P - Sr. José Honório, bom dia. Obrigado por ter vindo aqui conceder esse depoimento pra gente. Eu queria que o senhor registrasse pra mim primeiro, o seu nome completo.
R - Bom dia, vocês da equipe de produção. Meu nome completo é José Honório da Silva, sou paraibano e, comecei minha vida profissional na Paraíba, na agência de Cajazeiras do Banco do Brasil em 1964.
P - Qual que é sua data de nascimento?
R - 24 de julho de 1945.
P - Na cidade...
R - Ingá, Paraíba.
P - E o nome dos seus pais, Sr. José Honório?
R - O meu pai chamava-se Ascendino Honório Fiel Teixeira e a minha mãe, que ainda é viva, Maria das Neves Teixeira.
P - O senhor poderia me dizer também o nome dos seus irmãos?
R - Meus irmãos são em número de sete, Antonieta, Honório, Manuel Honório, Paulo Honório, Antônio Honório, Rosilda, Maria Helena e Josenilton.
P - E qual a sua colocação na ordem de irmãos, Seu José Honório? O senhor é o mais velho ou mais novo?
R - Eu estou abaixo de três irmãos mais velhos que eu.
P - Então o senhor está mais ou menos ali no meio?
R - No meio.
P - Sr. José Honório, vocês passam a infância em Ingá? Onde é que vocês moravam?
R - Os meus pais eram pessoas humildes. O meu pai sempre morou em sítio e trabalhou na agricultura. E como ele tinha uma pequena propriedade nesse município de Ingá, nós, viemos pra Ingá, ficamos lá com a minha mãe enquanto ele ia toda semana pra o sítio trabalhar e nós ficávamos lá em Ingá procurando uma escola municipal pra estudar. Foi assim que nós fizemos... o primeiro grau, foi na cidade de Ingá, dessa forma, em escola municipal.
P - E essa casa cheia de irmãos, como é que eram as brincadeiras? O quê que tinha pra fazer?
R - Era aquela brincadeira normal de criança de cidade de interior, sempre muito livre. Tinha a época do peão, a época da bola de gude, a época dos jogos, peladas na própria rua. E esse período foi um período que eu...
Continuar leituraP - Sr. José Honório, bom dia. Obrigado por ter vindo aqui conceder esse depoimento pra gente. Eu queria que o senhor registrasse pra mim primeiro, o seu nome completo.
R - Bom dia, vocês da equipe de produção. Meu nome completo é José Honório da Silva, sou paraibano e, comecei minha vida profissional na Paraíba, na agência de Cajazeiras do Banco do Brasil em 1964.
P - Qual que é sua data de nascimento?
R - 24 de julho de 1945.
P - Na cidade...
R - Ingá, Paraíba.
P - E o nome dos seus pais, Sr. José Honório?
R - O meu pai chamava-se Ascendino Honório Fiel Teixeira e a minha mãe, que ainda é viva, Maria das Neves Teixeira.
P - O senhor poderia me dizer também o nome dos seus irmãos?
R - Meus irmãos são em número de sete, Antonieta, Honório, Manuel Honório, Paulo Honório, Antônio Honório, Rosilda, Maria Helena e Josenilton.
P - E qual a sua colocação na ordem de irmãos, Seu José Honório? O senhor é o mais velho ou mais novo?
R - Eu estou abaixo de três irmãos mais velhos que eu.
P - Então o senhor está mais ou menos ali no meio?
R - No meio.
P - Sr. José Honório, vocês passam a infância em Ingá? Onde é que vocês moravam?
R - Os meus pais eram pessoas humildes. O meu pai sempre morou em sítio e trabalhou na agricultura. E como ele tinha uma pequena propriedade nesse município de Ingá, nós, viemos pra Ingá, ficamos lá com a minha mãe enquanto ele ia toda semana pra o sítio trabalhar e nós ficávamos lá em Ingá procurando uma escola municipal pra estudar. Foi assim que nós fizemos... o primeiro grau, foi na cidade de Ingá, dessa forma, em escola municipal.
P - E essa casa cheia de irmãos, como é que eram as brincadeiras? O quê que tinha pra fazer?
R - Era aquela brincadeira normal de criança de cidade de interior, sempre muito livre. Tinha a época do peão, a época da bola de gude, a época dos jogos, peladas na própria rua. E esse período foi um período que eu particularmente não usufruí muito porque tive que sair logo cedo. Com dez anos aproximadamente. Eu tive que sair de Ingá buscando um meio mais adiantado, no caso Campina Grande, pra continuar os meus estudos e procurar ajudar a minha família.
P - E como é? O senhor vai pra Campina Grande com que idade?
R - Eu fui nessa faixa de dez, 12 anos. Fiz uma parte, uns dois anos, no Colégio Alfredo Dantas lá de Campina Grande. Depois desses dois anos eu fui para João Pessoa, isso contando com a ajuda de tios e tias que já moravam nessas cidades. Então eu fui desenvolvendo os meus estudos até que eu consegui terminar o nível médio já na cidade de João Pessoa. Foi quando eu fiz o concurso para o Banco do Brasil e acabei indo para Cajazeiras.
P - Só voltando um pouquinho, Sr. José Honório, o senhor tinha uma profissão em mente, o senhor tinha uma vocação, alguma carreira que o senhor tivesse vontade de seguir?
R - Desde pequeno eu sempre fui muito detalhista em pequenas coisas, tanto é que eu, a gente produzia lá em Ingá. Quando criança eu produzia os meus próprios brinquedos, até pelas dificuldades dos meus pais e porque na época não havia essa variedade de brinquedos de plástico que hoje tem, já feitos, eletrônicos e tal. Então os nossos brinquedos, os nossos carrinhos, digamos assim, eu a maioria deles fazia, tanto os meus como os dos meus amiguinhos daquela época. E em função disso eu comecei a perceber, comecei a entender melhor as coisas, a vida, eu vi que uma atividade com a qual eu me relacionaria bem seria a parte de engenharia, tanto é que eu acabei me formando em engenharia. Hoje eu sou Engenheiro Civil, já no próprio Banco, quando eu já atuava no próprio banco. Depois que eu vim para João Pessoa eu consegui concluir o meu curso de engenharia lá.
P - Mas como é que surge a oportunidade de fazer um concurso do Banco do Brasil? O quê que o senhor pensava? Que tipo de oportunidade que poderia lhe trazer? Qual foi a motivação pra prestar o concurso?
R - A motivação do Banco do Brasil é porque naquela época, pelas condições de mercado, uma oportunidade no Banco do Brasil, pra qualquer jovem, era uma independência assegurada. Eu na época, inclusive, tinha feito um concurso pra ingressar na Escola Superior, na Escola de Sargentos do Exército, e passei também, tive a opção de ingressar na Academia de Agulhas Negras e acabei optando, porque foi tudo na mesma época, acabei optando pelo Banco do Brasil, graças a Deus, porque realmente foi onde eu senti que tinha mais possibilidade de conseguir uma independência econômica e financeira que eu tanto precisava já naquela época em função da necessidade da minha família. E graças a Deus eu tenho sido muito feliz até hoje.
P - Como que era, quando o senhor mudou pra Campinas...
R - Campina Grande.
P - Campina Grande, como que o senhor sentiu a diferença da cidade? Como o senhor começou a perceber uma cidade grande assim?
R - É, foi uma mudança que não houve muito impacto porque eu já conhecia Campina Grande. Meu pai, por ser uma cidade pertinho dessa outra que a família residia, que era em Ingá, por ser pertinho o meu pai às vezes vinha visitar essa irmã, minha tia, onde eu fiquei alguns anos. E quando ele vinha eu às vezes vinha com ele. Ele costumava trazer com ele um filho ou outro pra conhecer, pra passear, e eu já conhecia Campina Grande assim superficialmente. Então não foi muito impactante pra mim porque eu já tinha uma noção de Campina Grande.
P - E João Pessoa?
R - João Pessoa também. Por conta desse relacionamento familiar também não foi muito difícil pra mim porque eu já conhecia também, visitas a familiares. E nesse período foi um período de muita dificuldade porque o meu pai estava cada vez mais sacrificado financeiramente e eu já ficando mais adulto. Então foi uma época de muita dificuldade, e eu estudando num colégio estadual, o famoso Liceu Paraibano, que eu fiz esse segundo grau, eu estudei dois anos nesse colégio, e morando em situações assim, em pensão, e percebendo, desde aquela época, o esforço que o meu pai estava fazendo pra me manter ali naquelas condições. Daí a minha impaciência de conseguir tanto quanto antes uma colocação que me rendesse alguma coisa que eu pudesse pelo menos aliviar o meu pai dessa despesa com os meus estudos.
P - Sr. José Honório, os seus irmãos mais velhos que o senhor não foram estudar com o senhor? Como foi isso?
R - Veja bem, essa pergunta realmente é bastante esclarecedora porque essa dificuldade todinha acabou recaindo em cima de mim porque justamente esses dois irmãos mais velhos optaram em ficar com o meu pai na agricultura, cujos resultados vocês sabem, conhecem, que sempre são muito precários, principalmente essa agricultura familiar que é a que se pratica nesse interior, principalmente naquela região nossa lá. Então eu percebi também isso, que cabia a mim romper esse cerco, esse ciclo, porque de outra forma acabaria nós todos ficando nessa rotina limitada ali de interior, sem muitas condições de você conseguir um êxito, uma melhoria nas condições de vida. Então, por isso eu tive que enfrentar mesmo, e graças a Deus, depois os outros irmãos menores que quiseram estudar, se formaram. Hoje eu tenho irmãos dentista, médicos, tenho. E tenho pessoas que, os meus irmãos praticamente estão todos muito bem economicamente falando, bem situados, e graças a Deus eu pude contribuir com essa situação. Inclusive desde que entrei no Banco do Brasil, quando eu me senti com condições de assumir esses encargos, eu acabei levando a minha família para João Pessoa. Aluguei casa e custeei todas essas despesas, justamente pra dar oportunidade a esses outros irmãos de fazer cursos superiores tal, porque na cidade de Ingá não havia essa opção. Então desde daí eu passei a ser arrimo de família, e as evidências eram tão grandes, em termos de recursos e de documentação, que comprovavam isso que o próprio banco, desde a época inicial, desde a época que eu ainda estava em Cajazeiras, reconheceu essa condição de arrimo de família. Os meus pais, o meu pai e a minha mãe que ainda hoje é viva, eles eram dependentes, eles são dependentes econômicos reconhecidos pelo próprio Banco. Consta isso na minha folha, na minha consignação de pagamento, porque de fato a situação foi por aí.
P - Mas o senhor venceu, né, Seu José?
R - Graças a Deus.
P - Então vou voltar um pouquinho aqui nos seus estudos. Teve algum professor, ainda no Liceu, que foi mais significativo pro senhor, que orientou um pouco essa sua carreira? O senhor tem alguma lembrança nesse sentido?
R - Olha, no Liceu Paraibano, na época que eu passei lá, nesse colégio havia a diretora, Dona Daura Santiago, que foi uma grande incentivadora do ensino, da pedagogia na Paraíba. Essa professora me inspirou bastante pela seriedade com que ela conduzia esse colégio. Esse colégio era referência, embora fosse colégio público, mas o nível de instrução era muito bom. Tanto é que eu quando fui para Cajazeiras, e como lá em Cajazeiras não tinha o Científico, eu levava comigo um nível de informação que me permitiu, durante algum tempo, eu juntamente com o Monsenhor Freitas desse colégio lá de Cajazeiras, Colégio Diocesano Padre Rolim, nós, eu ajudei o Monsenhor Freitas a criar um científico lá, que o Colégio Padre Rolim só tinha até o quarto ano ginasial. Na época era conhecido assim, quarto ano, que é a oitava série hoje, oitava série do segundo grau, ou primeiro grau, não sei. Mas o Sr. padre, Monsenhor Freitas, eu passei a integrar a equipe de professores desse colégio nesse curso científico justamente porque eu vinha desse colégio, o Liceu Paraibano, que me permitiu passar pra esses alunos lá nessa época, conhecimentos na área de matemática e física, que eram áreas já assim, ligadas à engenharia, que geralmente eu me aprofundava mais. E aí eu fiquei. Foi muito bom pra mim porque eu não me desatualizei, pelo contrário, eu continuei estudando. Quando voltei para João Pessoa eu fiz vestibular e consegui passar, embora eu estivesse fora sete anos aproximadamente, o tempo que eu fiquei na agência de Cajazeiras.
