Projeto: Indígenas Pela Terra e Pela Vida
Entrevista de Jazone de Camilo
Entrevistado por Tiago Nhandewa
Entrevista concedida via Zoom (Curitiba/Avaí), 24/02/2023
Entrevista n.º: ARMIND_HV034
Realizada por: Museu da Pessoa
Revisada por: Bruna Ghirardello
P/1 - Boa tarde, Seu Jazone!
R - Boa ta...Continuar leitura
Projeto: Indígenas Pela Terra e Pela Vida
Entrevista de Jazone de Camilo
Entrevistado por Tiago Nhandewa
Entrevista concedida via Zoom (Curitiba/Avaí), 24/02/2023
Entrevista n.º: ARMIND_HV034
Realizada por: Museu da Pessoa
Revisada por: Bruna Ghirardello
P/1 - Boa tarde, Seu Jazone!
R - Boa tarde, Tiago!
P/1 - Seja bem vindo aqui na nossa entrevista do Museu da Pessoa de São Paulo. Hoje o senhor vai contar a história de vida do senhor, da luta enquanto Cacique e o que o senhor está vendo para o futuro do povo, do povo Tekoá, do povo Terena. Então, eu vou começar perguntando para o senhor, qual o nome do senhor completo e se o senhor tem nome indígena em Terena. E começamos por aí, o senhor pode se apresentar falando quem o senhor é.
R - Tá! Então posso me apresentar? Então, meu nome é Jazone de Camilo, Cacique da Aldeia Ekeruá, Araribá.
P/1 - Seu Jazone, o senhor tem algum nome em Terena, de batismo?
R -
Tenho um nome indígena, é Yetoré.
P/1 - Muito bem! Seu Jazone, você pode contar em que ano o senhor nasceu, onde o senhor nasceu?
R -
Então, eu nasci no Mato Grosso, porque minha mãe morava lá, foi no ano de 1936, eu nasci. Aí nasci no Mato Grosso, mas eu vim para cá, para a Aldeia Araribá com nove meses, estando com nove meses, quando eu vim para cá. Acabei de me criar aqui no Araribá, estou até hoje, estou com 86 anos, que eu estou aqui no Araribá, 36 anos de Cacique, eu estou de Cacique até hoje ainda, aqui na aldeia Ekeruá.
P/1 - Senhor Jazone, você pode contar um pouco da família do senhor, o nome da mãe do senhor, quem era ela, um pouco da história da mãe do senhor?
R - Sim! Minha mãe morava no Mato Grosso, na aldeia… então, ela era de lá, depois viemos para cá, em 36, eu estava com nove meses, que eu falei. E a situação dela lá, ela veio para cá, mas veio de mudança, veio de mudança por quê? Porque o Cacique, o Antônio Peo, que era aqui do Araribá, naquela época, então surgiu uma lavoura grande aqui no Araribá, então o chefe nossa aqui era Fernando Prado, naquela época do SPI, ele foi e deu uma ideia para o cacique, o chefe, de buscar o pessoal lá no Mato Grosso, as famílias. Foi o que veio para cá dos Terena, os primeiros Terena que vieram para cá foi o finado Teotônio e mais duas famílias, naquela época.
P/1 - E o pai do senhor, qual é o nome dele? O senhor pode contar a história dele?
R -
Eu sou registrado aqui, por… meu pai é Jerônimo de Camilo, falecido em 1955, ano de 1955, faleceu. E minha mãe é Epifania Morais, falecida também, mais ou menos em 62, por aí, ela faleceu também. Então aí ficou só eu, tenho os irmãos, mas os irmãos morreram também, ficou eu sozinho. O único filho que a minha mãe teve foi eu, Jazone.
P/1 - Senhor Jazone, o senhor pode falar um pouco dos filhos do senhor, quem são eles? Se o senhor pudesse contar a história deles.
R -
Sim! O primeiro filho que eu tenho é o Mário, o Mário de Camilo, ele foi funcionário da FUNAI contratado, trabalhou quinze anos na FUNAI, o Mario, e hoje ele reside aqui na aldeia, mudou para a aldeia, saiu lá da FUNAI, de Bauru, município de CTL, e veio para cá, então tá aqui junto comigo na aldeia Ekeruá.
P/1 - Além do Mário, o senhor tem outros filhos homens?
R -
Tenho! Além do Mário, então veio aí o Januco, o Januco é funcionário da FUNAI, então ele já se aposentou, ele se aposentou na FUNAI. Aí depois vem a Martinha, filha mais velha, mas tá morando em Bauru, casado com não índio, mora em Bauru. E depois vem a Claudete, casada com a Aluísio, aqui vizinha comigo, na aldeia Ekeruá. Aí veio a Marília, o Maurício, funcionário da prefeitura… Bauru, para estudar, então tá aqui morando na aldeia também, vizinho comigo. Aí tenho a Ivanete, que é caçula de mulher, mas é casada com não índio, mora em Bauru também. Então, são três homens e três filhas, é o que eu tenho até a data de hoje. A minha esposa faleceu também ano passado, 08 de dezembro, ela faleceu, faz um ano e um mês agora, estamos em fevereiro, dois meses, estamos em fevereiro. Ela faleceu na pandemia, então eu fiquei viúvo, estou sozinho aqui na mesma casa, onde me deixou, aqui na aldeia Ekeruá.
