P1 - Tatiana Dias
R - Agnelo Santiago da Silva
P1 - Senhor Agnelo, eu vou começar a entrevista pedindo para o senhor repetir o seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Meu nome é Agnelo Santiago da Silva, nascido em Tarumirim, Minas Gerais, no dia 14 de dezembro de 1946.
P1 - Senhor...Continuar leitura
P1 - Tatiana Dias
R - Agnelo Santiago da Silva
P1 - Senhor Agnelo, eu vou começar a entrevista pedindo para o senhor repetir o seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Meu nome é Agnelo Santiago da Silva, nascido em Tarumirim, Minas Gerais, no dia 14 de dezembro de 1946.
P1 - Senhor Agnelo, e o nome do seu pai?
R - Meu pai se chama Oliveiro Santiago da Silva e Minha mãe é Cida Luiza de Miranda.
P1 - Senhor Agnelo, o senhor ficou até que idade em Tarumirim?
R - Bom, devo ter saído de Tarumirim, por volta, assim, de seis anos de idade, quando nossa família de deslocou para Itabira de Mantena e, posteriormente, para Timóteo.
P1 - Qual era a atividade do seu pai?
R - Meu pai iniciou na Acesita também como ajudante de mecânico e se aposentou na Acesita como soldador.
P1 - E vocês mudaram para Itabira por quê?
R - Bom, o meu avô tinha fazenda na região de Dom Cavati próximo à Tarumirim e resolveram comprar uma outra fazenda em Itabira de Mantena. Então a família foi toda junta. E de lá começam as intempéries da vida: a avó falece, e aí começa a desestruturar a família. E aí começa a partilha de bens e a gente culminou que, com a saída de Itabira pra Timóteo, uma vez que o irmão gêmeo do meu pai já tinha vindo à frente - ele já estava trabalhando aqui e trouxe a gente pra cá.
P1 - Mas com que idade o senhor chega em Timóteo?
R - Eu devo ter chegado em Timóteo com, mais ou menos, 10 anos de idade. E começamos a nossa vida nova de timotense. Eu vim com 10 anos, hoje eu estou com 57 e tenho uma longa vida em Timóteo. Eu me considero timotense por residência, vamos falar assim.
P1 - Como é que era o [município de] Timóteo com seus 10 anos de idade?
R – Era mato puro. Era interessante porque a gente levava boia para pegar uns troquinhos, né? E a gente entrava na Usina para fazer o rodeio, não tinha cerca para entregar a boia. E hoje a gente vê esse aparato todo. Antigamente, tinha aquela simplicidade que todo mundo respeitava, né? Era interessante.
P1 - O que é que o senhor achava quando você via, assim, a Usina funcionando?
R - Bom, como o meu pai ingressou na Acesita, o sonho da gente também era ingressar na Acesita. Porque na região, o único meio de vida que existia naquela época era, realmente, se canalizar seus esforços para entrar na Acesita. E era o sonho de todo pai também, né? Formar o filho no Senai da Acesita, ou no colégio Macedo Soares, que era o colégio dos padres que tinha aqui naquela época, ou o colégio das irmãs. Então tinha essas três opções de estudo onde se formava bastantes profissionais, no Senai, por exemplo. Eu, particularmente, não fiz Senai. Eu fiz colégio. Meus irmãos fizeram. Eu fiz ginásio, porque ganhei uma bolsa de estudos.
P1 - Em que setor que o seu pai trabalhava?
R - Ele trabalhou na oficina mecânica e terminou na Caldeiraria. Mas ele pertencia à oficina mecânica também.
P1 - O senhor entrava lá e imaginava que um dia estaria trabalhando lá também?
R - Bom, entrar assim a gente não entrava no setor. Era aberto, mas ele vinha até as proximidades das ruas e ele recebia sua boia, por ali ele sentava num cantinho, comia e eu voltava para casa também. Mas é interessante que existiam festas na usina, a “Usina Aberta”. Então se programava laminação, batia recorde lá, por exemplo, [e] programava churrasco lá. Bastante interessante.
P1 - E a escola, o senhor falou que recebeu uma bolsa de estudo, aqui em Timóteo mesmo?
R - Eu cursei o primário com o meu grupo Tenente José Luciano, localizado no bairro Quitandinha, que é o bairro onde a gente residia. E depois desse básico aí, existia o intermediário. Ou você ia direto para o Senai, ou você fazia um curso de admissão, que chamava admissão na época, que era um intervalo entre o curso que você tinha feito - o básico, né? Então eu ganhei uma bolsa da minha professora do primeiro ano, a Dona Eloísa. Ela me deu uma bolsa de estudos da admissão, do curso de admissão. E ali você optava o que queria fazer. Então, depois disso, aí eu ingressei no colégio Macedo Soares, que era um colégio Salesiano, um colégio de padres. Onde é hoje instalada a Unileste, que é hoje no centro de Timóteo. Então fiz o ginásio e quando eu estava no segundo ano, eu deveria estar com uns 13, 14 anos, mais ou menos, fui convidado para... Convidado assim, porque a Acesita buscava os recursos dela no Senai ou no Colégio Macedo Soares, que era o Salesiano. No Senai, eram profissionais direcionados para as áreas de mecânica, eletricidade; formava o adolescente em uma especialização, especializava ele em alguma coisa: torneiro-mecânico, mecânico montador, eletricista, soldador. E o ginásio, fornecia mão de obra para o escritório. Então você começava como contínuo, né? Que na época chamava contínuo, hoje é “office-boy”. E daí eu fui. E esperava isso com ansiedade, né? Porque a família do meu pai, grande, [e] só ele trabalhando, então a gente tinha a intenção de ajudar o velho. A gente foi, fez os exames, (fichou?) um (“catatalzinho”?) de calça curta - eu vesti a minha primeira calça comprida justamente nessa época. E passei para o turno da noite, passei a estudar à noite. No meio de só pessoas que hoje até fico contando, os meus colegas de ginásio já tinham 35, 40 anos, uma turma já madura, e eu de “molecote”. E eu não aguentava, o primeiro ano que eu estudei à noite, levei “bomba”. O diretor, o padre Deman morria de dó de mim, me tratava com muito carinho - eu devo muito a ele. Ele me chamava, me acarinhava e queria que eu ficasse acordado. Nas aulas dele, eu não conseguia dormir não, porque ele era muito bom, sabe? Mas consegui tirar o ginásio e trabalhando na Acesita. E ao completar 18 anos, você já deixa de ser “office-boy”, passa a exercer uma outra função. Passei a auxiliar de escritório, e foi o que aconteceu. Depois, nós fomos também os primeiros alunos da Universidade do Trabalho, que hoje é a Unileste, né? No curso técnico, fundada pelo Padre Deman. É Deman. É uma turma de belgas que vieram pra cá. Eu nunca vi na minha vida um homem tão dinâmico como aquele. E, na época, por exemplo, a gente não tinha uma visão de valores de pessoas, né? Mas hoje eu já olho, assim, com outros olhos. Como aquele homem era dinâmico, como ele, ah, sei lá, ele alavancava mesmo, sabe? Ele fez a universidade e transformou nessa potência aí hoje que é a Unileste, né?
P1 - Então eles fundaram nessa época a Universidade? E o senhor fez parte da primeira turma?
R - Da primeira turma. Nós tivemos um grupo que saiu do ginásio, a primeira turma - tem até uns colegas meus que já faleceram e outros que tem muitos anos que eu não vejo. E ontem... A gente já formou a primeira turma de mecânica, de eletro de eletrônica, e tudo trabalhando na Acesita. Todo mundo ou trabalhava na Acesita ou na Usiminas. Nós tínhamos uma turma grande e fizemos uma caminhada longa. Posteriormente, fizemos engenharia juntos, engenharia operacional. Fizemos uma complementação em Valadares que era um sufoco pra gente. E seus compromissos dentro da Usina já eram grandes, responsabilidades e [mais] responsabilidades. Uns com os cargos de chefia, outros não. Eu, por exemplo, tinha cargo de supervisão.
