Michael Schaffner tinha 62 anos quando narrou sua história de vida. Ele nasceu em Mannheim e cresceu em Waldorf, Alemanha. Quando Michael nasceu a 2ª Guerra Mundial havia recentemente terminado e ele se lembra da casa da família e grande parte da cidade em construção. Seu pai, Karl, combateu no fronte e sua mãe, Marianne, foi enfermeira e quando foi perguntado sobre as lembranças compartilhadas na família, sobre essa história alemã, ele falou sobre o silencio dos pais e a afirmação de que o passado é passado e se deve viver o presente, esse foi o ensinamento do pai.
Michael viveu uma infância como muitos garotos da sua idade, a mãe trabalhava em um hospital e o pai na era funcionário público da ferrovia. Ele e sua irmã mais velha, Angélica, na infância protagonizavam afetos e desafetos comuns entre irmãos, foram cumplices quando saíam para se divertir na adolescência e hoje se falam somente pelo telefone.
As lembranças do verão vieram as frutas vermelhas, diferentes do Brasil, a mãe acompanhada das crianças, colhendo e fazendo as geleias que eram guardadas em potes para o consumo durante todo ano. Ele lembra da framboesa, da maça e do morango. E as lembranças do inverno vieram a arte dos bordados de tapetes que eram feitos quando não se podia sair lá fora e aqueciam a casa pelo chão e paredes. Michael ressaltou em sua narrativa o hábito de fazer suas próprias coisas. Contou de uma Alemanha em construção, mas também de uma família educada a partir do trabalho, da colaboração entre os membros da família. Sua narrativa trouxe as lembranças de um avô que o iniciou na pesca, dos trabalhos de entrega de jornais para ganhar uns trocados, do jogo de futebol quase profissional, até os 12 anos, quando resolveu parar.
Lembranças também dos amigos, de uma viagem de bicicleta por mais de mil quilômetros, lembra das aventuras de chegar até a Áustria, e das desventuras de contar as moedas para comprar pão, que...
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Michael Schaffner tinha 62 anos quando narrou sua história de vida. Ele nasceu em Mannheim e cresceu em Waldorf, Alemanha. Quando Michael nasceu a 2ª Guerra Mundial havia recentemente terminado e ele se lembra da casa da família e grande parte da cidade em construção. Seu pai, Karl, combateu no fronte e sua mãe, Marianne, foi enfermeira e quando foi perguntado sobre as lembranças compartilhadas na família, sobre essa história alemã, ele falou sobre o silencio dos pais e a afirmação de que o passado é passado e se deve viver o presente, esse foi o ensinamento do pai.
Michael viveu uma infância como muitos garotos da sua idade, a mãe trabalhava em um hospital e o pai na era funcionário público da ferrovia. Ele e sua irmã mais velha, Angélica, na infância protagonizavam afetos e desafetos comuns entre irmãos, foram cumplices quando saíam para se divertir na adolescência e hoje se falam somente pelo telefone.
As lembranças do verão vieram as frutas vermelhas, diferentes do Brasil, a mãe acompanhada das crianças, colhendo e fazendo as geleias que eram guardadas em potes para o consumo durante todo ano. Ele lembra da framboesa, da maça e do morango. E as lembranças do inverno vieram a arte dos bordados de tapetes que eram feitos quando não se podia sair lá fora e aqueciam a casa pelo chão e paredes. Michael ressaltou em sua narrativa o hábito de fazer suas próprias coisas. Contou de uma Alemanha em construção, mas também de uma família educada a partir do trabalho, da colaboração entre os membros da família. Sua narrativa trouxe as lembranças de um avô que o iniciou na pesca, dos trabalhos de entrega de jornais para ganhar uns trocados, do jogo de futebol quase profissional, até os 12 anos, quando resolveu parar.
Lembranças também dos amigos, de uma viagem de bicicleta por mais de mil quilômetros, lembra das aventuras de chegar até a Áustria, e das desventuras de contar as moedas para comprar pão, que acompanhava as maças e a água que colhiam pelo caminho na volta para casa. Trouxe para a narrativa algumas fotos do carnaval com os amigos quando fantasiavam de mulher e das tardes no parque.