P/1 - Senhor Jazone, agora nós vamos voltar um pouquinho no tempo, eu gostaria que o senhor pudesse falar como foi a época de criança do senhor, o que o senhor fazia nesse tempo? Se o senhor pudesse contar, brincava, estudava, como era?
R - Então, como eu falei, sou criado aqui na aldeia, cheguei aqui com nove meses na aldeia, então conheço só brincando, naquela época. Aí a gente foi crescendo e foi estudando, eu estudei até terceiro ano primário, o que eu tenho hoje, está me salvando hoje, terceiro ano de primário. Então dali a gente cresceu, já tem mais ideia para conversar, para ouvir, essas coisas todas. E também eu fui brincando com os moleques, fui crescendo, estudando até o terceiro ano. Aí dei uma parada e comecei a trabalhar com doze anos, trabalhar com doze, trabalhando em roça, ganhando aí R$1,80, em algum outro lugar que eu trabalhava ganhava R$2,00, naquela época, quando comecei a trabalhar. Então vim vindo trabalhando, eu vim trabalhando dentro da Aldeia e fora da Aldeia também, nas fazendas em volta. Então a gente cresceu, foi quinze, foi dezessete anos. Aí com 22 anos eu fui servir o exército, eu fui servir o exército em Mato Grosso, Mato Grosso do Norte, lá em São Luís de Cárcere, pra lá de Cuiabá, lá de Cuiabá dá duzentos quilômetros, onde eu fui servir, passei um ano e pouco lá no exército. Aí de lá eu voltei, meu pai tinha morrido, aí eu vim, dei baixa lá para acudir minha mãe que estava sozinha, tirar um pouco de lavoura, aí eu voltei para a aldeia Araribá, naquela época. Não tinha surgido ainda o Ekeruá, era o Araribá ainda.
P/1 - Senhor Jazone, falando de Araribá, os Terena vieram do Mato Grosso, o senhor pode contar um pouco dessa história, por que os Terena vieram do Mato Grosso para o Araribá?
R - Então, o que eu sei, naquela época, o Cacique, quando nós chegamos era o finado Teotônio, Teotônio Peo, ele era o Cacique, depois, aí a gente chegou, a gente…. a gente começou a trabalhar. E naquela época os Terena que estão aqui hoje, vieram de Mato Grosso, então nós começamos ali com três famílias…. em seguida vieram mais duas famílias, cada dois anos, três anos, vem mais três famílias. Então onde surgiu, como é que diz, como posso dizer, nossa nação, os Terena, surgiu os Terena aí foi aumentando, os Terena aqui. Hoje tá mais Terena do que…. Naquela época, o finado Teotônio morreu em 1970, deu uma doença nele, ele morreu. Aí nós ficamos largados, largados assim, chefiados pelo chefe de posto, naquela época. Aí os mais velhos, os mais velhos que era… e assim por diante, os mais velhos… Nós ficamos noventa dias sem Cacique, noventa dias, então os mais velhos reuniam, eles não acharam bem que ficou sem Cacique, por quê? Porque precisa ter líder no meio da comunidade, então ficamos sem líder, ficou ruim, porque aí não tinha o líder que vai combater o que eles precisam, correr atrás de algum projeto, outras coisas que precisa, porque isso aí funciona com o Cacique, não funciona com o chefe de posto. Aí ficou os noventa dias sem Cacique, aí reuniram os velhos, fizeram o voto, naquela época. Porque o Cacique, no começo do Cacique, bem antiga para trás, Cacique era pai para filho, aí naquela época, em 86 que eu entrei, foi mudado, já acompanhando os brancos de fora, como político, então foi surgindo assim. Então foi candidatado três pessoas para exercer o Cacique, então foi no voto, já foi como político, na época que eu entrei, eu entrei em 1986. Aí saiu, fizeram os números, primeiro número como candidato foi compadre Faustino, saiu com dezoito, segundo número que deu foi o compadre Ceriaco, saiu com vinte, compadre Ceriaco, aí terceiro nome fui eu, Jazone, saí com 21. Aí os mais velhos falaram: “Então vai ficar o Jazone”, ficou eu, fiquei até hoje. Os velhos foram embora, eu tô aqui até hoje com 86 anos, sou viúvo, minha esposa me deixou, eu tô aqui junto com os filhos.
P/1 - Senhor Jazone, 36 anos de Cacique, muita luta. Que problema grande o senhor enfrentou em todo esse tempo, que o senhor pode falar: “Esse foi difícil na minha vida de Cacique”? O que o senhor acha que foi mais difícil?
R - Eu entendo assim, que está mais difícil para mim e para a comunidade é um negócio de recurso para a gente atender a comunidade, por quê? Porque eu estou com 62 famílias, em torno de trezentas pessoas aqui na aldeia Ekeruá, eu como Cacique, eu sou responsável pelas comunidades e, pela gente aqui, está tudo mais difícil para nós, negócio de recursos, negócio de fazer projeto, negócio de agricultura. Então essas coisas aí acho que é o item mais difícil para nós. Depois tem outras coisas que a gente tem que correr atrás, como estou correndo atrás, tem um pouquinho difícil, mas não tanto como esse aí, por quê? Porque isso daí é a comunidade, não é só eu e nem três, nem quatro, é a comunidade. Agora, nós tendo um projeto, tendo uma ajuda do governo acho que facilita mais alguma coisa para nós, inclusive nós já ficamos assim precisando de uma farmácia, nós estamos… ocupando, nós estamos correndo atrás da farmácia, das coisas, mas só ficam na conversa, então nós vamos correr atrás disso aí ainda, a comunidade precisa dessa farmácia, para ver a saúde da indígena, saúde da comunidade, saúde de todos. Então é isso que eu tô passando para você.
