P – Boa tarde, Antônio. Fale um pouquinho sobre você, seu nome completo, onde você nasceu? Onde passou sua infância? R – Boa tarde, professora Dilma. P – Tudo bem? R – Eu sou Antônio Carlos Fonseca Guedes. Nasci aqui. Na época, ainda era Distrito Federal. Eu nasci em 1958, aqui no Rio de Janeiro, eu sempre fui daqui. Nunca saí do Rio de Janeiro. E… Bom.. Aí a minha infância, a senhora quer saber sobre a minha infância, né? Eu tive uma infância… Eu perdi minha mãe com um ano, quase dois anos, um ano e nove meses. Fui criado pela minha avó e pela minha irmã. Tive uma infância assim, como que eu vou dizer… Época de escola foi para mim, foi bem difícil que eu era difícil de se socializar no colégio, nas escolas. Eu passei por acho que três escolas. Meu pai pagava, meu saudoso pai, pagava até o ônibus ecolar pra me buscar em casa.Na hora da escola eu me trancava dentro do quarto, porque não era que eu não gostasse de estudar. Eu chegava na escola, ficava em pânico. Eu passei acho que um ano e meio fora de escola. Depois voltei para escola pública, que hoje se chama escola municipal. Consegui recuperar o tempo perdido e graças a uma professora dessa escola que tinha um filho que era aluno do Pedro II. Ela chamou minha mãe na escola. E aí falou: Coloca ele, fala para ele fazer a inscrição que ele passa. Ela, ela se ofereceu. Eu comprei os livros. Era na época, era na banca de jornal aquele livro preparatório. Ela me dava aula à parte sempre, nunca cobrou nada. Ela tinha prazer de, passava os exercícios pros outros alunos e passava o exercício para mim do livro. Graças a ela, tia Laura, que eu consegui passar pro colégio. Infelizmente nunca mais a vi. Depois que… com as coisas da vida, né… E aí no colégio, no primeiro ano, ainda era muito devagar, muito quietinho. A partir do sexto ano que eu comecei, graças ao colégio, ao ambiente do colégio que eu me soltei....
Continuar leituraP – Boa tarde, Antônio. Fale um pouquinho sobre você, seu nome completo, onde você nasceu? Onde passou sua infância? R – Boa tarde, professora Dilma. P – Tudo bem? R – Eu sou Antônio Carlos Fonseca Guedes. Nasci aqui. Na época, ainda era Distrito Federal. Eu nasci em 1958, aqui no Rio de Janeiro, eu sempre fui daqui. Nunca saí do Rio de Janeiro. E… Bom.. Aí a minha infância, a senhora quer saber sobre a minha infância, né? Eu tive uma infância… Eu perdi minha mãe com um ano, quase dois anos, um ano e nove meses. Fui criado pela minha avó e pela minha irmã. Tive uma infância assim, como que eu vou dizer… Época de escola foi para mim, foi bem difícil que eu era difícil de se socializar no colégio, nas escolas. Eu passei por acho que três escolas. Meu pai pagava, meu saudoso pai, pagava até o ônibus ecolar pra me buscar em casa.Na hora da escola eu me trancava dentro do quarto, porque não era que eu não gostasse de estudar. Eu chegava na escola, ficava em pânico. Eu passei acho que um ano e meio fora de escola. Depois voltei para escola pública, que hoje se chama escola municipal. Consegui recuperar o tempo perdido e graças a uma professora dessa escola que tinha um filho que era aluno do Pedro II. Ela chamou minha mãe na escola. E aí falou: Coloca ele, fala para ele fazer a inscrição que ele passa. Ela, ela se ofereceu. Eu comprei os livros. Era na época, era na banca de jornal aquele livro preparatório. Ela me dava aula à parte sempre, nunca cobrou nada. Ela tinha prazer de, passava os exercícios pros outros alunos e passava o exercício para mim do livro. Graças a ela, tia Laura, que eu consegui passar pro colégio. Infelizmente nunca mais a vi. Depois que… com as coisas da vida, né… E aí no colégio, no primeiro ano, ainda era muito devagar, muito quietinho. A partir do sexto ano que eu comecei, graças ao colégio, ao ambiente do colégio que eu me soltei. Foi aí que eu comecei a conhecer todo mundo das turma todas. E assim foi até o ensino médio. E hoje, no meu antigo primeiro grau, o ginásio. Entrei para o ginásio e logo depois, com a reforma de ensino, passou a ser o primeiro grau. Eu pulei do primeiro ano do ginásio para a sexta série. Fiz a sexta, sétima e oitava, que agora mudou de novo. Isso no Engenho Novo, na seção Norte, antigo Externato Frei de Guadalupe, Setor Norte, e vim fazer o ensino médio em São Cristóvão, Externato Frei de Guadalupe sede, em 75, 76 e 77. Foi que eu fiz aqui o ensino… E mesmo assim como eu tinha muitas amizades lá no Engenho Novo eu sempre que dava, pelo menos uma vez na semana, eu saía de São Cristóvão ia lá pro Engenho Novo para ver a galera. Inclusive, houve até um fato assim que eu conhecia muita gente, quando eu era da oitava série da sexta série, que era da sétima e quinta, depois… O que acontece, quando terminava lá nessa época eu estudava, só tinha o primeiro grau. Acabou o primeiro grau ou vinha pra São Cristóvão ou ia para o Centro. Automaticamente vinha para São Cristóvão ou, se pedisse, ia estudar no Centro. Eu vim para São Cristóvão. E o que acontece quando chega, chegasse o terceiro ano do ensino médio? Aquela turma que estava lá no Engenho Novo vinha pra aqui, pra São Cristóvão. Minha maior frustração foi essa, o que aconteceu, em 77. Parece que houve um… Tinha uma lei que parece que o Colégio Pedro II, o