O Museu da Pessoa nasceu para o mundo ao final de 1991, quando, no MIS, em São Paulo, a exposição Memória & Migração inaugurou um espaço para que toda e qualquer pessoa pudesse contar sua história.
A ideia havia nascido lá pelos idos de 89, em meio à gravação de 200 horas de histórias de vida de judeus imigrantes vindos das mais variadas regiões do mundo. Este projeto – Heranças e Lembranças: imigrantes judeus no Rio de Janeiro – resultou em um livro, uma exposição no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro e um acervo composto por pastas com a história de cada entrevistado. Ao final do projeto, D. Matilde Lajta, judia austríaca de 86 anos disse: “preciso agradecer a vocês por este projeto. Porque agora sei que já posso morrer. Tive uma vida interessante, marido, filhas, netos…mas agora sei que minha vida, àquela história que é só minha mesmo, minha alma, agora sei que vai ficar.”
Ali confirmava-se o propósito do Museu da Pessoa: permitir com que cada pessoa tenha o direito e a oportunidade de ter sua história de vida eternizada e reconhecida como uma fonte de conhecimento e compreensão pela sociedade.
Navegue pelos anos da nossa história:
1991
1991
“Cheguei, não me lembro em que mês, acho que foi antes do carnaval. Eu dancei na rua, eu beijei a terra, eu disse assim: oh, meu Deus, ninguém me chamou de judia! Cheguei, jogaram confete em cima de mim! Fiquei tão emocionada que nunca, nunca mais queria voltar para casa!” Foi o que disse Regina Worcman quando entrevistada. Essa e muitas outras histórias fizeram parte da Exposição Memória & Migração, primeiro evento público do Museu da Pessoa.
Memória e Migração. MIS, São Paulo, 1991.
1992
1992
“As memórias de mim mesmo me ajudaram a entender as tramas das quais fiz parte.” Foi como Paulo Freire resumiu o valor de contar sua história quando entrevistado, em 1992, para o projeto Memória Oral do Idoso, que era uma oficina que reuniu historiadores, jornalistas, psicólogos e outros para aprenderem a metodologia de história oral do Museu da Pessoa. O grupo realizou 44 entrevistas.
Projeto memória Oral do Idoso, realizado pela Secretaria de Estado da Cultura através da Oficina Cultural Oswald de Andrade e coordenado pelo Museu da Pessoa.
1993
1993
“Acho que eu faria tudo de novo. Só que eu ia dar mais valor pro momento que a gente vive e não ficar só esperando o amanhã.” Concluiu Maria Antonia que teve sua história contada no AlmanaK da Idade de Pensar, primeira publicação do Museu da Pessoa.
Pensar, publicação do projeto Memória Oral do Idoso, publicado em 1993 pelo Departamento de Formação Cultural da Secretaria de Cultura de São Paulo.
1994
1994
“Na copa de 50, quando o São Paulo tinha sede no Canindé, a seleção do Uruguai ficou concentrada lá, e comeu na minha casa. E eles foram campeões. Depois de uns dias, mandaram um álbum e passagem para mim e meu marido irmos para o Uruguai. Porque eu tinha cozinhado para eles.” Contou Catarina Serroni, cozinheira do São Paulo Futebol Clube por quarenta e três anos quando entrevistada para o Memorial do São Paulo Futebol Clube, o primeiro grande projeto do Museu da Pessoa. Junto à exposição das taças, 2 quiosques multimídias contavam a história do time nas 37 vozes de ex-jogadores, diretores, fundadores, funcionários e torcedores.
O Memorial do São Paulo Futebol Clube foi inaugurado em 1994 junto ao estádio do Morumbi.
1995
1995
“De vez em quando sinto saudades, sonho ainda com o tempo em que era pequeno, tinha seis ou sete anos e brincava de sapateiro, fazia sapatinhos de boneca. Eu era apaixonado pelo meu trabalho.” Consolato foi um dos 60 entrevistados para o primeiro projeto Memórias do Comércio em São Paulo que deu origem a um dos primeiros CDROMs multimídias do país e inaugurava a parceria do Museu da Pessoa com o SESC-SP.
O projeto Memórias do Comércio em São teve o apoio inicial da Federação do Comércio de São Paulo, SENAC, SEBRAE e SESC-SP. As versões posteriores foram todas realizadas pelo SESC-SP. Em 22 anos, o projeto resultou em um acervo de 263 entrevistas registradas em vídeo e uma coleção de mais de mil fotos e documentos.