P - E o senhor ficou trabalhando no Banco do Brasil e dando aula?
R - É, à noite. O curso era à noite, aí durante o dia eu atuava no banco e à noite eu ia pra esse colégio dando aula nessas matérias. Inclusive eu concluí o meu terceiro ano científico nesse colégio. Eu abrindo e fazendo. Assistia aula e dava aula. Foi assim que eu consegui terminar o científico. A conclusão mesmo, pra efeito de habilitação pra fazer o vestibular, a conclusão é do Colégio Diocesano Padre Rolim de Cajazeiras.
P - Só pra esclarecer uma coisa. Então o senhor passa no concurso do Banco do Brasil, ainda não tinha se formado?
R - Não, eu não...
P - O senhor não era nem maior de idade então?
R - Não, eu tinha 19 anos. Eu estava fazendo o segundo ano científico nesse colégio, o Liceu Paraibano. Tanto é que eu saí de lá sob, até argumentaram muito: “Você tem tudo pra fazer vestibular e passar”. Tanto é que os colegas dessa turma, que estudavam comigo, até fora, em casa, eles todos passaram e discutiam comigo: “Porque você vai...”. Eles não sabiam da minha necessidade, inclusive familiar, e eu tive que abrir mão e fui. E graças a Deus não tenho nada a lamentar porque eu acho que foi a decisão mais acertada.
P - O senhor já em Cajazeiras trabalhava no Banco do Brasil, já passou a dar aula também no colégio. Como é que era a sua posição em relação aos colegas que estavam só estudando? Como é que funcionava isso?
R - Os colegas do banco?
P - Do colégio, de turma, né? E o senhor já trabalhando, já tinha uma responsabilidade maior. Como que era essa juventude?
R - Bom, esse relacionamento era um relacionamento, eu considerava normal, e inclusive por alguns deles até de muita gratidão, compreendeu? Porque alguns daqueles que como eu moravam lá em Cajazeiras e cujos pais não tinham condições de levá-los para um centro maior, estavam limitados enquanto esse colégio não abrisse o tal Curso Científico que permitisse a eles a complementação desse estudo. Então não houve dificuldade nenhuma e eu sempre fui muito humilde, graças a Deus, e meu relacionamento com eles foi sempre muito bom.
P - E o senhor permanece sete anos em Cajazeiras?
R - Aproximadamente sete anos. Depois eu consegui a minha transferência para João Pessoa, Agência Centro, e depois que cheguei lá fiz vestibular, como já falei, e passei no vestibular pra Engenharia Civil. E como o curso de Engenharia lá na Universidade Federal era diurno, não tinha noturno, eu tive muita dificuldade pra concluir esse curso, mas, graças a Deus foi na época que o banco tinha um setor de processamento que era mais noturno, processamento de operações que uns foram criados na época um setor de processamento, eu comecei a trabalhar mais assim nessa parte noturna, que me permitiu pelo menos a manhã pela manhã eu assistir as aulas na Universidade, e ficava fazendo serão, às vezes amanhecendo o dia, pra manter as matérias em dia, as disciplinas. E foi assim que eu terminei esse curso.
P - O senhor entrou no banco em 64, né?
R - Foi.
P - O que era o Banco do Brasil em 1964?
R - O Banco do Brasil de 1964 era aquele banco que, como eu já disse antes, era o sonho de qualquer jovem daquela época. Porque até falavam, não sei se vocês permitem, mas tinha até uma colocação que nos faziam, a gente achava graça, que numa cidadezinha de interior as três autoridades eram o padre, o juiz e o gerente do Banco do Brasil. Então, na concepção daquela época, da cidadezinha, quer dizer, as principais autoridades da cidade eram essas pessoas. Então quando eu me senti funcionário do Banco do Brasil, como eu sempre fui muito assim, digamos, preocupado em sempre fazer o melhor, eu me dediquei de corpo e alma aos trabalhos do banco. Quando havia um curso eu procurava sempre ver se tinha oportunidade de participar. E foi uma experiência fantástica, eu me senti muito bem. Trabalhei com pessoas que depois vieram a se destacar no cenário nacional. Eu fui contemporâneo de Maílson Ferreira da Nóbrega, que acabou até sendo Ministro aqui, funcionário do banco. Então eu acho que nós vivíamos, essa fase foi uma fase muito rica em aprendizagem, quer dizer, novos conhecimentos, novas amizades, apesar daquela falta, que eu sempre fui muito provinciano, digamos assim, sentimentalmente falando, e aí nunca tinha saído, me afastado muito tempo fora de casa de forma independente. Eu às vezes sentia muita falta do aconchego familiar porque mesmo eu estando fora na época dos meus estudos, eu estava junto de familiares. E em Cajazeiras eu me afastei mais e ia mais raramente porque a cidade fica no extremo do sertão paraibano, fica a uns 500 quilômetros de distância, fica no outro extremo do litoral, já limite com o Ceará, Cajazeiras. Pelo mapa vocês podem visualizar bem. Então eu senti essa falta mas depois fui me adaptando e vendo que tinha que caminhar mesmo com as próprias pernas, e estou aqui.
P - Quando o senhor entrou no Banco do Brasil, qual foi a primeira atividade que o senhor fez?
R - Olha, o serviço do Banco do Brasil naquela época era muito assim limitado, então eu fiquei mais num setor chamado Cobrança. Então eu fiquei controlando o pagamento de títulos de empresas, naquele controle quase que manual porque tudo era muito mecânico. Então eu fiquei uma parte inicialmente nesse setor de cobrança fazendo esse controle de pagamentos e tal. Depois me apareceu uma oportunidade na tesouraria, porque antes tinha o quadro, o quadro mesmo, era um quadro à parte, de tesouraria, a parte que lidava com dinheiro mesmo. Então eu fui caixa do banco no início. Fiz até um curso, um dos primeiros cursos de Caixa Executivo em Natal. Eu saí de Cajazeiras e passei eu acho que quase um mês lá fazendo esse curso, e aí voltei. Foi justamente na época da implantação desse novo sistema de você ter uma interação maior com o público, que até hoje vale. É o caixa executivo, é o homem que resolve tudo. Porque eu ainda fui caixa na época que certamente vocês não conhecem, mas era aquele caixa fechado, engaiolado mesmo, que você trabalhava mediante ficha. O cliente recebia, dava o documento lá fora e ficava esperando, e um outro funcionário processava aquele papel dele. Se era um cheque, pegava o cheque, lançava na ficha, porque a conta era numa ficha de cartão, a ficha gráfica, chamava ficha gráfica. Aí então o funcionário lançava o cheque, lançava naquela coluna ‘Débito’ quando era cheque, e se fosse depósito era ‘Crédito’, e dava o visto nesse cheque. Aí é que vinha para o caixa, o caixa chamava: “Ficha número tal”. Aí o fulano se apresentava. A gente lá só fazia pagar e/ou receber. Era o caixa mesmo de tesouraria. Depois, com esse curso de caixa executivo, aí as coisas voltaram a esse sistema integrado, que o caixa resolve tudo, que até hoje, com ligeiras modificações, porque com o advento do computador as coisas ficaram mais fáceis ainda. Mas antes, o caixa tinha aquela bateria de dados, de documentos na retaguarda. O caixa pegava o documento do cliente e voltava pra consultar o cheque. O caixa andando, verificando tudo, assinatura e tal. E depois que estava tudo ok o caixa fazia o pagamento. Foi nesse sistema de caixa executivo inicial que eu ainda trabalhei. Depois surgiu o computador que permite que o funcionário trabalhe praticamente sentado o tempo todo. Ali na máquina, as informações estão todas ali.
P - Pode se dizer que o senhor foi de um extremo a outro na tecnologia dentro do banco, né? O senhor pegou...
R - É, fui. A escrituração inicial, da época que eu tomei posse, era justamente, era tudo quase mecânico. Tinha a cada final de ano o fechamento das contas era uma dificuldade você praticamente fechar aquilo tudo manualmente. Teve até um ano que eu acabei passando a virada de ano trabalhando em Cajazeiras. Porque? Porque não conseguimos fechar, não bateu, houve uma diferença pequena mas não conseguimos fechar. E eu estava certo que viajaria pra passar o Ano Novo com meus familiares em João Pessoa, acabei ficando lá porque tinha que fechar, não podia ficar pendente essa diferença.
P - Seu José Honório, são dez anos em João Pessoa, né?
R - É, também. Aproximadamente foi aí.
P - Tem uma coisa dessa fase que o senhor queira comentar, registrar, como foi terminar faculdade, o senhor se casou por lá? Quando é que o senhor conhece...
R - Foi nesse período que eu, já fazendo a faculdade, que eu me casei. E foi uma época realmente, porque eu tive que conciliar a faculdade com as minhas atividades, sem prejuízo, eu procurando sempre não negligenciar nas minhas atividades. Então esse foi um período realmente de muita dificuldade. Mas eu consegui terminar o curso de Engenharia e ainda iniciei umas obras lá, antes de vir pra cá. Fiz umas obras pequenas.
P - Paralela à atividade no banco?
R - Sim. Eu estava, quando eu tentei o curso eu fiquei usando o tempo, que eu trabalhava mais pela manhã, à tarde eu estava disponível. Então eu, à tarde eu me envolvi com uma obra lá de financiamento, até hoje é o financiamento da própria Caixa de Previdência que na época tinha, saia com mais facilidade. Eu iniciei, mas não cheguei a continuar porque surgiu então a oportunidade de vir pra Brasília.
P - O senhor já vem pra cá casado?
R - Foi.
P - Sem filhos?
R - Um filho. Na época eu tinha um filho.
P - O senhor casou em que ano?
R - Eu casei em mil... Eu tenho 25 anos de casamento, então foi em 1975.
P - O senhor gostaria de contar como conheceu ela, como foi essa paquera?
R - Não, essa, foi conhecimento assim mais por aproximação familiar mesmo, porque o meu irmão namorava a irmã da atual esposa. Então isso fez com que, apesar de ser muito tímido, eu começasse a me aproximar também, e aí surgiu esse relacionamento e nós acabamos nos acertando. Casamento, vocês sabem muito bem, já tem experiência, vivência que é uma coisa, um ato que você tem que renunciar a muita coisa pra poder viver bem e cumprir toda essa etapa. Então graças a Deus eu estou até hoje vivendo bem com a minha esposa e temos aí, estamos terminando de cumprir nossa etapa de encaminhamento dos filhos, porque chega essa fase que realmente o principal, a maior riqueza é você ver os filhos encaminhados. Eu estou justamente nessa expectativa.
P - Como é que surge o convite pra vir pra Brasília?
R - Olha, a minha vinda para Brasília de certa forma foi acidental. Por quê? Porque eu havia rejeitado, eu me lembrei por força dessa pergunta que você me faz, eu havia rejeitado, ainda quando estava em Cajazeiras. Com a criação do Banco Central aqui em Brasília, fui recrutado naquela época funcionários do Banco do Brasil pra compor aquela primeira equipe do Banco Central. E na época, houve oportunidade, naturalmente, de eu me enquadrar, me juntar a essas pessoas que inclusive um outro colega lá a agência veio, acabou vindo, e fazer a opção pelo Banco Central, porque tinha que fazer, sair do Banco do Brasil e fazer opção como funcionário do Banco Central. Só que era aqui. Como eu não tinha interesse nenhum, nem assim, tinha imaginado vir morar em Brasília, o meu objetivo era ficar mais lá pela Paraíba mesmo, eu acabei não me articulando nesse sentido. Mas você veja como é que são as coisas, aí eu vou pra João Pessoa e acabo, por circunstâncias alheias à minha vontade, eu acabei vindo. Como? Objetivamente eu vim mais por uma questão de saúde da minha esposa. A minha esposa, depois que ela teve esse filho, o primeiro filho, que é o meu filho homem, ela começou a sentir uns sintomas de dores nas articulações, e fomos a vários médicos lá em João Pessoa, na base de médicos, dessa especialidade, de articulações e tal. E foi descoberto, depois de algum tempo, que ela tinha lupus. Não sei se vocês sabem...