Colégio Federal, não ia ter mais o primeiro grau. Começou o ensino médio lá no Engenho Novo. Então, todos os que estavam lá permaneceram lá. O pessoal que eu esperava vir aqui, vir encontrar, recepcioná-los aqui em São Cristóvão, continuaram lá no Engenho Novo. Foi até minha maior frustração. Eu cheguei no primeiro dia. Naquela época, a gente não tinha essa comunicação de hoje em dia, de zap, de redes sociais então a gente só comunicava mesmo. A gente perdia o contato nas férias e voltava na… Até telefone era uma coisa difícil, fixo. Então, com a minha surpresa que eu chegar aqui, eu li as listas… Ué, cadê o pessoal? Que ficaram lá no Engenho Novo? Foi isso, uma frustração que eu tive no terceiro ano, no meu terceiro e último ano que eu fui. Para mim foi… como é que vou dizer? Eu sofri muito que eu estava em contagem regressiva para sair do colégio. Foi um ano muito… Apesar da preocupação com o vestibular. Na época o vestibular unificado, então, foi muito assim. Era a contagem regressiva… O último dia então… Poxa, eu me lembro que eu fiz a prova. Minha última prova foi Moral e Cívica, 3 de dezembro de 77. Eu saí daqui que cheguei em casa e desabei. Mesmo assim, a ficha ainda demorou um pouco a cair. Mas eu… caramba! Fiquei muito, muito triste. Inclusive, teve até uma caderneta no ano seguinte que eu rasurei e coloquei no ano de 78 como se eu ainda fosse… Não rasurei para entrar em cinema. Eu já tinha 18 anos. Mas eu rasurei pra dizer que eu era aluno do Pedro II. P – Antônio, fala um pouquinho mais sobre a sua juventude e, principalmente, dessa sua vivência no Colégio Pedro II. Você tem algum professor, alguma professora que você lembra até hoje? Ou alguma situação especial envolvendo um professor ou uma professora? R – Eu lembro de quase todos, principalmente do fundamental, do ensino médio também, mas que me marcaram mais foram da época do ginásio, primeiro grau, agora é fundamental. Tive vários ótimos professores… Professor Ali de Mello. Ele era muito doido, gente boa pra caramba, professor de Geografia… Professor Newton de História, grande professor Newton de História. Tive uma pedra no sapato durante quatro anos. A professora… Eu prefiro não citar nomes… Mas foi uma professora que causava. Não sei se eu posso falar aqui. Eu não vou falar o nome dela. Que havia o seguinte… Tenho testemunha sobre isso. Ela pegava no pé, mas pegava legal no pé dos alunos. E o que acontece… Principalmente aqueles alunos melhores da turma, os chamada na época era CDF e agora são chamados de nerds. Os alunos, as notas despencavam. As mães, os pais, iam conversar com a professora. Isso eu nem sei o que acontecia lá. Ela aconselhava aos alunos terem aulas particulares, pagas. E quem dava essas aulas particulares pagas? Deixo no ar. Eu tenho testemunhas disso. Não vou falar o nome da professora. Foram os quatro anos do primeiro grau. Eu fiquei o primeiro ano, o primeiro ano que seria a quinta série. Hoje é sexto ano. Eu consegui passar. Os outros três anos eu fiquei em segunda época, naquela época chamava segunda época, agora é recuperação. Mas graças a Deus eu consegui passar. Mas era assim e essa foi a parte negativa do colégio. E ela faltava muito. Eram três dias de semana, ela sempre falta um dia. Agora, fora isso, todos os outros professores não tem o que reclamar. Foram excelentes professores. O professor que eu gostaria de ter sido aluno dele eu não fui: Manuel Jairo Bezerra. Era um ótimo professor. Eu assisti uma aula dele em outra turma, uma turma de colega. Era uma aula totalmente diferente. Tive professor Soter de Ciências. A professora Rebeca de Inglês, professora Aline de Música, que era um doce. Tenho até fotos dela e tudo. Tive a professora Dauni Moraes de Desenho, professora Evelyn… Fui aluno do professor Barane, no seu último, nos últimos seis meses que ele deu aula antes de se aposentar. Ele deu aula no primeiro semestre. No final do primeiro semestre, ele se aposentou e entrou até a professora Evelyn. Era professora nova lá no colégio. E aqui em São Cristóvão tem o professor Raimundo Barbadinho Neto, de Português. Foi meu professor. Professor Osvaldo Marcondes, de Matemática e muitos outros professores. Agora, assim, até me falha a memória. Mas eu lembro de praticamente quase todos eles. P – E com relação aos colegas Antônio, você ainda preserva amizades? Tem contato com esses colegas? Há algum colega, algum amigo de escola em especial que você lembre ou com o qual você ainda tem algum tipo de contato? R – Bem, eu tenho muitos. Graças à tecnologia da internet. Eu andei muitos anos, eu fiquei adormecido como aluno do Colégio Pedro II. Eu tinha isso tudo guardado, mas tá lá quieto, não. Graças as redes sociais, começou na época do Orkut que eu entrei, que eu comecei a digitar lá, que eu coloquei Colégio Pedro II começou a aparecer os colegas. E depois, graças também que eu consegui junto ao colégio de novo as listas da minha turma e comecei a pesquisar, pesquisar, pesquisar… E fui achando todo mundo. Toda a minha turma do ginásio eu achei. Eram 36, 37 alunos. Eu achei um pouco mais de 20. Infelizmente alguns já não estão mais entre nós. Mas eu achei a grande maioria. E agora, a partir daí, o nosso contato, se firmou