IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Nelson Mathias, eu sou aqui do Rio de Janeiro e nasci em 27 de fevereiro de 1955, numa terça-feira gorda de carnaval.
FORMAÇÃO
Eu sou formado em Desenho Industrial pela Escola Nacional de Belas Artes e fiz pós-graduação em Marketing.
INGRESSO NA PETROBRAS
Entrei n...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Nelson Mathias, eu sou aqui do Rio de Janeiro e nasci em 27 de fevereiro de 1955, numa terça-feira gorda de carnaval.
FORMAÇÃO
Eu sou formado em Desenho Industrial pela Escola Nacional de Belas Artes e fiz pós-graduação em Marketing.
INGRESSO NA PETROBRAS
Entrei na Petrobras em janeiro de 1976, através de um concurso para auxiliar de escritório. Eu estava me formando nessa época e precisava de um trabalho. Como eu era um exímio datilógrafo, prestei concurso para a Petrobras e acabei passando.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Os meus dois primeiros anos de Petrobras foram no antigo Serpub – Serviço de Relações Públicas –, que depois se tornou Sercom – Serviço de Comunicação. Apesar de ter a função de auxiliar de escritório, eu desenvolvi trabalhos na área de desenho industrial, porque eu já tinha um conhecimento de artes gráficas, já que a minha especialidade na faculdade era projeto gráfico. Fiquei na Comunicação até 1978, quando fiz um concurso para o jornal Última Hora e passei, para me tornar um diagramador, ou seja, um desenhista de página. Pedi transferência para uma outra divisão da Petrobras, na cidade de Lima, distante do centro do Rio de
Janeiro e mais próxima do jornal onde eu trabalharia. Eu não tinha carro e tinha que correr: pegava às 18 horas no jornal e saía às 17 horas da Petrobras.
Fiquei ausente do Edise por oito anos, trabalhando à noite no jornal Última Hora e durante o dia na Petrobras. Nessa divisão, eu desenvolvia slides para cursos, trabalhando com identidade visual, mas voltada para a parte de recursos humanos.
MARCA LOSANGO
Por ter essa formação, eu tinha uma preocupação com o detalhamento do desenho em si. A marca sempre foi muito bem cuidada por nós que trabalhávamos nessa área, porque fazíamos muitos formulários, apresentações e etc., então tínhamos um cuidado em manter a integridade e a originalidade da marca, mas sem aquela preocupação decorrente de gestão e sim pela própria natureza da nossa profissão.
Nessa época, não existia nenhuma área que tratava da marca. O que existia era a dedicação das pessoas do desenho. Desenhistas e médicos todos nós somos um pouco, então, algumas pessoas pegavam o próprio losango, o anel de benzeno, e distorciam, criavam alegorias em volta, às vezes, no intuito até de valorizar, de enaltecer a marca, mas, na verdade, estavam descaracterizando, o que era um grande erro. Nós comentávamos, mas só que não tínhamos poder porque não existia uma gestão específica sobre a marca.
REVISTA DA PETROBRAS
Em 1988, mais ou menos, eu retornei para ser editor de arte da Revista da Petrobras. Desenvolvi um bom trabalho no Setor de Publicações. Além da edição de arte, eu desenvolvia toda a parte de folheteria das unidades, dos negócios da Petrobras, como a Petrobras Internacional, porque naquela época já estava havendo esse processo de internacionalização da Companhia, e a demanda de folheteria, de publicidade em si, era muito grande. Na Revista da Petrobras, eu tive a oportunidade de ser premiado diversas vezes, até pela qualidade do trabalho da equipe, era uma house organ, não era como hoje, não contratávamos serviço de agência, nós mesmos é que desenvolvíamos o trabalho para lá.
Eu fiquei na Revista até essa transição da marca. Em 1994, a Petrobras encampou a marca da Petrobras Distribuidora. Foi a partir dali, eu ajudei no desenvolvimento do Manual de Identidade, que foi a primeira iniciativa da Petrobras para disciplinar e moralizar a marca, no momento em que a holding estava importando da subsidiária.