P1 - Em qual setor?
R - Na Aciaria.
P1- Vamos registrar aqui. O senhor saiu do escritório de serviço interno...
R - Aí eu passei por outras áreas. Essas áreas, por exemplo, eu passei pelo Posto Médico, como auxiliar de escritório, passei pelo posto médico. Trabalhei um período na secretaria industrial, onde eu era contínuo e trabalhei como funcionário. Mas como lá parece que só entrava mulher, parece que eles só gostavam de mulher lá. Era diretor industrial, na época. E eu servi muito cafezinho para esses ex-presidentes da Acesita, diretores.
P1 - Tem algum que o senhor lembra? Tem algum que [você] tem mais história com ele?
R - Eu não lembro muito de diretores, mas, é, o Hermílio Jacques de Morais é o que marcou mais porque eu fiz uma cirurgia com o irmão dele que era médico ortopedista. E era um cara mais novo também. Eu admirava um cara novo, assim, com um cargo alto. Hoje é mais tranquilo, mas antigamente era muito raro. A gente só via aqueles caras velhos, esses generais antigos, né? Deixa eu ver se me lembro... Eu queria me lembrar com quais diretores eu consegui trabalhar, mas só que passavam diretores, substituíam no meio.
P1 - Mas vamos continuar falando das áreas que o senhor trabalhou.
R - Mas isso aí... Aí eu fui para o Posto Médico trabalhar na recepção, no atendimento do Posto Médico, para atender as pessoas da Usina que chegavam lá com problema de saúde. Inclusive, a gente acabava vendo coisas feias. Chegou um rapaz, que depois, bem mais tarde, ele veio trabalhar comigo na Aciaria. Mas, [na época], ele levou um corte na laminação de chapa. E, de vez em quando, mudava... E os médicos eram assim, sei lá. Não tinha assepsia ali, não existia muita. Tinha seus cuidados, mas não era tanto assim. Mas, nesse tempo, acho que não existia tanto micróbio naquela época, né? (risos) E, hoje em dia, aparece demais. Mas, do Posto Médico, foi formada uma equipe para a laminação de chapa... E aí eu já vou esquecendo as histórias, né? Mas eu sei que formou uma equipe para trabalhar de turno, pra fazer controle na laminação de barras na laminação. Acho que eu trabalhei um ano, por aí. E foi difícil porque a gente estudava e tinha que trocar turno, né? Então, como eu fiz pra continuar estudando? Conversei com meus colegas e eu trabalhava só de sete horas, às 15 e zero hora, virei um palitinho. Aliás, ou eu comia ou eu dormia, né? Um dos dois. Mas aí depois eu consegui sair e fui para a fundição. Eu comecei a trabalhar no escritório da fundição como auxiliar de serviços também, e, posteriormente, eu passei para projeto, projeto de fundição. E aí foi bom, né? E a gente começou a desenvolver tecnicamente alguma coisa importante, assim, para a minha carreira. Comecei a estudar projeto de fundição. Que é uma coisa importantíssima. Uma coisa difícil se fazer. A tecnologia, na época, não permitia um projeto bem feito. Então, chegava uma peça, ou um cliente interno ou externo, e tinha que fazer uma peça. Então você tinha que fazer o modelo daquela peça; a gente projetava e tinha uma oficina [que] fazia o modelo lá. E aí, esse modelo ia para a área para poder moldar e depois fundir a peça.
P1 - E o senhor estava estudando ainda?
R - Continuei estudando. Aí, depois que eu já estava fazendo o curso técnico, e com a turma que formou da Universidade: “Então, vamos procurar nossos lugares, né?”. E mesmo antes disso, como eu gostava de manutenção, consegui me transferi para a área de projeto de manutenção. Tinha um problema na laminação e a gente ia lá pra poder desenhar aquela peça, pra poder fazer de novo.
P1 - Como é que eram as máquinas na Acesita nessa época? Eram máquinas novas, eram velhas?
R - As máquinas da Acesita eram as máquinas que chegaram para a Acesita em uma condição... O forno elétrico, a Aciaria, tudo o que tinha sido montado no início da Acesita, né?
P1 - Então não tinha ainda ocorrido a expansão nessa época?
R - Não. Nessa época, ainda não. A expansão ocorreu a partir de 75. Então, nessa época é que a Acesita começou a se modernizar, mas a laminação era a laminação mais antiga...
P1 - A demanda por manutenção era grande?
R - Ah, era muita, né? Primeiro que era só equipamento importado, né? E hoje, para importação, você tem muito mais recursos. Antigamente, até pra você colocar uma peça aqui era difícil. Não fazia peça aqui, comprava nos Estados Unidos ou na Inglaterra. Aí a Acesita foi desenvolvendo a sua própria manutenção, confeccionando as suas próprias peças, tinha uma oficina mecânica que hoje ela funciona como um apoio, mas fizeram uma puta oficina mecânica. A Acesita precisou, praticamente, de confecção de peças. Então, nessa época, eu já estava trabalhando na área de manutenção e pra mim era tudo. Terminou o curso técnico de mecânica e aí eu já consegui uma transferência para a área. E a área escolhida, como eu já tinha trabalhado fazendo planos de preventiva, que na época não tinha nada, e entrou um engenheiro, o Fernando Massaite, da manutenção e da Aciaria, e mexeu muito com planos de manutenção. Foi na época dele que iniciou o plano de manutenção.
P1 - O que é que era esse plano de manutenção?
R - O Plano de Manutenção é onde você fazia o cadastro de todos os equipamentos, de todas as peças. E, na época, a gente fazia até o desenho explodido daquele conjuntinho e citavam que é que era o desenho, onde é que estava e você determinava a periodicidade de inspeção, de intervenção e de lubrificação. Esses planos são o básico, né?
P1 - Então o senhor pegou no início?
R - Basicamente nós pegamos esses planos no início, sabe? Tinha muito pouco técnico na Acesita na época. Porque o técnico que tinha aqui, você contava no dedo. Técnico de mecânica. Inclusive, acho que tinha uns dois ou três só, na época. A primeira turma formou essa turma grande, né? E começaram a distribuir o pessoal pelas áreas. Nas áreas de origem deles, onde eles trabalhavam mais, né? Como eu trabalhava mais ligado à Aciaria, eu fiquei na Aciaria. O outro trabalhava na Laminação; o outro que trabalhava no projeto, ficou no projeto. E outros que trabalhavam em projeto, optaram [por] ficar em projeto. Outros optaram forjaria; outros, fundição.
P1 - Nisso, o senhor já estava formado então...
R - No curso técnico.
P - No curso técnico, isso. E trocava turno também aí nessa época?
R - Aí a gente já passou numa área mais técnica e então você tinha que estar durante o dia organizando, estruturando esses planos, por exemplo, desenvolvendo esses planos de equipamentos, né? Aí a Acesita foi modificando a estrutura dela também. Criando alternativas para esse grupo novo, que passaram a ser supervisores. Porque a Acesita, ela atuava com uma equipe de mestres, né? Não existia supervisão, eram mestres antigos. E deram muito para a Acesita. Na época deles, no período deles, eles foram de grande valia para a Acesita. Mas eles eram mestres práticos e, inclusive, tinham até algumas divergências. Quando chegou esse confronto de geração. Então, tinham os mestres que sabiam mais de prática e entrou a turma jovem de técnicos, teóricos, né? Então o choque foi inevitável. Mas tudo contornável. Teve área que teve aceitação muito tranquila, mas teve outros que preferiram aposentar - já estava bem na época da aposentadoria deles. Mas era legal trabalhar com eles porque a gente aprendia demais, sabe? E eu, por exemplo, nossa, essa turma, era uma turma que não impunha pelo cargo não. A gente aprendia muito porque trabalhava com eles. Não tinha aquela hierarquia de você é o chefe e tem que... Não era por aí. E eu acho que com isso a gente conseguiu somar muito com a Acesita, sabe? Nós, pra gente reformar o forno na Aciaria, tivemos que fazer o desenho dele praticamente quase todo, porque não tinha!