P/1 - Senhor Jazone, o senhor ainda pegou o tempo do SPI, dos inspetores do SPI, o senhor pode contar como era esse tempo do SPI? O senhor lembra desses inspetores do SPI, como era o trabalho deles no Araribá? Se o senhor puder contar.
R - Sim, eu posso contar uma parte que eu sei, na época de jovem, já adulto. Então funcionava naquela época que eu me conheci por gente, em 45, porque eu sou de 36, em 1945 eu já estava aqui no Araribá, já me conhecia por gente, já era moleque, estava na escola, no tempo do SPI, tinha chefe de posto, tinha em inspetor, Bauru. Tinha Bauru, depois mudou para Londrina, depois mudou para o Rio de Janeiro. Então, tudo isso aí já tinha um chefe de posto, mas chefe de posto é o seguinte… é o Cacique responsável pela comunidade, então se a comunidade precisar de alguma coisa, vai resolver o problema da comunidade, é com o cacique. Aí o Cacique que vai levar o plano para o chefe de posto, então chefe de posto é negócio da escritura, faz documento, recebe as palavras do Cacique, põe no papel, então ele faz isso. Naquela época também já tinha lavoura, mas tinha ajuda um pouco lá do Rio de Janeiro, que lá comandava Rio de Janeiro, agora é Brasília. Na minha época, em 45, era o Rio de Janeiro. Então, naquela época acreditava que a turma falava, era tempo de vacas gordas. Mas eu, como moleque… mas sempre, naquela época, vinha pouquinho, vinha para a gente, mas vinha pouquinho. Naquela época recebia enxada, recebia facão, recebia foice para as comunidades, para fazer o trabalho, para fazer as roças. Então ocupava isso, para a gente trabalhar, naquela época, tinha, mas depois, dependendo da troca do governo, aí terminou isso aí, acabou, parou. Então eu acho que naquele tempo era melhor, porque não era que nem hoje, mudou o nome, naquela época nós éramos colônia, então tinha todas as fazendas em volta, eu nunca trabalhei para fora, trabalhei só na fazenda, mas não empregado da cidade, nunca sai do Araribá e nem do Ekeruá, então eu sempre trabalhei aqui dentro mesmo, plantando uma mandioca, um milho, amendoim, essas coisas todas. Mas eu acho que naquela época, eu acho que era melhor.
P/1 - Seu Jazone, o senhor pegou a época que os Guarani moravam lá no Batalha, aí depois ficou duas aldeias. Como foi essa separação? Daí virou aldeia dos Guarani, aldeia do povo … E depois, agora tem quatro aldeias, vocês também criaram a aldeia Ekeruá. Se pudesse contar um pouco dessa história, das divisões da Terra Araribá?
R - Então, naquela época que me conhecia por gente, em 1945,
nós vivíamos junto com os Guarani, combinado, eles tinham a roça deles também, os Terena também tinha o deles, tinha projeto, então o Guarani tinha os dele, projeto, e os Terena também tinha o deles. Aí o que aconteceu, aí fracassou o projeto, aí o Mário, finado Claudemir, juntou aquela turminha mais ativa, mais sabida, que os índios são simples, tem alguns mais ativos que têm mais estudo, aquele que foi para frente, foi na frente para buscar outras coisas… que é a comunidade. Fracassou um pouco o projeto, aí o Claudemir e o Mário foram em Brasília saber se podiam arrendar terra ou se não podia arredar terra, naquela época, então nós estávamos meio fracassados de roça. Aí o Presidente da República, que era o Fernando Henrique, o Mário e o Claudemir chegaram a conversar com ele pessoalmente, eu tenho foto deles aqui, conversaram com Fernando Henrique, então Claudemir e o Mário que foram os dois lá, explicaram a situação, foram lá perguntar se dava para arrendar terra ou não. Então, pelo o que o Presidente falou para eles, que não dava para arrendar terra, mas pode trabalhar dentro da aldeia, é como se pudesse dividir esse capim. Voltaram com aquela notícia: “Não pode arrendar, vai ter que vender o capim, alguma coisa ali, para a gente ter alguma coisinha para aumentar a roça”. É o que foi sendo feito. Então o que eu fiquei sabendo é isso daí. Aí naquela época surgiu que aumento mais roça, aí lá em cima onde tá o Tereguá hoje, era tudo Guarani. E os Terena ficou aqui para baixo, aumentaram para lá. Por isso que sempre falaram. Aí logo em seguida, aí separaram…. primeiro cooperativa, segundo… aí o terceiro foi nós, que é do Ekeruá, de 2002, que nós mudamos para cá, mas a nossa mudança para cá foi o seguinte, como lá embaixo… tem uma estrada ruim que todo anos é um sacríficio descer lá para pegar alguma coisa que a turma vende, então nós achamos, no que passamos para cá, para Ekeruá, que a estrada era ruim, fizemos aqui a beira do asfalto, que nós estamos aqui na beira do asfalto, para o lado da BR, da pista. Então, nós estamos aqui, na Aldeia Ekeruá. Aí foi a mudança da Aldeia Ekeruá. Agora lá… não sei como que foi, não posso explicar.