mais. Inclusive os colegas que eu tinha, que eu falei de outras turmas, tenho muitos, mas muitos colegas mesmo. Que eu consegui recuperar. Um que era um grande colega meu, colega de turma, inclusive, estudou na mesma escola pública que eu antes do Pedro II só que em outra turma. Demerval, ele mora em Piracicaba. Era o meu, era o meu melhor amigo. A gente sempre tem aquele melhor amigo de turma, do colégio. Ele, inclusive, estudou os sete anos. Nós fomos da mesma turma no Pedro II. Porque quando a gente saía do Engenho Novo para São Cristóvão a turma mudava. Eles mesclavam. Não é igual agora que a turma vai direto, né? Mas ele continua, continuamos nós dois na mesma turma, os sete anos de Pedro II. Tenho vários outros colegas que de outras turmas, de outras séries que eu consegui resgatar graças a redes sociais. Se não tive essa tecnologia, eu acho que eu ainda estava adormecido. P – Antônio, o escritor Nelson Rodrigues costumava afirmar que o aluno, nos seus textos, afirmava que aluno do Colégio Pedro II é alegre, é dionisíaco. Você lembra de alguma situação engraçada que você tenha vivido na sua juventude no Colégio Pedro II? R – Tenho! Algumas até que eu não posso… Mas tem muita situação engraçada, muitas estripulias. A gente fazia muita bagunça no ônibus. Era todo dia. A gente pegava o 267 que tinha. Essa linha nem existe mais, era Largo de São Francisco – Freguesia. Então era aqueles ônibus com motor atrás, igual aquele ônibus que o colégio tinha… E a gente ia sentado ali, em cima do motor. Não podia, mas a gente sentava porque não podia. E a gente vinha fazendo bagunça, e mexendo com todo mundo, e mexendo com o motorista e o cobrador. Aí tocava “rema, rema, rema, remador… O trocador, o motorista…” Aí o motorista parava o ônibus, botava a gente pra descer. Isso, é claro, a gente não tinha passado na roleta. Naquela época a gente entrava por trás. E quantas vezes a galera toda descia no Méier? E pegava outro, o outro que vinha atrás. E, mas era tanta história… Uma vez o motorista ele passou. É que moro em Jacarepaguá. Eu morava desde a época do Pedro II. Então passamos ali pelo antigo Ernane Cardoso. Ainda era mão dupla. Passamos no antigo quartel Hackmack, que agora é o Guanabara. Aí ele parou. Pediu aos soldados para interceder, para tirar do ônibus. Os soldados não… Apesar de estar naquela época militar… Mais à frente, no bairro do Campinho, ele chamou os PMs. Aí, pronto, manda encostar. Encostou o ônibus lá na frente. A gente passou na roleta rapidinho, Paguei a passagem, o ônibus tava cheio. Aí o motorista apontou: “Vem você, você, você…”.Eu e mais três colegas. As meninas foram… Tinha menina também! Não era só menino, não. Tinha meninas, muito bagunceiras, por sinal. E aí nós descemos. Aí o ônibus seguiu viagem. Aí os PMs pegaram a nossa caderneta. Aí ficaram olhando um pra cara do outro. “Toma, toma! Some da nossa frente, some da nossa frente!”. No dia seguinte, tudo voltou ao normal! Mas aí eu pensei: “Pronto, vou ser expulso do colégio, vão levar a gente preso.” No dia seguinte continuou do jeito que era, a gente continuou a mesma coisa, com os mesmos motoristas que já conheciam a gente e alguns não paravam. E ainda teve um outro… Uma outra situação também. Já era meio dia e pouco. Todos eles passavam por fora. Ali na Barão de Bom Retiro. Já sabiam as peças que estavam no ponto. Aí teve um que passou por fora e parou no sinal, lá na frente. Aí eu corri lá e bati na porta traseira. Aí o motorista olhou pelo espelho. Eu não sei por que cargas d’água… Sabe aquela placa que tinha do lado, que era encaixada? Eu arranquei aquela placa do ônibus. E voltei para o ponto. Daqui a pouco eu olho e o motorista veio atrás de mim. Eu corri, ele voltou. Ele viu um galerão no ponto, ele não ia. Aí um colega meu, Felipe: “Pô, me dá aí!” Eu também não ia levar aquilo pra casa… Eu ia chegar em casa e ia até apanhar. Ele: “Me dá aí!” Toma. Quando eu dei para ele quem vem passando no outro lado? Naquela época, os funcionários, inspetores, tinha o do turno da manhã e o do turno da tarde. Quem vinha passando embora para casa? Seu Leite, que era o chefe de Disciplina. Eu só escutei, ele falava assim: “Ei, rapazinho!”. Quando eu olhei: o Seu Leite… Chamou ele. E eu…dei linha na pipa. Fui até pra outro ponto. Nem olhei para trás. Só que esse aluno, eu tenho ele também, até hoje, na rede social. Ele já estava mais do que pendurado. Já estava a ponto de ser expulso do colégio. Tanto é que depois ele foi transferido para a noite. Naquela época, o castigo era transferir para noite. Então, o que aconteceu? Pegou ele e levou de volta pro colégio. Ele disse: “Não, não fui eu.” Ele falou pra ele se ele não dissesse quem foi que ele ia ser expulso. Isso foi no final da oitava série. Eu estava no final da oitava série. Ele era da sétima, se não me engano… Aí a minha consciência pesou. No dia seguinte, eu procurei o Seu Leite. E como eu tinha a ficha limpa. Minha ficha não tinha, nunca tive suspensão, nunca tive nada. Só uma vez para fora de sala, mais nada… Eu tinha ficha limpa. Aí eu procurei no dia seguinte, na hora do recreio, procurei. “Seu Leite, sobre aquilo que aconteceu lá fora. Fui eu que tirei a placa do ônibus”.”Então, quando acabar sua aula, você vai lá na chefia de Disciplina.” Acabou a aula, o pessoal lá me esperando, a fila para a gente ir embora. Aí cheguei e ele me deu um livro. Eu acho que era Código Civil, alguma coisa assim. “Lê nesse código aí, desse artigo aí…causar danos a bens públicos. Você está vendo isso?”