1996
1996
“Filho, eu tenho um bocado. São 68 filhos. Mas não vi o século passar não. Eu queria que viesse outro.” Disse seu Germano aos 121 anos, quando entrevistado em sua casa na Vila Missionária.
O projeto Memórias do Comércio em São teve o apoio inicial da Federação do Comércio de São Paulo, SENAC, SEBRAE e SESC-SP. As versões posteriores foram todas realizadas pelo SESC-SP. Em 22 anos, o projeto resultou em um acervo de 263 entrevistas registradas em vídeo e uma coleção de mais de mil fotos e documentos.
1997
1997
“Quando vi aquele montão de branco, falei pro meu pai: vamos embora papai. Meu pai falou: não sente medo não, meu filho. Eles não mexem com ninguém.” Narrou Teodoro Pasiku, agente comunitário de saúde da tribo Xerente, em Tocantins. Enquanto contava sua história, o gerador permitia que todos vissem a sessão da tarde, misturando os tempos do Brasil que abria-se para a Internet e o Museu da Pessoa montava seu primeiro site. Tornava-se, finalmente, um museu virtual.
O primeiro site do Museu da Pessoa foi lançado em 06/05/1997.
1998
1998
“Quando eu morava em Acari, na minha juventude, a gente não ouvia falar em ditadura militar. Meu pai por exemplo, ouvia falar em comunista, terrorista – porque lá tinha algumas famílias como a do seu Egídio. Todos diziam: “Cuidado que ele é comunista, vamos passar em frente à casa do comunista, cuidado” Mas minha mãe não sabia de nada disso. Eu me lembro que em casa ela sempre ouvia a rádio “Havana” de Cuba, que pegava lá em casa, em português.” Contou Vicentinho durante o projeto que deu origem ao site ABCDELUTAS.org.
Além de Vicentinho, Lula, Meneguelli, Guiba e outros líderes sindicais colaboraram para contar a história do Sindicato dos Metalúrgicos sob o ponto de vista dos trabalhadores. O Museu da Pessoa começava a fazer centros de memória virtuais para sindicatos, empresas e instituições.
Entre 1998 e 2001, foram coletados cerca 50 depoimentos em áudio e vídeo para compor o site www.abcdeluta.org.br.
1999
1999
“Nós tínhamos duas opções: crescer ou desaparecer. Então fomos salvos pelos japoneses, na junção de dois desesperos. O deles, que pretendiam reerguer suas siderurgias destruídas pela guerra, embora os países desenvolvidos não quisessem, e o nosso, na procura de compradores pelo mundo afora.” Contou Eliezer Batista sobre a construção do Porto de Tubarão, em Vitória. Essa é uma das muitas histórias contadas por ele nas 13 horas de entrevista para o projeto sobre as memórias da Vale.
A metodologia do Museu da Pessoa começava a ser utilizada para registrar histórias das grandes empresas estatais do Brasil que completavam 50/60 anos de existência e refletiam o resultado da política de desenvolvimento de Getulio Vargas.
Desde 1999, o projeto Memórias da Vale registrou mais de 500 histórias de vida, além de pesquisas documental e iconográfica. , além de mapeamento de arquivos institucionais. Esse acervo foi matéria-prima de 4 vídeos-documentários, um centro de memória virtual e a publicação Histórias da Vale.
2000
2000
“Eu nunca me imaginei participar de um museu. Este trabalho é uma vacina contra o complexo de inferioridade.” Foi o que disse o Sr. Marius Vieira quando formou-se agente de histórias, um programa de capacitação de idosos. Ali nascia o programa educativo do Museu da Pessoa.
O programa Agentes da História contou com 13 idosos que aprenderam a aplicar a metodologia utilizada pelo Museu da Pessoa.
2001
2001
“Depois desse projeto passei a valorizar mais as histórias das pessoas da comunidade em sala de aula, como suas profissões, etnias, etc e a ler mais sobre temas que tratam sobre memória e acontecimentos do dia-a-dia.” Josiane Marcele Victor, professora, após participar no programa Memória Local na Escola, com o objetivo de juntar memória, leitura, escrita e trazer a comunidade para dentro da escola.
O Memória Local na Escola é um programa realizado em parceria com o Instituto Avisa Lá e que já mobilizou cerca de 2200 professores e 45.400 alunos.
