eu tenho sete.
P/1 – Sete também?
R – Sete.
P/1 – E senhor esperava que algum deles fosse trabalhar na Acesita, o senhor tinha esse sonho?
R – Todos eles, porque antigamente, ô minha filha, a vontade nossa, hoje o que eu condeno muito hoje, é que a sociedade, as leis proíbem os filhos de trabalhar. Esse é um erro muito grande, muito grande. Meus filhos todos eles fizeram escola profissional. Quando saíram do grupo foram pra escola profissional, da escola profissional foram pra Acesita.
P/1 – Era o sonho do senhor, o senhor queria?
R – Eu queria que eles estudassem. Eles não formaram, até o curso técnico eu dei pra eles. Daí pra frente eu falei, agora é com vocês. Tem uma menina, minha filha, hoje que mora em Valadares, ela é diretora de um grupo. Tem três aposentados, aposentou na Acesita.
P/1 – Que área que eles trabalharam?
R – Eles trabalharam, um o Elson trabalhava na laminação, o Aguinaldo trabalhava na Matriz. E tem o Stelo. O Elton trabalhava no laboratório. Todos eles aposentados. Quer dizer, todos eles têm sua família criada, tem a vida deles. A mesma coisa. E no sábado e domingo lá em casa fica desse jeito, que eu tenho quinze netos.
P/1 – Mas o senhor aposentou e não parou, né, o senhor estava em Brasília?
R – Não, não, eu aposentei e fui pra Tenenge trabalhar lá em Ouro Branco. Nós tínhamos aqui um ______ que tomava conta da Serraria, ele era maçom. E a gente tinha muita ligação e coisa e tal. E ele, meu irmão começou com ele uma armação, eu falei: "não, eu vou tirar, eu vou, eu vou ficar." Não fiquei uma semana à toa.
P/1 – É mesmo?
R – Ele falou "você vai apresentar amanhã lá em Ouro Branco. Vai procurar fulano de tal." Eu cheguei lá e na mesma hora eu fui fichado. Nem exame eu não fiz. Fiquei lá quinze anos.
P/1 – Mas morando em Ouro Branco?
R – Em Ouro Branco, mas a minha família aqui, né? Eu tinha a família e tinha o escritório aqui. Meu escritório, hoje tem, mês que vem vai fazer 49 anos. Naquele mesmo lugar ali no prédio que começou, ali perto da _______.
P/1 – Que beleza!
R – Tem 49 anos. É tanto que eu estou, combinei com ______, ____ comprando aquilo lá. Então eu trabalhei na Aciaria lá, no alto-forno, no lingotamento contínuo. Vim aqui pra Acesita pra fazer lingotamento contínuo aqui, eu que trabalhei nele aqui.
P/1 – Depois de aposentado?
R – Depois de aposentado. Eu tinha, a gente quando faz um caminho sadio. A Acesita me dava toda cobertura aqui dentro. Ih, toda a vida, isso eu devo todos os diretores, os meus colegas, devo todo mundo. Eu nunca cheguei na portaria, precisava ficar parado. Fiquei agora, essa semana agora pra fazer a entrevista porque o guarda era novo, não conhecia, mas depois o cara falou: "por quê que você não deixou o seu Stelo entrar?" Coisa e tal, "ele é mais chefe do que nós aqui dentro." Eu falei: "eu não sou chefe não, eu obedeço ordem." Então eu, graças a Deus, tenho muita ligação com todo mundo aqui dentro, com a chefia, todo mundo. Todos eles participaram, nós participamos juntos da administração ou de uma coisa ou de outra. E lá fora, na sociedade aqui fora eu tenho muita coisa que eu já fiz, graças a Deus, muita coisa. Já ajudei muita gente, já, eu sou um dos fundadores do Conselho do Idoso. Eu sou fundador da Associação dos Aposentados, que hoje é uma potência, né?
P/1 – É.
R – Não sei se você conhece.
P/1 – Já ouvi falar.
R – É uma potência hoje. Só de patrimônio nós temos quase três mil, assim pago, não devo nada a ninguém. Eu faço parte na...
(INTERRUPÇÃO)
P/1 – Bom, o senhor estava falando assim, se falar mal da Acesita...