P - Eu tenho uma parente com lupus....
R - Lupus é uma doença que é de natureza desconhecida, não tem cura assim, pelo menos os médicos sempre falaram isso, que o que você pode, quando muito, é controlar. É a tal células Les que o nosso sangue tem essas células, só que o lupus se manifesta quando há um descontrole, pelo que os médicos já me explicaram, na quantidade dessas células. Aí começa a afetar as articulações, aí depois passa para os órgãos vitais. O risco é esse. E a minha esposa então, ela contraiu, surgiu com essa doença em João Pessoa. Eu esgotei todas as possibilidades médicas. Fui com ela para Recife, o centro mais próximo, e ficou interna lá um tempo no Hospital Santa Joana, uma clínica que tinha um médico muito bom nessa área. E mesmo assim ela não teve muito sucesso. E aí esse médico lá de Recife citou Brasília, disse: “Honório, embora Brasília não seja um grande centro...”, porque na época, hoje já tem tudo aqui mas na época era mais restrito, “...embora Brasília não seja um grande centro médico, mas lá está uma Doutora que veio de fora, foi fazer um curso fora, muito boa nessa parte. Eu recomendaria você levar a sua esposa pra lá”. Aí até citou, Dra. Lúcia Gonçalves Macedo. “Ela é especialista nisso, em tratar de lupus e tal, tal”. Eu disse: “Mas Dr., e tem que ser?” “Infelizmente você, eu acho que você deveria porque nós estamos com uma medicação já altíssima, à base de corticóide. Aí começa a reter líquidos, ela está toda já realmente, já fora de peso. E eu acabei trazendo ela aqui pra Brasília. Veja como é que foi. Acidentalmente. Eu ainda nessa época imaginando que ela pudesse ficar, fazer o tratamento e depois voltar. Ela ficou até na casa de um irmão que já residia aqui. Aí depois de um mês, um mês e pouco, eu procurando sempre saber como é que estava e tal, aí a médica me chamou aqui e me falou que, pra que ela pudesse se responsabilizar pela recuperação da minha esposa, que ela tinha que ficar aqui. Porque esse tratamento exigia um acompanhamento de laboratório muito minucioso. Ela tinha que acompanhar isso de exame de laboratório e entrar com a medicação e simultaneamente fazendo exames, mandando fazer exames pra ver se estava havendo algum resultado. Então ela disse pra mim, textualmente, que eu teria que vir também pra ficar porque ela não ia poder fazer esse acompanhamento com ela lá. E então, foi aí que surgiu a convicção mesmo que eu tinha que vir pra cá trabalhar, transferido. Foi aí que eu consegui, à base desses argumentos eu consegui juntar ao Banco minha transferência pra Diretoria de Planejamento, isso que eu te falei naquele outro relato, que eu vim pra Diretoria de Planejamento justamente onde estava, na época, o Fipec.
P - Podemos começar então nesse bloco agora, Fipec?
R - É, vocês, se a outra quiser...
P - O senhor veio pra Brasília em que ano?
R - Eu vim para Brasília em 1980.
P - Em 1980?
R - Foi..
P - Como foi essa transferência do senhor? Assim, o senhor lá na cidade, em João Pessoa, o senhor já sabia qual era a seção que o senhor ia ficar? O senhor já tinha ouvido falar de Fipec?
R - Não.
P - Ele já estava instituído de 75, como apontam os documentos, né?
R - Exatamente. Eu vou explicar.
P - O que é a Fipec então?
R - Olha, você me fez uma pergunta que eu aproveito pra, digamos, relatar aqui o impacto. Olha, eu não sei hoje se há essa diferença tanto em função da tecnologia que foi implementada no Banco, mas na época que eu vim, porque eu vim pra cá trabalhando esses anos todos em agência, que eu vim pra Direção Geral, foi realmente um impacto muito grande. Porque, enquanto na agência é aquele trabalho de massa mesmo, aquele trabalho mão na massa, geralmente você sendo cobrado o tempo todo pelo cliente que está ali com o papel na frente, esperando, na Direção Geral é mais um trabalho de estudo, um trabalho de planejamento, não é? Então, isso me causou realmente um impacto grande. Eu cheguei naquele ritmo impaciente, querendo fazer as coisas de forma açodada, digamos assim, e muitas vezes eu era contido pelo meu próprio chefe: “Tenha calma, não é assim, aqui não é assim não porque...”
P - Quem era o seu chefe?
R - Foi, na época foi Gerivaldo Matos, está até aposentado, está também. Então ele me segurava porque ele colocava um trabalho lá na mesa e eu fazia o trabalho rapidamente. E ele: “Você já terminou?” “Terminei”. Eu até ficava preocupado. Será que era aquilo mesmo? Será que o trabalho não ficou muito, digamos, precário em função da pressa. Mas era aquele sistema que me deu esse impacto que você perguntou. E tratando do FIPEC, eu gostaria de entrar nesse bloco já fazendo uma correlação com a fundação porque isso tudo guarda, como já falei anteriormente, uma vinculação muito forte.
P - Mas assim, como ele foi apresentado? O senhor chegou e teve uma explicação do quê que se constituía o fundo?
R - Teve, teve sim.
P - O quê que o senhor achou disso? O senhor já tinha ouvido falar do fundo, que se aplicasse tecnologia?
R - Não, não. Eu não sabia. Você veja a falta de informação nas pontas. Tanto é que depois, por conta disso, o próprio FIPEC se preocupou de formular uns folhetozinhos, como vocês viram, de divulgação junto às agências, ao público. Fácil leitura, simplificadamente. É justamente pra suprir essa lacuna, porque realmente... Até hoje eu tenho notícia, que o pessoal, os aposentados, o pessoal do banco, funcionários, se ressentem de melhor conhecer a Fundação. Hoje a Fundação é uma coisa muito mais ampla e tem feito bons trabalhos aí.
P - Seria muito importante que o senhor explicasse pra gente no que se constituía o Fipec.
R - É, o Fipec era um fundo, veja bem, deixa eu te falar sobre Fipec. O Fipec foi um fundo instituído pelo banco em 1975, destinando 2%.
P - 2?
R - 2% do lucro líquido de cada balanço. Esse fundo, é Fundo de Incentivo à Pesquisa Técnico-Científica. Esse é o nome dessa sigla Fipec, Fundo de Incentivo à Pesquisa Técnico-Científica. Esse fundo foi criado, o Banco, como órgão tradicionalmente conhecido de fomento à produção nacional, ele buscou, através desse fundo, também contribuir pra o setor produtivo apoiando pesquisas aplicadas, no âmbito das universidades federais e fundações, instituições de pesquisa, associações de empresas também que tivesse tradição nessa área de pesquisa, como havia, apoiamos projetos científico-tecnológicos de pesquisa aplicada com o sentido de contribuir de alguma forma pra soluções de problemas que viesse refletir no desenvolvimento tecnológico de algum produto, de algum processo, e aí com reflexo pro setor produtivo. Aí, você pergunta: “Mas por que uma pesquisa aplicada?” Justamente porque, pela exigüidade dos recursos, nós tínhamos que estabelecer, o Banco, tinha que estabelecer uma prioridade. Então, a pesquisa básica mesmo, que é um estudo meramente investigatório, que poderia ser feito no âmbito das próprias universidades, sem finalidade específica
P - De produção, não é.
R - Nós ficamos fora. O Banco resolveu ficar fora fiel à sua tradição de órgão de fomento à produção nacional. Daí porque nós acabamos, nesse período de funcionamento só do Fipec, nós acabamos apoiando muitos trabalhos de pesquisa aplicada junto às universidades, aos institutos de pesquisa, entre os quais, se me permitem, eu poderia citar alguns que eu considerei assim como, que me ocorreu, que foram... Nós apoiamos projetos lá na Fiocruz, naquele fundo. Você sabe que tem, a Fiocruz faz muito trabalho sobre vacina e tal. Nós apoiamos muitos trabalhos, inclusive essa vacina do sarampo. A vacina que teve, que contou muito com recurso nosso.
P - Antes de Sr. José Honório ler, só me diga uma coisa. Como era feito o contato? Quem procurava quem? Era o Banco, era a universidade?
R - Muito bem. Muito boa pergunta. O Fipec atuava assim, era mais assim de forma, nós divulgarmos, assim, a cada ano havia a divulgação das prioridades, se bem que nós atuávamos em todas, praticamente, todas essas áreas que a Fundação atua, na área de ciência e tecnologia, meio ambiente, tecnologia de alimento, energia, saúde, educação. Então, havia essa divulgação, e as entidades interessadas elas formulavam, tinham formulários de proposta padronizado que eram distribuídos através de nossa rede de agências porque, você sabe, o Banco do Brasil tem essa vantagem, tem agência em praticamente todo o país. Então havia essa facilidade, encaminhava essas propostas e as entidades interessadas, em qualquer local, elas recorriam ao Banco e pegavam essas propostas. E nessa proposta tinha os campos já direcionados das informações, o projeto que era e tal. E eles encaminhavam, a agência já participava desse processo encaminhando as propostas pra fundação, ou seja, pra o Fipec. O Fipec funcionava mais, assim mais, como um balcão, recebendo propostas, várias propostas. Durante o tempo de funcionamento houve alterações, mudança, período de receber proposta, período só de se analisar aquele bloco. Teve esses estudos todos, mas, a forma era essa, da gente receber. Nós recebíamos essas propostas e fazia as análises. Como, logicamente, na área científica, nós não teríamos como emitir parecer sobre projetos científicos das mais diversas complexidades, nós dispúnhamos de um comitê assessor composto de entidades como o CNPq, como o Finep, órgãos ligados à pesquisa, que nos prestavam assessoramento técnico, específico naquelas áreas. Eram os comitês assessor que nós mantínhamos convênios com essas entidades, reconhecidamente de pesquisa. E o próprio Minc, o Ministério da Cultura, além de consultores ad hoc, consultores independentes, dependendo da especificidade dos trabalhos. Então, nós, era peça integrante na hora da análise interna do Fipec, o parecer técnico. Por quê? Porque a tradição nossa de funcionário do Banco não era pesquisa. Como é que a gente ia tecer consideração sobre biotecnologia, num processo? Nós não tínhamos como. Então o Fipec trabalhou, ele atuou durante esses anos todos dessa forma, e nós apoiamos vários projetos na Universidade de São Carlos, esse projeto de transferência de tecnologia, nas famosas incubadoras de empresas. A Universidade de São Carlos foi pioneira nesse processo porque a grande dificuldade nessa área de pesquisa, percebemos, é quando você está com um projeto que tenha um resultado, é patenteá-lo, é começar a produção industrial. Aí vem, o protótipo, cabeça de série que eles chamam, pra produzir industrialmente. Essa é a grande dificuldade de muitos trabalhos que acabam ficando aí na prateleira por falta desse elo. Nós percebemos, naquela época, que havia, então nós procuramos estimular essa tal transferência de tecnologia apoiando essa Universidade nesse processo de incubadora de empresa, que é justamente você começar aquelas empresas pequenas, absorvendo já aquela tecnologia desenvolvida, e com isso surgiram vários projetos bons e resultados fantásticos. O Centro Técnico Aeroespacial, CTA, recebeu inclusive recursos do Fipec, projeto simulador de vôo da aeronave T-27. Esse projeto serviu de base, pra vocês terem uma idéia, pra fabricação pela Embraer desse avião tucano que eles vendem tanto aí, estão em produção. Foi feito um trabalho no CTA com o auxílio do Fipec, na época. Então muita coisa foi feita. O IPT, não sei se vocês conhecem o IPT de São Paulo, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, que é um verdadeiro centro de estudos, de pesquisas em vários campos, foi outra entidade que acabou recebendo muito auxílio do Fipec justamente nesse trabalho de ligação com as empresas. Muitos desses trabalhos tiveram resultado prático por conta desses apoios feitos pelo FIPEC.