. “O que eu faço agora?”. “O senhor desculpa, é que os ônibus não têm parado para mim, para a gente.”. Ele: “É, inclusive já recebi queixa da empresa que vocês fazem muita bagunça no ônibus.”. Aviação do Redentor, até… “Poxa, seu Leite… Foi ato assim… Eu prometo que eu não faço mais.”. Ele: “Vou fazer o seguinte, vou te liberar, não tem problema nenhum, mas você nunca mais faça isso. Eu vou te liberar porque você foi honesto, veio aqui e se acusou para não dar problema pro seu colega.”. Aí me liberou, graças a Deus. Já foi no finalzinho da oitava série. Mas a gente fazia muita, muita bagunça no ônibus. E graças a Deus eu consegui resgatar grande parte dessa dessa galera. E são meus amigos hoje. Consegui recuperar todos eles, quase todos eles. A gente às vezes começa a conversar sobre isso. P – Antônio, depois do Colégio Pedro II, como ficou a sua vida? Você constituiu família? Se casou, teve filhos? R – Até digo que casei. Tenho uma filha, ex-aluna recente, também. Ela fez o Integrado de Informática. Nayara, Nayara Guedes. Lá no Engenho Novo, terminou em 2019. Inclusive não teve nem a colação de grau que seria no dia 14 de março, aqui. Mas no dia 12 parou tudo. Teve o baile de formatura. Foi esse ano o baile, graças a Deus teve o baile. Mas até hoje eu nem sei se vai ter a colação de grau. Não sei qual vai ser a posição do colégio… É a minha única filha. Agora está na Uni-Rio, faz licenciatura de Ciências da Natureza… A minha vida depois do Pedro II, eu posso dizer que eu sou um fato meio atípico. Atípico com o seguinte. Todo ex-aluno do Pedro II tem um patamar assim, sai do Pedro II vai fazer um superior, alguma coisa assim. Inclusive, sofro até um pouquinho de discriminação com meus colegas. Porque, o que acontece? Eu saí do Pedro II fui fazer Engenharia Elétrica na Veiga de Almeida. Cheguei a cursar Engenharia Elétrica na Veiga de Almeida. Só que, literalmente, eu dormi em sala. Eu não sei se foi… Eu acho que foi por dois motivos. Primeiro porque a Engenharia Elétrica estava na moda na época. Era aquele negócio de modismo. “Ah, vou fazer.”. E outra coisa. Eu era muito imaturo. Eu saí de uma realidade aqui no Pedro II, fui para a faculdade. Eu: “quê que é isso aqui?”. A gente está acostumado com aquela… Aluno de colégio do Pedro II! A gente bate na faculdade, o pessoal sério e tudo. É outro nível. Tanto é que eu não lembro de nenhum colega da faculdade. Se perguntar o nome de algum eu não lembro. Eu estudei uns três, quatro anos, três anos, mas teve ano que teve muita matéria, matéria que prendia as outras, então o ano não andava. E nesse ínterim eu comprei um táxi. Financiado. O que acontece? Veio o dinheiro fácil, o dinheiro fácil que eu digo assim, rápido. Aí que eu comecei a trabalhar até mais tarde. Comecei a faltar aula. Eu já faltava e não era… E antes que alguém pense: “ah coitado! Ele pagava a faculdade, coitado, não teve condição de continuar…”. Não. Meu pai tinha um bom emprego na Light. Ele pagava a minha faculdade, mas só que chegou a um ponto que não é isso que eu quero. Foi um baque que eu dei na minha família. Foi um baque que deu. Eu cheguei: eu não quero mais. Eu me senti até mal dele pagando a faculdade e eu não tinha aquele interesse, eu não tinha. Não adianta. Eu tranquei a matrícula. Depois disso, nunca mais voltei. Trabalhei desde 1981 até poucos anos atrás com o táxi. Onde eu fiz a minha vida… Depois me casei, tive minha filha, me separei. Sou separado. É eu e minha filha. Cuido da minha filha desde quando ela tinha dois anos. Com o auxílio da minha família. E é isso. A minha vida foi toda em cima do táxi. Não tenho do que reclamar. É como eu digo. Já teve encontros de colegas de Pedro II colegas mesmo do fundamental… “Ah, eu sou Engenheiro Civil e você?”. “Sou taxista.”. Teve gente que torce o nariz. Para mim é diferente, que é um emprego digno. Inclusive hoje é muito cobrado isso. O aluno tem que terminar, ainda mais agora, tem que passar para a faculdade pública, como se todos os alunos fossem obrigados. Eu acho que é até uma cobrança meio… Não sei, o que eu vou dizer, assim? Que o aluno se sente forçado a ter que terminou o terceirão, agora tem que passar para uma faculdade pública. Se não passar é um desastre. P – Antônio, você voltou pra a escola, para o Proeja. Fala um pouquinho dessa sua vivência no Proeja… O que você tem achado do curso? Fala um pouquinho pra gente como tem sido essa sua vivência como aluno do nosso Proeja? R – No Proeja, eu estou amando o Proeja! Eu comecei no online, no ano passado. Estava no ensino remoto por causa da pandemia. E agora, em fevereiro, ainda voltei no finalzinho do 1º ano no presencial e eu estou… Muita gente até me chamou de maluco. “Você vai fazer Proeja? Você já tem ensino médio… O que você vai fazer agora, com essa idade, no Proeja?”