2002
2002
“Era o ano de 1974, fazia três anos que eu chegara ao rio de Janeiro. Eu já estava trabalhando e me ajustando ao modo carioca de ser. A leitura do jornal se fazia obrigatória, na leitura obrigatória pela melhoria do meu status de trabalhador. Encontro mais um edital de concurso público, era o BNDES oferecendo vaga para diversos cargos. Mas o que será o BNDES? Esse banco eu não conheço… Não importa, quando eu passar me preocuparei com isso.” Maria de Fátima foi uma das ganhadoras do concurso “Nossas histórias”, para funcionários do BNDES.
Executado em 2002, o projeto de memória “BNDES – 50 anos de Desenvolvimento” foi desenvolvido pelo Museu da Pessoa e captou cerca de 100 histórias sobre os 50 anos do BNDES.
2003
2003
“Eu trazia a imagem da São Paulo toda iluminada, banhada a ouro, aquela maravilha. Tudo limpo. Tudo encantador. O chão, para mim, devia ser um tapete. Saltei, era abril de 1976, na estação Júlio Prestes e vi tudo ao contrário: o que mais tinha era cachorro vira-lata e mendigo, aqueles prédios sujos, a fuligem louca. Mas bebi da água e continuo aqui, são mais de trinta anos.” Contou Sebastião Marinho, cantador repentista profissional desde 1968, que participou do Seminário Memória, Rede e Mudança Social que deu início à construção da rede Brasil memória em Rede.
O movimento Brasil Memória em Rede organizou-se em 9 polos regionais de memória em todas regiões do Brasil e marcou o início do Pontão de Memória Museu da Pessoa.
2004
2004
“O Milton já tinha desenvolvido a carreira dele, tinha ganhado o Festival internacional da Canção com Travessia. Mas sempre que ele vinha a Belo Horizonte perguntava: cadê o Lô? E a minha família falava: esta lá na esquina tocando violão. Um belo dia ele apareceu lá e eu resolvi mostrar a música que eu estava fazendo. E ele acabou fazendo a música comigo, o Clube da Esquina n.1.” Lô Borges foi um dos entrevistados para o Museu do Clube da Esquina que, com o apoio do Museu da pessoa, reuniu depoimentos de artistas como Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta, entre outros.
O Museu virtual do Clube da Esquina contou com mais de 74 depoimentos, fotos, documentos e a discografia do grupo.
2005
2005
“Eu fazia reunião com 200 homens e não via as mulheres, me incomodava de ficar sozinha no meio de tantos homens, e me perguntava por que só eu? Onde estão as mulheres rurais.” Foi a pergunta que levou Vanete de Almeida a criar a Rede de Mulheres Rurais da América Latina e Caribe. Vanete e mais 10 mulheres latino americanas aprenderam a metodologia do Museu da Pessoa para registrar a histórias das mulheres em suas comunidades.
Em 2005 o Museu da Pessoa iniciou, com o apoio da Fundação Banco do Brasil, o desenvolvimento de uma tecnologia social da memória. O esforço consistia em sistematizar uma metodologia de trabalho que permitisse que grupos, organizações e comunidades pudessem realizar projetos de memória.
A tecnologia social de memória já foi disseminada em diversas ações e projetos para mais de 202 organizações.
2006
2006
“Eu tinha muita vontade de brincar com boneca.. Eu pegava sabugo de milho, enrolava um pedacinho, retalhinho de pano na cintura e falava que era boneca.: boneca deve ser assim. Depois eu via minha mãe mexendo, fazendo o barro, puxando o barro para fazer aquelas vasilhas. Ai eu falava assim: eu vou fazer uma bonequinha de barro de barro para brincar. E com minha imaginação, fui fazendo experiência.” Izabel Mendes da Cunha foi entrevistada no Vale do Jequitinhonha durante uma expedição do projeto Memória dos Brasileiros.
Desde 2006, o projeto Memória dos Brasileiros do Museu da Pessoa percorreu 42 cidades em 15 estados através de seis expedições culturais.
A coleção é composta por cerca de 326 depoimentos e foi a base para a montagem desta exposição.
2007
2007
“A rede internacional de Museus da Pessoa conecta pessoas e grupos para criar e compartilhar suas histórias. Os Museus da Pessoa estão localizados no Brasil, Portugal, Estados unidos e Canada. Nós acreditamos que o mundo se tornará um lugar melhor se valorizar o valor de uma história de vida e se criar uma comunidade global de contadores e escutadores.” Assim começava a carta de Montreal redigida, em um encontro Montreal, Quebec por representantes dos 4 núcleos de Museus da Pessoa em prol da criação de uma rede global de histórias de vida.