P - Como é que era a demanda de projetos quando o senhor entrou? O senhor entrou em 80, né? Era muita coisa, era pouca?
R - Era aleatória, e muitas vezes era muita proposta que vinha, a quantidade era grande. Então a gente sempre trabalhou segurando porque a demanda era muito maior do que a disponibilidade. E também os critérios que tinham que ser mantidos porque o nosso auxílio era sempre considerado, complementar, nunca se apoiava integralmente, até por conta do envolvimento da instituição. Então muitas vezes havia dificuldade da instituição com a contrapartida dela.
P - Eu sei que o senhor entrou em 80. O senhor tem, como o senhor entrou lá em 80, o senhor teve conhecimento como é que foi constituído esse fundo em 75? De quem partiu a iniciativa? O senhor tem alguma idéia de como tenha sido?
R - Não me ocorreu essa curiosidade. Apenas eu digo que ele foi constituído dessa forma que eu te falei, o Banco ele, ele sentiu, de certa forma, e estimulado a participar desse processo de desenvolvimento tecnológico, até por conta da necessidade do próprio país de dar esse passo tecnológico numa época de grande evolução, de novos conhecimentos. Então o Banco, foi uma iniciativa que me pareceu realmente muito saudável. Então, eu não sei se poderia continuar, mas eu queria ressaltar que esse histórico na verdade está sendo feito no Fipec que foi criado em 75 e que ficou vinculado à consultoria técnica da presidência, como eu te falei, durante muito tempo, até o surgimento da fundação. Esse Fipec ele foi, como eu te falei, esse relato, ele serve pra esclarecer o surgimento da Fundação.
P - A gente poderia interromper então nesse ponto antes de se fazer essa ligação com a Fundação pra gente poder tomar uma água.
(Pausa)
P - A Eliete vai fazer a pergunta.
P - Eu só vou retomar um pouquinho, Sr. José Honório. O senhor trabalhou então como analista de projetos?
R - Inicialmente.
P - E o senhor chegou a acompanhar in loco algum projeto desses?
R - Alguns projetos, acompanhei.
P - Quais?
R - Porque além do trabalho interno, de análise e pareceres, de proposições pra que, junto ao Presidente pra deferimento e tal. Depois tinha todo esse trabalho de acompanhamento, tanto da parte administrativa e financeira que era feito pelas agências, prestação de contas etc, como tinha a parte de acompanhamento técnico que era feito igualmente pelos comitês assessores. Eles também faziam esse acompanhamento técnico depois de aprovados esses trabalhos. E, às vezes nós funcionários do Fipec, nós acompanhávamos, fazíamos visitas in loco a esses trabalhos e tal, e por isso eu viajava realmente pra São Paulo quando tinha uma concentração de projetos grandes, era na Universidade, a Usp, na Escola Paulista de Medicina, no Hospital das Clínicas de São Paulo. Nós apoiamos o transplante de fígado, Fundação do Fígado, Dr. Silvano Raia, foi um dos primeiros trabalhos, a técnica que foi desenvolvida. Hoje está se fazendo em mais escala, mas na época era uma dificuldade, o país não tinha ainda essa técnica. E o Fipec, nós apoiamos a Fundação do Fígado lá em São Paulo, e esse trabalho ainda hoje existe vários casos de sucesso que foi feito e tal. Tem outro trabalho também em São Paulo, na área de saúde, que é que iniciou, foi na Fundação. Desse aí eu vou falar quando nós estivermos tratando da fundação. Mas teve muitos trabalhos nessa área de saúde que o Fipec acompanhou, além de outros de outras áreas. Teve um estudo feito por uma empresa de São Paulo de células voltaicas de energia solar, aqueles painéis, estudos iniciais sobre painéis de captação de energia solar. Isso foi também um trabalho apoiado pelo Fipec, foi até uma empresa de São Paulo, se não me engano Heliodinâmica, que começou esses estudos, e hoje você sabe que é um produto que está à venda em mercado aí tranqüilamente. Foi estudo também patrocinado pela FIPEC naquela época. Outro programa que vocês conhecem bem e que vem, inclusive entrou na Fundação, mas que foi que iniciou pelo Fipec, foi aquele programa da Fundação Roberto Marinho que é o Globo Ciência, aquele famoso Globo Ciência, ainda existe até hoje, eu acho. Mas naquela época eles contavam com o apoio nosso, do Fipec, tanto é que eles citavam naquela vinheta Fundação Roberto Marinho e Fipec. Depois passou pra própria Fundação. Esse programa é um programa, como vocês sabem, de divulgação científico-tecnológica de largo alcance nacional dada à penetração dessa rede de emissora. Então eu participava muito de reuniões lá na Fundação Roberto Marinho para tratar de assuntos relacionados com a divulgação dos projetos nossos, e de pesquisas de um modo geral, fazendo essa integração e dando conhecimento à população. Mas, considerando atendida a sua pergunta, eu gostaria de começar, dizendo pra vocês, nessa parte, o porque desses esclarecimentos de forma um tanto difícil pra mim que estou aposentado há dez anos praticamente, mas no que me vem à memória espero que possa contribuir com esse trabalho de vocês e da Fundação porque tudo isso que foi falado sobre o Fipec, o Fundo de Incentivo à Pesquisa Técnico-Científica, tem sentido, a meu ver, porque permite para nós hoje, dado a grande importância da Fundação e do seu imenso campo de atuação mais diversificado, que nós sabemos que existe, permite uma melhor compreensão da Fundação, porque que a Fundação, como se pergunta: “A Fundação surgiu como?”.
P - Mas se senhor me permite uma interrupção? O senhor poderia falar um pouco do Fundo de Desenvolvimento Comunitário, do Fundec? Porque ele surge também anterior à Fundação, né, e ele também...
R - O Fundec surgiu em 1983, eu ia falar, agregando a Fundação. Mas já que você perguntou aí, o Fundec é outro fundo extremamente importante.
P - E ele fazia parte também do escopo do seu trabalho?
R - O Fundec era um fundo à parte. Enquanto eu continuei atuando no Fipec, o Fundec foi um outro fundo criado, também vinculado à consultoria técnica, mas é, era um fundo à parte. O que é o Fundec? Fundo de Desenvolvimento Comunitário. É um programa de assistência à comunidade urbano-rurais mediante o patrocínio de programas integrados de desenvolvimento comunitário. Porque a importância desse grande fundo também? Porque verificou-se naquela época, e isso vem ocorrendo a muito tempo, um êxodo rural muito grande para os grandes centros. As populações de baixa renda do interior praticamente sem condições mínimas de subsistência. Então eu acho que, vendo isso, o Banco, mais uma vez, resolveu criar esse fundo de apoio àquelas pequenas comunidades rurais, abrangendo ações nas áreas de saúde, de educação, praticamente todas essas áreas que já vinha sendo exploradas pelo Fipec, só que no âmbito da pesquisa. E aí o Fundec veio pra, digamos, pegar o homem do campo, como eu já te falei, e aí ver junto, num projeto integrado junto com a prefeitura local e a própria comunidade, organizar esse pessoal numa associação, que hoje está muito comum e, digamos, fazer um levantamento. Aí chama o Plano de Desenvolvimento Comunitário Integrado, isso é o que chama PDCI. É justamente, um plano onde a prefeitura local, o Fundec e o Banco, e os líderes comunitários daquele local se sentam e dizem: “O que vocês precisam mais aqui? É água, é abastecimento d’água? É saneamento? É, digamos, ação na área da saúde? É agricultura familiar?” Como até na Fundação hoje se apóia muito isso. Então o Fundec veio justamente pra estimular a permanência do homem no campo. De certa forma, veja a importância, contribuindo mesmo de forma assim muito minúscula mas contribuindo com a diminuição do êxodo rural, um problema até de ordem governamental. Tanto é que houve até uma época, não sei precisar bem em que época foi, em que ano foi, mas que o próprio Governo, dada a preocupação de desenvolver pólos de desenvolvimentos regionais no interior, certo, buscou uma parceria junto ao próprio Banco pra ver de que forma essa experiência do Fundec poderia contribuir nesse trabalho de geração de novos pólos de desenvolvimento. Como se sabe, é uma saída, tanto é que Brasília mesmo, veio, de certa forma. A criação de Brasília foi um pólo. Você veja isso aqui, o que era antes? Era um grande cerrado, não tinha praticamente nada, não é? Isso veio contribuir muito com a descentralização das grandes populações nas grandes cidades, litorâneas principalmente. Não sei, se vocês estão compreendendo, mas foi por aí que surgiu o Fundec em 1983, foi quando foi criado o Fundec, e ficou então funcionando Fipec e Fundec.
P - Eu vou perguntar igual eu perguntei do FIPEC. Como é que era viabilizado isso? O Banco ia até as pessoas, ia até a comunidade? A comunidade ia até o Banco ouvindo uma divulgação? Como é que funcionava essa...
R - Olha, o Fundec era um trabalho diferentemente do Fipec. Vocês vão observando pra vocês perceberem a diferença. O Fundec era um trabalho assim muito interativo. Como assim? Não era aquele trabalho passivo, já do Fipec, de você, digamos... Na época a gente divulgava as linhas de ações através de folders, através de divulgação pela mídia, e ficávamos esperando. Quando muito íamos a uma universidade fazer uma palestra dizendo: “Gente, olha...”. Dentro da Usp mesmo, eu fui fazer algumas vezes, “Nós temos recurso para apoiar a pesquisa na área tal e tal, vocês mandem as propostas”. Fazíamos isso, quando muito fazíamos isso. Mas era uma atitude mais passiva, de esperar as propostas em balcão, tanto é que já no final de atuação do Fipec nós tomamos uma iniciativa que foi uma iniciativa pró-ativa. Nós vendo, sentindo as dificuldades de infra-estrutura de pesquisa nas universidades, nós procuramos viabilizar um apoio. Por iniciativa nossa as universidades, a infra-estrutura que, digamos assim, de pesquisa. Como vocês sabem, as universidades são tudo, vive tudo em muita dificuldade. Então nós imaginamos, houve esse período no FIPEC ainda, que nós tentamos, ainda auxiliamos algumas universidades do ponto de vista da infra-estrutura de laboratório de pesquisa que tinha dificuldades, como forma de alavancar alguns trabalhos que, por razões de falta de equipamento, acabavam prejudicados. Então o Fundec, voltando ao Fundec, a postura dele sempre foi assim mais ativa. Como? De levantar, com essa integração, prefeitura, comunidade, agência do Banco lá, levantavam essas necessidades daquela região, daquela comunidade, e então eles mandavam pra o Banco, pra construir a técnica, até com orientação já do pessoal do Fundec, os tais Planos de Desenvolvimento Comunitário e Integrado, é o famoso plano que compõe vários projetos. Um plano desse podia ter um projeto pra aquisição de uma ambulância, porque a comunidade elegeu que precisa, é fundamental uma ambulância pra transportar uma mulher grávida que precisa, que aqui não tem recurso. Então tinha que ter. Então um projeto pra aquisição de uma ambulância. Aí outro projeto pra desenvolvimento de uma cultura X lá, que eles precisavam. Então cada plano desse podia envolver, como eu disse antes, projetos em quase todas essas áreas de atuação já do Fipec, só que não era pesquisa, aí era mais assistência social. Vocês estão compreendendo a diferença?
P - Qual é o papel das agências dos Bancos nessa época, pra viabilização da aplicação desses fundos?