MANUAL DE IDENTIDADE VISUAL
O Manual de marcas da Petrobras acabou virando referência, porque ele tentou ser o mais completo possível. Foi desenvolvido pela PVDI – um dos primeiros escritórios de desenho industrial, que veio do tempo do Aloísio Magalhães, o criador da marca BR –, mas a partir das necessidades do cliente. Como a Petrobras é uma empresa múltipla, todas as atividades, todas as unidades tiveram participação na confecção desse manual. O Manual começava informando desde que não se pode usar a marca em capacho, em maçaneta, etc., até o uso da marca com detalhamento de desenho, de planificação, por exemplo, num tanque de combustível de uma refinaria. É um manual rico, muito grande, tanto pelo valor mesmo do trabalho, mas também bem volumoso, porque ele é bastante completo. Foi um trabalho muito complicado mas ao mesmo tempo estimulante, porque tive a oportunidade de acompanhar e perceber algumas coisas que outros manuais tinham deixado passar.
Na verdade, a função do Manual era disciplinar porque a marca era usada indiscriminadamente. Na BR, a marca era usada para projeção dos postos e para alguns produtos, como o Lubrax, aquelas coisas que tinham desenho da bomba e se limitava a aquele universo. Quando veio para a Petrobras, ela tomou outra proporção, então tinha que ter um detalhamento, um cuidado para o seu uso muito grande. O Manual veio exatamente para disciplinar, para normatizar esse uso. É meio complicado, porque quem trabalha com desenho industrial, com arte gráfica, não pode ter uma mente voltada para a limitação, mas no caso da marca especifica, que é um desenho padrão, temos que ficar preocupados exatamente com a forma pela qual a marca está sendo usada para assegurar que em todas as unidades, em todos os lugares, ela será usada exatamente da mesma maneira. É uma questão de padronização mesmo.
IMPLANTAÇÃO DA MARCA BR / REVISTA PETROBRAS
A marca em artes gráficas só se apresenta no que chamamos de “cabeça”, na primeira página. Dentro da Revista havia toda uma informação Petrobras, mas informação de texto. Não se pode usar a marca de um jeito indiscriminado, nas artes gráficas, porque ela não é um elemento decorativo, nem tampouco informativo. Só cabe a ela a função de descortinar um cenário de informações e então ela perde a importância. É claro que existem atributos como as cores, a forma, a alma da marca, que devem estar, de uma certa forma, impressos ali dentro. Mas não necessariamente a marca em si. Pega-se o conceito, a forma, as cores e encaixa. No momento em que desenvolvíamos a parte de arte da Revista, tínhamos a preocupação de não banalizar a marca, porque a marca não tem essa função que o texto tem de informar.
Logo depois da implantação da nova marca, em 1994, tivemos a preocupação de falar da mudança. Eu fiz dois editoriais, escrevendo, inclusive com uma linguagem minha que é propriamente uma linguagem popular, para os meus pares saberem do que se tratava. O presidente da Petrobras escreveu também e tinham reportagens sobre história da marca e etc. Fizemos todo um trabalho de convencimento, na Revista, mas existiram também outras ações que eu realizei nesse sentido.
IMPLANTAÇÃO DA MARCA BR/ GESTÃO DA MARCA
Criamos, na verdade era o “grupo do eu sozinho”, ou seja, eu desenvolvi, na condição de instrutor, workshops com apresentações que visitaram as unidades de todo o país, explicando a nova marca. Houve um determinado tempo em que eu fotografava toda a unidade e, como não tinha foto digital, mandava revelar de manhã para à tarde fazer uma apresentação diagnosticando tudo que havia de certo e de errado naquela área, demonstrando para as pessoas de que forma se encontravam aqueles erros. Porque a olho nu e com a percepção do leigo fica difícil identificar com precisão a integridade do desenho da marca. Então, eu explicava e o pessoal reconhecia: “Pô, era isso mesmo, a perninha está puxada e tal.”
Isso nas próprias unidades. Algumas pessoas até, como eu tinha falado, se preocupavam muito em enaltecer a marca, então usavam elementos externos usando suas criatividades – teve alguém que fez o BR dentro de uma bola, como a Rede Globo, acho que foi em Salvador. Isso não demonstrava um desrespeito à marca, mas sim um total desconhecimento pelo valor que ela tem como marca e da importância da padronização. A minha função era esclarecer; eu fiquei sete anos fazendo isso; de 1995 a 2002, estive nesse percurso, junto com muitos aliados, pessoas que tomaram para si a condição de guardiãs da marca. Foi muito legal, porque nos ajudaram muito. Quando íamos para identificar se as pessoas já tinham melhorado, tudo já tinha mudado.