. Inclusive tem pessoas com mais idade que eu lá no Proeja. Tem alunos de 80 anos lá no Proeja. E aquilo para mim, é como se fosse uma outra família. Eu estou me realizando lá. Os professores são excelentes. Dizer que “ah é Proeja, é qualquer…”. Não, não… Os professores são do mesmo nível do diurno. Inclusive, muitos, a maioria dá aula tanto no diurno como no noturno. É claro que, como a maioria dos alunos tem seus afazeres, os trabalhos, o ensino tem que ser mais… Não tinha muito, tipo, para casa, serviço pra trabalho. Tem que ser um ensino um pouco mais light. É óbvio que a gente não tem tempo, o mesmo tempo que os jovens têm de ficar em casa, fazer o seu trabalho. A gente não tem aquela… Mas eu estou amando o Proeja. Inclusive, eu sou representante de turma, representante dos representantes das turmas e fui convidado a participar do Grêmio. O Grêmio Silva, de Realengo II, junto com a garotada. E me acolheram muito bem. Está sendo uma experiência… E outra coisa! “Ah, você está fazendo ensino médio de novo.”. O conteúdo é todo diferente daquele conteúdo que eu aprendi naquela época. Conteúdo totalmente… Principalmente o português, que naquela época aprendia muita coisa normativa, muita… Agora a gente tá aprendendo muita interpretação, muito texto de produção textual. É uma coisa que naquela época não aprendia muito, apesar de ter literatura naquela época. Mas antes não era tanto como agora. E as matérias são bem… Eu estou aprendendo… Estou aprendendo coisas novas no Proeja. Com certeza. E é um curso ótimo. Pena que muita gente, não sei… Não sei se falta divulgação, o quê que é … Muita gente desiste. Tem gente que tem problemas de trabalho ou de família. Acaba desistindo. Mas é um ótimo curso. Eu recomendaria. E outra coisa. Eu também procurei saber por eu já ter o ensino médio, até o superior incompleto, se eu estaria cometendo alguma ilegalidade em fazer novamente o ensino médio. Consultei o edital, consultei diretores do campus, a diretora, a Carol lá do Engenho Novo. “Não, você pode fazer. Não tem nada que impeça de fazer o Proeja.”. Eu pensei e eu pensando “vou tirar a vaga de alguém que está precisando fazer.”. Mas eu, como eu vi no decorrer dos anos que foi feito, não foi uma coisa imediata. Desde 2014, 2015 que eu pensava em fazer o Proeja. Mas como eu vi essa sobra de vagas e a procura que tem muita desistência, então eu não estou tomando, não vou tomar o lugar de ninguém. Tanto que a minha turma tem poucos alunos. Então eu estou amando o Proeja. O que eu posso dizer é que, poxa, eu estou arrependido de não ter entrado antes. E agora, com o presencial, melhor ainda. No online a gente teve aqueles percalços. Ainda mais que eu faço a área de informática, informática online fica meio complicado. Agora que eu estou tendo a parte prática, o laboratório. Já estou fazendo estágio lá em Realengo também. Inclusive hoje eu deixei de ir no estágio, mas por uma boa causa, mas já estou fazendo lá. Estou formatando computadores e aquilo para mim está tudo de bom. E um campus novo que eu conheci. Muita gente pensou: “ah, você vai lá só porque é aluno do Pedro II.”. Não! Uni o útil ao agradável. Ser aluno do Pedro II e fazer o curso de informática junto com o ensino médio. Então para mim foi ótimo! E eu estou me socializando lá também. Com todo mundo, graças a Deus. São dez turmas do Proeja. São três de informática e três de assistente administrativo e quatro de técnico de administração. São dez turmas. Então estou amando o colégio e o colégio me abraçou. Tem o bom disso, o colégio já me abraçou. Já todo mundo me conhece na portaria. Até na direção já me conhece. “Oi, Seu Antônio!”, já me conhecem. O Marquinho, o diretor. Então eu estou amando. Já formatei lá, fiz o estágio, formatei, instalei, reinstalei porque durante a pandemia os computadores foram retirados. Então a minha missão foi colocar 12 computadores, tudo para funcionar. Coloquei um por um, instalei Windows nele. Tem a Biblioteca Digital lá também. Não sei se a senhora conhece. Muita gente também não conhece, que é aberta à comunidade, aos alunos e à comunidade. É totalmente gratuito, de 8h às 17h da tarde, a biblioteca digital. É só que a Biblioteca Digital é só computador mesmo. O nome já diz, é digital. E também reativei uma sala. São três salas de computadores. A minha tarefa foi reativar a sala. Reativei tudo. Sozinho, me deixaram sozinho, eu e a funcionária lá. E na biblioteca principal tive que trabalhar sozinho. Tinha um monte de fio, separar um por um, colocando o monitor, o gabinete, o mouse e depois formatar um por um. É claro que demandou um pouco de tempo porque você vai instalar o sistema operacional não tem como não perder uns 40 minutos até instalar e demora um pouco de tempo. Graças a Deus, está todos os computadores lá funcionando. E não tenho o que reclamar. Eu amo aquele colégio. Realengo me abraçou e eu abracei Realengo. É um colégio, apesar de o prédio ser antigo, um colégio novo, num prédio antigo. Quem não conhece e entra lá a primeira vez pensa que o colégio já tem 60, 70 anos. Mas não é. O prédio é antigo, mas o colégio é novo. E lá é tudo de bom. P – Antonio, de uma forma geral, comparando esse Pedro II da sua juventude, ao Colégio Pedro II de hoje. O que mudou e o que permaneceu? R – O que permaneceu foi esse ambiente. Dos alunos. É uma coisa inexplicável, essa sociabilidade entre os alunos, a amizade. O que mudou? Eu acho que os tempos mudam, né? Muita gente fala: “Poxa, mas na minha época eu estudei grego.”