R - Do Fundec, como eu estava falando, era uma participação muito ativa porque eles estavam lá envolvidos também com o próprio trabalho de elaboração e de orientação e tal. Do Fipec, como eu já tinha falado antes, era o encaminhamento da proposta e o acompanhamento da alocação dos recursos observando, dentro das limitações deles, do pessoal de agência como o nosso, apenas o cumprimento de um cronograma físico-financeiro. Pra efeito de liberação de cada parcela. Esses recursos eram liberados em parcelas, de acordo com a execução dos trabalhos, e aí a agência ia acompanhando e ia liberando esses recursos e mandando as prestações de conta dando conformidade, que foi aplicado corretamente. E essa documentação era toda arquivada aqui nos processos, até o encerramento de cada trabalho desenvolvido... Podemos continuar?
P - Podemos, claro.
R - Aí nesse roteiro, nessa linha de raciocínio, eu queria apenas, pra chegarmos à Fundação, dizer o seguinte. Então vocês lembrem que o Fipec foi criado em 1975, vinha desenvolvendo esse trabalho no meio científico, de pesquisa aplicada, difusão tecnológica, transferência de tecnologia. Vocês viram projetos destacados. Eu citei alguns, vocês viram. Aí surgiu, em 1983, o Fundec, Fundo de Desenvolvimento Comunitário, voltado mais pra ações no campo.
P - Só uma perguntinha. O senhor chegou a acompanhar algum desses projetos do Fundec no campo?
R - Não, só depois, que eu vou chegar lá.
P - Ah, tá.
R - Então, veja bem, aí era estanques. Era Fipec, o fundo... Era dois apêndices ligados à assistência técnica da presidência. O Fundec no mesmo nível. O FIPEC já vinha antes, e depois, em 1983, o Fundec, ambos ligados à presidência, a construir a técnica, dois fundos independentes. Então, com vistas certamente a ampliar mais ainda essas ações, tanto no campo social quanto no campo científico, foi decidido a criação da Fundação, e também por conta de quê? Como forma até de, digamos, tornar mais ágil o acompanhamento e a parte administrativa da execução desses trabalhos. Então, foi criado em 1985 a Fundação. Só que, como já disse antes, a Fundação foi criada em 1985, absorvendo todos os campos de atuação do Fipec, inclusive absorvendo até os recursos remanescentes do fundo e tal, foi aí que a Fundação começou a operar efetivamente, e juntando essa parte social, incluindo naqueles campos eminentemente voltados pra pesquisa a parte de apoio social e cultural. Aí veio o aspecto da cultura, de recuperação de patrimônios históricos, que eu posso até citar alguns que foram feitos, tal etc. Então o Fundec, veja bem, por isso que eu faço questão de ressaltar a independência dos fundos. Tanto é que a Fundação funciona ainda de 85, do início de 85 até junho de 86, sem o Fundec. O Fundec continuou ainda como fundo porque era tão específica suas ações e tão integrado o seu trabalho comunitário junto às comunidades rurais, e tão, digamos, propiciosos os resultados, que ainda houve esse período que a Fundação continuou atuando tranqüilamente, já tanto nos projetos de ciência e tecnologia tanto nas outras áreas, mas deixando ainda o Fundec atuando junto, basicamente, ao homem do campo.
P - Nesse momento o senhor está aonde?
R - Eu estou na Fundação, com o Fipec e a Fundação. E o Fundec ficou com a mesma equipe lá. Eu não tive, até junho de 1986, foi quando o Fundec acabou sendo absorvido pela Fundação. Até junho de 86 eu, embora conhecesse o fundo e tenha visto muitos trabalhos informalmente, mas sem responsabilidade estrutural, de estrutura. Eu só vim digamos, também me responsabilizar pelo Fundec, aí o Fundec veio. Veja bem, porque vocês, no próprio estatuto da Fundação hoje vão observar isso. O Fundec veio, como o Fipec, porque o Fipec acabou a sigla e ficou, “a Fundação tem por objetivo apoiar projetos na área de ciência e tecnologia”, aí fica CIT é FIPEC. Aí cultura, educação, não sei o que. Aí tem lá no final: “Assistência à comunidade rural”. Não tem urbano lá, tem do campo? Você lê aí Fundec, é ali que entrou, só pra vocês compreenderem como é que ser formou isso. Então o Fundec, quando veio em junho de 86 pra Fundação, ele veio como um campo de atuação, compreendeu? Então, do jeito que o Fipec desapareceu a sigla e o fundo, porque não tinha sentido, porque já tinha a Fundação mãe absorvendo tudo. Então o Fundec ficou como assistência à comunidade urbana e rural, e tem esse campo, ainda hoje a Fundação tem. Então, a partir de junho de 86, tanto o Fipec quanto o Fundec viraram praticamente áreas de atuação da Fundação. Existe até uma discussão de ordem conceitual, que eu não sei se é o momento oportuno, mas é até pra reflexão, como junto hoje, na forma de atuação da Fundação, nos campos, nas áreas, nos setores, como queiram falar, nos segmentos. Tem educação claramente, cultura. Aí vem, esportes, vem saúde, especificamente e tal. Quando você junta ciência e tecnologia, veja bem, por tudo que já foi dito até aqui e pela experiência que ainda tenho, pelas lembranças que estou tentando recuperar, me ocorre o seguinte. Talvez haja uma impropriedade aí. Quando você mistura ciência e tecnologia com educação, cultura e saúde tal, e também junta assistência a comunidades urbano-rurais, e você percebe que nesse item assistência pode ter ações que envolvem saúde, envolvem educação, tanto na área da ciência e tecnologia também pode ter ações que envolve, talvez fosse o caso de modificar. Não sei se vocês estão compreendendo essa preocupação, porque são coisas que dão essa área de C e T, ciência e tecnologia e ações voltadas à assistência a comunidades urbano-rurais. Na verdade elas podem envolver ações que contemplem também ação, projeto na área de saúde, na área de educação, que já constam do próprio objetivo da Fundação. Então a fundação, ela até hoje, dada a sua importância, como eu falei, e as linhas de atuação dela, a diversidade de direcionamento que ela pode tomar, ela está mesmo assim, apesar, independentemente das prioridades que qualquer gestor venha definir, que o Conselho Curador, que é o órgão máximo da Fundação, venha definir pra cada ano, independentemente da prioridade, vocês vejam que a Fundação até hoje continua respaldada por todo esse trabalho inicialmente feito pelo Fipec e depois somado com a experiência, também muito válida, do Fundec. Vocês vejam, hoje vocês já podem ver claramente como é que de repente desapareceu Fipec, Fundec, e de repente só se fala, como vocês me perguntaram antes, em Fundação. Como é que foi isso? Espero estar contribuindo com alguma forma pra fechar esse elo da forma que eu estou vendo, segundo a minha visão. Não é porque eu estou afastado durante esse tempo todo. E, tentei me lembrar de algumas coisas. Esses relatórios, esses documentos, acaba ficando nos arquivos da própria instituição e eu espero poder contribuir. Eu queria apenas, se vocês não têm nada a perguntar antes, eu queria apenas dizer para vocês o seguinte. No âmbito da Fundação, aí a Fundação começa a funcionar com o FIPEC absorvido, e aquelas áreas novas de saúde, educação, como eu falei. Depois vem o Fundec, que virou assistência à comunidade urbano-rurais como vocês já sabem. Já no âmbito da Fundação, nós pudemos ressaltar, durante este período que eu estive até me aposentar, em 1900..., aliás, em 1995, ou seja, nesses dez anos de atuação da Fundação, no que eu pude observar, nós passamos por várias fases de melhoramento, aquela busca constante, com humildade. “Você onde estamos falhando? Vamos atrás.” E continuou-se na Fundação durante algum tempo nessa atitude passiva que nós herdamos do Fipec, vocês estão acompanhando. Então nós recebemos projetos, e aí com muito mais intensidade porque entraram as áreas novas de cultura, de esporte.
P - Só pra poder fazer um elo aqui. Quer dizer que essa prática de ir até a comunidade como era feita no Fundec, ela é paralisada de uma certa forma?
R - Quando o Fundec foi extinto e virou campo de atuação, aí voltou praticamente a esta atuação, só que mantendo ainda os planos de desenvolvimento, dado à boa experiência que se verificou. Então, no que dizia respeito à assistência a comunidades urbano-rurais o procedimento ainda era aquele, mesmo quando o Fundec estava já na Fundação com outro nome, como assistência a comunidades. Mas foi mantido todo aquele trabalho, todo aquele material, os formulários, tudo isso era mantido e era trabalhado dessa forma no que diz respeito ao Fundec. E as demais áreas vinham com as propostas na área de cultura, recuperar um museu lá em Belém, não sei o que.
P - Tudo sendo isso atendimento de balcão?
R - Sendo encaminhado, sem a gente partir com uma formativa. Estou falando justamente no início, quando a fundação começou a funcionar, ainda foi nesse sistema passivo, o Fundec trabalhando dessa forma que vinha de antes. Muito bom o resultado, muito bons resultados. Mas com o tempo nós começamos a propor modificações, e aí surgiram uns trabalhos que eu queria apenas rapidamente citar alguns que, como eu te falei antes, no que diz respeito ao Fipec fica até difícil pra mim. Eu, a estas alturas, e é possível até que na Fundação hoje tenha algum registro disso, depois podemos até verificar juntamente com vocês. Mas no início mesmo da Fundação, um projeto, um trabalho de apoio de repercussão nacional e que até hoje está aí pra todo mundo ver concretamente, você pode ir lá e ver que foi feito mesmo, que existe e está funcionando, foi a construção do Hospital de Reabilitação do Aparelho Locomotor, da Rede Sarah, em São Luís. Aquele hospital que hoje existe lá do mesmo jeito que aqui, com o funcionamento, todo esse trabalho de recuperação de pessoas deficientes, que vocês sabem o resultado. É o Dr. Campos da Paz, estive muitas vezes com ele na época que isso foi feito através da Fundação das Pioneiras Sociais. Esse hospital, não sei se hoje ele está ainda vinculado a essa fundação, pra viabilizar esses recursos da Fundação Banco do Brasil, nós fizemos isso através da Fundação das Pioneiras Sociais que era a mantenedora do Hospital Sarah aqui. Então, naquela época, só havia um hospital que trabalhasse, que atuasse dessa forma, com todo esse critério de recuperação, você vê pessoas até desenganadas, chegam aí e acabam se recuperando, pessoas mutiladas em acidentes graves. E vocês vejam que a experiência é realmente fantástica, mas só tinha aqui. E estava havendo uma pressão muito grande, uma concentração de demanda, em cima do Hospital Sarah de Brasília violentíssimo. O Dr. Campos não tinha como fazer, não tinha como acomodar tanta gente, vindo de todo o país. Então surgiu a idéia da descentralização.
P - Seu José Honório, qual era a sua função? A Fundação já está funcionando, já está fundada. Qual que era o seu papel?
R - Eu sempre trabalhei nas bases. Eu fui, durante esse tempo, eu até nem consegui levantar isso, que eu não tenho isso em registro, mas eu trabalhei muito como assessor neste trabalho. Fui mais como assessor.
P - Mas o escopo do seu trabalho qual era? O senhor analisava os projetos, ia a campo?
R - Analisava, ia a campo, viajava, fazia proposição de questionamento, de atuação. Eu sempre fui muito questionador. Então o que eu achava que estava errado, eu escrevia e assinava embaixo. E depois vinham as discussões, reunião pra discutir o por quê. Então houve muito progresso, e eu consegui formar uma equipe muito boa na Fundação nesse período, tanto que eu terminei como chefe de divisão, com muitos funcionários.
P - O senhor poderia citar pessoas que trabalharam com o senhor, que foram fundamentais?