INCORPORAÇÃO DA MARCA BR/ RESISTÊNCIA À MUDANÇA
Existia uma resistência muito grande também, porque o fato da Petrobras pegar a marca de uma subsidiária, para o empregado antigo, foi complicado. Eu não sei se deu a impressão de retroceder, ou pegar da filha, aquelas coisas inerentes à psiquê humana. Essa condição era muito fácil de perceber enquanto se conversava com pessoas mais antigas: “Ah, eu não vou botar BR aqui na porta da minha sala não, porque eu sou Petrobras.” Com o tempo, é claro que as pessoas foram evoluindo, com informação também. A Petrobras é oriunda de uma luta muito grande, ela veio de um processo de conquista popular com a campanha “O petróleo é nosso”.
Aquela identidade Petrobras era muito forte. A BR veio depois como um produto. Então, acredito, ou estou próximo da certeza de que seja esse fator que tenha esbarrado na resistência por parte de alguns funcionários.
INCORPORAÇÃO DA MARCA BR
Foi uma causa nobre mesmo: a Petrobras era conhecida pelo BR, não por aquele anel. O que caracterizava, o que identificava a Companhia era o BR, que é uma marca muito forte, uma marca associada a um processo, vamos dizer, histórico da Companhia, da presença da Companhia nas estradas, uma correlação de cores com o país. Então, o nome BR, a imagem do verde e amarelo eram muito fortes e representam a alma e, principalmente, o corpo da Petrobras.
Pesquisas foram desenvolvidas para verificar a aceitação, mas, que ao nosso ver – de quem trabalhava com isso há muito tempo – seriam até desnecessárias, porque já sabíamos mesmo que o resultado seria que a Petrobras era identificada pelo BR, pelo BR Petrobras.
REVISTA PETROBRAS
Usávamos a Revista, ela difundia a Petrobras, por ser um órgão informativo interno, passava para os empregados o que estava acontecendo na empresa. Havia essas matérias de marcas e tal, só que tinham outras também de igual ou maior importância. A marca não era utilizada como recurso gráfico, porque não deve ser. A marca está lá na frente, mostrou e acabou. Então essa correlação marca e revista é meio complicada, porque ela teve a sua importância num determinado momento em que as pessoas estavam começando a aprender como utilizá-la, como aplicá-la, como respeitá-la, como difundi-la até, mas ao mesmo tempo ela se limitava a isso, a Revista estava num outro plano, ela era uma outra ferramenta. Ou melhor, a Revista era uma ferramenta informativa e poderia ser até utilizada para difundir a marca.
REVISTA PETROBRAS / HISTÓRIA
A Revista da Petrobras começou, primeiro, como um boletim impresso em 1953 ou 1954 – eu nem tinha nascido. Era impressa num mimeógrafo intitulado “cachacinha”, porque era alimentado por álcool. Era para empregados oriundos do Conselho Nacional de Petróleo, porque muitos dos primeiros funcionários da Petrobras vieram daí. Era uma turma limitada, mas com a necessidade de ter um boletim interno, e a Revista da Petrobras começou ali. Depois veio uma Revista Petrobras, também, muito bem feita, muito bonita e paralelamente uma revista chamada Gente, que era voltada para o público externo também. Então, passou a ser jornal, por questões de custos, de limitação de verba. Foi aí que eu comecei a diagramar para a Petrobras, porque as pessoas sabiam que eu trabalhava em jornal, tinha experiência de diagramação e já tinha uma noção da vanguarda estética dos jornais. Eu fui premiado na Última Hora com o prêmio Esso de planejamento gráfico e foi uma oportunidade: eu bem moço, cheio de gás, desenvolvi muita coisa boa e nova, mas com limitações, porque as chefias tinham aquela preocupação em não fazer nada muito arrojado. Tanto que do jornal conseguimos uma tiragem maior do que a revista, porque ele tinha muita penetração. Seria falta de modéstia dizer que seria pela equipe, mas eram todos muito engajados. Era uma equipe oriunda de jornais: a Maria Céli Ludolf Teixeira, redatora, que tinha sido do Jornal do Brasil; a Fátima Penna Franca, editora, que tinha trabalhado no O Globo; a Fani Knoploch, nossa revisora e copy desk,que tinha trabalhado em editoras como a Record e eu que estava trabalhando no O Globo. Tínhamos uma interatividade maior com o meio, e conseguimos uma penetração boa do jornal.