… “Eu estudei latim.”. É uma língua importante? É. Mas acho que hoje em dia não haveria mais necessidade. Poderia ter até uma coisa básica… Mas não há uma necessidade, grego… Hoje você pode estudar informática, coisa que naquela época não existia. Então as coisas vão mudando, vão evoluindo. Os tempos mudam. Eu sou saudosista também. Sou muito saudosista. Mas eu tenho que reconhecer que as coisas mudam, os tempos mudam. “Ah, mas no meu tempo tinha assim…”. Tudo bem! Cada tempo, seu tempo. Daqui a 20, 30 anos, vai ter alguma coisa diferente. Os alunos de hoje são capaz de falar “no meu tempo era assim.”. E assim vai. Mas a coisa tem que evoluir. Vai ficar parado naquilo, no tempo e no espaço. Sem evolução, sem evoluir. E é assim. E o colégio melhorou. Foi isso. Vai mudando. O que mais mudou? O que o colégio mudou foi isso. Ele vai sempre evoluindo. Claro que não perde aquela essência. Aquela essência de que o colégio é o Pedro II. Você está dentro do ônibus aí vem a pessoa, uma senhora:”Oi!”. Puxa assunto: “Qual é o Pedro II que você estuda?”. Já aconteceu comigo. Minha filha me falou várias vezes. Uma vez na fila do banco, estou vendo um moço olhando pra gente. Ela com uniforme, foi até abrir conta para ela, fez iniciação científica, tinha que ter a conta. Eu estou vendo um moço olhando. Aí ele não se conteve. “Ela estuda onde?”. “Ela estuda no Engenho Novo.”. “Ah, eu estudei no Humaitá.”. Faz questão de dizer que foi aluno. Outra vez, também no elevador do dentista, a moça, olhando para ela… Olhando… Aí daqui a pouco: “Você estuda em qual Pedro II?”. “No Engenho Novo.”. “Ah, eu estudei lá em São Cristóvão.”. Parece que tem uma vontade, que tá escrita aqui “sou ex-aluno”. E é assim que é. O Pedro II tem essa essência da gente. Nos encontros dos ex-alunos, eu vou aos encontros. Tem aluno de… Quando tinha aqui a feijoada. Alunos recém saídos com alunos mais velhos que eu. Alunos dos anos 50. E todo mundo entrosado, como se fosse… Todo mundo como se tivesse estudado na mesma época. Isso acontece muito. Tenho muitos amigos dos encontros, que eu conheci nos encontros. Além dos amigos da minha época. Tenho muitos amigos anteriores e posteriores que eu conheci nos encontros. Tem aquela amizade como se a gente tivesse estudado sempre junto. P – Antonio, sobre as atividades extracurriculares, atividades artísticas, por exemplo. Você tem uma experiência nesse seu retorno ao colégio com alguma atividade desse tipo, teatro, coral? R – Bom, agora bem recente, em 2011, a professora Tânia Panaro, professora de Inglês, lá no Engenho Novo. Ela estava com o projeto de uma peça em que os alunos contariam o cotidiano dos anos 60 e 70.Ela lembrou de mim e como já tinha um trânsito, uma certa confiança lá no Engenho Novo, eu sempre fui uma pessoa com trânsito livre. Era a pessoa confiável. Podia entrar, não era qualquer um. Então ela me convidou. Eu de início tive aquele receio. Poxa, eu vou trabalhar… Primeiro que eu nunca atuei! Nunca, nunca, nunca. Nunca tive nenhuma atuação em teatro. Eu vou conviver com aluno de 6º ano, de 7º ano. Como é que vai ser isso? Eles vão me olhar de cara feia e tudo. Ledo engano. Eles me abraçaram. Me abraçaram que eu digo, assim… Me receberam. A recepção foi ótima. Todos eles estão meus amigos até hoje. A gente montou a peça, tivemos várias oficinas, para mostrar como era o colégio na época. Corrigir… Tinha um texto, mas eu tinha até uma certa liberdade de mudar. Mas tinham que seguir aquela risca de não usar palavras atuais. Não, você tem que tomar cuidado. Não pode falar isso. Isso naquela época a gente não falava. A gente falava outra coisa: “e aí, o bicho?” Aquela coisa que a gente falava antigamente. Hoje não se fala mais. Hoje fala: “já é!” Naquela época a gente não falava. A gente teve que ir instruindo a linguagem e remeter aos anos 60 e 70. E inclusive tem até um vídeo no YouTube. Foi a única vez que a gente gravou a peça. Fui até num encontro, num churrasco de ex-alunos. Até a professora Vera Maria estava presente. Na época ela era, não sei se ela era diretora ou se já era reitora. Não me lembro. E ela estava presente nesse dia. Foi a única vez que este gravou. Tivemos várias apresentações e eu acabei ficando no grupo. O grupo teve outras peças. Teve “O pincel”, “O reinado do rei”. E eu acabei participando, ora atuando, ora como operador. Eu tenho experiência com som, eu também trabalhei como DJ por muitos anos. Então eu tinha uma certa experiência com som. Eu ficava na parte do som. E aí fomos até final de 2015. Que a professora Tânia se aposentou. O grupo Criarte se desfez. Infelizmente, acho que ninguém mais deu continuidade lá no colégio. Deu continuidade a teatro. Até já pensei uma vez em falar com ela, fazer um remake dessa peça. Eu acho que ela gostaria. Mas é isso aí. São todos meus amigos, tem um até que está se formando, acho que já se formou em jornalismo, trabalha no Globo. O outro, o Gabriel. Fez engenharia química lá na federal fluminense. Já estão todos eles ex-alunos, inclusive mudou um pouco. 