R - Foram fundamentais o próprio chefe de gabinete hoje, da Fundação, o Francisco, chama Chicão. Não sei se vocês o conheceram, um rapaz muito simpático. Foi um dos meus pilares mesmo nessas discussões, que ele também sempre foi muito aberto. O Alfredo, não sei se vocês conheceram. São pessoas... O Braune, o Braune também era funcionário meu, nós trabalhamos muito junto. A Maria Helena. Já no final minha aproximação com ela não é muito grande porque ela já foi quando eu já estava perto de me aposentar. Mas foi uma equipe fantástica, eu formei muitos bons amigos. E nós éramos muito profissionais, nós encaramos discussões fortíssimas aí de pleitos com dificuldades de enquadramento, que muitas vezes, você tinha que assinar embaixo sob questionamento porque a pressão política era forte e você tem que, na hora tem que ter a sensibilidade e a força de dizer que: “Olha, não pode porque...”, como até hoje funciona, graças a Deus. A Fundação traz, no seu corpo funcional, toda essa experiência que a escola, das normas das disciplinas repassadas pelo Banco. O Banco do Brasil, pelo menos pra mim, foi uma grande escola e tem sido uma grande escola até hoje no ponto de vista da seriedade, do profissionalismo, da disciplina. Mas, se não haver mais uma pergunta, eu queria apenas destacar aqui, só pra vocês verem. Eu comecei no Hospital Sarah de São Luís, viajei muitas vezes. Na época, eu estava com esse projeto sob a minha responsabilidade. Eu viajei demais pra lá porque era obra gigantesca. Havia uma construtora grande, construiu, se vocês forem pro lado de São Luis procurem ver. É um hospital realmente grande, que tem contribuído muito pra diminuir essa demanda. Porque foi feito também, parece que no Paraná, tem um Sarah lá no Paraná, em Curitiba, em Salvador.
P - Belo Horizonte tem Sarah também.
R - Eu sei que depois foram feitos outros com o auxílio de outras fontes. O que a Fundação apoiou foi esse hospital dessa rede Sarah em São Luis, que graças a Deus terminou, deu tudo certo. O Dr. Campos da Paz, que ainda hoje preside essa fundação, esse hospital, ele deve ter ficado muito satisfeito, e nós estamos também, porque contribuímos de alguma forma pra toda essa assistência. Não sei se vocês sabem, o Hospital Sarah, ele não tem fins lucrativos. Então qualquer pessoa que seja do INSS chegando lá, eles atendem mesmo. Não sei, eu me lembro na época que eu estava envolvido com esse trabalho todo, eu precisei de um apoio dessa rede Sarah, e o documento que foi exigido meu lá, foi que se eu era contribuinte do INSS, não exige que você tenha outro convênio. Pelo menos na época era assim. Isso é muito bom, né? Mas, você ia perguntar alguma coisa?
P - Eu queria, só voltando um pouquinho Sr. Jose Honório, quando o senhor estava lá no Fipec quando começou a haver aquela história de criação da Fundação, como o senhor recebeu essa notícia? Como o senhor imaginou? O senhor criou alguma expectativa? Como foi isso?
R - É muito boa a pergunta porque realmente teve esse momento, o momento da expectativa de uma coisa diferente e tal. O meu grande receio, que acabou acontecendo, infelizmente, isso é um depoimento pessoal, eu quero deixar registrado que é pessoal. O meu grande receio, nada obstante a importância de também apoiar essas outras áreas, a cultural e a saúde e assistência social, esta coisa toda, independentemente da importância dessas outras áreas, o meu receio em si era que a área de ciência e tecnologia, da pesquisa em si, viesse a ser prejudicada. Não sei se vocês estão percebendo. E infelizmente, a prática mostrou que realmente aqueles grandes projetos na área de ciência e tecnologia acabaram se esvaindo. E nós, o recurso ficou mais pulverizado e a cada ano surgiram as prioridades que nem sempre eram a pesquisa, e essa parte de pesquisa acabou ficando prejudicada. E a minha preocupação até hoje, inclusive embora esteja fora, é justamente porque, você sabe que um dos pilares do desenvolvimento de qualquer país é o avanço tecnológico. É a educação e naturalmente com o desenvolvimento tecnológico, principalmente nessa época atual cuja evolução da tecnologia se processa de maneira célere. Você veja que hoje os conhecimentos são altamente ágeis. Você tem que, de repente qualquer equipamento que você compre hoje, de repente amanhã já está desatualizado, já surgiu algo diferente. Então numa época dessa você vê os grandes países que acabaram saindo daquela faixa de subdesenvolvimento, a exemplo mais recente a China, saiu em cima de quê? De investimento maciço na educação, na tecnologia. Então, você veja que eu me preocupei, de certa forma, com o surgimento da Fundação, temendo que viesse a ocorrer algum prejuízo pra área de ciência e tecnologia, infelizmente acabou acontecendo.
P - Seu José Honório, a Fundação surge num momento de, num cenário político-econômico um pouco conturbado. É uma época que a gente tem uma inflação galopante, muitos planos econômicos. De que forma isso afetava o funcionamento da Fundação, o andamento dos projetos?
R - Olha, essa pergunta sua é muito pertinente porque de fato, com a criação da Fundação, ela surge justamente naquele momento de muita conturbação política no nosso país e nós, de certa forma, sofremos muitas pressões de tudo que era lado. Mas quanto aos recursos, eu não tenho números assim precisos, mas eu tenho uma idéia. Nossos recursos, eles inclusive até hoje, praticamente a gerência de novos recursos foi mínima porque naquela época da inflação alta os recursos da Fundação eram aplicados pelo próprio Banco no mercado financeiro, naqueles fundos de maior rentabilidade, e isso permitiu que se mantivesse um volume de recursos muito expressivos. A gente tinha a preocupação de nunca ficar praticamente exaurindo, mas o que se aplicou durante essa época, pelo menos a época que eu estive à frente da Fundação, dessa área da Fundação, ela sempre foi num percentual muito pequeno em relação ao montante global. Então a gente sempre teve muita preocupação de não comprometer, de forma irreversível, a disponibilidade financeira da Fundação. E naquela época, dada essa grande rentabilidade que havia no mercado financeiro, ela conseguiu multiplicar muitas vezes aquele valor inicialmente recebido com a absorção do Fipec, compreendeu?
P - Eu vou fazer só mais uma perguntinha sobre o Fipec, Sr. José Honório. O Fipec acaba então depois, então, com a criação da Fundação. Como que se deu esse processo de absorção, tanto quanto ao Fipec como o Fundec?
R - O Fundec. Como eu te falei, o Fipec era um fundo de desenvolvimento científico-tecnológico e tinha toda aquela, digamos, independência, autonomia de agir, tinha os seus recursos expressivos, que trabalhava com uma certa folga e tal, e desenvolvendo trabalho na área de ciência e tecnologia. Vários exemplos aqui, inclusive eu já citei. Aí, com o advento da Fundação, o Fipec passou a ser o quê? Praticamente uma área que é C&T, ciência e tecnologia, como o Fundec passou a ser assistência a comunidades urbano-rurais. Então, nós mantivemos alguns trabalhos de pesquisa que já tinha sido iniciado, daí porque tem alguns projetos que eu não sei nem como ficasse, pode ser dito como da Fundação ou do Fipec, porque acabaram sendo absorvidos pela Fundação, ficaram na área de ciência e tecnologia, e continuamos trabalhando. E aí surgiram também, ainda, no início, conseguimos ainda viabilizar um projeto muito importante, vocês podem até investigar depois, que é um projeto lá no Hospital das Clínicas em São Paulo, através da Fundação Pró-Sangue, Hemocentro. Foi um dos primeiros trabalhos. Veja bem, apoiados pela Fundação, que viabilizou o transplante de medula óssea. Ora, veja bem, esse apoio que foi feito nessa pesquisa através do Hemocentro, da Fundação Hemocentro ao Hospital das Clínicas, uma instituição pública. Foi uma das primeiras instituições públicas do nosso país que, dado esse trabalho, esse processo ser um processo caro.Viu? Esse processo de transplante é um processo caro. Pois foi a Fundação que viabilizou que esse processo pudesse ser aplicado a muitos, dezenas de pacientes carentes que não tinham condições de arcar com esses recursos. Então depois desse trabalho de pesquisa que foi desenvolvido, conceituando esse processo de transplante que a Fundação propiciou ao Hospital das Clínicas, uma entidade pública, condições de proceder a dezenas de transplantes a pessoas. Veja, olha o aspecto social aí entrando através da saúde num trabalho de pesquisa. Veja como o C&T que eu falei antes, na verdade não é só um campo de atuação a mais da Fundação, ele é uma linha de ação que acaba envolvendo ações na área de saúde, de educação e até de outras áreas. Está aí um exemplo concreto de um trabalho de pesquisa que acabou num resultado social fantástico, não é? Fantástico.
P - Seu José Honório, pro senhor que veio de uma região humilde, que levou um segundo grau pra uma cidade pra onde o senhor mudou, pra que o senhor mesmo terminasse o seu curso, o quê que significou pro senhor ter participado de tantos projetos que viabilizaram tantas melhorias na vida de um monte de gente?
R - Emocionante. (Pausa) Eu não tenho outra palavra para definir o nível de contentamento e emoção que certamente contribuiu... com toda essa força que eu tive durante esse trabalho todo. Desculpa. Mas, como eu ia falando, além desse trabalho (Pausa) Além desse trabalho do Hospital das Clínicas, nós, na Fundação continuamos apoiando várias pesquisas na Fundação Oswaldo Cruz, outra entidade fantástica que vem trabalhando, vocês todos conhecem, é de conhecimento nacional, não é? E tivemos muitos trabalhos importantes, inclusive essa vacina do sarampo contou com o apoio nosso. Teve também um programa... tinha um programa do Globo Ciência, continuou no âmbito da Fundação naquela sistemática de divulgação de trabalho científico, e também divulgação de trabalhos da Fundação.
P - E o senhor, nesse período que já estava na Fundação, já estava o FIPEC entrando como área de atuação da Fundação, o senhor chegou a viajar acompanhando algum projeto, além do hospital lá de reabilitação...
R - Eu viajei, viajava muito. Eu participava dessas reuniões mensais e trimestrais do Globo Ciência. Geralmente era na Fundação Roberto Marinho e eu participava pra discutir prioridades e ver o formato dos programas seguintes. Nós participávamos daquele conteúdo, o que é que ia se divulgar, o que era importante, o que não era. E isso tudo acabou trazendo uma experiência muito grande, e como eu já falei, nos deu uma força também muito grande de enfrentar as dificuldades que sempre houve, procurando sempre o melhor pra Fundação e pras comunidades mais necessitadas nessa parte de saúde mesmo. Houve, inclusive, um trabalho. Como nós sabíamos que nessa parte de saúde, já no ponto de vista assistencial, de assistência social, havia uma carência muito dos postos de saúde das pequenas cidades e a dificuldade das prefeituras, inclusive de dotar essas entidades, esses pequenos postos de saúde, de equipamentos básicos pra urgências, pequenas. Urgência então, teve uma fase que nós andamos, concedendo recurso pra aquisição de ambulância pra muitas prefeituras aí do interior afora, pra permitir que as pessoas fossem transportadas de forma condigna naquelas fases mais críticas. Então teve essa fase toda. Agora, além desse programa Globo Ciência, agindo ainda assim de forma mais integrada, houve também uma fase na Fundação de implementação de um programa que também foi divulgado aí em rede nacional que chamava Vídeo Escola. Vídeo Escola, todo esse material desse programa que ainda hoje vem sendo utilizado pela Fundação Roberto Marinho e outros programas também educativos dessa natureza, ele foi elaborado, composto, com o auxílio da Fundação. O vídeo Escola era um programa que a Fundação Roberto Marinho tinha uma equipe pedagógica que preparava toda essa documentação, que registrava isso em fitas de videocassete, na época era o recurso mais avançado. E esse material era distribuído através das secretarias estaduais de educação para as prefeituras, e as prefeituras se encarregavam de passar para estes tais grupos escolares pequenos, nas pequenas escolas de interior, como mecanismo de estímulo às crianças, e passando informações de cidadania relacionadas com o meio ambiente, como é que conduz para não degradar o meio ambiente e outras ações. Então era programas de enriquecimento pedagógico e de suporte pros professores da rede pública de ensino das pequenas escolas e grupos do interior. Então, esse programa foi apoiado pela Fundação durante alguns anos e era um projeto trabalhoso. Por quê? Porque tinha todo esse acompanhamento. Esse material tinha, inclusive a Fundação, além desse material também financiava a aquisição do equipamento, o televisor e o videocassete, pra permitir o acesso à informação. Então, tudo isso, foi um trabalho muito trabalhoso assim, uma ação de muita preocupação da Fundação devido ao aspecto do acompanhamento, e da prestação de contas, porque afinal de contas a Fundação, ela vem a cada ano, a cada ano ela sofre auditorias externas e acompanhamento, se o recurso foi aplicado de forma certa. Então isso tudo fazia com que a Fundação trabalhasse com todo esse mecanismo de acompanhamento, envolvendo mais uma vez as agências, que é quem estava lá nas pontas dando informação. “E o material está aonde?” Ficava sob o controle delas, essas fitas, o uso dela, como pra usar também em outras escolas, pra não ficar.. Pra otimizar o uso desse material.