P/1 - Senhor Jazone, o Araribá, o senhor acompanhou toda essa mudança, era uma aldeia, virou duas, depois, agora tem quatro. O senhor pegou a época que ainda tinha muita mata aí no Araribá. Cadê a mata do Araribá, o que aconteceu? Se o senhor pudesse falar um pouco.
R - Vou falar um pouco, o que eu sei, a gente passou por isso. O Araribá, naquele tempo, foi assim, é o que eu sei… até hoje. Nós tínhamos mato, quando era criança, em 1945, tinha mato, mas é o seguinte, o chefe de posto vendeu umas madeiras, então passava para os índios, que o finado Teotônio era o Cacique, passava: “Não, vai ser vendido as madeiras, tal, tal, mas para fazer as casas”. Aí nós esperávamos essa casa, essa casa, essa casa não saia, quando saia, saiam só duas casas. Duas casas para um monte de família, duas casas não era nada. Então o resto eu não sei para onde foi. Então era assim. Os demais era tudo que queimava, porque naquele tempo, até mudou de capim hoje, hoje é… E naquela época era jaraguá e colonial, naquela época, então pegava fogo, assim de hoje, queimava o mato a noite inteira e madeira queimava, não tem como apagar, aquele fogão, mata vai embora. Nós tentávamos apagar, mas não dava, queimava mais. Então foi queimando os matos, aí foi diminuindo, aí virou capoeira e aí foi diminuindo.
P/1 - O senhor viu aí a construção da ferrovia, da linha do trem e também viu a construção da rodovia que tem aí. Se o senhor pudesse contar um pouco dessa história, como foi a construção da linha do trem e da pista que tem aí hoje no Araribá.
R - Então, a pista não estou lembrando muito bem qual ano, me parece que foi em 62, que começou a ter a ferrovia do trem, não tinha, aí começou isso aí. Então, eles fizeram essa ferrovia, aí foi o chefe de posto que combinou lá, porque nós não tínhamos nada a ver com isso, então o chefe de posto que estava inteirado nesse assunto. Mas a gente chegou a ver que abriram a linha, fizeram a linha, fizeram a estrada, então fizeram estaçãozinha ali no limão azul, que eu cheguei… Então funcionou. Aí depois veio uma época aí e tiraram tudo. Então até hoje nós estamos atrás de indenização dessa ferrovia, mas por enquanto não foi resolvido nada ainda, mas nós estamos atrás. Agora a pista daqui, de Havaí ligado… esse também é outro, foi mais ou menos em setenta, 1973, por aqui, que fizeram ali, não tinha, aí fizeram alí. Mas também estão parado aí, porque a pista que liga Avaí… já morreram três índios, um na ilha, agora esses tempos atrás morreu outro índio, três vezes já morreu nessa pista de Avaí… Então a gente está vendo aí se dá uma indenização, alguma coisa, mas por enquanto ainda nós não acho se… não resolveu ainda os problemas, mas nós estamos atrás disso aí. E também nós temos laranja aqui, o vizinho, que aí também, a culpa, veneno, esses fazendeiros aí de laranja. Então eu acho que por aí a gente também tá um pouco prejudicado, porque solta veneno, vai aquela fumaça de veneno para dentro da aldeia, aquelas coisas todas, a gente não pode fazer nada. Então acho que nós também estamos um pouco sofrido nisso. Então, o que eu posso explicar é isso daí.
P/1 - Tá certo, seu Jazone! Senhor Jazone, eu lembro que o senhor contou uma história que na época de colocar os marcos no Araribá, para ver onde era o limite, o senhor participou lá na primeira vez. Se o senhor pudesse contar também como foi colocar esses marcos aí perto das fazendas, se Araribá perdeu terra para fazenda ou não, diminuiu? Essa história dos marcos, quem tava com o senhor, como foi?
R - Então, a história dos marcos, esses dias, acho que foi ano passado, fizeram a revisão dos marcos, onde nós fizemos revisão na minha época, uns cinco anos atrás e fizeram outra agora, ano passado. Até a gente lá do Itanhaém acompanhou… Até o Cacique Claudir também acompanhou, já eu não fui porque eu estava doente, aí mandei o Maurício, forma lá. Mas onde passou, nós passamos aquela vez, passaram no mesmo lugar. Agora, eu, na minha época de jovem, criança, eu fiquei sabendo pelos mais velhos, que no Araribá não era isso aí, era mais, passava pelos matos lá… mas isso não posso aprovar porque não tenho mapa, não tenho documento, mas os mais velhos falavam isso. Agora, o que nós temos aqui, hoje é esse Araribá, esse eu acompanhei a medida e agora, ano passado, Maurício acompanhou, seu tio também tava junto e o povo lá de Itanhaém também, então nós estamos nessa, estamos nesse limite do Araribá.
P/1 - Seu Jazone, Araribá tem aí quase mil alqueires de terra, pela população que tem hoje no Araribá, tanto Terena, quanto Guarani, senhor acha que essa terra aí é o suficiente hoje para o futuro do pessoal?