R – É, eu tenho tanto orgulho aqui de ser, de ter sido um funcionário da Acesita e a facilidade que eu tenho e o ambiente que eu tenho dentro da Acesita que eu não admito que ninguém fale mal da Acesita. Eu tenho a Acesita como um brinco pra mim da minha vida social, tanto de trabalhista de social, é porque foi daqui, por intermédio dela que eu se tornei um cidadão um homem que pode prestar vários trabalhos na vida social e na trabalhista também, então aprendi muita coisa dentro da Acesita, até da minha sobrevivência no meu trabalho de contato eu aprendi dentro da própria Acesita. Foi trabalhando lá, fazendo parte do conselho fiscal. Foi aí que a gente, então eu tenho orgulho de ser, de ter sido funcionário da Acesita a ter isso, porque ela me deu condições de criar minha família, me deu condições de chegar a aposentadoria, me deu condição de um ser cidadão timotense. Então é um orgulho muito grande que eu tenho, de ter vindo pra aqui e conhecer essa companhia Acesita.
P/1 – A última pergunta, eu acho que está fantástico, mas o senhor está achando que falta alguma coisa pra falar?
R – Não, eu falei com você, mas se tivesse sabendo, preparado eu tinha trazido mais coisa pra poder atender.
P/1 – Não, mas está fantástico.
R – Porque a gente fuçando lá nos guardados, né? Tinha vindo mesmo mais preparado.
P/1 – Não, mas está fantástico. Então vou fazer uma última pergunta pro senhor, a Acesita está fazendo 60 anos, né, e o senhor começou aqui em cinquenta e?
R – 55.
P/1 – 55. O quê que o senhor acha assim do senhor ter conversado aqui a tarde comigo, recuperado a história do senhor pra um livro agora que está comemorando 60 anos, o quê que o senhor acha assim de ter olhado pra trás?
R – Essa história da Acesita já deveria ter sido contada há muito tempo, não pros arquivos dela, mas pra sociedade. Porque você há de convir comigo que depois que veio a Fundação Acesita, foi fundada a Fundação Acesita, a Fundação Acesita transformou a vida social do município de Timóteo em cultura, em social, em coisa. Então é, a Acesita tem muita coisa que contar que está oculto ainda e que ela não levou ao espaço, ela tem que passar isso pra... Olha, eu acompanhei vários prêmios da Acesita por intermédio da Fundação e a Associação de Aposentados, porque nós, queira ou não queira mas a Associação de Aposentados ajudou a Fundação a desenvolver o seu papel no que ela tinha em meta. Então é eu, uns quatro troféus que a Acesita recebeu, eu tinha tido com o maior orgulho, e eu tinha orgulho porque eu era sempre convidado a participar ali na entrega daqueles troféus. A gente tinha dado por testemunho, falava tudo e tal. Quer dizer, o quê que você quer mais na sua vida, é te dizer que obrigado Acesita, obrigado administração da Acesita por ter me dado essa oportunidade de ser um cidadão hoje, como começou até hoje. E ter me dado aos meus filhos as condições de ser um homem, não um canalha como convive a sociedade hoje, todos os meus filhos foram educados, foram trabalhados, não tiveram tempo de estar na malandragem, e isso pra mim é o maior orgulho que eu tenho, só tem um que está lá dentro da Acesita, e que tem a cabeça no lugar, foi bem formado, graças a Deus, familiarmente, e eu acho que ele está sendo útil pra Acesita.
P/1 – Stelo.
R – Porque a Acesita tem investido nele, então, e ele tem muito carisma pelo serviço que ele faz, entendeu, muitas vezes ele chega em casa "ô pai, eu fiz, eu tive esse, eu tinha que fazer uma análise aqui pra conhecer isso, isso e isso." Eu falei: "olha, isso é muito fácil, só telefonar pra fulano que ele te dá todo esse detalhe." Porque hoje eu faço parte da Federação dos Aposentados de Minas Gerais, eu faço parte da Confederação Nacional dos Aposentados em Brasília. Eu tô sempre em Brasília, tô sempre no Rio, tô na Bahia, tô em São Paulo, quer dizer eu viajo, viajo, tô viajando e tô vivendo.
P/1 – Que bom. Com certeza.
R – Tô vivendo, tô aprendendo, porque hoje na minha idade que eu tô, com 81 anos, eu estou aprendendo, tenho que aprender muita coisa com vocês que são jovens.
P/1 – Que lindo isso!
R – É, uai, é a vez de aprender com vocês.
P/1 – E do senhor ter dado a entrevista aqui pros 60 anos, falado do senhor, da sua experiência, da sua vivência?