Quando começou o momento de se iniciar no mundo do trabalho, Michael foi racional e fez as contas. Ele poderia ser funcionário público da ferrovia, em viagens de longa distância. Mas, diante da possibilidade de estudar e trabalhar na empresa Siemes, ele ponderou também a opção de fazer Engenharia Civil. Ele poderia escolher um curso superior, porém, o custo que teria não era compatível com a remuneração que viria somente mais tarde. E esse valor poderia ser investido em uma casa. O que ele ganharia na empresa como técnico lhe garantiria uma vida confortável, teria uma casa e condições para viajar pelo mundo. E assim ele fez. Estudou na escola de fábrica, foi aprovado e contratado em seguida. Na Siemens ele iniciou e terminou sua vida profissional, comprou um apartamento e viajou muito. Ele narra como boas lembranças e um trabalho que lhe trouxe conforto: “eu tinha, oficialmente, seis semanas de férias. É que lá, você tem 30 dias, mas 30 dias de serviço. Eu, normalmente, fiz horas extras, e então, eu ficava dois meses de férias. Era normal. Tinha ano que eu pegava três meses de férias, foi quando vim para o Brasil. E eu viajei muito, foi para Inglaterra, para Rússia, Polônia, Itália, Espanha, Holanda, Áustria, Moscou. O único país que eu não fui, mas queria, foi na Grécia. Uma das viagens tinha o objetivo de encontrar com a família no Brasil.
Era uma festa de bodas do avô e foi quando conheceu e se apaixonou pela prima, Eliane com quem se casou. Michael narra a dificuldade com os documentos dela, pelo fato das mães terem o mesmo sobrenome. Resolveram os entraves, ela foi para a Alemanha onde moraram por dez anos. Mas tinham um acordo que voltariam para o Brasil. Tiveram um filho, Patric, e Eliane nunca se acostumou com a vida lá. Ele conta que ela ficava muito sozinha com um cachorrinho e o filho enquanto ele saía para o trabalho.
Foram uma família muito unida, fazendo suas coisas juntos. As fotos registram esses momentos, quando vieram para o Brasil, as reformas na casa, a pintura, a calçada, o jardim, tudo faziam juntos, o casal e o filho, assim como era a sua família na Alemanha. As mudanças no mundo do trabalho atingiram seu contrato, saiu da empresa e montou seu próprio negócio, agora, terceirizando as mesmas funções que desempenhava anteriormente. Mas foi nesse tempo que os problemas de saúde apareceram... e não foi de repente. Ainda na Alemanha Michael havia operado o joelho e quando começou a cair com facilidade a primeira hipótese foi o joelho. Fez muita fisioterapia sem sucesso, era preciso aprofundar a investigação que resultou em uma cirurgia bastante complexa na coluna de uma hérnia torácica.
Em seguida outra hérnia, agora cervical e entre uma cirurgia e outra, os médicos descobriram a Esclerose Múltipla. A cadeira de rodas veio progressivamente, depois das muletas e de uma série de adaptações. Acredita-se que ela veio em função do problema na coluna e menos pela Esclerose Múltipla. Michael continuou na empresa e esgotou todas as possibilidades laborais. Eliane sempre o auxiliando com a locomoção, até que com a cadeira de rodas ficou mais difícil chegar nos clientes e atender a contento e foi quando ele fechou a empresa e se aposentou. Em sua narrativa, não mostrou trauma desse momento, mas de forma objetiva, a consciência de que fez o quanto podia. Em suas palavras: como eu já falei, eu sou uma pessoa da lógica, realista, não sei... é assim e acabou! O que fazer, o que chorar, o que... não dá para fazer! Com essa perspectiva racional, Michael fala de uma vida no presente e assim como seus pais que diante da memória traumática da guerra focaram no presente, ele vive cada momento.
Diz que não é o mesmo que esquecer o passado ou viver na expectativa do futuro, mas não viver outro tempo, estar aqui em presença. E nesse presente, ele vive na mesma casa que comprou quando veio para o Brasil. Seu filho é casado e tem duas filhas, Naiara e Luiza, que moram na casa ao lado, no mesmo quintal. Michael voltou para as técnicas de artesanato que aprendeu ainda na infância e enquanto a coordenação motora das mãos não o atrapalhavam tanto, ele bordou tapetes e quadros utilizando lãs e telas. Depois, aprendeu técnicas de pintura e hoje, possui um atelier onde pinta objetos de madeira, adaptou posições que lhe permitem traços e acabamentos mais finos. Bem humorado, transformou a vida em um artesanato e utiliza as técnicas que aprendeu somadas as suas criações para viver um dia de cada vez.
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