P - O programa que eu queria que o senhor relatasse, essa base que o senhor foi na Antártica, o senhor até trouxe uma foto. O senhor poderia contar mais ou menos em detalhes como foi?
(Pausa)
P - Então eu queria que o senhor relatasse um pouco essa experiência fora do Brasil, levando o projeto.
R - Essa experiência, como nós preliminarmente havíamos já comentado superficialmente, foi o seguinte. É uma experiência também fantástica. Eu não esperava nem que pudesse ter a oportunidade de ir à Antártica, ao Pólo Sul, usando toda aquela indumentária pesada pra enfrentar aquele gelo. Mas o que aconteceu? Essa experiência decorreu de um apoio financeiro que o Fipec - ainda Fipec, foi justamente em 85, ainda era Fipec - ,apoiou financeiramente a implantação daquela base Comandante Ferraz que o Brasil tem lá naquela região. Por que a importância, o Ministério da Marinha sempre tratou esse assunto com tanta importância? Porque se sabe através de tratados internacionais que o país, em qualquer época que precisar discutir o que fazer com o uso das riquezas que possam existir naquela região, só quem pode sentar nessa mesa pra discutir a forma de atuação e o uso, se for o caso eventual de alguma riqueza daquela região, só poderá sentar nessa mesa quem tiver base naquela região, na Antártica. Então, daí a preocupação do Governo Federal naquela época, de implantar uma base brasileira lá numa daquelas ilhas, que é composta de várias ilhas aquela região, e geralmente envoltas com águas que numa grande parte do ano vira tudo gelo. Aquilo ali é realmente uma região bem diferente. Então, o Fipec resolveu apoiar a instalação, aquela parte de containers, de geradores, porque ali funciona, nessa base, realmente um trabalho abnegado. Pode escrever isso, um trabalho abnegado de pesquisadores do Paraná. Na época tinha do Paraná, do Rio Grande do Sul, de São Paulo, que vão pra ali pra fazer pesquisas em vários segmentos, na parte de piscicultura, na parte daquelas pequenas aves que habitam aquela região ainda, até de vegetais, de minúsculos vegetais que ainda surgem entre aquelas pedras e aquele gelo. Então tem pesquisadores de todo o país que vão pra lá, e ficam completamente isolados durante meses, tanto é que tem essas missões de resgate, tanto do navio Barão de Tefé. Não sei, se ainda ele que faz, se ainda é esse navio que ainda faz da Marinha, mas tem esse trabalho de resgate deles. Esse navio vai levando novos pesquisadores e trazendo também os que já estão lá a alguns meses. Então, e além disso tem o apoio desses aviões Hércules C-130 da Força Aérea. Foi num desses aviões que eu viajei nessa época. Mas voltando ao motivo dessa história toda. A Fundação, o FIPEC, a Fundação, que foi justamente nessa fase, e eu não estou sabendo precisar exatamente se podemos considerar como apoio institucional do FIPEC ou já na Fundação, mas o fato é que nós apoiamos a instalação daqueles containers, daqueles geradores tal, porque aquilo tem que girar 24 horas porque não pode ficar sem um gerador. Aquelas serpentinas tipo de refrigerador que nós temos em casa, aquilo lá nesses containers você vê assim incandescente, pra tentar manter ali dentro uma temperatura que lhe permita pelo menos uma condição de mesmo agasalhado você ficar ali quieto. Então é assim que eles ficam esses meses todos, esses pesquisadores, nesse trabalho. Mas, nós apoiamos isso aí, e o Ministro da Marinha, numa dessas missões de visita e de apoio a esse pessoal, tinha sido programado na época uma ida pra Antártica. Então o Ministro, além de pessoas de destaque nacional, representante de empresas, de destaque, a própria Rede Globo foi, mandou uma repórter, aquela Solange Bastos, na época era da Rede Globo, ela foi. Então o Ministro da Marinha convidou o Presidente, na época era até o Camilo Calazans, o Presidente do centro, ele deve se lembrar desse fato, e o Presidente ele na época ele não pôde ir. Passou o assunto pro consultor técnico dele aonde estava vinculado o Fipec na consultoria técnica, eu falei que o Fipec era vinculado, então ele passou o assunto ao consultor técnico, na época Antônio José. E o consultor, não sei por que razão, acabou não podendo também ir e aí ele procurou na Secretaria Executiva do Fipec quem é que tinha feito esse estudo desse projeto que resultou nesse apoio, e tinha sido eu. De repente o consultor me chamou lá e falou: “Se prepara que você vai pra Antártica”. Veja bem, como é que pode. Eu disse: “Mas como?” Ele disse: “O Presidente...”, e explicou o que tinha acontecido, e essa viagem me aconteceu assim. Eu embarquei aqui no avião Hércules C-130 e aí eu nem queria ir, mas: “Não, você vai, o Presidente disse que se eu não posso ir que você fosse”, e eu acabei indo. Depois que eu fui, aí comecei. Entrei nesse avião e vi que era um avião, esses aviões da Força Aérea são aviões de campanha, não pense que tem luxo nenhum não. Os bancos, é aquelas tiras de lona, não tem banco assim. É de um lado e de outro assim, duas colunas de um lado e de outro. Não tem acabamento interno. Você vê toda aquela tubulação que passa ao lado da cabine pras asas, aqueles canos de refrigeração. Negócio rústico. E a gente lá sentado, eu lá com uma turma. Aí eu comecei a puxar assunto, entrou pra São Paulo, pra o Rio de Janeiro, lá apanhando pesquisadores, o avião foi cheio. E algumas pessoas, inclusive o Presidente da Andrade Gutierrez, aquela empresa de engenharia muito grande, da Odebrecht também. E Israel Klabin daquela empresa lá do Rio de Janeiro, acho que ele foi até prefeito de lá. Todas essas pessoas estavam lá, e nesse meio estava eu. De repente eu estava lá quietinho sentado. Mas que empreitada, não é? Mas eu acabei indo, foi mais uma experiência fantástica. E descemos em Punta Arenas, no Chile, já no extremo sul, já bastante frio. Punta Arenas é a última cidade lá no extremo sul já. Então nós descemos lá pra poder ver o tempo, quais as condições pra gente levantar vôo pra baixar lá na Antártica. E inclusive não houve condição de, nesse mesmo dia que a gente chegou, era de tarde, cedo ainda, mas as condições não permitiram que nós baixássemos lá na base chilena porque, como o Chile é uma continuação ali naquela ponta, eles se consideram assim mais assim, com mais recurso, é que estão mais próximos, né, de fazer todo aquele apoio. Então eles têm uma base muito boa lá. Tem inclusive uma experiência, na época tinha, de pessoas que fizeram uma vila de casas pra observar o comportamento daquelas pessoas que morassem lá. Então trouxeram umas famílias lá do Chile pra morar ali naquele lugar, e nós que gelo, frio. Mas tinha essas pessoas, tudo funcionando na base de gerador, e funcionando. Então todas essas missões daquelas bases ali nas proximidades, porque eram várias ilhotas, e em quase toda ela tinha bases de outros países. E aí a base é mais nessa do Chile que é onde tem uma área de pouso que permite que o avião, a aeronave abaixe sem maiores dificuldades. Então nós descemos lá e pegamos um helicóptero, e de helicóptero, nós fomos pra nossa base, e aí onde me permitiu essas fotos que vocês viram e que foi. Eu cheguei lá, eu vi os pesquisadores.
P - Quanto tempo o senhor passou lá?
R - Passamos na base mesmo um dia, mas a viagem toda, ela foi uma semana, uns cinco dias, porque os percursos, lá na base a gente ficou um dia, voltamos. Aí ficamos em Punta Arenas. A cidade de Punta Arenas foi onde a gente ficou, dormimos um dia na ida e um outro dia também pra poder pegar o avião de volta, então demorou mais por conta disso. Mas uma experiência fantástica, um trabalho que é de você se emocionar, você vê aqueles pesquisadores, alguns velhos de cabelo branco, barba crescida, branca lá, pesquisando aqueles trabalhos, o resultado. E aqueles que estavam chegando, aquela expectativa de ficar lá, essa história. Então é uma experiência fantástica, que eu espero que esteja continuando esse revezamento.
P - Sr. José Honório, como foi essa impressão de um clima tão diferente? A paisagem, como o senhor descreve? Qual foi a emoção que o senhor sentiu?
R - A emoção de como nós somos pequenos nesse universo todo. A sensação que eu tive foi mais nesse sentido, que realmente nós somos muito pequenos e temos mais é que ser humildes e procurar entender cada vez melhor os fatos que ocorrem aí, evitar esses procedimentos de agressão à natureza, porque lá é um dos pontos de maior relevância nesse trabalho todo, é você ver in loco a quantidade de blocos de gelo se quebrando por conta até dessas alterações climáticas que dizem. E de repente, havendo essas alterações nas correntes marinhas. Porque você sabe que tanto o Pólo Norte como o Pólo Sul, eles acabam regulando, segundo os pesquisadores, regulando todo esse fluxo, essas alterações climáticas. Esse efeito estufa está afetando, segundo eles, muito. Então, olha, foi uma experiência fantástica. Você vê, até o mar, mesmo com a água ainda líquida, no estado líquido, mas não é aquele líquido fino, é um líquido já grosso, já denso, já querendo virar gelo mesmo lá nos blocos. E fora nos pedregulhos, como você viu, naquelas fotos, você vê aquelas partes brancas, é gelo, neve, blocos de neve já se solidificando. E muito inóspito, uma região realmente, muito... Existe lá, não sei se nessa foto que vocês têm, mas. ou existe uma cabana velha de um desses navegadores, desbravadores tipo Amir Klink, de sair nos oceanos, tem registro lá, uma cabana de um deles que acabou ficando lá, resolveu ficar, esses malucos, e realmente eles acabaram definhando.
P - Seu José Honório, voltando agora à sua vivência aqui na Fundação, o senhor destacaria alguma fase mais importante que o senhor vivenciou no período que permaneceu lá do início até 95?