R – Eu acho que falar de mim não é elogio, eu não quero esse elogio pra mim, mas é uma grandeza de que a Acesita pode aproveitar alguma coisa disso que eu disse pra que ela passa num trabalho, e jogue esse trabalho não pra os arquivos dela, mas sim pra população tomar conhecimento, pro Brasil tomar conhecimento, pro exterior tomar conhecimento, eu mandei fitas da minha associação pros Estados Unidos, pra Bélgica, pra França, pra eles conhecerem o quê que de bom estava aqui dentro. Mandei mesmo. A fundação fez um trabalho pra nós ali e me deu umas fitas, eu regravei ela e mandei pra todo mundo, é tanto que até hoje eu chego lá no congresso. Há pouco tempo, em março agora, nós tivemos uma homenagem aos aposentados, ao dia dos aposentados. A primeira coisa que eles fizeram foi: "seu Stelo, tenha a bondade, senta aqui na tribuna, ah, eu soube que você está fazendo 81 anos." Eu falei: "não to fazendo, vou fazer 81" "Mas já é alguma coisa, porque tem faz dez anos que eu te vejo aqui, e nós vamos prestar homenagem a você." Eu fui homenageado na câmara dos deputados e no senado.
P/1 – Ai que beleza.
R – Foi muito bom, muito bom. Por isso que eu falo, nós, as pessoas não podem ficar satisfeitos com aquilo que eles têm, ela tem que aprender muita coisa a mais que ela não aprende. Eu mesmo não sei nada, tenho que aprender muita coisa porque vocês jovens têm coisa que eu não sei então vocês tem, eu vou aproveitar muita coisa de vocês, se Deus quiser.
P/1 – Ai que coisa boa ouvir isso.
R – Enquanto eu for vivo eu tô sempre junto com vocês, sempre com a juventude porque a juventude, elas tem elas tem a ciência, só não sabem aproveitar dela. É uai, os homens hoje têm uma capacidade muito grande, eu tenho um netinho que me dá show na matemática, da coisa, tem 15 anos. Mas muitas vezes ele não sabe aproveitar, parte pra uma, pra uma situação que não é adequada, né? Então nós fomos mais reservados porque não tinha essa oportunidade de tá tomando cocaína, tomando isso, tomando aquilo. Nós mais era trabalho, era trabalho e dentro desse sistema que eu criei na família, e tô muito satisfeito e tenho certeza que eles não se arrependem de eu ter criado eles assim.
P/1 – Com certeza.
R – Porque até hoje nós convivíamos todos lá, os que tão aqui não saem de lá da minha casa. Eu tenho um filho que todo dia tem que ir lá em casa tomar benção, sempre a mãe, tem, ele é casado, tem filho, trabalha, essas coisas, mas tem que passar lá. "Ô mãe como é que tá?" Come um pedacinho de cana e vai embora, não tem jeito mas isso é bom, eu tenho o Edson que foi aposentado.
P/1 – Edson, ele trabalhou aqui na Acesita.
R – Edson, trabalhou, o Elton.
P/1 – Elton?
R – Elton, trabalhou no laboratório, e tem o Aguinaldo que trabalhou na matriz da Forjaria.
P/1 – Ah, que legal.
R – Ele trabalhou lá em Santa Luzia.
P/1 – Então o senhor tem o maior orgulho.
R – Tenho, tenho. Eu agradeço vocês de ter me dado essa oportunidade de expor isso que eu tinha muita vontade de expor.
P/1 – Que bom.
R – Uma vez a Fundação me pediu, mas me pediu mais na parte cultural, mais na parte coisa. Mas eu gostaria mais de contar o quê que era a usina, o quê que a usina fazia o quê que a gente fazia pra usina e o quê que nós aprendemos dentro da própria usina, porque foi um celeiro de, é, de movimentação de educação pra todos nós que viemos de fora pra aqui, foi muito bom.
P/1 – Ai, que bom. Obrigada pela entrevista, em nome da Acesita, do Museu da Pessoa, eu queria agradecer demais.
R – Eu sei que ainda a gente não pôs se é muito atuante. Mas um dia chego lá, você já me deu essa dica aqui, eu já vou montar um esquema que amanhã ou depois se você me chamar eu to preparado pra isso, espera aí que eu vou trazer meu papelzinho aqui que nós vamos recordar daqui, daqui vamos passar pra você.
P/1 – Tá joia.
R – Você vai ver só, que eu não fico satisfeito só com aquilo que eu queria, eu quero aprender mais.
P/1 – Tá bom seu Stelo, obrigada.
R – E qualquer momento que vocês queiram conhecer, ou CD, alguma coisa que eu tenha, vão lá no meu escritório que é muito mais fácil me acharem, se eu não tiver viajando eu estou lá dentro, e ou na minha casa, né?
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