P1- Quais eram os equipamentos que tinham na Aciaria?
R - Bom, na Aciaria, teve Convertedor Bessemer. Porque era o primeiro equipamento instalado na Aciaria, que fazia o aço silício da época. Inclusive, eu choro quando olho aquela locomotiva ali na Fundação Acesita, eu lamento porque quando a gente começou a expansão a gente retirou ele inteiro da Aciaria.
P1 - O convertedor?
R - O convertedor. E ficou encostado atrás de um galpão muito quente, mas na ânsia de fazer limpeza de área, acabaram passando um maçarico, cortando o troço todo. O que seria o símbolo da Acesita para mim seria o Bessemer, sabe?
P1 - Que lindo isso!
R - E eu acho que até deveriam fazer uma réplica dele e colocar na Fundação Acesita. Depois que eles fizeram, ali, a história do museu da Acesita com máquinas, locomotivas e estão querendo até trazer um forno da Aciaria, parece que tem um estudo desse aí. Mas o principal da Acesita, o que fazia o aço para fazer enxada, facão, foice, quer dizer, porque a Acesita começou com isso, né? E o Bessemer que não está aí hoje.
P1 - E com a expansão, ele é o primeiro a ser descartado?
R - Foi porque montaram o LD-1, né?
P1 - Ah, o LD é que substituiu.
R - É um equipamento mais moderno, né? E com as Expansões eles vão colocando equipamentos novos. Mas na Aciaria existia o Bessemer, três fornos elétricos, na minha época, tá? Que é o Forno I, o Forno II e o Forno II, e a Aciaria estava posta com isso, porque o lingotamento era convencional, por lingoteira, não tinha o lingotamento contínuo ainda. De 75 para frente, não tem foto, assim, dos equipamentos, mas tem foto de época, né? Eu vou te mostrar aqui porque a gente praticava esporte aqui e foi um grupo de franceses que montou o equipamento.
P1 - E quando foi chegando essa substituição de equipamento? Como funcionou o aprendizado dessa manutenção para você?
R - Bom, era um sufoco, porque você tinha que pinçar os melhores que você tinha na área, né? pra poder deslocar, para poder aprender. Inclusive, você sabia que aquele você ia perder na sua área, né? Você sabia que assim que ele se desenvolvesse na outra área, você ia perder ele na sua. E nós formamos. pra você ver, o Senai aqui era um manancial inesgotável de valores. E hoje tem uns aí que são engenheiros, que eu deixei para trás, que trabalhavam na Aciaria e estão aqui até hoje. Formaram em engenharia e estão lá substituindo a gente, né? Então pra gente aqui é muito gratificante.
P1 - Quando você se formou - vamos falar da faculdade um pouquinho porque a gente não falou nada do seu curso de engenharia.
R - Nós não tínhamos recurso de ir para Belo Horizonte nem Ouro Preto. O único lugar que a gente podia ir era em Belo Horizonte, porque Ouro Preto não tem engenharia mecânica [e] nem elétrica.
P1 - Mas como é que o senhor escolheu engenharia mecânica, por quê?
R - Bom, porque a eu já (miltava?) no ramo, né? Eu já era técnico mecânico, trabalhava na manutenção e não tinha escapatória. Então...
[Pausa]
R - Mas a Aciaria era mais sufocante, os equipamentos eram muito agressivos. O funcionamento deles era muito agressivo, era muito pó [e] muita temperatura. Você tirava um aço de dentro do forno a 1500 graus, 1550, 1580 graus, não é mole não, né? Então a gente começou a fazer o curso operacional, porque é a oportunidade que criou para a gente. Foi um período muito vago entre o curso técnico e a engenharia, porque a gente não tinha opção. Então, quando o Padre Deman resolveu trazer para cá a engenharia operacional e atendeu essa gama de técnicos que existia - porque estava formando técnicos, todo ano formava uma turma na universidade e não tinha uma opção. Ele deveria ter trazido uma Universidade de Engenharia Plena, né? Mas isso só veio muitos anos depois. E nós tivemos que fazer essa engenharia operacional por três anos, [mas] isso só, não era suficiente para que a gente conseguisse uma formação dentro da Acesita. Não era considerada engenharia. Tinha muito preconceito das pessoas mesmo, com relação engenharia operacional, dentro da Acesita na época. E surgiu uma oportunidade de complementação do ________________, de uma turma que eu tinha feito. Os nossos chefes tinham feito complementação, alguns chefes, outros que não tinham. Tinha os que tinham engenharia mecânica e não queriam fazer elétrica, outros que tinham elétrica e não queriam fazer mecânica. E então nós formamos nossa turma também e fomos para Valadares fazer. Basicamente, estudamos uns quatro anos, indo e voltando para completar a Plena. A Acesita dava para a gente uma meia hora pra ir em casa, tomar banho, jantar alguma coisa, né? A gente entrava dentro do ônibus e ia estudar com a turma. Era uma farra, né? Mas se cansava. Casado, pai de família, estudando, não vendo seus filhos, é sacrificante, né? Mas valeu a pena. A gente conseguiu formar essa turma toda. Mas a Aciaria exigia demais. Eu, pelo menos, passei muito aperto para poder formar. A gente, basicamente, não tinha tempo para estudar as matérias mesmo. A gente tinha oportunidade de estudar no sábado e no domingo. Então a oportunidade que você tinha para ficar com seus filhos, com a sua família, você ia para uma sala de aula de um colégio aí. Quer dizer, hoje o ________________
_____________, não sei se você já ouviu falar dele, ele trabalha ai na Engenharia de Projetos, foi nosso professor lá em Valadares. Nossa, como ele é um pacote assim, ele dava cálculo pra gente. Então, o final de semana, a gente fazia isso, né? Juntava o grupo e aquele que sabia mais ia lá fazer o exercício e orientava os outros. E fazia o que você podia. Com todas as dificuldades e faltas dentro de casa, presença física dentro de casa, conseguiram, essa turma conseguiu se formar. Formamos. E daí para frente a gente conseguiu, cada um conseguiu suas promoções nas suas áreas, né? Eu passei a chefiar a sessão da Aciaria onde eu trabalhei muitos anos, e acabei aposentando na Aciaria. Eu fiquei 21 anos na Aciaria.
P1 - Então o senhor acompanhou toda a expansão da Aciaria?
R - Todinha.
P1 - Então me conta: o primeiro que vai embora, que o senhor tem a dor no coração é o Bessemer. O que mais que vai embora?
R - Eu acho que a Acesita, quando ela teve origem em Forjas, deveria, martelo, principalmente martelo de forjamento - deveria ter no Museu. Eu acho que foi o início dela.
P1 - Mas não fabricava inox ainda nessa época, né?
R - Não. Eram aços especiais, mas não chegava... Não na minha época, acho que não tinha inoxidável. Às vezes, por encomenda, pra fazer uma peça de inoxidável. Ela deslanchou mesmo depois de 75, sabe?
P1 - E, nisso, já estava na Aciaria.
R - Eu estava na Aciaria porque eu fui pra lá me - depois eu vou contar a história para você, porque data vai ser difícil.
P1 - Mas o que é que muda lá na Aciaria? Com as expansões, com a chegada dos estrangeiros?
