O cinema tem um poder único de eternizar memórias, resgatar histórias e provocar reflexões profundas sobre o passado. Desde suas origens, essa arte tem se utilizado de histórias reais para criar narrativas emocionantes, sensibilizar o público e reanimar temas que ainda ressoam na contemporaneidade. Um exemplo marcante é o filme Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles, indicado ao Oscar 2025 e um dos mais comentados atualmente.
A produção evidencia como histórias de vida têm o poder não apenas de transformar o cinema, mas também de impactar gerações. Ao redor do mundo, plateias vêm sendo convidadas a refletir sobre repressão, resistência e justiça por meio de narrativas que resgatam memórias essenciais. Nesse contexto, Ainda Estou Aqui acompanha a trajetória de Eunice Paiva, esposa do deputado federal Rubens Paiva, assassinado pela Ditadura Militar em 1971.
A Ditadura Militar (1964-1985) foi marcada por perseguição, censura e violações de direitos humanos. Entre as muitas famílias que viveram esse período de repressão, a história real de Eunice e seus familiares exemplifica os impactos profundos desse regime na sociedade brasileira. Relatos como os deles são fundamentais para manter viva a memória da resistência e compreender as cicatrizes deixadas por esse período.
A luta da família Paiva pelo reconhecimento oficial do que aconteceu — algo que só ocorreu em 1996 — reforça a importância do cinema como ferramenta de memória e denúncia. Com uma direção sensível de Walter Salles, a obra concorre ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz pela atuação de Fernanda Torres.

A Ditadura Militar (1964-1985) foi marcada por perseguição, censura e violações de direitos humanos. Entre as muitas famílias que viveram esse período de repressão, a história real de Eunice e seus familiares exemplifica os impactos profundos desse regime na sociedade brasileira. Relatos como os deles são fundamentais para manter viva a memória da resistência e compreender as cicatrizes deixadas por esse período.
Histórias de Vida Que Transformam o Cinema
O filme Ainda Estou Aqui se une a outras grandes produções que partiram de histórias reais para emocionar o público e resgatar memórias fundamentais. Um caso icônico do cinema brasileiro é Central do Brasil (1998), também do diretor Walter Salles, indicado ao Oscar do período.
O longa-metragem acompanha a história de Dora, uma escrivã que trabalha em estações de trem e rodoviárias escrevendo cartas para ajudar famílias separadas pela migração a se comunicarem. A personagem, interpretada por Fernanda Montenegro, foi inspirada em Maria do Socorro Nobre. Em suas horas vagas, a detenta escrevia cartas, listas de compras e bilhetes para suas colegas analfabetas na prisão.
Curiosamente, Central do Brasil também tem uma história real nos bastidores. Além de Fernanda Montenegro, o filme teve entre seus protagonistas Vinícius de Oliveira, descoberto de maneira inusitada. Sua história de vida cruzou com a de Walter Salles ao tentar engraxar seu sapato no aeroporto Santos Dumont do Rio de Janeiro, mudando seu futuro para sempre.
Em seu depoimento ao Museu da Pessoa, Vinícius relembra esse momento marcante e como sua história de vida se tornou parte do cinema brasileiro:
📌 História completa de Vinicius de Oliveira
Memória e Resistência à Ditadura Militar no Acervo do Museu da Pessoa
Convicto do papel das histórias para enfrentar desafios da sociedade, o Museu da Pessoa possui um vasto acervo. Dentre as várias temáticas abordadas, acumulamos também relatos sobre um importante período na vida dos brasileiros: a Ditadura Militar. Em parceria com o Instituto Vladimir Herzog, o Museu, em 2022, realizou o projeto Cotidianos Invisíveis da Ditadura. Como resultado, foram reunidas 15 histórias de indivíduos impactados pela repressão do regime.
Ainda em 2022, o Museu da Pessoa organizou a exposição virtual Ditadura: Cotidianos e Heranças, trazendo histórias como as da atriz Walderez de Barros, que relembra a perseguição sofrida por ela e por seu marido, Plínio Marcos, devido às suas carreiras artísticas:
“De repente nós estamos numa ditadura, meu marido pode ser preso, pode ser torturado, podem assassinar ele, jogar no oceano, como fizeram com tantas pessoas. E, no entanto, eu estou vivendo, cuidando dos meus filhos, eu estou cuidando do jantar, eu vou ao supermercado, a vida se impõe. É a tragédia da nossa existência, nós não temos o menor controle”.
📌 Exposição “Ditadura: Cotidianos e Heranças”
Ainda Estou Aqui e Museu da Pessoa: Histórias reais que permanecem
O reconhecimento de histórias reais, como a de Eunice Paiva em Ainda Estou Aqui, é essencial para que as novas gerações compreendam os impactos da Ditadura Militar no Brasil. Preservar a memória do que se passou entre 1964 e 1985 é uma forma de refletir sobre os desafios herdados desse período. E, acima de tudo, essa reflexão se torna ainda mais potente quando feita a partir do olhar daqueles que vivenciaram esses acontecimentos.
O cinema, assim como os museus, têm o poder de preservar e compartilhar narrativas fundamentais. No caso do Museu da Pessoa, essa missão se concretiza por meio de um acervo inteiramente composto por histórias de vida, garantindo que experiências individuais sejam eternizadas e acessíveis ao público. Por sua vez, ao destacar trajetórias como a de Eunice Paiva, o filme reforça a importância de iniciativas que valorizam memórias pessoais como parte do patrimônio coletivo.
Estamos torcendo para que Ainda Estou Aqui receba o reconhecimento que merece no Oscar 2025.
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A Programação Cultural do Museu da Pessoa é viabilizada pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura, por meio do Ministério da Cultura, com patrocínio máster da Petrobras, patrocínio do Mercado Livre, e realização do Museu da Pessoa.