R - Eu acho que não, nós estamos com pouca terra. Inclusive, tem um bocadinho lá que está sobrando um pouco pro campo… maior que temos aqui dentro da Araribá, então pode criar um pouquinho de gado, não é que nem antigamente. Agora o Ekeruá, como segundo lugar, não pode criar mais gado, por quê? Porque a terra já está tomada por conta das pessoas que precisam plantar, então eu prefiro não criar gado e entregar terra para a comunidade plantar, prefiro! Fico fazendo isso. Então aqui, gado nós não podemos criar mais. Tem um pouquinho aí do Júlio, mas é pouca coisa. Já… também não tem, tá um pouco apertado, porque está faltando terra. Está que nem a nossa situação. Então eu acho que precisava, se tivesse um jeito, precisava ampliar a terra, aumentar.
P/1 - Tá certo! Seu Jazone, o senhor ainda está lutando pelo posto de saúde, para construir o posto de saúde, devagar tá conseguindo. E a luta aí pela educação, como foi para ter professor índio aí? Tem escola? Como foi essa luta?
R - Sim! Vamos começar pela saúde. A saúde aqui nossa está normal, não está bem assim 100%, por causa da farmácia que eu estou dizendo, precisamos da farmácia, aqui no Ekeruá e o Tereguá também não tem, está correndo atrás também. Então, a saúde nossa aqui está mais ou menos, não tá dos dez, mas não está dos piores, tá mais ou menos a nossa saúde. Agora, sobre a escola, todos professores aqui da escola são índios, índio, índia, eu acho que por aí que a gente tem que ir. Mas aí a prefeitura também está ajudando um pouco, não está dos piores, tá mais ou menos.
P/1 - Seu Jazone, senhor acha que a escola de hoje, que tem aí, que tem professor indígena, todo mundo está estudando na aldeia, ela é diferente da escola que o senhor estudou quando o senhor era criança?
R - É diferente! Naquela época, na minha época era assim, não estudava até se formar, que nem a faculdade hoje, só se formava no quarto ano, chegou o quarto ano já estava formado, já sabe a quatro operações de conta, já escreve bem, então dali, do quarto ano para lá nós não podemos mais ir para a frente para fazer faculdade, porque naquele tempo era… nós não tínhamos dinheiro para isso, não tinha bolsa também da escola, nós não ganhávamos bolsa, a comunidade não ganhava, então era assim. Agora, hoje eu estou vendo que os jovens têm que se interessar mais para estudar, para fazer a sua faculdade, por quê? Porque eles estão aí, que nem eu, estou com 86 anos, ainda estou de Cacique, correndo atrás de uma coisa, correndo atrás de outra, conversando com as autoridades, então eu to nessa. Agora, isso aí eu tenho que passar para os jovens. Aí a gente vai ficando de idade, então a gente tem que passar para os jovens. Qual é a tarefa dos jovens? A tarefa dos jovens é correr atrás para a comunidade, para a família, para a comunidade se for uma autoridade, mesmo que não for autoridades, mas tendo o seu escolar, tendo a sua faculdade, aí a coisa é outra. Então podemos… a nossa comunidade sair fora da aldeia, mas sempre continuar ajudando alguém lá de fora, por quê? Porque lá vocês têm uma experiência, então a sua experiência tem que lembrar da sua aldeia, da sua comunidade, do seu parente. Então ali a gente serve para ser orientador, estamos aqui porque o Cacique orienta a pessoa. Então eu entendo assim.
P/1 - Muito bem! Senhor Jazone, eu sei que na época que o senhor estudou - ainda vou insistir nesse assunto - na escola não ensinava a língua Terena. Como o senhor aprendeu a língua Terena?
R - Olha, hoje, agora, hoje, sai daqui com o professor lá de Campinas, estão aprendendo com o professor de Campinas, da UNESP, agora, daqui a pouco vou para lá, tá aqui, tô na escola. To acompanhando, agora está no segundo ano que estamos fazendo isso aí. Então tô achando que nós somos um pouco professor, nós que estamos com nossa, como é que posso falar, nosso idioma. Porque eles são professores também, estudou lá em Campinas, Unicamp, professor, mas não chegou a ter o contato com nós, certo? Então nós somos um pouco professor e um pouco aluno, ele é um pouco professor e assim a gente vai indo. Eu acho que nós não temos o contato certo, mas nós precisamos dele também. Então, a gente tem que levar um pouco do idioma, português, português é para nos defender… na nossa cultura, nós não podemos deixar essa cultura nossa, seja Guarani, Terena, Kaingang e assim por diante, cada um tem o seu costume, tem sua cultura, então nós não podemos largar isso aí. Mesmo que a gente seja autoridade, a gente tá na faculdade, mas nós temos que lembrar da nossa aldeia para o orientar o resto que está lá dentro.
P/1 - Senhor Jazone, o senhor já está vivendo 86 anos, o senhor deve estar percebendo que muita coisa já mudou, o senhor falou que para aprender a língua Terena o senhor aprendeu com os mais velhos.
R - Com os mais velhos! Inclusive, a gente passou a aprender agora, porque o que nós estamos fazendo aqui com o professor, porque nós estamos preocupados que os falantes já estão indo embora, aqui no Ekeruá, nós estamos com poucos falantes. Então por que o professor está aqui hoje? Ele está dando uma ajuda para nós para a gente deslanchar com o nosso idioma, não pode acabar. Então é isso que a gente, que nem eu e outra etnia, aprendeu junto com a mãe e o pai, sendo o pai puro indígena e a mãe… aprendeu com a mãe e o pai. Assim ensina os irmãos. Então funciona assim, a metade do dia é um pouco da escola e o resto do dia para trás é um pouco em casa e assim vamos, vamos levando o barco para a frente. Vamos levando nosso idioma para aprender para frente, porque se não vai acabar e ficar sem nada, então nós não podemos fazer isso, temos que obrigar os jovens, crianças a falar o idioma. Se não vai acabar nosso idioma.