A experiência do Museu da Pessoa inspirou a criação iniciativas semelhantes em Portugal, EUA e Canadá.
2008
2008
“Concordo com Muriel Rukeyser quando diz que ‘o universo é feito de histórias, não átomos”e de que as grandes mudanças so serão possíveis quando as histórias que as pessoas se contam mudarem. Por isto apoio complete e entusiasticamente o dia internacional de histórias de vida.” Howard Rheingold autor, jornalista, professor, Stanford University, USA. O dia internacional de historias de vida tem sua primeira edição em 16 de maio de 2008. Uma iniciativa liderada pela rede internacional de Museus da Pessoa e pelo Center for Digital Storytelling. Cem organizações de 30 países fizeram eventos neste dia, incluindo círculos de histórias, performances, conferencias, exposições e programas de radio e TV.
O Dia internacional de historias de vida acontece no dia 16 de maio. As edições de 2008 e 2009 envolveram mais de duzentas organizações de diversos países.
2009
2009
“Um dia numa livraria, encontrei um exemplar de um livro fino, pequeno, o Hatha Yoga, meses depois outro, aí eu formei a ideia do que era Hatha Yoga. Eu tratei de aplicar em mim escondido do médico e escondido da família, eu praticava num lugar solitário e silencioso pra mim, que era o banheiro da casa.” Professor Hermógenes, Mestre e pioneiro de yoga no Brasil com mais de 30 livros publicados foi uma das 20 entrevistas realizadas para inspirar o Concurso Histórias que Mudam o Mundo, que estimulou jovens a produzirem vídeos de 1 minuto sobre o tema da mudança. O Museu da Pessoa começava a criar campanhas colaborativas de histórias por todo Brasil.
O projeto Historias que Mudam o mundo marcou o início de campanhas e concursos online do Museu da Pessoa, que recebeu cerca de 100 vídeos de 1 minuto produzidos por jovens sobre o tema da mudança.
2010
2010
“Eu estava com 14 anos quando minha mãe morreu. Meu pai, seringueiro, falou: “Vou botar vocês lá pro Jaci pra estudar, vou falar com meu irmão lá. Vim pra casa de meu tio e a mulher dele era ruim, ruim, ruim. Amanhecia o dia, uma baciona grande, ela enchia de louça: “Vai lavar, vai lavar louça”. Eu ficava pensando: “Eu vinha pra cá pra estudar e essa mulher não me bota pra aula, me bota pra trabalhar”. Aí eu chorava, chorava…” Contou Dona Bela quando entrevistada em Jaci-Paraná, em Rondônia.
Transformações Amazônicas integrou o projeto memória dos Brasileiros com o objetivo de registrar historias de pessoas que vivem em locais impactados pela chegada de usinas hidrelétricas ou grandes indústrias.
Além das 42 entrevistas , foi realizado um processo de formação das lideranças locais na tecnologia social de memória, que resultou em um material educativo adotado pelas escolas de Juruti.
2011
2011
“É nossa proposta dar continuidade ao trabalho em 2013, pois a partir do Projeto Memória Local na Escola incluímos o conteúdo ‘memória’ no nosso currículo dos anos iniciais, pois acreditamos na importância desse trabalho na formação dos nossos alunos, tornando-os cidadãos capazes de reconhecer o valor das pessoas e das suas histórias.” Lucia Polanczyk, Secretária Municipal de Educação de Guaíba (RS). Ao completar 10 anos, o programa Memória Local na Escola torna-se política publica em 4 municípios: Apiaí, Guaíba, Indaiatuba e São Bernardo do Campo.
Hoje o projeto Memória Local já conta com mais de quinze anos de existência e multiplicou-se em outros projetos educativos, que passaram por 67 municípios e aproximadamente 1180 escolas.
2012
2012
“Estudei até a terceira série. Como não aguentava mais os maus tratos, as surras constantes de meu pai, da minha tia, dos meus avós, aos treze anos resolvi viver definitivamente nas ruas. Para sobreviver, vendia meu corpo em troca de comida ou uma cama para dormir.“ Muitas historias como essas foram relatadas por jovens vítimas de abuso ou exploração sexual como parte do projeto Vira Vida.
O projeto “Memória, Historias de Vidas Transformadas” foi idealizado pelo Conselho Nacional do SESI e executado pelo Museu da pessoa. Foram realizadas 90 entrevistas, entre jovens, familiares, profissionais e parceiros do projeto VIRA VIDA em 19 cidades do Brasil.