A Revista Petrobras ficou durante um tempo sem circular, mas depois voltou. Foi porque a gestão não acreditava que a Revista seria necessária e tirou de circulação. Depois voltou já para uma outra gerência, porque a partir de 1994 eu já estava tomando conta das marcas.
GESTÃO DA MARCA
Eu fui o primeiro gestor da marca na Petrobras, era uma atividade de defesa da marca. Depois é que se tornou uma gerência, cresceu e tomou proporções maiores, porque não era só o desenho que estava ali levado em consideração e sim toda uma estratégia. A marca deixou de ser, o físico para se tornar branding, mercadológica mesmo, e desde aquela época veio a ser liderada pelo Eduardo Felberg. Hoje, já não trabalho com ele, estou na publicidade. Eu sou consultor de negócio e tenho responsabilidade pela publicidade que é feita nas regiões nordeste e norte.
Eu comecei nesse trabalho da gestão da marca com aquelas viagens nas unidades, com os workshops. Nós tínhamos diversos encontros nacionais de comunicação, onde eu apresentava a marca para as pessoas que estavam presentes, pessoas que eram responsáveis pela Comunicação nas mais diversas unidades. Era muito legal, porque trocávamos muita informação. As pessoas pensam que marca é apenas um selo, não imaginam o comportamento, onde ela deve entrar, de que forma ela deve aparecer.
Por muito tempo eu fiz um trabalho forte, junto aos patrocinados, patrocínios culturais, ambientais e sociais, e a contrapartida é a presença da marca. Só que essa presença às vezes é indevida, imprópria, exagerada, ou obscura. Então, eu passava alguns pareceres demonstrando de que forma a marca tinha que se comportar. A minha situação, o meu conhecimento era voltado para o desenho físico da marca, essa parte de branding, de marketing, essas coisas não faziam parte da minha especialidade. Porque isso é uma decorrência, quando se tem uma marca forte, a partir dessa marca você tem franquias, tem projeções de mercado, tem ações, mas eu me limitava apenas ao lado físico na marca.
ERA DO MARKETING
Essa nova era da marca como marketing é muito recente, é uma decorrência. Hoje, as marcas valem mais do que as próprias corporações Então, isso muito nos envaidece, porque sabemos que o desenho teve uma responsabilidade para calçar o que a marca representa hoje, esse universo que ela representa. Se a marca não tivesse a sua integridade preservada, ela hoje poderia ter se deteriorado e não teria representatividade alguma no cenário. Ao mesmo tempo, a marca é muito mais do que o símbolo, do que o nome, ela é comportamento, e para resumir, é a alma.
É a alma de um negócio, porque a marca é como um documento que se assina, essa é a sua marca, a representação gráfica do que uma pessoa é. Nas culturas, existem os arquétipos e as simbologias. A marca consegue resumir num desenho tudo aquilo que uma empresa é. Ela tem essa função. O desenho é muito importante e temos que tomar cuidado, porque as pessoas ficam muito preocupadas com essas tendências de mercado e fazem a marca com diversas cores, de diversas formas, pensando que estão criando um dinamismo, que para a publicidade é até valoroso, mas ao mesmo tempo, para o corpo e para a força da marca não é.
O que também dá a força a uma marca no mercado é a responsabilidade da empresa. Por isso eu falei que ela é a alma e representa a empresa, para o bem e para o mal. Na verdade, ela é um ícone, uma abreviatura, uma forma palatável de aproximação da empresa. Ela é um instrumento de fusão. Existe uma correlação muito forte com a responsabilidade social, porque a empresa se propõe a ser cidadã. No momento em que ela tem essa preocupação, tem que ter atitude cidadã.