R - Bom, com a expansão, a Aciaria [faz a] montagem do LD-1. Daí, por volta disso aí. Então ampliou bastante o aço carbono e o aço silicioso. Aí já começou a fazer grão orientado, não orientado. Laminação também, a laminação de silício, a laminação de aço inox. Você já teve um lingotamento contínuo depois ______________ ______________ ____________ também. Aí montou-se equipamentos auxiliares para beneficiar o inox, né? Tipo, um forno a vácuo que foi montado na Aciaria. Ele era VOD. É que daí pra cá, o Inox começou a ficar bem evidente como carro chefe. E acumulou essa beleza que fica espalhada pra todo mundo, né?
P1 - O senhor tinha orgulho? Como é que era?
R - Ah, Tatiana, até hoje eu tenho muito orgulho da Acesita, porque foi uma vida aí dentro. Então, quando a gente tinha notícia que a Acesita tinha comprado um equipamento novo pra melhorar a qualidade, melhorar a produção, eu ficava bastante orgulhoso. Mas tudo acaba um dia, né?
P1 - A gente sabe que, assim, a chegada dos equipamentos novos, eles demoraram muito pra montar, para dominar a tecnologia dele. E para dar manutenção de um negócio que você nem sabiam como funcionavam?
R - Bom, foi um desafio grande, né? E é como eu estava falando para você, esses planos, porque hoje você tem um plano mais avançado, você detecta o defeito antes de acontecer, faz uma intervenção até antecipada. Você pode fazer a preventiva, para antecipar o problema antes de acontecer. Porque a Acesita, ela pode se orgulhar até hoje de ser a maior universidade de profissionais do Brasil. Porque como formou profissional! Tem um pessoal que tinha muito medo de sair daqui, sabe? O pessoal que nasceu aqui, tinha medo de saltar o rio ali. Mas o potencial que esta turma tinha era impressionante, porque a formação aqui é... Aqui você formava profissionais assim, contando com a inteligência ainda das pessoas. Isso era maravilhoso, saia belos profissionais na somatória. Tanto que nós hoje ainda temos muito deles ainda, de Senai, que estão ali na Usina ainda e estão exercendo os cargos de confiança da empresa.
P1 - E o contato com os estrangeiros, como é que foi?
R - A linguagem universal de mecânica, eletricidade: isso aí não tem erro. Na hora de fazer... Mas a gente até acostumava a entender o gringos de tanto que a gente convivia com eles.
P1 - Como é que era? Tinha japonês? Tinha...
R - Aqui nós tivemos belga... Não, não é belga não, é descendente de alemão.
P1 - Austríaco.
R - Austríaco. E tivemos também franceses. Japoneses nós tivemos lição de japonês que veio para melhorar o rendimento de forno. E tem aqui com o Mario Porto porque, na época, ele fazia estudo de forno elétrico. Bom, o Germano Coutinho era recém formado e, nesse período, começou a estudar forno elétrico. E teve um período aqui que teve uma missão japonesa para dar uma regulada, melhorar o rendimento. Mas era o Mario, que falava inglês, né? Eu me descuidei dessa parte.
P1 - Os austríacos vieram para quais equipamentos?
R - O LD-1. Um foi montado pelos franceses e o outro pelos austríacos. Porque um é francês, e o outro...
P1 - Me explica uma coisa, senhor Agnelo, esses equipamentos vieram substituir ou eles foram acrescentado na Aciaria?
R - Bom, na Aciaria, os fornos elétricos permaneceram, o lingotamento contínuo praticamente substituiu o lingotamento convencional. O LD-1 substituiu o Bessemer - foi uma substituição mesmo. Só o forno elétrico que não tinha jeito de substituir, porque é o único que faz aço inoxidável, né?
P1- Teve um entrevistado que falou que, assim, a Aciaria era o lugar mais importante da Acesita. O senhor concorda?
R - Era uma disputa brava. Todos os setores da Acesita, porque um não perdia para o outro. Mas a gente se encaixou, o nosso era o mais importante. Apesar da sujeira e tudo. Você trabalha na laminação e faz uma chapinha bonitinha, nesse lugar limpinho, bonitinho, mas vai lá ver a gente, sem a gente vocês não fazem nada.
P1 - Quem falou isso foi o Saulo Tarcia.
R - Saulo gente boa. Foi meu chefe, ele sempre foi chefe da Aciaria. O orgulho da gente não acaba não, ele só cresce. E mesmo eu saindo, continuo orgulhoso. Olha, eu vou te contar, eu aposentei por opção, mas me passa uns tempos e me deu uma dor menina! E eu não parei de trabalhar. Eu, praticamente, fiquei um ano sem trabalhar, mas aí eu fui, acho que fiquei uns seis meses parado depois da aposentadoria, e dediquei esse período todinho ao lado da minha ____________. Praticamente, eu morava com eles. E hoje sou presidente também. Na privatização da Acesita, a Acesita comprou as empresas de São Paulo. Comprou a (Forjes?), a Sifco, comprou uma Aciaria - nossa senhora, eu estou ruim de nome. De nome, eu estou bem fraquinho, Tatiana, nós vamos...
P1 - Vamos voltar lá.
R - Bom, então, esse um ano que eu fiquei parado: um belo dia eu recebo um telefonema, à noite, do José Carlos Xavier. Porque nós trabalhamos juntos na Aciaria, ele trabalhava na operação e eu trabalhava na manutenção. Só que [a] operação subiu. Ele saiu daqui [e] já era superintendente de fundidos, como se diz, era um cargo de muita competência. Então ele me ligou: "O que é que você está fazendo?". Eu disse: "Não estou fazendo nada, estou mexendo com meninos", "Quer trabalhar?". Eu disse: "Ah, depende!", "Eu estou precisando de você aqui". E eu disse: “Deixa eu ver lá o que ele está precisando”. Cheguei lá. Menina, eu sou doido, o que é que vim fazer num lugar desses? E será que eu vou conseguir, será que eu tenho competência para isso? E você pega competência a partir do momento que você começa a pegar coisas diferentes na sua vida. Ele disse: "Olha, o negócio é o seguinte: eu estou com esse equipamentozinho aqui, tem até o modelinho lá o prototipozinho lá. Eixo dianteiro de ônibus, de Scania, de Volvo, caminhão e virabrequim de motor". Ele estava pagando muito embarque aéreo, porque ele não estava conseguindo produzir, entregar na data certa, então ele tinha que pagar embarque aéreo. “Eu estou desesperado com isso aí. Esse equipamento, eu não consigo, ele quebra demais.” Cheguei perto do bicho, assim, e era o tal de martelo - alemão ainda. E aí danou tudo. Ele disse: "Olha, você tem três meses. Se você não conseguir nada disso, pode voltar para casa. Não precisa ficar aqui não". Aí peguei aquele trabalho e pensei: “Vamos estudar primeiro pra conhecer a onça. Vamos estudar, ver se ter desenho, o que é que tem aí”, não tinha nada! E eu não podia parar muito tempo não. E aí a gente conseguiu ver que a gente sabia muita coisa, viu? E aí eu falei assim: “Poxa vida, acho que eu sei alguma coisa que pode contribuir”, e fomos colocando em prática. Fizemos o planejamento para a reforma dele de três vezes. Inclusive, a última, eu já não estava mais trabalhando na área e eles me chamaram para eu ir acompanhar. E nós fizemos a primeira reforma do equipamento. Eu fiz levantamento de quantas horas ele parava por mês. Ele parava 200 horas, quase que parava o mês todo. Estudamos, fizemos a primeira parada dele em 19 dias, eu não sei [exatamente]. E passou de 800, 900 toneladas por mês, para 1500. Mas a gente conseguiu dar produtividade ao equipamento e depois foi feito ajuste coletivo, o equipamento ficou só para a Usina. Sobrou 3500 toneladas [por] mês, e sem precisar pagar embarque aéreo. Produzia no prazo e com qualidade. E a gente acabou ficando lá três anos. Eram três meses e foram três anos. Vim embora pra cá pra trabalhar na prefeitura, você acredita? Meu colega ganhou aí e me convidou para trabalhar na prefeitura.