2012, 2013, 2014… Aí saía um… Porque já terminava ou entrava outro. Foram mesclando, alguns ficaram do início até o final, outros saíram, outros entravam. Muitos estavam no terceirão, não tinham tempo para ficar no teatro, que era corrido. O nosso tempo de ensaio era tipo duas vezes por semana, entre 12 e 13 horas. Que era entre turnos de alunos, tinha alunos da manhã, alunos da tarde. Aluno da manhã almoçava e ia correndo lá pra gente ensaiar. Aluno da tarde chegava, almoçava, ia correndo pra ensaiar e depois, batia o sinal, tinha que ir para aula. Foi uma experiência muito gratificante, muito gratificante mesmo. Me orgulho de ter participado desse grupo. P – Antonio há mais algum assunto que você gostaria de abordar, mais alguma história que você gostaria de contar? R – Como seria? Uma história que eu ouvi, em que sentido? P – Uma história da sua juventude na escola ou agora mesmo do seu retorno ao Proeja. Qualquer história interessante que venha à sua memória. R – Muita coisa eu até já contei aqui. Vários acontecimentos, assim… Como que eu vou dizer? Teve um dia que eu fui posto para fora de sala porque eu falei uma gracinha pro professor Macêdo, de Ciências. Ele me botou pra fora de sala, como eu falei. Ele estava explicando não sei quê lá, eu falei uma gracinha para ele. Aí ele me botou fora de sala. Foi a única vez que eu fui posto pra fora de sala. Aí o pessoal tudo rindo. Aí, como eu tinha muitos amigos no colégio, eu desci para o pátio e tinha alunos em tempo vago. Eu me infiltrei entre eles e nada aconteceu. A aula acabou e eu voltei normalmente para a sala. Se não, eu seria facilmente detectado pelos inspetores e ia receber alguma punição. Graças a Deus, nunca tive nenhuma suspensão. Tive muita, muita advertência na caderneta, mas eram advertências coletivas de batucada na sala de aula, a turma ficou retida até tal hora. Aconteceu muito isso. É só isso assim, coisa que eu me lembre. Teve os calotes no ônibus que a gente dava também. Ó, tem coisa engraçada! Naquela época, por exemplo, a gente não tinha o grêmio, não existe o grêmio, o grêmio era fechado. Tinha alguns alunos até que queriam reabrir o grêmio. Mas diante do cenário da época que eu estudei, de 71 a 77 não existia o grêmio. Até existia uma turminha aqui em São Cristóvão que organizava os campeonatos de futebol, mas não passava disso. Duas palavras fora do dicionário naquela época era grêmio e greve. Greve então, fora de cogitação. E também teve aquele… A volta da gravata também teve esse… Agora lembrei. A volta da gravata. A gravata durou até o final de 72. Em 73 fomos liberados. Não era mais obrigatório usar gravata. Quer dizer, ninguém usava, né? Só que, em 1975, eu já estava em São Cristóvão, no primeiro ano do ensino médio. Nós fizemos um movimento pela volta da gravata. Um movimento com abaixo-assinado. Aí a direção chamou os cabeças do movimento e orientou a gente a não mais fazer o movimento que eles iam deixar a gravata como opcional, mas que a gente parasse com esse movimento. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Só que deixaram opcional. Só que aí, uns usavam… Eu cheguei até a usar, mas quem não tinha não ia comprar. Os alunos mais novos não iam se interessar em comprar, usar uma gravata. Até achava aquilo desconfortável, aquilo apertadinho. A gente usava a gravata, tinha aquele ato de rebeldia de jovem, usava gravata sem um nó. Eram duas coisas penduradas, assim. A gente saía da escola, sabe aquela gravata solta? Tem muito a ver com os anos rebeldes mesmo. E é isso. O que é que eu vou dizer mais? O que eu tenho mais lembranças? No momento, eu acho que é só. P – Antonio, você disse que não gostava da escola quando criança. Que tinha uma certa dificuldade para socializar. Em se integrar com o grupo. Quando que essa sua ficha caiu, no Pedro II? Quando que você viu que era possível gostar da escola? R – Isso foi logo no meu primeiro ano do ginásio,na antiga 5ª série, agora 6º ano. Quando eu comecei a me sentir, não sei se pela idade também, né? Eu já com 12 anos, eu comecei a me desinibir mais, ficar mais desinibido, Aí, os anos foram passando e eu fiquei muito zoeiro. Eu não sei. Acho que tem esse negócio também. Eu acho que o uniforme do colégio me dava, eu achava, que me dava superpoderes. Eu sem uniforme, era um era um cidadão normal na rua. Era um adolescente normal. Eu com o uniforme era outra coisa. A gente fazia a bagunça no ônibus, a gente dava calote nos ônibus. Era 267, lá no Engenho Novo. 277 aqui em São Cristóvão. A gente pulava o muro da linha do trem lá no Engenho Novo. Eu pulei várias vezes. E olha que onde eu moro nem tem trem! Mas era pela molecagem! Que naquela época o aluno do Pedro II era tipo como zoeiro, bagunceiro. Hoje não! Até são lights. Até tem os que procuram seus direitos políticos. Naquela época a gente fazia muita zoeira. Aluno do Pedro II era sinônimo de bagunceiros. Tinha aquelas brigas com o Militar, com o Senai, com o Visconde de Cairu e com outros colégios também. A pancadaria lá na Tijuca, então, a pancadaria rolava solta. Quem era do Militar não podia atravessar. Quem era do Pedro II não podia atravessar para a calçada do Militar. E os meninos do Militar ficavam de olho nas meninas do Pedro II. Que naquela época o Militar só tinha, era só para meninos no Colégio Militar. Eles ficavam de olho nas meninas. Aí, a briga… E, apesar de não ter redes sociais, não ter muita comunicação, iam lá no Engenho Novo, iam em São Cristóvão. “Estão brigando, lá.”