Sou de Barbacena MG, chamada de a Terra dos doidos. Nasci numa terça feira de Carnaval, o dia estava chuvoso. Minha mãe dizia que ao nascer precisei de levar alguns tapas no bumbum.
Até 6 anos, tive atraso no desenvolvimento. Estava possuindo dificuldades numa escola convencional e até que e...Continuar leitura
Sou de Barbacena MG,
chamada de a Terra dos doidos. Nasci numa terça feira de Carnaval,
o dia estava chuvoso. Minha mãe dizia que ao nascer precisei de levar alguns tapas no bumbum.
Até 6 anos, tive atraso no desenvolvimento. Estava possuindo dificuldades numa escola convencional e até que então fui encaminhado para associação Barbacenense de assistência aos excepcionais ( anos 80, muito diferente das APAEs de hoje). Nessa instituição corria, arrastava engatilhados entre outras atividades.
Alguns meses depois entrei numa escola convencional e fui alfabetizado pelo método
cartilha.
Minha infância foi de intensa atividade física e escola convencional,
cinco anos corridos.
Essa parte introdutória é para dizer onde conheci os meus melhores amigos: Nessa instituição! Conheci um garoto que era mudo,não conhecia a língua de sinais e nem esse meu amigo conhecia.
Acho que acreditavam naquela época que a maneira correta de fazer uma pessoa surda falar é obrigar a falar através de intensas atividades de fonaudiologia,
exercícios de cordas vocais.
Não fale para uma pessoa surda sobre o criador do telefone: Você está
provocando nele um instinto de ódio eterno até.
Tive amigos com síndrome de down, deficiências físicas ( lembro de um rapaz que se deixar um leve vento fazia ele cair no chão). As atividades eram
super intensas ,seja no frio ou calor algumas
meninas para passar o tempo cantavam músicas de um famoso grupo da
música popular brasileira. Éramos um pessoal apaixonado .
Eu conhecia formatos de ônibus,
números de ônibus
e modelos: Fazia o uso desse meu dom para evitar correrias das pessoas, dizia: \\\\\\\"Não, esse não é o teu ônibus, esse vai para outro lugar\\\\\\\" O ônibus que levava pra minha casa demorava tempos pra chegar: Antes , parava em um mercado para tomar refrigerantes ( somente isso que eu tomava,
possuía dificuldades em se alimentar na rua), o funcionário do mercado já guardava o meu refrigerante favorito: Ganhava a simpatia facil das pessoas.
Anos depois da alta da instituição de alunos especiais minha mãe recebeu uma advertência: Fizemos tudo o que foi possível para seu filho , não deixe ele parar . Sai nu e cru sem saber o porquê precisei dessa instituição,acho porque também gastaram dinheiro comigo ou não aceitavam adolescentes sem cura nessa instituição.
Consegui formar o ensino médio , anos depois fazer uma graduação em ciências biológicas e agora estou ns segunda graduação serviço social.
A moral da história toda? Entre Capacitismo que sofri e sofro até hoje é que meus melhores amigos foram aqueles que a sociedade julgam com anormal ou incapazes: Eu vejo com outros olhos,
diferente dessa nossa sociedade.
Na fase adulta fui diagnosticado com autismo e hoje talvez vejo através dessa faculdade de serviço social meios para lutar por essas pessoas: Pessoas com deficiências, idosos,
autistas.
Lutar no serviço social significa buscar diretos dessas pessoas.
Não sei se vou conseguir fazer essa faculdade até o fim: Minha vida anda estressante. Mas pouco que aprendi já consigo saber como e onde lutar pelos direitos dessas pessoas.
Eu vejo essas pessoas com coração,
não com olhos capacitistas. Eu vejo os direitos delas!Recolher