O conteúdo gerado resultou ainda em exposições e duas publicações, uma em português e uma em italiano.
2013
2013
“Uma vez meu irmão e uns coleguinhas de escola foram lá pra Ilha da Bexiga, entrou um sudoeste, eles estavam apavorados e aí eu resolvi atravessar contra o sudoeste até a Fazenda do Engenho da Boa Vista pra pedir ajuda pro Japão, pra vir com uma baleeira buscar a turma. Eu sei que eu levei umas quatro horas. Quando eu cheguei estava todo mundo em pânico achando que eu tinha morrido. Eu já devia ter uns 13, talvez 14 anos. Foi minha primeira experiência no mar.” Amir Klink foi um dos entrevistados entre esportistas, artistas, filatelistas e ribeirinhos em mais uma expedição pelo Brasil como parte das comemorações dos 350 anos dos Correios no Brasil.
O Projeto Aproximando Pessoas realizou coleta de depoimentos nas cinco regiões do país, transformando as 137 histórias de vida em acervo do Museu da Pessoa e em coleções virtuais.
Destas, 26 foram captadas em uma expedição no Vale do Jari, entre os Estados do Amapá e Pará.
Também foram fruto deste trabalho a publicação “Aproximando pessoas” e uma exposição.
2014
2014
“Pensar nos espaços que habitei para falar do tempo que vivi. É esta a ideia deste texto, que conta um tanto da minha vida inteira. Ao falar das casas nas quais morei, registro minhas memórias, as mudanças, adaptações, identificações. Nas tantas casas, assim como no mundo, sentir-me em casa sempre foi desafio.” Valeria Tessari, internauta, conta sua história e monta sua coleção a partir de objetos cotidianos, fabricados (pelas) e fabricantes (das) relações humanas. A nova plataforma permite a toda e qualquer pessoa tornar-se, além de parte do acervo, curador do Museu da Pessoa.
A partir de 2014 a ferramenta de Coleções passou a funcionar no portal do Museu, www.museudapessoa.net , que torna-se mais colaborativo e inaugura a ferramenta que permite que todo internauta monte sua própria coleção.
2015
2015
“Eu gosto de contar minha história, que é uma história que tinha tudo para ter outro final. É como se eu dissesse ao passado: achou que eu não ia ser ninguém, olha eu aqui!” Disse Sergio Vaz, poeta e co- fundador da Cooperifa, um dos saraus de periferia pioneiros de São Paulo. As histórias coletadas misturaram memória e a história dos saraus que estão mudando a arte e a cara das periferias de São Paulo e do Brasil.
Kombiblioteca poética é um projeto que recolheu histórias de vida de poetas dos saraus de SP e é uma biblioteca itinerante que percorre os saraus paulistanos e escolas públicas, parques e praças. Foram entrevistados 16 poetas no Museu da Pessoa e a Kombi visitou dezenas de saraus e distribuiu 2000 livros do Museu da Pessoa e mais pelo menos 300 livros de poetas em escolas públicas das regiões dos saraus.
2016
2016
“Os seres humanos, independente da sua tribo, da sua cultura, compartilham uma memória, um grande rio onde águas de vários lugares, a água da chuva, a água dos igarapés, a água das nascentes, a água dele mesmo, dos lagos vai se integrando, vai rolando, vai fazendo fluxo. Esse grande rio é a experiência que a humanidade viveu até hoje. Esse rio de memória, é tão poderoso, que é o que permite que a gente se entenda nesse instante.” A fala de Ailton Krenak fecha um dos 5 documentários que integraram a exposição “Resiliência – Récits de vie du Brésil” montada pelo Museu da Pessoa no Museu da Civilização do Quebec no Canadá.
A exposição “Resiliência – Récits de vie du Brésil”apresentou o Brasil a partir das narrativas do acervo do Museu da Pessoa. Entre 2016 e 2017 recebeu cerca de 100.000 visitantes.
2017
2017
“O Museu da Pessoa homenageia todos os museus que apresentam esforços humanos para dar valor às nossas vidas. Todos esses museus, assim como o próprio Museu da Pessoa, resultam de escolhas e de percepções de pessoas, grupos ou sociedades de que um certo objeto, um fato, um dado instante na História vale ou valeu a pena. Todos eles valem a pena porque constituem traços de nossas experiências sobre a Terra. Experiências que valem não porque necessariamente mudaram o curso da história ou glorificaram um instante dela; mas apenas porque revelam nossas múltiplas humanidades.”