P/1 - Senhor Jazone, antigamente não morava nessas casas que tem hoje, o pessoal tem carro, vai buscar comida no mercado. Na época do senhor como que era a casa que o senhor morava, a comida, se ia direto no mercado ou plantava, tinha carro? Como era essa vida antigamente?
R - Antigamente, carro não tinha antigamente, o carro não tinha, alguns tinham, muito pouquinho. Então nós plantávamos, plantava mandioca, batata, milho, algodão, milho verde, essas coisas plantava. Então nós tínhamos para o consumo e se sobrasse ia vender, então para o consumo tinha. E aí, de uns anos para cá, nós começamos a vender para o lado do mercado. Então com isso aí, que aconteceu isso aí, nós estamos precisando de projeto, nós não fomos correr atrás do projeto, o projeto também parou, ninguém quis dar o projeto, ninguém quis ajudar, então aí foi diminuindo as coisas. Negócio do carro hoje, então hoje quase todo mundo tem carro, mas só que aí nós estamos pendendo para o lado de mercado, precisa de um arroz? Vai ao mercado. Precisa de um feijão? Vai ao mercado. Então aí o que acontece? O carro facilitou mais, porque a gente tem que ir de carro e tal. Então, teve um apanho nesse meio aí que nós ficamos sem projeto. Das casas, eu aqui no Ekeruá, estamos com quinze jovens casados e esse ano agora, eu fiz o pedido, ano passado, até fui no negócio de reunião, fiz pedido de vinte casas, mas só vieram quatro, agora esse ano. Agora nós temos quinze, aqui na aldeia Ekeruá, temos quinze, agora vieram quatro, e o resto? Quem ganhou… os quatro ficaram contentes, mas e as pessoas que estão sem casa? Então, aí diminuiu. Agora, na época, na minha época nós fazíamos casa, casa de tábua, tijolo não tinha, tinha xoxa. Fazia casa de coqueiro, partia o coqueiro, fazia casa de coqueiro, tinha sapê, fazia casa de sapê, não usava nenhum prego, nós tínhamos uma casa grande, não usava nenhum prego, era de cipó, amarrava com cipó. Mas era uma casona grande, só que de sapê, mas não pingava, dois anos não pingava, depois precisava reformar de novo. Assim, setenta. Aí o que aconteceu? No tempo do Vilas Boas, Bandeira de Mello aqui, Presidente da República, aí solicitou de fazer umas casas para o Vinio, Araribá, que as madeiras não vieram mais aqui, as madeiras, vieram de Santa Catarina, eu tava naquela época. Então, aí que surgiu fazer as casas aqui, trinta casas de tábua, que foi feito. Aí ficamos sem luz, porque Vilas Boas não queria que a gente usasse luz porque não tinha dinheiro para pagar, surgiu tudo isso. Mas aí o prefeito de Avaí fez por conta dele assim, e arrumou para nós, foi em 1975, por aí, mais ou menos por aí. Então surgiu. Agora, hoje está assim, então faz uma casa está diminuindo. Esse ano mesmo, não tá feito ainda… Tem bastante gente, está com 62 famílias, então nós estamos precisando de casa sim, precisando.
P/1 - Hoje o Ekeruá está com 65 famílias. Quantas pessoas mais ou menos tem aí, senhor Jazone? Está nascendo muita criança, o pessoal está se casando, como está aí?
R - Então, está nascendo bastante criança aqui, no Ekeruá e nas outras aldeias também. Mas estou contando aqui da aldeia Ekeruá, nasceu bastante. E casamento saiu bastante, inclusive tem casal que está com o pai ainda, não saiu da casa do pai, está com a mulher e tudo lá, por quê? Porque ele vê nós com casa de tijolo, casa boa, não tem interesse, não quer morar na xoxa, ele quer morar na casa boa. Então a gente está correndo atrás do governador do estado, eu to mais velho, to meio paradão, mas o Maurício, eu falo para ele, ele corre atrás, certo? Então nós estamos precisando sim.
P/1 - Senhor Jazone, o senhor falou que o Maurício está correndo atrás do governador. O senhor já viu muitas mudanças, acabou o SPI, virou FUNAI, agora tem presidenta da FUNAI que é indígena, é uma mulher, e agora criou até um ministério indígena. O senhor também viajou muito senhor Jazone, lutando, buscando casa, buscando projetos. Como foram essas viagens do senhor, conversar com as autoridades, até com o Presidente do Brasil, como foram essas viagens?