Agora, a marca tem que se apresentar graficamente de uma forma objetiva, discreta e sóbria, ela não está ali para se sobrepor a uma ação. Quando vamos patrocinar, por exemplo, uma peça teatral da Fernanda Montenegro, a marca não tem que se projetar mais do que a própria Fernanda Montenegro. Apesar de a Petrobras estar bancando aquilo tudo, a contrapartida é de uma fomentadora, ela está no processo de subsidiar, de permitir, de ajudar a viabilizar aquele projeto, ou outro. Mas ela não tem a missão de suplantar aquilo, ela só patrocina. A mesma coisa na área ambiental, na área social principalmente, porque tem um tom demagógico nisso tudo. Você vai patrocinar uma ação do Fome Zero, e vai colocar o Petrobras “Tô aqui, tô ali e tal”. Não é essa a intenção, tem que ser muito cuidadoso nesse sentido. Muitas empresas pecam por aí, mas elas não têm o compromisso com a nação, elas têm compromisso com o negócio, então é uma outra realidade.
MARCA E DESENVOLVIMENTO
Existe algo para quem desenvolve projeto gráfico: ficamos muito preocupados com a evolução. O desenho como qualquer coisa viva é evolutivo. Então, a marca também deve acompanhar esse caminho, ela tem que sofrer algum tratamento para que ela se rejuvenesça, para que ela comece a se enquadrar na nova linguagem gráfica que existe. Existe essa preocupação, sem necessariamente perder a sua essência e isso tem que acontecer de uma forma bem discreta e gradativa, mas ela precisa de um rejuvenescimento mesmo. Preservando a sua identidade, a sua forma, a sua presença e, como as outras marcas, não estamos reinventando a roda, todo mundo faz isso e já está inclusive passando da hora para a gente se adequar a isso.
MARCAS E INTERNACIONALIZAÇÃO
Tivemos um problema aí. Os nossos postos, eu não sei se alguém já relatou isso, sofreram um conflito com a BP - British Petroleum – em função de eles usarem as letras B e P, e nós o B e o R. As cores também são as mesmas. Enquanto estávamos aqui no Brasil tudo bem, não havia problemas, mas quando começamos a internacionalizar, começamos a incomodá-los. Os postos, me parece, eram muito parecidos, o desenho dos totens, das testeiras. Isso nos levou a firmar um acordo com a BP: a nossa logotipia no exterior, ou seja, a palavra Petrobras tinha que se apresentar na cor azul. Na verdade, graficamente, não era interessante para nós, mas o acordo foi fechado. Então, no exterior nós nos apresentávamos com uma marca diferente daquela que tinhamos no Brasil. Isso não é bom porque você cria duas marcas.
Antes o Petrobras era acentuado, hoje não é mais; existe uma desculpa na gramática, sei lá, eu não conheço muito bem essa razão. Porque parecia “bra”, Petro-bras, então parecia que era sutiã, tinha uma coisa nesse sentido. Tivemos que tirar o acento e colocar a tipografia na cor azul. O que não foi muito bom. Depois para a América do Sul tinha o problema do BR, o BR como lembra a bandeira brasileira. Isso levantava uma preocupação de que a bandeira brasileira estaria fincada em solos alheios, aquela coisa bem latina... Então não usamos o BR, mas só a logotipia, só a palavra Petrobras, até hoje ainda se usa, nos nossos postos da Argentina, da Colômbia e da Bolívia. Eu não sei como está isso agora, porque depois eu não acompanhei mais esse conceito. Algumas coisas foram feitas assim, sem uma precisão. Esse acordo com a BP, por exemplo, já se findou no momento em que eles desenvolveram uma outra marca. A nossa poderia voltar ao normal. Eu não sei qual a decisão, qual o rumo que eles agora pretendem tomar. O acento ainda usamos uma época com a BR, mais foi muito pouco. Logo depois passou no manual, ele já não tinha mais acento. No manual já era sem acento, em 1996, quando saiu.
PETROBRAX
De uma certa forma, eu não participei, mas, como todo brasileiro, encontrei uma coluna do jornal sobre uma matéria que havia saído numa revista. Eu trabalhava na Petrobras, com marca e nem fiquei sabendo desse trabalho. Fizeram de uma forma muito... Me lembrou a ditadura No meu próprio setor as pessoas desenvolviam as coisas e não informavam para as outras. Isso foi rolando e foi apresentado, se eu não me engano pela própria pessoa que desenvolveu a marca e levou para o Fernando Henrique Cardoso. Parece que o Fernando Henrique adorou, achou maravilhoso, só que na hora que deu problema – até o Antônio Carlos Magalhães condenou a mudança da marca e do nome da empresa. Então, voltaram atrás. O Fernando Henrique primeiro aprovou a proposta e depois achou que seria um desastre mexer na marca. A vantagem do político é que ele tem flexibilidade: o que ele acha hoje, pode ser exatamente o contrário amanhã. O Fernando Henrique, principalmente.