O trecho acima é um excerto do “Pequeno Manifesto do Museu da Pessoa”, redigido e divulgado quando esta instituição completou 25 anos de existência. Ali está expresso por que vale a pena ouvir, preservar e transmitir histórias de vida.
A exposição “Quem Sou Eu?”, realizada com apoio do SESC São Paulo, foi a primeira mostra em que a causa do Museu da Pessoa, sua trajetória e suas histórias, constituíram o fio condutor e o tema central da narrativa apresentada ao público: “Sou o outro que vive dentro de mim”.
2018
2018
“Meu avô veio para com 16 anos e começou a produzir tijolos. Muitos anos depois, meu marido e eu encontramos alguns e os usamos na construção de nossa casa.” A história e a foto de Anna Maria fazem parte de um acervo histórico de mais de 18 mil histórias de vida e 60 mil imagens e documentos que, em 2018, começou a ser tratado como parte do projeto de reestruturação do Museu da Pessoa, com apoio do BNDES. O projeto inclui revisão e digitalização de todo o acervo, atualização da plataforma digital, sistematização e multiplicação das metodologias do Museu, além de um amplo processo de desenvolvimento institucional.
A parceria com o BNDES possibilitou a descoberta de preciosos “tijolos” até então escondidos no rico acervo construído pelo Museu em seus quase trinta anos de atividade. São histórias como essas que conformam os alicerces e a estrutura do Museu da Pessoa.
2019
2019
“Quando eu entrei aqui eu fiz uma distinção entre viver e contar. Saio daqui com um embaralhamento muito forte.” Disse o documentarista Pedro Cezar ao final de sua entrevista. Ele e os cineastas Marco Del Fiol, Marcelo Machado, Tatiana Toffoli e Viviane Ferreira fizeram um mergulho no acervo do Museu da Pessoa para criar o documentário “Pessoas – Contar Para Viver”, uma produção original da Casa Redonda para o canal Curta! lançado em 2019. A iniciativa fortaleceu a ideia de construir curadorias colaborativas e, com isto, ampliar as possibilidades de perspectivas artísticas sobre seu acervo. Entre as histórias do filme estão relatos de Kaká Werá e Dona Pequenita, que também fazem parte da coleção de entrevistas depositadas no Arctic World Archive, no pólo norte, em abril de 2019.
2020
2020
“Nunca poderia imaginar, nem através dos mais pessimistas pensamentos, que eu iria viver um período tão surreal na minha vida. Recebi a notícia de minha filha que vou ser avó e não pude abraçá-la e nem beijá-la. Mas esta linda e maravilhosa sensação de ser avó de uma menininha me faz viver numa bolha feliz. Um dia minha neta vai saber pela professora que no ano em que ela nasceu aconteceu a pandemia.” M. F., 70 anos. 27 de agosto de 2020.
Este foi um dos mais de 600 relatos recebidos pela iniciativa “Diário Para o Futuro”, campanha colaborativa promovida pelo Museu da Pessoa para registrar vivências e reflexões cotidianas sobre como as pessoas viveram durante a pandemia do Coronavírus. Com toda equipe trabalhando de forma remota, esta ação integrou um conjunto de transformações que marcaram e ampliaram a vocação virtual do Museu da Pessoa. Em 2020, o Museu da Pessoa criou sua programação cultural e educativa 100% online.
2021
2021
“Quando você coloca a história de vida de uma pessoa ‘comum’ em um pedestal, você se dá conta de que não existe história comum. São todas extraordinárias”
Disse o nobel de literatura Orhan Pamuk sobre o papel dos museus. A fala fez parte do Seminário Internacional Futuro da Memória, organizado pelo Museu da Pessoa em parceria com o BNDES. O evento, que abriu as comemorações de 30 anos do Museu da Pessoa, marcou o fim do apoio do banco ao museu que, em 3 anos, pode digitalizar todo seu acervo, além de modernizar sua plataforma e governança.
Os cerca de 18.000 depoimentos e 60.000 fotografias que compõem o nosso acervo contam muitas histórias possíveis do Brasil nos séculos XX e XXI. Essa linha do tempo é apenas uma das histórias possíveis do Museu da Pessoa, que permite tantas versões quanto sejam aqueles que a viveram, que acreditaram, construíram, revisaram, trabalharam, apoiaram e pensaram o que seria possível fazer com a história de cada um de nós para transformar o mundo.