O Andarilho

Texto escrito por Karen Worcman, fundadora do Museu da Pessoa.

Sul do Peru
Quase norte do Chile
A estrada é longa
O mar também
O deserto é imenso
Rosa, branco, amarelo
Paisagem lunar

Placas perdidas no morro
Gastas
Sinalizam lugares arqueológicos
no meio das pedras
no meio do nada
Já andamos, e muito
Por aqui

Na praia não há ninguém
Um deserto no mar
Há pássaros
Muitos
Gaivotas, pequenas e grandes
Muitas espécies que dançam 
Todo o dia
Com o mar

Voam em bando
As cinzas para um lado
As pretas para ouro
Os pequeninos correm das ondas

Na areia restos de siri
Vivos são vermelhos
Como as pedras do deserto
Mortos são brancos
Fogem de pássaros que vasculham a areia 
O ciclo é harmonioso
Uns e outros
Se comem
Se reproduzem
Se vivem

No horizonte
Um homem junta seus dois sacos
Dormiu ali?
Caminha em direção ao horizonte
Que é interminável
Difuso
A neblina e o mar juntam pintam tudo em cores pastéis

O homem caminha
A cada passo seu
Provoca revoadas de pássaros
Outra dança

Para onde irá?
Para onde iremos?
Já estivemos por aqui
Em busca de horizontes
Sempre difusos
Que talvez por isto
Se confundam com o futuro

O Homem se dissolve na neblina
Imerso no horizonte
Vejo o tempo que se dilui