R - Olha, depois da criação da Fundação, dada a minha vinculação aos projetos de pesquisa e por entender como sendo igualmente importante nesse contexto nacional, eu vivi muito tentando resgatar todo aquele trabalho de apoio às pesquisas, aos trabalhos de pesquisa, naturalmente sem prejuízo das outras ações da Fundação. Então eu passei muito tempo trabalhando nisso, nesse resgate. Foi feito alguns trabalhos, algumas notas procurando defender isso e tal. E também tentando vislumbrar, até nas outras áreas, ações mais pró-ativas, digamos. Pra que a gente pudesse obter um resultado final mais expressivo, nós tentamos, já no final da minha gestão, já como chefe de divisão, ações mais pró-ativas. E nesse contexto vocês podem verificar, deve ter registro na Fundação, surgiu nesse esforço que foi feito pela minha equipe, pela equipe dessa área, dois projetos que eu gostaria de citar pra vocês verem depois. É o Projeto Bandas e o Projeto da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade. Como é que foi isso? Esses projetos, eles, nós pedimos pras agências verem junto à prefeitura qual era, porque era um resgate cultural que nós julgamos importante. Aquela bandinha de interior, que quem é do interior sabe que havia o coreto da praça e a banda tradicional que, por dificuldades as mais diversas, acabou fugindo um pouco daquela conotação inicial de tradição. Então nós procuramos apoiar, de forma pró-ativa, pedindo pra agência ver junto à comunidade e à prefeitura se havia uma banda que precisasse de instrumentos pra se equiparem, se organizarem. E isso foi uma ação que teve um certo resultado, já no final da minha atuação. Um outro projeto também muito bom, foi um projeto de apoio às escolas. Essa CNEC, não sei se vocês já ouviram falar, é Campanha Nacional de Escolas da Comunidade. Isso foi uma campanha criada por um paraibano já falecido, Felipe Tiago Gomes, do interior lá da Paraíba. Na cidade Picuí, no Cariri Paraibano, cidade altamente seca, sem condição, mas esse Dr. Felipe foi um obstinado desde moço, sempre foi muito humilde, nunca teve interesse pessoal, sempre, tanto é que ele faleceu, pobre. E ele fundou essa Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, ou seja, ele dando chance, independentemente do poder público, das pequenas comunidades de periferias, de terem uma escola gratuita que pudessem estudar. Então, essa campanha vem se mantendo com auxílios governamentais, ele vivia nesse congresso angariando recursos, verbas. Compreendeu? Então, dessa forma os professores, o sentido filosófico dessa campanha era tão forte que a maioria dos professores era da própria comunidade, que se propunha a dar aula quase sempre sem ganhar nada. A limpeza do espaço físico lá era feita pela própria comunidade. Então, isso tudo, motivou a Fundação, ainda na minha gestão, a implantar, quer dizer, incentivar uma campanha de apoio, de infra-estrutura a todas essas escolas. Então, foi feito um movimento a nível nacional pra ver o quê que estava precisando, reforma do prédio, às vezes o prédio estava precisando, estava com goteira, prédio já danificado. Então nós fizemos. Carteira não tinha, os alunos sentavam, assistiam aula sentados no chão, a informação que tinha dos gerentes de agência e tal. Então esse foi um dos trabalhos finais da Fundação que me cabe aqui ressaltar porque eu acho que teve e tem, e tem, deve ter ainda, uma conotação social muito grande na área de educação.
P - Seu José Honório, eu perguntei da importância das agências. Como que era o trabalho da Fundação juntos aos gerentes pra poder treinar, dizer como receber um projeto, como que era feito isso?
R - Era feito sempre visitas, nós fazíamos sempre. Tinha as visitas e havia, já no âmbito da Fundação, a preocupação em promover reuniões já nas superintendências regionais. Aí os superintendentes eram avisados previamente e reunia os gerentes onde houvesse, principalmente, trabalhos da Fundação. Eles vinham e faziam aquelas reuniões de esclarecimento, como proceder. Aí vinha a forma de atuação do FUNDEC que virou comunidades rurais. Então esses trabalhos nós fizemos já no finalmente e justamente para a agência, se sentir também motivada, a participar de todo esse esforço, no âmbito nacional, de ajuda financeira a esses trabalhos todos. Então o resultado final, eu queria dizer para vocês também, até vendo de longe, a atuação da Fundação hoje me envaidece muito. Eu quero que vocês saibam que o sentimento é esse, por tudo que foi dito aqui, pelo interesse que eu sempre conduzi esses trabalhos. Mas mesmo hoje com esses enfoques diferenciados, como eu já disse antes, dado a cada época pelo gestor da Fundação, eu sinto que tem contribuído muito nesse esforço governamental, vamos dizer assim, de melhoria na qualidade de vida, principalmente das populações mais carentes. Tem esse projeto aí de cidadania, emprego e renda, tem essa ação mais recente aí da Fundação, isso tudo voltado pra geração de emprego e renda. E isso atinge quem mais? Justamente aquelas populações mais necessitadas. Isso tudo me sensibiliza muito porque, como vocês perceberam, eu sou uma pessoa humilde. Eu vim do interior, entendeu? Eu ajudava o meu pai no trabalho braçal de capinar mesmo, compreendeu? Eu cheguei a fazer isso, e falo com nenhum sentimento de vergonha porque eu acho que isso não deve envergonhar nem um homem nesse país. Apenas eu falo pra vocês verem que, graças a Deus, eu conheço toda essa, tive a oportunidade de viver. Uma coisa é você ver, outra coisa é você viver. Eu vivi. Eu sou oriundo de uma família humilde, muito humilde, e graças a Deus eu me considero um homem realizado e feliz hoje por tudo isso que eu tive a oportunidade, me deram a oportunidade de fazer.
P - Seu José Honório, o senhor está na Fundação desde o início, né? Como é que se deu a transferência dos funcionários do Banco? No seu caso o senhor estava já ligado ao FIPEC. Mas os outros funcionários, como é que eles foram sendo encampados à Fundação nesse decorrer da implantação?
R - Muito bem, moça, é o seguinte. Esse processo acontecia mais em função das aptidões de cada um. No que dependeu de mim, ou seja, no processo de formação da minha equipe, eu sempre primei por separar, pra não ter dificuldades e até não punir o companheiro, eu sempre soube separar amizade, relacionamento pessoal, com profissão, com aptidão. Porque a gente se engana muito, às vezes de você: “O fulano é meu amigo, eu vou levar fulano pra trabalhar comigo”, sem nem saber se ele vai servir, se ele vai contribuir de alguma forma sem se corromper. Porque que eu falo assim? Porque eu não tenho formação nessa área de administração, mas a experiência me fez ver que administrar bem é antes de tudo você ter sensibilidade, pra obter daquele funcionário aquilo que ele pode oferecer naturalmente. Não é? Então aí é onde está o segredo, porque quando você põe um funcionário no lugar inadequado, você precisa daquele serviço elaborado daquele jeito, ele não vai ter condições de fazer e aí vai gerar um mal estar, não vai? Seguramente. Então, a forma que eu sempre procurei defender foi justamente de ver a pessoa certa pra aquele serviço que eu precisava que fosse feito. Cheguei inclusive, nas minhas viagens, a trazer um funcionário de São Paulo, de uma agência de São Paulo, um funcionário de uma capacidade esplendorosa. Um rapaz com altamente a mente aberta, inclusive nessa área de pesquisa, de desenvolvimento e tal. E eu lamento só eu não ter descoberto esse rapaz antes, o nome dele é Paulo Lopes. Ele acabou saindo da Fundação depois que eu sai e ficou, foi agregado à presidência, ao gabinete da presidência, pra fazer outros trabalhos lá, dado a potencialidade dele. O que aquele funcionário fazia lá na agenciazinha, não sei se era Butantã, a agência do Butantã, em São Paulo, ou era Pinheiros? Esse funcionário, um rapaz com uma capacidade dessa, batendo ficha, fazendo acompanhamentos de projeto da Fundação. Quando eu comecei a conhecer esse rapaz, que eu vi alguns relatos dele, que eu pedi alguns pareceres dele, que ele me escreveu, eu vi que ele era uma pessoa que ia só somar. Então, trouxe ele pra minha equipe, até numa época que tinha pessoas próximas assim do ponto de vista de relacionamento. Mas, uma hora dessa você tem que ser forte, não sei se vocês estão compreendendo. E eu sempre agi dessa forma e graças a Deus eu consegui formar uma grande equipe e grandes amigos. Antes, até de colegas, grandes amigos. Eu me refiro a eles todos, com muita saudade porque houve também os momentos que a gente ia pra se descontrair final de semana, se reunia ali embaixo mesmo, perto da Fundação, tomando uma cerveja e batendo papo, e era muito agradável. Até que essa reunião aconteceu por conta da minha despedida, que eu ia embora.
P - O senhor viu aquele momento do Plano Collor, em 90, logo após a posse do Collor, houve algum impacto na Fundação nesse período? O que foi esse impacto?
R - Houve. Foi essa pressão que eu te falei, muito grande, porque inclusive havia a pressão do próprio presidente do Banco, na época, procurando defender essa situação. E, como eu já disse antes, eu, graças a Deus, eu sempre soube até onde podia ir. Eu nunca assinei nem um papel, que não pudesse responder depois. Tanto é que por conta dessa gestão atribulada aí, e depois até da minha saída. Eu já aposentado lá na Paraíba, houve a última auditoria de contas fez um levantamento de umas contas aí na fundação e descobriu alguns projetos questionáveis. Mas afinal de contas foi feito os esclarecimentos, a fundação fez e tal, e viram que, no que dizia respeito aos projetos da minha área, não tinha nada de que viesse a desabonar a instituição e feito de forma irregular. Então isso tudo tem sido só motivo de orgulho pra mim e pra minha equipe que está aí, alguns deles ainda hoje aí, como eu já falei.
P - Como é que o senhor avalia então a sua trajetória da Fundação?
R - Olha, como já tenho dito antes, foi uma experiência muito boa. Eu acabei vindo aqui pra Brasília de forma acidental, como vocês sabem. Mas foi um aprendizado muito bom. Eu guardo da Fundação bons momentos. Me sensibilizei em várias ocasiões pelo alcance social das ações da Fundação, e espero que essa equipe que aí está continue trabalhando nessa mesma linha, e tenho só a agradecer as oportunidades que me foi dada até agora mesmo de participar de alguma forma, de contribuir. Espero que tenha contribuído porque isso tudo só nos faz cada vez mais nos sentir motivados pra enfrentar as dificuldades que possam vir porque eu, ainda mesmo aposentado, me considero ainda capaz de fazer muita coisa. Então estamos aí e vamos pedir a Deus que nos ilumine, a nós todos e que possamos, antes de tudo, ser tratados como gente, antes de qualquer situação momentânea, que cada um de nós veja o seu companheiro como gente, como pessoa.
P - O senhor seria capaz de traduzir a Fundação em algumas palavras, o significado dela?
R - Eu diria apenas que, em poucas palavras, que a Fundação bem administrada, ela é um potente e longo braço social do Banco e, por conseqüência, do próprio governo, do próprio país. É só.
P - Como que o senhor vê esse projeto de resgatar a memória da Fundação, de fazer esse registro? Como é que o senhor recebeu essa idéia?
R - Eu recebi isso de forma muito prazerosa porque, se existe alguma coisa a ser exercitada nesse país, chama-se cultura, chama-se memória. Vocês vejam, qualquer país desenvolvido, eles trabalham muito, eles investem muito nesse aspecto da memória, da preservação histórica. Graças a Deus, a Fundação Roberto Marinho, a Fundação Banco do Brasil mesmo, eu não falei, mas, agora me ocorre, nós chegamos a apoiar vários projetos de recuperação de patrimônio histórico, um deles foi aquele palácio Antônio Lemos no Governo do Pará, em Belém. Aquele palácio é um palácio histórico que estava em ruínas, e nós chegamos, graças a Deus, a participar da restauração desse palácio, e além de outros trabalhos. Então, essa iniciativa de vocês e da Fundação no sentido de manter sob foco as ações da Fundação, além de contribuir pra eventual correção de rumos, não é isso? Tem toda uma conotação cultural que vem até a se somar a esse esforço nacional que nós estamos presenciando ultimamente de recuperação de patrimônios de nossa memória, não é, em todo país.
P - O quê que o senhor achou de ter participado dessa entrevista, estar participando desse projeto também?
R - Eu achei gratificante e espero, como já disse antes, que a minha contribuição venha, de certa forma, auxiliar esse trabalho de vocês. Observei, pelas conversas informais que mantivemos, que vocês são realmente bastante profissionais. Isso me deixa muito à vontade, vocês vejam que eu acabei ficando bem à vontade. E espero que o resultado final tenha aquele alcance que todos nós esperamos. Agradeço a paciência que vocês tiveram comigo e só me ponho à disposição. Vocês já têm o endereço, o telefone. Eu acho que agora vai ser difícil me esconder de vocês. Compreendeu? Então, a gente vai voltar a se falar, certamente. Gostei muito de conhecer vocês todos.
P - Sr. José Honório, então em nome da fundação, em nome do Museu da Pessoa, eu gostaria muito de agradecer o seu depoimento.
R - Obrigado.
P - Uma história muito bonita, muito obrigado.
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