P1 - Vamos voltar um pouquinho lá na Aciaria. O que é que entra na Aciaria e o que é que sai da Aciaria? O que você transforma?
R - A Aciaria é onde entra sucata e sai aço. Hoje o que é que a Acesita, eu acho que está fazendo? Ela está usando o aço colocado no forno elétrico de redução na forma líquida para agilizar o processo. Se ele for menor, você pode trabalhar só com sucata ou pode adicionar alguma coisa ali. Então, é o gusa, o líquido, ou tipo esses aços que têm a porcentagem de níquel. Então, se você adiciona, para o tipo de aço que você está querendo, adiciona os ingredientes adequados para cada um, então sai o aço e vai para a Aciaria dois. Ali, agora, tem um negócio que praticamente só está fundindo, porque antes saía o aço pronto da Aciaria elétrica. Mas hoje parece que está se fundindo e ele entra em uns equipamentos modernos que tem agora, o VOD, e o Forno Panela, para fazer o acerto final e passar pelo lingotamento contínuo Então ele sai em forma de placa do lingotamento contínuo
e vai para a laminação de chapas.
P1 - Mas a sua era? Eles só fundiam o aço, derretiam...?
R - Não era para sair o aço placa. Ah, tem o AOD que entrou no meio do caminho aí, pra poder fazer o inoxidável. O inoxidável, ele veio a ser aprimorado com a entrada do AOD.
P1 - AOD? O que é que é isso?
R - AOD é um equipamento que trabalha com oxigênio, argônio. O AOD é oxigênio e carbono.
P1 - Mas o nome do equipamento é esse?
R - É, a sigla dele é essa aí. Então saía do forno elétrico e passava pelo AOD. Aí é que você dava a característica do aço inoxidável que você queria. Transformava no que você precisasse. Acabava de sair a mistura, que entrava líquida nesse equipamento.
P1 - Foi um marco quando começou a sair inox de lá de dentro?
R - Ah, foi. Isso aí, inclusive, tem um AOD com Saulo Tarcia, que era o chefe, tinha a placa dele lá - e era o superintendente nosso, na época. Juntaram a manutenção e a operação, né?
P1 - E você comemoraram?
R - Nossa, isso era, tudo que se colocava novo era alegria para a gente. A gente de manutenção sempre estava recebendo uma coisa nova. Nova para você aprender, para você deslanchar seus conhecimentos. Ah, tinha emoção de
profissional, né? Hoje é que a gente analisa com mais sentimento, porque no dia a dia você é um profissional. Então, às vezes, você não para [pra] ter aquele sentimento profundo de amor pela coisa. E a gente tinha orgulho.
P1 - Alguns aparentavam mais trabalho, era mais tinhoso?
R - Não, aquilo era alegria. Eu sempre tive uma equipe muito boa de comunicação. A gente trabalhava e fazia muita amizade, trabalhava em conjunto. E acho que uma das coisas que eu prezava muito era isso, deixei de fazer muitas coisas por mim para poder ficar junto do equipamento e do pessoal. Procurava ser dedicado, tinha um medo de sair dali. Era besteira, né? Ninguém segura nada, hoje que eu vejo isso.
P1 - O senhor tem lembrança da época do senhor Amaro Lanari Guatimosim?
R - Ele que realmente deu aquela alavancada para deslanchar a expansão da Acesita. A Acesita hoje, eu sempre ficava chateado porque a Acesita não fazia muita propaganda, né? E hoje eu sinto, assim, muito orgulho, porque a Acesita está mostrando os seus produtos. Eu acho que tem que conhecer. É um produto de qualidade e não existe um outro melhor. E a Acesita hoje faz com muita competência, [a] divulgação, propaganda do seu produto. Isso é bom, né? Vai crescendo.
P1 - Como é que foi a filosofia da empresa para implantar a expansão? O que o senhor acha que mudou no dia a dia dos técnicos, no dia-a-dia dos funcionários?
R - Ah, Tatiana, eu acho que ficou com o comprometimento, a dedicação. E você sentia, assim, com a entrada de cada equipamento novo, a expectativa de quem é que vai ser indicado para ir para lá. Até mecânico, eletricista pra treinar no equipamento. As pessoas queriam crescer, né? E eu não achava que com um equipamento novo iria crescer, porque a gente tinha a certeza que o outro equipamento ia ficar esquecido no tempo. Então o marco era dali pra frente mesmo, né? A gente tinha essa perspectiva e escolhia, realmente, as pessoas adequadas, com pesar, né, porque, às vezes, a pessoa até passava pra outra área. Deslocava, passava pra outra área. Você formava a equipe, né? Depois que a equipe formar, pegar e tirar um, era duro mesmo. Mas fazia parte, né?
P1 - E o senhor fica até que ano? Até que ano o senhor fica na Acesita?
R - Eu fiquei até 93, fevereiro de 93. Foi quando houve a privatização, né?
P1- Na década de 80, existia uma crise financeira, houve muita mudança na diretoria. Isso influenciou na vida de vocês?
R- Olha, pra te falar a verdade, hoje, acho que as pessoas... Eu não sei, por circunstâncias de mercado, a tecnologia, as pessoas não têm muito apego às empresas mais. O próprio sistema sindicalista, o próprio sistema do governo, né? Então, eu vejo que começou a vir muita gente de fora. E, você sabe que a pessoas podem ter amor ao trabalho que fazem, mas amor à cidade, amor à empresa... Isso ninguém tira daquele pessoal que vivia antes, não, sabe? A comparação, há uma distância muito longa das pessoas que vêm de fora e das pessoas que nasceram e cresceram aqui com a intenção de entrar na empresa. Então, isso aí, eu não sei. Acho que a Acesita tem umas mudanças e em termos de relacionamento grupal. Eu trouxe aqui umas fotos das olimpíadas, porque hoje você faz olimpíadas e quase que, nenhuma olimpíada, a gente vai só disputar os torneios. Tinha uma abertura que enchia o campo da Acesita ali, que transbordava de gente. Então, tinha mais calor, sabe? Parece que o pessoal se integrava mais, o pessoal era mais amigo. Hoje, acho que é que faz o troço muito robotizado, sabe? Uns falam que gostam de jogar futebol de salão, outros gostam de jogar vôlei, gosta de jogar peteca. Mas não é aquilo ali não, eu vou lá [para] defender a minha área. Inclusive, teve uma das olimpíadas aí que nós bolamos uma bola. Uma bola de futebol em cima de um carro. Menino! Isso aí é a manutenção e operação junto. Porque os gomos da bola tinham que abrir, tá certo? E nós enchemos aquilo ali de pombo. Teve um colega nosso, o Lúcio, que trabalha com o Rui Santiago hoje, ficou à noite inteira pegando pombo - a missão [dele] era pegar pombo. Encheu o trem, aquela bola de pombo. Foi em Timóteo. E roubou o pombo dos outros tudo. Isso, amanhã eles voltam, é só questão do período. E são histórias, né, eu estou começando histórias. Porque eu te falo, estou contando isso aqui pra te mostrar o quanto o pessoal era unido pra fazer as coisas. Aí fomos para as olimpíadas. Ai, meu menino jogou minhas fotos tudo fora, meu Deus do céu! Peguei algumas lá só pra ver campo, esse trem, mas acho que a bola mesmo que eu tinha lá, essa eu tinha guardado, ele pegou e jogou fora. Tinha que fazer uma limpeza lá e “ah”, e eu: “Meu filho, como é que você joga o trem fora meu?”. Aí, na hora do nosso desfile, desfile de abertura, perto da área, se apresentavam uniformizados - um troço chique.
P1 - A disputa era entre as áreas?