R - Então, naquela época que eu andava mais como Cacique, a FUNAI ajudava, na época do SPI, da FUNAI, nós estamos com a FUNAI agora. Então naquela época ajudou, a gente ia, pagava passagem, chegava em Brasília, São Paulo, Itanhaém, eles davam o pouso, dava dinheiro da viagem, tudo isso eles arrumam, mas agora, na época do nosso governo, o governo que passou agora, aí estamos com quatro anos atrasadíssimos, atrasadíssimos, por quê? Porque não veio nada para nós, não veio mais nada para nós. Então ficamos nesse sofrimento, até na pandemia também, mas na pandemia a gente fez nossa… Inclusive nos fechamos em parte da pandemia, inclusive nos fechamos aqui, pusemos a máscara, diminuímos a entrada dos brancos, fechamos as porteira… Assim mesmo tomamos três doses de injeção, tomamos três, assim mesmo levou duas pessoas aqui da aldeia Ekeruá… João Biló… levou ele, aí quando foi de uma ano para outro, levou a minha esposa, foram os dois, levou minha esposa, não teve jeito, eu corri, corri para ver se salvava ela, mas não teve jeito, levaram os dois na pandemia, mas a gente… é doença, né!
P/1 - Senhor Jazone, falando da pandemia, no Araribá o senhor já ouviu falar da gripe espanhola? A pandemia da gripe espanhola foi forte, matou muito indígena, muito Guarani, inclusive. E agora essa pandemia que chegou e levou muitas vidas, não só do índio. Vocês tiveram alguma ajuda aí no Ekeruá, no Araribá, alguém ajudou para que pudesse combater a pandemia? Como foi essa luta aí contra o Coronavírus?
R - Então, no Coronavírus, na pandemia, quando surgiu, que veio, então aí nós já fechamos a porteira, eliminou a entrada dos brancos e ficou sozinho, com máscara, a gente conversava com o outro com máscara, remédio não tinha, aí depois, com o tempo, veio a injeção, nós tomamos três doses de injeção. Teve ajuda sim, do empresário, teve ajuda do governo na cesta básica, nisso aí a gente teve ajuda sim, teve ajuda da prefeitura, enquanto a pandemia estava avançando aqui dentro, então tivemos ajuda desses aí.
P/1 - Senhor Jazone, senhor tem 36 anos de Cacique, até agora está lutando ainda pelo povo da comunidade de Ekeruá, lutando pelo povo indígena. Eu gostaria de perguntar para o senhor, qual é o sonho que o senhor tem, o que o senhor quer ver ainda para o povo Terena, que o senhor quer ver para aldeia Ekeruá, para a família do senhor, que o senhor pensa para o futuro? Qual o sonho do senhor?
R - Como a gente é indígena, estamos aqui como Cacique, também a gente tem que valorizar nossa comunidade, tem que valorizar nós, a família. O que eu tenho desejo, o que eu posso desejar para os jovens, para a comunidade, é boa saúde para eles e os jovens também tem que se interessar mais pelos estudos, porque se a gente for pelo serviço, não, tem que interessar mais pelos estudos. Porque hoje o que está mais funcionando é a pessoa ter seu estudo. Então eu passaria a orientar mais os jovens pelo estudo, porque amanhã, depois, um é vereador, o outro é advogado e assim por diante. O outro é doutor, então quando chegar nessa altura aí, então volta a favorecer a aldeia, então acho que o maior trabalho nosso é por aí que tem que fazer. Então é isso aí que eu faço para os jovens. Agora, pelo idoso, esse não tem mais jeito, porque tem aposentadoria… então, assim mesmo tem que plantar alguma coisinha em volta da casa, para a gente poder comer uma batata, comer um pé de mandioca, não é muita coisa, mas pelo menos um pouquinho tem que sair daquela terra, certo?
P/1 - Senhor Jazone, nós já estamos finalizando e como eu falei para o senhor, hoje nós temos uma presidente da FUNAI que é a Joenia que é da etnia Wapichana e nós temos, o governo criou um ministério, que é a Sônia Guajajara. O que o senhor pensa dos indígenas ocupando esses cargos importantes em Brasília?
R - Então, aí eu acho que esse ritmo que nós estamos pegando, pegando ministro, o outro, da FUNAI e assim por diante, eu acho que isso aí vai ter um grande avanço, por quê? Porque é indígena, então eu acho que o indígena tem que trabalhar para os seus próprios parentes, aqui na aldeia já fizeram sacrifício, agora estando lá no poder, já sabe o sacrifício que tem os parentes, então alguma coisinha eles vão ter que correr atrás também lá, então tem que favorecer as aldeias, estando em Brasília.
P/1 - O senhor quer ver alguém de Ekeruá trabalhando em Brasília, senhor Jazone?
R - Por enquanto aqui nós não temos, assim, não tem uma escolaridade, tem que ver se a gente tem. Então também não adianta falar, a gente que… o problema é a escola, nós não temos ainda. Estamos aí estudando, os jovens estão estudando, talvez a gente chegue até lá, talvez.
P/1 - Senhor Jazone, do Araribá tá muito longe da Amazônia, nós estamos vendo que tem os garimpeiros lá tirando o ouro, tem gente derrubando a mata da Amazônia. O que o senhor pensa disso? De ir lá escavar, fazer buraco na terra, tirar o ouro e derrubar as árvores, o que o senhor vê?