Essa mudança não foi pra frente. Na verdade, a minha opinião é que o desenho era fraco e não conseguia traduzir a força da Petrobras, era uma chama acesa no universo. Aquilo não poderia substituir a Petrobras. O BR não é imortal, mas eu acho que ele ainda tem uma vida muito longa, porque faz parte do cotidiano e da história brasileira, não é de uma hora para outra que se muda. Se tivessem me perguntado, sinceramente, eu diria que não daria certo, até pelo fraco desenho. Só que não é como a Shell, como a Texaco, ou outra que possa mudar a marca de uma hora para outra, porque talvez essas empresas não tenham os compromissos que nós temos. Tanto que foi uma gritaria da oposição e da situação, que se uniram contra essa mudança. Depois que nós soubemos comentamos: “Pô, isso não daria certo, tal e tal.” Mas também apagaram, porque ninguém assumiu e nós tivemos um prejuízo relativo, referente a aquele primeiro momento da apresentação da marca, porque iam mudar tudo, já tinha um esquema para mudar os postos, os produtos, nova embalagem. Então era uma coisa absurda para uma marca que não caiu bem. O nome também, porque esse “brax”, foi baseado na tese de que “bras” poderia remeter ao sutiã, e o “X” teria uma fonética muito mais adequada para o exterior. Só que o nosso negócio é aqui Por estarmos jogando um tentáculo para fora, mexer no corpo todo é uma cirurgia complicada, meio estranha. Exatamente, um corpo forte e vistoso como a Petrobras ainda é.
COTIDIANO DE TRABALHO
O cotidiano do que fazíamos com a marca era chato. Nós acabamos nos tornando policiais da marca: “A marca está errada A marca está certa. Tem que aplicar a marca assim. A marca tem que ser desse jeito, PB e tal.” Eu acho que houve, para mim, até um prejuízo profissional, como artesão – porque o designer de hoje se considera um artista, e nós das Belas Artes, nos consideramos artesãos, aqueles que desenvolvem uma arte aplicada a alguma coisa. Artista é aquele que desenvolve uma arte subjetiva, demonstrando uma parte dele, e o que nós fazemos é permitir que alguém tenha uma parte, então não retratamos a nossa parte. Enquanto artesão, eu fui muito prejudicado nesse sentido, porque me tornei um policial da marca, e não pude me desenvolver.
IMAGEM DA PETROBRAS
Em contrapartida houve um crescimento muito grande em termos de vida, não digo nem necessariamente profissional, mas de convívio com as pessoas, de descobrir nas pessoas as expectativas e passar a ser um instrumento de até melhoria do conhecimento das pessoas. Isso foi uma experiência fantástica, foram muitos anos, tudo o que eu consegui de certa forma ter na minha vida, educar meus filhos e me preparar para me aposentar, foi o trabalho na Petrobras que me proporcionou – a Revista e depois as marcas. Sofri algumas injustiças, fui alvo de incompreensões, mas isso acontece com todo mundo e, se não fosse, até estaria me achando diferente dos outros. Então, esse convívio foi muito legal. Sobre o desenho, nós fizemos uma coisa interessante, que eram as formas, um cartaz, demonstrando as maneiras pelas quais você não poderia apresentar a marca. Porque era tudo errado, marca de tudo quanto era jeito, todas aquelas marcas que pegamos nas viagens que fizemos pelo Brasil em sete anos. Isso foi muito legal, porque as pessoas começaram a compreender o quanto faziam errado a veiculação da marca e passaram a acertaram depois.
Teve uma edição da Revista da Petrobras que trazia um “jogo do certo ou errado” com as várias aplicações da marca para o leitor também se situar.
Eu dei essa modesta contribuição aqui, mas acho que a história é por demais pequena perante o tamanho da nossa marca. Podemos relatar, mas nunca vamos conseguir transferir ou até descortinar o valor e a força que a nossa marca tem. Eu agradeço a oportunidade e me sinto homenageado até pela lembrança de poder contar um pouquinho da nossa história.Recolher