R - Entre as áreas. Então, na hora que nós chegamos na frente da comissão julgadora, que nós fomos abrir a nossa bola, abriu bonitinho, mas só que os pombos estavam tudo bobo lá dentro, não quiseram voar não. “Xô, xô.” Tocamos os pombos. Eles passaram à noite presos ali, eles ficaram todos bobos. E aquele tanto de confusão, os pombos não voaram - porque a nossa intenção era revoada de pombos. Na hora que quando abrisse a bola, assim, os pombos "chomm". Que nada!
P1- Então era muito integração assim, [de] participar assim?
R - Aquele rapaz que estava conversando aí é o presidente do Alfa hoje - Alfa é a Associação dos Funcionários da Acesita. É um clube bonito, lindo, que eu participei. Na época, eu era presidente do conselho, e quando nós decidimos - Francisco, que hoje é diretor da Cemig, né, e era da Fundação Acesita. O Chico Olimpíada, até é o apelido dele.
P1- Chico Olimpíada, eu vi o nome dele em algum lugar.
R- O Chico era que implementava esse troço. Então, o Chico era presidente da Alfa e eu presidente do conselho quando nós fizemos um projeto pra apresentar pra Acesita pra pedir a área. E hoje transformou num clube bonito, mas os funcionários não dão mais valor. Eu estava conversando com ele justamente isso. Tem a coisa, tem o espaço bonito, verde, com piscina, com lagoa, com tudo, você precisa ir lá pra conhecer, e eles não dão valor. Então, ele está contando pra mim que ele tem muita inadimplência, não jeito de tocar o clube, né?
P1 - E diminuiu muito o número de funcionários, também, né?
R – Mas mesmo assim, ele tem 1580 sócios - 38 reais cada um, né? Dá um dinheirinho bom, dá pra tocar. Fora as festas que você vai lá. Porque lá a gente promovia tudo, essas comemorações eram todas promovidas lá. Comemoração de, a gente [se] reunia demais no final de semana porque reunia pra jogar uma bolinha, né? A turma da minha área, por exemplo, a gente fazia muito isso. E hoje eu não vejo isso.
P1 - E a Aciaria era campeã de quê?
R - Bom, futebol era uma das modalidades. Futebol de salão, futebol de campo. Natação, a gente era uma negação. Teve uma vez que nós, não tinha um candidato pra nadar e tinha que participar, né: "Vamos participar de todos". E um colega nosso [se] candidatou pra nadar. Menino, quase afogou! Ela estava lá sentado, o Patrício, tivemos de jogar a boia pra ele e tirar de dentro da piscina. Histórias que a gente lembra que é gozado, né. O futebol, nós tínhamos um time bom. [O] futebol de coroa nosso era bom - futebol de coroa é acima de 36 anos. E eu jogava nele; era um time bom, nós tínhamos um grupinho bom mesmo.
P1 - Qual que era a área mais concorrida, mais forte?
R - A área forte era o GPA.
P1 – E o que é que é o GPA?
R - GPA é a área de inox, né? Só menino novo, entendeu? E oficina mecânica também era muito concorrente da gente. Às vezes, se o cara era competente no serviço, técnico competente, aí você transferia o cara pra sua área. Existia isso, pensando em jogar bola, contratação! Isso ocorria, esporadicamente, dentro das condições que tinha, né? GPA fichava muito atleta. Dentro da competência do cara também, né, lógico. Jogavam uma bolinha de cigarro pro cara, se matou no peito, _____ (de coxinha?) e fez uma embaixadinha, está contratado. Existia até essa gozação. GPA, se for lá, você vai entrando na porta, o chefe joga uma bolinha de papel no seu peito: você matou no peito e fez embaixada, está contratado.
P1 - Muitas alegrias na Acesita, né? Muitas realizações?
R – Teve muita tristeza também. Colegas de trabalho, falecimento de colegas de trabalho, isso aí, em acidentes aqui na usina. Isso deixava a gente triste, muito chateado. Mesmo depois de aposentado, a gente não esperava em perder tão rápido um colega da gente. Um rapaz que trabalhava comigo que era supervisor meu. Inclusive, depois eu vou mostrar a revista aqui, ele gostava muito de olimpíada, gostava muito de esporte. Vivendo na coordenação desse trem tudo. Morreu novo, depois de aposentado sofreu um infarto fulminante. E outros colegas da gente que morreram mais novos ainda, de acidente. Envolvido com olimpíada, inclusive, no período da olimpíada. Tem umas tristezas que fazem parte, sabe? A vida não foi aquele mar de rosas não, mas era gostoso trabalhar na Acesita. Sempre foi muito gostoso.
P1 - Mas vem aqui, o senhor passa três fora depois que o senhor se aposenta. A família foi junto?
R - Foi, depois eu levei a família. Eu fiquei uns oito meses sozinho lá, e depois eu levei a família, moramos lá esse período. Podia ter ficado mais, mas o caminho da gente está traçado. Você não sabe pra onde você vai, mas você vai.
P1 - E a volta pra Timóteo?
R - Você põe excelente nisso! Não existe lugar melhor do que esse. Com tudo o que a gente tinha em São Paulo, em Campinas, por exemplo, moramos em um bairro central. Não sei se você conhece lá.
P1 - Conheço, meu filho é de Campinas. Morei muito tempo lá.
R - Nós moramos naquele bairro, vai faltar nome outra vez.
P1 - Cambuí...
R - Cambuí.
P1 - Eu estudava no Cambuí, estudava no Objetivo.
R - Cambuí? Não, não era Cambuí não. Cambuí! Objetivo. Meu menino estudou lá também.
P - É mesmo?
R - E a gente morava ali. Era um bairro central, você [podia] ir a pé para o centro. Tudo isso. Hora que você precisava ir na UD, por exemplo, em qualquer feira, estava ali pertinho. E a gente ia sempre, né? Assistir uma corrida de Fórmula 1, tá ali, né? Mas, mesmo assim, os pais da minha esposa são daqui, os irmãos; os meus também, são tudo daqui. Não tinha vínculo nenhum lá, apesar do tanto de amizade que a gente fez. Essa conta de voltar era...
P1 - Pra registrar, como é que era o nome da empresa que o senhor foi trabalhar lá?
R – Sifco, da própria Acesita.
P1 - E aí, o senhor casa com Timotense?
R - Só tinha esse mundo aqui. Onde é que eu ia buscar outro mundo?
P1 - Qual que é o ano do seu casamento?
R - 1973. O primeiro filho veio, filha, né, em 1975, [um] em 1979 e o outro em 1981.
P1 - E os filhos? Como é que está a carreira deles?
R-
Eu tenho... A menina fez odontologia e tem uma clínica aqui em Timóteo, e trabalha também em Viçosa. Está montando um consultório lá pra atender porque ela está se especializando em ortodontia. Meu menino que mora em Viçosa [se] formou em odontologia também, mora com a colega dele de sala - os dois trabalham juntos no mesmo consultório. Está lá ____ ______ ela tem ____ um punhado de serviço pra ela lá. E, final se semana, ela vai de novo pra poder atender os pacientes dela lá. E o outro está no primeiro ano de medicina veterinária, está fazendo lá no Espírito Santo, em Alegre. A Universidade Federal de lá tem um campus em Alegre, perto de Cachoeiro de Itapemirim, perto da terra do Rei. Então, esse é que está mais complicado, que está longe demais. É muito complicada a ida e vinda dele. E tem o outro aqui que todo final de semana que a minha menina vai, a minha mulher vai. Esse final de semana era pra eu ter ido no outro, porque já estou com saudade dele e fico com saudade do outro também. Mas não tem jeito de visitar tudo, porque alguém tem que trabalhar nessa casa, né?
P1 - Me conta da, aqui, da sua empresa. Como é que ela chama [e] o que é que vocês fazem? O senhor contou, mas a gente não gravou.