R - Então, o que eu vejo aí.. eu sou daqui da cidade de São Paulo. O pessoal da Amazônia é parente, é indígena também, então a dor eu acho que é uma só. Então o que eu vejo hoje, vejo na televisão, que nem na Amazônia eu não vou, não conheço, mas a gente vê na televisão o nosso parente naquela situação, porque os brancos dizem assim… os índios que são os verdadeiros brasileiros, mas eu acho que não é por aí, por quê? Porque vamos dizer, a Amazônia, tem a aldeia do Raoni lá, que a gente conhece, andou bastante com ele e tal, nós temos contato. Agora, até hoje, esse ano, ficou naquela situação, ficou naquela situação, por quê? Antes dos dez anos para trás, não acontecia isso aí, estava felizes, tá certo que não tirava ouro, não ficamos sabendo, mas tem a caça para eles, tem a pesca para eles, tem mel para eles, tem as coisas do mato para eles se defenderem e para alimentar. Agora, o que eu vejo na televisão, o que estão lá vinte mil garimpeiros, que não é pouco, estão lá tirando ouro, tirando isso, vendendo. E coitado dos índios que são os donos do Brasil, como é que fica? Passando aquela situação, eu acho que não está certo, não é? Então, se fosse os primeiros índios do Brasil, então nós tínhamos o direito de plantar, fazer as coisas para defender, então o que eu penso é isso, mas não aconteceu isso, foi contrário. Então a gente sabe disso… Tem que acabar isso, tem que voltar no que era. Agora não digo o negócio do ouro, porque não sei quem tira ouro, se é o índio que tira, se é o Presidente da República que tira, não sei, não sei como explicar. Mas acho que tá um pouco… o índio não tá… é nada lá, não tá raspando nada não… esse sim não estão proibidos, mas o que é deles mesmo, não tá nem, não tá nem no critério deles. Então por isso que fica nesse sofrimento.
P/1 - Senhor Jazone, eu fiz muitas perguntas para o senhor aqui, tem mais alguma coisa que o senhor gostaria de contar e o senhor não falou?
R - Então, já aconteceu bastante coisa, mas eu sempre, eu falo, eu acho que a gente tem… o governante… o governo, porque a gente vai pedir socorro para o governo, do governo vem para a prefeitura, para o estado e assim por diante. Então o que a gente pode pedir socorro é para o governo, então eu pretendo que o governo ajude mais os indígenas, as aldeias, plantas, projeto, essas coisas para os índios. Então o que eu penso é isso.
P/1 - Senhor Jazone, o senhor contou a história do senhor hoje aqui para o Museu da Pessoa de São Paulo, o que o senhor achou de contar a história do senhor?
R - Pro Museu? Pro Museu assim, nós estamos trabalhando também com o… acompanhando o negócio do Museu em São Paulo. Mas eu tenho uma pessoa aqui que eu falo com ele, ele vai lá, ele vai lá por causa da idade, então quando liderança, liderança ir lá, então vai liderança. Então, pelo o que a liderança está falando pra mim, lá em São Paulo, estão fazendo um prédio para os indígenas. Só que aí os índios, etnia de um, etnia do outro, um quer pegar, o outro que pegar também, então todo mundo que pegar. Aí não dá certo. Vamos experimentar uma família pegar depois que a gente vê o trabalho, para depois a gente falar alguma coisa, mas por enquanto está nessa. Mas a gente também está esperando um projeto, todas as aldeias precisam de um centro comunitário, precisa de uma casa para receber as visitas, sempre alguma coisinha para a gente fazer no futuro. Então a gente também tá acompanhando isso aí que o Gerulino, que é lider que eu mandei ele lá, sempre está acompanhando tudo isso aí, pra gente vê o que vai sobrar para nós algum projeto, não vai, então estamos nessa, acompanhando.
P/1 - Senhor Jazone, o que o senhor achou de contar a história do senhor hoje? Qual importância de contar a história?
R - Então, hoje eu vim meio nervoso… daí o professor do curso aí, tô aí também, mas a gente fica, puxa vida, vai fazer a entrevista… tem que saber o que fala também, né?! A gente não pode falar de qualquer jeito, tem que saber o que fala. Então, que nem eu falei para o Maurício, que é o segundo Cacique: “Você que tem que falar, que você que é o Cacique, o povo tem que saber de você”. Então eu falei para ele: “Bom…” Mas só que o coração está balançando, a gente fica um pouco nervoso, porque é duro, mas eu estou aqui pela comunidade, pelo pessoal da gente aqui na aldeia, estou aqui para orientar, eu não estou aqui para mandar, tô para orientar. Agora, se o índio me obedecer e fazer o que eu oriento, aí tudo bem. Então eu vejo por aí, a gente tem que passar elogio para a comunidade.
P/1 - Muito bem senhor Jazone! Eu quero agradecer o senhor por ter encarado aqui esse mundo que a gente está vivendo, que agora a gente conversa de longe pelo computador, eu vendo o senhor, o senhor me vendo, e o senhor contando a história do senhor que é uma história muito importante, pela idade que o senhor tem, 86 anos e 36 anos de Cacique.
R - E 66 anos de casado. Minha esposa me largou com 66 de casado e nunca tivemos uma briguinha… briga, bater em mulher, não, isso não! Foi tudo dez! Ela faleceu…
P/1 - Senhor Jazone, com certeza foi um casamento muito abençoado por Deus, o senhor continua aí na luta, continuando a missão do senhor, com certeza a esposa do senhor estava no tempo dela…
R - Por quê? Porque ela me ajudava um pouco também: “Isso aí tá certo, isso não tá certo”. Então agora a gente ficou sozinho, mas eu estou na luta, estou na luta ainda.
[Fim da Entrevista]Recolher