. O pessoal saía de uma unidade para outra para brigar. Inclusive teve até, isso bem anterior à minha entrada, acho que foi em 1963. O Colégio Militar invadiu o Engenho Novo. Eu tenho até fotos, não impressas, tenho fotos digitalizadas. O Militar invadiu o Engenho Novo. Os alunos foram parar no telhado. Sim. No telhado do Engenho. Isso em 1963. O muro do Engenho Novo era baixinho. Inclusive, o Colégio Militar teve que indenizar porque causaram alguns danos no patrimônio do Pedro II. O Colégio Militar teve que indenizar o Colégio Pedro II. Eu ainda era… Não estava nem no jardim de infância. Mas foi um fato que aconteceu. Tenho fotos digitalizadas desse evento. E o Exército teve que intervir. Pra ver como era a rixa. Hoje não… Hoje convivem pacificamente, sem problemas. Mas naquela época tinha essa rixa. Ficamos suspensos várias vezes. Tinha aquele desfile cívico aqui na Quinta da Boa Vista. O Colégio Pedro II ficou proibido alguns anos de desfilar. Que toda vez que desfilava saía pancadaria. Até que agora, em vista do que era antes, os alunos são uns santos. Sério. Eu vejo eles comportadinhos, tudo bonitinho, andando na rua pegando ônibus… Incomparável com a nossa época. Já tínhamos um ensino de excelência como temos até hoje. Mas os alunos, era como eu falei. Eu com aquele uniforme, eu me sentia outro. Eu me sentia o… Me dava superpoderes. Sem o uniforme eu era uma pessoa normal. P – Antonio, o que você se orgulha de ter realizado na sua vida? E, esse orgulho, essa realização, qual a ligação que ela teria com o Colégio Pedro II, com sua passagem pelo Colégio Pedro II? R – O orgulho que eu tenho está mais do que explícito. Tudo que eu tenho guardado. Inclusive isso ficou muito tempo adormecido. Conforme eu falei. Eu tinha isso tudo, mas não podia… Vou mostrar pra quem, assim? Hoje já temos com as redes sociais. A gente tem mais interagido entre os colegas. Então isso foi o motivo de orgulho. Eu tenho orgulho de dizer que eu fui aluno do Pedro II. Tenho orgulho, muito orgulho. E esse nome pesa. Em vários lugares. Te abre várias portas. “Ih, você estudou no Pedro II?”. Inclusive fui dispensado do exército porque o capitão, quem era que tava selecionando, quando ele viu a minha ficha, viu onde eu tinha estudado, ele me dispensou porque ele tinha sido aluno também. Isso pesa. Mas parece brincadeira, mas esse nome pesa ainda até hoje. R – E daqui pra frente, Antônio? O que você pensa ainda em realizar? E como esse projeto de futuro passaria por essa sua vivência hoje como aluno do Proeja do colégio? P – Bom, eu me inscrevi justamente pela informática. Que eu tive alguns problemas conforme eu falei que eu sou taxista. Eu sofri um acidente com o táxi. Eu sofri um apagão. Inclusive, eu estou orientado a não dirigir no táxi. Eu tenho um problema que eu levei oito pontos na cabeça. Sofri um apagão, bati com o carro. Tem uma zoeira no ouvido. Que tipo assim, aquelas televisão de tubo? Quando a televisão sai do ar. Tenho essa zoeira intermitente de noite. Até hoje eu não descobri. Já fiz vários exames, não descobriu o que é. Sofri um outro apagão depois. Graças a Deus eu não estava dirigindo. E eu resolvi investir na informática. Não só pelo Pedro II, mas pela informática, e levar a vida daqui pra frente. Vamos ver como é que fica depois que eu terminar. Eu gosto. Graças a Deus estou me dando bem na informática. Era aquilo mesmo que eu pensava. E terminando, vamos ver como é que vai ser o meu futuro. Já poderia ter me aposentado, mas deixei de pagar há alguns anos a minha autonomia. Aí estou esperando a idade e vamos ver como é que vai ficar com essas mudanças que tem aí, no governo, de tempo de serviço, na legislação. Vamos ver como que vai ficar. Eu não tenho tempo. Por idade eu não tenho tempo ainda para me aposentar, então estou levando devagar sempre. E vamos ver. Vamos ver se a informática vou tentar continuar minha vida. Até quando? Não sei. Se Deus quiser, por muito tempo. P – Como você se sentiu ao voltar para a escola e ao dar essa entrevista? Conceder essa entrevista resgatando tantas memórias? R – Eu me sinto mais do que honrado de ter sido chamado para prestar essa entrevista. Para mim não tem preço. Não tem preço, não tem preço. Eu não esperava. Eu não esperava ser chamado tão rápido. Eu me contive da outra vez. “Depois você vem aqui para conversar.”. Não esperava que essa próxima vez fosse uma próxima, bem próxima. E eu digo que para mim, isso aqui é uma honra estar aqui. Eu estou grato mesmo. Tô grato de coração. Nem esperava, sinceramente. Isso para mim foi, sei lá. Foi muito bom, muito bom, muito bom é pouco. P – Agradecemos muito pela sua colaboração. E são memórias preciosas que você conseguiu trazer. Memórias suas pessoais e do Colégio Pedro II também. Muito obrigado e agradeço. R – Eu que agradeço. Obrigado mesmo. Obrigado de coração e quando precisar estamos aí. Se eu lembrar de mais alguma coisa pode chamar mais uma vez. P – Maravilha, pra gente.
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