R – A empresinha é uma empresinha bem pequeninha, né? Igual eu, pequeno. Igual ao meu salário. Colocamos o nome dela de A&M, que é Agnelo e Miná, e Serviços, né? Qualificação de matéria-prima e resíduos industriais. É uma sempre, que começou com... Quando eu vim de Campinas pra cá, aqui não existiam caçambas de entulho, então nós resolvemos montar um aqui. Só que se eu tivesse montado em Ipatinga, eu tinha tido mais sucesso. Mas eu falei: “Mão, o meu negócio é Timóteo”. Então não adianta. E falta de cabeça também, porque se montasse lá, deslanchava. Fabriciano também deslanchou, mas nós aqui não deslanchamos porque as prefeituras são paternalistas demais ainda, então recolhem uma vez por mês todo o entulho na rua - te tira fora da jogada. Tenho a esperança aí que entre um outro prefeito que resolva politicamente acabar com isso, porque isso não é responsabilidade da prefeitura, né? E que passe, que delegue isso pra gente poder fazer o serviço bem feito. Então, não decolou e, paralelo a isso, resolvi comprar um porto de areia em “off”. Aí que foi a tristeza da minha vida. Não foi o esperado, não foi, os equipamentos caros, marca pra carregadeira. Mas, por outro lado, me escancarou a porta pra prestar serviço pra Acesita. Quer melhor do que isso? Não existe! Então já faço, sem contar as, porque eu fiquei um ano na usina ajudando a reformar o forno elétrico, né? Foi em 2001, fiquei todinho dentro da Acesita ajudando a reformar o forno elétrico da Aciaria. Olha, e existe coisa melhor que isso pra mim? Me convidaram pra poder participar da reforma e eu fui lá auxiliar na reforma. Depois disso, fiquei mais quatro meses. E passou um ano da reforma, eles me chamaram lá pra poder dar uma assistência pra eles, no mesmo equipamento, que tinham montado de novo. Fui lá e fiquei quatro meses. Aí, depois disso, eu peguei, vislumbrei esse nichozinho de mercado. A Acesita precisou vir; pedi, né? Cheguei na Compras,
no Rui Santiago. Muito meu amigo, foi meu diretor lá Sifco. Muito meu amigo ele. E eu falei: "Olha, eu estou precisando de ajuda! Eu quero trabalhar e sei que vocês têm serviço. Dá pra todo mundo, me arranja um jeitinho de eu trabalhar”, “O que é que você pode fazer?”. Aí eu: “O que vocês tiverem aí. Na área de matéria-prima, o que é que vocês têm?”. Aí o Ítalo me chama. Ítalo, que trabalhou comigo - nós trabalhamos juntos -, ele era o gerente de contas lá da Sifco. Saiu da Acesita também e foi pra Sifco. Agora ele voltou pra Acesita. Aí vim: "Italo, arruma serviço pra mim!". Aí ele, gozador que só: “Você não sabe fazer nada”. Aí eu: “Tudo bem, vamos lá!”. Teve um dia, ele me chamou: “Olha, tem isso aqui. Eu tenho certeza que você não vai conseguir fazer, mas você está querendo". Eu falei assim: “Como você ousa falar um negócio desse?”, “Então vai lá conversar com os meninos”. Fui conversar com Raimundo Bandeira [e] mais o Roberto _____. “Nós estamos precisando peneirar um material aí. Fazer uma experiência de peneiramento de material aí, mas precisava de alguém que tenha a peneira montada, o sistema montado”. Eu falei: "Eu não tenho não, mas quantos dias vocês precisam?". Eles me deram um prazinho curtinho lá [e] com cinco dias, eu estava com a peneira montada. E desse dia pra cá, estou peneirando até hoje a matéria-prima pra eles. Agora nós temos que fazer um projeto e você não pode ficar lá na beira do rio, senão o meio ambiente não vai permitir. Então, eu estou arreando uma área em frente à portaria três, da Acesita mesmo. Fica mais perto, inclusive. E fiz o projetinho pra eles. “Posso atender vocês dentro disso aqui.” Mais modesto, porque lá está provisório, né? Eu fiz a machado, a toque de caixa. Funciona, mas não pode fazer melhor? Pode. Então eu já fiz o negócio todo bonitinho. Dia cinco agora, eles vão receber todas as propostas outra vez, e são três concorrentes. Eu estou concorrendo pra fazer esse trabalho definitivo pra Acesita. E eu espero ganhar, né? Espero ganhar mesmo. Porque se não ganhar, vai ficar duro, menina!
P1- Senhor Agnelo, vamos caminhando para o final da nossa entrevista. E aí eu queria que o senhor dissesse o que o senhor achou de ter sido convidado para entrevista dos 60 anos da Acesita? Isso aí é um livro, o senhor recebeu a cartinha, né? O que é que o senhor achou de ter participado?
R - Olha, Tatiana, é, quando eu recebi a comunicação, porque não é que, eu, por exemplo, todo ser humano tem uma pontinha de ego, está certo? E eu não sou diferente, né? Vivi na Acesita muito anos, dediquei o máximo que eu pude. Foram 33 anos só aqui, mais três, depois mais um e mais quatro meses. Agora continuando a prestar serviço, né? Então eu pensava assim: "Estão chamando os velhos pra essa entrevista, né?". Sempre que um jornalzinho entrevistava um colega, esse jornalzinho que sai na Alfa, nessa coisa, presta homenagem. Mas isso, eu não estou querendo uma homenagem não. É que eu tenho tanto orgulho da Acesita, que é gostoso falar da Acesita. É gostoso falar das coisas boas, porque as coisas ruins a gente tem até que deixar elas reservadas aí pra você aprender sempre, tirar um pouquinho pra você aprender a caminhar mais pra frente. Mas, eu fiquei muito orgulhoso de estar prestando esse pequeno depoimento. E se contribuir, ótimo; se não contribuir, ótimo também, pra vocês, pra história Acesita. Porque eu me considero que fiz parte dessa história. Como muitos outros anônimos por aí que fizeram parte, com dedicação, com muito amor, nós temos a certeza de que demos de tudo. E com muito amor que nós fizemos isso. Só pra te dar uma ideia, na reforma do forno elétrico lá, a minha menina tinha nascido e eu não conhecia a menina. Eu fui conhecer a menina quando o sol estava nascendo porque a gente estava virando a noite, pra entregar o forno, você acredita? Mas é aquela dedicação, e a minha mulher sempre entendeu também. Quando a gente fala assim, que vai sair fora, assim, pra Acesita... Pela primeira vez, quando eu viajei pela Acesita, quando começou a reforma, implantação de equipamentos novos, nós fomos fazer um estágio em Buttler, na Pensilvânia. E a minha menina estava fazendo um ano de idade. Você quer ver um homem chorar, menina, é lá. E que saudade da menina, viu? Um peixe fora d'água. Um menino que nunca saiu de casa, tem que ficar em casa, viu? E como tinha marmanjo chorando. Foi uma das primeiras missões que estavam saindo. E chefe chorando, morrendo de saudade.
P1 - Vocês ficaram quanto tempo lá?
R – E eles mandavam foto ainda da menina. Nossa, minha menininha. Nós ficamos 45 dias de choro, nem vela.
P1 - Eu perguntei das missões e agora no final o senhor me conta que foi também!
R - Mas é a viagenzinha que nós fizemos, foi essa aí. Foi bom.
P1 - Voltar foi melhor ainda, né?
R - No dia de voltar, então, foi a dádiva divina! Mas tudo isso, é lógico que a gente não está lembrando de muita coisa, né? Gostaria de somar mais ainda com vocês, mas, infelizmente, também o tempo vai consumindo a gente, né?
P1 - Outra coisa, me conta uma coisa: você chegou a trabalhar ao mesmo tempo com o seu pai na Acesita?
R - Trabalhava. Ele trabalhou pra mim quando eu era chefe da Aciaria, que ele ia lá soldar o troço pra mim na Aciaria. Eu olhava o meu pai e ficava com uma dó dele, porque era quente pra burro! Uma poeira danada. Mas olha, velho, é a sua profissão. E hoje a ele não está locomovendo mais, a gente praticamente tem que fazer quase tudo pra ele, porque ele sofreu dois derrames, né? Derrame você vai sofrendo, cada dia você vai sofrendo, tem derrame, né? Você vai degenerando. Agora, recentemente, parou de andar. Senta, tudo, ele estava andando ainda com auxílio desses carrinhos aí, mas hoje tem que pôr na cadeira de rodas, pra dar banho tem que pôr no banquinho de rodas. E a gente espelha no pai da gente, porque meu pai era dedicado demais da conta com a Acesita também! Ele tinha uma dedicação, um comprometimento, uma responsabilidade com o trabalho dele. E aquilo fazia com que a gente também crescesse nesse lado e se tornasse uma pessoa responsável. Espelhar numa pessoa responsável. E o meu pai foi realmente, em termos, assim, de homem honesto, correto e dedicado, ele foi um espelho pra gente, pra mim, pros meus irmãos. Todos trabalharam na Acesita.
P1 - Ah, os irmãos também?
R – Todos, com exceção da minha irmã, a caçula. Mas todos [os] outros trabalharam. E dois aposentados, né? O mais velho. Nós éramos sete. O mais velho, assim que ele saiu da Acesita, ele entrou na Petrobras. Ele faleceu, acidente de carro. E os outros, um trabalhou até duas vezes na Acesita. Saiu daqui e foi para a CST, depois trouxemos pra cá de novo.
P1 - Mas em área diferente sua ou não?
R - Ah, em área diferente. O caçula dos homens também trabalhou, na área de planejamento. Hoje está na Inglaterra. É a paixão dos velhos, porque está longe, né? Ele fica lá toda hora apreensivo de receber um telefonema do meu pai, [que pode] se despedir da gente a qualquer hora. E pode até acontecer o contrário, né, [de] a gente até ir antes, mas a tendência é essa. Sei que meu pai, ele foi assim, realmente, o espelho nosso. E irmão pra irmão também, as dedicações e correções dentro da empresa, de correto, todos eles seguiram a linha do meu pai. E a gente ficou orgulhoso disso, que a gente não teve, por exemplo, começaram o Senai, dois fizeram o Senai, né? O outro trabalhou no projeto, era projetista, né? E o outro no planejamento. Esse que faleceu trabalhava na oficina mecânica. Pode ter certeza que a alegria de viver em Timóteo e a alegria de ter trabalhado na Acesita, todas as alegrias foram muito maiores do que as tristezas que a gente teve durante essa vida. E a gente só tem que agradecer a Deus, né? De estar aqui hoje e ter essa oportunidade de estar contando pra você uma parte da vida da gente. Consegui uma esposa maravilhosa, dedicada [e] muito amiga. Sabe que minha esposa faz hoje? Ela vai todo dia de manhã dar banho no meu pai. Então eu fico orgulhoso disso também, ela zela também pelo meu ente querido. É importante.
[Pausa]
P1 - Seu sogro?
R - Eu acho que dentre os vivos hoje ainda remanescentes da Acesita, praticamente, os fundadores, que contribuíram para o crescimento da Acesita, eu cito até meu sogro. Que dentro dos vivos, hoje, na Acesita, com registro, chapa, mesmo, de fichamento da Acesita, em 1946. O número dele era 832, José Dumont Torres. É tão pouco, que talvez pudesse contar mais histórias a respeito disso. O senhor Stelo é um antigo, mas eu acho que não é tão antigo igual ele. O seu Stelo vai te contar muita história.
P1 - Em que área que o seu sogro trabalhava?
R - Ele trabalhava na área de armazém e depois almoxarifado. Ele trabalhou em um armazém no Espírito Santo, que a Acesita tinha unidade lá, né?
P1 - Você chegou a trabalhar ao mesmo tempo com ele? Na mesma época, o senhor, seu sogro, seu pai, os irmãos?
R- Poder que...
P1- E essa datas aí?
R - Não, essa data aqui é só do meu pai, que eu anotei quando que ele veio pra cá, mais ou menos, em 1955. E a gente deve ter chegado aqui por volta de...
P1 - Será que o senhor não consegue pra gente a carteira de trabalho do seu pai?
R – Consigo, do meu sogro!
P1 - Dos irmãos, quem sabe, também?
R - Eu quero te ajudar ao máximo aí para o seu trabalho sair bonito. O homem que trazia a tecnologia pra Acesita, sabe, ele é uma cabeça fantástica.
P1- O seu Albuquerque?
R- É, o José Luís Pimenta.
P1 - Esse tem um irmão que trabalhou aqui?
R – É, o José Luís Pimenta. O irmão dele foi diretor industrial da Acesita. _____ Vicente Falconi, assessor da diretoria. Eu não conheci pessoalmente.
P1- Ele foi na época da tecnologia, da qualidade?
R- O (Willreich?) era diretor industrial também. Igino Foschi, esse meu amigo de infância.
P1 – Ele está em Divinópolis, a gente não consegue trazer.
R - O Igino está aqui, menina. Ele mora aqui, nessa rua, no Timirim. E tem muita história dele.
P1 - O senhor não tem o telefone dele aí não?
R - Ah não, aqui não. Posso te ligar. Igino é meu amigo de infância. Veio com cinco ou seis anos da Itália, deu a vida pra Aciaria. Fez Senai também, trabalhou na boca de forno. Fez engenharia também e depois se tornou chefe da Aciaria.
P1 - Pois é, mas quando a gente liga pra ele, só consigo achar ele em Divinópolis.
R - Eu vou pedir pra ele entrar em contato com você, ou você entra com ele.
P1 - Mas eu posso te dar o telefone da Marina, o senhor pode deixar o telefone dele com a Marina aqui.
R – Só falta você entrevistar esse menino, ele vai ficar orgulhoso também. E nós crescemos juntos. José Luís Ramos, esse já é, eu conheço, muito amigo, mas já é gente que veio de fora. Tem o Luís __________, também veio de fora. José Cordeiro Neves, nascido em Timóteo, também muito amigo nosso.
P1- Eu vou entrevistar hoje de tarde.
R - Nós trabalhamos juntos na Aciaria, muito tempo com ele na operação. Muita gente. _______ ______ fora, esse feio aqui. Adão Justino Nunes.
P1 - Mas todos [os] dois estão dodói.
R- Ah, Adão. _____, conheço. A Adão não está podendo vir não?
R- Não, está dodói.
R- _____ Peixoto, _______ do laboratório químico. Chefe ____, Rui Santiago, Stelo,
____ ___, se você conseguir esse tem história, Paulo Magalhães.
P1 - E o senhor conhece o Edgar Góis Monteiro?
R - Foi nosso superintendente, esse que... Agora a manutenção perdeu força, mas, com ele aqui, a manutenção tem força. Quando ele teve a, [era] gerente de manutenção, diretor industrial... Quando ele assumiu a gerência de manutenção, a manutenção começou crescer, que [antes] a gente não tinha força nenhuma. Não existe uma empresa totalmente metalúrgica. Então, qual que é a atividade-fim dela, a metalúrgia? Os outros são todos auxiliares, mas a manutenção tinha que ter sua importância porque senão os equipamentos também não funcionavam. E isso a gente nunca conseguia, essa soberania, né? E a manutenção passou a ser tratada com respeito e começaram a ver que era importante para o processo produtivo a partir do doutor Edgar - eu gosto muito dele, gosto dele. Lauro Chevran, gosto muito do Lauro; o Ítalo. A turma toda aqui. Eu não tenho porque não gostar dessa turma, são pessoas, que dentro das suas características, dentro das suas qualidades, dentro do seu potencial, contribuem para a Acesita. Muitos contribuem para a Acesita até hoje, é gente que está ajudando a escrever a história do aço, né?
P1 - Beleza...
[Fim do depoimento]Recolher